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vítima de Trauma
Com base no ATLS 10ª edição
ISBN 978-65-89822-68-4
Co-autores:
Revisores técnicos:
Revisão Final:
Pensando nisso, fizemos esse e-book para ser seu aliado seja
naquela revisão para prova ou para dar aquela consultada no
plantão sobre o manejo inicial do paciente vítima de trauma!
Bons estudos!
SUMÁRIO
Capítulo 1:
Atendimento Inicial ao Politraumatizado 01
Capítulo 2:
Traumatismo Cranioencefálico 08
Capítulo 3:
Trauma Torácico 11
Capítulo 4:
Trauma Abdominal 32
Capítulo 5:
Queimaduras 37
Caítulo 6:
Trauma de Extremidades 43
Capítulo 7:
Traumas em Grupos Vulneráveis (Pediátrico, 53
Geriátricoe em Gestantes)
CAPÍTULO 1:
Atendimento inicial ao
politraumatizado
Capítulo 1: Atendimento inicial ao politraumatizado
Introdução
- Preparação
- Triagem
- Avaliação primária (ABCDE)
- Reanimação
- Medidas auxiliares à avaliação primária e reanimação
- Considerar a necessidade de transferência do doente
- Avaliação secundária (da cabeça aos pés) e história
- Medidas auxiliares à avaliação secundária
- Reavaliação e monitorização contínuas após reanimação
- Tratamento definitivo
A abordagem primária deve ser repetida com frequência para identificar qualquer alter-
ação do estado clínico do doente que indique a necessidade de intervenção adicional, e
na prática clínica, essa sequência de eventos ocorre em paralelo ou simultaneamente.
Fase Hospitalar: É essencial que haja planejamento antecipado à chegada do doente poli-
traumatizado, sendo importante as disponibilidades de: área de reanimação, equipamen-
tos para abordagem de vias aéreas, soluções cristalóides aquecidas e equipamentos de
monitorização. A equipe de atendimento em contato com o doente deve estar protegida
contra doenças transmissíveis utilizando máscaras, proteção de olhos, avental imper-
meável, perneiras e luvas.
A: Airway maintenance with restriction of cervical spine (vias aéreas com proteção da
coluna cervical);
A via aérea deve ser avaliada em primeiro lugar para assegurar sua permeabilidade. Identi-
fica-se sinais de obstrução por meio de aspiração e inspeção para a presença de corpos
estranhos e fraturas; as manobras para estabelecer permeabilidade devem ser feitas com
proteção da coluna cervical, sendo a manobra de elevação do mento (chin lift) ou de
tração da mandíbula (jaw thrust). Se o doente se comunica verbalmente, é pouco provável
que haja obstrução que represente risco imediato, ainda que a via aérea deva ser avaliada
constantemente em curtos intervalos de tempo. Situações que exigem via aérea definitiva
são o trauma cranioencefálico (TCE) grave, rebaixamento do nível de consciência ou escala
de coma de Glasgow (ECG) igual ou menor que 8 e respostas motoras descoordenadas
(não obrigatória, mas sugere fortemente).
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Durante a avaliação deve-se manter durante todo tempo a estabilidade da coluna cervical
(cabeça e pescoço não devem ser hiperestendidos, hiperfletido ou rodados) e deve-se
presumir a perda de estabilidade da coluna cervical (com base na história do trauma). É
importante ressaltar que a proteção da medula deve ser feita e mantida com uso de dis-
positivos apropriados de imobilização e presume-se lesão da coluna em todo paciente
com traumatismos multissistêmicos, especialmente se apresentar nível de consciência
alterado ou traumatismo fechado acima da clavícula. Também é importante considerar a
possibilidade de comprometimento progressivo da permeabilidade da via aérea, requer-
endo reavaliação frequente.
B: Ventilação e Respiração
A permeabilidade da via aérea por si só não garante ventilação adequada, sendo a troca
gasosa adequada necessária para que ocorra oxigenação tecidual e eliminação de gás car-
bônico. Pescoço e tórax devem ser expostos para avaliação distensão de veias jugulares,
posição da traqueia e movimentação da parede torácica. Realiza-se ausculta pulmonar
para confirmar fluxo de ar nos pulmões, inspeção visual e palpação para detectar lesões da
parede do tórax capazes de comprometer a ventilação, percussão visando identificar anor-
malidades (atentar-se para o fato de que o ambiente barulhento pode levar a resultados
não confiáveis).
Algumas notáveis lesões que prejudicam gravemente a ventilação em curto prazo con-
sistem no: pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, pneumotórax aberto e lesões
traqueobrônquicas. Tais lesões devem ser diagnosticadas clinicamente, sem uso de
exames complementares, ainda na avaliação primária e resolvidas ainda no "B", antes de
passar para o "C". Ressalta-se que o pneumotórax simples pode evoluir para um pneumo-
tórax hipertensivo quando um paciente é entubado e a pressão positiva da ventilação é
provida antes da descompressão do pneumotórax.
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tórax hipertensivo como a causa do choque em curso, há de se considerar que a hipo-
tensão ocorre devido a perda de sangue (até que se prove o contrário). Os elementos
semiológicos que melhor avaliam e oferecem informações clínicas importantes em menor
tempo são: nível de consciência, perfusão cutânea e pulso.
No que tange aos exames de imagem, pode ser utilizado (caso tenha), a Avaliação Ultras-
sonográfica Direcionada ao Trauma (E-FAST), exame este que possui alta sensibilidade
para a detecção de líquido livre em cavidades. Neste exame, devem ser obtidas imagens
do saco pericárdico (para averiguar sangramento torácico), espaço esplenorrenal / hepa-
torrenal (para averiguar sangramento abdominal) e do espaço pélvico (i.e., janela
suprapúbica; para averiguar sangramento pélvico). Este exame está indicado no paciente
com trauma abdominal ou torácico contuso, especialmente se houver instabilidade
hemodinâmica, ainda no "C". Se houver evidência de grande quantidade de líquido livre
em cavidade, com paciente instável, assume-se que a instabilidade hemodinâmica é cau-
sada por sangramento intracavitário, e está indicada cirurgia.
Em casos de pacientes instáveis que não forem resolvidos com a infusão de cristalóides, é
recomendada a hemotransfusão, seguindo a dita proporção “1:1:1”, ou seja, 1 bolsa de con-
centrado de hemácias, para 1 bolsa de plaquetas, para 1 bolsa de plasma. É importante
salientar que todos os fluidos deverão ser pré-aquecidos antes de serem administrados,
visando se evitar a tríade letal: hipotermia, coagulopatia e acidose metabólica. A trans-
fusão de mais de 10 concentrados de hemácias nas primeiras 24h, associados à transfusão
de plaquetas e plasma é conhecida como Protocolo de Transfusão Maciça, o qual é condu-
ta de exceção sendo reservado para politraumatizados muito graves com choque hemor-
rágico grau IV.
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D: Disability (disfunção neurológica)
4 Espontânea
3 Estímulo Verbal
Abertura Ocular
2 À pressão
1 Ausente
5 Orientado
4 Confuso
1 Ausente
6 Obedece ao comando
5 Localiza a dor
1 Ausente
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E: Exposição e Controle do Ambiente
Deve-se despir totalmente o paciente, cortando as roupas para facilitar o exame e aval-
iação adequados. Em seguida, ele deve ser coberto com cobertores aquecidos ou disposi-
tivo de aquecimento externo para prevenção de hipotermia. Ademais, os fluidos intrave-
nosos devem ser aquecidos antes da infusão (uso de aquecedor de fluidos alto fluxo) e o
ambiente deve ser mantido aquecido para evitar perda de calor corporal. Essas medidas
visam evitar a hipotermia, que consiste em complicação letal no paciente politraumatizado
pois desencadeia coagulopatia e vasoconstrição.
Referências
COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES; Advanced Trauma Life Support (ATLS), 10ª Ed 2018.
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CAPÍTULO 2:
Trauma Cranioencefálico
(TCE)
Capítulo 2: Trauma Cranioencefálico (TCE)
Introdução
O trauma cranioencefálico (TCE) ocupa uma das primeiras posições no ranking de lesões
mais frequentes nas emergências ao redor do mundo, além de ser uma das principais
causas de morte pré-hospitalar relacionada ao trauma. Sendo assim, o TCE precisa de um
atendimento rápido e eficiente com o objetivo de prevenir uma lesão cerebral secundária.
A depender de como ocorreu o acidente e o tipo de trauma sofrido, existem inúmeros
desfechos possíveis como: hemorragias meníngeas, lesões com perda de funções executi-
vas e/ou motoras, choque hemorrágico, entre outros. O fornecimento de oxigênio ade-
quado e a manutenção da PA são fatores essenciais para garantir uma boa irrigação cere-
bral, evidenciando, desta forma, que o paciente deve ser encaminhado para uma unidade
preparada para realizar intervenções neurocirúrgicas definitivas e estabilização adequada
do paciente, com o objetivo de frear o desenvolvimento da lesão.
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Tabela 1. Escala de Coma de Glasgow.
Caso ECG for entre 13 ou 14, o trauma for grave e apresentar alguma limitação neurológica
focal, perda de consciência maior que 5 minutos, amnésia retrógrada > 30 minutos ou
sintomas como cefaleia grave, recomenda-se realizar TC. Em casos de TCE moderado
(ECG entre 9 e 12) e TCE grave (ECG menor ou igual a 8) também se indica a realização.
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Tabela. Indicação de Tomografia de Crânio no TCE Leve
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Autores, revisores e orientadores:
Referências
American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 9a ed. Chicago - IL: 2012.
