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acréscimo populacional gigantesco, como também uma violenta usurpação dos bens da
natureza pelo homem.1
Verifica-se, assim, que a construção científica da separação do homem da natureza
teve sua origem no Iluminismo, o qual aplica a ciência à indústria, surgindo a idéia de
supremacia da teoria sobre a técnica.
O homem, portanto, acaba por distinguir-se da natureza, quando a toma como objeto
de estudo e compreensão, assumindo-a como parte fora de si.
Detentor desses novos conhecimentos e técnicas, ao homem permitiu-se controlar
tanto ativa como passivamente a natureza, o que a faz deixar de ser algo que segue apenas as
leis naturais, e passa a ser um grande conjunto de objetos dos quais o homem escolhe alguns
que aprende a utilizar.2
O pensamento racionalista, inaugurado pelo sistema capitalista, trouxe, portanto, a
idéia de uma natureza objetiva e exterior ao homem. Aquela passa a ser concebida como
oposta à cultura e sua subalterna. A concepção de natureza como objeto externo ao homem e o
homem como não-natural e, conseqüentemente, fora da natureza, traz uma visão mecanicista,
fragmentadora e reducionista da realidade.
Essa transformação no conceito de natureza fez com que a humanidade imprimisse
modificações no mundo sem calcular as conseqüências. A partir, principalmente, da
Revolução Industrial viu-se a estruturação de múltiplos processos de degradação ambiental
nas suas mais variadas formas.
Assim, um novo limiar se estabeleceu entre o homem e a natureza e suas relações. O
processo de industrialização, incluindo a indústria bélica, a poluição e a degradação ambiental
passaram a constituir um fato da civilização que atingiu e atinge dimensões gigantescas no
planeta após 2ª Guerra Mundial. A esse fenômeno se denominou “Desenvolvimento
Econômico”.
1CARVALHO destaca o seguinte: “Não que as idéias de descartes tenham sido objetivamente a causa, mas, com
a conseqüente evolução do homem nos aspectos social, político e econômico, e bem assim com o
desenvolvimento das ciências, o fenômeno da industrialização foi um resultado lógico, fruto do amadurecimento
do próprio sistema econômico que se delineou mesmo que de forma tênue a partir do mercantilismo.
(CARVALHO, Antônio Cesar leite de. SANTANA, José Lima. Direito Ambiental Brasileiro em Perspectiva:
Aspectos Legais, Críticas e Atuação Prática. Curitiba: Juruá Editora, 2009, p. 116).
2GIANSANTI divide o controle ativo do controle passivo sobre a natureza, exemplificando que o primeiro se dá
por meio de desvio de cursos de rios, construção de polders, criação de animais variados bem como espécies de
plantas, recuperação de solos, etc; e o segundo, controle passivo, quando a força da natureza ainda não pode se
controlada, mas pode ser prevista como, por exemplo, mudanças no tempo, erupções vulcânicas, terremotos, etc
(GIANSANTI, Roberto. O desafio do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Atual, 1998, p. 20).
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2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
conseqüentemente, uma explosão demográfica na história natural, onde o homem passou a ter
um domínio quase ilimitado da natureza.4 No entanto, também não se deve ignorar que esse o
avanço tecnológico trouxe também, a nível global, a degradação ambiental.
Os problemas oriundos da relação do homem com a natureza até então, levantou,
principalmente na segunda metade do século passado, reflexões sobre a necessidade de se
preservar o meio ambiente, tornando cada vez mais consciente a limitação do “capital da
natureza” quanto os perigos oriundo da degradação ao meio ambiente.
Assim sendo, viu-se a necessidade de compatibilizar o meio ambiente com o
crescimento econômico sem que esse último significasse o sacrifício do primeiro, e a essa
compatibilização se denominou Desenvolvimento Sustentável – DS. O dilema “ou
desenvolvimento ou meio ambiente” não deve prosperar como uma alternativa válida e
verdadeira, pois, na medida em que um - o meio ambiente – é fonte de recursos para o outro –
o desenvolvimento -, ambos devem harmonizar-se e completar-se.5
Essa mudança comportamental surgiu em decorrência da sensibilização crescente do
homem em relação à situação do planeta e a degradação ambiental. Essa nova visão – o do
desenvolvimento sustentável – remeteu a uma reforma substancial nas noções de eficácia e de
racionalidade econômica e obriga a inserção de outras dimensões, vez que a atividade
econômica não mais se desenvolverá sustentavelmente se a natureza, que abastece com
recursos naturais, estiver gravemente comprometida.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo, em 1972, mais conhecida como a Conferência de Estocolmo, colocou a questão
do meio ambiente na agenda internacional.
