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Acta Farmacêutica Portuguesa

2014, vol. 3, n. 2, pp. 143-154


Endocitose e tráfego intracelular de nanomateriais
Endocytosis and intracellular trafficking of nanomaterials
Ferreira L.A.B.1, Radaic A.1, Pugliese G.O.1, Valentini M.B.1, Oliveira M.R.1, de Jesus M.B.1
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO
Os avanços recentes da nanotecnologia têm aumentado a utilização de nanomateriais e
nanodispositivos para diagnose, terapias e outros fins tecnológicos. O conhecimento da interação
entre nanomateriais e meios biológicos permite a descoberta de aplicações mais racionais, podendo
ajudar a entender e antever os seus efeitos adversos e citotóxicos. A endocitose é um processo
biológico dependente de energia que está envolvida na internalização de nanopartículas pelas
células, e depende de eventos orquestrados que requerem o funcionamento coordenado dos lipídios
e proteínas da membrana plasmática. Estudos que visam investigar em detalhes a endocitose e o
tráfego intracelular de nanopartículas são indispensáveis para compreensão de mecanismos
celulares ainda inexplorados e permitem projetar novas funções, que consequentemente auxiliam na
escolha de aplicações biomédicas da nanotecnologia. Nesse contexto, esta revisão visa conceituar as
principais vias de endocitose utilizadas no estudo da internalização de nanomateriais em células
eucarióticas. Além disso, alguns destinos intracelulares de nanomateriais serão discutidos para
auxiliar nos estudos do processamento celular de nanopartículas e desenvolvimento de novas
ferramentas terapêuticas.
Palavras-chave: Endocitose, nanopartícula, tráfego intracelular

ABSTRACT
Recent advances in nanotechnology have increased the use of nanomaterials and nanodevices for
diagnostic, therapeutic and other technological applications. The knowledge about the interaction
between nanomaterials and biological media allows the development of more rational applications,
as well understand and anticipate adverse and toxic effects resulting from this interaction.
Endocytosis is an energy-dependent biological process responsible for internalization of
nanoparticles, which depends on orchestrated events that require lipids and plasma membrane
proteins functioning. Studies that aim to investigate in detail the endocytosis and intracellular
trafficking of nanoparticles are essential for understanding cellular mechanisms, which in turn help to
select its biomedical applications. In this context, this review aims to conceptualize the main routes
of endocytosis used to study the internalization of nanomaterials in eukaryotic cells. In addition, we
discuss some intracellular trafficking of nanomaterials to aid in studies of the cellular processing and
development of new therapeutic tools.
Keywords: Endocytosis nanoparticle, intracellular trafficking

1
Nano-Cell Interactions Lab., Departamento de Bioquimica, Instituto de Biologia CP 6109, Universidade Esta-
dual de Campinas - UNICAMP, 13083-970, Campinas, SP, Brasil

Endereço para correspondência: Marcelo Bispo de Jesus E-mail: dejesusmb@gmail.com


http://lattes.cnpq.br/9611381402490228

Submetido/ Submitted: 2 de outubro de 2014| Aceite/Accepted: 15 de novembro de 2014


© Ordem dos Farmacêuticos, SRP ISSN: 2182-3340
Ferreira L.A.B., Radaic A., Pugliese G.O., Valentini M.B., Oliveira M.R., de Jesus M.B.

COMO OS NANOMATERIAIS ENTRAM NAS endocitose pode ser classificada em fagocitose e


