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A INCLUSÃO DA CRIANÇA COM O TRANSTORNO DO ESPECTRO

DO AUTISMO NO ENSINO REGULAR E O PAPEL DA SALA DE


RECURSO MULTIFUNCIONAL

Nilmaria Vieira de Faria¹

Resumo: A inclusão de criança com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) em


sala regular é garantido pela legislação brasileira, enumeras pesquisas confirmam
os benefícios da inclusão da criança com TEA, mas ainda são muitas as
contestações e questionamentos que surge nos corredores da escola quanto a
permanecia dessas crianças nas salas regulares, por exemplo, como atuar para
atender as necessidades desses educandos e até mesmo a cerca da etimologia do
termo. Esse artigo pretende apresentar a importância do trabalho multiprofissional
no atendimento da criança com TEA, e o papel da Sala de Recurso Multifuncional
(SRM) nesse processo. A pesquisa é de cunho qualitativo, se deu através da
observação e entrevistas, fundamenta-se em outros trabalhos científicos já
apresentados. Os resultados alcançados comprovam assim como em comparação a
outras pesquisas que a inclusão é fundamental para o desenvolvimento das crianças
com TEA.

Palavras chave: transtorno do espectro do autismo, inclusão, sala de recurso


multifuncional, atendimento educacional especializado.

1 INTRODUÇÃO

O Transtorno do espectro do Autismo (TEA) pode ser determinado como


uma maneira peculiar do desenvolvimento humano cuja comunicação e a
socialização têm características diferentes do desenvolvimento evolucionário
habitual, causadas por uma desordem em certas áreas do celebro, embora não haja
causas biológicas definidas, causas genéticas ou a exposição do celebro ainda em
formação a substâncias toxicas ou infecções.
Frequentimente o TEA pode ser detectado ainda no recém-nascido, pois,
algumas crianças têm diferentes maneira de se relacionar com o meio social em que
vive que chamam a atenção dos adultos. O comportamento pode variar desde a
recusa de mamar no peito da mãe, mais tarde pelo comportamento repetitivo,
autoprejudicial e agresivo, ausência de comunicação ou formas menos perceptíveis
que muitas vezes é confundida com timidez.

¹ Professora de Sala de Recurso Multifuncional, Pedagoga, Especialista em Neuropsicopedagogia e


Inclusão, Atendimento Educacional Especializado e em LIBAS
O primeiro contato com a pessoa com TEA, pode não ser fácil,
principalmente para pais e educadores, é comum brotar vários questionamentos a
cerca de como elas vão se relacionar com o mundo que os cercam. De acordo com
a Associação de Amigos do Autista – AMA, instituição brasileira criada em 1983, os
estudos sobre TEA pela ciência tem mais de um século, Plouller introduziu o termo
autismo na psiquiatria em 1906, em 1911 Eugene Beuler associou o autismo a
esquizofrenia, em 1943 Leo Kanner realizou pesquisa com 11 crianças, somente em
1993 a Organização Mundial e Saúde incluiu o termo na classificação mundial de
doenças, em 2008 a ONU definiu 02 de abril como o dia de conscientização do
autismo e finalmente em 2010 Ban Ki-moon secretário geral da ONU enfatizou a
importância da inclusão da criança com TEA.
Embora haja muitas divergências para a AMA a incidência do TEA varia
conforme o método pelo qual é realizado pelo pesquisador para seu diagnostico,
Mariana da Silveira (2010) afirma que o diagnostico dever ser realizado por uma
equipe multidisciplinar composta por psiquiatra, psicólogo e neuropediatra, com
critérios específicos de avaliação.
No Brasil o diagnostico do TEA é elaborado a partir da avaliação da tríade
comportamental, comunicação, interação e imaginação, de acordo com CDC
(Center of Diseases Control and Prevention), órgão norte-americano, em 2006, 1
pessoa de cada 166 tem TEA, com incidência maior no sexo masculino de 1 para 4,
conforme pesquisa mais recentes da mesma instituição, os casos de TEA subiram
para 1 em cada 68 crianças com até 8 anos de idade, os dados são referentes a
2010 mas foram divulgados em março de 2014. No Brasil não existem dados exatos,
apenas uma estimativa em 2007 que afirma que aproximadamente 1 em caca 190
pessoas tem TEA, esses dados são do instituto de psiquiatria do hospital das
clínicas da USP São Paulo.
As pessoas que apresentam a tríade autista têm dificuldades na interação
social, na comunicação, dificuldade para compreender expressões abstratas,
metáforas, frases com duplo sentido e expressões emocionais, em estabelecer
contato visual, mesmo aqueles que conseguem estabelecer uma comunicação oral
apropriada, nem sempre seguem um diálogo tradicional, são metódicos e
geralmente apresentam desejo excessivo pela organização, têm uma necessidade
exagerada em cumprir uma rotina, em alguns casos não respondem aos métodos
convencionais de ensino, apresenta padrões restritos e repetitivos.
Segundo a AMA não há como provar uma causa psicológica na etiologia
TEA, pois não é gerado por uma única causa identificada, pode se manifestar de
diferentes maneiras e graus em cada individuo, é considerado como um conjunto de
características que configura um quadro, que se revela como dificuldades na
comunicação verbal e gestual e interações sociais na execução de atividades com
padrões estereotipados, mais com sintomas diferentes e comportamento distintos
entre eles por isso o TEA é denominado como um transtorno multicausal e
multifatorial.