American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed. Chicago - IL: 2018.
SANARFLIX. Super Material Trauma Cranioencefálico. Disponível em: https://aluno.sanarflix.com.br/#/por-
t a l / s a l a - a u -
la/5daab8754340d20011fb2951/5daab78e132ed4001119eabb/documento/5e6fa50a480598001c75176e.
PHTLS – Pre Hospital Life Support – 8a Ed 2016 - Guimarães, Hélio Penna; Borges, Luiz Alexandre Alegretti;
Assunção, Murilo Santucci Cesar; Reis, Hélder Jose Lima. Manual de Medicina de Emergência. 1a Ed, 2016,
Editora Atheneu.
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CAPÍTULO 3:
Trauma Torácico
Capítulo 3: Trauma Torácico
Introdução
As lesões torácicas podem ser divididas em Condições com Risco Imediato à Vida e
Lesões com Potencial Risco à Vida. As Condições com Risco Imediato à Vida são obser-
vadas durante a avaliação primária e apresentam maior taxa de letalidade e precisam de
um tempo de resposta (identificação e conduta) mais rápido, pois colocam o paciente em
risco iminente de morte. São elas: pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto,
hemotórax maciço, lesão na árvore traqueobrônquica e tamponamento cardíaco. Já as
Lesões com Potencial Risco à Vida, podem ser tratadas tanto na avaliação primária como
na secundária, são elas: pneumotórax simples, hemotórax simples, contusão cardíaca, rup-
tura traumática de aorta, lesão diafragmática, lesão esofágica e tórax instável com con-
tusão pulmonar.
Seguindo o protocolo atual do ATLS (“Advanced Trauma Life Suport”) que, traduzindo
para a língua portuguesa, significa Suporte Avançado de Vida no Trauma. Esse livro pre-
coniza intensamente o chamado Protocolo ABCDE do trauma que será melhor caracteri-
zado mais a frente.
Por mais que o Trauma Torácico tenha uma grande prevalência de disfunções que são
envolvidas pela letra A e B, ele pode ser acometido por todas as áreas do protocolo
ABCDE, sendo cabível a aplicação dele todo na região do tórax.
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Realmente, o trauma torácico costuma causar 3 grandes problemas: hipóxia, hipercapnia e
acidose. Esses são geralmente causados quando há dano pulmonar em que por alterações
de pressão (pneumotórax e trauma penetrante), contusão (hemotórax e tórax instável) e
colabamento alveolar. Geralmente, a hipóxia é um dos principais problemas no trauma
torácico. Já a acidose e a hipercapnia vem como consequência de alguma alteração que
leva à hipóxia.
Por mais que todo o protocolo seja essencialmente seguido durante o trauma torácico, o
grande enfoque deste capítulo será na letra B. A respiração do paciente, como já dito ante-
riormente, terá uma tendência à hipóxia e, na maioria dos casos, isso poderá ser soluciona-
do com um exame físico bem apurado.
O próximo passo a ser seguido é a palpação do tórax. Nesse momento, fraturas internas
das costelas e esterno poderão ser identificadas. Outros sinais à palpação são: o enfisema
subcutâneo e a expansibilidade torácica. Nesse momento, poderá ser feita a técnica per-
cussiva, onde se torna fácil identificar sons timpânicos em casos de pneumotórax, por
exemplo. Sons maciços também podem ser achados, indicando a presença de líquidos no
meio intratorácico, tais como derrame pleural, sangramento extrapulmonar e empiemas.
O diagnóstico do tipo de lesão intrapulmonar que é obtido pela palpação pode ser ainda
mais refinado com o auxílio da ausculta pulmonar. Isso dirá com mais precisão se há líqui-
dos acumulados no meio intra-alveolar, extra-alveolar ou se há colabamento dos mesmos.
Para aumentar o ganho de tempo, a ausculta pode ser aproveitada para analisar os focos
cardíacos e iniciar a identificação dos problemas da fase C do protocolo ABCDE.
Esta condição ocorre, na maioria das vezes, 2,5 cm acima da região da carina. Normal-
mente as pessoas que sofrem essa lesão vão a óbito no local do trauma. As que conseg-
uem sobreviver até a chegada ao hospital possuem um mau prognóstico por desenvolvi-
mento de lesões subjacentes.
As formas mais comuns de lesão desta área são por desacelerações seguidas por con-
tusão. Dessa forma, partes fixas, como as vias aéreas, encontram-se com partes intratorá-
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Quadro Clínico
Diagnóstico
Conduta
Como visto anteriormente, esse tipo de lesão gera um vazamento de ar muito intenso e
prejudica a ventilação do paciente. Se durante a broncoscopia for identificado essa lesão,
o paciente deverá ser encaminhado urgentemente para a cirurgia. Ainda, como medida de
suporte, deverá ser realizada a colocação de uma via aérea definitiva e os tubos torácicos
com selo d’água para drenagem.
Como a intubação é um dos grandes métodos de escolha pode se tornar um fator prejudi-
cial para esse caso, deve-se optar pela guia desse procedimento com o auxílio da fibra
óptica, evitando piora das lesões e seleção dos pulmões.
Pneumotórax Simples
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Diagnóstico
Conduta
Qualquer pneumotórax é mais bem tratado com um dreno torácico colocado no quinto
espaço intercostal, imediatamente anterior à linha axilar média. A observação e aspiração
de um pequeno pneumotórax assintomático podem ser apropriadas, mas um médico
qualificado deve tomar esta decisão de tratamento. Depois de inserir um dreno torácico e
conectá-lo a um aparelho selador subaquático com ou sem sucção, um exame de
radiografia de tórax é feito para confirmar a colocação adequada e a reexpansão. Lem-
bre-se, ainda, que não deve ser submetido à anestesia geral ou receber ventilação com
pressão positiva sem a inserção de um dreno torácico.
Pneumotórax Aberto
Quadro Clínico
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Conduta
Este tipo de fixação é feito em três pontos, de forma que um mecanismo de válvula seja
instalado, fazendo com que o ar saia quando o paciente expira, porém não entre nova-
mente na cavidade durante a inspiração. Após a fixação do curativo, colocar um dreno
torácico distante da ferida o mais rápido possível e, por fim, o fechamento cirúrgico defini-
tivo subsequente da ferida é frequentemente necessário.
Pneumotórax Hipertensivo
Quadro Clínico
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Diagnóstico
Conduta
Hemotórax
Diagnóstico
Neste tipo de lesão é necessário expor o tórax e as áreas cervicais e observar o movimento
da parede torácica. Além disso, é preciso procurar por qualquer lesão penetrante da
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da parede torácica, incluindo a porção posterior do tórax. Ademais, é necessário comparar
os sons respiratórios em ambos os hemitórax. Normalmente, macicez à percussão é
observado no lado acometido.
A radiografia de tórax com o paciente em ortostase pode ajudar no diagnóstico, pois uma
pequena quantidade de sangue será identificada como uma opacidade homogênea no
lado afetado. Um hemotórax agudo grande o suficiente para aparecer em uma radiografia
de tórax pode ser tratado com um dreno torácico French 28-32. O dreno torácico evacua o
sangue, reduz o risco de hemotórax coagulado e permite o monitoramento contínuo da
perda de sangue. A evacuação de sangue e fluidos também permite que os médicos ava-
liem mais completamente o paciente quanto a possíveis lesões diafragmáticas.
Conduta
Hemotórax Maciço
É mais comumente causada por uma ferida penetrante que rompe os vasos sistêmicos ou
hilares, embora um hemotórax maciço também possa resultar de trauma contuso.
Quadro Clínico
Em pacientes com hemotórax maciço, as veias do pescoço podem estar achatadas devido
à hipovolemia grave ou podem estar distendidas se houver pneumotórax hipertensivo
associado. Raramente, os efeitos mecânicos do sangue intratorácico maciço deslocam o
mediastino o suficiente para causar dilatação das veias do pescoço. Um hemotórax maciço
é sugerido quando o choque está associado à ausência de sons respiratórios ou embota-
mento à percussão em um lado do tórax.
Conduta
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restauração rápida do volume continua conforme a descompressão da cavidade torácica é
concluída. O retorno imediato de 1500 mL ou mais de sangue geralmente indica a necessi-
dade de toracotomia urgente.
Os pacientes que apresentam uma produção inicial de menos de 1.500 mL de fluido, mas
continuam a sangrar, também podem precisar de toracotomia. Esta decisão é baseada na
taxa de perda contínua de sangue (200 mL/h por 2 a 4 horas), bem como no estado
fisiológico do paciente e se o tórax está completamente sem sangue. Novamente, a
necessidade persistente de transfusão de sangue é uma indicação para a toracotomia. Du-
rante a ressuscitação do paciente, o volume de sangue inicialmente drenado do dreno
torácico e a taxa de perda contínua de sangue devem ser considerados na reanimação
necessária. A cor do sangue (indicando uma fonte arterial ou venosa) é um indicador pobre
da necessidade de toracotomia.
Tabela 01. Tabela demonstrando a diferença entre as características do hemotórax maciço e o pneumotórax
hipertensivo. FONTE: ATLS (2018), adaptado pelos próprios autores, 2021.
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Tamponamento Cardíaco
Quadro Clínico
A tríade clínica clássica desta enfermidade, conhecida como Tríade de Beck, consiste em
abafamento de bulhas cardíacas (sons cardíacos), hipotensão e distensão de veias,
porém estes achados nem sempre são encontrados. O abafamento de bulhas é, muitas
vezes, difícil de se avaliar na sala de reanimação devido aos ruídos do local e a turgência
jugular pode estar ausente devido a hipovolemia do paciente.
