Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Fotografia Contemplativa
Versão 2021
A Fotografia Contemplativa é uma prática ligada à meditação, que visa trazer nossa visão para o presente,
abrindo nossos olhos e permitindo ver o “novo” no cotidiano. Antes de uma técnica fotográfica é uma
forma de ver o mundo e de viver.
Para realizar a fotografia contemplativa o ideal é sair para a rua, para quase qualquer lugar (evite os
“cartões-postais”) com tempo, sem preocupações ou objetivos, apenas vendo e sentindo o impacto visual
das coisas, o “flash (lampejo) de percepção”. A prática tem três etapas: A) Flash de Percepção; B)
Percepção Visual e C) Formar o equivalente.
O Flash de Percepção, portanto, é o primeiro passo para se fazer fotografia contemplativa. Pense que
todos tem esses lampejos da percepção, o que ocorre é que normalmente não nos atemos a ele.
Mas o que é esse Flash de Percepção; ? É um instante em que a visão é clara e profunda, o momento exato
que olho e mente se alinham, uma pausa no processo racional. Isso ocorre com todos e sempre. O desafio
é reconhecer esse lampejo da percepção. É preciso estar disposto e aberto para poder reconhecer o flash,
caminhar em direção à calma e imobilidade é essencial. Temos que aprender a apreciar o cotidiano, e
saber que o flash será repentino e ira quebrar nossa rotina, é preciso deixar isso ocorrer.
Exemplos: imagem no reflexo do monitor ou TV que vemos só por um instante; quando uma cor, forma,
textura, etc, nos chama a tenção, sem um “porque”; quando olhamos para algo e vemos uma foto pronta;
quando olhamos para algo e vemos além de sua função ou valor, mas vemos apenas como imagem.
O “Flash” é como uma epifania. “Obviamente, uma epifania não pode ser criada, ela simplesmente
acontece, um ato de graça, acidente e transformação — no entanto, é o trabalho anterior que torna tal
“acontecimento” possível. E o que é uma epifania? Diria que é uma mudança repentina da mente, quando
a preocupação consigo (e outras formas de preocupação) se dissolve e ocorre um momento quase
explosivo de apreciação.” (Scheffel).
Em resumo, o Flash de Percepção é quando nossa percepção (e não a nossa ansiedade) encontra algo.
Existem uma inteligência própria da visão e ela pode encontrar belas imagens, sem a crítica da razão.
Mais resumidamente ainda: O flash de percepção é apenas ver.
Exercício: Cores
Claro que o Flash de Percepção é abrangente e capta todos os aspectos do mundo visual, como texturas,
luz e espaço. Mas para este exercício vamos nos ater a apenas um aspecto, a cor.
Ande (escolha um local calmo e seguro), mantenha a câmera guardada. Caminhe exatamente como na
caminhada contemplativa.
Procure observar apenas cores. As coisas não terão formas ou funções, apenas cores. E espere que cores te
chamem para o flash, te prendam, então tente compreender (visualmente) que parte da paisagem te
atraiu, o que pertence ao flash, e esse será o enquadramento da foto a ser feita no final.
Você pode fotografar nesta etapa, mas isso não é o mais importante.
Depois que fizer essa prática, por uns 30 minutos ao menos, lido o texto e assistido o vídeo, me avise e
faremos a próxima etapa.
Exemplos:
Caminhada
Para realizar a fotografia contemplativa o ideal é sair para a rua, para quase qualquer lugar (mas evite os
“cartões-postais”) com tempo, sem preocupações ou objetivos, apenas vendo e sentindo o impacto
visual das coisas, o “flash (lampejo) de percepção”. Não use fones de ouvido ou algo que distraia, de
preferência desligue o celular. Caminhe como no exercício anterior, a Caminhada Contemplativa, ande
sem pressa, observe, veja tudo apenas pela imagem que É, não pelo que você poderia querer que fosse.
A prática tem três etapas:
A) Flash de percepção
É um instante em que a visão é clara e prof,unda. É o momento exato que olho e mente se alinham, uma
pausa no processo racional. Isso ocorre com todos e sempre. O desafio é reconhecer esse lampejo da
percepção. É preciso estar disposto e aberto para poder reconhecer o flash, caminhar em direção à calma
e imobilidade é essencial. Temos que aprender a apreciar o cotidiano, e saber que o flash será repentino
e ira quebrar nossa rotina, é preciso deixar isso ocorrer. Exemplo: imagem no reflexo do monitor ou TV.
O “Flash” é como uma epifania. “Obviamente, uma epifania não pode ser criada, ela simplesmente
acontece, um ato de graça, acidente e transformação — no entanto, é o trabalho anterior que torna tal
“acontecimento” possível. E o que é uma epifania? Diria que é uma mudança repentina da mente,
quando a preocupação consigo (e outras formas de preocupação) se dissolve e ocorre um momento
quase explosivo de apreciação.” (Scheffel).
Parte do aprendizado da Fotografia Contemplativa é conseguir ver apenas o que pode realmente ser
visto... Primeiro buscamos “separar” luz, cor, textura, etc, mas depois você poderá observar a realidade
sem essa separação.