2 Inclusão Escolar da criança com TEA e o papel da sala de recurso


multifuncional

No Brasil muito já se ponderou sobre a inclusão, mas muitas escolas


ainda permanecem aquém da necessária inclusão, ainda assim Carreira (2014)
afirma que o desenvolvimento das crianças com TEA em escolas comuns tem
vantagem sobres o desenvolvimento de crianças que estudam em centro
específicos, a segregação do educando com TEA de um ambiente habitual
certamente é mais prejudicial, pois impede que se relacione com outras crianças
diferentes, com lugares diferenciados limitando ainda mais seu ambiente social,
podendo agravar ainda mais a falta socialização e comunicação, segundo Carreira
(2014) uma vez considerando que uma pessoa com TEA não vivem num mundo
isolado e que necessita se relacionar-se minimamente é certamente inviável a
educação isolada, é claro que ela necessitará de terapias especificas bem como de
um atendimento educacional especifico, mas esse deve ocorrer em concomitância a
educação escolar comum.
Sendo, pois a educação um direito inalienável de todos é dever dela se
preparar para inclusão, é obvio a necessidade de ajustes, no caso do TEA os
psicólogos e terapeutas que o atende deve está disposto a orientar o trabalho em
sala de aula, sendo a inclusão um compromisso de todos. É necessário que a escola
de hoje redefina seus planos, repense seu currículo e adote pressupostos teóricos
compatíveis com princípios educacionais que atendam a todos os seus educando.
Neste sentido, é importante pensar em como os espaços da escola
comum podem ser organizados para atender os educando que nela estão, mas para
que isso ocorra é necessário que a escola de hoje redefina seus planos, repense
seu currículo e adote pressupostos teóricos compatíveis com princípios
educacionais que atendam a todos os seus educandos.
A aprendizagem sistemática do educando com TEA se dá conforme ele
se relaciona com o mundo, podendo variar de um para outro individuo, como em
qualquer outra pessoa, tem seu próprio tempo de aprendizagem, mas existe
algumas características gerais referentes ao uso dos sentidos. É essencial na
aprendizagem o uso do lúdico, usar desenhos, por exemplo, com representação de
atividades que o educando precisa cumprir, outras crianças vão preferir usar o
toque, por exemplo, para compreender melhor o mundo que os cercam, pois a hiper
sensibilidade a luz ou ao barulho causa desconforto, a aprendizagem pelo tato se dá
por esse ser um dos sentidos mais confiáveis, para ensinar pelo tato as letras, por
exemplo, a criança pode tocar as letras de emborrachado e também objetos
referentes ao que se quer ensinar.
Estimulação das habilidades de interação e comunicação deve ser o
principal foco da educação da criança com TEA para tanto é necessário pensar que
cada criança tem características diferentes, assim, deve se respeitar as
individualidades e necessidades de cada um. Para ensinar uma criança com TEA é
fundamental ter carinho e respeito por ela, pois a formação do vínculo é muito
importante para aprendizagem dessas crianças, essa atitude atinge não apenas a
criança com TEA especificamente, mas a todos que estão envolvidos no processo, a
exemplo os demais educandos.
Para além das conveniências e obrigatoriedade das leis é imprescindível
extinguir as ações que atrapalham a inclusão, é primordial ainda que se tenha em mente,
que incluir vai muito além de inserir a criança com TEA na sala comum para tal é necessário
fornecer a esses educandos condições que facilite no seu processo de interação social e de
aquisição do conhecimento e o Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado na
Sala de Recurso Multifuncional (SRM) configura-se em mais uma ferramenta para oferecer a
esses aparatos necessários a sua formação assim como de qualquer outro cidadão.
De modo algum a SRM pode substituir a sala de aula comum, ou oferecer
aulas de reforço, tem objetivo complementar ou suplementar a sala regular, busca
facilitar a inclusão, é estruturada na expectativa de compor um conjunto de
atividades funcionais que atenda as diversas necessidades do educando, o
atendimento pode ser individual ou em grupo conforme as necessidades e
possibilidades de cada educando, os quais para cada educando têm seus próprios
objetivos e a atividade- afim.

