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• A distribuição de riqueza de uma maneira justa é não apenas uma questão central moral e
filosófica, mas uma questão a qual todas as pessoas são sensíveis no dia-a-dia das sociedades.
Por conseguinte, Rawls desenvolve a “Teoria da Justiça” para tentar resolver este problema de
distribuição de riqueza procurando a equidade, entretanto Robert Nozick se opõe à esta teoria,
desenvolvendo a sua na obra “Anarquia, Estado e Utopia” defendendo o libertarismo. Desta
forma, penso que as considerações apresentadas na obra de Robert Nozick oferece argumentos
convincentes para a sua defesa relativamente à distribuição de riquezas.
• Todas as ações do governo têm impacto sobre a distribuição de bens e direitos na sociedade.
Perceber a relevância de todos esses impactos é fundamental na construção de uma sociedade
justa, mas para tal deve-se saber de que maneira administrar esses efeitos que o governo e suas
ações são capazes de gerar. Devem-se ter, portanto, princípios claros e objetivos que ajudem a
estabelecer metas a serem atingidas. Esses princípios devem ser princípios de justiça
distributiva, e daí a importância de um debate científico preocupado e constante sobre o tema.
• Em “Anarquia, Estado e Utopia”, Robert Nozick elabora uma teoria em defesa de um Estado
Mínimo. O autor inicia seu argumento com uma análise das características da concepção
tradiconal de estado de natureza usada na ciência política por John Locke. A lei da natureza a
que se refere Locke estabelece que nenhum indivíduo pode prejudicar a outro em sua vida,
saúde, liberdade ou propriedade. Quando essa lei for infringida, as pessoas têm o direito de se
defender e de pleitear do infrator tanto quanto for necessário para reparar o dano que sofreram.
Locke reconhece, no entanto, que existem inconveniências no estado de natureza para as quais a
solução seria a instauração de um governo civil.
Assim, Nozick defende a teoria de que esse governo civil seria o “Estado Mínimo”, na qual é
o único moralmente justificado, na medida em que qualquer outro mais amplo viola os direitos
dos indivíduos. Dessa forma, as funções do Estado são apenas a defesa perante ameaças externas
(exército), a segurança dos cidadãos e seus bens (polícia) e cumprimentos dos contratos e leis
(tribunais). Fora disso, só se justifica a intervenção do Estado para evitar um eventual horror
social. O mais importante é preservar a autonomia das pessoas para fazerem livremente as suas
próprias escolhas, exercendo direito e liberdades individuais.
A teoria deontológica de Immanuel Kant está a favor da teoria de Nozick, já que para Kant é
moralmente correto tratar as pessoas como fins e não como meios, por isso é errado o Estado
interferir na vida das pessoas, para além de protege-las, pois a sua autonomia é essencial, e a
perda dela é transformar as pessoas em meios.
Consequentemente, Nozick se opõe à “justiça distributiva” apoiada por Rawls e utilitaristas, e
desenvolve a “justiça em propriedades”, abordando o direto ou indireto de pessoas sobre
propriedades. Um princípio de justiça sobre propriedades descreve o que a justiça exige quando
indivíduos decidem sobre propriedades.
São três os princípios de justiça elaborados pelo autor, o Princípio de justiça na aquisição, o
Princípio de justiça nas transferências e o Princípio de reparação da injustiça. O primeiro
princípio, de justiça na aquisição, arroga que toda distribuição proveniente de propriedades
inicialmente adquiridas de forma justa é por sua vez justa. O segundo princípio, de justiça nas
transferências, diz que a partir de uma distribuição inicial onde todas as propriedades estão
definidas de acordo com o princípio de justiça na aquisição, qualquer distribuição decorrente de
trocas livres e voluntárias é por sua vez também justa. O terceiro e último princípio, de
reparação da injustiça, visa à compensação dos indivíduos por qualquer distribuição cuja matriz
de propriedades tenha sido definida de forma que um dos dois princípios anteriores (ou ambos)
tenha sido violado. Nesse e somente nesse caso, em que se enquadra o terceiro princípio, ações
redistributivas são moralmente justificáveis.
Nozick alerta para o fato de que como as propriedades estavam, por alguma violação dos
primeiros dois princípios, distribuídas de maneira injusta, as reparações requeridas pelo terceiro
princípio são apenas aparentemente redistributivas. Ele também salienta que qualquer
distribuição que advenha de uma situação justa, através de etapas justas, é em si justa. Isso
ocorre na medida em que os meios de troca especificados pelo princípio de justiça nas
transferências preservam a justiça.O fato de existirem injustiças passadas, quais sejam, violações
prévias dos dois primeiros princípios de justiça na propriedade, é a origem do terceiro princípio
de justiça: o de reparação de injustiça na propriedade.
• John Rawls na “Teoria de justiça” cria um situação hipotética na qual somos agentes racionais
sob um “véu de ignorância”, em que iremos desconhecer todas as nossas características pessoais,
para assim podermos sermos imparciais, e na “posição original” conseguirmos escolher os
princípios da justiça: Princípio da Liberdade(cada um deve ter o máximo de liberdade
compatível com a liberdade igual para todos), Princípio da Igualdade de Oportunidades (as
desigualdades sociais e económicas só serão aceitas se forem consequências do exercício de
cargos acessíveis a todos devido à igualdade de oportunidades) e Princípio da diferença
(distribuição equitativa de riqueza). Todos os princípios da justiça de Rawls tem o objetivo de
maximizar o mínimo, em que a pior situação possível não seja ruim.
• Contudo, Robert Nozick aceita quase todos os princípios da justiça de Rawls, porém se opõe
ao Princípio da diferença. Segundo ele, para implementar o Princípio da Diferença, o Estado terá
que redistribuir constantemente a riqueza, forçando algumas pessoas a pagarem impostos,
retirando-lhes parte do que ganharam legitimamente para que outras pessoas sejam beneficiadas.
Dessa forma, este princípio de Rawls é moralmente errado segundo a Teoria deontológica de
Kant pois:
Se as pessoas tratadas como meio é moralmente errado.
E o princípio da diferença trata as pessoas como meio.
Logo, o princípio da diferença é moralmente errado.
Em consequência disso, a distribuição de riqueza de Robert Nozick é justa e a de John Rawls
é injusta, pois
Uma distribuição de riqueza para ser justa tem que ser moralmente certa.
A “Teoria de Justiça” de John Rawls não se baseia num princípio moralmente certo.
Logo, a “Teoria de Justiça” de John Rawls é injusta.
• Em suma, a distribuição de riqueza é um problema atual que levou dois filósofos a
desenvolverem suas teorias, John Rawls e Robert Nozick. Entretanto, vimos que uma
distribuição de riqueza deve ser justa, algo que a “Teoria da Justiça” não apresenta pois o
“Princípio da Diferença” é moralmente errado. Dessa forma, a teoria de Robert Nozick
desenvolvida na obra “Anarquia, Estado e Utopia” é moralmente correta, apresentando então
uma distribuição de riqueza justa.