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Cinemática do trauma

PESO NO MOMENTO DA
ÓRGÃOS PESO EM REPOUSO
DESACELERAÇÃO BRUSCA
À 100 KM/H

1,700 Kg 47 Kg

Fígado

0,300 gr 8 Kg

Coração

0,300 Kg 8 Kg

Rím

1,5 Kg 42 Kg

Cérebro

0,150 Kg 4 Kg
Baço
Não é necessário discorrer longamente para entender que o aumento
considerável do peso dos órgãos internos pode provocar rupturas,
arrancamentos, deslocamentos, etc, com considerável aumento da
gravidade do quadro de avaliação inicial do paciente. 

DESACELERAÇÃO INSTANTÂNEA X QUEDA LIVRE VERTICAL DE

UM CORPO

IMPACTO A 50 IMPACTO A 75 IMPACTO A 100


KM/H KM/H KM/H
     
Queda livre de 10 Queda livre de 22 Queda livre de 40
metros. metros. metros.

Obs.: A fórmula para o cálculo dessas relações é:  v = 2gh

Todas essas desacelerações súbitas são na verdade colisões, cada


qual capaz de causar lesões próprias e específicas.
Quando você analisar o local, procure reconstruir mentalmente como o
acidente ocorreu, as forças envolvidas e como elas foram aplicadas no
corpo da vítima. No exame do paciente, procure por evidências de
lesões de dentro para fora do corpo e leve em consideração toda
energia envolvida. Suspeite sempre de lesões internas mesmo que o
paciente não apresente qualquer sinal ou sintoma. Sua capacidade de
avaliação, nesses casos, o manterá sempre bem preparado para tratar
lesões não aparentes na avaliação inicial.
Todas essas fórmulas podem parecer muito complicadas, mas uma
vez que você compreende os princípios básicos da cinemática, você
pode rapidamente aplicá-los em qualquer local de ocorrência.
Pergunte-se e tente responder, no local do acidente, as seguintes
questões:
        Que aconteceu?
        Que tipo de força (energia) foi aplicada?
        Que parte do corpo e em que direção essa força atuou?
        Quanto de força foi envolvida (velocidade, massa, peso)?
Exemplo: Um motorista dirigindo seu automóvel a 50km/h vem a se
chocar contra uma árvore a beira da estrada. O carro para
instantaneamente, mas o motorista continua a se deslocar a 50km/h,
até seu tórax e sua cabeça colidirem com o volante e o vidro do
parabrisa respectivamente. Em um terceiro momento, que ocorre
internamente no corpo da vítima, o tecido cerebral continua imprimido
da velocidade de 50 km/h até colidir com a parede interna  da caixa
craniana. O coração e outros órgãos internos também continuam se
deslocando na mesma velocidade até encontrar resistência, seja da
parede interna do corpo, seja pela ação restritiva de seus ligamentos.

 
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS EM SITUAÇÕES
ESPECÍFICAS
Lesões por movimento são sem duvida as responsáveis pela maioria
das mortes por trauma em nosso pais. Estudaremos em seguida, os
mecanismos mais comuns que atuam nos acidentes e os ferimentos
possíveis de ocorrerem associados com eles. E muito importante
relatar os mecanismos das lesões para o medico que ira receber o
paciente principalmente, se esse paciente apresenta sinais vitais
normais e não aparente lesões anatômicas na primeira analise
realizada.
Ha três mecanismos básicos de
lesões por movimento
1. Desaceleração horizontal repentina
2. Desaceleração vertical repentina
3. Penetração de projetil
Vamos agora, estudar em detalhes esses mecanismos. 
I - Acidente com veículos a motor
Velocidade é o mais importante fator para determinar a seriedade das
lesões. Outro importante Nestes casos, a rápida desaceleração em um
acidente frontal, provocará o efeito de projetar o tronco e a cabeça
contra o painel ou até mesmo contra o próprio joelho da vítima. É o
que o norte-americano conhece como efeito “tesoura” (clasp knife). As
lesões mais comuns são: traumas de face, cabeça e pescoço pelo
impacto contra o painel e lesões internas no abdômen e na coluna
lombar por excessiva compressão na altura da cintura. ponto é a
direção que as forças atuaram e se os ocupantes permaneceram
imobilizados em seus assentos. Velocidade e força podem ser
estimadas pelo exame visual dos danos causados no veículo.
Veículos destruídos provavelmente causaram mais lesões em seus
passageiros. Essa informação deverá ser repassada ao médico de
plantão no hospital. Essa informação será mais importante na medida
em que o carro demonstrar ter sido submetido à altos impactos e o
ocupante aparentemente não apresentar lesões sérias. Esse paciente
necessitará permanecer em observação e freqüentemente repetir
exames para identificar possíveis lesões internas ocultas.
A - Colisão Frontal
Quando um automóvel colide contra um obstáculo fixo e para abruptamente, os

ocupantes continuam em movimento até colidirem com alguma superfície interna do

carro. Eles podem ser ejetados e colidirem contra qualquer objeto exterior. As lesões

também dependerão do lugar ocupado pelo passageiro no interior do veículo e contra

o que eles se chocaram.