3 RELATO DE EXPERIÊNCIA

O cenários da realização da pesquisa foram duas instituições da rede


pública municipal de Imperatriz sendo uma creche e uma escola de Educação
Infantil e ensino fundamental, ambas localizadas no bairro Nova Imperatriz, para
efetivação deste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas, observação no
período de um ano e meio, entrevistas e conversas com professores, pais e
psicóloga que atende a criança. A motivação da pesquisa se deu em virtude da
necessidade de incluir uma criança com TEA por meio de estimulação precoce.
Visando resguardar a participante foi atribuído-lhe nome fictício.
Ana frequenta a Sala de Recurso Multifuncional desde os 3 (três) anos,
quando ainda freqüentava a creche, foi encaminhada a SRM pelo Capisj que após
avaliação diagnosticou-a com TEA, é uma crianças alegre, curiosa, gosta de
explorar o ambiente. Segundo relato da mãe, Ana nasceu de parto normal com 40
semanas, ficou alguns dias na UTI neonatal, mas teve um desenvolvimento
psicomotor parecido ao dos demais irmãos, engatinhou com 07 meses e andou com
09 meses, começou a balbuciar com 04 meses e falou a primeira palavra com 08
meses, mas até os 03 anos não falava frases adequadamente, usava as palavras de
maneira aleatória.
Quando ainda estava na creche a criança expressava satisfação em
estar na escola, mas, preferia brincar sozinha, em raros momentos aproxima-se dos
coleguinhas, demonstrando irritação em alguns momentos quanto os colegas
tentavam brincar com ela. Ana ficava a maior parte do tempo fora da sala de aula,
gostava de folhear livros, a professora relatou em algumas ocasiões da dificuldade
de relacionar com a criança bem como em promover sua inclusão principalmente por
não haver uma auxiliar para acompanhar a criança.
Ana gosta de falar em inglês e de jogos com esse idioma. Em suas
avaliações iniciais a professora considerou que ela não era capaz de acompanhar a
turma, pois não conhecia nenhuma letra, não diferenciava letras de números, cores,
no entanto a criança o fazia com êxito, mas em inglês, além de nomear figuras,
somente no final do ano a professora se deu conta desse fato.
Os primeiros contatos na SRM foram complicados, a criança era muito
inquieta não demonstrava interesse em nenhuma atividade, jogava as coisas no
chão e negava-se veementemente a guarda ou recolher os objetos, gritava
tampando os ouvido quando lhe era dado qualquer orientação.
Após entrar em contato com a psicóloga do Capijs que realiza seu
acompanhamento, buscou-se ajustar os atendimentos, passado o primeiro semestre
observou um bom progresso, Ana já parava pra ouvir e concentrava-se por algum
tempo nas atividades, passou também a ler números, letras, cores e nomear figuras
em inglês, surpreendendo a todos ao percebemos que ela fala o idioma,
principalmente pela aprendizagem autodidata, uma vez que não havia incentivo
inicial para tal, Ana por gostar de eletrônicos em especial celulares baixava jogos
educativos e selecionava o idioma citado, deste modo aprendeu rapidamente, e
esse interesse tornou-se uma porta de aceso ao trabalho com a criança, a medida
que permitia desenvolver nosso trabalho ela sentia-se mais instigada a aprender o
inglês, inicialmente houve recusa em falar no idioma mãe durante as atividades
proposta em sala de aula ou na SRM, durante o resto do semestre.
Desde o inicio do presente ano passei a acompanhar a criança tanto na
SRM com na sala regular, experiência que proporcionou um maravilhoso campo de
pesquisa, é notório o seu desenvolvimento, ela identifica e escreve seu nome,
conhece letras, números em inglês e português bem como é capaz de identificar a
letra inicial das palavras, gosta de quebra cabeças e jogos com letra e números,
principalmente se fizer uso de equipamentos eletrônicos.
Quanto ao relacionamento com colegas também tem melhorado, já
consegue brincar por alguns minutos, compreendendo algumas regras sociais,
quando solicitado até ajuda os colegas, conhece alguns pelo nome, não oferece
resistência na participação de atividades em grupo, gosta de participar das
apresentações realizadas pela turma, demonstrando carinho pela cuidadora,
professora e colegas.
4 CONCLUSÃO