CÉLULAS? pinocitose. A fagocitose é desempenhada por
Estruturas em escala nanométrica, incluindo células do sistema imunológico, principalmente
nanopartículas, são abundantes na natureza e por fagócitos profissionais, como os monócitos,
estão presentes em nosso planeta há bilhões de macrófagos, neutrófilos, células dendríticas e
anos1–3. Os exemplos mais comuns nos quais mastócitos11,14. Nesse processo, as células
podemos encontrar estruturas em nanoescala internalizam materiais exógenos, geralmente
são leite, pólen, fumaça, emissões vulcânicas, com diâmetros maiores que 750 nm, para
além de alguns micro-organismos, como vírus e formar um fagossomo que será processado no
bactérias. A vida na Terra evoluiu em presença interior da célula. Já na pinocitose a vesícula
de nanoestruturas, de modo que a interação e endocitada é chamada endossomo e essa via é
internalização delas não é uma novidade. virtualmente presente em todos os tipos celu-
Existem até mesmo evidências de um meca- lares. A pinocitose pode ser dividida em endoci-
nismo de internalização rudimentar em seres tose mediada por clatrina, endocitose mediada
mais primitivos como bactérias4. O facto da por caveolina, macropinocitose ou endocitose
interação entre nanomateriais e células não ser clatrina-caveolina independentes5.
um evento recente na natureza leva-nos a A internalização de nanopartículas depende
pensar que, durante esse tempo, as células de eventos orquestrados que requerem o
desenvolveram mecanismos para internalizar e, funcionamento coordenado dos lipídios e
muitas vezes, metabolizar nanomateriais5,6. Um proteínas da membrana plasmática.
exemplo disso é a defesa desenvolvida pelas Vários aspetos são importantes para deter-
células contra patógenos intracelulares, seguida minar a internalização de um nanomaterial,
da co-evolução dos patógenos para desenvolver como o tipo de interação que ele estabelece
estratégias moleculares para escapar desses com a membrana plasmática, sua forma e
mecanismos7,8. Essa coevolução dificulta o composição, além de seu tamanho e
desenvolvimento sistemas eficientes de carrea- revestimento5,14,15. A via de internalização será
mento de fármacos ou genes para liberação determinada por uma série de fatores, incluindo
intracelular9. Nas células eucarióticas, animais e as propriedades físico-químicas dos nanoma-
vegetais, o principal mecanismo de internali- teriais (tamanho, composição química, carga,
zação, também utilizado pelos nanomateriais, é funcionalização da superfície, reatividade super-
a endocitose. ficial, adsorção superficial, etc.)16. Nas seções
A endocitose é um processo biológico depen- seguintes essas vias serão melhor detalhadas e
dente de energia, vital para células eucarióticas relacionadas com a endocitose de nanoma-
e altamente conservado entre tipos celulares e teriais.
espécies. Ela acontece com o dinâmico rear-
ranjo da membrana, dos microtúbulos, dos Endocitose mediada por Clatrina
filamentos de actina e filamentos intermediá- A endocitose mediada por clatrina (EMC) é
rios que são componentes do citoesqueleto da um dos mecanismos de internalização em
maioria das células eucarióticas10. Normal- células eucarióticas mais estudados e foi inicial-
mente as células utilizam-se da endocitose para mente observado por Roth e Porter em 1964 ao
internalizar nutrientes, realizar transdução de investigarem a endocitose de proteínas em
sinais, modular a composição da membrana gema de oocisto do mosquito Aedes aegypti17.
plasmática, reciclar recetores de membrana e Após alguns anos, Pearse (1975) avaliou a
fazer o transporte através de células endoteliais formação de vesículas em membranas sináp-
(transcitose)11–13. Durante a endocitose, uma ticas por microscopia eletrônica, observou uma
porção da membrana plasmática sofre inva- estrutura proteica que revestia as vesículas em
ginação e forma uma vesícula lipoproteica na formação, a qual era capaz de interagir com
porção interior da célula, que é então liberada outras moléculas e serem transportadas para
no citoplasma. Portanto, essa vesícula é consti- compartimentos celulares específicos. Portanto,
tuída de uma porção da membrana plasmática, Pearse propôs que se tratava de um importante
bem como constituintes do meio externo confi- exemplo de uma classe de proteínas,
nados em uma vesícula intracelular (Fig. 1). A denominando-a de clatrina18.

