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Visão técnica do concreto pré-fabricado em relação as


manifestações patológicas

Moacir Sabadini Junior – moacir.sabadini@gmail.com


Patologia das Construções: Diagnósticos e Tratamentos
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Vitória, ES, 21 de janeiro de 2022

Resumo
Pelo seu amplo uso na construção civil, as estruturas de concreto necessitam
passar por aprimoramentos tecnológicos. O objetivo é utilizar processos
industrializados, sugerindo o uso do concreto pré-fabricado, em que os controles são
mais confiáveis e periódicos. Em função da utilização das estruturas de concreto,
existe uma busca por soluções construtivas racionalizadas e duráveis. Aperfeiçoar o
nível de qualidade, reduzindo as incertezas e aumentando a segurança das obras,
independente do meio em que serão utilizadas. Os resultados da pesquisa indicam
que a construção civil, de forma geral, possui baixo controle de qualidade e pouca
produtividade, diferentemente da construção industrializada em concreto pré-
fabricado, que tem como características o melhor controle tecnológico dos materiais
aplicados, dos processos e da mão de obra qualificada para execução, o que eleva
o nível de qualidade dos elementos e da obra. Tais características são evidenciadas,
através de normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas, livros
relacionados a pré-fabricação e trabalhos científicos sobre o assunto. Conclui-se
que a utilização da construção industrializada em concreto pré-fabricado, torna-se
uma solução técnica viável e com potencial para exploração, diante das incertezas
de uma estrutura realizada em ambiente de canteiro de obras e suas consequentes
manifestações patológicas.

Palavras-chave: Patologia das estruturas de concreto. Manifestações Patológicas.


Construção de concreto. Concreto pré-moldado. Concreto pré-fabricado.

1. Introdução
Para uma estrutura de concreto suportar o tempo, independentemente do ambiente
onde esteja sendo utilizado, é necessário compreender o que causa as
manifestações patológicas e também entender de que maneira o concreto pré-
fabricado torna-se uma solução interessante e justificável. Para isto alguns conceitos
são fundamentais para compreensão geral.
Patologia é a ciência que estuda a origem, os sintomas e o mecanismo de ação das
doenças. As manifestações patológicas são as anomalias que ocorrem nas
estruturas, indicando que existe algum problema a ser identificado e resolvido.
As origens das manifestações patológicas, em síntese, podem ser:
• Projeto – Congênitas;
• Execução – Construtivas;
• Adquiridas – Em função da agressividade do meio;
• Acidentais – Através de fenômenos atípicos.
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Em relação aos processos, apresenta-se na Tabela 1, o percentual de patologias


nas etapas de construção.

Tabela 1 – Patologias nas etapas de processo de construção


Fonte: Helene (1997)

Os mecanismos de deterioração de uma estrutura de concreto (BOLINA; TUTIKIAN;


HELENE, 2019), podem ser: químicos, físicos e biológicos. Sendo:
• Químico – processo que promovem a alteração química dos compostos
hidratados da pasta de cimento Portland, oriundos do contato do concreto com
agentes agressivos;
• Físico – processo ocasionado pela insuficiência estrutural da peça a
solicitações produzidas internamente no material;
• Biológico – É produzido no concreto aparente por fungos, bactérias, algas ou
musgos.

Para identificação correta de uma manifestação patológica, o estudo deve seguir o


seguinte caminho:
• Anamnese – Para identificar tipo de estrutura, fundação, materiais usados e
sua vida útil, carregamentos, tempo de construção, entre outros;
• Diagnóstico – Levantamento de danos e sua tipologia, ocorrência / histórico,
causas dos danos;
• Tratamento – Convivência com os danos (estabilização natural), Reforço
localizado e/ou reforço generalizado.

Na etapa do diagnóstico, os danos podem ser classificados em:


• Estéticos – Do simples mal estar ao alarme de pânico;
• Funcionais – Mau funcionamento de equipamentos;
• Estruturais – Podem comprometer a estabilidade da obra e podem exigir
reforços.

