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Fundações e contenções.

Aula 03 – Fundações Superficiais, dimensionamento de


sapatas isoladas.
Prof.:Eng. Civil Eduardo Kroll
Email. eduardo.kroll@yahoo.com.br

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Fundações Superficiais:
3 – Fundações superficiais: (ou rasas ou diretas)

3.1 – Definição da NBR 6122/2010:


São elementos de fundação em que a carga é transmitida ao terreno, predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da
fundação, e que a profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação (B) .
Incluem-se neste tipo de fundação as sapatas, as sapatas associadas, as sapatas corridas, as vigas de fundação, os blocos, os radier e os tubulões
curtos.
Admite-se também a seguinte definição para caracterizar as fundações superficiais:
Não transmite carga através de atrito lateral ( a superfície de ruptura do solo, passa fora do fuste) ;
Profundidade de assentamento menor ou igual a 2 (1,5)* vezes a sua menor dimensão (B);

3.2 - Sapatas:
São elemento de fundação superficial de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas são
suportadas pelo emprego de uma armadura de aço. Pode possuir espessura constante ou variável, sendo que sua base em planta é
normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal.
Profundidade mínima de assentamento igual a 1,50m (salvo para fundações de pequena dimensão, ou sobre rocha, onde podem ter sua
cota de assentamento menor que 1,50m);
Menor dimensão recomendada pela NBR 6122 = 0,60m;
Recomenda-se a execução de regularização do fundo da escavação com concreto magro;

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Fundações Superficiais:
3.2.1 Tipos de Sapatas:
- Sapata Isolada: Este tipo de sapata, transmite as ações de um único pilar para o solo, as cargas deste pilar podem ser centradas ou
excêntricas. Sua base pode ser retangular, quadrada, circular, com altura constante ou altura variável, conforme figuras abaixo.

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Fundações Superficiais:
- Sapata de Divisa: São sapatas, que devido a sua geometria com relação ao pilar, estão sujeitas à ação de uma carga excêntrica, o efeito
de excentricidade, pode ser observado também em estruturas de fundação com a ação de momento fletor.

-Viga alavanca ou viga de equilíbrio: É um elemento estrutural que serve para equilibrar a excentricidade da carga que chega na
fundação, transmitindo esta carga de maneira centrada ao elemento estrutural da fundação.
A utilização de vigas de equilíbrio é comum em pilares de divisa, pois a excentricidade da ação do pilar sobre a sapata de fundação
resulta em um momento fletor alto, gerando sapatas com tamanho exagerado, quando comparadas à sapatas com carga centrada.

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Fundações Superficiais:
- Sapata Corrida: São sapatas sujeitas à ação de uma carga distribuída linearmente proveniente de paredes, ou concentradas,
provenientes de pilares ao longo de um mesmo alinhamento.

Altura variável; Altura constante;

- Sapata associada: É a sapata comum a mais de um pilar, sendo também chamada sapata combinada ou conjunta. Transmitem ações de
dois ou mais pilares e é utilizada como alternativa quando a distância entre duas ou mais sapatas é pequena.

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Fundações Superficiais:
3.3 Detalhes construtivos:
A base de uma fundação deve ser assente a uma profundidade tal que garanta que o solo de apoio não seja influenciado pelos agentes
atmosféricos e fluxos d’água. Nas divisas com terrenos vizinhos, salvo quando a fundação for assente sobre rocha, tal profundidade não deve
ser inferior a 1,5 m. (NBR 6122/96 (2010), item 6.4.2). A figura abaixo mostra alguns detalhes construtivos sugeridos para as sapatas.

- α < 30° (ângulo do talude natural do concreto


fresco – não é obrigatório).

- Menor dimensão > 60cm ( NBR 6122);

- Cobrimento mínimo das armaduras =4,5cm(5,0cm);

3.3.1 Sapatas Isoladas:


Nas sapatas isoladas, o centro de gravidade da sapata deve coincidir com o centro de aplicação da ação do pilar;
A relação entre os lados A/B deve ser < 2,5.
Normalmente, os lados A e B devem ser escolhidos de modo que: CA ~ CB, conforme a Figura 01 abaixo, para que moentos fletores
sejam iguais nas duas direções da sapata:

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Fundações Superficiais:
Para: CA = CB:

A – ap = B – bp

A – B = ap – bp

- CA e CB devem ser múltiplos de 5,0cm.


