Você está na página 1de 32

Boas-vindas

Olá!

É com grande satisfação que o ZAYN – Instituto Mineiro de Formação Continuada agradece
por escolhê-lo para realizar e/ou dar continuidade aos seus estudos. Nós do ZAYN estamos
empenhados em oferecer todas as condições para que você alcance seus objetivos, rumo a uma
formação sólida e completa, ao longo do processo de aprendizagem por meio de uma fecunda
relação entre instituição e aluno.

Prezamos por um elenco de valores que colocam o aluno no centro de nossas atividades
profissionais. Temos a convicção de que o educando é o principal agente de sua formação e que,
devido a isso, merece um material didático atual e completo, que seja capaz de contribuir
singularmente em sua formação profissional e cidadã. Some-se a isso também, o devido respeito
e agilidade de nossa parte para atender à sua necessidade.

Cuidamos para que nosso aluno tenha condições de investir no processo de formação
continuada de modo independente e eficaz, pautado pela assiduidade e compromisso discente.

Com isso, disponibilizamos uma plataforma moderna capaz de oferecer a você total
assistência e agilidade da condução das tarefas acadêmicas e, em consonância, a interação com
nossa equipe de trabalho. De acordo com a modalidade de cursos on-line, você terá autonomia
para formular seu próprio horário de estudo, respeitando os prazos de entrega e observando as
informações institucionais presentes no seu espaço de aprendizagem virtual.

Por fim, ao concluir um de nossos cursos de pós-graduação, segunda licenciatura,


complementação pedagógica e capacitação profissional, esperamos que amplie seus horizontes
de oportunidades e que tenha aprimorado seu conhecimento crítico a cerca de temas relevantes
ao exercício no trabalho e na sociedade que atua. Ademais, agradecemos por seu ingresso
ao ZAYN e desejamos que você possa colher bons frutos de todo o esforço empregado na
atualização profissional, além de pleno sucesso na sua formação ao longo da vida.

BIOÉTICA AMBIENTAL
INSTITUTO
E DESENVOLVIMENTO
ZAYN
SUSTENTÁVEL

CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA

Curso: PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO AMBIENTAL

Disciplina: Bioética Ambiental e desenvolvimento Sustentável


EMENTA:

Bioética ambiental e desenvolvimento sustentável. Construindo a justiça


ambiental. Ecofilosofia. Ética e valores. O pensamento ecológico. Indicadores
para medir a eficiência das ações ambientais. Desenvolvimento sustentável.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1 – BIOÉTICA AMBIENTAL
2 – CONSTRUINDO A JUSTIÇA AMBIENTAL
3 – ECOFILOSOFIA
4 – ÉTICA E VALORES
5 – O PENSAMENTO ECOLÓGICO
6 – INDICADORES PARA MEDIR A EFICIÊNCIA DAS AÇÕES
AMBIENTAIS
7 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Objetivo Geral

• Proporcionar aos alunos do curso de Gestão Ambiental noções a


respeito da bioética ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Objetivos Específicos

✓Apresentar a bioética ambiental, o que é e sua história;

✓Mostrar como foi a construção pela justiça ambiental;

✓Ensinar sobre ecofilosofia; ética e seus valores da bioética


ambiental;

✓O que é o pensamento ecológico;

✓Apresentar indicadores para medir as ações ambientais; e


noções para um desenvolvimentos sustentável.
Bibliografia Básica

BOFF, L. Ética da vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

BRADEN, Anne. Justice Environnementale et Justice Sociale aux États Unis,


In: Ecologie Politique, n. 10, 1994.

CARNEIRO, Rosana. A arquitetura da vida. Revista: Senac e Educação


Ambiental, Rio de janeiro, 2001. Ano 12, n.2, abril/agosto de 2003.

CASTRO, M. C. Desenvolvimento sustentável: a genealogia de um novo


paradigma. Economia e Empresa, São Paulo, v.3, n.3, p.22-32, jul./set. 1996.

DARWIN, C. On the origin of the species by means of natural selection.


London: John Murray, 1859.

FURTADO, C. O Mito do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro:


Paz e Terra, 1974.

ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1993.

POTTER, V. R. Bioethics: bridge to the future. Englewood Cliffs: Prentice


Hall, 1971.

VERNIER, J. O Meio Ambiente. 7 Ed. Campinas: Papirus, 1994

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

1 – BIOÉTICA AMBIENTAL 6

2 – CONSTRUINDO A JUSTIÇA AMBIENTAL 8

2.1 – História do Movimento por Justiça Ambiental 10

3 – ECOFILOSOFIA 14

4 – ÉTICA E VALORES 16
5 – O PENSAMENTO ECOLÓGICO 18

5.1 – Corredores Ecológicos 18

5.2 – Agroecologia 21

5.3 – Ecoéticas 21

6 – INDICADORES PARA MEDIR A EFICIÊNCIAS DAS

AÇÕES AMBIENTAIS 25

7 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 28

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS 37

AVALIAÇÃO 39

GABARITO 43

1 – BIOÉTICA AMBIENTAL

Para Carvalho, Pessini e Campos Júnior (2006), o termo bioética com o


sentido de ―[...] obrigações éticas não apenas com o homem, mas com todos
os seres vivos‖, segundo Engel (2004) foi usada pela primeira vez em trabalho
publicado em 1927, por Fritz Jahr que definia o termo bioética como ―a
emergência de obrigações éticas não apenas com o homem, mas a todos os
seres vivos‖.
Westphal (2006 apud Carvalho, Pessino e Campos Junior, 2006), afirma que a
Bioética foi criada para designar a relação entre a vida humana, vegetal e
animal em sentido amplo, colocando toda a biosfera como tema de sua
preocupação, assim como Lovelock em sua hipótese Gaia.
Justamente devido o tópico discorrer sobre a bioética voltada para o meio
ambiente, precisamos entender conceitos preliminares como ecologia!
A ecologia é uma ciência que tem contribuído para os debates sociais, éticos,
políticos e econômicos nas sociedades devido aos diversos problemas
ambientais que acometem o Planeta Terra, alguns citados abaixo:

• Buraco na camada de ozônio;


• As mudanças climáticas;
• Aquecimento global;
• Agravamento das catástrofes naturais.

Essas alterações do meio ambiente provocam conflitos em diferentes regiões,


possibilitando a proliferação de inúmeras doenças, a perda de habitats por
diferentes populações e consequentemente a extinção e/ou migração de
espécies de seres vivos. Há também alterações dos ciclos de chuvas com
impactos econômicos na agricultura e pecuária, entre outros.

Assim, a Bioética ambiental surgiu para se pensar as relações homem natureza


no século XXI.

Lembremos que o termo ecologia — do grego, óikos = morada; lógos =


estudo, ou seja, estudo sobre a casa — foi criado pelo biólogo Ernst Haeckel,
em 1866 (HAECKEL, 1870).

Seu significado — ciência que investiga a inter-relação entre os seres vivos


em um dado espaço geográfico (sua casa) — está intimamente relacionado às
questões ambientais.

Em 1870, Haeckel refinou a definição do termo proposto por ele mesmo,


conferindo uma amplitude maior, ao considerar a ecologia como um conjunto
de conhecimentos referente à economia da natureza, a qual compreende o
estudo de todas as inter-relações complexas denominadas por Darwin como as
condições de luta pela existência (HAECKEL, 1870).

Segundo Ricklefs (2003), a ecologia é o ramo da ciência que estuda o


ambiente natural e as relações dos organismos entre si e com os seus
arredores.

A definição acima representa não só uma flexibilidade da terminologia, mas


principalmente um avanço do ponto de vista das intercessões que podem ser
observadas nos estudos ecológicos, as quais, hoje ultrapassam os aspectos
unicamente ecológicos, alcançando as fronteiras de outros saberes, tais como
os da Ética e da Bioética (BOFF, 2002).

O entendimento sobre o funcionamento dos ecossistemas e as alterações


antrópicas sobre o meio ambiente é necessário para as tomadas de decisões
políticas e econômicas, com o intuito de minimizar os impactos ambientais, as
catástrofes naturais e os problemas de saúde pública que estão interligados ao
uso desregrado do ambiente.

