Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Os elastômeros termoplásticos (TPEs) são uma classe de materiais que combinam a
facilidade de processamento em altas temperaturas dos polímeros termoplásticos com as
propriedades elásticas dos elastômeros em temperaturas usuais de aplicação. Os TPEs apresentam
uma morfologia bifásica resultado da diferente natureza química de seus componentes e do seu
processo de obtenção [1,2].
Nos elastômeros termoplásticos vulcanizados (TPVs), a morfologia é definida durante o
processamento, dependendo principalmente da natureza química dos componentes, da viscosidade
da mistura, da proporção entre termoplástico e borracha, dos agentes de reticulação e o do processo
de vulcanização dinâmica. O aumento da viscosidade da fase elastomérica, efeito causado pela
vulcanização dinâmica, sob altas taxas de cisalhamento, faz com que a borracha se fragmente em
pequenos domínios, dispersos na fase termoplástica contínua, mesmo para uma fase termoplástica
em menor proporção, em massa. A reticulação aumenta a resistência mecânica e química, assim
como diminui significativamente a deformação permanente a compressão desses materiais quando
comparados a blendas correspondentes [2-5].
As características de processabilidade, reciclabilidade, deformabilidade frente a temperatura
são conferidas pela matriz termoplástica, portanto a escolha adequada da matriz é muito importante
para a aplicabilidade destes materiais. Os TPVs se apresentam como substitutos a borracha
convencional em muitas aplicações como vedações, recobrimento de cabos, mangueiras, entre
outros [6].
As exigências atuais do mercado automobilístico demandam materiais de baixa densidade,
resistentes a óleos e fluídos e altas temperaturas, boa processabilidade e reciclabilidade. As
poliamidas e a borracha nitrílica se destacam nestas características particulares. Neste trabalho,
descreve-se a obtenção de TPVs a base de poliamidas e borracha nitrílica desenvolvidos em câmara
de misturas, na composição de 40/60 em massa. A resistência à tração e o alongamento alcançado
por estes TPVs estão relacionados com a sua morfologia definida durante a vulcanização dinâmica
[3,6].
Para formulação dos TPVs de PA/NBR desenvolvidos neste trabalho, na proporção 40/60
em massa, foi escolhida a copoliamida 6/6.6 devido a sua resistência a temperatura e a NBR pela
sua reconhecida resistência a solventes apolares. As demais propriedades devem ser alcançadas pelo
sistema misto de reticulação, BMI/S/DCP, estudado em trabalhos anteriores do nosso grupo de
pesquisa [2,7-9]. A influência dos parâmetros de processamento e reprocessamento sobre a
morfologia, propriedades mecânicas e resistência química foram avaliadas.
Experimental
Materiais utilizados
Copoliamida PA6,6-6 tipo Radilon CS LX 02066/C NAT (Radici Group, Brasil), NBR em
pó, (copolímero de butadieno-acrilonitrila) com 39% de acrilonitrila, tipo NP 2130 (Nitriflex,
Brasil), peróxido de dicumila 40% - DCP 40 (Retilox, Brasil), antioxidante Ionol CP (Evonik),
enxofre duplamente ventilado (SGS Polímeros, Brasil) e bismaleimida (BMI) comercial CHEMAC
HVA-2 (Chemicon, Brasil). A Tabela 1 apresenta a composição dos TPVs estudados. Nas
formulações dos TPVs, utilizando-se 66phr de NBR, em virtude dos 10% de Carbonato de Cálcio
presente na NBR em pó.
Ensaio de tração
O ensaio de tração foi realizado no equipamento EMIC DL 5000/10000 baseado na norma
ASTM D 412, utilizando corpo de prova tipo C, velocidade de deformação de 500 mm/min. Cinco
corpos de prova foram ensaiados para o cálculo dos valores médios de módulo a 50 e 100% de
deformação, tensão e alongamento na ruptura.
Resultados e Discussão
Reometria de Torque
A Figura 01 apresenta as curvas de torque dos TPVs de PA/NBR. Observa-se um aumento
significativo do torque na etapa de adição do BMI e do enxofre, e outro aumento na adição do DCP
40%, em função da vulcanização. Com a continuidade do cisalhamento provocado pela mistura
contínua, ocorre a fragmentação da borracha e a formação dos domínios de borracha dispersos na
fase plástica e a estabilização do torque. . Observa-se, pela Figura 02, que as amostras
reprocessadas apresentam de torque muito próximos aos TPVs originais.