Diagnóstico
Outros métodos diagnósticos podem ser utilizados, como ecocardiograma e/ou janela
pericárdica, que pode ser particularmente útil quando FAST é indisponível ou equívoco.
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Conduta
Quadro Clínico
Diagnóstico
O seu diagnóstico, na verdade, só pode realmente ser feito a partir da inspeção do miocár-
dio lesionado. No entanto, pode-se fazer uso de alguns exames, como o ecocardiograma,
que pode mostrar anormalidades nos movimentos nos movimentos da parede. No que se
refere ao eletrocardiograma, as possíveis alterações são bastante variáveis: contrações
ventriculares prematuras, taquicardia sinusal, fibrilação atrial, bloqueio de ramo e alter-
ações do segmento ST. Além disso, uma outra alteração que aumenta a suspeita dessa
lesão é o aumento da pressão venosa central sem causa aparente, visto que pode indicar
a presença de uma disfunção ventricular direita secundária à contusão.
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A análise das troponinas cardíacas, apesar de ser útil para o diagnóstico de IAM, não costu-
ma ser feita na suspeita do trauma contuso, pois apenas oferece informações que podem
ser obtidas na análise do eletrocardiograma.
Em relação ao monitoramento nas primeiras 24 horas, deve ser feito nos pacientes que
apresentaram alterações eletrocardiográficas, pois possuem um risco aumentado de apre-
sentarem arritmias súbitas. Assim, tal monitoramento não precisa ser feito naqueles que
não apresentaram alterações nesse exame.
Uma das principais causas de morte súbita após grandes desacelerações como quedas de
grandes alturas e colisões automobilísticas é a Ruptura Traumática da Aorta. No entanto,
se essa condição for rapidamente identificada e tratada nos que sobreviveram a tais
acidentes, há chances consideráveis de ocorrer uma boa recuperação e prognóstico.
Nesse contexto, vale ressaltar que as chances de sobrevivência são ainda maiores se a
laceração ocorrer numa região próxima ao ligamento arterioso da aorta.
Esses sobreviventes compartilham uma característica: todos apresentam um hematoma
mediastinal contido, o qual evita a ocorrência imediata de sangramento. A hipotensão
recorrente ou persistente é geralmente provocada por um outro sítio de sangramento não
identificável.
Achados Radiológicos
Além da radiografia de tórax, um outro exame de imagem que pode ser utilizado é a
Tomografia Computadorizada com contraste helicoidal, a qual é considerada uma forma
precisa de rastreamento em pacientes que apresentam suspeita de apresentarem uma
Ruptura Traumática da Aorta, por apresentar uma sensibilidade e especificidade bem
próximas de 100%.Se tal exame der resultado negativo para a presença de um hematoma
mediastinal ou de uma ruptura da aorta, provavelmente não será necessário realizar um
outro exame de imagem. Entretanto, lembre-se que colocar um paciente hemodinamica-
mente instável em um tomógrafo não é recomendado.
Além disso, o uso de um ecocardiograma transesofágico pode ser indicado por ser um
exame menos invasivo. Por fim, ressalta-se que o cirurgião de trauma responsável pelo
paciente é quem determinará quais testes diagnósticos serão utilizados.
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Conduta
Deve-se fazer uso de analgésicos para o controle da dor. Além disso, visto que a probabili-
dade de ruptura é diminuída com o controle da frequência cardíaca e da pressão arterial,
recomenda-se o uso de betabloqueadores de ação curta se não houver contraindicações.
A meta é obter uma FC menor que 80bpm e uma PAM entre 60 a 70mmHg.
Quando não for possível o uso dos betabloqueadores ou ele não for suficiente, pode-se
utilizar bloqueadores de canais de cálcio, como a nicardipina. Se esse medicamento não
funcionar, indica-se o uso de nitroglicerina ou nitroprussiato se não houver contraindi-
cações.
A conduta do cirurgião inclui a ressecção e o reparo da porção da aorta que foi lesionada.
A opção mais comum é o reparo endovascular, pois apresenta bons resultados em um
prazo curto. Além disso, ressalta-se que, no intuito de evitar complicações a longo prazo,
deve-se continuar a acompanhar o paciente mesmo após a alta hospitalar.
Tórax Instável
Um Tórax Instável (ou Tórax Flácido) é aquele em que uma porção da parede torácica perde
a continuidade óssea com o resto da caixa torácica, prejudicando, assim, a movimentação
dessa região e, consequentemente, a função ventilatória. Na maioria dos casos, tal perda
resulta de múltiplas fraturas de costelas, mas pode ser consequência de uma separação
costocondral de uma única costela.
Além disso, vale ressaltar que essa condição pode provocar uma contusão pulmonar, bem
como um estado grave de hipóxia devido ao acúmulo de sangue e outros fluidos no
pulmão.
Quadro Clínico
Na maioria dos casos, o paciente apresenta dor torácica e dispneia, associadas à crepi-
tação da parede torácica. Além disso, alguns podem apresentar a respiração paradoxal,
que consiste na movimentação do segmento instável em direção contrária ao movimento
da parede torácica, ou seja, afundando à inspiração e abaulando à expiração.
No entanto, saiba que no exame físico, a visualização direta do segmento afetado nem
sempre será possível devido à própria musculatura da região e à limitação da expansibili-
dade da parede.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito com base na apresentação clínica do paciente e pode ser auxiliado
com o uso de uma Radiografia de Tórax, que permite a visualização direta das fraturas de
arcos costais, apesar de não mostrar a separação costocondral.
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Conduta
Pacientes com hipóxia significativa (PaO2 <60 mmHg [8,6 kPa] ou SaO2 <90%) em ar ambi-
ente podem precisar de intubação e ventilação na primeira hora após a lesão. Condições
médicas associadas, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e insuficiência
renal, aumentam a probabilidade de necessidade de intubação precoce e ventilação
mecânica.
Lesão Diafragmática
Esta lesão é mais comum no lado esquerdo, uma vez que a presença do fígado no lado
direito tem um efeito protetivo sobre a ruptura desse tecido. Ainda, o tipo de lesão pode
exibir um quadro mais ou menos grave. Traumas contusos tendem a produzir lesões radi-
ais que separam as fibras do músculo radialmente e produzem herniações. Por sua vez, os
traumas penetrantes provocam pequenas perfurações que não provocam herniações
pelo seu tamanho e acabam se tornando assintomáticas em alguns casos.
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devido a ruptura desse tecido. Devido a essa facilidade de herniação, especialmente de
alças intestinais e do estômago, pode ser feita a passagem de uma sonda nasogástrica
seguida de uma radiografia do tórax. Caso esse tubo seja identificado no tórax, poderá ser
eliminada a necessidade de um exame radiográfico contrastado.
Feito a radiografia (Rx) e a tomografia (TC) que não identificaram a ruptura diafragmática,
poderá ser feita uma radiografia contrastada de trato gastrointestinal superior para
melhor identificação deste conteúdo, caso seja percebida uma região opacificada pelo
contraste, deverá ter fortes suspeitas desta condição de ruptura.
Em pacientes que passaram por lavagem peritoneal diagnóstica (LPD) e tem esse fluido
saído pela drenagem torácica, pode ser feito o diagnóstico de ruptura do diafragma.
Nos casos em que os exames acima não apresentam resultados conclusivos, exames
endoscópicos como a laparoscopia e a toracoscopia, devem apresentar resultados mais
precisos, devido à observação direta da lesão.
Conduta
A conduta neste caso é o reparo do músculo de forma direta, por meio de cirurgia. Um
cuidado grande deve ser tomado quando for colocado o tubo de drenagem torácica para
que não haja ruptura dos conteúdos intestinais herniados.
Ruptura Esofágica
É uma lesão mais rara, pois está relacionada com traumas perfurantes extensos. Mesmo
assim, podem estar relacionados a traumas contusos em região de abdômen superior e o
consequente extravasamento do suco gástrico, gerando rupturas esofágicas. Em geral,
essa ruptura pode se tornar letal se não for identificada e, na maioria das vezes, a ruptura
ocorre em porções distais do esôfago, sendo um dos únicos achados o vazamento deste
conteúdo no mediastino.
Quadro Clínico
O quadro apresentado pelo paciente com esta condição é dor torácica intensa após
trauma em região distal do osso esterno ou em abdômen superior. Essa dor tem uma car-
acterística desproporcional ao tamanho do trauma e pode evoluir para choque. Ainda, o
extravasamento do fluido de forma assintomática pode provocar uma mediastinite e, con-
sequentemente, empiema nesta área.
Diagnóstico
Após a inserção do tubo torácico e, depois que drenar todo o sangue da cavidade pulmo-
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nar esquerda (local mais comum de apresentação dos achados desta condição) poderá ser
encontrado resíduos alimentares do esôfago e estômago. Associado a isso, a presença de
ar no mediastino pode sugerir esta condição, sendo confirmada com esofagoscopia ou
exames contrastados.
Conduta
Enfisema Subcutâneo
Essa lesão é uma condição clínica que é encontrada na fase da palpação do exame físico e
é decorrente de uma lesão subjacente como lesão pulmonar, vias aéreas (brônquios) ou
por explosão. Esse extravasamento incomum de ar é fundamental como alerta para o trat-
amento de sua causa base.
Exame Físico
Conduta
Nesse caso, o suporte ventilatório ao paciente pode ser necessário, inclusive com venti-
lação de pressão positiva (VPP). Caso isso seja necessário, deve ser considerada a toracot-
omia ao lado do enfisema subcutâneo, se desenvolvido o pneumotórax.
