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A instalação da Corte portuguesa e a dinâmica territorial brasileira.

Um exame das
províncias do Norte1. 1808-1821. [Comunicação apresentada ao Congresso Internacional 1808: a corte
no Brasil. Mesa I. Governança e Império: estratégias de dominação na América. Versão preliminar.]
Denis Antônio de Mendonça Bernardes
Universidade Federal de Pernambuco.
I
A atenção que vem sendo dedicada ao transcurso dos duzentos anos da fuga da corte
portuguesa e de sua instalação no Brasil, com o inevitável tratamento midiático sobre o
tema e com os mais variados eventos acadêmicos, recoloca em evidência algumas
interpretações sobre o significado deste fato único na história das monarquias européias.
Desde longa data e com renovado vigor na proximidade de 2008, algumas visões
historiográficas, com mais ou menos originalidade, domínio e renovação das fontes,
construíram, inclusive para o chamado grande público, imagens e clichês que ganharam a
força de verdadeiras interpretações da formação histórica do Brasil, entre males e
desesperanças ou o ingênuo ufanismo de nossa grandeza e de nossa unidade. Neste
conjunto de visões destacamos algumas.
Uma que considera a instalação da corte no Brasil, sobretudo, como a transplantação da
máquina administrativa antes situada em Lisboa e que aqui se implantou de forma mais ou
menos artificial, sem qualquer consideração ou sensibilidade para a nova realidade na qual
passara a atuar. A recriação de instituições e repartições pré-existentes na metrópole, com
sua antiga burocracia antes devidamente registrada no Almanaque de Lisboa e depois
reproduzida no Almanaque do Rio de Janeiro foi vista como a mera cópia daquele em
terras brasileiras, ou seja, em uma realidade, inteiramente diferente do seu chão original.
No mais extremo dessa interpretação, a corte pôs sobre o território da colônia “uma
carapaça que envolveu a nação, impedindo-lhe os movimentos e a respiração 2”. O que daria
plena expressão à percepção – tão reiteradamente repetida – da existência de um país
oficial e de um país real. Nesta posição, o Estado é visto especialmente e quase unicamente
1
Utilizamos a expressão Províncias do Norte no sentido que adquiriu ao longo do século XIX, especialmente
depois da Independência e da consolidação da corte imperial no Rio de Janeiro, mas excluindo, no nosso caso,
as capitanias situadas ao norte do Ceará. Ela corresponde ao território sob jurisdição da capitania de
Pernambuco e, por uma posterior coincidência histórica, à primeira divisão regional oficial do território
brasileiro feita em 1940. Portando, o território compreendido entre os atuais estados do Ceará a Alagoas.
2
Raymundo FAORO. Os donos do poder. 1 ed, Porto Alegre: Globo, 1958, p. 131.
como uma máquina burocrática autolegitimada e auto-alimentada, cujo objetivo principal
seria sua própria reprodução e domínio sobre a sociedade.
Uma outra posição fez, ao contrário, da instalação da corte no Brasil o evento fundador da
nacionalidade. É a posição de Oliveira Lima, em seu livro fundamental, de sólida e ampla
pesquisa, D. João VI no Brasil3.
Entre as duas, há uma produção de menor valor historiográfico, mas de grande
receptividade, que explorou o lado anedótico e, visto pelos olhos da posteridade, pitoresco,
quando não caricato, de personagens da família real, da nobreza e da alta burocracia. Neste
particular, o terreno é fértil e midiaticamente atraente, indo desde a loucura de D. Maria I,
passando pela glutonaria e indecisão de D.João, pelas desavenças entre o casal real, pelas
escapadas conjugais de D. Carlota e a desenfreada libido do príncipe D. Pedro. Até os
piolhos que se banquetearam com o sangue das cabeças de D. Carlota e das damas do seu
séqüito ganharam a glória de algumas páginas na história.4
Neste rápido registro das visões historiográficas sobre a corte no Brasil, deve ser situado
uma outra vertente, que nem sempre está totalmente isenta de alguns traços das anteriores,
mas que buscou uma interpretação mais estrutural sobre o significado dos acontecimentos
mundiais e luso-brasileiros e como os mesmos foram determinantes para a especificidade
do processo de descolonização e da formação do Estado e da nação brasileiros5.
3
“O elemento culto da opinião, este entrou há muito a considerar com razão, e ainda mais instintivamente
do que conscientemente, Dom João VI como o verdadeiro fundador da nacionalidade brasileira, um título
que o Instituto Histórico consagrou ao abrir o seu concurso para a narração do reinado americano daquele
monarca”. Oliveira LIMA. D. João VI no Brasil. 3 ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 21. Com algumas
nuances, esta é também a posição de Tobias MONTEIRO. História do Império. A elaboração da
Independência. Rio de Janeiro: Briguiet, 1927. Livro igualmente de sólida pesquisa e referência obrigatória
sobre a formação do Estado brasileiro.
4
O recente livro de Patrick WILCKEN, Império à deriva. A corte portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821.
Rio de janeiro, Objetiva, 2005, tão entusiasticamente recebido nos suplementos literários de alguns jornais
brasileiros, situa-se entre a tentativa de traçar o vasto painel da fuga e da instalação da Corte no Brasil e a
pequena história, com os inevitáveis racontars sobre as desavenças conjugais do casal real e escusos
comportamentos sexuais da Corte.
5
José Honório RODRIGUES. Independência: revolução e contra-revolução. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1975, 5 v; Fernando A. NOVAIS. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808).
São Paulo: HUCITEC, 1979; Carlos Guilherme MOTA. Nordeste 1817. São Paulo: Perspectiva: Editora da
Universidade de São Paulo, 1972; Emília Viotti da COSTA. Da monarquia à república: momentos decisivos.
São Paulo: Grijalbo, 1977, especialmente o capítulo primeiro Introdução ao estudo da emancipação política
do Brasil; Florestan FERNANDES. Revolução burguesa no Brasil. 4 ed., In, Silviano Santiago. (org.)
Intérpretes do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2 ed., 2002, v. 3; Caio PRADO JÚNIOR. Evolução
Política do Brasil e outros estudos. 3 ed., São Paulo: Brasiliense, 1961. Merece ser mencionada a vasta obra
coletiva do Projeto Temático Formação do Estado e da Nação brasileiros, sob patrocínio da FAPESP e
coordenada por István Iancsó: Brasil: formação do Estado e da Nação. São Paulo: FAPESP: HUCITEC:
Editora UNIJUI, 2003 e Independência: história e historiografia. São Paulo: FAPESP: HUCITEC, 2005.
Roderick J. BARMAN. Brazil. The forging of a Nation. 1798-1852. Califórnia: Stanford University Press,