Assim surge a bioética ambiental - reflexão ética sobre os seres vivos e o


ambiente – com a marcante preocupação ecológica, capaz de minimizar a
deterioração das relações homem / natureza – compreendendo que antes o
homem que prejudicava o planeta Terra hoje preocupa com a perpetuação da
espécie humana e de sua qualidade de vida (POTTER, 1970).

A associação entre a Bioética e Ecologia torna os cidadãos mais conscientes,


atuando de forma responsável com o ambiente e possibilitando que a Terra
permaneça habitável e sustentável para as gerações presentes e futuras.

2 – CONSTRUINDO A JUSTIÇA AMBIENTAL


A justiça ambiental nasce da luta da sociedade civil contra a apropriação
desigual dos recursos ambientais, o que joga a maior carga dos danos
ambientais do desenvolvimento nas populações marginalizadas e vulneráveis.
Por conseguinte, a reivindicação de justiça ambiental é também por justiça
social.
O movimento por justiça ambiental tem sua origem nos anos 1980, nos
movimento por direitos civis de grupos negros norte-americanos mobilizados
contra a contaminação ambiental de suas áreas de moradia.
No Brasil, um dos primeiros atos nesta direção foi a formação da Rede
Brasileira por Justiça Ambiental. Seu documento de referência é a Declaração
Final do Colóquio Internacional Sobre Justiça Ambiental, Trabalho e
Cidadania, realizado em Niterói (RJ), em setembro de 2001.
Como destaca a Declaração, no Brasil, trabalhadores e população em geral
estão expostos continuamente a riscos ambientais, vivendo muitas vezes
próximo ou em áreas contaminadas por resíduos tóxicos, sobre gasodutos e
sob linhas de transmissão de eletricidade, ou carentes de saneamento básico e
ameaçadas por desmoronamentos e enchentes. Os grupos sociais de menor
renda, em geral, são os que têm menor acesso ao ar puro, à água potável, ao
saneamento básico e à segurança fundiária. As dinâmicas econômicas geram
um processo de exclusão territorial e social, que nas cidades leva à
periferização de populações e, no campo, ao trabalho precarizado ou ao êxodo
para os grandes centros urbanos.
A Rede atua mediando a denúncia de casos de injustiça ambiental e
facilitando a articulação de movimentos sociais em torno da luta:

a. para que nenhum grupo social, étnico, racial ou de classe suporte uma
parcela desproporcional das consequências ambientais negativas de
operações econômicas, de decisões de políticas e de programas
federais, estaduais e locais, assim como da ausência ou omissão de tais
políticas;
b. pelo acesso justo e equitativo, direto e indireto, aos recursos ambientais
do país;
c. pelo amplo acesso às informações relevantes sobre o uso dos recursos
ambientais e a destinação de rejeitos, e a localização de fontes de riscos
ambientais, bem como aos processos democráticos e participativos na
definição de políticas, planos, programas e projetos que lhes dizem
respeito.

2.1 História do movimento por justiça ambiental


O Movimento de Justiça Ambiental constituiu-se nos EUA, nos anos 1980,
fruto de uma articulação criativa entre lutas de caráter social, territorial,
ambiental e de direitos civis. Já a partir do final dos anos 1960, redefiniu-se
em termos ambientais um conjunto de embates contra as condições
inadequadas de saneamento, de contaminação química de locais de moradia e
trabalho e disposição indevida de lixo tóxico e perigoso.
Nos anos 1970, sindicatos preocupados com saúde ocupacional, grupos
ambientalistas e organizações de minorias étnicas articularam-se para elaborar
em suas pautas respectivas o que entendiam por questões ambientais urbanas.
Alguns estudos apontavam já a distribuição espacialmente desigual da
poluição, segundo a raça das populações a ela mais expostas, sem, no entanto,
que se tenha conseguido mudar a agenda pública. Em 1976-77, diversas
negociações foram realizadas tentando montar coalizões destinadas a fazer
entrar na pauta das entidades ambientalistas tradicionais o combate à
localização de lixo tóxico e perigoso predominantemente em áreas de
concentração residencial de população negra.
A constituição de um movimento afirmou-se a partir de experiência concreta
de luta inaugurada em Afton, no condado de Warren, na Carolina do Norte,
em 1982. Ao tomarem conhecimento da iminente contaminação da rede de
abastecimento de água da cidade caso fosse nela instalado um depósito de
policlorinato de bifenil, os habitantes do condado organizaram protestos
maciços, deitando-se diante dos caminhões que para lá traziam a perigosa
carga. Com a percepção de que o critério racial estava fortemente presente na
escolha da localização do depósito daquela carga tóxica, a luta radicalizou-se,
resultando na prisão de 500 pessoas. A população de Afton era composta de
84% de negros; o condado de Warren, de 64% e o estado da Carolina do
Norte, de 24% (HARTLEY, 1995, p. 278).
Face a tais evidências, estreitaram-se as convergências entre o movimento dos
direitos civis e dos direitos ambientais.
Nascido de lutas de base contra iniquidades ambientais a nível local, o
movimento culminou elevando a justiça ambiental à condição de questão
central na luta pelos direitos civis. Ao mesmo tempo, ele induziu a
incorporação da desigualdade ambiental na agenda do movimento
ambientalista tradicional.
Como o conhecimento científico é correntemente evocado em estratégias de
redução das políticas ambientais a meras soluções técnicas, o movimento de
justiça ambiental estruturou suas estratégias de resistência recorrendo de
forma inovadora à própria produção de conhecimento. Notadamente, o
movimento recorreu aos resultados da pesquisa multidisciplinar que promoveu
sobre as condições da desigualdade ambiental no país. Momento crucial desta
experiência foi a pesquisa encomendada em 1987 pela Comissão de Justiça
Racial da United Church of Christ, que mostrou que a composição racial de
uma comunidade é a variável mais apta a explicar a existência ou inexistência
de depósitos de rejeitos perigosos de origem comercial em uma área
(LAITURI; KIRBY, 1994, p. 125)
Evidenciou-se, então, que a proporção de residentes que pertencem a minorias
étnicas em comunidades que abrigam depósitos de resíduos perigosos é igual
ao dobro da proporção de minorias nas comunidades desprovidas de tais
instalações. O fator raça revelou-se mais fortemente correlacionado com a
distribuição locacional dos rejeitos perigosos do que o próprio fator baixa
renda.
Portanto, embora os fatores raça e classe de renda tenham se mostrado
fortemente interligados, a raça apresentou-se como um indicador mais potente
da coincidência entre os locais onde as pessoas vivem e onde os resíduos
tóxicos são depositados.
Foi a partir desta pesquisa que o reverendo Benjamin Chavis cunhou a
expressão racismo ambiental para designar a imposição desproporcional –
intencional ou não – de rejeitos perigosos às comunidades de cor
(PINDERHUGHES, 1996, p. 241).
Dentre os fatores explicativos de tal fato, alinham-se a disponibilidade de
terras baratas em comunidades de minorias e suas vizinhanças, a falta de
oposição da população local, por fraqueza organizativa e carência de recursos
políticos das comunidades de minorias, a falta de mobilidade espacial das
minorias em razão de discriminação residencial e, por fim, a sub-
representação das minorias nas agências governamentais responsáveis por
decisões de localização dos rejeitos. Ou seja, fezse evidente que forças de
mercado e práticas discriminatórias das agências governamentais concorrem
de forma articulada para a produção das desigualdades ambientais.
A partir de 1987, as organizações de base começaram a discutir mais
intensamente as ligações entre raça, pobreza e poluição, e pesquisadores
iniciaram estudos sobre as ligações entre problemas ambientais e injustiça
social, procurando elaborar os instrumentos de uma Avaliação de Equidade
Ambiental que procurava introduzir variáveis sociais nos tradicionais estudos
de avaliação de impacto.
Neste novo tipo de avaliação, a pesquisa participativa envolveria como
coprodutores do conhecimento os próprios grupos sociais ambientalmente em
desvantagem, viabilizando uma apropriada integração analítica entre
processos biofísicos e processos sociais. Procurava-se postular, assim, que
aquilo que os trabalhadores, grupos étnicos e comunidades residenciais sabem
sobre seus ambientes deve ser visto como parte do conhecimento relevante
para a elaboração não discriminatória das políticas ambientais.
Mudanças se fizeram então sentir ao nível do próprio Estado. Pressionado
pelo Congressional Black Caucus, em 1990, a Environmental Protection
Agency do governo dos EUA criou um grupo de trabalho para estudar o risco
ambiental em comunidades de baixa renda. Dois anos mais tarde, este grupo
concluiria que havia falta de dados para uma discussão da relação entre
equidade e meio ambiente, e reconhecia que os dados disponíveis apontavam
tendências perturbadoras, sugerindo, por esta razão, maior participação das
comunidades de baixa renda e minorias no processo decisório relativo às
políticas ambientais.
Em 1991, os 600 delegados presentes à I Cúpula Nacional de Lideranças
Ambientalistas de Povos de Cor aprovaram os 17 Princípios da Justiça
Ambiental, estabelecendo uma agenda nacional para redesenhar a política
ambiental dos EUA de modo a incorporar a pauta das minorias – comunidades
ameríndias, latinas, afroamericanas e asio-americanas – tentando mudar o eixo
de gravidade da atividade ambientalista nos EUA (BRADEN, 1994, p. 10).
O movimento de justiça ambiental consolidou-se, assim, como uma rede
multicultural e multirracial nacional, e mais recentemente internacional (seis
representantes do movimento dos EUA e das Filipinas estiveram no Rio de
Janeiro em 1998, desenvolvendo contatos com ONGs, como o Ibase, e grupos
acadêmicos, como o IPPUR/UFRJ), articulando entidades de direitos civis,
grupos comunitários, organizações de trabalhadores, igrejas e intelectuais no
enfrentamento do racismo ambiental como uma forma de racismo
institucional, buscando fundir direitos civis e preocupações ambientais em
uma mesma agenda e avançando na superação de vinte anos de dissociação e
suspeita entre ambientalistas e movimento negro.
A luta pelo reconhecimento da desigualdade ambiental nos EUA tem
constituído um passo importante para a contestação do modelo de
desenvolvimento.
O lema do movimento tem sido poluição tóxica para ninguém, e não
simplesmente o de deslocar a poluição de lugar ou exportar a injustiça
ambiental para os países onde os trabalhadores estejam menos organizados.
Trata-se de discutir a pauta da chamada transição justa, de modo que a luta
contra a poluição desigual não destrua simplesmente o emprego dos
trabalhadores das indústrias poluentes ou penalize as populações dos países
menos industrializados para onde as transnacionais tenderiam a transferir suas
fábricas sujas.
O movimento de justiça ambiental vem procurando, assim, se
internacionalizar para construir uma resistência global às dimensões globais
da reestruturação espacial da poluição (ACSELRAD, 2006).