Principais manifestações patológicas encontradas nas estruturas de concreto:


• Corrosão de armaduras – perda de aderência entre aço e concreto e
diminuição da área seção transversal da armadura;
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• Reação álcalis-agregado – perda de aderência entre a pasta de cimento e os


agregados;
• Lixiviação – Dissolução e remoção dos compostos hidratados da pasta de
cimento;
• Eflorescência – Ocorrem devido à solubilidade do hidróxido de cálcio na
presença de umidade;
• Bolor e vegetação – Fungos com umidade;
• Ataques químicos – A penetração dos ácidos causa a decomposição de
produtos da hidratação do cimento;
• DEF – Formação tardia de etringita – PH do concreto baixo;
• Defeitos de construção – Ninhos de concretagem, defeitos de concretagem,
falha de concretagem, deslocamento da armadura, falta de cobrimento, excesso de
armadura, e outros.

Em contrapartida ao apresentado acima, a principal missão é minimizar ou


neutralizar tais ocorrências para que a estrutura seja mais durável. Durabilidade é a
capacidade da edificação ou de seus sistemas de desempenhar suas funções ao
longo do tempo, sob condições de uso e manutenção especificadas no Manual e
manutenção especificados no Manual de Uso, Operação e Manutenção (NBR
15575, 2013)
Para que o conceito de durabilidade funcione, a interação concreto e meio ambiente
será fundamental para capacidade de resistir ao tempo. Para garantir essa
interação, as características físicas e químicas necessitam estar exercendo suas
respectivas funções para neutralizar ou minimizar a agressividade do ambiente, tais
como:
• Características físicas – Porosidade, permeabilidade e absorção;
• Características químicas – Composição do cimento e composição das
adições.

As características apresentadas necessitam, para um melhor desempenho, seguir


recomendações práticas para aumentar a durabilidade do concreto, seriam elas:
• Utilizar baixa relação água/cimento;
• Realizar cura;
• Utilizar cimento e cobrimento adequados;
• Seguir normas técnicas;
• Evitar circulação de água desnecessária.

Existem também boas práticas relacionadas a durabilidade das armaduras, que são:
• Tipo de cimento;
• Relação água/cimento;
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• Compacidade do concreto;
• Cura do concreto;
• Cobrimento adequado.

De acordo com a NBR 15575 (ABNT, 2015), vida útil é o Período de tempo em que
um edifício e/ou seus sistemas se prestam às atividades para as quais foram
projetados e construídos, com atendimento dos níveis de desempenho previstos
nesta norma, considerando a periodicidade e a correta execução dos processos de
manutenção especificados no respectivo Manual de Uso, Operação e Manutenção.

Como garantia e por ser considerada atrasada, em relação a outras atividades, a


construção civil busca por técnicas industrializadas, em que se pode destacar o pré-
fabricado, pela sua necessidade de controle dos materiais e processos. Tal condição
de acompanhamento gera maior confiabilidade a estrutura de concreto e minimiza o
impacto das manifestações patológicas. A evolução necessária da construção civil
está diretamente ligada a industrialização, como apresentado na Tabela 2 a seguir,
em estágios.

Tabela 2 – Estágios de desenvolvimento da construção civil


Fonte: Konez (1966) adaptado

O quadro acima indica que, para industrialização, necessita-se de planejamento, de


uma fábrica, da produção ser massiva e da necessidade de investimento em
máquinas. Tudo para garantir a relação custo x benefício, elevando o nível de
qualidade da estrutura, evitando assim os 3 d`s: Dirty (sujo), Difficult (difícil) e
Dangerous (perigoso).