2
Nesta comunicação nos situamos nesta última linha historiográfica. O que buscamos
responder é como a instalação da corte no Brasil inseriu-se em uma pré-existente dinâmica
econômica, social, cultural, territorial e demográfica, como esta foi percebida e como pode
ganhar uma nova dimensão no período de sua permanência no Brasil.
Entendemos aqui dinâmica territorial como o processo pelo qual o espaço se torna um
território6. Neste processo a implantação de determinadas atividades econômicas é
fundamental, com todas as suas conseqüências, entre elas a que resultou na separação do
campo e da cidade. Mas, o espaço torna-se, também, território pela ação do poder político,
especialmente quando atinge a forma Estatal. O espaço colonial das Américas constitui um
dos mais significativos exemplos de um processo de territorialização pela ação conjugada
da implantação de atividades produtivas, antes inexistentes, o latifúndio açucareiro, a
intensa modificação da paisagem pela introdução de novas espécies vegetais e animais, a
criação de núcleos urbanos, a exploração mineradora, e das divisões administrativas,
eclesiásticas, jurídicas, e militares. A criação das capitanias hereditárias (1535), quando um
ato régio tomado a milhares de quilômetros de distância, do outro lado do Atlântico, traçou
fronteiras, também, até então inexistentes e delimitou territórios administrativos, é uma das
maiores expressões históricas desta ação do Estado sobre o espaço.
II
A partir da segunda metade do século XVII a descoberta das minas criara fluxos
migratórios e comerciais entre áreas mais antigas de ocupação colonial. Diversas cidades e
vilas litorâneas se beneficiaram, de alguma maneira, com a riqueza das minas, mesmo que
em sua maior parte fosse enviada para a metrópole. Não haveria no esplendor barroco das
igrejas de Salvador, do Recife e de Olinda, alguma apropriação, por diversas vias, da
riqueza das minas7?

Como é já bastante conhecido, a partir da segunda metade do século XVIII, especialmente


com a subida ao trono de D José I (1750-1777) e sob a influência de seu ministro Sebastião
José de Carvalho e Melo a política colonial portuguesa para o Brasil ganhou novos

1988. Jurandir MALERBA. A corte no exílio. Civilização e poder no Brasil às vésperas da Independência.
(1808-1821). São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
6
Para um exame recente desta questão, ver, Antonio Carlos Robert de MORAES. Bases da formação
territorial do Brasil. O território colonial brasileiro no ‘longo’ século XVI. São Paulo: HUCITEC, 2000.
7
C. R. BOXER. The golden age of Brazil. 1695-1750. Califórnia: University of California Press, 1973.

3
instrumentos e concepções. Nada, evidentemente, que rompesse com os fundamentos da
colonização e, portanto, com o papel reservado à colônia na acumulação de riquezas na
metrópole. Sinal deste aumento de riqueza, que para nossa área, especialmente a partir da
segunda metade do século XVIII está também ligado ao aumento da exportação do algodão,
é o crescimento demográfico que atinge todo o território da colônia8. Este crescimento
manifesta-se de uma maneira bem perceptível na criação de novas vilas, paróquias e na
construção de novas igrejas e capelas.
Os quadros abaixo, embora não pretendam ser exaustivos, permitem perceber a dinâmica da
criação de novas vilas, no espaço entre o Ceará e Alagoas, para a segunda metade do século
XVIII e até 1807.
Quadro I
Dinâmica territorial do Ceará9
_________________________________________________________________________
1755. Vila de Soure
1758. Vila de Mecejana
Vila do Crato
1759. Vilas de Porangaba, Arrouches, Viçosa
1764. Vila de Monte Mor o Novo
1773. Vila de Sobral
1776. Vila da Granja
1789. Vila de Quixeramobim
1801. Vila de São João do Príncipe

Quadro II
Dinâmica territorial do Rio Grande do Norte10
________________________________________________________________________
1755. Vila de Vila Flor
8
Dados demográficos sobre a população brasileira desde o período colonial podem ser encontrados, entres
outras fontes em: Joaquim Norberto de Souza e SILVA. Investigações sobre os recenseamentos da população
geral do Império. Foi republicado junto com o Resumo histórico dos inquéritos censitários realizados no
Brasil. Recenseamento do Brasil, 1920. São Paulo: Instituto de Pesquisas Econômicas, 1966; IBGE.
Estatísticas históricas do Brasil. Série Estatísticas Retrospectivas. V. 3 séries Econômicas, Demográficas e
Sociais. 1550-1985. Rio de Janeiro, IBGE, 1987.
9
Carta régia de 17 de janeiro de 1799 separou as capitanias do Ceará e da Paraíba da capitania de
Pernambuco. Um alvará de 19 de janeiro do mesmo ano autorizou, a partir de então, comércio direto do Ceará
com a metrópole e, em 1803, por alvará de 27 de maio, os produtos cearenses enviados para Portugal tiveram
isenção de direitos por 6 anos.
10
Os dados sobre o Rio Grande do Norte foram extraídos de István JANCSÓ. (Coord.) Cronologia do Brasil
Colonial (1500-1831). São Paulo: FFLCH-USP, 1994 e id, Cronologia de História do Brasil Monárquico.
1808-1889. São Paulo: Humanitas: FFLCH, 2000.