3 – ECOFILOSOFIA
O conhecimento é um processo dinâmico que não cessa, pois é movido pela
própria curiosidade do homem em saber mais. Apesar de inúmeras perguntas
já terem sido respondidas, muitas dúvidas permanecem e aguçam a
curiosidade de filósofos e cientistas.
No passado, o conhecimento tinha uma abordagem mais universalista, pois
vários filósofos eram médicos, artistas, matemáticos, físicos ou cosmólogos.
O saber não era fragmentado como temos hoje, e a Filosofia da Natureza
mantinha todas as disciplinas integradas e trabalhando juntas. Desde os
séculos VI e VII (a.C.), pensadores gregos como Heráclito e Parmênides eram
considerados filósofos da natureza, pois tinham interesse em descobrir o
princípio fundamental que criou o universo e toda a vida animal, vegetal e
mineral contida no planeta.
Na história da filosofia, eles também são conhecidos como os filósofos pré-
socráticos, pois viveram antes do nascimento de Sócrates, mestre de Platão.
Os antigos filósofos da natureza queriam descobrir a mecânica do universo, de
que ele era feito, como foi criado e qual seria a sua finalidade.
Atualmente os saberes são claramente divididos, com seus campos de ação
bem delimitados, produzindo conhecimento por meio de discursos específicos,
como a matemática, a física ou a biologia. Nesse aspecto, o ressurgimento da
Filosofia da Natureza chega em um momento muito importante, pois a ideia é
estabelecer um diálogo que possa provocar uma nova interação de todas essas
disciplinas. As questões atuais são muito complexas, e a integração dos vários
campos do saber poderá resolver alguns problemas que dificilmente serão
solucionados de uma maneira particular ou isolada.
Segundo Gonçalves (2001), a ecofilosofia propõe reavaliar a relação do
homem com a natureza, para a partir daí repensar valores práticos que possam
ser revertidos em benefício do meio ambiente. O ecofilósofo tenta deslocar o
objeto clássico da filosofia, que é o pensamento sobre o homem e suas
produções, para a natureza. Essa proposta, na verdade, retoma o projeto
original dos filósofos gregos pré-socráticos, conhecidos como filósofos da
natureza, que pensavam a physis (mundo físico) e o logos (pensamento, razão)
numa mesma esfera. Para eles, fazer filosofia era fazer filosofia da natureza.
A ecofilosofia seria a parte prática da filosofia da natureza, como a ética é a
parte prática da filosofia. Aborda as relações entre a filosofia e a ciência, e
surgiu pela falta à cultura brasileira de um pensamento ecológico que sustente
a prática de respeito à natureza.
O surgimento da ecofilosofia ou ecoética surgiu na Alemanha quando os
ecofilósofos criticavam a forte tendência do pensame
nto filosófico ao antropocentrismo (a atitude ou teoria que tem o
homem como referencial único).
A filosofia, desde o início, foi construída sobre o pressuposto da superioridade
do homem em relação à natureza. Então os movimentos ecológicos
representam a tentativa de desfazer um hábito, uma forma de pensar e de agir,
que privilegia o homem em detrimento da natureza. Tem a importância de
tentar reverter esse quadro atual, de uma pretensão de superioridade do ser
humano em relação à natureza.

4 – ÉTICA E VALORES
A atual deterioração dos sistemas que mantém a vida na Terra ocorre, ao
menos em parte, pela compreensão inadequada de nossa dependência em
relação à esses sistemas, e por nossa não aceitação da responsabilidade sobre
consequências futuras dessa deterioração. Tendemos a atribuir um valor
relativamente baixo à natureza, aos recursos naturais e ao futuro.
O mundo natural nos provê de muitos benefícios, os quais tomamos de graça.
Além, de outros valores, natureza e recursos naturais dão condições à vida
vegetal e animal, fornecem a diversidade genética e proveem valores
econômicos, recreativos, científicos, históricos, estéticos e religiosos. A
natureza é um verdadeiro estoque de materiais essenciais para nossa vida
diária - ela nos provê alimentos, vestimentas, abrigo, além de uma variedade
de produtos para o comércio e indústria. Nosso sistema econômico e, por fim,
nossa sobrevivência na Terra depende dos recursos naturais.
Entre as questões éticas relevantes aos recursos naturais encontram-se as
seguintes:

Em que extensão deveríamos distribuir os recursos da


Terra e o bem estar ambiental de acordo com os princípios de
igualdade, utilidade ou habitação?
Ao se proteger recursos naturais, que equilíbrio deve haver entre
autonomia individual e coerção por parte do governo?
Em que extensão os padrões de governar o uso dos recursos naturais e a
proteção ambiental devem ser antropocêntricos - enfatizando as
necessidades humanas - ou egocêntricos - salientando a importância de
se preservar os ecossistemas naturais?
A qualidade ambiental está cada vez mais sendo vista não apenas como um
bem público, mas como uma fonte de valores econômicos e sociais. Recentes
experiências como trocas da dívida por natureza confirmam que os recursos
naturais podem ter valor econômico quando são protegidos ao invés de
explorados; por exemplo; uma organização norte americana não lucrativa,
comprou e concordou em perdoar uma dívida externa boliviana em troca de
um compromisso da Bolívia em proteger 3,7 milhões de acres de terras
ameaçadas com o desmatamento.
Então, condiz com o desenvolvimento sustentável cuidar para que as ações
tomadas por indivíduos, grupos e nações não ameacem excessivamente a
qualidade de vida presente e futura de outros. A educação deve ajudar os
cidadãos a perceber que suas ações e escolhas individuais, hoje, afetam a
qualidade de vida presente e futura de outros, e em última instância a
habitabilidade da Terra.
A atividade econômica, em particular, necessita de orientação ética; os
negócios precisam começar a avaliar os impactos a longo prazo de suas ações,
bem como os resultados a curto prazo.
É necessário educar mais as pessoas, e especialmente os líderes, que vejam o
mundo como um todo, que estejam preocupados com a proteção da biosfera
que herdaram, e que estejam comprometidos em ajudar a assegurar uma
qualidade de vida aceitável às gerações futuras.
5 – O PENSAMENTO ECOLÓGICO

