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Nesta unidade didática você terá contato com um dos problemas fundamentais do
Cálculo: o problema de determinar a reta tangente a uma curva. Este problema, aparente
ingênuo, apresenta uma dificuldade intrínseca que resultou numa bela história que durou
cerca de dois milênios. Assim, como você já deve ter percebido, temos a difícil tarefa de
apresentá-la de forma breve. Apesar de seu contexto geométrico, pode-se afirmar – sem
medo de errar – que esse problema foi importante para o desenvolvimento da Ciência em
sentido amplo. O desenvolvimento do conceito de velocidade instantânea, por exemplo,
está associado à este magnífico problema geométrico.
Os gregos não conheciam muitas curvas além das secções cônicas (círculos,
parábolas, elipses e hipérboles). A quadratriz, a conchóide de Nicomedes, a Cissóide de
Diocles e a espiral de Arquimedes complementam a reduzida lista de curvas conhecidas
pelos gregos. No entanto, apenas esta última e as secções cônicas foram estudadas com
detalhes. Vejamos então alguns exemplos de como os gregos resolviam o problema das
tangentes.
No terceiro livro dos seus Elementos, Euclides define a tangente a uma curva como
sendo uma reta que “encontra o círculo em apenas um ponto”. Em seguida o grande
mestre prova (na proposição 16 do mesmo livro) que PT, uma reta passando por P sobre o
círculo de centro O, é uma reta tangente se OPT for um ângulo reto. A demonstração é
feita por absurdo. Tente fazer a seguinte atividade.
Se resolvermos uma reta com uma das extremidades fixas num movimento uniforme em um plano
até que ela retorne à posição inicial, e se, ao mesmo tempo em que resolvermos a reta, um ponto move-
se ao longo da reta num movimento uniforme, começando da extremidade fixa, o ponto descreverá uma
espiral no plano.
Assim, para determinar a tangente, era suficiente determinar o vetor velocidade, que
por sua vez era determinado pela regra do “paralelogramo”. Este método, com certeza,
fugiu aos padrões geométrico dos gregos. Aliás, foi essa reticência em relação ao uso de
interpretações dinâmicas no desenvolvimento da matemática, além, é claro, de uma noção
insatisfatória de tangente, que impossibilitou avanços significativos na resolução de
problemas de tangentes. Tal opinião é compartilhada por Boyer em seu texto “The History
of the Calculus and its Conceptual Development”. O autor ressalta ainda que para que
houvesse um avanço significativo no “método geométrico grego”, outros “avanços”, em
outras áreas do próprio conhecimento matemático precisariam ser efetivados:
desenvolvimento de uma álgebra abstrata simbólica mais elaborada e introdução na álgebra
e na geometria da noção de variação (variáveis e função). Segundo Boyer, o interesse dos
hindus e árabes pelo desenvolvimento algébrico, e dos filósofos escolásticos 2 pelos
1
Secções Cônicas é um grande tratado de “geometria analítica”. Com cerca de 400 proposições distribuídas
em seus oito livros, contém mais informações do que se ensina usualmente em uma disciplina de mesmo
nome num curso de graduação em Matemática.
2
Segundo José Ferrater Mora, em seu Dicionário de Filosofia, a escolástica é usualmente confundida com a
filosofia medieval. É importante que se diga que esta última contém muitos elementos que não estão na
primeira, entre eles as tendências místicas, que não podem ser identificadas precipidamente com a filosofia
escolástica. Podem, dessa forma, existir num mesmo autor “tendências místicas” e “tendências escolásticas”,
mas nenhuma delas se reduz à outra. Por outro lado, a escolástica persistiu depois da filosofia medieval, no
Renascimento, na época moderna e – sob a forma chamada “neo-escolástica” – no final da época moderna e
na idade contemporânea. Todavia, embora não se possa equiparar “filosofia medieval” e “filosofia
escolástica”, esta última constitui o ingrediente filosófico mais importante da idade média. O termo
“escolástica” provém do vocábulo scholasticus (“escolástico”), isto é, aquele que ensina em uma escola.