4
1758. Vila de Arez
1760. Vila de Extremós
1761. Vila de Portalegre
1762. Vila de São José do Rio Grande
1766. Vila Nova da Princesa (Assu) eVila Nova do Príncipe (Caicó)

Quadro III
Dinâmica territorial da Paraíba11.
______________________________________________________________________

1750. Freguesia da N. Senhora dos Milagres de Cariri de Fora. Povoação de Travessia.


1755. Carta régia manda demarcar os limites da futura vila do Pilar12.
1758. Freguesia de N. S,. da Penha da Taquara.
Vila de Alhandra, antiga Aldeia.
1762. Freguesia de S. Miguel da Bahia da Traição.
1765. Freguesia de N. Senhora do Pilar, em Alhandra.
1766. Vila de Sousa
1768. Freguesia de N. S. da Conceição da Jacoca e vila respectiva com o nome de vila do
Conde.
1769. Vila do Pombal.
1788. Freguesia de Patos. Criação das vilas do Cariri, Seridó, Assú e da Rainha (Campina
Grande).
1790. Vila Nova da Rainha.
1800. Vila Real de São João.
Vila Nova de Sousa
Freguesia de N. S. das Mercês do Cuité.

Quadro IV
Dinâmica territorial de Pernambuco13
_________________________________________________________________________
1757. Freguesia do Bom Jardim
1761. Curato de Tacaratu

11
Sobre a Paraíba os dados foram extraídos de Irineu Ferreira PINTO. Datas e notas para a história da
Paraíba. 2 ed., João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1977. Não indicamos cada página da respectiva
referência para não multiplicar demasiadamente estas notas. Como o livro está organizado cronologicamente
será fácil ao leitor encontrar a referência necessária.
12
Até 1755 não existia na capitania nenhuma vila, apenas a cidade da Paraíba, atual João Pessoa. Devido à
pouca expressão econômica da capitania, uma provisão do Conselho Ultramarino de 1756 manda anexar a
Paraíba à capitania de Pernambuco. Em vez de um governador fica em seu lugar um capitão-mor, com soldo e
jurisdição igual ao do Rio Grande do Norte. I. F. PINTO. Op. cit. v. 1, p. 157.
13
Os dados sobre Pernambuco foram extraídos de F. A. PEREIRA DA COSTA. Anais Pernambucanos. 2 ed.,
Recife: FUNDARPE, 1983, v. 6 e 7. Deixamos de indicar a página de cada citação para não sobrecarregar
esta nota. Mas as informações podem ser facilmente localizadas pelas suas respectivas datas.

5
Paróquia da vila de N. S. da Assunção, no São Francisco.
Elevação à vilas das aldeias indígenas de N. S. da Assunção e de Santa Maria,
ambas ilhas no S. Francisco.
1762. Vila de Cimbres.
Paróquia na povoação da Boa Vista, no sertão.
1766. Paróquia de Ipanema, antigo aldeamento indígena, que deu origem à vila de Águas
Belas.
1768. Curato de Bezerros.
1778. Freguesia de Santa Cruz, no bairro da Boa Vista, Recife.
1779. Freguesia colativa de Exu.
Freguesia de Limoeiro.
Freguesia do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio, Recife.
1783. Paróquia de N. Senhora de Pajeú de Flores.
1786. Paróquia de N. S. da Apresentação de Escada.
1789. Paróquia de Santo Antônio do Recife
1799. Curato de Paudalho. Elevado à paróquia em 1804.
1800. Instalação do Seminário de Olinda, no antigo Colégio dos Jesuítas.
Passam à paróquias os curatos amovíveis de Santo Antônio de Garanhuns,
Santana de Bom Jardim e N. S. dos Prazeres de Goianinha14.
1801. Curato de Taquaretinga
1802. Paróquia na povoação de Fazenda Grande (Floresta).
1805. Paróquia da Boa Vista, no Recife.

Quadro V
Dinâmica territorial de Alagoas
_________________________________________________________________________
1764. Vila Real de Bragança. (Atalaia)
1799. Vila do Poxim
1801. Vila Nova de São João da Anadia

Registramos adiante em um Apêndice, esta dinâmica territorial a partir de 1808 até 1821,
mas já inscrita no período joanino. No entanto, é necessário, ainda, examinar com mais
alguns dados qual era a dinâmica territorial do espaço colonial antes da chegada da corte ao
Brasil, para a área aqui considerada. Para tanto recorremos a um amplo e precioso
levantamento finalizado em 1775, mas com dados de anos imediatamente anteriores para o
espaço que então estava sob a jurisdição da capitania de Pernambuco15.