5.1 – Corredores Ecológicos


O Brasil está adotando um novo modelo de conservação ambiental para
garantir a preservação integral da natureza. São os chamados corredores
ecológicos, instrumento pelo qual duas áreas de preservação são interligadas
por um corredor, visando uma integração melhor entre os ecossistemas de
diferentes áreas de conservação. Este novo conceito de preservação, através de
corredores ecológicos, já é implementado no Canadá, Estados Unidos e
Austrália. Em cinco anos, o governo pretende criar 18 corredores ecológicos,
que abrangerão a Amazônia, a Caatinga, a zona costeira, o Pantanal, a Mata
Atlântica e os campos sulinos.
Existem 7 corredores prioritários que englobarão grandes áreas de
preservação. Os projetos podem ultrapassar as fronteiras brasileiras, como é o
caso do corredor Itenez-Guaporé (em processo de implementação), que
abrange parte do estado de Rondônia e atravessa a fronteira com a Bolívia,
interligando 70 unidades de conservação e 12 áreas indígenas das bacias dos
rios Guaporé, Itenez e Mamoré. Também está sendo desenvolvido o corredor
do rio Paraná, que abrange o Parque Nacional da Foz do Iguaçu se estendendo
pelo território argentino.
Os corredores ecológicos procuram conectar as unidades de conservação
existentes, formando grandes áreas de conservação onde os animais possam
transitar livremente: Com o avanço dos estudos na área de biologia da
conservação, notou-se que não era suficiente criar áreas de preservação. Havia
a necessidade de prolongar essas áreas, e com isso, poder alcançar
determinadas comunidades biológicas que se estendem para além dessas
áreas. As espécies de animais precisam interagir, pois quando você protege
somente um grupo de micos, como o leão-dourado, e deixa de proteger os
outros grupos, estes provavelmente serão extintos, e isso diminui o potencial
genético da espécie, que fica restrito somente ao grupo preservado. Com o
corredor ecológico, a área protegida é ampliada, fazendo com que os animais
interajam livremente.
Para formar um corredor, são levados em conta a preservação de espécies da
fauna e flora ameaçados de extinção, a instalação de áreas protegidas para a
conservação de amostras dos ecossistemas (parques, reservas indígenas e
áreas particulares de patrimônio natural) e o manejo integrado dos
ecossistemas.
Um exemplo de corredor que está sendo desenvolvido com sucesso é o projeto
que abrange a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, criada pelo
governo do Amazonas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
e o Parque Nacional do Jaú, e outras unidades de conservação que, juntas, têm
mais de 5.766.000 hectares de florestas protegidas, uma área maior que a
Suíça.
Todos os grupos envolvidos nos três projetos participam dos estudos para
formação do corredor. O Mamirauá, por exemplo, é composto por
pesquisadores, extensionistas e grupos comunitários locais trabalhando de
maneira integrada.
Cerca de 20 pesquisadores das áreas de meio ambiente, de ciências sociais e
de manejo de recursos naturais, estão baseados numa sede na cidade de
TeféAM.
Outros 20 extensionistas nas áreas de saúde, nutrição, educação ambiental,
comunicação social e ecoturismo também fazem parte do grupo.
O trabalho é feito de forma participativa, na qual todos os atores sociais
(ONGs, pesquisadores, comunidades, empresários, governo, associações)
envolvidos no projeto deixam a sua contribuição, com o objetivo de
implementar uma solução sustentável viável para o corredor.
Os sete corredores prioritários são:
1. Corredor Centro-Amazônico: inclui grandes extensões de florestas
inundadas e de terra firme das bacias dos rios Negro e Solimões. As
florestas inundadas deste corredor têm alta diversidade e muitas
espécies endêmicas. Este corredor inclui a Reserva de Mamirauá, a
Estação Ecológica de Anavilhanas, a Floresta Nacional de Tefé, o
Parque Nacional do Jaú, outras 9 unidades de conservação e 14 áreas
indígenas.
2. Corredor Norte-Amazônico: está situado na fronteira norte do Brasil
com a Colômbia e a Venezuela, incluindo montanhas e ecossistemas de
altitude ainda praticamente intocados. Este corredor inclui o Parque
Nacional do Pico da Neblina, a Floresta Nacional de Roraima, o Parque
Estadual da Serra do Araçá e outras 17 unidades de conservação.
3. Corredor Oeste-Amazônico: é um ambiente que abriga muitas espécies
de aves, plantas e macacos. Este corredor provavelmente é o mais rico
da Amazônia em termos de diversidade e inclui o Parque Nacional da
Serra do Divisor, a Reserva Extrativista Chico Mendes, a Reserva
Extrativista do Rio Preto-Jacundá e outras 30 unidades de conservação.
4. Corredor Sul amazônico: é vitalmente importante para proteger a fauna
e a flora localizada entre os rios da margem direita (sul) do Amazonas:
Tapajós, Madeira, Xingu e Tocantins. Este corredor inclui áreas
localizadas nos estados do Amazonas, Pará e Maranhão, abrigando a
Floresta Nacional de Tapajós, o Parque Nacional da Amazônia, a
Reserva Biológica de Gurupi e três outras unidades de conservação.
5. Corredor do Ecótono Sul amazônico (Amazônia-Cerrado): está
localizado nas áreas de transição entre a Amazônia e o Cerrado,
ecossistema ameaçado pelo avanço agropecuário. Este corredor inclui o
Parque Nacional do Araguaia, no Tocantins.
6. Corredor Central da Mata Atlântica: contém áreas de alta diversidade
nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e costa sul da Bahia.
Abriga muitas espécies de animais e plantas da planície costeira. Este
corredor inclui a Reserva Biológica de Sooretama, a Reserva Biológica
de Linhares, a Reserva Biológica de Una, o Parque Nacional de Monte
Pascoal, o Parque Nacional da Serra do Caparaó e outras unidades de
conservação que juntas formam a maior concentração de fragmentos
florestais da região.
7. Corredor Sul da Mata Atlântica: representa a maior concentração da
Mata Atlântica contínua e, em termos ecológicos, é o mais viável para
conservação. Este corredor inclui 27 unidades de conservação, como a
Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar, em São Paulo; a Área de
Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais; o
Parque Nacional da Serra da Bocaina e o Parque Nacional de Itatiaia,
no Rio de Janeiro; além da Área de Proteção Ambiental de
Guaraqueçaba, no Paraná.

5.2 – Agroecologia
A agroecologia se consolida como um modelo de produção de alimentos
ambientalmente saudável e economicamente viável, que resgata o saber
tradicional dos agricultores.
A transformação do modelo de agricultura tradicional em modelo
agroecológico vem se dando em razão de questões de saúde, econômicas e
ideológicas. Devido ao uso indiscriminado de agrotóxicos, a agricultura
tradicional tem afetado tanto a saúde dos agricultores quanto a dos
consumidores, tornando-a economicamente insustentável.
O modelo de desenvolvimento atual tem diversos aspectos negativos, dentre
eles a dependência dos agricultores familiares, em relação ao uso dos
herbicidas, e a ditadura do conhecimento, que privilegia apenas o saber vindo
de pesquisas universitárias e dos técnicos. Essa ditadura despreza as pesquisas
desenvolvidas pelo agricultor em sua propriedade, resultando em
conhecimentos que podem ser repassados para outros agricultores. O processo
atual deve ser mudado, pois nele também deve estar incluído o conhecimento
produzido pelo agricultor.
A agricultura familiar é um modelo de desenvolvimento sustentável. A
população vê hoje na agricultura familiar uma excelente opção aos métodos
tradicionais, por apresentar maior qualidade dos alimentos e por ser mais
saudável, já que não se utiliza de produtos químicos e tóxicos para combater
as pragas.
Este processo de mudança deve haver uma revalorização da vida no campo,
com a criação de uma infraestrutura que atenda às necessidades dos
agricultores e seus familiares. O crescimento da agroecologia só será possível
a partir da ampla recuperação do saber tradicional dos agricultores.