O Grau de industrialização (GI) de uma operação é medido pela seguinte equação:

Onde,
Fábrica = Tempo em dias gasto dentro da fábrica
Obra = Tempo em dias gasto na obra
De acordo com El Debs (2017), as qualidades desejáveis que os materiais usados
na construção civil deveriam apresentar são:
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a) Ter grande durabilidade;


b) Não precisar de grandes cuidados de manutenção;
c) Ser isolante térmico e hidrófugo;
d) Possuir resistência em situações de incêndio;
e) Ter estabilidade volumétrica;
f) Dispor de resistência mecânica elevada;
g) Ser executado com facilidade por meios mecânicos;
h) Possibilitar ligações de forma fácil e simples;
i) Desempenhar simultaneamente as funções de estrutura e de fechamento.

Faz-se necessário, para melhor compreensão, apresentar o significado dos termos


concreto executado no local e concreto pré-fabricado.
Concreto pré-fabricado, de acordo com a NBR 9062 (ABNT, 2017), é o elemento
pré-moldado executado industrialmente, em instalações permanentes de empresa
destinada para este fim. O termo concreto pré-moldado define todo elemento
moldado previamente e fora do local de utilização definitiva da estrutura. Desta
forma o pré-fabricado é o pré-moldado executado de forma industrializada. Sendo
assim, quando o elemento for moldado no local da utilização definitiva, entende-se
como concreto moldado no local.

Cabe apresentar as entendidas vantagens de uso do sistema de concreto pré-


fabricado na Tabela 3.
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Tabela 3 – Vantagens do sistema de concreto pré-fabricado


Fonte: Acker (2002) adaptado

A finalidade da indústria de peças pré-fabricadas é produzir elementos com


qualidade controlada, com intervalo de confiança pré-estabelecido, cumprindo com
as prescrições e normas existentes quando se tratar de peças em série, ou então,
segundo as especificações do cliente, quando se tratar de peças especiais
fabricadas sob encomenda.
De acordo com Moreira (2009), observa-se o esquema geral de uma produção das
peças pré-fabricadas, conforme Figura 1:

Figura 1 – Esquema geral da indústria de pré-fabricado


Fonte: Moreira (2009)

Para evidenciar o controle e vantagens técnicas do pré-fabricado, adota-se uma


sequência, de etapas, comum entre a execução concreto executado no local (CML)
e o concreto pré-fabricado (CPF). Seriam as etapas de:
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 Projeto;
 Corte e dobra – apresentar pino de dobra, precisão do processo de
endireitamento, dobra e corte;
 Armação;
 Fôrma;
 Fôrma e armação;
 Concreto;
 Acabamento;
 Cura.
Tais etapas apresentam-se de forma mais detalha a seguir. É importante frisar que,
para uma boa transição entre as etapas, faz-se necessária a presença de inspetores
de qualidade, para garantir a execução de acordo com especificações de projeto e
normas.

2. Projeto
Para um bom uso da solução pré-fabricada em concreto, as seguintes
características relativas ao projeto são necessárias (EL DEBS, 2017):
• Restrição x liberdade de projeto – Buscar atendimento as demandas
arquitetônicas;
• Possibilidade de grandes vãos e grandes cargas – Utilizar concreto
protendido;
• Respeito aos gabaritos de transporte – Otimizar transporte em qualidade e
quantidade;
• Adaptação à topografia e aos tipos de terreno – Necessidade de topografias
mais regulares;
• Maior nível de detalhes em função da quantidade de etapas – Utilizar
plataforma BIM;
• Eficiência estrutural – Estudar ligações entre elementos.

3. Corte e dobra do aço (vergalhão)


No processo que antecede a armação, tem-se o corte e dobra, em que é feito o
trabalho de endireitamento, dobra e corte do aço (Vergalhão para construção)
utilizado. Este trabalho também deve seguir normas para uma boa execução. Na
execução no local, algumas práticas, prejudicam a manutenção das propriedades do
aço e características necessárias para uma boa estrutura, podendo gerar assim
manifestações patológicas, tais como:
• O endireitamento não garantir a linearidade e esquadro, prejudicando assim o
cobrimento da armadura;
• A dobra não garantir as dimensões especificadas em projeto, prejudicando o
cobrimento da armadura. Neste caso também prejudicará a ancoragem das barras;
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• A dobra, por não ser executada com pino de dobra recomendado pela norma,
pode gerar quebra e/ou microfissuras que irão comprometer as propriedades
estruturais do elemento.
Tais manifestações patológicas irão divergir das especificações indicadas em
projeto, perdendo características que elevam seu nível de qualidade, durabilidade e,
consequente, vida útil, diante do meio de utilização.
De acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014), na tabela 9.1, o diâmetro do Pino de
dobramento (D), deve obedecer aos seguintes parâmetros, conforme Tabela 4:

Tabela 4 – Diâmetro do pino de dobramento


Fonte: NBR 6118 (2014)

Para pino de dobramento dos ganchos dos estribos, Tabela 5, que se refere a tabela
9.2 da NBR 6118 (ABNT, 2014), que indica:

Tabela 5 – Diâmetro do pino de dobramento dos ganchos dos estribos


Fonte: NBR 6118 (2014)

O cobrimento de uma armação está diretamente ligado ao meio de utilização. Para


isto a norma NBR 12655 (ABNT, 2015), apresenta as classes de agressividade
ambiental, da seguinte forma, na sua tabela 1, representada pela Tabela 6 abaixo:
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Tabela 6 – Classe de agressividade ambiental


Fonte: NBR 12655 (2015)

Mediante a classe de agressividade ambiental definida, define-se as características


necessárias do concreto, conforme indicado na tabela 2 da NBR 12655 (ABNT,
2015), abaixo apresentadas na Tabela 7:

Tabela 7 – Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto


Fonte: NBR 12655 (2015)

Em concordância com as indicações da norma NBR 12655 (ABNT, 2015), a NBR


6118 (ABNT, 2014), apresenta os seguintes cobrimentos nominais na tabela 7.2,
que se refere a Tabela 8 deste documento:
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Tabela 8 – Cobrimentos nominais


Fonte: NBR 6118 (2014)

A NBR 6118 (ABNT, 2014) ainda ressalta, expressando que, para classe de
resistência superior ao mínimo exigido, os cobrimentos definidos na tabela 7.2,
podem ser reduzidos em até 5 mm, além de citar no item 7.4.7.7 que, para
elementos pré-fabricados, deve-se seguir o disposto na NBR 9062 (ABNT, 2017).
A NBR 9062 (ABNT, 2017) indica que, para elementos pré-fabricados, em que seja
utilizado concreto com fck ≥ 40 MPa e relação água/cimento menor ou igual a 0,45,
os cobrimentos podem ser reduzidos em mais 5 mm em relação a NBR 6118 (ABNT,
2014).
Sendo assim o uso do pré-fabricado torna-se tecnicamente viável, não só pela
possibilidade de redução dos cobrimentos nominais, mas pela manutenção dos
cobrimentos originais da Tabela 8 e, respectivo, ganho da camada de proteção da
armadura, por uma maior cobertura de concreto.
Na indústria do pré-fabricado, nas maiores empresas, usam-se equipamentos de
corte e dobra. Mesmo as empresas que não possuem, a aquisição do corte e dobra
do vergalhão, pode ser feita através de distribuidores terceirizados. Os
equipamentos utilizados, geralmente são:
Endireitadeira (Figura 2) – máquina responsável por receber o vergalhão em rolo,
endireitar, tornar a barra reta e cortar na medida de projeto.
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Figura 2 – Endireitadeira
Fonte: Dhalmar (2022)

Estribadeira (Figura 3) – máquina responsável por receber o vergalhão em rolo,


endireitar, dobrar e cortar na medida de projeto.

