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DOS BENS

OS BENS COMO OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA

A Parte Geral do Código Civil trata das pessoas, naturais e


jurídicas, como sujeitos de direito e dos bens como objeto das relações
jurídicas que se formam entre os referidos sujeitos.
Todo direito tem o seu objeto, como o direito subjetivo é poder
outorgado a um titular, requer um objeto.
Sobre o objeto, desenvolve-se o poder de fruição da pessoa.
Objeto da relação jurídica é tudo o que se pode submeter ao poder dos
sujeitos de direito, como instrumento de realização de suas finalidades
jurídicas.
Em sentido estrito, esse conjunto compreende os bens objeto
dos direitos reais e, também, as ações humanas denominadas
prestações. Em sentido amplo, esse objeto pode consistir:
- em coisas (nas relações reais);
- em ações humanas (prestações, nas relações obrigacionais);
- em certos atributos da personalidade, como o direito à
imagem;
- em determinados direitos, como o usufruto de crédito, a
cessão de crédito, o poder familiar, a tutela etc..

CONCEITO DE BEM
Bem, em sentido filosófico, é tudo o que satisfaz uma
necessidade humana.
Juridicamente falando, o conceito de coisas corresponde ao
de bens, mas nem sempre há perfeita sincronização entre as duas
expressões.

Coisa é o gênero do qual bem é espécie. É tudo que existe


objetivamente, com exclusão do homem. Bens são coisas que, por serem
úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico.
Somente interessam ao direito coisas suscetíveis de apropriação
exclusiva pelo homem. As que existem em abundância no universo,
como o ar atmosférico e a água dos oceanos, por exemplo, deixam de
ser bens em sentido jurídico.

BENS CORPÓREOS E INCORPÓREOS


Bens corpóreos são os que têm existência física, material e podem
ser tangidos pelo homem.
Bens incorpóreos - são os que têm existência abstrata ou ideal e
valor econômico, como o direito autoral, o crédito, a sucessão aberta, o
fundo de comércio, o software, o know-how etc. São criações da mente
reconhecidas pela ordem jurídica.
O critério distintivo para os romanos era a tangibilidade ou
possibilidade de serem tocados. Atualmente, porém, esse procedimento
seria inexato, por excluir coisas perceptíveis por outros sentidos, como os
gases, que não podem ser atingidos materialmente com as mãos e nem
por isso deixam de ser coisas corpóreas.

Hoje, também se consideram bens materiais ou corpóreos as


diversas formas de energia, como a eletricidade, o gás, o vapor.
. Em geral, os direitos reais têm por objeto bens corpóreos. Quanto à
forma de transferência, estes são objeto de compra e venda, doação,
permuta.
A alienação de bens incorpóreos, todavia, faz-se pela cessão. Daí
falar-se em cessão de crédito, cessão de direitos hereditários etc. Na
cessão, faz-se abstração dos bens sobre os quais incidem os direitos que
se transferem.
Em direito, a expressão propriedade é mais ampla do que domínio,
porque abrange também os bens incorpóreos.

PATRIMÔNIO
Os bens corpóreos e os incorpóreos integram o patrimônio da pessoa.

Patrimônio, segundo a doutrina, é o complexo das relações jurídicas


de uma pessoa que tiver valor econômico. Clóvis, acolhendo essa
noção, comenta: “Assim, compreendem-se no patrimônio tanto os
elementos ativos quanto os passivos, isto é, os direitos de ordem privada
economicamente apreciáveis e as dívidas.

É a atividade econômica de uma pessoa, sob o seu aspecto jurídico,


ou a projeção econômica da personalidade civil.

O patrimônio restringe-se, assim, aos bens avaliáveis em dinheiro.