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A EMC é considerada uma “rota clássica de internalização deve ser evitada quando o alvo
internalização, responsável pela absorção de do tratamento não são os lisossomos, ou
vários nutrientes essenciais à sobrevivência quando o escape dos endossomos não querer a
celular. Esta via endocítica também desempe- acidificação do endossomo.
nha um papel importante na internalização de
complexos de recetores de membrana, Endocitose mediada por Caveolina
transportadores de metais, moléculas de adesão A endocitose mediada por caveolina é outro
e os recetores de sinalização, citocinas, mecanismo que permite a internalização de
neurotransmissores, patógenos, antígenos e nanopartículas. Caveolinas são proteínas de 22-
lipoproteínas19–22. Outras funções da EMC 24 kDa incorporadas na porção citosólica da
incluem a regulação negativa da sinalização membrana plasmática e com porções N- e C-
celular por internalização ou degradação de terminais encontradas voltadas para o
recetores e manutenção da homeostase celular, citoplasma31. Quando que essas proteínas são
por exemplo, por meio de bombas de íons de sintetizadas, são inseridas na membrana do
tráfico intracelular5,19,20,23. O mecanismo de retículo endoplasmático e levadas pela via
formação relacionado com a EMC envolve a secretora do retículo, formam complexos homo
formação de uma vesícula a partir da e heteroligoméricos no complexo de Golgi e são
polimerização de uma proteína citosólica transportadas para a membrana plasmática
chamada clatrina-1, que também requer o como conjuntos de aproximadamente 100-200
auxílio proteínas adaptadoras AP180 e AP-222,24. moléculas de caveolina. É importante ressaltar
A clatrina é uma proteína composta por que essas proteínas não estão funcionais até a
estruturas denominada trisquélions, que sua chegada à membrana plasmática. Ao serem
possuem três cadeias pesadas (~190 kDa) e três depositadas na membrana plasmática, dessem-
cadeias leves (~25 kDa). Os trisquélions penham seu papel biológico relacionado não só
configuram-se para gerar uma estrutura hexa- a endocitose, mas também a sinalização
gonal e pentagonal, que propicia a formação da celular31,32.
curvatura da membrana22–24. A vesícula A caveolina é encontrada em invaginações da
revestida por clatrina possui aproximadamente membrana plasmática em forma de balão com
100-200 nm de diâmetro, sendo formada a tamanho entre 50-100 nm denominada
partir da constrição da membrana invaginada cavéolas33. Encontram-se associadas às
pela GTPase dinamina, que libera a vesícula no cavéolas, microdomínios de membrana enrique-
citoplasma5,24–27. Outro fator importante é a cidas com fosfolipídios, esfingolipídios e coleste-
polimerização de actina e miosina de classe I rol, conhecidos como lipid rafts33,34. As cavéolas
para gerar a invaginação da membrana, estru- são particularmente abundantes em células
turação da vesícula revestida, recrutamento endoteliais, as quais podem constituir 10 a 20%
para o citoplasma e cisão da vesícula. Algumas das proteínas da membrana plasmática. São
proteínas adaptadoras e a proteína miosina VI também encontradas em adipócitos, fibroblas-
também são essenciais para o transporte das tos e células de músculo liso35,36. Por outro lado
vesículas para endossomos precoces10. estão ausentes em neurônios e leucócitos5,37,
A EMC pode influenciar no destino ou ausentes também em algumas linhagens de
degradação lisossômica de nanomateriais. Esse células tumorais, como a linhagem de câncer de
fator é relevante quando se utiliza próstata PC338. A característica marcante da
nanopartículas como carreadores de fármacos cavéola é a presença de uma proteína de
ou genes. No uso de nanopartículas para membrana com estrutura grampo chamada
carreamento de fármacos (drug delivery), a caveolina-1 (Cav1), a qual é indispensável para a
forma pela qual a partícula é endocitada pode formação da cavéola. A Cav1 faz com que a
fazer com que a nanopartícula seja degradada cavéola assuma sua estrutura em forma de
pelas enzimas lisossomais e não chegar ao alvo frasco e possa envolver moléculas que se ligam
destinado. Estabelecer estraté-gias para em sua superfície5. Até 144 moléculas caveolina
promover o escape dos endossomos e evitar a foram apontadas na incorporação de uma única
degradação lisossomal é vital para o sucesso da estrutura caveolar35. Além da Cav1, que está
terapia28–30. Por esse motivo, essa via de presente na maioria das células, há outras

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isoformas como caveolina-2 (Cav2), a qual rial extracelular, e é caracterizada pela movi-
auxilia e facilita a endocitose, porém não é mentação da membrana plasmática induzida
essencial para a formação da cavéola; e a caveo- por uma ativação global do citoesqueleto de
lina-3 (Cav3), que é expressa, especificamente, actina. Essa via envolve a transposição de
nos músculos estriados cardíacos e esquelé- grande quantidade de fluido externo através da
ticos33,35. formação de ondulações na extensão da mem-
Proteínas como cavina, responsáveis pela brana plasmática: as projeções citoplasmáticas
indução da curvatura da membrana, e dina- se fundem a membrana como ondas resultando
mina, que realiza a constrição da membrana em grandes vacúolos endocíticos, heterogêneos
plasmática liberando o endossomo no cito- em tamanho e morfologia, chamados
plasma, são essenciais para a endocitose. macropinossomos49,50. Os macropinossomos
Também têm participação na endocitose oferecem uma rota eficaz para a endocitose de
mediada por caveolina as proteínas de macromoléculas não seletíveis e são fáceis de
membrana associadas à vesícula (VAMP2 - distinguir de outras vesículas formadas durante
vesicle-associated membrane protein) e a pinocitose, uma vez que são estruturas
proteínas associadas ao sinaptossoma (SNAP - substancialmente maiores (0.5-10 µm), não
synapto- some-associated protein), que mediam revestidas e que se encolhem durante a sua
a fusão do endossomo com outras vesículas maturação intracelular51.
intracelulares, além de outras proteínas como Embora a definição de macropinocitose
GTPases39,40. possa dar a impressão de ser um processo
Essa via aparenta ser mais lenta in vitro aleatório, trata-se na verdade de um processo
quando comparada com a via de EMC. Contudo celular muito complexo e bem coordenado49.
o mais importante é que, em alguns casos, essa Sabe-se hoje que macropinocitose é um tipo de
via pode evitar a degradação lisossomal41,42. endocitose regulada por actina que, ao
Além disso, as vesículas de cavéola transportam contrário dos mecanismos de endocitose acima
e se fundem aos caveossomos ou corpos multi- discutidos, não é conduzida diretamente pela
vesiculares (MVBs), que possuem um pH carga ou pelos recetores associados15. O
neutro5. Por essa mesma razão, acredita-se que processo é geralmente iniciado por estímulos
esta via é benéfica para a entrega de proteínas e externos através da ativação transiente de
DNA5. Entretanto, essa visão foi questionada recetores de tirosina quinases (RTKs), que por
após a descoberta de que os caveossomos sua vez ativam proteínas chave da sinalização
possuem um pH ácido, ao contrário do que se celular, como Ras, PLC e PI3 quinase. Essas
acreditava e a discussão sobre a endocitose proteínas coordenam as mudanças em
mediada por caveolina como uma via filamentos de actina, gerando uma agitação na
facilitadora da entrega de ativos permanece em membrana plasmática52,53 e essa perturbação na
aberto43,44. membrana se projeta sobre os fluidos no meio
Há relatos na literatura de diversos nanoma- extracelular. Além disso, membros da família
teriais internalizados pela via da caveolina. Essa Rho e seus efetores também são requeridos
via tem atraído grande atenção na nanomedi- para ativação da maquinaria de polimerização
cina por ter sido sugerida como via de escape à de actina e ondulação da membrana
degradação lisossomal5,36,45. Além disso, a plasmática50.
endocitose mediada por caveolina é a via fisio- A macropinocitose tem um papel impor-
lógica para transcitose. Dessa forma, ela pode tante para a motilidade celular e obtenção de
ser empregada para entrega trans-vascular de nutrientes, consequentemente, é bastante estu-
nanomateriais, por exemplo para a entrega de dada no contexto da progressão e metástase de
ativos no sistema nervoso central, onde há a câncer54–57. É importante também para células
necessidade de atravessar barreira hematoen- diferenciadas, tais como os fagócitos profissio-
cefálica32,46–48. nais que desempenham papéis significativos no
sistema imunológico, como a endocitose de
Macropinocitose antígenos e a liberação de corpos apoptóticos e
Macropinocitose pode ser definida como a células necróticas. Além disso, tem sido suge-
internalização de grandes quantidades de mate- rida como uma via endocítica eficaz para a inter-

