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Brady & Powel: arrancar máscaras!

abandonar
papéis!
Pressupostos e atitudes necessárias para a boa comunicação:

1. Devemos nos empenhar na comunicação;


2. Devemos nos convencer de que somos um dom a ser feito e que, por meio da sua
auto-revelação, os outros são uma dádiva que nos é oferecida;
3. Devemos decidir-nos a ser honestos com nós mesmos;
4. Regras para a prática bem sucedida da revelação de si (falar):
5. Ao nos revelar aos outros, devemos assumir total responsabilidade por nossas próprias
ações e reações. Em conseqüência, faremos afirmações com o pronome “eu”, não “você”;
6. Devemos falar apenas por nós mesmos. Ao me comunicar, devo tornar claro que estou
falando apenas minha verdade, não a verdade;
7. Devemos partilhar com aqueles com quem nos relacionamos todos os sentimentos
significativos;
8. Devemos ser corajosos o bastante para partilhar nossa vulnerabilidade pessoal;
9. Devemos expressar gratidão aos nossos ouvintes;

Regras para a bem sucedida aceitação de outrem (escutar):

1. Devemos estar “presentes” e “disponíveis” aos que se oferecem para se revelar a nós;
Devemos aceitar os outros como são;
2. Escutar atentamente para apreender a “consistência interior” dos outros;
3. Procuremos não adivinhar pensamentos, julgando as intenções e motivos dos outros;
4. Expressemos reações empáticas e tranquilizadoras, quando os outros estão se
revelando à nós;
5. Esclareçamos a mensagem que está sendo transmitida, tentando sempre entender
corretamente o que os outros querem dizer;
6. Ofereçamos sugestões, nunca instruções;
7. Evitemos todos os bloqueios à comunicação;
8. Agradeçamos explicitamente aos que se revelam a nós;
9. Práticas de incentivo à boa comunicação interpessoal:
10. A boa comunicação exige um tempo especial ou de qualidade;
11. Tocar-se é uma importante forma de comunicação;
12. Para ser comunicadores eficientes, devemos “nos expandir” para além de nossas
“zonas de conforto”;
13. Aprendamos a pedir desculpas quando necessário;
14. Evitar o acúmulo de tensões;
15. Em tempos de crise, precisaremos usar abordagens especiais;
16. Ao falar ou ouvir, o motivo da boa comunicação deve ser sempre o amor;
17. Rezar para obter a iluminação e a coragem de bem nos comunicar.

Somerset Maugham em O fio da navalha diz que os homens e as mulheres não são somente
eles mesmos. São a região onde nasceram, o apartamento da cidade onde aprenderam andar,
as brincadeiras que brincaram na infância, as conversas fiadas que ouviram por acaso, os
alimentos que comeram, as escolas que freqüentaram, os esportes que praticaram, os poemas
que leram e o Deus em que creram. Às vezes podemos achar que não, mas cada um de nós é
um mistério único. O mistério que é você e o mistério que sou eu nunca existiram antes. Jamais
existirá alguém exatamente como você ou eu. [...] É tão particular quanto suas impressões
digitais. E só você pode partilhar seu mistério e talento comigo [...] o tesouro de minha
singularidade é meu para doar ou recusar. p. 27

Se você preferir recusar-me seu Dom, serei privado de partilhar do mistério e experiência
singular que você é. Da mesma forma posso negar-lhe a experiência direta de como é ser eu.
Exatamente como ficaremos privados para sempre por causa dessa mútua recusa, o oposto
também é verdadeiro. Podemos ficar para sempre enriquecidos por uma franqueza e um
partilhar mútuos. A participação indireta na existência humana singular de outra pessoa é
sempre enriquecedora. Essa é a grande dádiva da comunicação. Quando me disser quem é
você, quando partilhar sua singularidade comigo, levar-me-á a um mundo diferente, a um
tempo e lugar diferentes, a uma família diferente. Você partilhará sua antiga vizinhança comigo
e me contará histórias que ouviu quando criança [...] Você me conduzirá a arcas secretas e
experiências que não eram parte de minha vida. Apresentar-me-á emoções, esperanças e
sonhos que nunca foram meus. E isso só poderá ampliar as dimensões de minha mente e meu
coração. Ficarei sempre enriquecido pelo nosso partilhar. Meu mundo de experiências ficará
para sempre ampliado, por causa de sua bondade para comigo.