Esta condição gera uma asfixia traumática pelo aumento súbito da pressão e, os músculos
que auxiliam na respiração não conseguem superar esta força. Ainda, esse peso excessivo
no tórax gera compressão da veia cava superior causando a presença de petéquias nas
seguintes regiões: torso superior, face e braços. Ainda, como consequência grave e, nor-
malmente por compressão prolongada da veia cava superior, o edema cerebral pode ser
encontrado.
Conduta
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Fraturas ósseas das costelas, esterno e escápula
Os componentes ósseos da caixa torácica conferem uma proteção sobre os órgãos conti-
dos neste local. A fratura mais comum durante o trauma é a das costelas, em especial da
4ª até a 9ª, pois estas não são protegidas por grandes ossos como a clavícula e a escápula.
Caso haja lesão desses grandes ossos protetores, as estruturas de grandes vasos, nervos
e cabeça estão em grande risco e deve haver uma busca ativa por lesões destas estruturas.
A mortalidade nesse caso aumenta para 35%.
A maioria dos traumas infere em fraturas das costelas 4ª até a 9ª, devido a compressões
anteroposteriores, fato que predispõe a formação de pneumotórax e hemotórax. Em
jovens, existe uma menor predisposição a fraturas múltiplas das costelas que em idosos,
devido a uma maior densidade óssea natural. Condições como a osteoporose podem
predispor a essas inúmeras fraturas e a formação de pneumonia e aumento da mortali-
dade após os trauma em idosos.
Diagnóstico
Durante a palpação do tórax, poderá ser identificado oscilações na parede torácica e dor.
Deverá ser feito uma radiografia de tórax para visualizar outras lesões associadas, inclusive
lesões hepatoesplênicas por fraturas de 10ª a 12ª costelas. O uso da tomografia é funda-
mental para identificar lesões associadas e as próprias fraturas dos ossos do tórax facilitan-
do inclusive a identificação de lesões subclínicas.
Conduta
A analgesia com opióides pode ser considerada nesses pacientes com fratura óssea, utili-
zando-se ou não anestésicos e analgésicos locais, melhorando inclusive a ventilação do
paciente.
28
Realizar a avaliação Sinais de ruptura
Trauma Torácico inicial e classificar Sinais do RX
do diafragma
- Extensão de ombros FLUXOGRAMA 01 - Fluxograma relacionando sinais de obstrução de vias aéreas, lesão
- Posição supina traqueobrônquica e ruptura do diafragma. FONTE: Elaborado pelos próprios autores, 2021.
Tríade de Beck
FLUXOGRAMA 02 - Fluxograma
Pneumotorax Punção pleural no 5° EIC Toracotomia com drenagem relacionando sinais de pneumo-
tórax, hemotórax e tamponamento
Hipertensivo na linha axilar anterior pleural após descompressão cardíaco. FONTE: Elaborado pelos
próprios autores, 2021.
29
Realizar a avaliação Se suspeita de Ruptura
Trauma Torácico Sinais de Tórax Instável
inicial e classificar Traumática da Aorta
- Perda de consciência
Se suspeita de Enfisema Fraturas Lesão por - Ausência de pulso
Ruptura Esofágica subcutâneo ósseas esmagamento - FV / Assistólia
torácico
Sugere presença de
- Esofagoscopia ar extrapulmonar Realizar: - Iniciar o protocolo ABCDE
diagnóstica - RX de tórax e ressucitação cardiopulmonar
- Aspiração de conteúdo Não necessita de tra- - TC de tórax - MOV
tamento específico; Tratar
mediastinal com tubo - Solicitar ECG e Ecocardiograma
lesões subjacentes; VPP;
torácico Considerar toracotomia. o mais rápido possível
Referências
ATLS - Advanced Trauma Life Support Student Course Manual. American College of Surgeons. 10a. Ed, 2018.
30
CAPÍTULO 4:
Trauma Abdominal
04
Capítulo 4: Trauma Abdominal
Introdução
O abdome é considerado uma das regiões mais frequentemente afetadas e uma das
causas mais comuns de morte nos doentes politraumatizados. O trauma abdominal pode
levar à morte imediata por hemorragia e choque ou posteriormente por infecção. Uma
atenção maior na avaliação da circulação é importante, para um possível diagnóstico de
hemorragia intra-abdominal em pacientes que sofreram trauma abdominal fechado. O
mecanismo de lesão, localização da lesão e estado hemodinâmico do paciente determi-
nará a prioridade e o melhor método de abordagem. A avaliação do paciente é frequente-
mente comprometida por intoxicação alcoólica, uso de drogas ilícitas, lesões no cérebro ou
na medula espinhal e lesão de estruturas adjacentes, como as costelas e coluna. Perda sig-
nificativa de sangue pode estar presente na cavidade abdominal sem uma mudança
dramática na aparência externa ou dimensões do abdômen e sem sinais óbvios de
irritação peritoneal. Qualquer paciente que sofreu lesão no dorso por um golpe direto,
desaceleração, explosão ou uma lesão penetrante deve ser considerado como tendo uma
lesão de víscera abdominal, lesão vascular ou pélvica até provar o contrário.
Mecanismos de lesão
Contusão
É um golpe direto, que pode causar compressão e lesões por esmagamento nas vísceras
abdominopélvicas e ossos pélvicos. Em pacientes que sofreram trauma contuso, os
órgãos mais frequentemente lesados são o baço (40% a 55%), o fígado (35% a 45%) e o
intestino delgado (5% a 10%). Embora os dispositivos de restrição reduzam a incidência de
muitas outras lesões graves, eles estão associados a padrões específicos de lesão.
Penetrante
São ferimentos por arma branca, arma de fogo de baixa energia, que dilaceram e rasgam
os tecidos, e ferimentos por arma de fogo de alta energia que transferem mais energia
cinética, causando aumento do dano ao redor da trilha do projétil devido à cavitação tem-
porária. Os ferimentos por arma branca atravessam estruturas abdominais adjacentes e
mais comumente envolvem o fígado (40%), intestino delgado (30%), diafragma (20%) e
cólon (15%). Já os ferimentos por arma de fogo mais comumente causam lesões no intesti-
no delgado (50%), cólon (40%), fígado (30%) e estruturas vasculares abdominais (25%). O
tipo de arma, a velocidade do cano e o tipo de munição são determinantes importantes do
grau de lesão do tecido.
Explosão
A lesão por explosão ocorre por meio de vários mecanismos, incluindo feridas por frag-
mentos penetrantes e lesões contusas devido o paciente ser lançado ou atingido por pro-
jéteis. Pacientes próximos à fonte da explosão podem sofrer lesões adicionais nas mem-
branas timpânicas, pulmões e intestinos relacionados à sobrepressão da explosão, essas
lesões podem ter apresentação tardia.
32
Como atender o paciente vítima de trauma abdominal?
Exames complementares:
33
Lavagem Peritoneal Diagnóstica (LPD):
Também está indicado em pacientes com
trauma fechado instáveis hemodinamica-
mente. É utilizado para identificar hemor-
ragia, requer a descompressão gástrica e
urinária para prevenção de complicações.
Em ambientes onde o FAST não está dis-
ponível tal recurso está indicado, porém
raramente é usado porque é invasivo e
requer experiência cirúrgica. Vale ressaltar
que, o FAST tem como vantagem permitir
a localização da maior parte do líquido
livre, e permitir ver estruturas da pleura e
do mediastino, além de ser menos inva-
sivo. Já a LPD tem a vantagem de distinguir se o conteúdo líquido é sangue ou outros líqui-
dos, como o entérico. Atualmente, o FAST é mais utilizado, pela sua maior disponibilidade
em hospitais. As contraindicações relativas ao procedimento incluem cirurgias abdominais
anteriores, obesidade mórbida, cirrose avançada e coagulopatia pré-existente. A aspiração
de conteúdo gastrointestinal, fibras vegetais, bile ou de 10 cc ou mais de sangue em paci-
entes hemodinamicamente instáveis requer laparotomia.
Outros estudos:
A sonda gástrica é utilizada com o objetivo de alívio da distensão gástrica aguda e des-
compressão do estômago antes de realizar o lavado peritoneal diagnóstico (se necessário),
podem reduzir a incidência de aspiração, porém podem desencadear vômito em um paci-
ente com reflexo de vômito ativo. A presença de sangue no conteúdo gástrico sugere
lesão do esôfago ou do trato gastrointestinal superior, caso as fontes nasofaríngeas e/ou
orofaríngeas sejam excluídas. Se um paciente tiver fraturas faciais graves ou suspeita de
fratura de base de crânio, a sonda gástrica deve ser inserida pela boca para evitar a pas-
sagem através da lâmina cribiforme para o cérebro. Já o cateter urinário é utilizado para
34
aliviar a retenção urinária, monitorar o débito urinário e descomprimir a bexiga antes de
realizar o lavado peritoneal diagnóstico. Não coloque um cateter urinário em um paciente
com um hematoma perineal ou sangue no meato uretral antes de uma avaliação definiti-
va para lesão uretral.
Referências
AMERICAN COLLEGE OF SURGIONS COMMITTEE ON TRAUMA. Advanced Trauma Life Suport – ATLS. 10
ed. 2018.
