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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA – UNIVERSO

TRABALHO DE PRÁTICA JURÍDICA II

ALUNOS: FABIANO VERÍSSIMO DA COSTA – 600192531


EDSON RANGEL MASCENA - 600794428
MARCELO JUNIOR – 600741789
JENIFFER APARECIDA DE C.C.B. FIGUEIREDO - 60078505

BELO HORIZONTE
2021
DESCRIÇÃO COM ANÁLISE JURÍDICA DO DOCUMENTÁRIO NOTICIAS DE UMA GUERRA
PARTICULAR

Este documentário criado em 1999, tenta nos demonstrar a linha de raciocínio e entendimento
educacional, político e social, da sociedade carioca vivente nos morros e periferias, policiais e bandidos,
Paulo Lins ainda relata que: “nesse período a cocaína nem existia nas periferias era coisa isolada de
pessoas de alto poder aquisitivo, pessoas das favelas não usava cocaína era só maconha.” Neste
podemos vislumbrar através dos relatos e filmagem, o significativo abandono Estatal e a inserção do
tráfico nessas comunidades, para tentarem completar ou cobrir a lacuna que este deixou. É possível
percebermos a falta de dignidade humana, ao constatarmos a falta de serviços públicos essenciais
como: água, esgoto e luz, muitas vezes provido através de meios irregulares e ilegais, para suprirem sua
subsistência. Ao lermos nossa Carta Magna, nos defrontamos com o art. 1º , que diz: A República
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana

Quem são esses bandidos que, por meio da violência conseguem serem amados e odiados? Então, a Criminologia
nos dá o privilégio de fazermos a leitura desses seres humanos, ressaltamos que nosso objetivo, não é se
posicionar pelo certo ou pelo errado, mas sim, fazermos uma análise do documentário sob pontos de vista
diferentes. Pudemos perceber que há várias famílias que vivem de forma diferente, umas seguem trabalhando e
se preocupando com o futuro dos filhos, enquanto outras já se entregaram ao “governo” dos traficantes. É dessas
famílias que surgem o trabalhador ou o traficante. Em seus relatos, suas condições de vida precárias e a falta de
oportunidade são os principais gatilhos para explicar as escolhas feitas pelos jovens. Não querem e não aguentam
mais a vida miserável é claro, a oportunidade de alcançar os sonhos estão entre os becos da comunidade que
vivem. O desejo de estarem na vida criminosa é como um vírus que se espalha rapidamente, tornando-se uma
epidemia incontrolável, exigindo do estado uma atuação equivalente. A violência dos policiais, segundo os
moradores, é uma conduta que resulta em grande revolta fazendo com que, proteger a comunidade se torne um
dever dos “donos do morro “ e não mais do Estado. É perceptível a ausência do Estado, tanto nas imagens
quanto nos relatos dos moradores, traficantes e do chefe da polícia civil. Ao vermos essa realidade, nos
perguntamos, onde estão as garantias e os direitos fundamentais, largamente discutidos? Onde estão os
investimentos educacionais? Onde está a segurança pública, devidamente preparada, para resguardar o bem-
estar social? Onde está?! A Constituição exprime uma ideia um tanto quanto utópica, que deveria ser ideal, mais
esta longe do real, citando o seguinte em seu art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

Percebemos em todas as falas a falta de esperança! A alegação da falta de oportunidades! Sabemos que
realmente para muitas dessas pessoas, a ausência a falta dessas, geram desculpas para praticarem atos
desonestos, por simples fatos de quererem se destacar na comunidade onde moram, serem alçados ao
patamar de “patrão do morro”; pois acham divertido, prazeroso, maneiro; mas por outro lado, só quem
passa fome, não tem um simples chinelo para calçar, não tem um pai ou uma mãe ou quando tem
ambos são desempregados e muitas das vezes alcoólatras e drogados, e acabam descontando a miséria
vivida encima dos seus filhos ou outras mazelas vividas, sabe!