5.3 – Ecotécnicas
Podemos fazer uma boa relação entre a arquitetura tradicional com as
ecotécnicas e denominar de arquitetura da vida!
Já houve um tempo em que os arquitetos pisavam a terra para obter tijolos.
Segundo Carneiro (2003) a arquitetura próxima ao Homem, através da
sensibilização e da transmissão das ecotécnicas, é o principal objetivo do
Instituto Tibá, no Rio de Janeiro, onde, para se chegar às medidas, é
necessário passar pelo autoconhecimento.
Tlayoltehuani ou, em asteca, usar o coração para tornar as coisas divinas é a
palavra da vez.
Usar a intuição, o lado direito do cérebro, deixar crescer a sensação, o
desabrochar dos sentimentos, o fluir das percepções. Estamos falando de
caminhos para desenvolver a criatividade, mas também falamos de arquitetura
– de bioarquitetura e de tecnologia intuitiva.
Foi a partir da reflexão sobre tlayoltehuani, que, há cerca de 15 anos, o
arquiteto holandês Johan van Lengen começou um processo de reformulação
de sua arquitetura. Com formação no Canadá, após passar por países como
Equador, Índia, Estados Unidos e México, ele resolveu concretizar seu sonho,
de uma arquitetura voltada à vida, fundando no Brasil o Tibá – Instituto de
Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura.
A arquitetura próxima ao Homem, através da sensibilização e da transmissão
das ecotécnicas, é o principal objetivo do Instituto Tibá, no Rio de Janeiro,
onde, para se chegar às medidas, é necessário passar pelo autoconhecimento,
tendo como parceiro nesta idealização o arquiteto brasileiro Valdo Felinto,
atual coordenador executivo.
Em tupi, o nome tibá indica lugar onde muitas pessoas se encontram e ainda,
bênção dos ancestrais. Nesses 15 anos o Tibá já trabalhou com milhares de
pessoas, universidades, organizações não governamentais, comunidades,
instituições governamentais e organismos internacionais, sempre em prol da
desconstrução da arquitetura baseada apenas em medidas, números e cifras.
Com muita ênfase na formação desta nova consciência – através de
workshops, cursos, consultorias, treinamentos e vivências – o Tibá foi-se
tornando referência para estudantes e arquitetos de diferentes países do
mundo.
Hoje, os representantes do Tibá trabalham bastante a convite de diversas
universidades, aqui e no exterior.
São inúmeras as técnicas que não agridem o meio ambiente. Teto verde,
adobes, sanitários secos, uso de energia solar ou eólica, vigas de bambu. Mas
de nada adianta se as pessoas não souberem lidar com elas. Um dos equívocos
é cometido por muitos representantes da classe política, que normalmente
preferem lucrar com obras feitas com materiais caros. E as ecotécnicas, em
geral, são muito baratas – quando não são industrializadas.
Em geral, as ecotécnicas devem ser utilizadas em conjunto para que se
obtenha um ambiente harmonioso para se viver. O bason, ou sanitário seco, é
uma das técnicas mais difundidas. Através de um vaso sanitário com duas
câmaras feitas com areia, cimento e tela plástica e um tubo de PVC para
ventilação, é possível dispor de um sanitário sem utilização de água, onde se
agrupam excrementos que podem ser misturados ao lixo orgânico da cozinha.
Sem contaminar o solo e sem deixar odores. Ao final de um ano, o material
acumulado no fundo de uma das câmaras está pronto, seco e inodoro para ser
usado como composto ou adubo.
Os arquitetos também ensinam a construir o fogão solar: duas caixas de
papelão, uma dentro da outra, intermediadas por isopor ou jornais. Colocado
ao sol, com uma tampa de vidro ou plástico, o novo fogão cozinha alimentos
em cerca de duas horas, dependendo do gênero. Sem uso algum de gás ou
lenha. Estas e muitas outras ecotécnicas, como moinhos, filtros, biodigestores,
painéis e pisos, também são repassadas, sempre levando em conta o contexto.
Afinal, a localização, a posição, o clima da casa, seu entorno e as pessoas que
nela viverão são partes imprescindíveis do projeto. Hoje os projetos começam
de trás para a frente: por último estão as pessoas, diz Johan van Lengen.
Fonte: Revista Senac; soluções sustentáveis, 2003.

A CASA E O AMBIENTE

Johan ensina, no Manual do Arquiteto Descalço, que já está na sétima edição,


como se inspirar no meio ambiente para encontrar a melhor maneira de se
construir uma casa e viver bem. Conheça algumas dicas:

• A casa deve estar sempre de acordo com o clima – uma janela num
lugar frio pode aquecer o ambiente, deixando passar o sol, mas se o
clima for tropical seco a mesma janela pode esquentar demais o
cômodo, tornando-o insuportável;
• Plantas, em terrenos em declive, devem seguir a forma do terreno, e
não se forçar uma construção como se fosse em região plana;
• A distância entre as árvores e as casas regula a presença e a intensidade
das brisas;
• As casas devem ser localizadas longe de fontes de contaminação;
• Nos lotes, as melhores áreas devem ser destinadas a locais de reunião
(praças, parques, escolas, teatros etc.). É um erro lotear um terreno em
partes iguais – é preciso prestar atenção às diferenças entre as áreas
dentro do lote;
• A casa não pode estar situada nem no topo nem na base de um monte;
• Quando próximas a rios ou mares, as construções devem ser agrupadas
onde a água entra em direção à terra;
• Em áreas de clima tropical quente, abaixo da linha do equador, a
cozinha deve estar sempre voltada para o sul, para se evitar o calor do
sol, que bate nas paredes do norte e do oeste;
• As salas ficam mais bem localizadas voltadas para o oeste. Em zonas
frias, são as partes mais quentes da casa durante a tarde, quando os
habitantes as usam mais;
• Uma boa ventilação é garantida construindo-se banheiro e cozinha
junto a paredes que deem para jardins, pátios ou ruas (SENAC, 2011).

6 – INDICADORES PARA MEDIR A EFICIÊNCIA DAS AÇÕES


AMBIENTAIS
Falamos de ecologia, do papel dos seres humanos no meio ambiente, pois
bem, chega-se então, ao entendimento simplificado que uma sociedade
sustentável é aquela que assegura a saúde e vitalidade da vida e cultura
humana do capital natural, para a presente e as futuras gerações.
Neste ponto, é preciso falar do sistema de gestão ambiental que norteia e dá
suporte às ações de preservação e educação ambiental promovido pelas
instituições (aqui podemos entender não somente como empresas, mas
também as escolas) que tem compromisso com o meio ambiente e com as
gerações futuras.
Esse sistema gerencia ambientalmente cada empresa, e por consequência,
minimiza os problemas ambientais dela advindos, sendo primordial a
participação contínua de todos os indivíduos.
Embora se fale em instituição ou empresa formal, uma vez que esta é formada
por pessoas, as ações acabam por extrapolar seus limites atingindo familiares,
amigos, uma gama de outras pessoas.
Enfim, para que a gestão ambiental seja eficaz e eficiente, são utilizados os
indicadores, instrumentos condutores que estabelecem objetivos sendo
elaborados para simplificar, quantificar, analisar, avaliar e comunicar os
resultados e as novas ações a serem tomadas. No final da explicação destes
indicadores, os quais partem dos cinco fundamentos que dão sustentação à
Educação ambiental, tem-se o quadro 1, que apresenta as ações e os
indicadores respectivos.