- Esta condição, leva a armaduras iguais nas duas direções.

Figura 1 – Notação para sapatas.

O centro de gravidade (CG) do pilar deve coincidir com o centro de gravidade da base da sapata para qualquer forma do pilar.

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3.3.2 Classificação quanto à rigidez:
Conforme a NBR 6118/14 (item 22.6.1), a sapata será considerada rígida quando verificar a seguinte expressão nas duas direções:
A altura h, também deve ser suficiente para permitir a ancoragem da armadura de arranque do pilar.
Se esta condição não for atendida, a sapata é considerada flexível.

Pelo CEB-70, a sapata é rígida quando:


0,5 < tg β < 1,5 (26,6° < β< 56,3°)
h > ( A - ap )/3 tg β = h / c

h – é a altura da sapata;
A – é a maior dimensão da sapata;
ap – é a dimensão do pilar na mesma direção;

3.3.3 Comportamento estrutural . (NBR 6118/14, 22.6.2)


- Sapatas Rígidas:
Eliminada a complexidade da interação solo-estrutura, através da hipótese 7.3.2 e 7.3.4, podemos descrever o comportamento da
sapata rígida:
a) Trabalha à flexão nas duas direções (A e B), com a tração na flexão sendo uniformemente distribuída na largura da sapata. As
armaduras de flexão As A e As B são distribuídas uniformemente nas larguras A e B da sapata.
b) Trabalha ao cisalhamento também nas duas direções (A e B), não apresentando ruptura por tração diagonal, e sim por compressão
diagonal, verificada conforme o item 19.5.3.1 da NBR 6118/2014, isso ocorre porque a sapata fica inteiramente dentro do cone de punção.

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3.3.4 Distribuição de tensões no Solo:
As principais variáveis que afetam a distribuição de tensões são: características das cargas aplicadas, rigidez relativa
fundação-solo, propriedades do solo e intensidade das cargas. A distribuição real não é uniforme, mas por simplificação, na
maioria dos casos, admite-se a distribuição uniforme, conforme recomenda NBR 6122 (6.3.2) e admite a NBR 6118 ( 22.6.1),
exceto no caso de fundações apoiadas sobre rocha e em casos especiais.

-Distribuição de cargas simplificada: -Exemplo de distribuição real de tensões no solo:


P P
P

Sapata rígida sobre argila. Sapata rígida sobre areia.

A NBR 6118/03 (item 22.4.1) declara:


“Para sapata rígida pode-se admitir
plana a distribuição de tensões
normais no contato sapata-terreno,
caso não se disponha de informações
Sapata Flexível sobre argila. Sapata flexível sobre areia.
mais detalhadas a respeito.”

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3.4 Projeto de Sapatas isoladas:
Dimensionamento estrutural de sapatas isoladas, com maior ênfase às sapatas rígidas
Os métodos de projeto abordados:
- NBR 6118;
- Método das Bielas;
Fases:
1) estimativa das dimensões da sapata
2) dimensionamento das armaduras de flexão
3) verificações: das tensões de compressão diagonais, da punção (para as sapatas flexíveis), da aderência da armadura de flexão e do
equilíbrio referente ao tombamento e ao deslizamento

3.4.1 Estimativa das dimensões de sapatas isoladas com carga centrada:


A área de apoio da sapata pode ser estimada como:

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3.4.2 Dimensionamento da Armadura Inferior:
Os momentos fletores são calculados, para cada direção, em relação a uma seção de referência (S1A e S1B), que dista 0,15 vezes
a dimensão do pilar normal à seção de referência, e se encontra internamente ao pilar (Figura 02).
O momento fletor é calculado levando-se em conta o diagrama de tensões no solo, entre a seção S1 e a extremidade da sapata,
como indicado na Figura 03.
Pra cargas centradas:
σ1 = σ2 = σ = 1,05.N
A.B

M = q . L² ⃗ M1A = σ . S1A². B
2 2
M1B = σ . S1B². A
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Figura 02 – Seção de referência S1. Figura 03 – Diagrama de tensões para o calculo do momento.