Figura 3 – Estribadeira
Fonte: Dhalmar (2022)

Estes equipamentos, por trabalharem de acordo com as normas ABNT, são


responsáveis pela padronização e garantia de qualidade nesta etapa.
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4. Armação
Após um corte e dobra bem executado, o processo de armar deve seguir
rigorosamente o projeto de armação, em que quantidades, bitolas e espaçamento
devem ser obedecidos. Atualmente o mercado de equipamentos propõem soluções
que minimizam os erros da operação, por exemplo equipamentos que fazem a
armação de pele (pré-montagem) que posiciona corretamente os estribos. Tal
facilidade encontrada para pilares e vigas, conforme modelo de equipamento a
seguir, representados pela Figura 4 e Figura 5. Mesmo que o processo não seja feito
por equipamento, conforme demonstrado abaixo, a indústria de pré-fabricado utiliza-
se de mecanismos de controle, tais como gabaritos, cavaletes e acessórios, que
direcionam a execução padronizada, de acordo com o projeto. Tais mecanismos
podem ser de fabricação própria, adaptados ou adquiridos de empresas
especializadas.

Figura 4 – Equipamento para pré-montagem de armação


Fonte: Schnell Brasil (2022)

Figura 5 – Formatos de pré-montagem de armação


Fonte: Schnell Brasil (2022)
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5. Fôrma
A NBR 9062 (ABNT, 2017) diz que, as fôrmas devem adaptar-se às formas e
dimensões das peças pré-moldadas projetadas, respeitadas as tolerâncias.
Sobre as tolerâncias dimensionais, a norma apresenta a tabela 2, que neste
documento está representado pela Tabela 9, com os seguintes dados para
fabricação:

Tabela 9 – Tolerâncias de fabricação para elementos pré-moldados


Fonte: NBR 9062 (2017)

A estanqueidade das fôrmas é outro fator importante para uma boa qualidade da
estrutura de concreto, pois evitam a perda da pasta de cimento, que ocasionam
falhas de concretagem. O material aplicado para execução dos moldes também se
torna importante, em que o mesmo não se aproprie de algum componente do
concreto, por exemplo a madeira que pode absorver a água de amassamento,
gerando uma camada superficial sem a hidratação necessária do concreto,
aumentando assim a exposição a agressividade do ambiente.
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No pré-fabricado, em vias gerais, utiliza-se fôrmas metálicas, conforme Figura 6,


com vedações de borracha, em que se garante a estanqueidade necessária. Outro
ponto importante é o aproveitamento do molde. Por se tratar de um material mais
durável, quando existe repetição de elementos, é sempre reutilizado, diluindo assim,
o custo por quantidade de peça produzida.
Desta forma, o pré-fabricado, torna-se uma etapa confiável em função das
exigências de norma e procedimentos internos de fabricação do molde.

Figura 6 – Fôrma metálica


Fonte: Weiler (2022)

6. Fôrma e armação
Após preparação da fôrma, armações e suas respectivas conferências, tem-se a
necessidade de equalizar os dois processos. Posiciona-se a armação dentro do
molde, para conferências finais, antes de iniciar o procedimento de concretagem.
Neste momento, se confere:
• Cobrimentos gerais, sejam nas seções transversais, quanto no comprimento
longitudinal;
• Posicionamento de eventuais consolos, verificando níveis e dimensões;
• Posicionamento de eventuais insertos, verificando níveis e dimensões;
• Posicionamento de eventuais furos e/ou aberturas, verificando níveis e
dimensões;
• Posicionamento de eventuais tubos para águas pluviais, verificando níveis e
dimensões;
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• Posicionamento de eventuais alças de içamento, verificando níveis e


dimensões;
• Possíveis conflitos entre armação e fôrma, com ajustes necessários.

Após conferências o elemento estará apto ao passo seguinte, que será a


concretagem.