Mais especificamente, era chamado de scholasticus quem ensinava as artes liberais em uma escola monástica.
Depois, “escolástico” designou o mestre que seguia certas orientações filosóficas e adotava certos métodos
coerentes com elas.
problemas do contínuo e do movimento, são a base necessária para esse processo de
transformação no paradigma da matemática.
Os indivisíveis
Talvez numa outra edição desse texto, pudéssemos dar mais atenção às
contribuições dos filósofos escolásticos para o desenvolvimento da matemática. É inegável
(e pouco divulgada também) a contribuição que esta escola deu para o desenvolvimento da
Matemática. No entanto, temendo perdermos o foco da nossa questão central (o problema
das tangentes), optamos aqui por fazer uma síntese dessas contribuições.
A grande contribuição dessa escola foi, sem dúvida, a introdução e o
desenvolvimento de ferramentas que permitissem uma análise mais quantitativa dos
fenômenos físicos, com destaque para os fenômenos cinemáticos. Um notável exemplo
dessa contribuição foi o significativo avanço que se deu neste período para o
desenvolvimento inicial do conceito de derivada. É bem verdade que tal contribuição se
deu muito mais em termos “filosóficos” do que como “método matemático”, mas é neste
período da história da matemática que irá se admitir, pela primeira vez, e de forma
explícita, o conceito de variação.
Surge também com os escolásticos a noção de velocidade instantânea (a física
aristotélica só considerava a velocidade média), ainda que a esta não tenha sido dada uma
definição precisa 3. Um grande número de trabalhos sobre a noção intuitiva de velocidade
instantânea começa a ser discutido e apresentado em termos de “latitude das formas”, ou
melhor, de variabilidade de qualidades. A palavra “forma” aqui empregada está associada
à idéia de “intensidade”, e esta não é propriedade apenas da velocidade, mas pode estar
referida a outras grandezas como, por exemplo, aceleração, densidade etc. A latitude de
uma forma era a taxa de variação da forma, e a discussão se dava em termos do
crescimento (intensão) ou decrescimento (remissão) da forma, isto é, em termos das
alterações pelas quais a qualidade é adquirida ou perdida. É nesse contexto que o Cálculo
diferencial tem sua origem.
Nicolau de Oresme (1323-82) usa a idéia de sistemas de coordenadas em seu
trabalho (conhecido como “Doutrina de Configuração”) e considera que a velocidade
instantânea (intensão 4) e o tempo (extensão) caracterizam formas tais como movimento. A
quantidade de movimento é, então, a distância percorrida em um dado período de tempo.
Movimento uniforme, variado (não uniforme) e uniformemente variado (uniformemente
acelerado) eram todos distintos e representados pelos seguintes gráficos:
3
Podemos isentar os escolásticos desta responsabilidade pelo fato de não disporem de instrumentos
necessário para uma tal definição de velocidade. Note que nem mesmo Galileu e Newton, tempos depois,
realizaram tal tarefa de definir precisamente o conceito de velocidade instantânea.
4
Intensão - intensidade, aumento de tensão (Dicionário Aurélio, 1999).
velocidade (v)
velocidade
velocidade
distância distância distância
Movimento distância
uniforme
tempo tempo tempo
s vt vt
s s
u v .t
2 2
vt
s
2
É inegável a contribuição dos escolásticos aos geômetras do século XVII. Além
dos trabalhos de Nicolau de Oresme que certamente influenciaram os trabalhos de Galileu
(1564-1642) e a Geometria de Descartes (1596-1650), pode-se perceber ainda a
importância dos trabalhos de outro grande filósofo da época: Richard Suiseth (Calculator).
Os trabalhos deste último influenciaram as obras do próprio Galileu, de Cardano (1501-76),
de Newton (1642-1727), e de Leibniz (1646-1716). As palavras “fluxão” e “fluentes” 5,
usadas por Newton em seu cálculo fluxional, também foram usadas exaustivas vezes por
Calculator.