Escrito anônimo: As pessoas são dádivas.

As pessoas são dádivas de deus para mim. Já vêm embrulhadas, algumas lindamente e outras
de modo menos atraente. Algumas foram danificadas no correio; outras chegaram por “entrega
especial”. Algumas estão desamarradas, outras hermeticamente fechadas. Mas o invólucro não
é a dádiva e essa é uma importante descoberta. É tão fácil cometer um erro a esse respeito,
julgar o conteúdo pela aparencia. Às vezes a dádiva é aberta com facilidade; às vezes é
preciso a ajuda de outros. Talvez porque tenham medo. Talvez já tenham sido magoadas antes
e não queiram ser magoados de novo. Pode ser que já tenham sido abertos e depois jogados
fora. Pode ser que agora se sintam mais como “coisas” do que “pessoas humanas”. Sou uma
pessoa: como todas as outras, também sou uma dádiva. Deus encheu-me de uma bondade
que é só minha. E contudo, às vezes, tenho medo de olhar dentro de meu invólucro. Talvez eu
tenha medo de me Desapontar. Talvez eu não confie em meu próprio conteúdo. Ou pode ser
que eu nunca tenha realmente aceitado a dádiva que sou. Todo encontro e partilhar de
pessoas é uma troca de dádivas. Minha dádiva sou eu; a sua é você. Somos dádivas um para
o outro. p. 28-29

“A questão aqui é esta: meu motivo pode ser desabafo, manipulação ou comunicação. Se lhe
conto meus sentimentos porque quero desabafar, não estou me revelando como uma dádiva a
ser oferecida, mas estou usando-o como uma lata de lixo, para meu refugo emocional, para
que possa me sentir melhor (e você muito provavelmente se sentir pior). Se meu motivo é
manipulação, estou, consciente ou inconscientemente, manobrando-o. Posso querer que você
se sinta responsável por mim e por minhas emoções, sinta-se culpado por haver causado
minhas emoções ou mesmo dê-me a solidariedade que estou procurando. [...] O único motivo
aceitável para que eu compartilhe meus sentimentos é a comunicação. Conto-lhe meus
sentimentos porque quero que você conheça meu verdadeiro eu e quero ter um relacionamento
verdadeiro com você, não um “arranjo” erroneamente chamado de “amizade”. p. 53

Existe uma teoria que alega que todos temos complexo de inferioridade que surgem quase que
como uma herança e são firmemente estabelecidos durante os cinco primeiros anos de vida.
Uma criança normal recebe nos primeiros cinco anos de vida 431 mensagens negativas em um
dia: “pare com isso!” ou “desça daí “ etc. Como resultado dessas mensagens negativas,
desenvolvemos instintos de auto proteção. Tentamos cobrir os nossos egos para evitar maiores
danos = mecanismos de defesa do ego. Os mais comuns são os cinco abaixo:
Compensação: inclinamo-nos para trás para evitar cair de cara [...] o menininho assobia no
escuro enquanto atravessa um cemitério à noite; a garotinha teimosa insiste “não dói... não
dói”;
Transferência: construímos uma válvula de escape para os impulsos que não podemos deixar
escapar diretamente. Ex.: não posso expressar minha hostilidade pelo meu chefe porque ele
poderia me despedir. Por isso vou a uma partida de futebol e grito: “juiz filho da puta”;
Projeção: habilmente renegamos as qualidades indesejáveis em nós mesmos, mas atribuímos
essas qualidades repugnantes a outra pessoa ou outra coisa [...] transferimos a
responsabilidade por nossas deficiências e fracassos, de nós mesmos a outra pessoa ou coisa
Introjeção: proclamamos como nossas as boas qualidades ou os feitos dos outros,
compartilhando indiretamente de suas realizações e nos aquecendo com o brilho de sua glória.
É também possível introjetar sensação de perseguição ou de martírio pessoal. Imaginamo-nos
como vítimas heróicas. Também é uma forma de introjeção, quando identificamos nossas
posses materiais com nossas pessoas e nos inflamos de orgulho quando alguém admira nosso
carro. Ex.: novelas.

