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ODE TRIUNFAL

• Álvaro de Campos
ÁLVARO DE CAMPOS :
§ Mais versátil e emotivo de todos os heterónimos

§ Nasceu a 15 de outubro de 1890 , em Tavira (Terra da família do pai de Pessoa)

§ Estudou engenharia mecânica e naval na Escócia

§ Estatura alta (1,75m)

§ Magro

§ Pele clara

§ Cabelo liso castanho

§ Usava monóculo
ÁLVARO DE CAMPOS :

1ª Fase : 2ª Fase : 3ª Fase :Intimista/


Decadentista Futurista/Sensacionista Pessimista

Realça-se a angustia e a
Influenciado pelo futurismo , é
Marcada pela visão pessimista incompreensão do poeta . Temas
possível perceber o seu fascínio
do mundo onde se evidenciava de destaque: Solidão interior,
pelas máquinas e pelo
o tédio e a necessidade de fugir nostalgia da infância , frustração
progresso
à monotonia e a incapacidade de amar

“Ode Triunfal”
LEITURA :
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes , fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens , r-r-r-r-r-r-r eterno !


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com excesso
De expressão de todas as minhas sensações ,
Com um excesso contemporâneo de vós , ó máquinas!
LEITURA
c :
Em febre e olhando os motores como uma Natureza tropical-
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força-
Canto, e canto o presente , e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro ,
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das lues elétricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro de Ésquilo de século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes ,

Rugindo, rangendo , ciciando , estrugindo , ferreando ,


Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia á alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
[…]
LEITURA :
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco , molhados !
Vients-de-paraitre amarelos com uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos ,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa pra mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

Adubos, debulhadoras a vapor , progressos e agricultura !


Química agrícola, e o comércio quase uma ciência !
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, caveleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricass e dos calmos escritórios!
LEITURA :
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
LEITURA :
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

(Na nora do quintal da minha casa


O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
LEITURA :
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!

Eh-lá grandes desastres de comboios!


Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
LEITURA :
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,


Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos,
mínimos, Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar,
de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
LEITURA :
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios
LEITURA :
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!


Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!


TÍTULO:

Ode Triunfal

Exaltação de uma pessoa , Sugere algo de grandioso ( quer


instituição ou acontecimento a nível de conteúdo quer de
forma ) , imprimindo uma
sugestão de força que está em
conformidade com a estética
futurista/sensacionista

O canto de exaltação da modernidade , do progresso , da técnica e dos seus excessos


ESTRUTURA EXTERNA :

Rutura com a lírica tradicional portuguesa :

§ Irregularidade estrófica

§ Irregularidade métrica e rítmica

§ Uso excessivo da coordenação

§ Predomínio de onomatopeias , apóstrofes e enumerações

§ Discurso caótico

§ Linguagem comum e vulgar


ESTRUTURA INTERNA :
Introdução (1.ª estrofe):
§ Localização do sujeito poético: engenheiro situado no interior de uma fábrica;

§ Atividade a que se dedica: escrita, a partir da contemplação do que o rodeia ("Tenho febre e escrevo" - v. 2;
§ Estado de espírito do sujeito poético: dor, violência e febre, causadas por sensações contraditórias: a beleza do que o rodeia
é dolorosa, isto é, causa-lhe dor, deixa-o doente ;

§ Novo conceito de estética: novo conceito de beleza, "totalmente desconhecida dos antigos" (v. 4).

Desenvolvimento (2.ª - penúltima estrofe):


§
Associação da voz lírica do sujeito às máquinas que canta ;

§ Explanação entusiástica de múltiplas imagens de vida urbana e moderna

§ Erotização da relação física do «eu» com a trepidante vida das cidades ;

§ Apoteose final (penúltima estrofe).