O AEE é um universo de possibilidades fundamental a educação


inclusiva, em suma, é uma diversidade de atividades que exige competências, tanto
profissional como humana na sua condução. Mediante a complexidade dos
problemas apresentados pelo pessoa com TEA não se pode esperar que apenas o
professor da sala comum se responsabilize pela efetivação de ensino qualitativo e
do progresso do educando.
É necessário trocar e investigar pontos de vistas a fim de se proporcionar
uma melhor compreensão das necessidades especiais destas crianças sendo
imprescindível uma formação interdisciplinar baseada na investigação entre os
profissionais competentes e a atuação do professor do AEE de forma consciente e
focada no educando com TEA. No caso apresentado a comunicação entre os
profissionais que atende diretamente a criança mostrou maior eficiência para seu
desenvolvimento, tanto a professora da SRM após conversa com a psicóloga
reajustou seus objetivos como a professora da sala regular que percebeu que a
criança tinha o conhecimento que antes ela julgava não ter, só que usava um idioma
diferente.
Não diferente de qualquer outra, a criança com TEA tem seu próprio
tempo de desenvolvimento na comunicação, interação e aprendizagem, isso pode
significar que em alguns casos elas não alcance outras de mesma idade, sendo
necessário apoio humano, onde se faz necessário a atuação do cuidador em
algumas atividades, e a convivência da criança com TEA com outras crianças e
adultos vai criar um ambiente de aprendizagem significativa com diversos modelos
sociais de interação e comunicação que contribuirá para seu bem estar, para tal é
necessário compreender que incluir não é de modo algum “transformar” ou “adaptar”
todos num modelo de “normalidade”, mas aceitar a todos em sua diversidade e
oferecer-lhes uma sociedade que vise alcançar uma sociedade mais justa menos
violenta e preconceituosa.
Para tanto, a realização de um trabalho coeso entre professores da sala
comum e do AEE estar orientada nos planos voltados à educação, sejam eles da
esfera federal, estadual ou municipal, as instâncias sociais carecem refletir sobre
todo esse contexto para auxiliar às instituições de ensino nesse processo de
inclusão, já que esta não se encontra isolada da organização social.
Portanto, a educação inclusiva precisa ser amparada pelo o AEE, numa
dimensão que esteja ao alcance dos educandos. Devem constar nas políticas de
formação pedagógica dos professores e constituem rico e estimulante espaço para
manter viva a otimização do ensino na rede regular de ensino e seus profissionais
na busca de uma educação democrática e de qualidade social.
Referências

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF, Senado Federal, Centro Gráfico, 1988.

_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei n° 9.394, 20 de


Dezembro de 1996. Brasília, DF, Senado Federal, Subsecretaria de Edições
Técnicas, 2002.

BRASIL. Salas de Recursos Multifuncionais: Espaço para Atendimento Educacional


Especializado. Brasília: MEC SEESP, 2006. Disponível em
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GOMES, Adriana Leite Lima Verde; POULIN, FIGUEIREDO, Rita Vieira de; Jean-
Robert; A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: o atendimento
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Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Fortaleza: Universidade
Federal do Ceará. 2010. Disponível em:<https://pt.slideshare.net/aurivan/pedagogia-
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Revista Ciranda da Inclusão – O arco íris do autismo. Ed. Ciranda da Inclusão, SP,
2010 disponível em: <http://www.revistaautismo.com.br/edic-o-0/numero-
impressionante-uma-em-cada-110-criancas-tem-autismo>. Acesso em: 21 ago 2017.

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