Neste exercício você estará concentrado em ter flashes apenas de textura, mas claro que outros surgirão.
Quando surgir um flash de percepção de outro aspecto visual, como cor ou forma, por enquanto apenas,
agradeça e se despeça deles, com gentileza. Ao observar o mundo apenas como textura é possível que
você veja muita coisa nova e surpreendente, mas não se cobre isso, tenha curiosidade e aceitação,
agradeça ao que vier aos seus olhos.
2. Formas
Faça como no exercício anterior, mas agora olhe o mundo como formas. Faça de preferência em outro
momento ou dia.
3. Espaço
O espaço é uma “coisa” em si, ele delimita formas ou não, está por toda a parte, e devemos nos esforçar
para percebê-lo, perceber o espaço como algo concreto e real. O mais fácil é fotografar o céu, o espaço
entre prédios, mas esse espaço pode aparecer de outras fores, busque perceber isso.
Exemplos:
Para praticar e entender o estilo Fotografia Contemplativa é preciso praticar e se esforçar. É importante
buscar ver o mundo de forma mais limpa e clara. Como há inúmeros aspectos da visão (cor, luz, textura...)
precisamos, inicialmente, filtrar nossa visão, ora observando apenas cores, ora apenas texturas, e em
outros momentos apenas espaço, ou luz, ou forma. Os exercícios devem ser feitos em pequenas
caminhadas, estando abertos aos flashes de percepção. Ande e busque se conectar a apenas um dos
elementos.
Nem sempre devemos fotografar pensando na utilidade ou valor da foto. Quando algo lhe chamar a
atenção, não pense se a foto vai ficar boa, se vai valer dinheiro, se vai ganhar prêmios, etc. Apenas pare,
tente entender visualmente o que prendeu sua atenção, e então fotografe. Depois veja a foto que fez e
olhe de novo a cena. Avalie se ela corresponde ao que te chamou a atenção. Senão refaça. Mas se não
conseguir, se o momento passar, não se preocupe, esse momento passou, mas outros virão.
Isso vale mesmo quando não estamos fotografando. Se algo atrair sua visão a qualquer momento, não
pense “não estou fotografando agora”, nessa hora vale a câmera que estiver à mão, até o celular. E caso
não haja nenhuma, vale a pena fazer o exercício do olhar mesmo assim, busque compreender o que está
vendo, visualmente, e perceba a riqueza e a arte presentes no cotidiano. Ficando atento aos "Flashes of
Perception", ou "Lampejos de percepção" tenho começado a ver coisas que não via antes, e o dia-a-dia
tem se tornado mais agradável, mais surpreendente.
Dar valor e entender sua visão é muito mais importante do que pode parecer!
Módulo 05 – Conclusão
A Experiência
Vamos falar mais desse importante conceito.
“A experiência e o saber que dela deriva são o que nos permite apropriar-nos de nossa própria vida.”
(Bondía, 2002. P.27)
Podemos entender que um acontecimento só é impactante, só leva a um efeito humanizador mudando
algo em nós, quando é uma verdadeira experiência, como preconizada por Bondía (2002), ou seja, algo
que nos acontece, não algo que fazemos, que nos muda de lugar, passa por cima, nos tira do conforto. A
pessoa atingida pela experiência é “um sujeito sofredor, padecente, receptivo, aceitante, interpelado,
submetido” (p.25). É a experiência que nos permite “viver” nosso mundo, e só assim podemos fazer a
“ampliação da esfera do ser). A fotografia, quando observada, tem o potencial de nos atingir (punctum),
de nos passar, principalmente por poder nos sensibilizar num instante, e não sendo nossa obra, não nos
permite o controle nem a total satisfação do desejo ou curiosidade gerado. O olhar demorado sobre uma
imagem pode gerar até mesmo o desconforto da identificação com algo nosso, muitas vezes ignorado.
Se a “experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca” (Bondía , 2002.p.21), vivemos
um problema, pois a cada dia em nosso mundo mais coisas acontecem, mas a experiência é cada vez
mais rara, quase nada nos toca. Os motivos podem ser a busca pelo controle, por perfectibilidade, ou
podemos ver isso claramente no motivo apontado por Bondía (2002) e Benjamim (1994), o excesso de
informação, que longe de ser experiência é opinião pronta, portanto quase o oposto de experiência. E a
fotografia vive o mesmo drama, pois cada vez vemos mais fotos, seja na internet, TV, revistas e jornais,
nas ruas, mas vemos menos cada uma, não prestamos atenção e quase nenhuma nos toca. Vivemos uma
enxurrada de informações, que no entanto não se completam, não são vivenciadas e não são experiência.
Experiência é abertura, termo também essencial na fotografia.
“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção,
um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar,
parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir,
sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a
vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos,
falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar
muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço” (Bondía , 2002.p.19).
Portanto para a fotografia como experiência de fato acontecer, é preciso criar um espaço, um tempo
onde possamos ouvir, ver, falar, prestar atenção aos detalhes, mudar de opinião, até suspender a
opinião, ouvir e ver novamente.