14
Em virtude de carta régia de 11 de novembro de 1797 determinando que todos os curatos de párocos
amovíveis de povoações importantes passassem a ser paróquias permanentes. F. A. PEREIRA DA COSTA.
Anais Pernambucanos, cit., v.7, p.19-20.
15
Idea da população da capitania de Pernambuco, e das suas annexas, extenção de suas Costas, Rios, e
Povoações notáveis, Agricultura, numero dos Engenhos, Contractos e Rendimentos Reaes, augmento que
estes tem tido &.&. desde o anno de 1774 em que tomou posse do Governo das mesmas Capitania o
Governador e Capitam General Jozé César de Menezes[1774-1787]. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio

6
Quadro VI
População da capitania de Pernambuco e de suas anexas em 1775
Vilas Freguesias Igrejas Conventos Fazendas Engenhos Fogos Pessoas
e de
Capelas desobriga
16
Ceará 11 20 41 972 9731 34181
Rio Grande 5 5 25 283 3 4440 21400
do Norte
Paraíba 6 10 86 5 869 37 9391 30305
Pernambuco17 7 38 436 2 267 330 33443 153983
618
Comarca das 3 9 57 3 248 39 7594 24043
Alagoas
Comarca da 5 5 Sem 1363 14915
Manga dados
Totais 32 87 648 34 2639 409 61962 278827

Fonte: Idea da população da Capitania de Pernambuco e de suas anexas...


Quando deste minucioso levantamento, já ele uma expressão dos novos modos de
governança, nos quais a estatística tem uma fundamental presença, e o conhecimento da
natureza19 e da demografia são instrumentos do poder, haviam se passado duzentos e
quarenta anos desde que o território colonial fora dividido em capitanias hereditárias, em
1535.
A frase célebre de frei Vicente do Salvador, “Da largura que a terra do Brasil tem para o
sertão não trato, porque até agora não houve quem a andasse por negligência dos
portugueses, que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas

de Janeiro, v. XL, (1918), 1923, p. 1- 111. Embora este documento possa apresentar inexatidões de dados,
fornece indicações preciosas sobre a dinâmica territorial das capitanias anexas à de Pernambuco e pode ser
tomado, no geral, como fidedigno. Deixamos de lado o minucioso levantamento nele contido dos rendimentos
reais, por não caber no espaço desta comunicação e por exigir um tratamento especial. Tal levantamento
constitui um complemento indispensável aos registros sobre população, vilas, povoações, conventos, igrejas e
capelas aqui reproduzidos. Ele permite o pleno entendimento da implantação desta vasta rede de edificações
eclesiásticas e da existência da população que a utilizava e sustentava.
16
Para o Ceará não há referência a existência de engenhos, mas a engenhocas produtoras de rapadura, sem
quantificação.
17
Na nossa tabela os dados sobre Pernambuco excluem a Comarca das Alagoas, então parte do seu território,
mas incluem a freguesia de Porto Calvo, compreendida no termo da vila do Recife. Os dados sobre Alagoas e
sobre a Comarca da Manga vão separados para melhor marcar as diferentes dinâmicas territoriais.
18
Inclui recolhimentos, em número de 3 (três). Para Pernambuco podemos ainda acrescentar a existência de 2
(dois) hospitais e de 12 (doze) curtumes.
19
Maria Elice Brzezinski PRESTES. A investigação da natureza no Brasil colônia. São Paulo: Annablume:
Fapesp, 2000.

7
contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos” há algum
tempo, já não mais exprimia a realidade da ocupação colonial 20. Para termos a dimensão do
posterior alargamento da ocupação para as áreas situadas bem além da faixa litorânea basta
lembrar a obra de Antonil, Cultura e opulência do Brasil, com a descrição das minas e das
centenas de fazendas de gado situadas nas margens baianas e pernambucanas do São
Francisco. As fronteiras coloniais haviam se alargado para além de todas as previsões e
delimitações iniciais e a sede do governo geral, agora vice-reinado, havia sido transferida
para o Rio de Janeiro (1763), que embora fosse, também uma cidade litorânea, estava mais
bem situada que Salvador para dar conta deste alargamento do território.
Uma importante expressão desta nova dinâmica do espaço colonial, já desde os primeiros
anos do século XVIII, está na elaboração de obras escritas pelos nascidos na colônia nas
quais esta é o objeto. Não são muito numerosas se comparadas com períodos posteriores,
muitas permaneceram inéditas durante vários anos, mas possuem um significado que não
pode ser subestimado. Expressam o orgulho de uma identidade já não mais inteiramente
lusitana, mas sim americana. Não uma identidade de ruptura com a ordem do Antigo
Regime ou com o Sistema Colonial, mas a afirmação de uma diferença que busca um lugar
na mesma21.
Há, pois, um enraizamento da maioria da população, o que inclui os escravos, ex-escravos,
homens livres pobres ou remediados de várias ocupações e posses, funcionários, militares,
clérigos, proprietários rurais e urbanos e, naturalmente, os indígenas. Este enraizamento vai