ESTRUTURA INTERNA :
Conclusão (último verso): Tema:
O imaginário épico - a matéria épica: a exaltação do
§ A busca desenfreada de sensações e de identificação com Moderno e o arrebatamento do canto
«tudo e todos»;
§ A confissão de um aparente fracasso ("Ah não ser eu..." - cf. Assunto :
advérbio de negação); Cantar o triunfo da técnica , das máquinas , da
§ Tom de ambiguidade e nostalgia ("Ah"). velocidade , da civilização mecânica e industrial
Sentir tudo de todas as maneiras
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
Estado de espírito do sujeito poético:
A beleza do que o rodeia é dolorosa ,
isto é , causa-lhe dor , deixa-o doente

Localização do sujeito poético :


À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica engenheiro situado no interior de uma
Tenho febre e escrevo. fábrica
Escrevo rangendo os dentes , fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Atividade a que se dedica:
Escreve a partir da contemplação do
que o rodeia

Novo conceito de beleza


ANÁLISE
c ESTRÓFICA:

Ó rodas, ó engrenagens , r-r-r-r-r-r-r eterno !


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim, O delírio do sujeito poético é originado pelos
Por todos os meus nervos dissecados fora, “excessos “ do ambiente em que se insere . Os
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! movimentos “em fúria” e os “ruídos” que ouve “
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, demasiadamente perto” das máquinas da fábrica
De vos ouvir demasiadamente de perto, estão na base do seu estado febril.
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com excesso
De expressão de todas as minhas sensações ,
Com um excesso contemporâneo de vós , ó máquinas!
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
Em febre e olhando os motores como uma Natureza tropical- Esta natureza tropical é caracterizada como “estupenda ,
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força- negra , artificial e insaciável”. Esta quádrupla adjetivação
Canto, e canto o presente , e também o passado e o futuro, traduz os traços da civilização moderna mecânica e
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro , industrial, que é admirável , insondável, sofisticada e
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das lues elétricas sôfrega
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro de Ésquilo de
século cem, Aliteração :
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e • “Ferro e fogo e força” que sugere o ruído e o caráter
por estes volantes , agressivo dos motores
• “Rugindo , rangendo” recria o ruído forte das máquinas
Rugindo, rangendo , ciciando , estrugindo , ferreando , e motores
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia á • “excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma“
alma. sugere a suavidade de uma carícia
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!

O ideal de Álvaro de Campos é “sentir tudo de todas as maneiras” , sentir tudo numa
“histeria de sensações , identificar-se com tudo até mesmo com as coisas mais aberrantes .
Este desejo de se identificar totalmente com as máquinas mostra-se símbolo da
modernidade . Na impossibilidade de concretizar este desejo , quer pelo menos poder
estabelecer com elas uma relação estranha e eufórica que roça um erotismo delirante ,
doentio e o sadomasoquismo
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
O cheiro fresco a tinta de tipografia! Está presente o sensacionismo :
Os cartazes postos há pouco , molhados ! Olfato- “O cheiro fresco a tinta de
Vients-de-paraître amarelos com uma cinta branca! tipografia” ; “ … e com o olfato”
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos , Visão- “Os cartazes postos há pouco” ;
Como eu vos amo de todas as maneiras, Vients-de-paraître amarelos com uma cinta
branca!;“Com os olhos”
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
Audição- “ … com os ouvidos”
E com o tato (o que palpar-vos representa pra mim!) Tato- “molhados” ; “E com o tato (o que
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! palpar-vos representa pra mim!)”
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

Adubos, debulhadoras a vapor , progressos e agricultura !