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nalização de drogas nas células. Curiosamente, a evidentes75–78 e há, ainda, dificuldade em


macropinocitose também pode ser induzida por encontrar inibidores específicos para carac-
vírus e bactérias. Esses organismos, assim como terizá-las63,79–81. Dentre as principais formas
protozoários e príons52,54,58,59, podem ativar essa alternativas de endocitose podemos destacar:
via para invadir as células hospedeiras. endocitose mediada por flotilina; endocitose
Em relação à internalização de nanopartí- mediada por CDC42; endocitose mediada por
culas, foi descrita recentemente a internalização Arf6 e endocitose mediada por RhoA4. A seguir,
de quantum dots através de macropinocitose60. cada uma dessas formas de endocitose é
Nanopartículas mesoporosas de sílica são prin- brevemente descrita.
cipalmente internalizadas em células Hela por
EMC, entretanto, a internalização via macropi- Endocitose mediada por Flotilina
nocitose mostrou uma liberação mais eficiente A família das flotilinas é composta por duas
de agentes quimioterápicos nessas células61. proteínas altamente homólogas – flotilina-1 e
Ademais, a macropinocitose é descrita como flotilina-2 também denominadas, respectiva-
uma das principais vias para a internalização de mente, de reggie-2 e reggie-1 – que cumprem
nanopartículas maiores (> 300 nm)62. várias funções como sinalização celular e inte-
ração com o citoesqueleto, além da endoci-
Endocitose independente de Clatrina e Caveolina tose. Porém não há consenso na literatura com
Atualmente, as vias de endocitose mediadas relação aos detalhes moleculares do funcio-
por clatrina, caveolina e macropinocitose namento dessa família de proteínas82. São
podem ser consideradas vias clássicas, tanto proteínas associadas a membranas e também
pelo conhecimento em torno dessas vias, como estão ligadas a microdomínios lipídicos, bem
ferramentas que dispomos para estudá-las. como as caveolinas. Por isso, flotilinas são
Entretanto, as células animais possuem outros consideradas marcadores desses microdomínios
mecanismos de endocitose, que atualmente são lipídicos82. Além disso, possuem grande homo-
menos conhecidos, mas nos últimos anos vem logia estrutural quando comparadas à caveo-
se mostrando biologicamente relevante para o lina-183, apesar de não possuírem nenhuma
funcionamento celular63. Inicialmente, estas vias relação molecular em suas sequências84.
foram caracterizadas em células de mamíferos, Glebov et al. (2006)83 colocalizaram floti-
mas estudos mais recentes têm mostrado a lina-1 em cargas endocitadas e mostraram que o
existência dessas vias também em outros nocaute de flotilina-1 reduz a internalização da
organismos modelos como Caenorhab-ditis glicoproteína CD59 na subunidade B da toxina
elegans, Drosophila melanogaster, de cólera83. Já Frick et al. (2007)85 demostraram,
Dictyostelium discoideum e células vegetais64–67 através de micrografias eletrônicas, que micro-
e fungos68. domínios ricos em flotilina-1 e flotilina-2 não
Para mamíferos, já foi demonstrado na lite- coincidem com invaginações com caveolina-1,
ratura que parte dos produtos extracelulares, fortalecendo a ideia de que são vias distintas85.
cerca de 50% de toda atividade endocitária69, Em estudo mais recente, Sorkina et al. (2013)86
são internalizados independentemente de relatam que os microdomínios de flotilina
clatrina e caveolina11,70,71, como fluído extrace- podem funcionar também como moduladores
lular, proteínas ligadas a Glicosilfosfatidilino- de internalização por clatrina para transpor-
sitol, interleucinas, hormônios de crescimento tador de dopamina (DAT) e propõem as floti-
entre outros compostos. Tais vias também são linas como moduladores que podem organizar
utilizadas para a invasão de patógenos e toxinas, microdomínios, regulando a mobilidade lateral
além de possuírem grande participação na de DAT86. Entretanto, alguns detalhes molecu-
transdução de sinais celulares72. lares da via, como a dependência ou indepen-
As vias de endocitose independentes de dência de dinamina permanece em aberto82.
clatrina e caveolina vêm sendo constantemente Para nanomateriais, foi demonstrado que a
exploradas e descritas. Uma série de inibidores internalização de compostos catiônicos (como
e ferramentas já vem sendo utilizadas para lipídios, poliaminas e peptídeos) pode ser
caracterizar essas vias5,45,73,74. Entretanto, as mediada por de flotilina-172, bem como poli-
distinções entre essas vias ainda não são tão plexos catiônicos87. Além desses exemplos, a