20
Frei Vicente do Salvador. História do Brasil. 5 ed., São Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 61. A dedicatória
do livro está datada da Bahia, 20 de dezembro de 1627. André João ANTONIL. Cultura e opulência do
Brasil por suas drogas e minas. Texte de l´édition de 1711, traduction française et commentaire critique par
Andrée MANSUY. Paris : Institut des Hautes Études de L’Amérique Latine, 1968.
21
Indiquemos algumas destas obras com seus autores e as datas de suas composições: Sebastião da Rocha
PITA. História da América Portuguesa. (Cerca de 1725-1730); D. Domingos Loreto COUTO. Desagravos
do Brasil e Glórias de Pernambuco. (1757); Frei Antônio de Santa Maria JABOATÃO. Novo Orbe Seráfico
Brasílico ou Crônica dos frades Menores da Província do Brasil. (1758); José Vitoriano Borges da
FONSECA. Nobiliarquia Pernambucana. (1781); Pedro Taques de Almeida Paes LEME. História da
capitania de São Vicente. (1772); Gaspar da MADRE de DEUS. Memórias para a história da capitania de
são Paulo. (Publicada em 1797). Deixamos de citar outras obras de alguns dos autores acima e de muitos
outros, mas exemplificam esta percepção do colono sobre seu lugar na história e na sociedade colonial. Um
amplo levantamento das obras elaboradas durante o período colonial encontra-se em: José Honório
RODRIGUES. História da história do Brasil. 1ª Parte. Historiografia Colonial. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1979. Sobre as academias do Brasil colonial o mais recente estudo é o de Íris KANTOR.
Esquecidos e Renascidos. Historiografia Acadêmica Luso-Americana. (1724-1759). São Paulo: HUCITEC;
Salvador: Centro de Estudos Baianos, 2004. Denis Antônio de Mendonça BERNARDES. Genealogia, história
e propriedade: integração e ruptura. Um estudo sobre a capitania de Pernambuco. 1748-1817.

8
permitir a afirmação e cristalização das identidades locais, delimitadas, inicialmente, pelas
fronteiras das capitanias e, posteriormente, pelas das províncias22.
A população que está no território colonial apenas de passagem, por mais ou menos tempo,
é agora uma minoria. É formada por uma parte da burocracia, pelos governadores vindos da
metrópole, pelos juízes e ouvidores, por parte dos comerciantes, pelos bispos, por alguns
missionários e membros itinerantes de ordens religiosas.
Este é um aspecto fundamental na elaboração das novas identidades, no jogo de interesses
face à política metropolitana A política pombalina para o Brasil expressou esta
compreensão da necessidade de uma integração de alguns dos interesses dos habitantes da
colônia para poder fazer face à dependência inglesa e afirmar um projeto de fomento da
economia metropolitana23. E, da necessidade, percebida pela metrópole, de muitas vezes
levar em conta esta realidade e, mesmo, de recuar diante dela, aceitando revogar
determinados atos ou fazendo vistas grossas à impossibilidade de aplicar decisões que
encontravam a oposição aberta ou dissimulada dos povos24.
Há outro importante aspecto nesta dinâmica territorial e demográfica, expressa na gradativa
criação de novas paróquias, divisões judiciárias e administrativas. Este aspecto é o das
atividades econômicas que estão na base mesma da existência de adensamentos
populacionais e de criação de interesses que demandam e tornam possíveis a implantação
das citadas instituições religiosas, jurídicas e administrativas. O crescimento populacional
trouxe consigo a ampliação do mercado interno, inclusive para alimentos e outros bens
produzidos no solo da colônia. E o aumento da produção foi acompanhado pela presença da
malha fiscal do Estado, através dos contratos25. Assim, aparecem na pauta da arrecadação e
dos contratos não apenas o açúcar e a aguardente, mas também as miunças, gado do sertão,
22
Fernando A. NOVAIS. Condições de privacidade na colônia, In, História da vida privada no Brasil.
Cotidiano e vida privada na América Portuguesa. Coleção dirigida por Fernando A. NOVAIS. Volume
organizado por Laura de Mello e SOUZA. São Paulo: Companhia das Letras, 1997., p. 13-39.
23
Kenneth MAXWELL. Pombal e a nacionalização da economia luso-brasileira. In, Chocolate, piratas e
outros malandros. Ensaios tropicais. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999, p. 89-123.
24
O registro das tensões presentes no cotidiano da administração colonial em relação aos povos da colônia
encontra-se no Relatório do Marquês de Lavradio, vice-rei do Brasil ao entregar o governo ao seu sucessor,
Luís de Vasconcelos e Sousa, em 1779. Uma acessível edição do Relatório encontra-se em João (sic)
ARMITAGE. História do Brasil. São Paulo: Martins, 1972. Ver, Denis BERNARDES. A idéia de povo no
debate político da independência. Notas para uma pesquisa. Ciência & Trópico. Recife, v. 27, n.1, p. 21-42,
jan./jun. , 1999.
25
José RIBEIRO JÚNIOR. Pernambuco no comércio luso-brasileiro da transição (1780-1826). Tese de
Livre-Docência. Departamento de História do Instituto de Letras, História e Psicologia de Assis. UNESP,
1980. “A economia pernambucana, entre 1780 e 1826, integra a fase de prosperidade de longa duração do
capitalismo mundial”, op. cit., p.314.