Ca = (A – ap )/2 Cb = (B – bp )/2
S1A = Ca + 0,15. ap S1B = Cb + 0,15. bp

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- Cálculo da armadura de aço:

- Nas sapatas com superfícies


As = Md > As min. Md = M . 1,4 superiores inclinadas, a seção
0,85.d . fyd fyd = fyk/1,15 comprimida de concreto (A’c) tem a
fyk = 50kN/cm² forma de um trapézio e o cálculo das
d = [h – (5cm+1,0cm)]. armaduras de flexão deve ter essa
consideração
Alternativa simplificada: considera-se o
cálculo admitindo uma seção retangular
com braço de alavanca z = 0,85d.

- Armadura mínima ( As min.) : Ver NBR 6118/2014 – item 19.3.3.2


Taxa mínima absoluta = 0,10% da seção bruta de concreto (em cada direção).
Espaçamento máximo = 20cm ou h/2 ( prevalece o menor valor).
Espaçamento mínimo = recomenda-se um espaçamento mínimo de 10cm.

- A ancoragem das armadura deve ser feita com gancho de 90°e comprimento reto maior que 8.θ (min. 10cm).

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3.4.5 Verificação ao Cisalhamento:
A sapata rígida fica inteiramente dentro do cone de punção, a ruptura se da por compressão diagonal.
Em sapatas flexíveis, verificar a punção e utilizar armadura contra colapso progressivo.
- Deve-se compara a tensão solicitante de cisalhamento com a tensão resistente de compressão diagonal do concreto na
superfície crítica C .(NBR 6118, 19.5.3.1)
ƬSd < ƬSd2

3.4.5.1 Tensão solicitante de cisalhamento: ƬSd

d = Altura útil em torno do contorno C ( d= h – 5cm);


ƬSd = FSd u0 = perímetro do contorno crítico C ( 2.ap + 2.bp);
u0 . d u0 . d = área da superfície crítica;
FSd = força ou reação concentrada, valor de cálculo (x1,4).

3.4.5.2 Tensão resistente de compressão diagonal do concreto na superfície crítica C: ƬSd2

ƬSd2 = 0,27.αv . fcd

αv = (1- (fck/ 250)) fck em MPa.


fcd = fck/1,4

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3.5 - Método das Bielas e tirantes:
O Método das Bielas e tirantes para o projeto de sapatas foi proposto por Lebelle (1936), tendo sido elaborado com base nos
resultados de numerosos ensaios experimentais.
Por modelo de bielas (tirantes) se entende uma idealização estrutural na qual a estrutura real se assemelha a uma treliça
equivalente.
Aplica-se às sapatas corridas ou isoladas,
com o seguinte limite para a altura útil:

Considerando somente a direção x, como se fosse uma sapata corrida, tem-se as equações para definição da força de tração na
base da sapata (Tx):

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1.5.1 – Verificação da Biela comprimida:
A máxima compressão ocorre nas bielas mais inclinadas e a tensão máxima ocorre no ponto A, onde a seção da biela é a
mínima
- A tensão máxima resulta:

- As armaduras são:

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1.6 - Verificação da estabilidade da sapata:
Nas sapatas submetidas a forças horizontais e/ou momentos fletores é importante verificar as possibilidades de
escorregamento e tombamento

- Segurança ao tombamento:
A verificação ao tombamento é feita comparando-se os momentos fletores em torno de um ponto 1:

Momento de tombamento: Momento estabilizador:


Mtomb = M + FH . H Mestab. = (N+P) . A/2

Mtomb. < Eestab.

- Segurança ao escorregamento (deslizamento)


A segurança é garantida quando a força de atrito entre a base da sapata e o solo supera a ação das forças horizontais aplicadas.

ɣ esc. = 1,5
θ= 2/3 do θ do solo.