35
CAPÍTULO 5:
Queimaduras
04
Capítulo 5: Queimaduras
Introdução
As queimaduras são lesões causadas por agentes que produzem calor a ponto de danificar
os tecidos corporais e causar morte celular. Vale lembrar que a pele é o maior órgão do
corpo humano, visto que recobre o mesmo por completo protegendo contra o atrito,
perda de água, invasão de microorganismos e da radiação ultravioleta. Sabendo disso,
consegue-se entender e prever a complexidade do atendimento de uma vítima de quei-
madura já que, a depender do grau e extensão da mesma, o paciente ficará suscetível à
desidratação, infecções, dentre outras complicações. Compete, portanto, ao profissional
da saúde saber diagnosticar o tipo, a profundidade, a superfície corporal queimada, o
manejo e seus respectivos tratamentos.
37
Classificação
Em relação ao tipo das queimaduras, elas podem ser divididas em: térmicas, químicas,
elétricas, por radiação e inalatória. As térmicas apresentam maior incidência: chamas de
fogo, água fervendo, objetos quentes são exemplos de causas que podem levar a este
tipo de queimadura. Já as queimaduras químicas são provocadas por substâncias químicas
que, em excesso e a depender da duração, lesionam não só a superfície, como também
órgãos e tecidos internos. Quanto às elétricas, estas ocorrem quando há corrente elétrica
através do corpo, de modo que se iniciam como térmicas e em seguida apresentam um
local de entrada (ponto de contato com a corrente elétrica) e um local de saída (por onde
a corrente sai). A radiação também pode gerar danos teciduais e um exemplo clássico
dessa queimadura é a radiação solar. Por fim, as queimaduras por inalação se referem a
gases que lesionam tecidos quando inalados.
Para saber como tratar e conduzir o paciente vítima de queimadura é fundamental que
seja realizada a classificação quanto ao tipo desta queimadura:
1º Grau: Limita-se à epiderme, com aparecimento de eritema e dor moderada, sem bolhas
ou comprometimento dos anexos da pele (para ajudar a lembrar, esta é a famosa quei-
madura de sol!).
3º Grau: Estas são queimaduras da espessura total da pele, pois atingem a derme, epi-
derme e hipoderme, podendo acometer músculos e ossos. Uma característica relevante é
que geralmente não são dolorosas (devido a lesão direta dos receptores nervosos), além
de serem endurecidas com aparência de couro “branco nacarado”. Vale ressaltar que,
nenhum paciente terá apenas queimaduras de 3º grau havendo queimaduras de 1º e 2º
graus associadas, portanto, o paciente sentirá dor nesses locais de queimaduras, mas não
sentirá dor no local específico da queimadura de 3º grau.
Figura 2. Em A, nota-se quei-
madura de 2º grau superficial
onde é possível perceber a
integridade dos folículos
pilosos. Em B, uma queimad-
ura de 2º grau profundo. E
em C, uma queimadura de 3º
grau (OLIVEIRA & FERREIRA,
2017).
38
Diante de uma queimadura de 2º e 3º grau é fundamental que seja calculada a superfície
corporal queimada (SCQ) para que já seja iniciada a reposição volêmica adequada ao paci-
ente (lembre-se que a perda da pele culmina na perda de água pelo corpo e, consequen-
temente, potencial desidratação do paciente). O principal método para o cálculo da SCQ
é o de Wallace ou “Regra dos 9” conforme apresentada na imagem:
Após o cálculo da SCQ deve-se utilizar a fórmula de Parkland para verificar o volume ade-
quado para a ressuscitação volêmica e, é importante lembrar que o fluido de escolha para
essa conduta é o ringer lactato aquecido. Abaixo, observe que a fórmula de Parkland usa o
valor de 2ml na 10ªed. do ATLS e não mais 4ml, exceto em casos de queimadura elétrica
que, devido ao risco de rabdomiólise e insuficiência renal aguda recomenda-se calcular
com 4ml. O volume encontrado após o cálculo deve ser infundido em 24h, sendo: metade
do volume total nas primeiras 8h e a outra metade nas próximas 16h, incluindo no valor
que será administrado aquilo que já foi infundido no pré-hospitalar.
39
Tabela 1. Ressucitação volêmica por tipo de queimadura, idade e Fórmula de Parkland.
Os cuidados a serem tomados com as queimaduras de 2 e 3º grau, como dito, são específi-
cos. Primeiramente, realiza-se o desbridamento com retirada de corpo estranho e tecidos
desvitalizados, bem como deve ser feita a limpeza da ferida com água e clorexidina
degermante 2%. Vale ressaltar que, as bolhas e peles desvitalizadas precisam ser removi-
das completamente, pois as bolhas aumentam a probabilidade de infecção e diminuem a
superfície de contato com os antibióticos tópicos. Após essas etapas, deve ser feito um
curativo oclusivo a ser trocado diariamente ou sempre que sujo, o qual visa proteger a área
lesada, reduzir a perda calórica que ocorre por evaporação, bem como reduzir a coloni-
zação bacteriana e fúngica
Cabe aqui ressaltar um ponto importante que é sobre o uso de antibióticos! Lembre-se
que os pacientes vítimas de queimadura perdem sua principal barreira mecânica contra os
estressores do meio, bem como sofrem intensa resposta metabólica e humoral decorrente
do trauma, o que faz com que esse paciente seja considerado um imunossuprimido.
Partindo desse ponto, já se prevê que estes pacientes podem evoluir com infecções
graves que precisarão de uso de antibiótico, logo, por isso não se deve usar antibiótico
profilático via oral ou venoso para esses pacientes para que não seja gerada resistência
antimicrobiana. No caso de queimaduras extensas orienta-se o uso de antibiótico tópico
como sulfadiazina ou mafenide.
Principais complicações
Diante do que foi apresentado até aqui acerca das peculiaridades do paciente vítima de
queimadura, é de se esperar que o mesmo sofra com algumas complicações deste trauma.
A insuficiência respiratória é uma delas e ocorre quando queimaduras de 3º grau atingem
a circunferência torácica e fazendo aquele aspecto de “couro nacarado” restringindo a
expansão torácica e levando à insuficiência respiratória; neste caso, deve-se realizar a
escarotomia da lesão, ou seja, uma incisão da área queimada até o subcutâneo. Com isso,
entramos em uma outra complicação que é a síndrome compartimental que resulta de
queimaduras de 2º e 3º graus circunferenciais que evoluem impedindo a elasticidade da
pele, o que também tem como tratamento a escarotomia.
Outra complicação é a insuficiência renal que, como já citada, pode ocorrer devido a
desidratação dos pacientes com queimaduras extensas, porém, deve-se atentar a esta
40
a esta complicação sobretudo nos pacientes com queimadura elétrica devido à extensa
lesão muscular, progredindo para rabdomiólise. Além de atentar para o cálculo diferencia-
do a partir da fórmula de Parkland, é fundamental manter um débito urinário de 100ml/h
em adultos e observar a coloração da urina, pois caso a mesma esteja escura a reposição
volêmica deve ser ainda mais agressiva.
Térmicas;
Superfície Profundidade Químicas; Elétricas;
Radiação; Inalatória
1º Grau
Regra dos 9 +
2º Grau Tratamento
Fórmula de Parkland
3º Grau
Ressucitação volêmica;
Analgesia; Limpeza;
Debridamento (exceto 1º grau);
Curativo; Avaliar se ATB tópico
Referências
American College of Surgeons; ATLS : Advanced Trauma Life Support. 10ª ed. Chicago, 2018. p. 148-167.
OLIVEIRA, AF; FERREIRA, LM. Procedimentos no atendimento para queimaduras nas mãos na fase aguda.
Revista Brasileira Cirurgia Plástica.2017;32(2):245-251
BRUXEL, C.L. Manejo Clínico do Paciente Queimado. 2018.
LANHAM, J.S. Outpatient Burn Care: Prevention and Treatment.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Queimaduras: Diagnóstico e Tratamento Inicial. 2008.
VALE, E.C.S. Primeiro atendimento em queimaduras: a abordagem do dermatologista. Minas Gerais, 2005.
Ministério da Saúde. Cartilha para tratamento de emergência das queimaduras
41
CAPÍTULO 6:
Trauma de
Extremidades
Capítulo 6: Trauma de Extremidades
Introdução
Os traumas de extremidades, muitas vezes, são os que mais chamam atenção do socorris-
ta, podem ser desafiadores à equipe, não devem ser ignorados e merecem atenção após
a estabilização inicial do paciente. No entanto, eles não costumam apresentar ameaça à
vida do paciente. Dessa forma, como em toda vítima de trauma, o atendimento inicial deve
seguir a ordem ABCDE de prioridade de reanimação. Em contexto pré-hospitalar deve-se
atentar para contenção de hemorragias extremas seguindo o “XABCDE”, mas no contexto
do intra-hospitalar seguimos o ATLS.
Avaliação Primária
43
mente ameaçadoras à vida do paciente e buscar por uma possível associação desses trau-
mas a lesões torácicas ou abdominais.
Hemorragia
As hemorragias devem ser abordadas ainda no contexto pré-hospitalar, visto que elas re-
presentam um risco à vida do paciente e à viabilidade do membro lesado.
O torniquete deve ser apertado até cessar o fluxo de sangue para o ferimento. É
necessário documentar o horário de aplicação, de modo a garantir uma permanência de
menor tempo possível, não ultrapassando 120 a 150 minutos, visto que os riscos de perda
de viabilidade do membro aumentam com o tempo.
Sem resolução
44
Fratura Bilateral de Fêmur
Pacientes que sofreram fraturas bilaterais de fêmur apresentam risco significativo de com-
plicações e morte. Essas lesões são indicativas de mecanismos de trauma de energia de
grande intensidade, de modo que pode acometer outras regiões e apresentar lesões asso-
ciadas.