9
tabaco, vintena do peixe, subsídio das carnes, passagens dos rios, lavouras dos índios. Entre
1780 e 1783 a arrecadação total da capitania de Pernambuco e de suas anexas teve um
aumento anual de 8: 495$000 e de 1783 a 1786 o aumento anual foi de 11: 000$00026.
Tais aumentos podem ser o resultado da subida do valor dos contratos, mas indicam
também aumento na produção e uma maior presença dos mecanismos de arrecadação, tanto
nas localidades mais próximas das diversas sedes administrativas, quanto nas mais
distantes. E a instalação de novas vilas, com suas respectivas Câmaras e funcionários
certamente tornava mais eficiente a capacidade de arrecadação dos diversos impostos.
Portanto, e tomando como espaço de análise o território da capitania de Pernambuco e de
suas anexas, para o período da segunda metade do século XVIII, poucos anos antes da
chegada da corte portuguesa ao Brasil, o que se pode constatar é a gradativa implantação de
novas vilas, paróquias e instituições jurídicas que tornam presentes a ação do Estado nos
mais diversos e, mesmo, longínquos lugares.
Há, ainda, uma outra dinâmica histórica, de grande significação, cuja inteira avaliação será
impossível fazer aqui, mas que deve ser assinalada. Para muitos colonos e suas famílias,
especialmente depois da segunda metade do século XVII e mais acentuadamente no XVIII,
o horizonte de vida é o espaço colonial. Sejam aqui nascidos ou não, sabem que aqui
viverão os tempos de suas vidas. Não possuem mais o espírito do aventureiro de passagem
que aqui enriquece e que deseja voltar para a metrópole para lá ostentar e usufruir o que
acumulou além-mar. Seus interesses, suas inserções sociais, suas buscas de status e de
reconhecimento existem no imediato e no concreto da sociedade colonial onde vivem, dos
seus espaços de vida, mais ou menos largo, sejam rurais, sejam urbanos. E, neste sentido,
aqui despendem, imbuídos dos valores da sociedade do Antigo Regime. parte importante do
que acumularam na construção de capelas, igrejas, obras pias, altares privativos onde
garantem a futura sepultura, na participação nas irmandades e no financiamento de suas
festas e obras.

III

26
Um extenso e detalhado registro de todos os direitos arrecadados no território da capitania de Pernambuco e
de suas anexas encontram-se na já citada Idea da população da Capitania de Pernambuco e de suas anexas...
Os dados acima citados foram extraídos deste documento.

10
Quando a corte se instalou no Rio de Janeiro o espaço colonial possuía, pois, uma
significativa rede de vilas, com suas respectivas câmaras, paróquias e juízes. Como
conseqüência, possuía igualmente uma rede de agentes do poder real e, o que é muito
importante, de informações fornecidas pelas câmaras e seus funcionários, pelos vigários,
pelos juízes e seus escrivãs27.
Em geral os estudos sobre a instalação da corte portuguesa no Brasil têm ignorado esta
dinâmica anterior à qual, de alguma maneira, a mesma, uma vez no Rio de Janeiro deu
continuidade. Sem desconhecer algumas rupturas, das quais a mais importante foi,
certamente, a abertura dos portos, é um equívoco desconhecer o quanto houve de
continuidade especialmente na política territorial entre 1808 e 1821. Uma continuidade,
contudo, que pela própria presença da corte no território colonial, foi mais capaz de alargar
a implantação de estruturas jurídicas, administrativas e eclesiásticas em áreas nas quais a
realidade do poder metropolitano, mesmo quando sabida, possuía todas as refrações da
distância do além-mar, em especial as idas e vindas de petições, consultas e informações até
que meses ou anos depois finalmente chegasse a decisão oficial.
A grande mudança é que o conhecimento desta rede e destas informações não estava mais
atravessado pela distância e pela demora das travessias oceânicas. Houve, dentro dos
padrões de funcionamento da burocracia e dos meios disponíveis de comunicação, uma
clara aceleração na tomada de decisões, no mais rápido conhecimento das realidades e
demandas locais e, igualmente, do acesso mais direto ao poder por parte de vários setores
da população28.
Para a administração real e, sobretudo, para os brasileiros que podiam ter alguma relação
com a mesma, Portugal tornou-se uma referência secundária, presente no que restara do
fluxo comercial após a abertura dos portos. Basta lembrar que no vasto conjunto da

27
Os roteiros que descrevem explorações e linhas de comunicação entre as diversas capitanias são cada vez
mais numerosos a partir da segunda metade do século XVIII. Muitos deles foram posteriormente publicados,
inclusive pela Imprensa Régia. Neste caso, encontram-se referenciados em Ana Maria de Almeida
CAMARGO e Rubens Borba de MORAES. Bibliografia da Impressão Régia do Rio de Janeiro. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo: Kosmos, 1993.
28
Os lugares de peregrinação no que se refere ao acesso ao poder já não estavam mais no além-mar. Ver,
István JANCSÓ e João Paulo Garrido PIMENTA. Peças de um mosaico (ou apontamentos para o estudo da
emergência da identidade nacional brasileira), In, Carlos Guilherme MOTA. (Org.) Viagem incompleta. A
experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. São Paulo: Editora SENAC,2000. Para o registro de
envio de representantes ou de ofícios expressando o reconhecimento desta nova territorialidade do poder
monárquico ver: Conselho Federal de Cultura/Arquivo Nacional. As Câmaras Municipais e a Independência.
Rio de Janeiro, 1973, 2 v.

11
legislação joanina entre 1808 e 1821 a parte referente aos assuntos que dizem respeito ao
território metropolitana é muito diminuta face aos que dizem respeito ao território do
Brasil.