Motorista:
 
Se estiver sem
cinto de
segurança, ele
poderá ser
projetado para
frente e para
cima (up and
over), batendo a
cabeça contra o
teto ou parabrisa.
Seu tórax ou
abdômen colidirá
contra o volante e
suas pernas
podem prender-
se sob a coluna
de direção.
Lesões na
cabeça, pescoço,
tórax, abdômen e
fêmur são
comuns em
situações como
essa. O motorista
que é ejetado
através do
parabrisa pode
apresentar
qualquer tipo de
lesão, uma vez
que não é
possível predizer
o que pode ter
atuado no seu
corpo durante e
após sua ejeção.
Uma vítima
ejetada tem 25
vezes mais
possibilidades de
morrer. Esse
dado contraria o
pensamento
errado de muitos
motoristas que
acham que o
cinto de
segurança pode
ser a causa de
sua morte em um
acidente
automobilístico

Se o motorista esta sentado em uma posição mais deitada no banco (comum


em carros esportivos) o corpo com mais probabilidade, se deslocara para sob a
coluna de direção e o impacto inicial será através dos pés e pernas
progredindo para a pélvis (down and under). A parte superior do corpo se
projetara a frente chocando-se contra o volante. A vitima apresentara
comumente fraturas de membros inferiores ou pélvis bem como lesões no
tórax, abdômen, pescoço e cabeça. Deslocações do joelho e do quadril e muito
comum nessas situações.
2. Passageiro do banco dianteiro
Comumente chamado de “posição do morto”, porque historicamente sempre foi
considerado o assento mais perigoso, as forças que atuam são as mesmas:
“para cima e sobre” e “para baixo e sob”. A diferença é que a coluna de direção
e o volante não estão presentes. O corpo pode impactar contra o teto, pára-
brisa, painel ou o próprio assoalho. Lesões da cabeça aos pés podem ocorrer.
3. Passageiros do banco traseiro
Essas últimas estão em condições um pouco melhores porque elas se chocam
com os assentos dianteiros que são menos sólidos do que o painel e a coluna
de direção. Isso pode ajudar a dispersar a energia por uma área e um tempo
maior, diminuindo a gravidade das lesões. Quando há passageiros no banco de
trás, considere que as lesões dos que viajam nos bancos da frente serão ainda
mais graves, uma vez que além dos mecanismos já descritos, temos que
considerar a compressão contra o painel e o volante causada pelo movimento
à frente dos ocupantes de trás. Aqui também vale o conceito dos três impactos.
Primeiro o corpo da vítima colide com as partes internas do veículo, logo após
os órgãos internos colidem no interior do corpo e, em seguida, é pressionado
contra as paredes internas pelo corpo dos passageiros de trás.
4. Passageiros utilizando cinto de segurança
Apresentam a maior probabilidade de sobrevivência, porque evitam que os que
dele se utilizam sejam arremessados contra as partes interna do veículo ou
ejetados para fora dele, porém apresentam certos ferimentos característicos,
quando o cinto é de dois pontos, do tipo abdominal.

Nestes casos, a rápida desaceleração em um


acidente frontal, provocará o efeito de projetar
o tronco e a cabeça contra o painel ou até
mesmo contra o próprio joelho da vítima. É o
que o norte-americano conhece como efeito
“tesoura” (clasp knife). As lesões mais comuns
são: traumas de face, cabeça e pescoço pelo
impacto contra o painel e lesões internas no
abdômen e na coluna lombar por excessiva
compressão na altura da cintura.

Se a vítima estiver utilizando o cinto de três pontos, que é o mais eficiente, as


lesões serão de menor extensão, porém fique atento para possível lesão na
coluna cervical pelo movimento brusco para trás e para frente da cabeça,
também conhecido como efeito “chicote”, bastante comum em colisões
traseiras, e com lesões na clavícula por onde o cinto cruza.
CINEMÁTICA DO TRAUMA
Estuda a transferência de energia de uma fonte externa para o corpo da vítima. O entendimento do mecanismo de

lesão reduz a possibilidade do socorrista não reconhecer uma lesão grave e permite que seja desenvolvida tecnologia

de proteção. Para possibilitar esse estudo, é necessário que o socorrista conheça algumas leis básicas da física.