40 40
40phr PA 6/6.6
66phr NBR
35 35
1phr Ionol CP
Torque (N m )
25 0,4phr BMI 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
Tem po (min) Tempo (min)
Figura 01 – Curva típica da evolução do torque Figura 02 – Curva típica da evolução do torque
em função do tempo no processamento dos em função do tempo no reprocessamento dos
TPVs TPVs
Resistência a Tração
As placas a partir das quais foram preparados os corpos de prova , em uma análise visual
apresentaram todas uma coloração castanha, indicando um possível processo de oxidação do
enxofre na temperatura de processamento (195°C). A Figura 03 apresenta as curvas medianas de
tensão x deformação dos TPVs originais e reprocessados, em função da velocidade dos rotores da
câmara. Para efeito de comparação, também é apresentada a curva da respectiva blenda de PA/NBR
e da NBR vulcanizada. Observa-se que a mistura física (blenda) de PA/NBR apresenta propriedades
mecânicas muito inferiores se comparada às demais amostras. Maiores valores de tensão de ruptura
nos TPVs podem ser atribuídos à contribuição da poliamida e a morfologia da fase elastomérica
[3,10]. O maior alongamento verificado, em comparação a blenda, é resultado do efeito do sistema
misto de reticulação BMI, enxofre e peróxido de dicumila [7-9].
A Tabela 2 apresenta os valores médios dos módulos a 50 e 100% de deformação, bem
como a tensão e deformação na ruptura. Observa-se um aumento significativo nas propriedades
mecânicas em função da velocidade de processamento. Os TPVs processados a 90rpm apresentaram
um ganho nos módulos a 50 e 100% de deformação na faixa de 60% e ganho de 50% na tensão na
ruptura quando comparados aos TPVs processados a 65rpm. Estes resultados são indicativos que os
TPVs misturados a 90rpm podem apresentar menores domínios da fase elastomérica dispersa na
matriz, resultando em melhores propriedades mecânicas [3,9,11].
18 50
Blenda PA/N BR TPV PA/N BR 90rpm R
TPV PA/N BR 65rpm N BR R eticulada
15 TPV PA/N BR 90rpm R = reprocessado
40
TPV PA/N BR 65rpm R
D ureza (Shore D )
12
30
Tensao (M Pa)
9
20
10
3
0
0
BR m R m R a
0 100 200 300 400 A /N 5r p pm 0r p pm la d
P R6 65r R9 90r e tic u
da B R B R R
Deformaçao (%) B le
n A/N A/N
B A/N A/N
B
NB
R
VP VP VP VP
TP TP TP TP
Figura 03 - Curvas tensão x deformação dos Figura 04 - Dureza Shore D dos TPVs
TPVs estudados
Dureza
A dureza dos TPVs é determinada principalmente pela fase termoplástica e pelo tamanho
dos domínios elastoméricos. Geralmente a dureza aumenta com o grau de reticulação e a fração
presente de material termoplástico no TPV. A dureza dos TPVs é maior do que a blenda respectiva,
o que pode ser atribuído à influência da densidade de reticulação. Entre os TPVs processados a
65rpm, ocorreu um aumento na dureza Shore D com o reprocessamento, sendo este indicativo de
que os domínios elastoméricos diminuíram com o reprocessamento das amostras, fazendo com que
a matriz termoplástica contribuísse para esse aumento na dureza. A Figura 04 apresenta os valores
de dureza Shore D dos TPVs.
Resistência a solventes
Um dos objetivos da obtenção da produção destes TPVs a base de PA/NBR é a sua
resistência, em potencial, a solventes orgânicos apolares e polares, propriedade que foi avaliada por
inchamento em solventes presentes em automóveis, como o óleo de motor 20W50, gasolina comum
nacional (27% etanol) e etanol comercial. Os resultados encontram-se na Figura 06. Os TPVs de
PA/NBR estudados neste trabalho não apresentaram inchamento em óleo 20W50, indicando que
estes materiais não possuem afinidade por compostos apolares e, portanto, são resistentes aos
mesmos. O inchamento em gasolina comum para estes TPVs está na faixa de 5% em massa e em
etanol entre 10 e 15%. Estes valores de inchamento podem ser atribuídos a fraca resistência a
solventes polares da borracha nitrílica e ao inchamento da fase termoplástica. Quando comparados
os valores de inchamento da blenda com os TPVs, a vulcanização dinâmica faz com que a
resistência a solventes polares destas blendas seja maior, uma vez que o inchamento em gasolina e
etanol para a blenda foi de 35 e 50% respectivamente, enquanto para os TPVs estes valores são de
5% para gasolina comum e 10-15% para o etanol comercial.
100 50
Incham ento em G asolina C om um
Incham ento em Etanol C om ercial
80 40
60 30
40 20
20 10
0 0
R pm mR pm mR ad a BR m R m R da
/N B 65r 90r l A /N 5r p pm 0r p pm u la
PA 5rp 0r p t ic u P R6 65r R9 90r t ic
da BR R6 BR R9 Re da B R B R R e
n /N B /N B R B le
n A/N A/N
B A/N A/N
B R
B le VP
A A /N VP
A A /N NB VP VP NB
TP VP TP VP TP VP TP VP
TP TP TP TP
Figura 05 - Deformação
A permanente a Figura 06 - Resistência à solventes dos TPVs.
compressão dos TPVs
Morfologia (MEV)
A avaliação morfológica é importante para compreender e relacionar a microestrutura às
propriedades macroscópicas do material. Sabe-se da literatura [3,9] que quanto menor o tamanho
dos domínios da fase elastomérica dispersa na matriz plástica, melhor é o desempenho mecânico do
TPV.