Em entrevista, o fundador do COMANDO VERMELHO Carlos Gregório “GORDO” relata que o projeto do
COMANDO VERMELHO era paz, justiça e liberdade, segundo ele paz e para viver em paz dentro da cadeia, justiça
é você fazer justiça para todos uma justiça social. O projeto era fazer tudo aquilo que todos os buracos deixados
pelo poder público o COMANDO VERMELHO entraria para suprir tudo aquilo que não é feito pelo Estado. Na visão
do fundador do COMANDO VERMELHO a liberdade é tudo aquilo que todo mundo sabe é sair do presidio a
qualquer custo. A constituição de um poder paralelo por parte do crime organizado contraria as normas do
Estado que detém o direito do JUS PUNIENDI ou seja, o direito de punir. Na Lei de introdução as Normas do
Direito Brasileiro no seu artigo 3º diz: Ninguém se escusa de cumprir a Lei, alegando que não a conhece. Nesse
caso o Estado deve intervir com políticas públicas e policiamento ostensivo para que a sociedade não seja refém
de grupos criminosos. Ainda relata o líder comunitário ITAMAR SILVA ressaltando o que leva um jovem entrar
para o mundo do tráfico dizendo: “ é uma terceira geração e que ela busca afirmação muito forte nessa cidade,
então ele acha que o tráfico oferece um respeito que ele não têm na sociedade´”. Quando jovens da comunidade
veem outros em confronto armados com a polícia e ainda colocam o capuz na cabeça isso alimenta neles um
orgulho, este “poder” ilusório, que acha que tem sobre a sociedade, que não reconhece o seu real valor. O chefe
da polícia civil/ RJ relata que alguns deles que vivem nas favelas na maioria das vezes não se sentem gente, eles
não podem comprar um carro de luxo, nem frequentar certos lugares badalados da cidade, havendo uma
exclusão social entre estas pessoas que nem sempre tem as mesmas oportunidades, das outras da classe média. É
muito triste quando ouvimos e percebemos pelos relatos dos moradores, a atitude das crianças e jovens a
respeito do enfrentamento contra os policiais, ao acharem que estão defendendo sua comunidade, sua família. A
senhora Janete diz “Eles andam pelos morros com medo porque a nova geração tem o espirito suicida, não
querem saber se irão morrer ou matar, querem proteger a comunidade a qualquer custo. O lado negativo das
armas é que os traficantes não querem saber se é morador ou não, se eles puderem matar e esquartejar para
todos verem e servir de exemplo eles irão fazer, eles são capazes disso.” A guerra não tem fim! Sempre há um
novo recruta para fazer parte do “movimento “, o que gera grande desgaste para os policiais. Não podemos
deixar de destacar a violência que está presente em ambas as partes. Mas, o porquê de jovens, com toda uma
vida pela frente, escolhem viver tão perigosamente? A resposta seria: cansaram da miséria e estão dispostos a
fazer de tudo, pagando com a própria vida, para alcançar a dignidade. Os policiais também não poderiam ser
considerados suicidas?! Sim, mas o objetivo aqui é busca por segurança da sociedade, outro direito
Constitucional. Sabemos que no princípio, tanto dos “chefes de comunidade “quanto dos policiais são incomuns,
mas não podemos deixar de compreender as corrupções que ocorrem por parte de alguns policiais , fazendo com
que a máquina do crime nunca pare de funcionar. Concomitantemente com esta fala, trazemos o capitão do
BOPE, que relata, que somente as ações policiais não são suficientes para a efetiva mudança na
estrutura social, em suas palavras o capitão Rodrigo Pimentel diz “(...) nós fazemos a segurança do
Estado, temos que manter os excluídos sob controle”, e completa “Não vejo uma luz no fim do túnel. Não há
solução “, deixando bem claro que infelizmente ainda se tem muita coisa para ser melhorada no universo
social, educacional e político-social. Não podemos deixar de destacar que na maioria das escolhas, seja ela
“certa ou errada”, impera uma escolha, ou como disse uma importante psiquiatra “Livre-arbítrio. Nas pessoas sãs
é livre à vontade, como diz a metafísica, mas os atos são determinados por motivos que contrastam com o bem-
estar social. Quando surgem, são mais ou menos freados por outros motivos, como o prazer do louvor, o temor da
sanção, da infâmia, da Igreja, ou da hereditariedade, ou de prudentes hábitos impostos por uma ginástica mental
continuada, motivo que não valem mais nos dementes morais ou nos delinquentes natos, que logo caem na
reincidência. (LOMBROSO, 1876, pg. 223).”

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