Para demonstrar os seus resultados, os escolásticos recuperaram uma ferramenta já
conhecida dos matemáticos gregos: os indivisíveis. Bonaventura Cavalieri (1578-1647),
aluno de Galileu, retoma os indivisíveis num contexto essencialmente geométrico.
Cavalieri, em seu Geometria indivisibilibus continuorum nova quadam ratione promota
(1635), transformou o uso de reta e superfície "indivisíveis" num conjunto poderoso de
técnicas para comparar áreas e volumes. Tais resultados ficaram consagrados na literatura
atual pelo nome de “princípio de Cavalieri”. Para Cavalieri, um plano era constituído de
um número infinito de retas paralelas eqüidistantes, e um sólido de um número infinito de
planos paralelos. Uma reta (ou plano) chamada “regula” move-se paralelamente a si
própria, gerando interseções (retas ou planos) em cada uma das figuras (plano ou sólido),
até ela coincidir com suas bases. Estas interseções das figuras com a “regula” (que, em
verdade, são segmentos de reta ou seções planas) constituem os elementos, ou indivisíveis,
que compõem a totalidade das figuras.
5
“Fluentes” significa quantidades que fluem, ou melhor, que variam. É o que Leibniz denominou por
variável. E “fluxão” é tão somente a velocidade com que as quantidades “fluentes” variam.
Evangelista Torricelli (1608-47), também aluno de Galileu, percebeu de forma mais
completa as vantagens e desvantagens dos métodos de indivisíveis. Ao desenvolver a
generalização de um resultado de Cavalieri, Torricelli fornece significativas contribuições
ao desenvolvimento do cálculo diferencial. Algumas interpretações da sua demonstração
acerca desse resultado sugerem que Torricelli considerou a tangente a uma curva C num
ponto P como sendo determinada pelo movimento de uma secante PD - D outro ponto da
curva – quando fazemos D se aproximar do ponto de tangência P.
Boyer (1949) assegura, no entanto, que “não há nada na linguagem de Torricelli
para justificar tal conclusão”; muito pelo contrário, o conceito de tangente apresentado por
Torricelli é baseado na definição estática dos antigos, segundo a qual, esta “é uma linha que
toca a curva em apenas um ponto”. Argumenta o historiador que a maior contribuição do
matemático italiano foi o uso de uma concepção dinâmica de tangentes, baseada no uso de
“paralelogramos de velocidades virtuais”. Torricelli também aplicou o seu método das
velocidades em espirais, as quais denominou de “espirais geométricas” para distingui-las
das “espirais aritméticas” de Arquimedes. De certo modo, voltamos a Arquimedes!
Depois de Simon Stevin (1548-1620) e Luca Valério (1552-1618), que foram
tradutores e profundos estudiosos das obras de Arquimedes, outra mente brilhante se presta
a este maravilhoso serviço de resgatar e desenvolver no século XVII a obra do grande sábio
grego: Pierre de Fermat (1601-65).
Fermat tinha um especial interesse na filologia grega e latina, o que possibilitou-lhe
uma leitura e estudo cuidadoso de obras clássicas da matemática, com destaque para os
trabalhos de Apolônio, Diofanto e, claro, o de Arquimedes. A influência deste último foi,
sem dúvida, tão fundamental para Fermat como o foi para os demais matemáticos da época,
mas foram os trabalhos dos dois primeiros que forneceram os elementos essenciais do
tratamento analítico de seu Cálculo. Cabe ressaltar que os trabalhos de Apolônio e de
Diofanto influenciaram também os trabalhos de dois outros grandes matemáticos franceses:
François Viète (1540-1603) e René Descartes (1596-1650).
Viète, por exemplo, notou a grande força que tinha a representação e o raciocínio
algébrico na solução de problemas geométricos. Ao propor, de modo inverso aos gregos, a
redução dos problemas geométricos ao campo algébrico, Viète antecipava com seus
trabalhos aquilo que hoje se constitui como geometria analítica. Mas foi o famoso trabalho
Géométrie, de 1637, de Descartes, que consolidou definitivamente a geometria analítica
como um dos mais novos e poderosos instrumentos da matemática. Fermat, que também
era familiar aos trabalhos de Viète, desenvolveu, paralelamente a Descartes, a sua
geometria analítica. Assim, a tão propalada rivalidade acadêmica entre Descartes e Fermat
não vai se efetivar propriamente no terreno da geometria analítica, mas no uso desta para o
desenvolvimento de soluções para os problemas do Cálculo – em especial para o problema
das tangentes.
