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MADEIRAS PARA

CONSTRUÇÃO

PCC 3221
Materiais de Construção Civil I

Poli USP © 2019


Objetivos

• Permitir aos alunos:


• Compreender as propriedades relevantes da madeira
para uso na construção e como a sua microestrutura
influencia no seu comportamento.
• Suas aplicações, considerando os diferentes
processos de produção,
• impactos ambientais, e aspectos de durabilidade.

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Material fibroso
(tubos longos e vazados)

Madeira:
compósito
polimérico
natural

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Fibras: constituição

• Composta por
macromoléculas de
celulose, unidades
com lignina
(e hemicelulose)

DOI: 10.1098/rsif.2014.0126; ILLSTON (2010)

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Porosidade: depende da espécie

Sessão transversal de madeira Bétula (acima) e Carvalho (abaixo)


DOI: 10.1098/rsif.2014.0126
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Espécies
• Coníferas
• Crescimento mais rápido
(geralmente), mais mole,
mais porosa.
• Típica de clima temperado
• Ex: pinus, pinheiro do Paraná

• Folhosas
• Crescimento mais lento
(geralmente), mais dura,
menos porosa.
• Típica de clima (sub)tropical
• Ex: mogno, cerejeira, ipê, Pau Brasil,
eucalipto (cresce rápido...não é uma regra)

O que são madeiras de reflorestamento? Madeiras plantadas


industrialmente, porque possuem crescimento mais rápido.
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Coníferas “softwood”
facilita corte, mais porosa

Folhosas “hardwood”
mais densa, mais resistente,
mais durável
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Madeira: defeitos

• Nós
• galhos do tronco
• Mudam orientação das
fibras
• Afetam
• Resistência mecânica
• Durabilidade
• Estética
• MATERIAL HETEROGÊNEO

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Madeira: anistropia 1(L)
2(R)
3(T)

• Fibras
• tem orientação
longitudinal, de acordo
com o crescimento
• Corte
• define planos, com fibras
Eixo
orientadas, ou não, no radial
eixo perpendicular
(aplicação da carga).
Direção
• Resistência-deformação perpendicular 2 (R)

depende dos eixos à fibra


1 (L)

3 (T)
Eixo tangencial
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Exercício 1: identifique os eixos, com base
nos possíveis cortes

Wood Handbook (2010)


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Madeira: higroscópica
Wood handbook (2010) Classificação da NBR 7190/1996
Classes de UR ambiente UR equilíbrio na
umidade (URamb) madeira (UReq)
1 < 65 % 12 %
2 65 % a 75% 15 %
3 75 % a 85% 18 %
4 > 85% > 25 %

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A madeira, quando seca, perde água por evaporação.


Retração por secagem pode ser um problema.

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Madeira: inchamento-retração

Dimensões

Vsat volumétrica
tangencial
Vu
radial

axial

Vseca
u PS = ponto de U (%)
saturação das fibras
~30%

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Secagem: pode afetar a qualidade da
madeira

Wood Handbook (2010)

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Resistência x umidade da madeira

Ponto de saturação
das fibras

Illston (2010)
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Madeira: estruturas de cobertura

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Resistência (avaliação): componentes
Resistência à compressão
NBR 7190 (Anexo B)
(normal e paralela à fibra)
Resistência à tração (normal e paralela à fibra)

Resistência à flexão (bending test)

normal paralela
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Como rompe a madeira?

• Ruptura e propagação da fratura entre fibras


• Escorregamento (na hemicelulose),
instabilidade (por flambagem)

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Propriedades mecânicas da madeira:
depende da espécie
ap(12) fc0 ft0 ft90 fv Ec0
Nome Nome 3 (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) n
(Kg/m )
comum científico
Pinho do Paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15
Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28
Pinus Pinus caribea 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32
bahamensis var.bahamensis
Pinus Pinus caribea 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99
hondurensis var.hondurensis
Pinus elliottii Pinus elliottii var. elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71
Pinus taeda Pinus taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15

f = resistência à tração normal às fibras


ap(12) = massa específica aparente a 12 de umidade fvt90= resistência ao cisalhamento
fc0 = resistência à compressão paralela às fibras Ec0 = módulo de elasticidade longitudinal
ft0 = resistência à tração paralela às fibras obtido no ensaio de compressão paralela às fibras

NBR 7190
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Propriedades mecânicas da madeira:
depende da espécie
ap(12%) fc0 ft0 ft90 fv Ec0
Nome comum Nome científico
kg/m3 MPa MPa MPa MPa MPa