Nele não se incluem as qualidades pessoais, como a capacidade física
ou técnica etc.,.
Igualmente não integram o patrimônio as relações afetivas da
pessoa, os direitos personalíssimos, familiares e públicos não
economicamente apreciáveis, denominados direitos não patrimoniais.
A diferença entre as mencionadas espécies de bens reflete-se na lei
quando esta, por exemplo, diz que só “quanto a direitos patrimoniais de
caráter privado se permite a transação” (CC, art. 841).
O nome comercial e o fundo de comércio integram o patrimônio
porque são direitos. A clientela, embora com valor, não o integra.
Segundo a teoria clássica ou subjetiva, o patrimônio é uma
universalidade de direito, unitário e indivisível, que se apresenta como
projeção e continuação da personalidade.
Esclarece o art. 91 do Código Civil, com efeito, que “constitui
universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma
pessoa, dotadas de valor econômico”.
Sobreleva a importância da noção de patrimônio quando se
observa que nela se baseia um princípio norteador do direito das
obrigações: o patrimônio do devedor responde por suas dívidas.
É o patrimônio do devedor, com efeito, que responde por suas
obrigações e que constitui a garantia geral dos credores, tenham elas se
originado da prática de atos lícitos, como os contratos e as declarações
unilaterais da vontade, ou de atos ilícitos.

CLASSIFICACÃO DOS BENS

A classificação dos bens é feita segundo critérios de importância


científica, pois a inclusão de um bem em determinada categoria implica
a aplicação automática de regras próprias e específicas, visto que não
se podem aplicar as mesmas regras a todos os bens.
O legislador enfoca e classifica os bens sob diversos critérios, levando
em conta as suas características particulares.

Ora considera as qualidades físicas ou jurídicas que revelam


(mobilidade, fungibilidade, divisibilidade, consuntibilidade), ora as
relações que guardam entre si (principais e acessórios), ora a pessoa do
titular do domínio (públicos e particulares).

Pode um bem enquadrar-se em mais de uma categoria, conforme


as características que ostenta.
O Código Civil de 2002, no Livro II da Parte Geral, em título único,
disciplina os bens em três capítulos diferentes:
A classificação pode ser assim esquematizada:

I-Dos bens considerados em si mesmos- Bens móveis e imóveis – são


os bens de raiz.
Os bens móveis são adquiridos, em regra, por simples tradição,
enquanto os imóveis dependem de escritura pública e registro no
Cartório de Registro de Imóveis (CC, arts. 108, 1.226 e 1.227);
A propriedade imóvel pode ser adquirida também pela acessão,
pela usucapião e pelo direito hereditário (CC, arts. 1.238 a 1.244, 1.248 e
1.784), e a mobiliária, pela usucapião, ocupação, achado de tesouro,
especificação, confusão, comistão e adjunção (CC, arts. 1.260 a 1.274).

O Código Civil descreve os bens imóveis:


“Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural
ou artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II- o direito à sucessão aberta.”

Desse modo, além dos assim considerados para os efeitos legais, são
bem imóveis, segundo o novo Código Civil, o solo e tudo quanto se lhe
incorporar natural ou artificialmente, ou seja, o solo e suas acessões, que
podem ser naturais ou artificiais. Podem, portanto, os bens imóveis em
geral ser classificados desta forma:
- imóveis por natureza - somente o solo, com sua superfície, subsolo
e espaço aéreo, é imóvel por natureza. Tudo o mais que a ele adere deve
ser classificado como imóvel por acessão.

O art. 1.229 do novo Código dispõe que “a propriedade do solo


abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
profundidade úteis ao seu exercício". E o art.1.230, ajustado ao art. 176
da Constituição Federal, ressalva que “a propriedade do solo não
abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de
energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referi-
dos por leis especiais".

- imóveis por acessão natural - as árvores e os frutos pendentes, bem


como todos os acessórios e adjacências naturais. Compreende as
pedras, as fontes e os cursos de água, superficiais ou subterrâneos, que
corram naturalmente. As árvores, quando destinadas ao corte, são
consideradas bens “móveis por antecipação.
Mesmo que as árvores tenham sido plantadas pelo homem
(acessão artificial), deitando suas raízes no solo, são imóveis.
A semente, desde que é lançada na terra para germinar, é
considerada incorporada ao solo.
A natureza pode fazer acréscimos ao solo, que a ele aderem,
sendo tratados juridicamente como acessórios dele. O fenômeno pode
dar-se pela formação de ilhas, aluvião, avulsão, abandono de álveo,
sendo considerado modo originário de aquisição.