Entretanto, antes de analisarmos as propostas de cada um dos grandes mestres
franceses para o problema das tangentes, convém ressaltar que numa coisa eles
concordavam: os indivisíveis não eram instrumentos confiáveis. Afinal, como podemos
somar uma infinidade de “zeros” e encontrar uma “quantidade finita” diferente de zero?
De fato, se uma superfície é uma soma infinita de linhas e estas, por sua vez, não possuem
dimensão de área – quer dizer, possuem área nula – então a área da superfície seria uma
soma infinita de “zeros”.
Descartes tinha familiaridade com a visão dos infinitesimais dos antigos, a dos
medievais (escolásticos) e a de seus contemporâneos. Entretanto, depois da publicação de
seu famoso Géometrie, em 1637, o interesse de Descartes pelos métodos infinitesimais do
Cálculo tende a diminuir e este se torna mais fiel à geometria analítica, ou melhor, ao seu
“método algébrico”. Argumentava que “somente através da álgebra é que podemos
alcançar a precisão”. O custo dessa fidelidade à precisão algébrica foi, sem dúvida, a
limitação dos métodos cartesianos para a solução de problemas mais complexos do
Cálculo, em particular, os de tangentes.
Antes de passarmos a descrição do método algébrico de Descartes precisamos nos
familiarizar com alguns conceitos muito utilizados na época. Observe, por exemplo, a
figura a seguir, em que aparece uma curva C, a reta t tangente à curva C no ponto P, de
coordenadas (x,y), e a reta s normal à curva C no ponto P.
y
C t
s
y P(x,y)
y C
y = f(x)
P
r
f(x)
x v x
v–x
[f(x)]2 + (x - v)2 - r2 = x e c x
2 i
i (2)
kx + (x - v)2 = r2 (3)
Esta é uma equação do segundo grau, logo o polinômio do lado direito da equação (2)
deve ser de grau dois. Assim,
t
n
P
o x
subtangente
subnormal
O método desenvolvido por Fermat, muito mais poderoso, se insere em um outro contexto:
o Cálculo Infinitesimal. Analisaremos tal método na próxima seção.
B
O
G
y
E D I C
BC CE
2 2
OI IE
2 2
(1)
CD k CD BC
BC
2 2
2 2
, (2)
DI k DI GI OI
BC BC
2 2
GI OI
2 2
CD BC
2
2
(3)
DI OI
CD CE
2
2 2 2
(4)
DI OI IE DI IE
x
2
(6)
x 2
Note que, uma vez determinado o valor de τ, a inclinação da fica determinada pela
expressão y/τ. Desenvolvendo a equação (6), obtemos:
x 2 2 x x 2 x 2 2
2 x x 2 2
2 x x 2
2 x 2 2x
y kx k
2x 2 x
A grande vantagem do método de Fermat é que ele pode ser estendido a vários
problemas. Note que em seu método de tangentes, ele usa a idéia de infinitésimo ( que foi
escolhido bem pequeno e desprezado no final do procedimento). Fermat também usou as
quantidades infinitesimais em métodos de quadratura e em problemas de otimização.
Segundo Boyer (1949), tais versatilidade e habilidade demonstradas pelo matemático
francês com respeito aos problemas básicos do Cálculo Diferencial e Integral, sua visão e
capacidade de generalização, poderiam, com efeito, ter antecipado a Fermat o título
exclusivo de “inventor” do Cálculo, caso não fosse a sua surpreendente indiferença e
ignorância em relação à questão fundamental sobre a relação inversa entre as operações de
integração e diferenciação. Mas por falar em “invenção do Cálculo”, vamos aos seus
“inventores” 7.