7. Concreto
Para um concreto ser considerado de boa qualidade, alguns passos necessitam ser
acompanhados, tais como: dosagem (preparo), mistura, transporte, lançamento,
adensamento e cura. Destaca-se aqui o preparo e a mistura como fundamentais, em
ordem de importância. Ideal que concreto seja homogêneo com o menor índice de
vazios e baixa conectividade. As consequências por essa falta de qualidade, podem
gerar as seguintes manifestações patológicas:
• Deformações excessivas;
• Fissuras;
• Exposição direta da armadura ou ambiente.
Sendo assim, na produção do concreto, seja ele executado no local ou
industrializado, pode-se apresentar as seguintes diferenças em relação a condição
de preparo, de acordo com a NBR 12655 (ABNT, 2015):
• Condição A (aplicável a todas as classes de concreto): o cimento e os
agregados são medidos em massa, a água de amassamento é medida em massa
ou volume com dispositivo dosador e corrigida em função da umidade dos
agregados;
• Condição B (pode ser aplicada às classes C10 a C20): o cimento é medido
em massa, a água de amassamento é medida em volume mediante dispositivo
dosador e os agregados medidos em massa combinada com volume;
• Condição C (pode ser aplicada apenas aos concretos de classe C10 e C15): o
cimento é medido em massa, os agregados são medidos em volume, a água de
amassamento é medida em volume e a sua quantidade é corrigida em função da
estimativa da umidade dos agregados da determinação da consistência do concreto.
Com base no tipo de preparo, quando o desvio-padrão, que é um parâmetro muito
usado em estatística que indica o grau de variação de um conjunto de elementos, é
desconhecido, adota-se a tabela 6, da norma NBR 12655 (ABNT, 2015), conforme
representado a seguir abaixo na Tabela 10:

Tabela 10 – Desvio-padrão a ser adotado em função da condição de preparo do concreto


Fonte: NBR 12655 (2015)
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O desvio-padrão é utilizado no cálculo da resistência de dosagem, conforme


equação a seguir, da NBR 12655 (ABNT, 2015), em seu item 5.6.3:
fcjm = fckj + 1,65 x Sd
onde,
fcmj – é a resistência média do concreto à compressão, prevista para idade j dias,
expressa em megapascals (MPa);
fckj - é a resistência característica do concreto à compressão, aos j dias, expressa
em megapascals (MPa);
Sd – é o desvio-padrão da dosagem, expresso em megapascals (MPa).
Uma indústria de pré-fabricado, para uma boa operação, possui uma central
automatizada dosadora, em que os equipamentos são aferidos e calibrados
constantemente. Dentro desta visão, pode-se definir, para o pré-fabricado, a
condição A de preparo. Para o concreto moldado no local, com a evolução
associada ao maior uso do concreto usinado, pode-se considerar a condição de
preparo B.
Avaliando um concreto de mesma resistência fck igual a 20 MPa, conclui-se os
seguintes números para fcmj:

Concreto pré-fabricado (CPF)


fcjm = fckj + 1,65 x Sd
fcjm = 20 + 1,65 x 4
fcjm = 26,6 MPa

Concreto moldado no local (CML)


fcjm = fckj + 1,65 x Sd
fcjm = 20 + 1,65 x 5,5
fcjm = 29,1 MPa

Através deste cálculo identifica-se que o CML, necessita de uma resistência maior,
em fcjm, para ter o fck igual a 20 MPa, em função do baixo controle de execução no
preparo do concreto.
Partindo para concretos de classe C25 e superiores, a NBR 12655 (ABNT, 2015),
indica que a medida dos materiais dever ser feita em massa, ou seja, a partir desta
resistência a condição de preparo aceita é somente a A, excluindo-se assim outras
alternativas.
Uma vez o preparo sendo feito de acordo com as normas, outro passo importante é
a mistura do concreto, podendo ser feito no local, em misturador e/ou caminhão
betoneira, desde que seja garantida a homogeneidade da mistura. Atualmente
existem vários equipamentos aptos para este processo, podendo-se destacar o
misturador planetário, conforme Figura 7, em que é possível ver as pás de mistura.
Por analogia, tal sistema de mistura, assemelha-se ao de uma batedeira doméstica.
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Figura 7 – Visão interna do misturador planetário


Fonte: Weiler (2022)
8. Acabamento
O acabamento superficial do concreto é a parte estética da estrutura, em que é
necessária todas tratativas para que as irregularidades sejam ocultadas e/ou
suavizadas. A intenção final é apresentar uma estrutura limpa, inclusive com a
preocupação de se evitar acumulo de sujeira e/ou agentes que venham a gerar
manifestações patológicas, tais como manchas.