Dessa forma, esses indivíduos apresentam maior risco de intensa perda de sangue, lesões
associadas, complicações pulmonares, falência de múltiplos órgãos e morte. Esses pacien-
tes devem ser manejados inicialmente como as vítimas de fratura unilateral e transferidos
de forma precoce para um atendimento cirúrgico especializado.
45
Durante o atendimento da vítima, para corrigir os níveis séricos elevados de potássio,
devem ser tomadas medidas como inalação de beta-agonistas de ação rápida, como o
salbutamol, administração intravenosa de glicoinsulina e bicarbonato de sódio.
Hipovolemia
Hipercalemia
Avaliação Secundária
Nesse momento, devem ser identificadas as injúrias que, apesar de não trazerem risco imi-
nente à vida, ameaçam a viabilidade do membro afetado, como fraturas expostas e am-
putações. Além da anamnese e exame físico, a radiografia é um importante exame com-
plementar que pode ser feito durante esta fase da avaliação, ajudando na diferenciação
das possíveis lesões.
A coleta da história é essencial para o entendimento da cinemática do trauma. Ela deve ser
colhida com a própria vítima, com as testemunhas da cena ou acompanhantes e com a
equipe de atendimento pré-hospitalar. A anamnese deve abordar principalmente o me-
canismo do trauma, o ambiente, os fatores predisponentes da vítima e acontecimentos do
atendimento pré- hospitalar.
46
- Ambiente: relevante para identificar se a vítima corre risco de infecções, informação
importante para avaliar a necessidade de fornecimento precoce de antibioticoterapia.
Além disso, em um acidente automobilístico deve ser questionada a presença de vidro no
chão e a temperatura do ambiente (por exemplo em situações de explosão).
- Fatores Predisponentes: indicam a condição do paciente antes do trauma. Deve ser colhi-
da uma história “AMPLA”, obtendo informações sobre doenças prévias, problemas emo-
cionais, uso de álcool e drogas, alergias, entre outras.
SÍNDROME COMPARTIMENTAL
47
e ossos, componentes pouco distensíveis, portanto há pouco
espaço para expansão do tecido. A síndrome compartimental
pode ocorrer em situações de sangramento ou edema que
causam elevação na pressão compartimental, podendo atingir
níveis maiores que a pressão capilar, o que leva a diminuição
ou até cessação da perfusão.
O quadro clínico é marcado por dor desproporcional ao trauma sofrido que não cessa com
a imobilização, podendo ter caráter pulsátil, e parestesia ou sensibilidade alterada distal à
região afetada.
AMPUTAÇÕES TRAUMÁTICAS
A amputação é uma forma severa de fratura exposta que resulta na perda de uma extremi-
dade completa, parte dela ou apenas dos tecidos moles distais (avulsão). É um evento
traumático física e emocionalmente para o paciente.
Não se deve atrasar o transporte do paciente caso não seja possível encontrar o membro
amputado. Nessas situações, o paciente deve ser encaminhado para o atendimento hos-
pitalar e alguém capacitado deve ficar na cena para buscar a extremidade.
Princípios de imobilização
Existem diversos materiais que podem auxiliar o processo de imobilização, dentre eles
pode-se citar talas rígidas (preferíveis para lesões de ossos longos com fraturas alinhadas),
talas moldáveis (são as mais utilizadas, principalmente em traumas desalinhados e lesões
de tornozelo, punho e ossos longos), talas de tração (usadas para estabilizar fraturas de
diáfise de fêmur), ataduras, imobilizadores anatômicos, entre outros.
49
forem restaurados ou o preenchimento capilar for apropriado, essa é a posição em que o
membro deve ser imobilizado, e tais informações devem ser documentadas.
Com o uso de talas, faz-se necessário preencher os espaços resultantes para evitar o movi-
mento do membro no interior do dispositivo, proporcionando maior conforto ao paciente
e prevenindo úlceras de pressão. É importante remover acessórios, para que esses objetos
não impeçam a circulação caso haja formação de edema adicional. As talas devem estar
firmes de modo a garantir uma imobilização eficaz, todavia uma compressão maior que a
necessária poderá ocasionar danos ao membro, como uma síndrome compartimental
iatrogênica.
Fraturas de Fêmur: imobilizadas temporariamente com talas de tração, com tração linear
crânio-caudal. É contraindicado o uso de talas de tração em situações de suspeita de
fratura na topografia do joelho ou da tíbia, ou em caso de avulsão ou amputação de torno-
zelo ou pé.
Lesões de Joelho: o joelho deve ser imobilizado de forma que mantenha 10 graus de
flexão, na intenção de reduzir a tensão nas estruturas neurovasculares.
Fraturas de Quadril/ Colo Femoral: nessa situação, não há benefício em utilizar uma tala
de tração, visto que a lesão apresenta um padrão oblíquo. O membro deve ser alinhado,
com a utilização de uma tala longa, de modo a imobilizar desde a cintura até o pé do paci-
ente.
50
PÁGINA 71
Verificar segurança]
da cena
observa
Cena segura
Cena não segura
inicia
deve
Avaliação primária
XABCDE
Tornar a cena
identifica segura
como
Administrar Imobilizar
reposição Aplicar compressão
membro direta. Se não
volêmica
funcionar, usar
torniquete
inicia
Avaliação secundária
realiza
Coleta da história clínica Exame físico
do paciente e do
trauma
identificam
Lesão que ameaça
Lesões que NÃO
funcionalidade do
ameaçam a funcionalidade
membro
do membro
como
como
amputação Síndrome
luxações entorse Fratura comportamental
deve
deve
deve
Limpar e Realizar
proteger o membro fasciotomia
Imobilizar membro
seguido por
Avaliação continua da
função neural e perfusão
do membro
51
PÁGINA 71
Referências
American College of Surgeons; ATLS : Advanced Trauma Life Support. 10. ed. Chicago, 2018. p. 148-167.
American College of Surgeons; PHTLS: Prehospital Trauma Life Support. 9. ed. Chicago, 2018. p. 395-415.
COURT-BROWN, C. M. et al. Rockwood and Green’s fractures in adults. 8. ed. Philadelphia, PA: Wolters
51
CAPÍTULO 7:
Trauma em
Grupos Vulneráveis
Capítulo 7: Trauma em Grupos Vulneráveis
Trauma Pediátrico
Tabela 1: Mecanismos frequentes de trauma e padrões de trauma associados em pacientes pediátricos. Adaptado de ATLS, 10ª edição
Alguns pontos importantes para se atentar durante o manejo de traumas pediátricos são
os que o ATLS traz como principais motivos de falha na sua abordagem: falha ao garantir
53
Peculiaridades dos pacientes pediátricos
Por causa do menor tamanho, que aumenta a força do impacto por unidade de área cor-
poral, e da constituição corporal com menos gordura, menos tecido conjuntivo e maior
proximidade entre os órgãos, traumas multissistêmicos são comuns em crianças, devendo
sempre ser considerados. Nesses casos, deve-se transferir o pacientes o mais rápido pos-
sível para um centro especializado, pois tendem a desenvolver complicações sérias que
aumentam a mortalidade.
Pacientes pediátricos têm pesos e alturas muito variáveis, sendo assim, é fundamental
estimar as medidas antropométricas para uma adequada abordagem, pois isso vai definir
a dose de medicamentos, o tamanho dos equipamentos e volume que deve ser reposto
em crianças hemodinamicamente instáveis. A forma mais segura de se ter conhecimento
dessas medidas é perguntar para algum parente ou cuidador que esteja acompanhando o
paciente, como isso muitas vezes não é possível, pode-se usar instrumentos de auxílio,
como fita de mensuração pediátrica e tabelas. Uma fórmula simples para estimar o peso
da criança em quilogramas é ([2 x idade em anos]+ 10).
Além disso, por serem mais instáveis emocionalmente, crianças tendem a ser menos
cooperativas com pessoas estranhas em situações estressantes, dificultando o trabalho da
equipe médica, assim, quando possível, a presença de pais ou cuidadores na avaliação e
manejo da situação é de suma importância.
Por fim, por serem indivíduos ainda em crescimento e desenvolvimento tanto físico
quanto mental, o trauma pode causar prejuízos a longo prazo na vida dessas crianças,
tanto orgânicos quanto sociais, afetivos e cognitivos. A família do paciente pediátrico
vítima de trauma, por sua vez, também é muito afetada emocionalmente e mesmo finan-
ceiramente, dessa forma, é imprescindível a assistência psicológica para ambos.
Atendimento no Trauma
A abordagem de crianças vítimas de trauma, assim como nos adultos, deve seguir a
sequência de abordagem primária do ABCDE e tratar as possíveis complicações de cada
fase.