7
Newton (1642-1727) e G. W. Leibniz (1646-1716) são agraciados tradicionalmente por historiadores da
matemática com os títulos de “inventores” do Cálculo Diferencial e Integral. A razão para que tenham
recebido este título deve-se principalmente ao fato de que ambos desenvolveram procedimentos algorítmicos
que deram origem posteriormente aos conceitos de derivada e integral, além, é claro, de usarem com
regularidade o fato dessas operações serem inversas uma da outra para estabelecer os seus cálculos
diferenciais e integrais. No entanto, podemos assegurar que nenhuma “revolução” no pensamento
matemático da época foi efetuada pelos dois cientistas, mas, que, muito pelo contrário, os seus trabalhos são
uma contribuição relevante para os anseios da ciência normal da época – o que não tira, de modo algum, o
mérito de suas obras.
8
Ainda na mesma carta, Newton reconhece que o seu método é análogo às regras de diferenciação de Sluze e
de Hudde, porém observa que o seu procedimento é mais geral que os dos dois matemáticos, que só
consideravam funções algébricas racionais – assim como fizera Fermat.
9
(apud Baron & Bos, 1985, v.3, p.26-27)
Falta agora, como ilustração dessa arte analítica, explicitarmos alguns problemas típicos e tão
especiais como a natureza de curvas que os representam. Mas sobretudo eu observaria que as
dificuldades dessa espécie podem ser todas reduzidas a somente dois problemas que proporei com vista
ao espaço percorrido por qualquer movimento local acelerado ou retardado:
1. Dado o comprimento do espaço percorrido continuamente (quer dizer, em cada [instante do]
tempo), ache a velocidade do movimento num instante qualquer.
2. Dada continuamente a velocidade do movimento, ache o comprimento do espaço percorrido num
instante qualquer.
|| || | |
x, y x, y x, y x, y x, y , ...
10
Isaac Barrow (1630-77) – professor de Newton.
11
Este procedimento didático possibilitará a você comparar mais adiante os métodos que aqui serão
apresentados de forma mais isenta.
ponto da reta tangente – veja figura a seguir). No entanto, para “o” infinitamente pequeno
podemos assumir como se fosse, uma vez que a tangente e a curva se encontram muito
próximas.
Q
P
y y + y o
E D x x + x o
y 2 2 yyo y o 2 kx kxo 0
2
(2)
2 yyo y o 2 kxo 0
2
(3)
Dividindo por “o” os termos da equação anterior, encontramos aquilo que Newton
denominou de primeira razão:
2 yy y o kx 0
2
(4)
Para obtermos a inclinação da tangente basta observarmos que esta fica determinada
pela inclinação do vetor velocidade (que é tangente à curva) no ponto P. E a inclinação do
vetor velocidade fica determinada, por sua vez, pela razão entre suas coordenadas. Isto
posto, temos que a inclinação m da tangente é dada pela seguinte expressão:
y
m , se x ≠ 0 (note ainda que, se x = 0 e y ≠ 0, a reta tangente seria vertical)
x
Assim, dividindo a equação (5) por x ≠ 0, obtemos a inclinação procurada:
y y k
2y k 0 m
x x 2 y
O que você achou? Mais complicado que o método de Descartes? Mas uma coisa é
certa: o método de Newton é muito mais geral que o de Descartes. Resolva, por exemplo, o
problema do folium de Descartes usando tal método. Você pode fazer muita conta, é
verdade, mas, com certeza, resolverá o problema. experimente
F ( x xo, y yo) F ( x, y)
última razão = lim ,
o0 o
F ( x xo, y yo) F ( x, y)
em que = primeira razão e “ o 0 ” significa “desprezar a
o
quantidade infinitamente pequena o”.
12
Opinião expressa por Boyer (1949, p.202) em seu texto.
1 1 1
expressão 4.1 ... . Esta forte tendência para a aritmética foi, aliás, uma
3 5 7
marca registrada dos trabalhos de Leibniz.
