Você está na página 1de 2

Para a evolução e a continuação da ordem na sociedade é necessário um agir ético por parte

de todos os indivíduos da sociedade. Se o agir ético não existir a sociedade transformar-se-á


num caos como podemos assistir no filme. O agir ético só esteve presente em dois
personagens (enfermeiro e sua mulher) e não no “todo” da sociedade, eles os dois pensavam
como um “todo” mas como não havia cooperação com o resto da sociedade, não podiam fazer
nada. Ou seja o “eu” necessita do “outro” ou de instituições presentes na sociedade para
conseguir fazer a diferença ou marcar a sua presença.

Mas não depende só dos indivíduos da sociedade mas também das decisões tomadas pela
política que devem apenas em casos que garantem o maior número de direitos, restringir
alguns dos mesmos. A gestão de direitos e a forma como a política agiu no filme é lamentável,
porque como podemos ver a sociedade ficou num estado penoso e também porque não
respeitou os conceitos de justiça, igualdade e equidade, que em circunstância alguma devem
ser desrespeitados ou postos de lado.

A igualdade na sociedade remete para a equiparação no que diz respeito ao desfrute e


proveito de seus direitos. É neste contexto que se afirma uma igualdade formal, sob o
lema “todos são iguais perante a lei”. Mas existem vários tipos de igualdades: igualdade
jurídica ou civil significa que a lei é a mesma para todos; a igualdade política significa que
todos os cidadãos têm o mesmo acesso a todos os cargos públicos, sendo escolhidos em
função de sua competência; a igualdade material significa que todos os cidadãos dispõem dos
mesmos recursos. Mas duas primeiras igualdades (igualdade jurídica ou civil e igualdade
política) são denominadas de igualdades de princípios e constituem a base das democracias.

O conceito de equidade aparece na Grécia Antiga, nos escritos do filósofo Aristóteles e o


princípio da equidade exige o reconhecimento das desigualdades existentes entre os
indivíduos para assegurar o tratamento desigual aos desiguais na busca da igualdade. Também
pode ser descrita como uma adaptação específica para um caso específico para deixar esse
caso mais justo, mas essa adaptação não pode ser feita de livre-arbítrio e tem que ser de
acordo com a norma. Deve levar em conta a moral social, o regime político e os princípios
gerais do Direito.

A justiça é um conceito abstrato que se refere a um estado ideal de interação social em que há


um equilíbrio que, por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e
oportunidades entre as pessoas envolvidas em determinado grupo social. John Rawls, fiel
a Aristóteles, estabeleceu como os dois princípios básicos da justiça os mesmos
que Aristóteles: o princípio da igualdade e o princípio da equidade. Para ele, os indivíduos
racionais constroem livremente uma sociedade justa, sem ter conhecimento das posições que
cada um terá nessa sociedade, mas somente tendo determinação em relação aos dois
princípios, dando um carácter de maior importância à justiça em detrimento da organização ou
estabilidade dessa sociedade. O segundo princípio poderia ser visto como o princípio da
diferença, onde as desigualdades sociais seriam aceitáveis. Ou seja, a justiça implica igualdade
num plano de liberdade possível, mas não exclui as diferenças de estatutos socioeconómicos,
mas apoia com que numa situação a ação correta a se tomar é a ação que permita a melhora
de condições para o maior número de desfavorecidos.

No filme nenhum dos princípios estava a ser aplicado pela sociedade, o que não implica que
certos indivíduos os aprovassem e fizessem, mas o “todo” da sociedade não estava a cumpri-
los, pois vê-se no filme soldados a atirar em pessoas que estão a morrer à fome porque têm
ordens do Governo. Só esta pequena ação desrespeita todos os princípios acima, pois os
soldados não estavam a morrer á fome, mas permitiam que a população estivesse, ou seja, já
não havia igualdade de direitos (direito à alimentação), não havia equidade, porque se
houvesse os soldados para amenizar a situação dariam dos seus suprimentos e já não havia
justiça, porque nota-se que haviam pessoas com mais riquezas (por exemplo quando uma das
alas tomou o controlo da comida e decidiram impor regras a todas as outras) e elas não eram
punidas.

O Governo neste filme optou por usar a força para manter a ordem na sociedade usando os
soldados, mas como se repara, esse ato só instaurou ainda mais o caos e é por isso que a força
nunca deve ser usado como instrumento de estabilidade para uma sociedade, porque a única
consequência que traz é a instauração do caos, ao invés de usar a força, o Governo poderia ter
apelado para a calma da população, para uma quarentena provisória e para a positividade que
se ia encontrar uma cura. Mas não foi só o Governo que usou a força, a população também a
usou, por exemplo quando as pessoas nas alas estavam desesperadas por alimento elas
começaram a usar pertences e até mesmo mulheres como forma de dinheiro deixando-as sem
dignidade. E com este exemplo também verificamos que não existe contrato social no filme,
pois nada está entregue a um poder superior ou autoridade e está tudo na desordem.

Você também pode gostar