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Auto da Barca do Inferno

Gil Vicente (vida e obra)


Podemos considerar Gil Vicente o fundador do teatro português. Não se sabe ao certo a data
de nascimento. Pensa-se que Gil Vicente nasceu em Guimarães no ano 1465 e morreu em
1536 ou 1537, e produziu cerca de quarenta peças teatrais, que foram complicadas pelo o seu
filho Luís Vicente.

Fez algumas peças como o Auto da Barca do Inferno em 1517.

Porque o auto é considerado um teatro de tipo?


As obras de Gil Vicente apresentam personagens que se caracterizam como tipos. Estas são
personagens que concentram em si as qualidades e os defeitos de uma classe, um grupo, uma
profissão, uma mentalidade, etc…

Diabo e Anjo – são personagens alegorias que representam o mal e o bem.


Fidalgo – pertence à nobreza, representa a tirania, a vaidade, imortalidade desta classe e o
desprezo e a autoridade exercida sobre os mais humildes. Os símbolos cénicos do Fidalgo são
as suas vestes, uma cadeira e um pajem que o serve e que por ele é oprimido.

Onzeneiro – representa a burguesia, a ambição desmedida, o materialismo e o exagerado


apego ao dinheiro da classe. Tem como elemento identificativo uma enorme bolsa, cheia de
moedas, que quase não cabe na barca.

Parvo – integra-se no povo e, dentro desta classe social, representa a simplicidade, a


ignorância e a pobreza do espírito. Isto é percetível pela sua linguagem desarticulada,
desregrada e caracterizada pelo calão.

Tipos de linguagem e relacionar com a máxima latina “Ridendo Castigat Mores”


O teatro vicentino apresenta-se como uma espécie de espelho da sociedade portuguesa do
século XVI. Por esta razão pode dizer-se que “ridendo castigar mores” – expressão latina que
significa “a rir, corrigem-se os costumes”.

Cómico de linguagem – Pode resultar da desadequação da linguagem à situação em que é


usada ou dos processos de exagero, de repetição ou de ironia.

Cómico de caracter – pode resultar da desadequação ou da falta de integração das


personagens num determinado contexto social, cultural, moral, etc…

Cómico de situação – pode resultar da desadequação ou da invasão de papeis das


personagens face à situação em que se encontra, da repetição de um acontecimento ou da
dupla interpretada do mesmo.
Fidalgo
Inicialmente, as personagens encontram-se no cais e o Fidalgo pergunta ao Diabo para onde
vai a sua barca. O areais afirma que se encaminha para a ilha perdida ou seja o Inferno.

Durante toda a conversa, o Diabo mostra-se irónico, para com o Fidalgo, sempre tentando
suavizar a realidade do futuro do Fidalgo através de expressões como, por exemplo, “vejo-vos
eu em feição peralir ao nosso ais”. Com esta expressao que não devia ir para aquela barca,
pois havia deixado alguem em vida para rezar por si.

O Diabo conta argumenta, observando que o Fidalgo levou uma vidad de ociedade, desta
forma Gil Vicente critica este estilo de vida da nobreza do se, XVI.

Onzeneiro
No início da cena, as personagens encontram-se no cais. O Onzeneiro dirige-se ao batel
Infernal, onde o arrais o informa que aquela barca vai para a «infernal comarca». Insatisfeito,
com tal destino, encaminha-se para o batel divinal, não obtendo o respeito consentimento.

Efetivamente, o Anjo afirma que o destino do Onzeneiro é o Inferno, acusando-o de ganância e


cobiça. Na verdade, ao afirmar que o bolsão tomará todo o navio”, o Anjo mostra-lhe que não
há lugar para ele na sua barca, pois poderia corromper os outros passageiros. O Onzeneiro
defende-se, argumentando que o bolsão ia vazio e que toda a sua fortuna tinha ficado na
Terra. No entanto, acaba por mostra vontade de la volta para trazer o dinheiro, o que é
revelador do seu caracter materialista e inconsciente.

Em síntese, através do Onzeneiro, critica-se a burguesia gananciosa e materialista, que se


aproveita da sua posição para roubar os mais pobre.

Parvo
No início da cena as personagens encontram-se no cais. De seguida, o Parvo utiliza o adverbio
“alem” para questionar o Anjo se quer passa-lo para o paraíso.

Entretanto, no seu diálogo com o Anjo, o Parvo demostra ser uma pessoa simples e humilde,
agindo com eforia usando o vocabulário desajustado e calão. O Anjo diz-lhe que ele pode entra
na sua barca, pois nunca errou por malicio, as sim por ingenuidade. Acrescenta, ainda, para
esperarem e verem se aparece mais alguém que seja “merecedor do mal”, ou seja digno da
barca da Gloria.

Neste sentido, o Parvo fica junto à Barca do Paraíso e assume a função de criticar aqueles que
nele tentam entrar, apontando e comentando os defeitos da sociedade da época.

Em conclusão, o Auto apresenta personagens que se concentram, mas suas qualidades e


defeitos de uma classe social. No caso do Parvo, ele representa o povo e todos os inocentes ao
nível da mentalidade, dai que não se apresentam símbolos cénicos.

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