9. Cura
A NBR 14931 (ABNT, 2004) diz que, enquanto não atingir endurecimento
satisfatório, concreto deve ser curado e protegido contra agentes prejudiciais para:
 evitar a perda de água pela superfície exposta;
 assegurar uma superfície com resistência adequada;
 assegurar a formação de uma capa superficial durável.
A norma ainda indica que os agentes deletérios mais comuns no início de vida do
concreto são: mudanças bruscas de temperatura, secagem, chuva forte, água
torrencial, congelamento, agentes químicos, bem como choques e vibrações de
intensidade tal que possam produzir fissuras na massa de concreto ou prejudicar a
sua aderência à armadura.
O tratamento térmico também é citado, como alternativa de acelerar o processo,
desde que seja feito de forma consciente e obedecendo critérios normativos.
Toda essa tratativa torna-se mais adaptável a um processo industrial, em que serão
determinados controles sobre a operação

10. Conclusão
Conclui-se desta forma que o uso do pré-fabricado agrega o valor da industrialização
dos processos, dos controles englobados no mecanismo de fabricação e da
necessidade de mão de obra qualificada para realizar as tarefas relacionadas a
produção. Isto eleva o nível de confiabilidade da execução e de segurança da
estrutura, minimizando ou evitando manifestações patológicas que comprometam a
vida útil. Mesmo diante deste cenário positivo, entende-se que o uso da estrutura em
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concreto pré-fabricado ainda necessita ser mais abordado e desenvolvido, pois


possui limitações arquitetônicas e executivas. Algo que pode ser tratado já no
processo educacional, em que deveria ser ofertada como disciplina fundamental a
estudos, o processo de desenvolvimento de construções industrializadas,
minimizando impactos no local da obra, otimizando recursos, evitando o desperdício
e garantindo o desempenho da estrutura ao longo do tempo.

11. Referências

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto


de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e


execução de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2017.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655:


Concreto de cimento Portland - Preparo, controle, recebimento e aceitação. Rio de
Janeiro, 2015.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8953: Concreto


para fins estruturais – Classificação pela mass específica, por grupos de resistência
e consistência. Rio de Janeiro, 2015.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1:


Edificações habitacionais – Desempenho. Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro,
2013.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14931:


Execução de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2004.

EL DEBS, Mounir Khalil, Concreto pré-moldado: Fundamentos e aplicações. 2. Ed.


São Paulo: Oficina de textos, 2017.

BOLINA, F. L.; TUTIKIAN, B. F.; HELENE, P. R. DO L. Patologia de estruturas. 1.


Ed. São Paulo: Oficina de textos, 2019.

MOREIRA, K. A. W. Estudo das manifestações patológicas na produção de pré-


fabricados de concreto. [s.l.] Universidade Tecnológica Ferderal do Paraná, 2009.

DHALMAR. Construção civil. Disponível em:


<https://portal.dhalmar.com.br/construcao-civil/#endireiradeiras>. Acesso em: 16 jan.
2022.

DHALMAR. Construção civil. Disponível em: <


https://portal.dhalmar.com.br/construcao-civil/#estribadeiras>. Acesso em: 16 jan.
2022.
19

WEILER. Formas. Disponível em:


<http://www.weiler.com.br/formas/formas_flex.html>. Acesso em: 16 jan. 2022.

WEILER. Misturadores. Disponível em:


<http://www.weiler.com.br/misturadores/misturadores.html>. Acesso em: 16 jan.
2022.

SCHNELL BRASIL. Productos. Disponível em:


<https://www.schnellbrasil.com.br/pt/Productos/Idea-assembladora-de-tuboloes-
armaduras/>. Acesso em: 16 jan. 2022.

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