1. Sensibilização e conscientização: entende-se como o conhecimento


genérico que é transmitido aos funcionários. Trata-se, em grande parte,
da divulgação dos programas e das atividades, bem como dos conceitos
ambientais. É uma ação de envolvimento e motivação das pessoas. É,
sem dúvida, um dos fundamentos mais importantes, pois é ―aqui que
se ganha ou que se perde‖ as pessoas. Estes conhecimentos visam
despertar o interesse das pessoas, levando-as a se sensibilizarem pelos
programas ambientais e a se conscientizarem da necessidade de
mudarem seus comportamentos e valores.
2. Conhecimento e compreensão: entende-se como conhecimento
específico, geralmente para um público-alvo ou para um aspecto
ambiental especial. Estes conhecimentos são elaborados por técnicos
das áreas específicas abordadas.
3. Habilidades: entende-se como as aptidões específicas adquiridas
através dos treinamentos. Não são, necessariamente, iguais para todos
os funcionários, uma vez que se referem a aspectos e públicos
distintos.
4. Participação e Ação: aqui se compreende o engajamento das pessoas
nos programas e nas ações educativas. Pode-se dizer que o objetivo
educativo será atingido de fato se as pessoas participarem
espontaneamente. Porém, o fato delas participarem de qualquer forma,
às vezes até por pressão, poderá trazer resultados positivos, pois a
repetição constante de um ato acaba gerando adaptação, e esta poderá
levar a uma mudança consciente de valores e comportamentos. Sem
contar, é claro, que toda ação positiva gera resultados também positivos
para a instituição.
5. Mudança de valores e comportamentos: este é o conjunto de
indicadores mais subjetivo de todos, pois dificilmente poderá ser
medido numericamente – a não ser pelos resultados obtidos nos
programas implantados. Além disto, não se refere apenas aquelas ações
que objetivem resultados positivos para a instituição, mas sim, refere-se
à mudança consciente de cada indivíduo, passando a ter um
comportamento diferente na sua relação indivíduo-meio ambiente e
sociedade-meio ambiente. É aqui que realmente se pode atingir uma
mudança na qualidade de vida das pessoas (PEREIRA, 1999).
Quadro
1: Quadro de Fundamentos, Ações e Indicadores. Fonte: Adaptado de Pereira
(1999, p. 151 a 155)
7 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O texto que segue na íntegra, de autoria de Daniel Bertoli Gonçalves,


agrônomo, mestre e doutor pela Universidade Federal de São Carlos sintetiza
de maneira clara os desafios da geração atual em relação ao Desenvolvimento
Sustentável. Redigido em 2005, vale a pena ler com atenção:
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu a partir dos estudos da
Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, no início da
década de 1970, como uma resposta à preocupação da humanidade, diante da
crise ambiental e social que se abateu sobre o mundo desde a segunda metade
do século passado. Esse conceito, que procura conciliar a necessidade de
desenvolvimento econômico da sociedade com a promoção do
desenvolvimento social e com o respeito ao meio-ambiente, hoje é um tema
indispensável na pauta de discussão das mais diversas organizações, e nos
mais diferentes níveis de organização da sociedade, como nas discussões
sobre o desenvolvimento dos municípios e das regiões, correntes no dia-a-dia
de nossa sociedade. Este texto busca apresentar a evolução do conceito desde
sua criação até o presente.
O princípio:
O ano de 1968, segundo Camargo (2003), foi o primeiro sinal de grave
descontentamento popular com o modelo de capitalismo industrial no final do
seu ciclo, com a eclosão do protesto estudantil em cadeia, iniciado em Paris,
em maio de 1968, passando por Berkeley, Berlim e Rio de Janeiro.
Aquele primeiro surto de globalização dos movimentos sociais, segundo a
autora, apontava para mudanças radicais que iriam se estender a vastos
domínios, influenciando não apenas a economia e a sociedade como também o
próprio modelo civilizatório, com seus usos e costumes. A falsa ideia de uma
evolução sem limites e a ingênua crença na continuidade do progresso, se
constituíam no inimigo comum de todas as frentes, e a grande questão que se
levantava era: Para onde vamos?
Em meio aos movimentos estudantis e hippies dos anos 1960, emerge o novo
ambientalismo, com objetivos e demandas bem definidos e consciente da
dimensão política dos mesmos, chamando a atenção para as consequências
devastadoras que um desenvolvimento sem limites estava provocando.
Rompendo as muralhas da cidadela econômica, o ecologismo passa a
questionar a racionalidade econômica em termos de seus próprios critérios.
Mais concretamente, o novo debate evidencia que, frente aos diversos
impasses e problemas que o desenvolvimento industrial coloca, a solução ou
superação dos mesmos pode exigir não uma nova arrancada, mas a adoção de
medidas restritivas ao aumento da produção econômica, o que coloca a ideia
de racionalidade ecológica como o princípio balizador e limitante da
racionalidade econômica e do próprio desenvolvimento.
O Clube de Roma, entidade formada por intelectuais e empresários, que não
eram militantes ecologistas, foi uma iniciativa que surgiu das discussões a
respeito da preservação dos recursos naturais do planeta Terra. Ele produziu
os primeiros estudos científicos a respeito da preservação ambiental, que
foram apresentados entre 1972 e 1974, e que relacionavam quatro grandes
questões que deveriam ser solucionadas para que se alcançasse a
sustentabilidade: controle do crescimento populacional, controle do
crescimento industrial, insuficiência da produção de alimentos, e o
esgotamento dos recursos naturais (CAMARGO, 2002).
Após a publicação da obra ―Os Limites do Crescimento‖, pelo Clube de
Roma em 1972, este conceito toma um grande impulso no debate mundial,
atingindo o ponto culminante na Conferência das Nações Unidas de
Estocolmo, naquele mesmo ano.
A partir daí, desenvolvimento e meio ambiente passam a fundir-se no conceito
de ecodesenvolvimento, que no início dos anos 1980 foi suplantado pelo
conceito de desenvolvimento sustentável, passando a ser adotado como
expressão oficial nos documentos da ONU, UICN e WWF.

