Resumo
Pelo seu amplo uso na construção civil, as estruturas de concreto necessitam
passar por aprimoramentos tecnológicos. O objetivo é utilizar processos
industrializados, sugerindo o uso do concreto pré-fabricado, em que os controles são
mais confiáveis e periódicos. Em função da utilização das estruturas de concreto,
existe uma busca por soluções construtivas racionalizadas e duráveis. Aperfeiçoar o
nível de qualidade, reduzindo as incertezas e aumentando a segurança das obras,
independente do meio em que serão utilizadas. Os resultados da pesquisa indicam
que a construção civil, de forma geral, possui baixo controle de qualidade e pouca
produtividade, diferentemente da construção industrializada em concreto pré-
fabricado, que tem como características o melhor controle tecnológico dos materiais
aplicados, dos processos e da mão de obra qualificada para execução, o que eleva
o nível de qualidade dos elementos e da obra. Tais características são evidenciadas,
através de normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas, livros
relacionados a pré-fabricação e trabalhos científicos sobre o assunto. Conclui-se
que a utilização da construção industrializada em concreto pré-fabricado, torna-se
uma solução técnica viável e com potencial para exploração, diante das incertezas
de uma estrutura realizada em ambiente de canteiro de obras e suas consequentes
manifestações patológicas.
1. Introdução
Para uma estrutura de concreto suportar o tempo, independentemente do ambiente
onde esteja sendo utilizado, é necessário compreender o que causa as
manifestações patológicas e também entender de que maneira o concreto pré-
fabricado torna-se uma solução interessante e justificável. Para isto alguns conceitos
são fundamentais para compreensão geral.
Patologia é a ciência que estuda a origem, os sintomas e o mecanismo de ação das
doenças. As manifestações patológicas são as anomalias que ocorrem nas
estruturas, indicando que existe algum problema a ser identificado e resolvido.
As origens das manifestações patológicas, em síntese, podem ser:
• Projeto – Congênitas;
• Execução – Construtivas;
• Adquiridas – Em função da agressividade do meio;
• Acidentais – Através de fenômenos atípicos.
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Existem também boas práticas relacionadas a durabilidade das armaduras, que são:
• Tipo de cimento;
• Relação água/cimento;
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• Compacidade do concreto;
• Cura do concreto;
• Cobrimento adequado.
De acordo com a NBR 15575 (ABNT, 2015), vida útil é o Período de tempo em que
um edifício e/ou seus sistemas se prestam às atividades para as quais foram
projetados e construídos, com atendimento dos níveis de desempenho previstos
nesta norma, considerando a periodicidade e a correta execução dos processos de
manutenção especificados no respectivo Manual de Uso, Operação e Manutenção.
Onde,
Fábrica = Tempo em dias gasto dentro da fábrica
Obra = Tempo em dias gasto na obra
De acordo com El Debs (2017), as qualidades desejáveis que os materiais usados
na construção civil deveriam apresentar são:
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Projeto;
Corte e dobra – apresentar pino de dobra, precisão do processo de
endireitamento, dobra e corte;
Armação;
Fôrma;
Fôrma e armação;
Concreto;
Acabamento;
Cura.
Tais etapas apresentam-se de forma mais detalha a seguir. É importante frisar que,
para uma boa transição entre as etapas, faz-se necessária a presença de inspetores
de qualidade, para garantir a execução de acordo com especificações de projeto e
normas.
2. Projeto
Para um bom uso da solução pré-fabricada em concreto, as seguintes
características relativas ao projeto são necessárias (EL DEBS, 2017):
• Restrição x liberdade de projeto – Buscar atendimento as demandas
arquitetônicas;
• Possibilidade de grandes vãos e grandes cargas – Utilizar concreto
protendido;
• Respeito aos gabaritos de transporte – Otimizar transporte em qualidade e
quantidade;
• Adaptação à topografia e aos tipos de terreno – Necessidade de topografias
mais regulares;
• Maior nível de detalhes em função da quantidade de etapas – Utilizar
plataforma BIM;
• Eficiência estrutural – Estudar ligações entre elementos.
• A dobra, por não ser executada com pino de dobra recomendado pela norma,
pode gerar quebra e/ou microfissuras que irão comprometer as propriedades
estruturais do elemento.