Exercícios:
Parte do aprendizado da Fotografia Contemplativa é conseguir ver apenas o que pode realmente ser
visto... Primeiro buscamos “separar” luz, cor, textura, etc, mas depois você poderá observar a realidade
sem essa separação.
Luz
Prestar atenção à luz é uma maneira de permanecer no momento, enraizado na experiência real de ver
as coisas como elas são. É também uma alegria. A dança da luz solar tem grande poder para nos
animar. (baseado em: http://seeingfresh.com/photo-submissions/light).
Neste exercício filtre seus flashes de percepção apenas para a LUZ e seus efeitos. Busque os padrões de
luz. Claro que a luz na verdade este em tudo que vemos, mas tente observar que as vezes ela se destaca e
é o principal aspecto de uma imagem.
Forma e espaço
Busque ver apenas formas inseridas no espaço. As formas surgem em oposição a um espaço, tente
perceber a relação positivo-negativo que surge tantas vezes, e como esse espaço é essencial para definir
a forma.
Conclusão
Nem sempre devemos fotografar pensando na utilidade ou valor da foto. Essa é uma ideia bem diferente
numa sociedade que valoriza muito a utilidade. Assim quando algo lhe chamar a atenção, não pense se a
foto vai ficar boa, se vai valer dinheiro, se vai ganhar prêmios, etc. Apenas pare, tente entender
visualmente o que prendeu sua atenção, e então fotografe. Depois veja a foto que fez e olhe de novo a
cena. Avalie se ela corresponde ao que te chamou a atenção. Senão refaça. Mas se não conseguir, se o
momento passar, não se preocupe, esse momento passou, mas outros virão.
Isso vale mesmo quando não estamos fotografando. Se algo atrair sua visão a qualquer momento, não
pense “não estou fotografando agora”, nessa hora vale a câmera que estiver à mão, até o celular. E caso
não haja nenhuma, vale a pena fazer o exercício do olhar mesmo assim, busque compreender o que está
vendo, visualmente, e perceba a riqueza e a arte presentes no cotidiano. Ficando atento aos "Flashes of
Perception", ou "Lampejos de percepção" tenho começado a ver coisas que não via antes, e o dia-a-dia
tem se tornado mais agradável, mais surpreendente.
Dar valor e entender sua visão é muito mais importante do que pode parecer! Essa ampliação de nosso
olhar pode começar a refletir na sua vida, muito além da fotografia, e isso é muito bom. De repente você
pode ter menos preconceitos em relação às pessoas e aprender a curtir mais cada momento e cada dia
de sua vida. Esses “ganhos” são esperados, mas não se preocupe com eles, assim como suas fotos irão
melhorar, sua vida pode melhorar um pouco com a prática contemplativa, mas deixe isso ocorrer sem
expectativas.
Sugestões
Outros sites:
http://seeingfresh.com
Não deixe de acompanhar nosso site pois sempre temos novos artigos e eventos, assim você pode se
atualizar:
Nosso site: www.fotografiacontemplativa.com.br
Instagram: https://www.instagram.com/fotocontemplativa
Pós clique:
Depois das fotos feitas o aprendizado não acabou. Em frente ao PC abara suas fotos, faça sua seleção
com calma, olhe longamente para suas fotos. Apague as repetidas e as que não deram certo, veja quais
“funcionaram” em relação ao flash, pode ver também quais ficaram bonitas ou interessantes. Esta é uma
oportunidade para lhe dar um feedback e refinar seu entendimento da percepção, e desenvolver sua
sensibilidade. Veja se as imagens vem de um flash e se elas representa mesmo o que lhe atraiu. Se não,
pense no porque?
Na hora de editar vale cortes e correções, mas quanto menos forem preciso, significa que mais perto
você chegou de registrar o que viu. Claro que você pode agora postar, vender, imprimir, enfim, fazer o
que quiser com as fotos, afinal elas são suas e a prática contemplativa era na hora de fotografar.
Exercícios extras:
- Observação Contemplativa: outro exercício que você pode fazer é ao observar fotos, suas ou de outros
fotógrafos, antes de julgá-las, analisá-las, etc, entenda que sentimentos ela te traz, sem preconceitos.
- Observação da experiência: observe em você a experiência de ver. Ao se perceber notando algo, vendo,
observe o que ocorre em você, como se sente, no corpo, mas também se desperta sentimentos, ideias,
vontades. Perceba como é a experiência de ver, e o que vai sendo descoberto nessa experiência.
Fica a dica:
•Participar de grupos, mostrar e ver fotos é essencial, seja de fotografia contemplativa, ou de fotografia
de forma geral também. Busque ainda sempre conhecer lugares, pessoas, ampliar sua cultura com coisas
boas;
•Aplique estes conceitos contemplativos em sua vida;
•Tome cuidado ao fotografar na rua, cuide de sua segurança, respeite as pessoas fotografadas e tenha
sempre a Ética em mente.
E até breve!
Yuri Bittar
Referências:
BONDIA, J.L. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Rev. Bras. Educ., n.19, p.20-8, 2002.
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf
KARR, Andy e WOOD, Michael. The Practice of Contemplative Photography: Seeing the World with Fresh
Eyes. Shambhala Publications, Boston, 2011.