Racionalização: é a mais predominante [...] é um falso exercício de autojustificação [...] posso


achar boas razões por não fazer o que sei que devia [...] ou achar justificativa por fazer o que
sei que é errado. p. 61-63

Honestidade e franqueza neutralizam nossas tendências doentias. Honestidade e franqueza,


vontade de nos revelar com imperfeições e tudo fazem-nos reais. [...] as conseqüências da
honestidade às vezes parecem um preço alto demais, mas não devemos nos preocupar. p. 64

A falsidade exige um megaesforço. Grande alívio é contar as coisas como realmente são,
sentir-nos a salvo e seguros sendo nós mesmos. p. 67

As pessoas nunca ouvem exatamente o que dizemos. E o importante não é o que dizemos,
mas o que elas ouvem. p. 71

O maior fardo na vida é ter um grande potencial (apud Minduim, p. 83).

A empatia, como as outras práticas envolvidas na comunicação, é uma habilidade que pode ser
desenvolvida. Às vezes, acho que o principal obstáculo à empatia é nossa crença persistente
de que todo mundo é exatamente como nós [...] que todo mundo vê as coisas de nosso modo
[...] que todo mundo reage exatamente como nós. Para desenvolver nossos poderes de
empatia, temos de reconhecer a diversidade única de todo ser humano. Devemos ser capazes
de abandonar nosso próprio sistema de coordenadas e nossos próprios instintos e de assumir
os de outrem. Em certo sentido, a empatia é a arte fundamental do ouvinte no processo de
comunicação [...] a empatia é difícil por causa de nossas diferenças [...] quando alguém
discorda de nós ou realmente não gosta de nós ou de algo que estejamos fazendo. Sair de
nossa pele e nos colocar na deles em momentos como esse é a perfeição da empatia [...] a
empatia é adquirida somente com a prática. p. 99

Como é ser você? Pode me ajudar a compreender? Quando se levanta pela manhã e olha no
espelho, qual é a sua reação ao que vê?. p. 101

Acho que naquela noite desci a vales e escalei montanhas onde nunca estivera antes e acho
que aprendi bastante sobre o poder benéfico da empatia [...] nunca saímos de casa e voltamos
a mesma pessoa, porque somos modificados por nossas experiências [...] é igualmente
verdade que nunca saímos de nós mesmos para viver brevemente na pessoa e no mundo de
outrem e voltamos para nossa vidas como a mesma pessoa. A cura e a transformação da
empatia são sempre mútuas: cura e transforma tanto quem recebe como quem dá [...] o convite
à empatia começa com esta pergunta: como é ser você?. p. 102

Tenho que me esforçar para esclarecer sua mensagem. Existem 3 tipos de esclarecimento,
cada um trata de um nível de compreensão diferente: pedir mais informações; verificar o
significado das palavras: partilhar definições! Verificar minha compreensão de sua experiência:
devolvo-lhe seu partilhar como entendi para assegurar que realmente aprendi o impacto de sua
experiência em você. p. 104

Ao procurar um esclarecimentos em qualquer um desses níveis, a coisa mais importante é que


nossas intenções sejam claras ao falante. E nossas intenções devem sempre provocar:
interesse no falante; gentileza e paciência com o processo; desejo de entender plenamente o
partilhar de ourtem.