Leibniz percebeu que o problema de quadratura equivale a uma "soma de
ordenadas eqüidistantes", ou retângulos infinitamente estreitos, para intervalos
infinitesimais nas abscissas, e que a declividade da tangente dependia da razão das
“diferenças consecutivas" das ordenadas e abscissas, quando estas se tornam infinitamente
pequenas. Assim, "se ela (a unidade diferencial "1") fosse escolhida infinitamente
pequena, as aproximações (da área e do declive da tangente) tornar-se-iam exatas" .
dy
y5
y3 y4
y1 y2
1 1 1 1 1 1 1
13
Por esta razão, o historiador Cajori chamou Leibniz de "o construtor mestre das notações matemáticas".
x + dx = x
Ou seja, as diferenciais podem ser comparadas entre si, mas, com respeito às
quantidades finitas ordinárias, as diferenciais podem ser desprezadas. Era assim,
desprezando as quantidades infinitesimais, que os matemáticos procediam, em geral, na
etapa final de seus métodos infinitesimais (lembre-se de Fermat e Newton, por exemplo).
Leibniz observou ainda que o produto de diferenciais, ou diferenciais de segunda
ordem, podiam ser desprezadas com respeito às próprias diferenciais. Assim:
1. da = 0, se a é constante;
2. d(u + v) = du + dv;
3. d(uv) = udv + vdu;
4. d(u/v) = (vdu – udv)/v2;
5. d(un) = nun-1du (também se n for uma fração ou negativo).
F
E
F
E dy Δy
C D
y C dx D
O A x B x+dx
y
14
Se já conhecêssemos a subtangente, a inclinação da reta já estaria determinada: ela seria igual a y/τ.
Atividade 6: Determine, usando o Cálculo Diferencial de Leibniz, a equação da
reta tangente nos seguintes casos:
a) F(x,y) = y - kx3 = 0, k>0
b) F(x,y) = y3 + x3 – 2xy = 0
Se a função y = f(x) for contínua entre dois limites dados da variável x, então, para qualquer valor
de x dentro dos limites, um aumento infinitamente pequeno da variável produzirá um aumento
infinitamente pequeno da própria função. Portanto, se dissermos que x i , os dois termos da razão
das diferenças:
y f ( x i) f ( x)
x i
17
(apud Boyer, 1949, p.247)
18
Foi Herman Hankel quem descobriu e divulgou inicialmente os trabalhos de Bolzano.
19
D’Alembert foi, na verdade, o primeiro matemático a dar uma definição para esta operação: ele chamou
uma quantidade de limite da outra se a segunda pode aproximar-se da primeira indefinidamente, ou então, que
a diferença entre elas é absolutamente indeterminável.
20
(Cauchy, Resume des leçons données a l’École Polytechnique sur le Calcul Infinitesimal,
apud Baron & Bos, 1985, v.4, p.48 e 49)
serão quantidades infinitamente pequenas. Mas, enquanto que esses dois termos aproximar-se-ão
indefinidamente de zero, sua razão poderá convergir para algum outro limite positivo ou negativo. Esse
limite, quando existe, tem um valor definido para cada valor específico de x, mas varia com x. Portanto,
se, por exemplo, tomarmos f(x) = xm , onde m é um número inteiro, a razão entre as diferenças
infinitamente pequenas será:
( x i) m x m m(m 1) m 2
mx m 1 x i ... i m 1
i 1.2
e seu limite será a quantidade mx m 1 , que é uma nova função da variável x. Isso será verdadeiro em
geral, mas a forma da nova função que serve como limite da razão
f ( x i) f ( x) dependerá da
i
forma da função inicial y = f(x). Indicamos a dependência chamando essa nova função de "função
derivada", designando-a pelo uso de um apóstrofo na notação: y' ou f'(x).
Assim, para finalizar esta Unidade Didática, vejamos como o Cálculo Moderno
resolve o problema da tangente. Para isso, considere a parábola y kx , sendo k > 0.
Q
P
f(x + i)
f(x)
x x+i
f ( x i ) f ( x) k x i kx kx ki kx
m f ' ( x) lim lim lim
i 0 i i 0 i
i 0 i k x i kx
k k
lim
i 0
k x i kx 2 kx
.