A saudade da metrópole podia ser sentida pela gente da nobreza portuguesa, da burocracia
que acompanhara a corte, vivendo a sensação de um exílio em terra de negros29. Contudo,
Lisboa somente voltou a ser uma referência importante para o Brasil e mesmo para a corte,
depois da revolução constitucionalista do Porto, em 1820. A nova situação vivida pelo
poder do Império lusitano nos trópicos, após 1808, ultrapassava a nostalgia e os
preconceitos dos fugitivos lusos. O significado do Brasil para o Império e para a própria
continuidade da monarquia lusitana com todos os seus valores Ancien Régime, se impôs de
tal forma que, mesmo passada a ameaça napoleônica e vencida a vaga revolucionária pela
Restauração, sob a égide da Santa Aliança, a corte deixou-se aqui ficar. Não por causa das
delícias dos trópicos, para os que neles viam delícias, mas porque do Brasil provinham
agora, mais que nunca, os meios de sustentação de todo o aparato do Estado, desde a folha
de pagamento de funcionários, das tropas fronteiriças e internas, até a manutenção das
cerimônias régias, religiosas ou profanas. No limite, Portugal poderia tornar-se uma
província do Brasil sem que a monarquia ou o Império lusitano deixasse de existir.
Para além da visão dos contemporâneos integrados e beneficiários da instalação da corte no
Brasil e do debate atual sobre suas conseqüências, boas ou más, no processo de formação
do Estado e da nação brasileiro, o que houve de mais profundo foi a mudança na percepção
da existência do poder. O Império já não mais poderia ser o sonhado Império do século
XVII ou mesmo do XVIII30. Existe uma causa estrutural para explicar por que nos seus
extremos, por razões dessemelhantes, mas ambos mergulhados no mesmo processo,
manifestaram-se como intenção em um caso e realidade em outro, os planos de ruptura com
a monarquia absolutista lusitana. Como intenção na chamada conspiração de Gomes Freire
de Andrade e como realidade na revolução de 6 de março de 1817. Em ambos, estava
presente a percepção de que os benefícios dos liberais princípios da política do príncipe
29
Patrick WILCKEN. Império à deriva. A corte portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821. Em especial o
capítulo oito, intitulado O arquivista e as inúmeras passagens sobre os sentimentos de Dona Carlota Joaquina
e de membros da nobreza quanto ao exílio no Brasil.
30
Maria de Lourdes Viana LYRA. A utopia do poderoso Império. Portugal e Brasil: bastidores da política.
1798-1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.

12
regente no Brasil tinham um preço muito alto. Se quisermos usar uma imagem esta, talvez,
não seja a de uma carapaça que sufoca a nação dos dois lados do Atlântico, mas a de um
poder que retira homens de seus campos e afazeres para o serviço da guerra, apropria-se do
fruto do trabalho e da riqueza dos particulares pelas numerosas e novas imposições 31, limita
o poder do pensamento e das consciências pela censura, aplica uma justiça cruel e marcada
por privilégios. Mas, então, a coroa ainda tinha legitimidade para dar cabo de tão
horrendos crimes. Legitimidade que perderá com a revolução constitucionalista do Porto.
Com esta mudam, mais uma vez, as rotas de peregrinação e as identidades locais que
vinham sendo forjadas desde muito, encontraram novas possibilidades de expressão em
especial com a implantação das Juntas de governo. O espaço da política foi redefinido, bem
como suas formas de expressão. De alguma maneira, em especial depois de abril de 1821, o
poder real lusitano já não era mais a referência determinante. As polarizações políticas
passaram a ser demarcadas pelas Cortes, em Lisboa, pela regência de D. Pedro, no Rio de
Janeiro e pela emergência dos interesses locais em luta pela tomada do poder nas Câmaras
municipais e nas Juntas de governo. Nestas últimas, davam expressão aos interesses que se
haviam constituído e enraizado nos séculos de colonização e, igualmente, nos treze anos de
ação da corte portuguesa sobre o espaço do Brasil.

31
Carta régia de 17 de outubro de 1812. Fixa as consignações mensais em dinheiro que as Capitanias da
Bahia, Pernambuco e Maranhão devem remeter ao Real Erário. Collecção das Leis do Brazil de 1812.
Pernambuco e Bahia deviam enviar mensalmente 35:000$000 e o Maranhão 25:000$000. Este é apenas um
exemplo, entre inúmeros outros da impositiva transferência de renda das províncias para a corte no Rio de
Janeiro.

13
Apêndice.

Intervenções da coroa no território. (1808-1821)32


Ceará Rio Grande do Paraíba Pernambuco Comarca das Alagoas.
Norte (Província a partir de
16 de setembro de
1817)
Criação Alvará de 27 de junho Alvará de 18 de Alvará de 15 de janeiro de 1810
de Comarca de 1816 março de 1818 cria a nova Comarca do Sertão
Divide a Comarca do criando a nova de Pernambuco.
Ceará e cria outra Comarca do Rio Alvará de 30 de maio de 1815,
com a denominação de Grande do Norte, cria uma nova Comarca e
Comarca do Crato do separando-a da Ouvidoria geral na cidade de
Ceará. Anexa ao lugar Paraíba. Olinda desmembrando os
de Juiz de Fora da vila termos de Olinda e das vilas de
de Fortaleza as vilas de Igarassú, Pao d’Alho e
Arouches, Messejana, Limoeiro, da Comarca de
Soure e Aquiraz. Pernambuco, e o termo de
Goiana da comarca da Paraíba,
criando os ofícios competentes,
e suprimindo o lugar de Juiz de
Fora em Olinda, mandando em
seu lugar eleger Juízes
Ordinários, para ficar somente o
lugar de Juiz de Fora de
Pernambuco na vila e Termo do
Recife.
Alvará de 3 de junho de 1820
criando a Comarca do Rio São
Francisco, desmembrada da do
Sertão de Pernambuco.
Criação de Alvará de 30 de agosto Alvará de 18 de Criação das vilas de Pilão Alvará de 5 de
Vilas. de 1814 erigindo em maio de 1815 Arcado e Flores, na ribeira do dezembro de 1815
vila a povoação da criando em vila a Pajeú. (Criadas pelo mesmo erigindo em vilas as
Barra do Jardim, com a povoação do Brejo alvará de 15.01. 1810 que criou povoações de Maceió
denominação de Vila de da Areia da a Comarca do Sertão de de Porto de Pedras. (É
Santo Antônio do Comarca da Pernambuco). o mesmo Alvará que
Jardim, desmembrando- Paraíba do Norte, Alvará de 27 de julho de 1811 criou o Juiz de Fora de
a do termo da vila do com a cria as vilas do Cabo de Santo Penedo).
Crato. denominação de Agostinho, de Santo Antão, do
Vila Real do Brejo Pau d’Alho e do Limoeiro.
da Areia.
Criação de Resolução de Consulta Freguesia de N. S. Criação da Freguesia de Água
Freguesias da Mesa de Consciência da Conceição de Preta, desmembrada da do
e Ordens, de 1 de abril Areia33. Una34, em 10 de novembro de
de 1813. Cria a 1809.
freguesia dos Milagres. 31 de julho de 1817. Erige a
Resolução de Consulta Freguesia do Poço da Panela.
da Mesa de Consciência
e Ordens, de 19 de
agosto de 1817.
Desmembra da
Freguesia de Aquiraz,
no bispado de
Pernambuco, e anexa à
de Montemór o Novo