Passar como navios dentro da noite é uma alternativa solitária e dolorosa. p. 109

Sei que você


crê que entendeu
o que pensa que eu disse,
mas não tenho certeza
se você percebe
que o que ouviu
não é o que eu quis dizer. p. 107

Evitar todos os bloqueios à comunicação. Eis abaixo alguns bloqueios comuns:


 Conselhos: o que você devia fazer é...
 Competição: tenho certeza que pareço melhor do que...
 Computação: Dizem que estudos demonstraram...
 Distração da atenção: Puxa, este é um grande lugar...
 Sonho: O quê?... Claro... Entendo.
 Filtro: Outra bom dia no trabalho, hein?
 Saco de aniagem: Sim, mas você ...
 Identificação: Sim, é igual a ocasião em que...
 Desconsideração: “...” mesmo quando estou “ignorando”, escuto.
 Denominação (rotulagem): “Ora vamos, você é mesmo paranóico”
 Conciliação: “Oh, sim. É verdade. Hum! Você tem razão”
 Ensaio de minha resposta: “Logo que ele acabar de falar, vou lhe dizer exatamente...”
 Sarcasmo: “Não se apresse querida, poderá perder a fama de... p. 117-123

Expandir-se [...] significa sair de nossas zonas de conforto. Significa sonhar o sonho
impossível, tentar alcançar o que antes era inatingível, experimentar o que ainda não foi
experimentado, arriscar-se a falhar, ousar ir a lugares onde nunca estivemos antes. p. 142

Se a comunicação começa a perecer forçada e tensa, devemos nos fazer estas perguntas a
respeito do processo:

 Estamos fazendo afirmações com o pronome “você”?


 As emoções estão sendo representadas indiretamente em vez de francamente
expressas?
 Estamos desabafando ou manipulando em vez de nos comunicando?
 Algum de nós se sente emocionalmente transtornado?
 Parecemos estar na defensiva?
 Estamos marcando os pontos em um placar invisível?
 Estamos em um padrão de acusação e contra-acusação?
 Estamos caindo nas armadilhas de aconselhar, presumir ou julgar um ao outro?
 Parece haver um bloqueio para o ato de escutar mútua e francamente?
 Sentimo-nos frustrados com nossas trocas?
 Caso sim [...] devemos ir mais devagar, mudar o foco do assunto para o processo e
analisar juntos o processo. p. 161

É importante para todos nós considerar o processo de comunicação exatamente tão essencial
a uma vida plena quanto a alimentação e os exercícios. p. 164

“Quando a satisfação, a felicidade e a segurança de outrem são tão reais para você quanto as
suas próprias, você ama verdadeiramente essa pessoa” (Harry Stack Sullivan, psiquiatra). [...]
Os sentimentos são instantâneos, passageiros e ambivalentes. O amor é antes uma decisão
(vou amá-la) e um compromisso. p. 165

Tudo o que não é abertamente expresso em um relacionamento torna-se uma insidiosa força
de destruição. p. 167

Uma intenção amorosa é reconhecida pelo que faz. O motivo do amor deve claramente excluir:

 Magoá-lo ou puni-lo;
 Revidar alguma coisa que você fez;
 Rebaixá-lo, pô-lo de volta em seu lugar;
 Parar de me preocupar com você, ignorando-o;
 Mantê-lo à distância;
 Manipula-lo para que sinta ou aja de um jeito que me agrade;
 Desabafar despejando o meu lixo emocional sobre você;
 Recusar-me a escutá-lo;
 Construir barreiras entre nós;
 Ridicularizar, castigar, julgar ou competir, a fim de superá-lo. p. 168

De fato, uma das leis de aprendizagem diz que quanto mais sentidos estiverem envolvidos no
processo de aprendizagem, tanto mais profundamente as lições penetrarão e por mais tempo
serão lembrada. p. 138

O contato é para a comunicação o que a música é para as palavras. p. 139

REFERÊNCIA

BRADY, Loretta; POWEL, John. Arrancar máscaras! Abandonar papéis!: a comunicação


pessoal em 25 passos; tradução de Bárbara Theodato Lambert. São Paulo: Loyola, 1988.

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