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participação de flotilina-1 e -2 foi demonstrada característica desta via endocítica90.


na internalização de nanopartículas de sílica em Essa via aparenta ser independente de dina-
células epiteliais de pulmão e células endote- mina, clatrina, caveolina, RhoA e receptor de
liais88. Com os avanços nos métodos de estudo e interleucina--290,93. Há inclusive, relatos na
a descoberta de novos inibidores para essa via, literatura de que ela pode se destinar não só
em um futuro próximo essa via é forte para endossomos, como nas vias dependentes
candidata para se juntar as vias clássicas de de clatrina e caveolina, mas também para o retí-
endocitose. culo endoplasmático e/ou para o complexo de
Golgi. Entretanto, ainda há grande discussão
Endocitose mediada por CDC42 sobre qual o destino final das vesículas
A proteína controladora da divisão celular 42 CLIC/GEEC90,94–96.
(Cdc42) é membro da superfamília Ras e, como Sabharanjak et al. (2002)90 observaram
tal, a Cdc42 interage com diversos substratos, grande especificidade nos nanodomínios lipí-
mas principalmente no crescimento celular, dicos formados na via dependente de Cdc42. Os
polimerização de actina, mudanças no autores verificaram que proteínas cujas âncoras
citoesqueleto, processamento de RNA e endo- de GPI foram trocadas por caudas
citose89. transmembranares ou proteínas que não
Dentro do seu âmbito de ação, a Cdc42 é possuíam extensões citoplasmáticas foram
responsável pela internalização de proteínas excluídas da internalização90. Porém, o maqui-
ancoradas em Glicofosfatidilinositol (GPI) nário celular associado para esta especifici-
desagrupadas na membrana, como também dade, a formação do próprio CLIC, sua natu-
internalização de grande volume de fluido reza e os papéis de seus efetores principais
extracelular e toxinas ligadas a lipídios90. Cada ainda permanecem obscuros na literatura11,90.
vez mais estudos têm demonstrado que esse Lu & Low (2002)97 relatam que é possível utilizar
mecanismo pode constituir uma via alternativa recetores de folato para internalização de
a clatrina e caveolina11,90–92. Nesse caso, o nanomateriais. Os recetores de folato são pro-
funcionamento da via endocítica se inicia com a teínas ancoradas por GPI e, uma vez ativados,
porção C-terminal da Cdc42, ligando-se aos internalizariam através da via Cdc4297. A partir
lipídios presentes na membrana celular11, mais dessa ideia, Dixit et al. (2006)98 produziram
especificamente a fosfatidilinositol 4,5-bifos- nanopartículas de ouro conjugadas com
fato de sítios enriquecidos com esfingomielinas polietilenoglicol (PEG) modificado por ácido
e colesterol, formando nanodomínios11,92. Esses fólico e demonstraram internalização destas
domínios nanométricos são essenciais para a nanopartículas em células de câncer mas não
internalização, pois parecem funcionar como significativa em linhagens não-cancerígenas98.
sinalizadoras deste mecanismo de inter- Entretanto, a relação entre os nanomateriais e
nalização91, além de serem sensíveis à remoção essa via de internalização ainda carece de
de colesterol da célula90. estudos e há poucas referências na literatura o
Com a formação dos nanodomínios, há o papel e a relevância dessa via de internalização.
recrutamento das proteínas de membrana para
regiões específicas, formando domínios maiores Endocitose mediada por ARF6
nos quais a endocitose aparenta ocorrer11,90. O fator 6 de ribosilação em adenosina difos-
Curvaturas da membrana ou de vesículas fato (ARF6) pertence também à superfamília Ras
iniciais, são mediadas primariamente por de pequenas proteínas ligantes de GTP. Essa
carreadores independentes de clatrina (CLIC, do proteína interage e influencia diversos proces-
inglês, clathrin independent carrier) e sos celulares, tais como o tráfego transmem-
caveolina11,90. Essas curvaturas e vesículas se branas e remodelamento da actina no cito-
fundem e formam um compartimento endos- esqueleto99.
somal enriquecido com proteínas ancoradas por A via endocítica dependente de ARF6 tem
GPI (também denominado de GEEC ou GPI- sido descrita como uma das principais vias
-Enriched Endocitic Compartiment). Neste independente de clatrina e caveolina63,100,101,
ponto, a Cdc42 sinaliza para a polimerização de pois para esta via tem sido demonstrado a
actina, gerando a invaginação alongada internalização de diversos substratos com várias