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1.7 – Exercício 01.
Dimensionar uma sapata de fundação para um pilar com seção a=20cm x b=75 cm e com carga N = 1.500kN (Mx e My =0).
A tensão admissível no solo é = 0,3MPa (σsolo = 300kN/m²);
Concreto C25;
Aço CA 50;
Armadura longitudinal do pilar com diâmetro = 16mm;
ɣc = 1,4;
Cobrimento de concreto = 4,5cm.

1 - Área da sapata:
Ssap = 1,05 . N / σsolo = 1,05 . 1.500kN / 300kN/m² = 5,25m²
ap = 20cm bp = 75cm A = √ 5,25m² ~ 2,2m
A – ap = B – b p 2,2m – 0,2m = B – 0,75m B = 2,75m

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Fundações Superficiais:
1 - Área da sapata ( usar múltiplos de 5cm) = 2,20m x 2,75m = 6,05m²
Tensão aplicada no solo: σ = 1,05 . 1500kN / 6,05m² = 260 kN/m² < σsolo ( 300kN/m²) 0k!

2 - Altura da sapata:
Para concreto C25 e barras d = 16mm h = 38 . d = 60,8 cm ⃗ 65cm. (comprimento de ancoragem da barra.)
h0 > (A – ap ) / 3 ⃗ h > (2,20m – 0,20m)/3 = 0,67m ⃗ 0,7m (adota esta medida por ser maior.)

3 - Calcular o momento fletor com relação as seções S1a e S1b.


Ca = (A – ap )/2 = 1,0m Cb = (B – bp )/2 = 1,0m
S1A = Ca + 0,15. ap = 1,0m + 0,03m = 1,03m S1B = Cb + 0,15. bp = 1,0m + 0,11m = 1,11m

M1A = σ . S1A² . B = 260kN/m².1,03m².2,75m = 379,3kN.m


2 2
M1B = σ . S1B² . A = 260kN/m².1,11m².2,2m = 352,4kN.m
2 2
4 – Cálculo da armadura de flexão:
Armadura mínima ( As min.) : Usar cm.
Asmin. A = 0,10% . B . h = 0,1% . 275cm . 70cm = 19,3 cm²
Asmin. B = 0,10% . A . h = 0,1% . 220cm . 70cm = 15,4 cm²

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Fundações Superficiais:
AsA = Md > As min.A MdA = 379,3 kN.m . 1,4 = 531,0kN.m
0,85.d . fyd fyd = 50kN/cm²/1,15 = 43,5kN/cm²
AsA = 531,0kN.m = 22,1cm² > Asmin. d = 0,7m – 0,05m = 0,65m.
0,85 .0,65m . 43,5kN/cm²

AsB = Md > As min.B MdA = 352,4 kN.m . 1,4 = 493,4kN.m


0,85.d . fyd fyd = 50kN/cm²/1,15 = 43,5kN/cm²
AsB = 493,4kN.m = 20,5cm² > Asmin d = 0,7m – 0,05m = 0,65m.
0,85 .0,65m . 43,5kN/cm²

Área de aço unitária em A = 22,1cm² / 2,75m = 8,04cm²/m ⃗ Tabela ⃗ θ12,5mm c/15cm


Área de aço unitária em B = 20,5cm² / 2,2m = 9,32cm²/m ⃗ Tabela ⃗ θ12,5mm c/ 13cm.

5 - Verificação ao cisalhamento: tensão solicitante de cisalhamento X tensão resistente de compressão diagonal do concreto.

ƬSd < ƬSd2


d = 65cm
ƬSd = FSd ⃗ 2.100kN = 0,17kN/cm² u0 = 2 x 20cm + 2 x 75cm = 190cm
u0 . d 12.350cm² u0 . d = 190cm x 65cm = 12.350 cm²
FSd = 1500kN . 1,4 = 2.100kN

ƬSd2 = 0,27.αv . Fcd ⃗ 0,27. 0,9 . 19,85MPa = 4,82MPa αv = (1- (25/ 250)) = 0,9.
ƬSd2 = = 0,482 kN/cm² fcd = 25MPa/1,4 = 19,85 MPa.

ƬSd < ƬSd2 0,17 kN/cm² < 0,48 kN/cm² ⃗ 0K!

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Fundações Superficiais:
6 - Detalhamento:

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