        Leia da Conservação da Energia: a energia não pode ser criada nem


destruída, mas sua forma pode ser modificada.
        Primeira Lei de Newton: um corpo em movimento ou em repouso
permanece nesse estado até que uma força externa atue sobre ele.
        Segunda Lei de Newton: a força é igual à massa do objeto multiplicada por
sua aceleração.
        Energia Cinética. É a energia do movimento. É igual a metade da massa
multiplicada pela velocidade elevada ao quadrado.
        Troca de energia: quando dois corpos se movimentando em velocidades
diferentes interagem, as velocidades tendem a se igualar. A rapidez com
que um corpo perde a velocidade para o outro, depende da densidade (nº.
de partículas por volume) e da área de contato entre os corpos. Quanto
maior a densidade do tecido maior a densidade do tecido maior a troca de
energia.
I – TRAUMA PENETRANTE POR ARMA DE FOGO
Balística é a ciência que estuda o movimento de um projétil através do cano de
uma arma de fogo (balística interna), de sua trajetória no ar (balística externa) e
após atingir o alvo (balística terminal).
Os princípios da balística são extremamente  úteis na avaliação dos ferimentos
por projéteis de armas de fogo. O projétil é impulsionado através do cano da
arma pela expansão dos gases produzidos pela queima do propulsor. A parte
interna do cano de um rifle ou de um revólver possui raias ou estrias. As
espingardas têm a parte interna do cano lisa.
Quando um projétil atinge o corpo humano, sua energia cinética se transforma
na força que afasta os tecidos de sua trajetória. O grau de lesão produzido por
uma arma de fogo é dependente da troca de energia cinética entre o projétil e
os tecidos da vítima. Quanto maior a dissipação de energia cinética, maior será
a lesão. Os projéteis mais lesivos são aqueles que utilizam toda a sua energia
cinética na produção da lesão.

CATEGORIA VELOCIDADE

BAIXA < 1.000 pés/s

MÉDIA 1.000 a 2.000 pés/s

ALTA > 2.000 pés/s

O perfil frontal do projétil altera significativamente sua troca de energia com o


alvo, sendo afetado por: forma do projétil, ângulo de penetração e
fragmentação.
Alguns projéteis, como os de ponta oca e ponta macia, podem alargar seu perfil frontal após penetrarem nos tecidos; o

efeito prático deste fato é aumentar a dissipação da energia cinética e consequentemente a lesão tecidual. Do mesmo

modo, um projétil pontiagudo contacta menos tecido do que o mesmo projétil após um giro de 90ª.

Os projéteis que se fragmentam após penetração ou após deixarem o cano da


arma (espingardas, por exemplo), também têm o efeito de aumentarem
significativamente a área frontal. Os múltiplos fragmentos atingem mais tecidos,
aumentando a troca de energia.
A aceleração dos tecidos no sentido lateral e de deslocamento do projétil cria
um orifício ou cavidade. Em projéteis de baixa velocidade, o trajeto de
destruição é apenas ligeiramente maior do que o seu diâmetro, porém, nos de
alta velocidade o trajeto de destruição é significativamente maior. É produzida
durante alguns milissegundos uma cavidade temporária várias vezes maior do
que o seu diâmetro (até 30 vezes), com pressão subatmosférica. Várias
estruturas, como vasos e nervos, podem ser lesadas sem que tenham contato
direto com o projétil. Materiais estranhos, como pedaços de roupa, podem ser
aspirados pelo orifício de entrada.

O orifício de saída depende da energia cinética, da deformação, da inclinação e


da fragmentação do projétil. Se o projétil gastar toda sua energia cinética
cavitando o tecido, o orifício de saída pode ter aparência inócua ou mesmo não
existir. Em outras situações, com pouca degradação da energia cinética mas
com inclinação e deformação do projétil, o orifício de saída pode ser irregular e
maior do que o orifício de entrada.
A densidade do tecido atingido é também um fator importante na troca de
energia, órgãos pouco densos, como os intestinos e os pulmões, oferecem
pouca resistência à passagem do projétil. Quando um tecido denso,  como o
osso, é atingido, pode ocorrer fragmentação deste gerando projéteis
secundários. Em tecidos como o fígado a cavitação é mais grave devido à força
tensional baixa.
Em ferimentos abdominais por arma de fogo, o socorrista  deve suspeitar da
existência de lesão visceral; só raramente projéteis de baixa velocidade não
penetram na cavidade.

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