Para tal conferência, um ano antes, houve um processo de preparação, implementado
pelos organizadores, que ficou conhecido como Encontro de Founex, o qual teve como pauta,
pela primeira vez, a análise da relação intensa entre o meio ambiente e o desenvolvimento,
identificando os principais tópicos dessa problemática, que já não eram mais pontuais, tendo
em vista que já haviam alcançado dimensões globais, interligando-se a diversos problemas de
ordem social, política e econômica.
5MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: A Gestão Ambiental em foco. 6ª Edição. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2009, p. 64.
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6O Brasil defendeu o desenvolvimento a qualquer preço. Segundo Carvalho e Santana “este ultrapassado modelo
de desenvolvimento econômico a qualquer custo é o que continua sendo adotado pelo nosso país, e que a
despeito disso, não consegue crescer o mínimo exigível para pelo menos diminuir as graves desigualdades
sociais” CARVALHO, Antônio Cesar leite de. SANTANA, José Lima. Direito Ambiental Brasileiro em
Perspectiva: Aspectos Legais, Críticas e Atuação Prática. Curitiba: Juruá Editora, 2009, p.128.
7SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2009, p. 52-53.
11SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 6ª edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2007,
p. 02.
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a positivação da proteção ao meio ambiente não se deu para resguardar o meio ambiente em
si, como um todo - macrobem jurídico -, mas sim para continuar a servir o homem, que se
colocara no centro do mundo, exterior meio.12 Ainda não se tinha concebido a concepção
unitária do meio ambiente.
No Brasil não foi diferente. Diversas foram as legislações que procuraram proteger os
microbens ambientais, desconsiderando a amplitude e complexidade do macrobem ambiental.
Exemplo disso foi a promulgação da Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965, que instituiu o
Código Florestal, a qual se preocupa especificamente com um microbem ambiental, qual seja,
as florestas.13
Sob a influência da Conferência de Estocolmo realizada em 1972, a Lei nº 6.938 foi
promulgada em 31 de agosto de 1981 que se tornou mais conhecida como a Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente. Nela já se vislumbra uma maior preocupação em instituir uma
política preservacionista, melhorando e recuperando a qualidade ambiental propícia à vida,
objetivando uma gestão mais integrada do meio ambiente, mesmo que a Constituição Federal
de 1969, vigente na época, assim como as anteriores, não tutelavam expressamente o meio
ambiente a nível constitucional.14
A Constituição Federal de 1988 – CF/88 -, como lei fundamental, traçou o conteúdo,
os rumos e os limites da nova ordem jurídica nacional. Abriu um capítulo e inseriu o meio
ambiente em seu texto como realidade natural e social, o que significa que o constituinte
originário quis dar importância máxima à matéria. Importante ressaltar que a Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente foi recepcionada pela supracitada Constituição brasileira.
Também fortemente influenciada pela Conferência de Estocolmo e pelos demais
instrumentos internacionais que o Brasil adotou, a Constituição Federal de 1988 dispõe de
12Entende-se por macrobem ambiental o meio ambiente como um todo, em seu conceito mais profundo e
adequado. O meio ambiente em sua máxima complexidade, em sua máxima extensão, onde todas as formas de
vida interagem entre si e com todas suas manifestações e criações. Já microbem ambiental trata de todo e
qualquer elemento constituinte e integrante do meio ambiente. Os microbens, ao interagirem, é que formam o
meio ambiente e, consequentemente, o macrobem ambiental. Por serem individualmente considerados, muitos
possuem tratamentos legislativos próprios, tornando-os verdadeiros bens ambientais individuais. Exemplos são
de microbem ambiental: a água, o solo, a fauna, a flora, etc.
