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PARECER JURÍDICO

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO NA MODALIDADE DE DISPENSA DE LICITAÇÃO DE


AQUISIÇÃO DE MATERIAL DE EXPEDIENTE REFERENTE AO PROCESSO Nº. 070/2017

Excelentíssimo Senhor Presidente:

Trata-se de Consulta quanto à legalidade de AQUISIÇÃO DE


MATERIAL DE EXPEDIENTE com fulcro no art. 24, II da Lei Federal nº.
8.666/93 objetivando DISPENSA DE LICITAÇÃO.

A apreciação desta Procuradoria Legislativa afixar-se-á aos


critérios técnicos e jurídicos, levando em consideração as legislações
que regulamentam as compras no âmbito da Administração Pública Direta,
e em especial a Carta Magna de 1988, em seu Art. 37, XXI e a lei
8666/93 e suas regulamentações, assim como atentará aos princípios
gerais do Direito Administrativo, em especial aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e
probidade administrativa, que estão relacionados no art. 3° da Lei de
Licitações.

Inicialmente, é importante afirmar que a Constituição da


República de 1988, em seu art. 37, XXI, tornou o processo licitatório
conditio sine qua non para contratos – que tenham como parte o Poder
Público – relativos a obras, serviços, compras e alienações,
ressalvados os casos especificados na legislação.

Toda licitação deve se pautar em princípios e regras


previstos no texto constitucional. O art. 22 da lei 8666/93 descreve
as principais modalidades de licitação originalmente existentes, dando
a cada uma delas particularidades bem diferentes.

No caso tem tela, posicionamo-nos pela modalidade de Dispensa


de Licitação, com base no Preço do Convite, para a contratação do
objeto ora mencionado. Os arts. 22, III e §3º, art. 23, II, “a” e art.
24, II, todos da Lei Federal nº. 8.666, de 21 de junho de 1993, assim
preleciona:

Art. 22.  São modalidades de licitação:


III - convite;
§ 3o -  Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo
pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em
número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará,
em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos
demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem
seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da
apresentação das propostas.

Art. 23.  As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III


do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites,
tendo em vista o valor estimado da contratação:
(...)
II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior: 
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

Art. 24. É dispensável a licitação:


(...)
II – para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea “a”, do inciso II do artigo anterior e para
alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a
parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que
possa ser realizada de uma só vez;

Em respeito aos Princípios da Continuidade do Serviço Público


e a Indisponibilidade do Interesse Público, cumpre dizer que é
irrazoável interromper a prestação de serviços e/ou compras de
materiais de uso cotidiano essenciais à manutenção das atividades da
Adm. Pública. A dispensa de licitação, por ser modalidade simplificada
de solução de necessidades do Poder Público, desde que respeitados os
Princípios da Legalidade, Motivação e Eficiência, que é o que se
observa na presente dispensa de licitação, mostra-se como a mais
eficiente para solucionar o problema em tela.

Cabe dizer, desde logo, que a dispensa de licitação com base


no Convite fora criada pelo legislador objetivando forma simplificada
de contratação de obras, serviços e para aquisição direta de
materiais, sendo desnecessária, portanto, as “burocracias” das demais
formas licitatórias.

Insta salientar que fora executado, no procedimento


licitatório originário, dispensa do presente objeto totalizando o
valor de R$ _________.

Cumpre apresentar, ainda, que nos termos do Art. 23, §5º da


lei 8.666/93, a dispensa de licitação em razão do valor importa na
dispensa do somatório total de valores do objeto daquele contrato,
contanto que o valor total das dispensas não alcance valor diferente
àquele método licitatório, senão vejamos:

Art. 23 – As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo


anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor
estimado da contratação:
§5 – É vedada a utilização da modalidade “convite” ou “tomada de preços”, conforme o
caso, para parcelas de uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras e serviços da
mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e
concomitantemente, sempre que o somatório dos seus valores CARACTERIZAR O
CASO DE “TOMADA DE PREÇOS” ou “CONCORRÊNCIA” (...)

Portanto, quando for feito o parcelamento do objeto, a


MODALIDADE a ser adotada na licitação em cada uma das parcelas deve
ser aquela que seria utilizada caso houvesse uma contratação única,
isto é, A ESCOLHA DA MODALIDADE DEVE SER FEITA EM FACE DO MONTANTE
CONJUNTO DE TODAS AS CONTRATAÇÕES. É necessário, portanto, fixar que o
art. 24, I e II, da Lei nº 8.666/93 veda a prática de fracionamento de
contratos quando tal fracionamento visa, tão-somente, escapar à
licitação. Esclareça-se, por imprescindível, que a lei não proíbe o
fracionamento da contratação. Muito ao contrário, na verdade a
estimula. O que recebe a repulsa do legislador é o fracionamento da
contratação, buscando-se, com esse expediente, burlar o princípio da
obrigatoriedade da licitação.

Com efeito, o Tribunal de Contas da União já emitiu parecer


quanto à utilização do critério de oito mil reais como um limite para
gastos durante o exercício, podendo ser adquiridos qualquer tipo de
objeto dentro desse limite durante o exercício, seja objeto do dia a
dia, seja objeto cuja aquisição a Administração não adquire de maneira
ordinária, vejamos:

“(....) determinar à Prefeitura Municipal de Araguari/MG que observe rigorosamente as


disposições da Lei n.º 8.666/93, coibindo o uso irregular da dispensa de licitação em
aquisições de mesma natureza, cujo montante total ultrapasse o limite máximo
vigente, tendo em vista o disposto nos art. 23, § 2º, c/c o art. 24, II, da referida Lei”.
(AC-1473-15/08 – 1ª Câmara. Sessão: 13/05/08. Classe: Relator: Ministro Guilherme
Palmeira - FISCALIZAÇÃO – REPRESENTAÇÃO.)