- imóveis por acessão artificial - Acessão significa justaposição


ou aderência de uma coisa à outra. Ó homem também pode incorporar
bens móveis, como materiais de construção e sementes, ao solo, dando
origem às acessões artificiais ou industriais.

As construções e plantações são assim denominadas porque


derivam de um comportamento ativo do homem, isto é, do seu trabalho
ou indústria. Constituem, igualmente, modo originário de aquisição da
propriedade imóvel.

Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se


feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário (CC,
art. 1.253).

Acessão artificial ou industrial é, pois, tudo quanto o homem


incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada à terra,
os edifícios e as construções, de modo que não se possa retirar sem
destruição, modificação, fratura ou dano. Nesse conceito, não se
incluem, portanto, as construções provisórias, que se destinam à
remoção ou retirada, como os circos e parques de diversões, as barracas
de feiras, pavilhões etc..

Dispõe o art. 81 do novo Código Civil:


“Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:.

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua


unidade, forem removidas para outro local;

II- os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se


reempregarem.”
O que se considera é a finalidade da separação, a destinação dos
materiais. Assim, o que se tira de um prédio para novamente nele
incorporar pertencerá ao imóvel e será imóvel.

Coerentemente, aduz o art. 84 que “os materiais destinados a


alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da
demolição de algum prédio”.
O inc. I do art. 81 supratranscrito trata de hipótese mais comum em
países como os Estados Unidos, em que as pessoas mudam de cidade ou
de bairro e transportam a casa pré-fabricada para assentarem-na na
nova localidade. A finalidade do dispositivo é salientar que, mesmo
durante o transporte, a casa ou edifício continuará sendo imóvel para
efeitos legais.

- imóveis por determinação legal -

O art. 80 do Código Civil considera imóveis para os efeitos legais:


“I- os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II-o direito à sucessão aberta.”

São também denominados imóveis por disposição legal ou por


determinação legal.

Trata-se de bens incorpóreos, imateriais (direitos), que não são, em


si, móveis ou imóveis. O legislador, no entanto, para maior segurança das
relações jurídicas, os considera imóveis. Segundo Silvio Rodrigues,
configura-se, na hipótese, uma ficção da lei. Trata-se de direitos vários a
que, por circunstâncias especiais, a lei atribui a condição de imóveis.
Os direitos reais sobre imóveis, de gozo (servidão, usufruto etc.) ou
de garantia (penhor, hipoteca), são considerados imóveis pela lei, bem
como as ações que os asseguram. Toda e qualquer transação que lhes
diga respeito exige o registro competente (art. 1.227), bem como a
autorização do cônjuge, nos termos do art. 1.747, I, do Código Civil.

O direito abstrato à sucessão aberta é considerado bem imóvel,


ainda que os bens deixados pelo de cujus sejam todos móveis.

Neste caso, o que se considera imóvel não é o direito aos bens


componentes da herança, mas o direito a esta, como uma unidade. A
lei não cogita das coisas que estão na herança, mas do direito a esta.
Somente depois da partilha é que se poderá cuidar dos bens
individualmente. A renúncia da herança é, portanto, renúncia de imóvel
e deve ser feita por escritura pública ou termo nos autos (CC, art. 1.806),
mediante autorização do cônjuge, se o renunciante for casado.

Pelo mesmo motivo, cessão de direitos hereditários deve ser feita por
escritura pública, com autorização do cônjuge, se o cedente for casado.

Bens móveis

Os bens móveis podem ser esquematicamente classificados do


seguinte modo:

O art. 82 do Código Civil considera móveis “os bens suscetíveis de


movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da
substância ou da destinação econômico-social”.