A evolução do pensamento:
A ideia de um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI,
compatibilizando as dimensões econômica, social e ambiental, surgiu para
resolver, como ponto de partida no plano conceitual, o velho dilema entre
crescimento econômico e redução da miséria, de um lado, e preservação
ambiental de outro. O conflito vinha, de fato, arrastando-se por mais de vinte
anos, em hostilidade aberta contra o movimento ambientalista, enquanto este,
por sua vez, encarava o desenvolvimento econômico como naturalmente
lesivo e os empresários como seus agentes mais representativos (CAMARGO,
et al, 2004).
Em 1987, a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
da Organização das Nações Unidas, na Noruega, elaborou um documento
denominado ―Nosso Futuro Comum‖ também conhecido como Relatório
Brundtland, onde os governos signatários se comprometiam a promover o
desenvolvimento econômico e social em conformidade com a preservação
ambiental (CMMAD, 1987).
Nesse relatório foi elaborada uma das definições mais difundidas do conceito:
―o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do
presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem
suas próprias necessidades‖.
Este documento chamou a atenção do mundo sobre a necessidade urgente de
encontrar formas de desenvolvimento econômico que se sustentassem, sem a
redução dramática dos recursos naturais nem com danos ao meio ambiente.
Definiu também, três princípios essenciais a serem
cumpridos: desenvolvimento econômico, proteção ambiental e equidade
social, sendo que para cumprir estas condições, seriam indispensáveis
mudanças tecnológicas e sociais.
Este relatório foi definitivo na decisão da Assembleia Geral das Nações
Unidas, para convocar a Conferência sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, dada à necessidade de redefinir o conceito de
desenvolvimento, para que o desenvolvimento socioeconômico fosse incluído
e assim a deterioração do meio ambiente fosse detida. Esta nova definição
poderia surgir somente com uma aliança entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento.
Tanto o Relatório Brundtland quanto os demais documentos produzidos pelo
Clube de Roma, sobre o Desenvolvimento Sustentável, foram fortemente
criticados porque creditaram a situação de insustentabilidade do planeta,
principalmente, à condição de descontrole da população e à miséria dos países
do Terceiro Mundo, efetuando uma crítica muito branda à poluição
ocasionada durante os últimos séculos pelos países do Primeiro Mundo.
Segundo Castro (1996), o repto imposto pelo novo ambientalismo ao
desenvolvimento foi o prelúdio de um questionamento ainda mais radical: o
da nova questão social, amadurecida no final dos anos 1980.
A dimensão de sustentabilidade social inerente ao conceito, não diz respeito
apenas ao estabelecimento de limites ou restrições à persistência do
desenvolvimento, mas implica na ultrapassagem do econômico: não pela
rejeição da eficiência econômica e nem pela abdicação do crescimento
econômico, mas pela colocação dos mesmos a serviço de um novo projeto
societário, onde a finalidade social esteja ―justificada pelo postulado ético de
solidariedade intrageracional e de equidade, materializada em um contrato
social‖ (SACHS, 1995, p. 26). É esta a abordagem de desenvolvimento social
que adotamos neste trabalho.
De acordo com Castro (1996), esse novo paradigma conhecido como
desenvolvimento sustentável surge através de um esforço de
reconceitualização do conceito de desenvolvimento, abalado pela crise
ambiental e social.
A teoria do desenvolvimento sustentável, ou ecodesenvolvimento, parte do
ponto em que a maior parte das teorias que procuraram desvendar os mistérios
sociais e econômicos das últimas décadas não obteve sucesso. O modelo de
industrialização tardia ou modernização, que ocupou o cerne de diversas
teorias nos anos 1960 e 70, é capaz de modernizar alguns setores da
economia, mas incapaz de oferecer um desenvolvimento equilibrado para uma
sociedade inteira.
De acordo com Brüseke (2003), a modernização, não acompanhada da
intervenção do Estado racional e das correções partindo da sociedade civil,
desestrutura a composição social, a economia territorial, e seu contexto
ecológico. Emerge daí a necessidade de uma perspectiva multidimensional,
que envolva economia, ecologia e política ao mesmo tempo, como busca fazer
a teoria do desenvolvimento sustentável.
Para o autor, o conceito desenvolvimento sustentável sinaliza uma alternativa
às teorias e aos modelos tradicionais do desenvolvimento, desgastadas numa
série infinita de frustrações.
Segundo Cavalcanti (2003), sustentabilidade significa a possibilidade de se
obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo
de pessoas e seus sucessores em dado ecossistema. Tal conceito equivale à
ideia de manutenção de nosso sistema de suporte da vida. Basicamente, trata-
se do reconhecimento do que é biofisicamente possível em uma perspectiva de
longo prazo.
Para o autor, o tipo de desenvolvimento que o mundo experimentou nos
últimos duzentos anos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, é
insustentável. O desenvolvimento econômico não representa mais uma opção
aberta, com possibilidades amplas para o mundo. A aceitação da ideia de
desenvolvimento sustentável indica que se fixou voluntariamente um limite
para o progresso material, e a defesa da ideia de crescimento constante não
passa de uma filosofia do impossível. Entretanto, adotar a noção de
desenvolvimento sustentável corresponde a seguir uma prescrição de política.
O dever da ciência é explicar como, de que forma, ela pode ser alcançada,
quais são os caminhos para a sustentabilidade.
De acordo com Bezerra e Bursztyn (2000), a sustentabilidade emerge da crise
de esgotamento das concepções de desenvolvimento, enquadradas nas lógicas
da racionalidade econômica liberal. Uma racionalidade eufórica associada ao
movimento incessante para frente da razão, da ciência, da técnica, da indústria
e do consumo, na qual o desenvolvimento – uma aspiração imanente da
humanidade – expurgou de si tudo o que o contraria, excluindo de si a
existência das regressões que negam as consequências positivas do
desenvolvimento.
Em 1992, 172 governos reuniram-se na cidade brasileira do Rio de Janeiro,
para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), que ficou conhecida como Conferência da
Terra, um evento singular que se tornou um marco histórico para a
humanidade. Os objetivos fundamentais da Conferência eram conseguir um
equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais das
gerações presentes e futuras e firmar as bases para uma associação mundial
entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como entre os
governos e os setores da sociedade civil, enfocadas na compreensão das
necessidades e os interesses comuns.
Nesta Conferência, os representantes dos governos, incluindo 108 chefes de
Estado e de Governo, aprovaram três acordos que deveriam erigir a Agenda
21, a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que
define os direitos e as obrigações dos estados sobre os princípios básicos do
meio ambiente e desenvolvimento.
É importante lembrar que não foi somente de chefes de Estado e de
representantes oficiais que se constituiu a Rio-92, pois foi a participação da
sociedade civil, de organizações não governamentais de centenas de países,
que fez do Rio a verdadeira ―Babilônia‖, e foi graças a eles que um
importante documento deixado de lado na conferência oficial, continuou vivo,
passou por reavaliações, comissões internacionais nunca antes pensadas, foi
ratificada pela Unesco, e finalmente aprovado pela ONU em 2002: A Carta da
Terra, um documento de importância singular, equivalente à Declaração
Universal dos Direitos Humanos para a área de Meio Ambiente, cujo
preâmbulo traz os seguintes dizeres:
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em
que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se
cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo,
grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos
reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas
de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um
destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável
global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na
justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é
imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns
para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras
gerações (A Carta da Terra, 2004).
A Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (CDS)
organizou para dez anos depois da Conferência do Rio a Conferência Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, África do Sul. Essa
conferência reuniu chefes de Estado e de Governo, organizações não
governamentais e empresários, que revisaram e avaliaram o progresso do
estabelecimento da Agenda 21, um plano de ação mundial para promover o
desenvolvimento sustentável a uma escala local, nacional, regional e
internacional.
A meta geral da Conferência foi revigorar o compromisso mundial a fim de
um desenvolvimento sustentável e a cooperação Norte-Sul, além de elevar a
solidariedade internacional para a execução acelerada da Agenda 21. Um dos
êxitos desta reunião foi o estabelecimento da necessidade de se criarem metas
regionais e nacionais para o uso da energia renovável.
De acordo com Camargo et al (2004), em uma análise sobre os dez anos que
se passaram desde a Rio-92, muitas foram as frustrações quanto as
perspectivas positivas que foram lançadas, mas muito também se avançou, e o
maior ganho da última década foi o reconhecimento de que a solução para os
problemas ambientais reside na noção de ―desenvolvimento sustentável‖, tal
como a havia proposto o relatório Brundtland em 1987, sacramentado pelas
Nações Unidas em 1992. Depois de uma fase experimental e delicada, hoje
podemos considerá-lo vitorioso e atribuir ao Brasil um papel importante em
sua consolidação como conceito operacional e pragmático para os países em
desenvolvimento.

Os desafios que devemos enfrentar:


Segundo Bezerra e Bursztyn (2000), em um trabalho preparatório para a
Agenda 21 brasileira, o desenvolvimento sustentável é um processo de
aprendizagem social de longo prazo, balizado por políticas públicas orientadas
por um plano nacional de desenvolvimento inter-regionalizado e
intraregionalmente endógeno. As políticas de desenvolvimento são processos
de políticas públicas de Estados nacionais. Os estilos de desenvolvimento
estão sustentados por políticas de Estado que, por sua vez, respaldam padrões
de articulação muito determinados dos diversos segmentos sociais e
econômicos com os recursos disponíveis na natureza.
O Estado brasileiro tem lugar nuclear na promoção e na regulamentação de
políticas nacionais de desenvolvimento sustentável. Notadamente, na
coordenação dos conflitos sociais implicados nas divergências de interesses e
lógicas de desenvolvimento, entre a pluralidade de atores sociais presentes na
sociedade nacional e transnacional. O gerenciamento das escolhas
tecnológicas atreladas aos processos produtivos é essencialmente um
problema de política pública de ciência e tecnologia para o desenvolvimento
sustentável.
Para os autores, podemos conceber o desenvolvimento sustentável como uma
proposta que tem em seu horizonte uma modernidade ética, e não apenas uma
modernidade técnica (BUARQUE, 1994), pois a proposta do desenvolvimento
sustentável implica incorporar o compromisso com a perenização da vida ao
horizonte da intervenção transformadora do ‗mundo da necessidade‘.
Se a modernidade técnica faz dos meios fins em si, a modernidade ética do
‗princípio sustentabilidade‘ recoloca os fins como referência primordial, num
quadro complexo de múltiplas dimensões (econômica, ambiental, social,
política, cultural, institucional, etc.).
Para Furtado (1992), o desafio que se coloca no umbral do século XXI é nada
menos do que mudar o curso da civilização, deslocar o seu eixo da lógica dos
meios a serviço da acumulação, num curto horizonte de tempo, para uma
lógica dos fins em função do bem-estar social, do exercício da liberdade e da
cooperação entre os povos. Devemos nos empenhar para que essa seja a tarefa
maior dentre as que preocuparão os homens no correr do próximo século:
estabelecer novas prioridades para a ação política em função de uma nova
concepção do desenvolvimento, posto ao alcance de todos os povos e capaz de
preservar o equilíbrio ecológico.
Essa mudança de rumo, segundo o mesmo autor, exige que abandonemos
muitas ilusões, que exorcizemos os fantasmas de uma modernidade que nos
condena a um mimetismo cultural esterilizante. Devemos assumir nossa
situação histórica e abrir caminho para o futuro a partir do conhecimento de
nossa realidade, assumir a própria identidade.
Ainda segundo o mesmo autor, nesse novo quadro que se configura, o destino
dos povos dependerá menos das articulações dos centros de poder político e
mais da dinâmica das sociedades civis. Não que o Estado tenda a deliquescer,
conforme a utopia socialista do século XIX, mas a possibilidade de que ele
seja empolgado por minorias de espírito totalitário se reduzirá, se a vigilância
da emergente sociedade civil internacional se fizer eficaz.
Para Cavalcanti (2002), a noção atual de desenvolvimento sustentável
representa uma reivindicação do pensamento de Furtado: não é qualquer taxa
de crescimento da economia que pode ser perseguida; há que se pensar antes
naquilo que é (ecologicamente) sustentável, ou seja, possível, durável,
realizável.
Quanto a isso vale mencionar o questionamento feito por Furtado em 1974:
―Por que ignorar na medição do PIB, o custo para a coletividade da
destruição dos recursos naturais não renováveis, e o dos solos e florestas
(dificilmente renováveis)? Por que ignorar a poluição das águas e a destruição
total dos peixes nos rios em que as usinas despejam seus resíduos?‖
(FURTADO, 1974).
Ramos (2003) alerta que o problema de insustentabilidade não está apenas no
desenvolvimento, é preciso reconhecer que o nosso modo de vida se tornou
insustentável, e este é muito mais difícil de mudar, pois implica, como
discutimos, aperfeiçoamento individual e coletivo, simultaneamente. Segundo
o autor, parece não haver saída: ou acreditamos que o ser humano, tal como é,
pode construir um mundo melhor para si, para seus semelhantes, no presente e
no futuro, ou cabe reconhecer o fracasso de nossa existência, e admitir que a
busca de um desenvolvimento sustentável seja ilusória, apenas uma forma de
adiar o inevitável fim. É preciso iniciar um aprendizado individual e coletivo
que nos leve a outras formas de manifestação concreta de nossa natureza e que
possibilite uma perspectiva de mudança em nosso modo de viver.

Conclusão:
É possível afirmar que chegamos ao início do século XXI com um conceito de
desenvolvimento sustentável bem mais amadurecido, que não está mais
restrito às discussões acadêmicas e políticas, de defensores e contestadores,
mas que se popularizou por todos os continentes, passando a fazer parte da
vida cotidiana das pessoas. Um conceito que está presente desde as pequenas
atitudes diferenciadas de comportamento, como a separação e a reciclagem do
lixo doméstico, tomadas pelo cidadão comum, até as grandes estratégias e
investidas comerciais de algumas empresas as quais se especializaram em
atender um mercado consumidor em franco crescimento, que hoje cobra essa
qualidade diferenciada tanto dos produtos que consome, quanto dos processos
produtivos que o envolvem; uma verdade que abre grandes perspectivas para
o futuro. Uma forma de desenvolvimento que não está mais no plano abstrato,
e que se mostra cada dia mais real e possível, principalmente no plano local
(GONÇALVES, 2005).

REFERÊNCIAS BIBLIOGR[AFICAS
ACSELRAD, Henri. Justiça ambiental – novas articulações entre meio
ambiente e democracia (2006) Disponível em:
http://www.justicaambiental.org.br. Acesso em: 10 ago. 2011.

BEZERRA, M. C. L.; BURSZTYN, M. (coord.). Ciência & tecnologia para


o desenvolvimento sustentável. Brasília: Ministério do Meio Ambiente;
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
Consórcio CDS/UnB/Abipti, 2000.

BOFF, L. Saber Cuidar. Ética do Humano – Compaixão pela Terra. 8 ed.


Petrópolis: Vozes, 2002.

BRÜSEKE, F. J. O Problema do desenvolvimento sustentável. In:


CAVALCANTI, C.

(org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade


sustentável. São Paulo: Cortez, 2003.

BUARQUE, C. A revolução nas prioridades. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1994.

CAMARGO, A. Governança para o século 21. In: TRIGUEIRO, A. Meio


ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas
áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

CAMARGO, A.; CAPOBIANCO, J.P.R.; OLIVEIRA, J.A.P. (Org) Meio


ambiente Brasil: avanços e obstáculos pós-Rio-92. 2 ed. rev. São Paulo:
Estação Liberdade: Instituto Socioambiental; Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 2004.

CAMARGO, A.L.B. As dimensões e os desafios do desenvolvimento


sustentável: concepções, entraves e implicações à sociedade humana. 2002.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – UFSC, Florianópolis-
SC.

CARVALHO, Fernanda Maria Ferreira; PESSINI, Léo; CAMPOS


JUNIOR; Oswaldo. Reflexões sobre Bioética Ambiental. O MUNDO DA
SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 614-
618. Disponível em: http://www.saocamilosp.br/pdf/mundo_saude
/41/12_Reflexoes.pdf Acesso em: 12 ago. 2011.

CAVALCANTI, C. Meio ambiente, Celso Furtado e o desenvolvimento como


falácia.
Ambiente & Sociedade, São Paulo, v.5, n.2, p.73-84, ago./dez. 2002.

CAVALCANTI, C. Sustentabilidade da economia: paradigmas alternativos de


realização econômica. In: ________ (org.). Desenvolvimento e natureza:
estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, 2003.

CMMAD. Nosso Futuro Comum. New York: ONU, 1987.

DAJOZ, R. Ecologia geral.Rio de janeiro 1977.

DORST, J. Antes que a natureza Morra. São Paulo: Edusp, 1973.

FURTADO, C. Brasil, a construção interrompida. São Paulo: Paz e Terra,


1992.

GONÇALVES, Daniel Bertoli. Desenvolvimento sustentável: o desafio da


presente geração. Revista Espaço Acadêmico, n. 51. Ago. 2005. Disponível
em: http://www.espacoacademico.com.br/ Acesso em: 12 ago. 2011.

GOLDIM Jr; José Roberto. Ecologia profunda. Disponível em:


http://www.ufrgs.br/bioetica/ecoprof.htm. Acesso em: 12 ago. 2011.

HAECKEL, E. Natürliche schöpfungs-geschichte. 2 ed. Berlin: Georg


Reimer, 1870.

HARTLEY, Troy W. Environmental Justice: An Environmental Civil Rights


Value Acceptable to All World Vies, In: Environmental Ethics, vol. 17, fall
1995.

LAITURI, Melinda; KIRBY, Andrew. Finding Fairness in America‘s Cities?


The Search for environmental Equity in Everyday Life, In: Journal of Social
Issues, vol. 50, n.3, 1994.

PEREIRA, Graciane Regina. A Percepção Ambiental como contribuição à


implantação do Sistema de Gestão Ambiental da FURB –
Blumenau. Blumenau: FURB, Monografia de Especialização em
Gerenciamento Ambiental, 1999.

PINDERHUGHES, Rachel, The impact of race on environmental quality: an


empirical and theoretical discussion, In: Sociological perspectives, vol. 39,
n.2, 1996.

RAMOS, P. Desenvolvimento, excedente, desperdício e desigualdade: a


insustentabilidade de nosso modo de vida. In: Martins, R.C.; Valencio, N. F.
L. S. (org.) Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil: desafios teóricos e
políticoinstitucionais. São Carlos: Rima, 2003. v.2, p. 35-52.
RICKLEFS. R. E. A economia da Natureza. Rio de Janeiro; Guanabara
Koogan, 2003.

Você também pode gostar