(...) É pacífico o entendimento desta Corte de Contas (Acórdãos 73/2003 - 2ª Câmara;


66/99 - Plenário) no sentido de que as compras devem ser programadas pelo total para
todo o exercício financeiro, observando o princípio da anualidade do orçamento,
consoante o estabelecido no art. 8º, caput, da Lei nº 8.666/1993. Na situação sob
exame constata-se que não houve planejamento adequado das compras, na forma
do inciso II do §7º do art. 15 da Lei nº 8.666/1993, ensejando o fracionamento da
despesa, cujo total superou o limite fixado no art. 24, inciso II, do citado diploma
legal. (.....)

Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal de Contas do


Paraná:
Consulta. Licitação. Possibilidade da divisão do objeto em lotes, quando tal se revelar
técnica e economicamente viável, desde que o fracionamento seja vantajoso para a
Administração Pública. A modalidade licitacional a ser adotada deverá respeitar o valor
global do certame, como se uno fosse. (Protocolo 37570/1998, Resolução 4655/1998)

Trata-se, portanto, de uma solução híbrida: o objeto será


dividido em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e
economicamente viáveis (§ 1 o do art. 23), todavia, não haverá
licitação distinta para cada parcela ou lote (§ 2 o do art. 23).
Assim, evitar-se-ão conflitos com outras normas legais aparentemente
contraditórias (§ 5 o do art. 23, incisos I e II do art. 24 e art. 88,
“caput”).

Na visão do administrativista Ivan Barbosa Rigolin:

Se a lei quis que oito mil ou quinze mil reais fossem o limite da licitação dispensada
sem maiores exigências ou condicionamentos, então pode ser adquirido o bem, ou
contratado o serviço de valor que dispense licitação quantas vezes forem necessárias,
sempre que preciso, em um século, um ano, uma semana, um lustro ou um mês lunar
dos fenícios. Basta que a Administração proceda naturalmente, sem forçar necessidades
em verdade inexistentes, sem “picar” ou fragmentar, artificial ou artificiosamente, suas
necessidades efetivas, apenas para, maliciosamente, burlar a regra geral da licitabilidade
necessária, e seu procedimento será rigorosamente legítimo, se utilizar o inc. I ou o inc.
II, do art. 24, da Lei de Licitações, repetidamente, em dado espaço de tempo (...).

O que acontece no presente contrato, que objetiva a adição do


valor em anexo ao valor ora dispensado, é aproveitar o procedimento de
dispensa originário, aditando-o, aditivando o valor apresentado ao
inicial. No entanto, cumpre dizer que o valor total final, que inclui
a dispensa inicial e o valor presente, que totaliza o valor de R$
______ NÃO ULTRAPASSAM o valor limite legal de R$8.000,00 (oito mil
reais), respeitando, portanto, o valor de dispensa do presente
contrato, nos termos do art. 24, II da lei 8666/93.

A presente dispensa otimizará o tempo para a aquisição do


objeto, que se restaria prejudicado pelo decurso do tempo, caso fosse
confeccionado Procedimento Licitatório, e, por isso, respeita os
Princípios da Celeridade e Eficiência. Vejamos o posicionamento de
Carvalho Filho, em seu Manual de direito Administrativo, 2017, pág.
259-260, in verbis:

“Em observância ao princípio da motivação dos atos administrativos,


exige o Estatuto que sejam expressamente justificados no processo os
casos de dispensa de licitação previstos no art. 24, inciso III, do
Estatuto, devendo o administrador comunicar a situação de dispensa em
três dias à autoridade superior, e a esta caberá ratifica-la e publicá-la
na imprensa oficial em cinco dias; a publicação é condição de eficácia
do ato. O mesmo, aliás, se exige para os casos de inexigibilidade,
previstos no art. 25 do Estatuto. Extrai-se da norma, portanto, que não
precisa haver justificação detalhada nos casos do art. 24, II e II, do
Estatuto, que preveem a dispensa pelo critério de valor. A verificação da
legalidade, nessa hipótese, é mais simples e objetiva, dependendo
apenas do enquadramento do valor do contrato na faixa autorizativa
para a dispensa do certame”.

Portanto, mister ressaltar que o valor do objeto está de


acordo com a previsão legal, bem como a modalidade de licitação
amolda-se às definições do objeto.

Desse modo obedecidas as demais regras contidas na Lei


Federal nº. 8.666, de 21 de junho de 1993, entende-se que esta Casa de
Leis PODERÁ proceder à Dispensa de Licitação no presente objeto, razão
pela qual este procedimento encontra-se APROVADO por essa Procuradoria
Legislativa e em condições de ser aprovado por Vossa Excelência, se
assim entender.

No entanto, respeitando o Princípio da Legalidade dos atos


Administrativos e tendo em vista que o valor total desta dispensa
aproxima-se do limite aceitável da dispensa de licitação, aconselho a
IMEDIATA ABERTUDA DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO, em meu ver, NA
MODALIDADE DE CONVITE ou TOMADA DE PREÇOS conforme ordena a lei
8.666/93, objetivando, portanto em respeito ao princípio da
continuidade, formalizar novo contrato de prestação dos serviços
abordados neste procedimento de Dispensa de Licitação.

DEVOLVO, portanto, o presente Procedimento Administrativo,


com o devido parecer Jurídico para a apreciação final de V. Exa.

É o meu parecer.

Procuradoria Legislativa, ___ de ____ de 2017.

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