A morfologia é definida durante o processo da vulcanização dinâmica e depende da natureza
química e compatibilidade dos componentes da mistura, da eficiência da reticulação e da
metodologia do processo de mistura. Mesmo sendo a borracha a maior fração em massa, esta ao ser
reticulada dinamicamente, na presença do plástico fundido, torna-se a fase dispersa. A Figura 07
apresenta as imagens de microscopia eletrônica de varredura.
a b
c d
Figura 07 - Imagens obtidas por microscopia eletrônica de varredura dos TPVs de PA/NBR.
a) 65rpm; b) 65rpm reprocessado; c) 90rpm; d) 90rpm reprocessado
A análise qualitativa das imagens nos permite afirmar que os TPVs produzidos neste
trabalho apresentam domínios de NBR bem definidos, aproximadamente esféricos, dispersos
homogeneamente na matriz termoplástica. A presença de alguns vazios constatadas nas imagens de
MEV são decorrência de uma extração mais profunda da fase termoplástica pelo ácido acético.
A velocidade dos rotores durante a vulcanização dinâmica resultou numa diminuição do
tamanho dos domínios elastoméricos como pode ser visto comparando às imagens dos TPVs
processados a 65 e 90rpm. O reprocessamento resultou em domínios elastoméricos melhor
definidos e de tamanhos menores quando comparado às amostras não reprocessadas, principalmente
no caso dos TPVs 65. Essas afirmações corroboram os valores obtidos nos ensaios mecânicos,
indicando que os valores de tensão logrados são diretamente influenciados pelo tamanho da
partícula de borracha [3,6,9].
Conclusões
O presente estudo mostrou que é possível a obtenção de TPVs a base de PA/NBR com
propriedades mecânicas bem superiores a blenda PA/NBR, utilizando-se do sistema de reticulação
misto, constituído de peróxido de dicumila, enxofre e bismaleimida. A velocidade de
processamento, assim como o reprocessamento dos TPVs tem influência direta nas propriedades
mecânicas e na morfologia, indicando uma diminuição dos tamanho dos domínios elastoméricos,
resultado este corroborado pelas imagens de microscopia eletrônica de varredura. O
reprocessamento resultou em um leve aumento na dureza Shore D dos TPVs. Em relação ao DPC e
a resistência à solventes, os parâmetros de processamento e o reprocessamento dos TPVs não
resultaram em alterações significativas nos valores encontrados para os TPVs.
Agradecimentos
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ao Instituto SENAI de Inovação em
Engenharia de Polímeros e a Interquímica Comércio e Indústria de Produtos Químicos Ltda.
Referências
[1] GEORGE, J. et. al. Polymer, v. 41, p. 1507, 2000.
[2] FAGUNDES, E. C. M..Porto Alegre. Tese de Doutorado, Pós-Graduação em Ciência dos
Materiais, UFRGS, 2011.
[3] CORAN, A. Y. in: BHOWMICK, A. K., STHEPHENS, H. L. (Editor). Handbook of
Elastomers, Nova Iorque: Marcel Dekker Inc., 2001, p. 265-320.
[4] JACOBI, M. M. et. al.. Kautschuk Gummi Kunststoffe, v. 59, p. 49, 2006.
[5] NICOLINI, A. et. al. Journal of Elastomer and Plastics, v. 41, p. 433, 2009.
[6] TRIFKOVIC, M. et. al.. Journal of Applied Polymer Science, v. 118, p. 764, 2010.
[7] FAGUNDES, E. C. M., JACOBI, M. A. M.. Polímeros, v. 22,nº 2, p. 206-212, 2012.
[8] FAGUNDES, E. C. M. Journal of Applied Polymer Science, v. 123, p. 3072 – 3080, 2012.
[9] BANERJEE, S. S., BHOWMICK, A. K. Polymer, v. 57, p. 105-116, 2015.
[10] SONI, R. K. et. al. Journal of Polymer Research., v. 17, p.411-427, 2010.
[11] MEHRABZADEH, M. et. al. Journal of Applied Polymer Science, v. 77, p. 2057, 2000.
[12] TANG, X.G. et. al. Journal of Polymer Science - Part B: Polymer Physics, v. 47, p. 912, 2009.
[13] CHAPMAN, A. V. et. al. Kautschuk Gummi Kunststoffe, v. 56. p. 533, 2003.