Química agrícola, e o comércio quase uma ciência !
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, caveleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricass e dos calmos escritórios!
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos! O uso de apóstrofes , interjeições


Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! e repetições anafóricas remetem-
nos para o ritmo alucinante com
Olá grandes armazéns com várias secções! que as coisas evoluem (“Olá tudo
Olá anúncios elétricos que vêm e estão e desaparecem! com que hoje se constrói, com que
hoje se é diferente de ontem!”)
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Demonstra a sua paixão como uma “fera” –
Amo-vos carnivoramente. sensacionismo excessivo
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

(Na nora do quintal da minha casa


O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. Evocação da nostalgia da infância
(Compara a sua infância com a atualidade )
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores! Apóstrofe

Eh-lá grandes desastres de comboios! Apresenta o lado


Eh-lá desabamentos de galerias de minas! Anáfora negativo da civilização
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos! moderna : revoluções,
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá, alterações de
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões, constituições, guerras,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim, Gradação invasões, injustiças,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa, violência
E outro Sol no novo Horizonte!
LEITURA :
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, Dupla adjetivação
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico, Anáfora
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,


Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos,
mínimos, Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar,
de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente! Todas as conquistas do passado são importantes no
presente . Já os feitos do presente fazer-se-ão sentir
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
no futuro , ou seja , o passado e o futuro ganham
Eia! eia! eia! significado no presente.
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios
ANÁLISE
c ESTRÓFICA:
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa! Estrangeirismo
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!


Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! Espécie de fenda que representa uma confissão de fracasso e
um retorno ao ponto inicial, à febre.
A busca desenfreada de sensações e de identificação com
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
«tudo e todos»;
A confissão de um aparente fracasso ("Ah não ser eu...“)
RECURSOS
c EXPRESSIVOS:
Sinestesia- “ dolorosa luz” v.1

Onomatopeias- “r-r-r-r-r-r-r” v.5 ; “Eia-hô-ô-ô” v.106 ; “Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!” v.118 ; “Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!” v.119.

Aliterações - “Ferro e fogo e força” v.16;“Rugindo , rangendo” v.24 “excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma“ v.25

Gradação- “Ruído, injustiças, violências , e talvez para breve o fim” v.83

Apóstrofes- “Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!/Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!” vv.44-45

Estrangeirismo – “Rails” v.114

Personificação – “Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro de Ésquilo” v.22

Anáforas -“Eh-lá grandes desastres de comboios!/Eh-lá desabamentos de galerias de minas!/Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes
transatlânticos!/Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá” vv.78-80

Perífrase- “Olá anúncios elétricos que vêm e estão e desaparecem!” v.47

Topónimos- “Panamá, Kiel, Suez” v.101

Interjeições - “Ó” ; “Ah” ; “Eh” ; “Eia”


RESUMO-SÍNTESE:
c

“Ode Triunfal” é o canto de exaltação da modernidade , do progresso , da técnica e dos


seus excessos e o expoente máximo da fase futurista , apresenta aspetos modernistas ,
futuristas e sensacionistas . Assim , o modernismo está presente , por exemplo , nas
referências às lâmpadas elétricas” e aos meios de transporte.
Relativamente ao Futurismo , deparamo-nos com a defesa de uma estética não
aristotélica ( beleza: grandeza, ordem , harmonia , proporção), mas baseada na ideia de
força . Campos canta a velocidade , faz apologia da beleza desconhecida da máquina e
da civilização moderna e adota um estilo excessivo ( exclamações , interjeições ,
aliterações , onomatopeias ).
O desejo de total identificação com as máquinas , símbolos da modernidade ou , de “ao
menos” poder estabelecer com elas uma relação eufórica e a procura da totalização de
todas as possibilidades dadas pelas sensações ou perceções de toda a humanidade são
características sensacionistas .
ESQUEMA-SÍNTESE:
c

Ode exaltação da modernidade , do progresso , da técnica e dos seus excessos


triunfal

apresenta aspetos modernistas , futuristas e sensacionistas

exclamações , interjeições , aliterações , onomatopeias O desejo de total identificação com as


máquinas , símbolos da modernidade ou ,
de “ao menos” poder estabelecer com elas
uma relação eufórica e a procura da
Campos canta a velocidade , faz apologia da totalização de todas as possibilidades dadas
beleza desconhecida da máquina e da civilização
pelas sensações ou perceções de toda a
moderna e adota um estilo excessivo
humanidade são características
sensacionistas .

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