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atividades celulares distintas, tais como macropinocitose103. Esse aparato de interna-


proteínas CD59 ligada a GPI, enzima carboxi- lização aparenta ser distinto das estruturas
peptidase E, receptor metabotrópico de gluta- encontradas na via CLIC/GEEC11,99.
mato7, proteína E de adesão dependente de A endocitose dependente de ARF6 aparenta
cálcio (E-caderina), integrinas e proteínas do ser independente de dinamina e seus endos-
complexo principal de histocompatibilidade102–106. somos podem se comunicar com comparti-
A super-expressão de ARF6 resulta na produção mentos positivos com transferrina, endossomos
de ondulações na membrana e induz positivos para Rab-5, o canal de potássio Kir3-4

Figura 1. Principais vias de endocitose de nanopartículas em células eucarióticas. A etapa inicial representa
principais vias de endocitose usadas para o estudo da internalização de partículas, que tem como consequência
a formação de vesículas intracelulares - fagocitose, macropinocitose, endocitose mediada por clatrina,
endocitose mediada por caveolina e endocitose clatrina e caveolina independentes (flotilina e Glic-Glec). A
segunda etapa representa a via clássica de tráfego intracelular que envolve o processamento das
nanopartículas a partir do amadurecimento do endossomo precoce, com destino à degradação lisossomal do
material endocitado.