Trata-se dos móveis por natureza, que se dividem em semoventes e


propriamente ditos. Ambos são corpóreos. Outros são móveis para os
efeitos legais (CC, art. 83), sendo que a doutrina menciona ainda a
existência de móveis por antecipação.

- Móveis por natureza

Segundo Clóvis, móveis por natureza “são os bens que, sem


deterioração na substância, podem ser transportados de um lugar para
outro, por força própria ou estranha”.
Merece destaque a expressão “sem alteração da destinação
econômico-social” introduzida no citado art. 82 do novo Código. Uma
casa pré-fabricada, por exemplo, enquanto exposta à venda ou
transportada, não pode ser considerada imóvel, malgrado conserve a
sua unidade ao ser removida para outro local, segundo os dizeres do
art.81, I, do Código Civil, posto que destinada à comercialização, sem
nunca ter sido antes assentada sobre as fundações construídas pelo
adquirente.

Quando isto acontecer, será considerada imóvel, em face da nova


destinação econômico-social que lhe foi conferida, sujeita ao
pagamento do imposto predial, não exigido do fabricante e do
comerciante.

Semoventes - São os suscetíveis de movimento próprio, como os


animais. Movem-se de um local para outro por força própria.
Recebem o mesmo tratamento jurídico dispensado aos bens móveis
propriamente ditos. Por essa razão, pouco ou nenhum interesse prático
há em distingui-los.

Móveis propriamente ditos- São os que admitem remoção por força


alheia, sem dano, como os objetos inanimados, não imobilizados por sua
destinação econômico-social. Clóvis aponta como exemplos: “moedas,
títulos da dívida pública e de dívida particular, mercadorias, ações de
companhias, alfaias, objetos de uso etc.”.

Dispõe o art. 84 do Código Civil que os “materiais destinados a


alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da
demolição de algum prédio”. Estes últimos, todavia, não perdem o
caráter de imóveis, se houver a intenção de reempregá-los na
reconstrucão do prédio demolido. Nesse campo, assume papel
importante e determinante a intenção do dono.

O gás, podendo ser transportado por via de tubulação ou de


embotijamento, caracteriza-se como bem corpóreo, sendo considerado
bem móvel. A corrente elétrica, embora não tenha a mesma
corporalidade, recebe também o tratamento de bem móvel. Com
efeito, o Código Penal equipara a energia elétrica, ou qualquer outra
dotada de valor econômico, à coisa móvel (art. 155,§3°).
Como acentua Caio Mário da Silva Pereira, no “direito moderno
qualquer energia natural, elétrica inclusive, que tenha valor econômico,
considera-se bem móvel”.

Assimilando essa orientação, o novo Código Civil incluiu “as energias


que tenham valor econômico” no rol dos bens móveis para os efeitos
legais (art. 83,I).

Os navios e as aeronaves são bens móveis propriamente ditos.


Podem ser imobilizados, no entanto, somente para fins de hipoteca, que
é direito real de garantia sobre imóveis (CC, art. 1.473, VI e VII; Código
Brasileiro de Aeronáutica-Lei n. 7.565, de 19.12.1986,art. 138).

Móveis por determinação legal

O art. 83 do Código Civil considera móveis para os efeitos legais:


“I-as energias que tenham valor econômico;

II-os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;

III- os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.”

-Móveis por antecipação

A doutrina refere-se, ainda, a esta terceira categoria de bens


móveis.

São bens incorporados ao solo, mas com a intenção de separá-los


oportunamente e convertê-los em móveis, como as árvores destinadas
ao corte e os frutos ainda não colhidos. Observa-se, nesses casos, aos
quais podem somar-se as safras não colhidas, a vontade humana
atuando no sentido de mobilizar bens imóveis em função da finalidade
econômica. Podem ainda ser incluídos nessa categoria os imóveis que,
por sua ancianidade, são vendidos para fins de demolição.

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