Tais manifestações patológicas irão divergir das especificações indicadas em
projeto, perdendo características que elevam seu nível de qualidade, durabilidade e,
consequente, vida útil, diante do meio de utilização.
De acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014), na tabela 9.1, o diâmetro do Pino de
dobramento (D), deve obedecer aos seguintes parâmetros, conforme Tabela 4:
Para pino de dobramento dos ganchos dos estribos, Tabela 5, que se refere a tabela
9.2 da NBR 6118 (ABNT, 2014), que indica:
A NBR 6118 (ABNT, 2014) ainda ressalta, expressando que, para classe de
resistência superior ao mínimo exigido, os cobrimentos definidos na tabela 7.2,
podem ser reduzidos em até 5 mm, além de citar no item 7.4.7.7 que, para
elementos pré-fabricados, deve-se seguir o disposto na NBR 9062 (ABNT, 2017).
A NBR 9062 (ABNT, 2017) indica que, para elementos pré-fabricados, em que seja
utilizado concreto com fck ≥ 40 MPa e relação água/cimento menor ou igual a 0,45,
os cobrimentos podem ser reduzidos em mais 5 mm em relação a NBR 6118 (ABNT,
2014).
Sendo assim o uso do pré-fabricado torna-se tecnicamente viável, não só pela
possibilidade de redução dos cobrimentos nominais, mas pela manutenção dos
cobrimentos originais da Tabela 8 e, respectivo, ganho da camada de proteção da
armadura, por uma maior cobertura de concreto.
Na indústria do pré-fabricado, nas maiores empresas, usam-se equipamentos de
corte e dobra. Mesmo as empresas que não possuem, a aquisição do corte e dobra
do vergalhão, pode ser feita através de distribuidores terceirizados. Os
equipamentos utilizados, geralmente são:
Endireitadeira (Figura 2) – máquina responsável por receber o vergalhão em rolo,
endireitar, tornar a barra reta e cortar na medida de projeto.
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Figura 2 – Endireitadeira
Fonte: Dhalmar (2022)
Figura 3 – Estribadeira
Fonte: Dhalmar (2022)
4. Armação
Após um corte e dobra bem executado, o processo de armar deve seguir
rigorosamente o projeto de armação, em que quantidades, bitolas e espaçamento
devem ser obedecidos. Atualmente o mercado de equipamentos propõem soluções
que minimizam os erros da operação, por exemplo equipamentos que fazem a
armação de pele (pré-montagem) que posiciona corretamente os estribos. Tal
facilidade encontrada para pilares e vigas, conforme modelo de equipamento a
seguir, representados pela Figura 4 e Figura 5. Mesmo que o processo não seja feito
por equipamento, conforme demonstrado abaixo, a indústria de pré-fabricado utiliza-
se de mecanismos de controle, tais como gabaritos, cavaletes e acessórios, que
direcionam a execução padronizada, de acordo com o projeto. Tais mecanismos
podem ser de fabricação própria, adaptados ou adquiridos de empresas
especializadas.
5. Fôrma
A NBR 9062 (ABNT, 2017) diz que, as fôrmas devem adaptar-se às formas e
dimensões das peças pré-moldadas projetadas, respeitadas as tolerâncias.
Sobre as tolerâncias dimensionais, a norma apresenta a tabela 2, que neste
documento está representado pela Tabela 9, com os seguintes dados para
fabricação:
A estanqueidade das fôrmas é outro fator importante para uma boa qualidade da
estrutura de concreto, pois evitam a perda da pasta de cimento, que ocasionam
falhas de concretagem. O material aplicado para execução dos moldes também se
torna importante, em que o mesmo não se aproprie de algum componente do
concreto, por exemplo a madeira que pode absorver a água de amassamento,
gerando uma camada superficial sem a hidratação necessária do concreto,
aumentando assim a exposição a agressividade do ambiente.
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6. Fôrma e armação
Após preparação da fôrma, armações e suas respectivas conferências, tem-se a
necessidade de equalizar os dois processos. Posiciona-se a armação dentro do
molde, para conferências finais, antes de iniciar o procedimento de concretagem.