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e a via de reciclagem dependente de ARF6 11,106, vesículas iniciais, que são mediadas primaria-
através da qual grande parte das proteínas mente por carreadores ou proteínas que auxi-
endocitadas podem voltar à membrana plasmá- liam na sua formação26. Essas curvaturas/
tica99. vesículas se fundem, então, formando um
Nesse caso, o modo de formação vesicular compartimento endossomal enriquecido com
proposto é similar ao descrito para CLIC/GEEC. domínios lipídicos e os recetores. Após isso, a
Arf6 ativa a enzima fosfatidilinositol 4-fosfato 5- proteína RhoA sinaliza para a modificação do
quinase que é responsável por gerar mais citoesqueleto, gerando a invaginação na
fosfatidilinositol 4, 5-bifosfato. Então, Arf6, se membrana plasmática. As invaginações depen-
liga ao Fosfaditilinositol 4, 5-bifosfato produ- dentes de RhoA se mostram uniformes e com
zido, modificando a estrutura da membrana99, e tamanhos entre 50-100 nm26. Até o presente
recruta proteínas membranares para o sítio em momento, a dinamina aparenta ser necessária
questão. Arf6 também se liga e ativa fosfo- para a cisão de invaginação, transformando-a
lipase D, enzima que hidrolisa fosfatidilcolinas numa vesícula endossômica11,111–113.
em ácido fosfatídico, provocando perturbações Iversen et al. (2012)60 demonstrou que a
na membrana plasmática99,107–110. Todas essas internalização de quantum dots associados com
modificações facilitam a formação da invagina- ricina acontece de forma independente de
ção e das vesículas99. Por último, Arf6 modula e RhoA60 e dependente de CAM114,115. Isso ressalta
modifica as fibras de actina, formando a que ainda são necessários novos estudos para
invaginação e a vesícula endocitária99. Apesar elucidar não só o mecanismo de operação da via
da vasta gama de produtos internalizados por dependente de RhoA, assim como outras
essa via e a sua importância celular, ainda é proteínas correlatas26, o que pode auxiliar na
necessário identificar as proteínas diretamente aplicação desta via como forma de interna-
ligadas com a Arf6 e auxiliam na modulação da lização de nanomateriais.
via99. Até o momento, não foi encontrado
relatos de internalização de nano-materiais O QUE ACONTECE COM OS NANOMATERIAIS
através esta via. DEPOIS QUE ENTRAM NAS CÉLULAS?
Como discutido anteriormente, o material
Endocitose mediada por RhoA endocitado encontra-se confinado em uma
A função da proteína RhoA está atrelada à vesícula lipoproteica no citoplasma. Portanto,
reorganização do citoesqueleto e polimerização essa vesícula é constituída de uma porção da
de actina111. Encontra-se associada com a membrana plasmática, bem como consti-
regulação e controle de vesículas revestidas de tuintes do meio externo confinados em uma
clatrina em células HeLa, inibindo a internali- vesícula intracelular (Figura 1). Através de uma
zação quando ativadas, assim como a estimula- série de eventos de fusão e fissão, seu conteúdo
ção e perturbações na membrana plasmática112 passa por um processo de maturação que
e está intimamente ligada com a internalização envolve a diminuição do pH no lúmen da
de recetores de interleucina-2113. vesícula e a fusão com endossomos tardios até,
O mecanismo da via é semelhante ao da por fim, chegar aos lisossomos, onde ocorre a
Cdc42 (CLIC/GEEC) explicitado anteriormente, degradação do material endocitado. É impor-
porém já foi demonstrado que são mecanismos tante ressaltar que diferentes modelos foram
distintos, pois algumas proteínas chaves desta propostos para explicar como o material endoci-
via, como a própria RhoA, a dinamina e os tado passa de endossomo a lisossomo. Há pelo
recetores de Interleucina-2(sem as quais esta menos quatro teorias, i. maturação, ii. vesicular,
via é inibida), não estão presentes para a via transferência de conteúdo (kiss-and-run) e
Cdc4211,27,67,89,91,109,111. modelo híbrido, que podem explicar esse
Essa via, quando ativa, provoca o recruta- processo, a discussão a fundo dessas teorias
mento de recetores de interleucinas-2 através foge do escopo desta revisão (para maiores
da formação de microdomínios lipídicos 113. detalhes ver116–118). Entretanto, essa é uma área
Neste ponto, a retirada de esfingolipídios e em pleno desenvolvimento e os conhecimentos
colesterol interrompe a internalização11,68,111. gerados por ela terão impactos significativos no
Inicialmente, há curvatura da membrana ou transporte intracelular de nanomateriais. A rota

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clássica (endossomo precoce, endossomo que as terapias se valham de estratégias para


tardio, lisossomos) não é a única via de tráfego escapar do endossomo. Isso pode ser alcançado
intracelular para os materiais endocitados. Esse através da funcionalização do nanomaterial,
processo depende de diversos fatores como a que pode desempenhar um importante papel
natureza química das nanopartículas, além de na reorientação da partícula para subcompar-
essas propriedades a distribuição intracelular de timentos celulares específicos. A alteração de
nanopartículas é dependente da linhagem carga de superfície é uma das alternativas para
celular estudada e também de tempo de expo- escapar do lisossomo, promovendo a interação
sição e das linhagens celulares 119–122. direta das nanopartículas com a membrana
A acidez e a presença de uma variedade de endossomal devido à inversão seletiva da carga
enzimas líticas fazem dos lisossomos uma de superfície (aniônica para catiônica)125. A
estação de degradação de materiais endocitado, funcionalização com uma amina na superfície
uma vez que a degradação lisossomal é uma das da partícula é um exemplo que pode auxiliar
maiores barreiras para as estratégicas terapêu- na liberação do material endocitado através de
ticas intracelulares9,10,123,124. Como a maioria das um evento denominado “esponja de prótons¨
aplicações de nanotecnologia não tem como que, através da protonação da amina (pK ≈ 6)
objetivo o lisossomo, com exceção do no ambiente ácido do endolisossomo, leva a um
tratamento de algumas disfunções lisossomais influxo de íons de cloro e de água, promovendo
como a doença de Niemann-Pick, é necessário um desequilíbrio osmótico, propicia o inchaço

Figura 2. Principais proteínas residentes e marcadores de organelas no tráfego de nanopartículas. A figura


ilustra alguns exemplos de proteínas utilizadas para o estudo dos destinos intracelulares de nanopartículas -
Endossomos precoces: Rab4, Rab5, e EEA1; Endossomo tardio: Rab7; Lisossomos: Lamp1 e Lamp2; Endossomo
de reciclagem: Rab11; Exossomos: CD63 e Hsc70; Complexo de Golgi: Giantina, GM130 e TGN38; Retículo
endoplasmático: Calnexina.

