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GLOBALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Tenho a sensação de que em Portugal, tal como noutros países, muitos dos
que opinam sobre a globalização têm sobre ela uma ideia muito imprecisa,
incompleta ou mesmo errada.
Por outro lado, a globalização tem sido impulsionada pela redução dos
custos de comunicação e difusão de informação e ideias, em resultado dos
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Na Índia a taxa de iliteracia dos adultos baixou de 76% para 48% nos
últimos 40 anos.
nos últimos 20 anos foram aqueles que mais abriram as suas economias ao
comércio internacional e que mais atraíram investimento estrangeiro. Os
países que mantiveram as suas economias fechadas ao exterior apresentam
piores resultados.
Primeiro, por uma razão moral. Os habitantes dos países ricos não podem
ignorar as condições de extrema pobreza e sofrimento em que vivem as
pessoas de alguns países do mundo.
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Metade da população do mundo vive com menos de dois euros por dia.
Cerca de 1.200 milhões de pessoas vivem com um rendimento inferior a 1
euro por dia, 70% das quais são mulheres. 20% das crianças do mundo não
têm acesso à educação primária. Na África Subsahariana a esperança de
vida é de 49 anos.
Mas para além da razão moral, há uma motivação racional. Os países ricos
devem compreender que a solidariedade e a redistribuição do rendimento à
escala mundial são benéficas para a sua própria segurança e prosperidade.
Um mundo de grandes desigualdades de desenvolvimento entre os países,
em que alguns se encontram em situação da mais profunda pobreza, é um
mundo inseguro e instável. Não temos de nos surpreender que os
indivíduos dos países mais pobres procurem emigrar para os mais ricos,
contribuindo aí para o agravamento de problemas como a droga e a
criminalidade.
0,7% do produto, mas o facto de, na prática, a ajuda ainda não ultrapassar
metade daquele valor. No caso dos EUA a ajuda ao desenvolvimento é
apenas de 0,1% do PIB, ocupando o último lugar da lista dos países da
OCDE.
São objectivos que não serão certamente alcançados sem uma mudança de
atitude dos países industrializados e um aumento significativo de recursos
financeiros para a ajuda oficial ao desenvolvimento. É esse um dos
vectores do Consenso de Monterrey da Conferência sobre o Financiamento
para o Desenvolvimento que teve lugar no México, em Março deste ano. A
experiência passada não permite, contudo, grandes optimismos e receia-se
que seja mais uma declaração de boas intenções.
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Penso que se justifica impor aos governantes dos países pobres algumas
exigências para que as ajudas se traduzam efectivamente em melhoria das
suas perspectivas de desenvolvimento e em redução da pobreza e
sofrimento das populações.
É urgente que os países ricos permitam o acesso aos seus mercados das
exportações dos países menos desenvolvidos, incluindo dos produtos
agrícolas, livres de quaisquer direitos ou restrições quantitativas.
Espero que as jornadas de reflexão que irão ter lugar contribuam para
inquietar os empresários e gestores portugueses para quem os valores éticos
e cristãos são importantes.
ACEGE
20 de Setembro de 2002
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