13O art. 1º da Lei nº 4.771/65 aduz: “As florestas existentes no território nacional e as demais formas de
vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes
do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente
esta Lei estabelecem.”
14 O art. 2º da Lei nº 6.938/81 dispões: “A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana, atendidos os seguintes princípios: (...)”
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16Os mencionados artigos constitucionais dispõem: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: (...) II - garantir o desenvolvimento nacional; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização dos recursos naturais com o objetivo de suprir as necessidades básicas do homem
foi, desde os primórdios, uma atividade realizada totalmente sem preocupação com as conseqüências
advindas dessa atividade exploratória de produtos finitos.
Dentro de uma visão antropocêntrica, principalmente, a partir da Revolução Industrial,
aplicando-se a ciência à indústria e imergindo a concepção da supremacia da teoria sobre a técnica,
houve profundas modificações na sistemática de produção. A conseqüência foi a apropriação e
usurpação dos recursos naturais pelo homem, em nome do crescimento econômico, gerando uma série
de degradações ao meio ambiente.
A segunda metade do século XX foi marcada por movimentos ambientais internacionais que,
já iniciada uma consciência ambiental preservacionista mundial diante das catástrofes ambientais que
o domínio humano sobre a natureza fizera, buscavam uma solução menos gravosa ao meio ambiente e,
ao mesmo tempo, não impeditiva da continuação do desenvolvimento econômico. A Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, foi a mais importante,
pois colocou a questão do meio ambiente relacionado com o desenvolvimento na agenda internacional,
trazendo o desenvolvimento sustentável - ou ecodesenvolvimento - como solução encontrada para a
harmonização do necessário crescimento econômico e a utilização sem degradação dos recursos
naturais finitos.
Vinte anos depois, a ECO-92 representou um avanço. Reforçou a idéia segundo a qual
desenvolvimento e meio ambiente constituem um binômio central e indissolúvel, surgindo como um
contraponto aos tradicionais modelos de desenvolvimento econômico, devendo ser incorporado as
política públicas e às práticas sociais de todos os países.
No Brasil, a tutela jurídica do meio ambiente aparece primeiro de forma esparsa, pontual e
fragmentada, protegendo tão somente microbens ambientais, ignorando a amplitude e complexidade
17LEITE, José Rubens Morato. FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. Estado de Direito Ambiental no Brasil: uma
Visão Evolutiva. In: FARIAS, Talden. COUTINHO, Francisco Seráphico da Nóbrega (org). Direito Ambiental: o meio
ambiente e os desafios da contemporaneidade. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2010, p. 119.
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do macrobem ambiental como um todo. Somente com a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente –
Lei nº 6.938/81 – passa-se a ter ensaiar uma visão ambiental qualitativa propícia à vida no planeta.
No entanto, é com a Constituição Federal de 1988 que o Brasil passa a tutelar juridicamente o
meio ambiente como um todo, em sua máxima complexidade e extensão, extraindo-se do seu texto,
através de uma interpretação sistemática e teleológica, o princípio do desenvolvimento sustentável, o
qual satisfaz às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras,
tornando-se um verdadeiro direito fundamental.
REFERÊNCIAS
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional
Ambiental Brasileiro. 4ª Edição. São Paulo; Editora Saraiva, 2011.
CARVALHO, Antônio Cesar leite de. SANTANA, José Lima. Direito Ambiental Brasileiro
em Perspectiva: Aspectos Legais, Críticas e Atuação Prática. Curitiba: Juruá Editora,
2009.
LEITE, José Rubens Morato. FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. Estado de Direito
Ambiental no Brasil: uma Visão Evolutiva. In: FARIAS, Talden. COUTINHO, Francisco
Seráphico da Nóbrega (org). Direito Ambiental: o meio ambiente e os desafios da
contemporaneidade. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2010.
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: A Gestão Ambiental em foco. 6ª Edição. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2009.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 6ª edição. São Paulo: Malheiros
Editores, 2007.
SILVA, Solange Teles da. O Direito Ambiental Internacional. Belo Horizonte: Del Rey,
2009.