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do endolisossomo, pode levar a uma desor- complexo de Golgi, Calnexina para retículo
ganização momentânea da membrana endos- endoplasmático e Lamp1 e Lamp2 para lisos-
somal e consequente liberação do conteúdo do somos. Geralmente são empregadas técnicas de
endossomo125,126. Outra estratégia para escapar microscopia (de fluorescência, eletrônica, de
do endossomo inclui a conjugação de nano- força atômica), principalmente microscopia
partículas com proteínas fusogênicas como a confocal, para a colocalização de organelas e
melitina, que propicia a fusão de lipídios de nanomateriais, para assim traçar o caminho
membrana entre duas vesículas opostas, aproxi- percorrido nas células.
mando proteínas e lipídeos de membrana e leva
a uma fusão do conteúdo luminal sem lise28,127. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outra estratégia interessante é a utilização A produção de nanomateriais vem se
de moléculas fotossensíveis, pois a radiação tornando cada vez mais expressiva, portanto,
eletromagnética pode provocar a libertação concomitantemente há uma crescente preocu-
dessas moléculas endocitadas para o citoplasma pação a respeito do uso, manipulação e elimina-
e contidas nas vesículas. Nesse processo, as ção desses materiais. Muitas interações funda-
membranas endossomais são altamente danifi- mentais entre nanomateriais e o meio biológico
cadas pela utilização fotossensibilizadores anfi- ainda não são completamente compreendidas.
fílicos e o resultado é a subsequente libertação Em grande parte dos estudos sobre a aplicação
das nanopartículas aprisionadas para o citosol, de nanomateriais, há lacunas sobre os mecanis-
como observado para a liberação de LDL intra- mos moleculares envolvidos. O conhecimento
celular de nanopartículas lipoproteicas128. da endocitose e os destinos intracelulares de
Após o escape lisossômico, muitas estraté- nanopartículas são indispensáveis para projetar
gias também são utilizadas para determinar o aplicações terapêuticas, além de ser útil na
destino final de um nanopartícula. As nanopar- avaliação citotóxica desses materiais. O estudo
tículas podem se direcionar para diversas orga- do tráfego celular tem grande importância no
nelas e isso dependerá de sua estabilidade desenvolvimento de nanocarreadores, pois
frente a degradação lisossomal10,129, caracterís- quando definido o alvo intracelular, é possível
ticas físico-químicas119, tempo de internali- aprimorar a aplicação terapêutica, consequen-
zação130 e afinidade nanopartícula-organela28. O temente, fornecer tratamentos médicos mais
destino intracelular de uma nanopartícula pode eficazes.
ser de modo específico (nanopartícula-organela A endocitose é um processo fisiológico que
alvo), ou então de modo inespecífico para diver- foi moldado pelo processo evolutivo para
sas organelas simultaneamente, por exemplo o desempenhar um papel biológico diferente em
núcleo, complexo de Golgi, retículos endoplas- cada tipo celular, que está diretamente ligado a
máticos, mitocôndria, entre outros28,130. Os função que aquela célula realiza em seu tecido
estudos que visam investigar o tráfico intrace- de origem. Por isso é altamente esperado que
lular de nanopartículas são essenciais para esse processo seja dependente do tipo celular.
determinar a promoção de suas aplicações131. O Na maioria das vezes, as nanopartículas são
conhecimento do destino intracelular de internalizadas por mais de uma via (por ex.
nanopartículas é muito importante na avaliação clatrina e caveolina) o que pode resultar em
do efeito citotóxico, ou então, para o respostas biológicas distintas, uma vez que uma
diagnóstico e terapia de diversas enfermidades. via pode levar a uma degradação mais eficiente.
Para estudar esse processo de tráfego intrace- Esses fatores devem ser levados em conside-
lular ou mesmo o destino intracelular de um ração no estudo da interação das nanopartículas
nanomaterial, diversos marcadores de orga- com o ambiente celular. Essa é uma área multi-
nelas ou estruturas vem sendo desenvolvidas. A disciplinar que apesar de não ser completa-
Figura 2 resume os alvos desses marcadores. mente compreendida atualmente está em pleno
Essas estratégias utilizam-se de proteínas resi- desenvolvimento, bem como as técnicas e ferra-
dentes ou marcadores de organelas, como mentas utilizadas nessa área, da qual espera-se
Rab4, Rab5, e EEA1 para endossomos precoces; no futuro próximo grandes descobertas e uma
Rab7 para endossomos tardios; Rab11 para importante contribuição para uma aplicação
endossomos de reciclagem; CD63 e Hsc70 para segura e eficiente de nanomateriais.
exossomos; Giantina, GM130 e TGN38 para

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