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A (“Airway”; Via aérea): Nessa etapa procura-se manter a permeabilidade das vias aéreas,
com o objetivo de restauração ou manutenção da oxigenação tecidual adequada, que é a
primeira prioridade no atendimento de pacientes pediátricos vítimas de trauma, uma vez
que a hipóxia é a causa mais comum de parada cardíaca nesses pacientes. A via aérea de
pacientes pediátricos tem características anatômicas que dificultam o seu acesso, com-
parando com a de um adulto, entre elas:
Em crianças, por causa do occipito maior, há uma tendência de flexão passiva da coluna
cervical quando em posição supina, resultando em obstrução da faringe posterior ante-
riormente. Para evitar isso, deve-se manter o pescoço do paciente em uma posição neutra,
com o plano da face paralelo ao do dorso, colocando um coxim de 2 a 3 cm embaixo de
seu tronco
Os tecidos moles (língua e tonsilas palatinas) da orofaringe dos bebês são proporcional-
mente maiores que em adultos, o que prejudica a visualização da laringe. Vias aéreas
pediátricas são estreita, em especial na altura da cartilagem cricóide, assim são obstruídas
por muco, sangue, corpos estranhos e pelos próprios tecidos moles da cavidade oral com
mais facilidade. A laringe é mais anteriorizada e cefálica. A traquéia tem aproximadamente
5 cm de extensão e cresce para 7 cm aos 18 meses, o que aumenta o risco de intubação
seletiva
Se o paciente estiver respirando espontaneamente, mas com uma via aérea parcialmente
obstruída, deve-se mantê-la aberta e estabilizar a coluna cervical (com plano da face para-
lelo ao do dorso (como visto anteriormente), estabilização cervical bimanual e manobra
jaw-thrust), após limpeza e aspiração da boca e orofaringe, administrar oxigênio suple-
mentar.
Já, se o paciente estiver inconsciente, é necessário o manejo mecânico das vias aéreas com
cânula orofaríngea (cânula de Guedel) ou com intubação orotraqueal, antes de realizar
esses procedimentos é essencial pré-oxigenar a criança:
Cânula de Guedel: Apenas pode ser feito em crianças inconscientes, por causa do reflexo
do vômito. É fundamental que se use a cânula de tamanho adequado, ou seja, do mento
ao ângulo da mandíbula. Diferente da técnica do adulto, deve ser inserida diretamente na
orofaringe, com o auxílio de um abaixador de língua, se necessário. Se não for possível
garantir uma oxigenação adequada, deve-se prosseguir para intubação endotraqueal.
Quanto ao uso de tubos com cuff: ele pode ser usado em crianças a partir do primeiro ano
de vida com o objetivo de melhor ventilação e manejo do CO2. Em mais novos a própria
abertura mais estreita da cartilagem cricóide permite vedação adequada.
55
Muitos centros de trauma usam o protocolo medicamentoso de sequência rápida de intu-
bação para facilitar o processo. Que consiste em uma sequência de pré-oxigenação,
sedação, paralisia e intubação. Quando for feita a intubação, deve-se fixar o tubo e checar
seu adequado posicionamento com ausculta dos dois hemitórax (a qual deve ser feita
periodicamente, por fácil deslocamento do tubo nesses pacientes) e radiografia simples
de tórax para visualizando-o na traqueia. Uma fórmula usada para saber a profundidade
adequada do tubo (em cm) é igualar a 3 vezes o diâmetro (em mm)
Algumas falhas comuns de falha na oxigenação usando o tubo que devem ser levadas em
conta são: deslocamento do tubo, pneumotórax, obstruções e falha no equipamento. Via
aérea de resgate: Usada quando não foi possível garantir uma oxigenação adequada por
meio da intubação endotraqueal. Pode-se lançar mão de cricotireoidostomia ou máscara
laríngea.
Cricotireoidostomia: Pode ser feita por punção, a cirúrgica deve ser evitada em bebês ou
crianças menores, apenas a partir de 12 anos. A cricotireoidostomia por punção é uma via
aérea temporária (30 a 45 min), pois pode causar hipercapnia.
Máscara laríngea: De fácil colocação, mas não provém ventilação adequada e pode dis-
tender o estômago da criança;
B (“Breathing”; Ventilação): Nessa etapa os objetivos são manter uma ventilação adequa-
da do paciente e reconhecer causas que possam interferir na troca gasosa, tratando a
causa base, como pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto e lesão pulmonar por
aspiração ou contusão.
56
Reconhecimento de comprometimento circulatório
Em geral, quando a baixa pressão arterial aparece tardiamente, ela indica estado de
choque descompensado com perda sanguínea grave, aumentando o risco de parada car-
diorrespiratória, se não manejado adequadamente. Para estimar a pressão arterial adequa-
da para a idade de forma rápida e prática no paciente pediátrico, pode-se lançar mão das
fórmulas:
Pressão sistólica normal = 90 mmHg mais 2 vezes a idade do paciente em anos. Limite infe-
rior da normalidade da pressão sistólica = 70 mmHg mais 2 vezes a idade em anos. Pressão
diastólica = 2/3 da pressão sistólica
Acesso Venoso
O preferível é o acesso percutâneo periférico, mas se não for possível depois de duas ten-
tativas, deve-se prosseguir para acesso intraósseo.
Acesso periférico (tentar duas vezes Fossa antecubital ou veia safena no tornozelo.
antes de proceder ao próximo)
Acesso venoso central jugular ou Veia jugular interna ou externa e veia subclávia; Não deve
acesso venoso central subclávia* ser usado em comprometimento de via aérea ou quando
há um colar cervical aplicado.
*Reservado a médicos especializados em
pacientes pediátricos
Veia safena.
Dissecção venosa Em último caso, só por pessoas capacitadas; Geralmente é
a última escolha, pois demora mais que 10 minutos, mesmo
na mão dos mais experientes.
- Se não estabilizar (Ver Tabela 4): mais 2 ou 3 doses adicionais de 20 ml/kg de cristalóide
isotônico aquecido em bolus.
- Depois disso, se o paciente ainda estiver mostrando evidências de perda sanguínea, fazer
10 ml/kg de concentrado de hemácia.
Retorno da coloração normal da Excreção urinária de 1-2 ml/kg/hr até o primeiro ano de vida,
pele. de 1-1,5 mL/kg/hr para maiores de 1 ano até 10 anos (adoles-
cência) e de 0,5ml/kg/hr em adolescentes.
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Traumas específicos
Mais de 2/3 dos pacientes pediátricos com trauma torácicos tem também traumas multis-
sistêmicos. Por ser mais flexível e complacente que a do adulto, por causa e uma constitu-
ição mais cartilaginosa e menos ossificação, a caixa torácica das crianças permite uma
maior transferência de energia para o parênquima pulmonar, fazendo a contusão pulmo-
nar uma lesão importante nesses pacientes. Pelo mesmo motivo, em geral, fraturas de
costela são incomuns em crianças, sua presença geralmente indica impactos mais violen-
tos contra o tórax delas.
A maioria das lesões podem ser identificadas por radiografia simples de tórax e o trata-
mento é, em geral, terapia de suporte acompanhado de drenagem torácica, feita princi-
palmente por toracostomia, uma vez que toracotomias são raramente necessárias nesses
pacientes.
Trauma abdominal: Por terem costelas mais flexíveis e parede abdominal mais fina, as
crianças tem menos proteção dos órgãos abdominais, sendo mais comuns lesões paren-
quimatosas, como pancreáticas (como pseudocientífico traumático) em traumas no
abdome superior.
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Tomografia computadorizada (TC) de abdome (usualmente com contraste intrave-
noso): por causa da radiação ionizante que incidirá sobre a criança, só deve ser feito se o
resultado for mudar de alguma forma o tratamento, sempre tentando usar a menor dose
de radiação possível. Ela é útil para melhor avaliar lesões intra-abdominais e definir o trata-
mento, mas deve ser feita o mais rápido possível, quando necessária, para não atrasar a
terapia. Muitas vezes é preciso a sedação da criação para ela não se mover dentro da
máquina.
Protocolo FAST: exame de imagem que tem a vantagem de poder ser repetido, pois não
usa radiação ionizante. Útil para avaliar presença de hemorragia intra-abdominal, mas não
é capaz de avaliar lesões intraparenquimatosas isoladas.
Pacientes pediátricos geralmente tem uma recuperação em TCE melhor que em adultos,
mas são particularmente suscetíveis a danos secundários ao encéfalo causado por hipovo-
lemia, que causa redução na perfusão cerebral e hipóxia. Bebês, por terem as fontanelas
ainda não calcificadas e suturas cranianas móveis são mais tolerantes a lesões expansivas
intracranianas ou edema cerebral. Assim, essas lesões não causam sintomatologia até des-
compensação súbita.
Em crianças a hipertensão intracraniana causada por edema cerebral é mais comum que
em adultos, sendo necessário intervenção para manter a pressão de perfusão cerebral.
Para garantir uma perfusão cerebral adequada, segundo o ATLS, é indicado monitorar a
pressão intracraniana sempre que uma TC evidencie sinais de hemorragia intracraniana,
edema cerebral ou herniação cerebelar ou transtentorial; quando a escala de coma de
Glasgow do paciente resultar em escore de 8 ou menos ou escore motor de 1 ou 2; e
quando o paciente pediátrico for vítima de múltiplos traumas associados ao trauma
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encefálico que exijam uma maior reposição volêmica, cirurgia torácica ou abdominal de
emergência ou quando estabilização e avaliação for prolongada.
A abordagem ao paciente pediátrico com TCE deve ser, idealmente, acompanhada por um
neurocirurgião. A manutenção de uma oxigenação e ventilação adequada são essenciais
para evitar a progressão do dano cerebral por hipóxia e a hipoperfusão cerebral deve ser
tratada prontamente. Alguns fármacos usados na terapia desses pacientes são: manitol e
solução salina hipertônica 3% para redução da pressão intracraniana e fenitoína e levetirac-
etam para tratamento de convulsão que são comuns em criação no pós-trauma, mas que
também muitas vezes são autolimitadas.
- Trauma musculoesquelético: Como esses pacientes ainda não têm os ossos completa-
mente calcificados e, portanto, mais flexíveis, a fratura é bem menos comum que em adul-
tos e, em geral, quando presente, indica trauma com maior energia. Essa imaturidade
óssea é a que permite a característica fratura em “galho verde” dessa faixa etária.
