INTRODUÇÃO
A pena de morte faz parte da sociedade humana há milênios. Ela é entendida como a
punição definitiva para os crimes mais graves. Mas o que diz a Bíblia sobre este tema? Qual
deve ser a posição do servo de Deus, perante assunto tão controvertido?
À medida em que aumenta a incidência dos crimes violentos vemos alguns setores
movimentando-se para que a pena capital seja instaurada em nosso sistema judiciário. O filme
“Milagre na Cela 7” pode nos ajudar a refletir a respeito da validade de uso da pena de morte
nos dias atuais.
O ENREDO DO FILME
Toda a história do filme se passa com Memo, um homem com deficiência intelectual
que cria sua filha, Ova, com a ajuda de sua mãe. Tudo corria bem na vida do homem, até que
um dia, se envolveu em um acidente, e mesmo sem ter culpa, foi acusado de ser o assassino
da filha de um comandante do exército. A partir daí, a vida de Memo muda completamente,
pois ele acaba sendo preso. Devido à sua deficiência, o homem não consegue provar sua
inocência e permanece encarcerado.
Quando Memo chega à prisão, os outros homens ainda não sabiam que ele não tinha
ligação com o crime, mas mesmo assim o retaliaram. Com o passar do tempo, perceberam que
na verdade ele não tinha culpa, e começaram a pensar em formas de tirá-lo de lá. Para se
redimir, sentiam que precisavam ajudar Memo a sair da prisão, considerando que ele não era
culpado pelo crime, então, trouxeram a filha para que o visitasse. A criança, porém, acabou
tocando o coração de vários homens, e a partir de sua visita vários presos começaram a
repensar seus atos. Vários presos então começaram a se arrepender de seus crimes e pecados.
No desfecho do filme ocorre uma reviravolta, fazendo com que Memo seja liberto e um
companheiro de cela enforcado em seu lugar.
VISÃO BÍBLICA SOBRE A PENA DE MORTE
A pena de morte é explicitamente fundamentada no fato de que Deus criou cada ser
humano individualmente à sua própria imagem e, portanto, um ato de assassinato
intencional é um ataque à dignidade humana e à própria imagem de Deus. Aquele que
intencionalmente tira a vida por meio do assassinato, perde o direito à sua própria
vida.
A Bíblia estabelece que deve haver um alto nível de evidências para se impor a pena
de morte. O ato de homicídio deve ser confirmado e corroborado pelo testemunho
ocular dos acusadores, e a sociedade deve tomar todas as precauções razoáveis para
garantir que ninguém seja punido injustamente.
A Bíblia também afirma que a pena de morte, correta e justamente aplicada, terá um
poderoso efeito dissuasivo, sendo considerada um “firewall” necessário contra o
crescimento de mais violência letal.
Há uma probabilidade muito maior de que um assassino pobre enfrente a execução do
que um rico, pois os ricos têm condições de pagar equipes de advogados de defesa
massivamente caras que podem exaurir a capacidade da promotoria de obter uma
sentença de pena de morte mesmo quando o réu é claramente culpado. A Bíblia
adverte, as pessoas não devem poder comprar a justiça por seus próprios termos.
Os cristãos deveriam esperar, orar e lutar por uma sociedade na qual a pena de morte,
correta e raramente aplicada, faça sentido moral. Essa seria uma sociedade na qual
todos os direitos do acusado seriam protegidos e com toda garantia de que não seria o
status social do assassino que determinaria a sentença pelo crime.
Marcelo Andrade2 enumera, segundo ele, as 15 objeções mais comuns daquelas que
são contrários à pena capital rebatendo-as uma a uma bíblica e juridicamente. Vamos ver
algumas delas:
1
“Motivos para apoiar a pena de morte” MINISTÉRIO FIEL https://ministeriofiel.com.br/artigos/motivos-para-
apoiar-a-pena-de-morte/ Online, 22/01/ 2022
2
"Pela pena de morte" MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/pelapena/ Online, 22/01/2022
1ª objeção: Não pode haver pena de morte porque podem acontecer erros e acabar-
se matando inocentes.
Resposta: Segundo esse argumento, tudo o que contém algum risco de erro é ilegítimo.
Se esse argumento procedesse, deveriam ser proibidos o avião e o automóvel, porque
acontecem vários acidentes por ano e muitos inocentes morrem. "Abusus non tollit
usum" (o abuso não tolhe o uso), é uma máxima do Direito absolutamente verdadeira.
Caso contrário, a vida em sociedade seria impossível.
5ª objeção: Não se pode punir os criminosos com a morte. Ninguém tem esse direito.
Resposta: É necessário punir os faltosos. A justiça manda "dar a cada um o que é seu".
Quando um ladrão rouba uma pessoa, cometeu uma injustiça e a vítima, além da
sociedade, é "credora" desse ladrão. Então, para se fazer justiça, o ladrão deve pagar.
Restituir o que subtraiu à vítima e pagar uma pena. A punição é necessária, e os
governantes têm o direito de punir (1Pd 2,13-14). A pena deve ser proporcional ao
agravo. Desse modo, para uma infração leve devemos ter uma pena leve, para uma
infração média, uma pena média, e para uma infração grave, por exemplo, um
assassinato, devemos ter uma pena forte, que é justamente a pena de morte. Por isso a
Bíblia elenca vários crimes que são dignos de morte.
6ª objeção: A pena de morte não resolverá nada. Os EUA são a prova disso.
Resposta: Resolve sim. Primeiro porque um apenado com a pena capital não cometerá
crimes novamente. Segundo, porque nos países onde ela existiu, no decorrer da
história, sempre houve baixa criminalidade. Por exemplo, na França. Em Paris, entre
1749 e 1789 - quarenta anos - aconteceram apenas DOIS assassinatos. E hoje em dia,
nos países que aplicam a pena máxima - como é o caso dos países árabes e de
Cingapura - há baixíssima criminalidade. Nos EUA, se não houvesse pena de morte
haveria ainda mais crimes. Além disso, o sistema americano é imperfeito; há poucas
condenações e os processos são demorados demais. Em New York a criminalidade
está despencando e um dos motivos é a aprovação da pena de morte.
13ª objeção: As penas devem ser educativas, para recuperar o criminoso, e não para
vingar.
Resposta: Toda a pena é vindicativa. A recuperação do criminoso está em segundo
plano. O primeiro dever do Estado é proteger a sociedade, e não recuperar o indivíduo.
O todo vale mais que a parte. Ademais, a pena de morte é extremamente educativa
para todo mundo.
CONCLUSÃO
Este seria um exemplo de cenário em que uma pena injusta seria aplicada a um
inocente. Isso já acontece com alguma frequência em nossa sociedade, fazendo com que
pessoas injustamente acusadas fiquem presas por longo tempo mesmo sendo inocentes.
O que cabe defendermos como cristãos é que a justiça seja feita de forma transparente,
dando ao acusado todo o direito de defesa e, quando comprovado o crime, aplicando uma
pena proporcional a dívida que ele causou com o indivíduo prejudicado e visando proteger a
sociedade.