Neste momento, se confere:
• Cobrimentos gerais, sejam nas seções transversais, quanto no comprimento
longitudinal;
• Posicionamento de eventuais consolos, verificando níveis e dimensões;
• Posicionamento de eventuais insertos, verificando níveis e dimensões;
• Posicionamento de eventuais furos e/ou aberturas, verificando níveis e
dimensões;
• Posicionamento de eventuais tubos para águas pluviais, verificando níveis e
dimensões;
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7. Concreto
Para um concreto ser considerado de boa qualidade, alguns passos necessitam ser
acompanhados, tais como: dosagem (preparo), mistura, transporte, lançamento,
adensamento e cura. Destaca-se aqui o preparo e a mistura como fundamentais, em
ordem de importância. Ideal que concreto seja homogêneo com o menor índice de
vazios e baixa conectividade. As consequências por essa falta de qualidade, podem
gerar as seguintes manifestações patológicas:
• Deformações excessivas;
• Fissuras;
• Exposição direta da armadura ou ambiente.
Sendo assim, na produção do concreto, seja ele executado no local ou
industrializado, pode-se apresentar as seguintes diferenças em relação a condição
de preparo, de acordo com a NBR 12655 (ABNT, 2015):
• Condição A (aplicável a todas as classes de concreto): o cimento e os
agregados são medidos em massa, a água de amassamento é medida em massa
ou volume com dispositivo dosador e corrigida em função da umidade dos
agregados;
• Condição B (pode ser aplicada às classes C10 a C20): o cimento é medido
em massa, a água de amassamento é medida em volume mediante dispositivo
dosador e os agregados medidos em massa combinada com volume;
• Condição C (pode ser aplicada apenas aos concretos de classe C10 e C15): o
cimento é medido em massa, os agregados são medidos em volume, a água de
amassamento é medida em volume e a sua quantidade é corrigida em função da
estimativa da umidade dos agregados da determinação da consistência do concreto.
Com base no tipo de preparo, quando o desvio-padrão, que é um parâmetro muito
usado em estatística que indica o grau de variação de um conjunto de elementos, é
desconhecido, adota-se a tabela 6, da norma NBR 12655 (ABNT, 2015), conforme
representado a seguir abaixo na Tabela 10:
Através deste cálculo identifica-se que o CML, necessita de uma resistência maior,
em fcjm, para ter o fck igual a 20 MPa, em função do baixo controle de execução no
preparo do concreto.
Partindo para concretos de classe C25 e superiores, a NBR 12655 (ABNT, 2015),
indica que a medida dos materiais dever ser feita em massa, ou seja, a partir desta
resistência a condição de preparo aceita é somente a A, excluindo-se assim outras
alternativas.
Uma vez o preparo sendo feito de acordo com as normas, outro passo importante é
a mistura do concreto, podendo ser feito no local, em misturador e/ou caminhão
betoneira, desde que seja garantida a homogeneidade da mistura. Atualmente
existem vários equipamentos aptos para este processo, podendo-se destacar o
misturador planetário, conforme Figura 7, em que é possível ver as pás de mistura.
Por analogia, tal sistema de mistura, assemelha-se ao de uma batedeira doméstica.
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9. Cura
A NBR 14931 (ABNT, 2004) diz que, enquanto não atingir endurecimento
satisfatório, concreto deve ser curado e protegido contra agentes prejudiciais para:
evitar a perda de água pela superfície exposta;
assegurar uma superfície com resistência adequada;
assegurar a formação de uma capa superficial durável.
A norma ainda indica que os agentes deletérios mais comuns no início de vida do
concreto são: mudanças bruscas de temperatura, secagem, chuva forte, água
torrencial, congelamento, agentes químicos, bem como choques e vibrações de
intensidade tal que possam produzir fissuras na massa de concreto ou prejudicar a
sua aderência à armadura.
O tratamento térmico também é citado, como alternativa de acelerar o processo,
desde que seja feito de forma consciente e obedecendo critérios normativos.
Toda essa tratativa torna-se mais adaptável a um processo industrial, em que serão
determinados controles sobre a operação
10. Conclusão
Conclui-se desta forma que o uso do pré-fabricado agrega o valor da industrialização
dos processos, dos controles englobados no mecanismo de fabricação e da
necessidade de mão de obra qualificada para realizar as tarefas relacionadas a
produção. Isto eleva o nível de confiabilidade da execução e de segurança da
estrutura, minimizando ou evitando manifestações patológicas que comprometam a
vida útil. Mesmo diante deste cenário positivo, entende-se que o uso da estrutura em
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11. Referências