A história nesse tipo de trauma tem uma importância fundamental, uma vez que o exame
radiológico se mostra muitas vezes falho, devido a pouca mineralização óssea, assim é
importante uma boa caracterização do trauma, sua temporalidade, sua magnitude e me-
canismo.
Além disso, por serem estruturas ainda em desenvolvimento, lesões que atinjam a placa
de crescimento epifisário podem retardar o crescimento da criança ou causar distúrbios no
crescimento normal. Entre os ossos longos mais acometidos por fraturas nessa faixa etária,
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A lesão de estruturas vasculares também é considerável no trauma músculo esquelético,
muito comum em fraturas supracondilares no cotovelo e no joelho, e seu reconhecimento
e tratamento evita isquemias.
O manejo desse tipo de trauma pode ser realizado com o uso de talas de contenção, úteis
para a estabilização até uma avaliação ortopédica completa. Entretanto, a terapia cirúrgica
pode ser necessária em alguns casos: fraturas expostas (para desbridamento, lavagem e
fixação), fraturas supracondilares do cotovelo com desvio e fraturas envolvendo a placa de
crescimento.
- Maltrato infantil: A definição de maltrato infantil segundo o ATLS (10ª edição) é: qualquer
criança que tem lesões intencionais causadas por seus cuidadores. Crianças vítimas de
maltrato têm um maior risco de morte que a da sua faixa etária normal, além de sofrerem
sequelas tanto orgânicas, quanto emocionais e psicológicas que as acompanharam pelo
resto da vida.
Trauma Geriátrico
Os pacientes geriátricos vítimas de trauma tendem a ter uma mortalidade maior que a dos
pacientes mais novos, ainda que o mecanismo de lesão seja semelhante, isso se deve ao
fato de pacientes mais velhos apresentarem complicações com maior facilidade, terem
múltiplas comorbidades associadas, haver uma falha na triagem desses pacientes, haver
envelhecimento dos órgãos e diminuição dos mecanismo fisiológicos de compensação,
entre outros.
Etiologias comuns de trauma nessa faixa etária são quedas acidente de veículo motoriza-
do, queimaduras e traumas penetrantes:
Quedas: Causa mais comum de trauma fatal nesses pacientes, aumentando o risco com a
idade. Alguns dos fatores de risco para esse tipo de trauma são idade avançada, mobili-
dade comprometida, histórico de quedas anteriores, demência, uso de medicamentos e
fatores ambientais
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capacidade reflexa diminuída, sentidos prejudicados, como visão e audição, além de mor-
bidade que podem gerar o acidente, como infarto agudo do miocárdio enquanto dirige.
Queimaduras: Continuam sendo uma causa importante de trauma e mesmo morte nessa
faixa etária. Peculiaridades dos pacientes tanto podem facilitar as situações de queimadu-
ra, como dificuldade de sair de um local incendiando, quanto atrasar a recuperação, por
um metabolismo mais lento.
Abordagem
A (“Airway”): Idosos tem reflexos de proteção da via aérea mais debilitados que pacientes
mais jovens, então o reconhecimento de obstrução da via aérea de forma rápida é essen-
cial para diminuir a mortalidade nestes indivíduos. É importante, quando for ser realizada
protocolo medicamentoso de sequência rápida de intubação em pacientes geriátricos,
diminuir a dose de barbitúricos, benzodiazepínicos e outros sedativos em 20 a 40%, para
evitar depressão cardiovascular.
B (“Breathing”): A ventilação é igual a dos adultos mais jovens, porém é importante notar
que, por causa da baixa reserva fisiológica, muitas vezes, as manifestações de hipóxia se
apresentam de forma insidiosa. Além disso, é relevante notar que comorbidades, como
doença pulmonar obstrutiva crônica, podem predispor esses doentes a uma insuficiência
respiratória mais facilmente.
D (“Disability”): Alguns pontos devem ser levados em conta nessa etapa da avaliação em
pacientes geriátricos, como maior prevalência de doenças demenciais nessa população,
que prejudica avaliação; frequente uso de anticoagulantes nessa faixa etária que pode
facilitar hemorragias intracranianas; e comum acometimento desses indivíduos por
doença aterosclerótica, que podem contribuir para lesão cerebral primária ou secundária.
A vantagem em relação a pacientes mais jovens é que no momento de avaliar os
benefícios e riscos de indicar um exame tomográfico nessa faixa etária, em geral, vai ser
mais vantajoso a realização do exame, pois o risco da exposição à radiação ionizante perde
força, comparando, por exemplo, com pacientes pediátricos.
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E (“Exposure”): Idosos têm maior propensão a hipotermia que pacientes adultos mais
jovens, uma vez que tem perda de gordura corporal, déficit nutricionais e comorbidades
associadas. Portanto, é importante o controle da temperatura desses pacientes.
Traumas comuns
Situações especiais
- Abuso nos idosos: É de extrema importância avaliar o estado do paciente em geral para
identificar possíveis abusos. O abuso é definido como qualquer lesão, intimidação, castigo
cruel provocado ao idoso, que pode desencadear angústia, dano físico ou dor. O abuso
nos idosos pode ser classificado de 6 formas: Abuso Físico; Abuso Sexual; Negligência;
Abuso Psicológico; Exploração financeira e material; Violação de Direitos.
Esses abusos podem ocorrer de forma simultânea. Abuso físico em idosos é relatado em
14% das admissões. É necessário que o profissional da saúde ao identificar tais abusos
comunique às autoridades competentes.
Trauma é a quinta maior causa de morte entre pacientes com mais de 65 anos de idade.
Deve-se suspender o suporte à vida e fornecer cuidados paliativos para aqueles pacientes
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em que os benefícios das ações adotadas pela equipe sejam menores do que os danos
causados. Por isso é sempre importante uma abordagem centrada na pessoa, em que haja
diálogo do paciente com a família, visando às melhores decisões quanto ao tratamento.
Trauma em Gestantes
Posição do útero: Este muda de uma localização intrapélvica por causa do seu crescimento
em direção ao abdome superior, empurrando o intestino. Essa diferença protege o intesti-
no do trauma abdominal contuso, mas o útero se apresenta mais vulnerável. O crescimen-
to do útero vai deixando as paredes cada vez mais finas, deixando-o vulnerável. No
terceiro semestre o feto costuma ter sua cabeça dentro da pelve, esse aspecto é relevante
pois traumas de pelve são associados a traumas cranianos fetais. Dentre as diferenças
fisiológicas podemos exemplificar por sistema (ver Tabela 6)
Sistema Respiratório O consumo de oxigênio é aumentado, tendo que ser mantido na reanimação
da mulher grávida. A elevação do diafragma diminui o volume residual. É
importante lembrar que níveis de PaCO2 devem ser avaliados, pois podem
indicar iminência de insuficiência respiratória quando estão entre 35-40
mmHg.
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Sistema Urinário Filtração glomerular e fluxo plasmático renal são aumentados. Ureia e creat-
inina são diminuídas.
- Trauma contuso: Representa 91% dos traumas em gestante, sendo causado quando a
gestante vai de encontro a um objeto rígido, como o volante de carro em caso de acidente
automobilístico. Apesar dos mecanismos de defesa do feto, como o líquido amniótico,
pode ocorrer injúria ou morte fetal. É mais comum ocorrer ruptura uterina ou descolamen-
to da placenta. Para minimizar os impactos de uma colisão, é necessário o uso do cinto de
segurança de três pontos, pois esse tipo aumenta a área de contato, diminuindo, assim, a
pressão aplicada.
- Trauma penetrante: Por causa das relações anatômicas já elucidadas, as vísceras ficam
protegidas pelo útero gravídico. Essa relação é um fator protetor para a mãe, que tem seus
órgãos resguardados, mas constitui um risco maior para o feto. A gravidade do trauma
deve ser avaliada sob a óptica da mãe, como já mencionado. É relevante cuidar de todos
os tipos de trauma, mesmo que leves, pois podem complicar caso não sejam bem maneja-
dos.
Avaliação e tratamento
Para realização da avaliação primária e reanimação, devemos atender tanto a mãe quanto
o feto, mas lembrar de garantir a avaliação da mãe primeiramente também é um cuidado
com feto.
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cos fetais pode ser feita por um equipamento Doppler. A monitoração por cardiotocografia
é indicada após 20 a 24 semanas de gestação.
Tratamento
Cesárea perimortem: A cesárea perimortem pode ser bem sucedida quando a causa da
parada cardiorrespiratória não é hipovolemia. Essa constatação advém do fato de que, em
casos de hipovolemia da mãe, o feto já sofreu por um grande período de hipóxia. Mesmo
nessas outras causas, deve ser realizada rapidamente dentro de 4 a 5 minutos após a
parada cardiorrespiratória.
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Autores, revisores e orientadores:
Referências
American College of Surgeons on Trauma. Advanced Trauma Life Support (ATLS) student course manual. 10.
ed. Chicago: American College of Surgeons; 2018.
COMMITTEE ON PEDIATRIC EMERGENCY MEDICINE et al. Management of pediatric trauma. Pediatrics, v.
138, n. 2, 2016.
PEREIRA JR., G. A.; ANDREGHETTO, A. C.; BASILE-FILHO, A.; ANDRADE, J. I. de. Trauma no paciente pediátri-
co. Medicina (Ribeirão Preto), [S. l.], v. 32, n. 3, p. 262-281, 1999. DOI: 10.11606/issn.2176-7262.v32i3p262-281.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/12701. Acesso em: 11 fev. 2021
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ISBN 978-65-89822-68-4