32
Para este quadro a fonte principal, salvo outra indicação é a Collecção das leis do Brazil. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1889-1891. Deixamos de indicar cada volume para não sobrecarregar estas notas, mas o
leitor poderá facilmente encontrar o texto completo das referências a partir das datas das mesmas.
33
I. F. PINTO. Op. cit., v. 1, p.243.
34
Resolução de consulta da Mesa de Consciência e Ordens.

14
os povos das serras e
riachos de Baturité.
Resolução de Consulta
da Mesa de Consciência
e Ordens, de 19 de
agosto de 1817. Cria
uma freguesia na
povoação da ribeira de
Canindé da Capitania
do Ceará, sendo
desmembrada da
Freguesia da vila de
Fortaleza.
Provedoria Resolução de Consulta
de Defuntos da Mesa de Consciência
e Ausentes e Ordens, em 15 de
Capelas e julho de 1817. Cria na
Resíduos Comarca do Crato uma
Provedoria de Defuntos
e Ausentes Capelas e
Resíduos.
Juiz de Fora Alvará de 24 de junho Alvará de 29 de Alvará de 1º da agosto de 1808 Alvará de 5 de
do Cível, de 1810 cria o lugar de julho de 1813 cria cria Juiz de Fora do Cível, dezembro de 1815
Crime e Juiz de Fora da vila de Juiz de Fora do Crime e Órfãos da vila de criando na vila de
Órfãos. Fortaleza, comarca do Cível, Crime e Goiana. Penedo, Comarca das
Ceará. Órfãos na cidade Alagoas, um lugar de
de N. S. das Neves Juiz de Fora do Cível,
da Paraíba. Crime e Órfãos com o
mesmo Ordenado,
Aposentadoria e
Propinas, que vence o
Juiz de Fora da vila do
Recife.
Tribunal da Alvará de 60 de fevereiro de
Relação 1821 cria uma Relação na vila
do Recife35.
Junta da Manda executar a
Fazenda Carta Régia
criando a Junta da
Fazenda de Paraíba
Alfândega Criação da
de Inspeção Alfândega e
do Algodão Inspeção do
algodão em Natal.
03.02.1820.
Correio 1º de maio de 1812. 1821.Instalação de 1820. Criação de
Estabelecimento do correio entre a correio entre a
correio no Ceará36 Paraíba e o Rio Paraíba e
Decisão n.22. Guerra. Grande do Norte37, Pernambuco38
Aprova o criado em 6 de

35
O Tribunal da Relação de Pernambuco somente foi instalado em 13 de agosto de 1822, ainda na Regência
de D. Pedro e quando governava Pernambuco a Junta presidida por Gervásio Pires Ferreira, que não tardaria a
ser deposta por sua posição mais independente em relação ao Rio de Janeiro. José Ferraz Ribeiro do Valle.
Uma Corte de Justiça do Império. O Tribunal da Relação de Pernambuco. 2 ed. , Recife: Tribunal de Justiça
de Pernambuco, 2005, p. 59-64.
36
Criado por Manoel Ignácio de Sampaio, governador do Ceará (1811-1820), entre as principais vilas da
capitania. Em seu projeto, aprovado pela corte, Manoel Ignácio de Sampaio propunha que o correio fosse
estendido ao Piauí e Maranhão, para que pudessem enviar “os seus ofícios e mais cartas para a Corte, e outras
Capitanias do sul do Brasil”. Este correio devia ter conexões com a Bahia e com os Campos do Goitacazes e,
daí, com a corte, no Rio de Janeiro. Barão de Vasconcelos. Estabelecimento dos Correios no Ceará. Revista
do Instituto do Ceará, ano XXII, 1908, p. 297-298. Ver, também, Documentos para a História dos Correios
do Ceará. RIC, ano XI, 1897, p. 78-81, com o roteiro de cada uma das etapas e respectivas distâncias entre
Fortaleza e Oeiras, no Piauí.
37
I. F. PINTO. Op. cit., v. 2, p. 3.
38
I. F. PINTO. Op.cit., v. 1., p.349.

15
estabelecimento de abril de 1820.
Correios entre as
capitanias do
Maranhão, do Ceará e
da Bahia.
Autonomia 1818. Autonomia A antiga Comarca das
das da capitania do Alagoas passa a ser
capitanias RGN em relação a uma capitania
Pernambuco independente de
Pernambuco, em 16 de
setembro de 1817.
Jardim 1811. Instalação do Jardim
Botânico Botânico de Olinda39

39
Criado por carta régia de 19 novembro de 1798. F. A. PEREIRA DA COSTA. Anais Pernambucanos, 7, p.
36-41.

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18

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