Jatobá Hymenaea spp 1074 93,3 157,5 3,2 15,7 23607


Angelim Votaireopsis
688 50,5 69,2 3,1 7,1 12876
Araroba araroba
Angelim Ferro Hymenolobium spp 1170 79,5 117,8 3,7 11,8 20827
Cedro amargo Cedrella odorata 504 39,0 58,1 3,0 6,1 9839
Cedro Doce Cedrella spp 500 31,5 71,4 3,0 5,6 8058
Eucalyptus
E. Citriodora 999 62,0 123,6 3,9 10,7 18421
citriodora
E. Grandis Eucalyptus grandis 640 40,3 70,2 2,6 7,0 12813
ap(12) = massa específica aparente a 12 de umidade ft90 = resistência à tração normal às fibras
fc0 = resistência à compressão paralela às fibras fv = resistência ao cisalhamento
ft0 = resistência à tração paralela às fibras Ec0 = módulo de elasticidade longitudinal
obtido no ensaio de compressão paralela às fibras
NBR 7190
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Resistência x densidade da madeira

ILLSTON (2010)

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Resistência 90:direção dos anéis de
crescimento

Wood Handbook (2010)

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Propriedades mecânicas:
valor característico (estatístico) da madeira
• Método probabilístico – distribuição normal (n> 30)

NBR 7190
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Propriedades mecânicas:
valor característico (estatístico) da madeira
• Estimador (6 < n < 12)

em ordem crescente NBR 7190


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Exercício 2: estimando a resistência
característica da madeira
• Seis corpos-de-prova de pinus foram Amostra Resistência à
ensaiados a resistência à compressão (MPa)
compressão. Calcule a resistência 1 38
característica à compressão usando 2 30
o estimador não paramétrico. 3 32
4 36
5 37
6 35

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Exercício 2: estimando a resistência
característica da madeira
• Seis corpos-de-prova de pinus foram amostra fc (MPa)
ensaiados a resistência à 1 30
compressão. Calcule a resistência 2 32
característica à compressão usando 3 35
o estimador não paramétrico. 4 36
5 37
6 38

fck = 1,1x{[2x(30+32)÷2]-35} = 29,7 MPa

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Madeira: projeto estrutural deve considerar
a fluência
• Deformação (flechas limites)
• L /350 (vão)
• L/175 (balanços)

Vão (distância entre os apoios)

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Fluência da madeira: depende do nível de
carregamento

ILLSTON (2010)

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Fluência da madeira: depende do tipo de
tratamento

www.vtt.fi/inf/pdf/jurelinkit/RTE_Ranta-Maunus3.pdf
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Fluência da madeira: depende do tipo de
tratamento

www.vtt.fi/inf/pdf/jurelinkit/RTE_Ranta-Maunus3.pdf
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Madeira após incêndio:
mitos e verdades
• Madeira pega fogo, pois é
constituída de carbono.
• Porém, contém água em sua
composição.
• O calor específico da água é
elevado; ou seja, requer muita
energia para mudar de estado
(evaporar).
• Ou seja, a madeira demora
para ser consumida pelo fogo e
perder suas propriedades
mecânicas!
https://madeiraestrutural.wordpress.com/2009/07/13/a-madeira-um-material-resistente-ao-fogo/

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Madeira após incêndio: peças espessas
não causam situações críticas de segurança

Peças espessas não são o problema: detecção e dimensionamento


Peças de baixa espessura?

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Como se obtém a madeira convencional?
Quais impactos ambientais são gerados?

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Recurso natural renovável: fixa CO2
• Madeira (celulose): é obtida a partir das cadeias de
glicose, obtidas pela reação da fotossíntese.

http://www.emc.maricopa.edu/faculty/farabee/BIOBK/BioBookPS.html

6H2O + 6CO2 + Energia (Luz) → C6H12O6+ 6O2

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bens renováveis (disponíveis na natureza)
Florestas Naturais:
são estoques naturais de carbono

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Extração predatória (não manejada):
baixo aproveitamento de madeira

Áreas de estoque

estradas serrarias

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Madeira ilegal e desmatamento:
consequências
8,6t
Produtos : resíduos
1:8

69,4t

222t

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-12062013-170523/pt-br.php

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69,4 t de Resíduos florestais serão
decompostos
• Queima ou biodeterioração aeróbica
• 1kg de madeira = 0,48 kg de Carbono

C + O2 → CO2
12 32 44 kg

1kg de C → ~3,7 kg de CO2

•Enterrado (condição anaeróbica)


• Gera metano (CH4)
• É usualmente desprezada

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Exercício 3: emissão tCO2/t de madeira
amazônica serrada?

•8,6 t madeira, 69,4 t de resíduos


•1t madeira = 0,48t C
•69,4 t x 0, 48 t C / t madeira = 33 t C
•CO2 = 3,7 x 33 t = 122 t
•122 t CO2 / 8,6 t madeira = 14 t CO2/t madeira

• Nenhum produto industrial tem tamanho impacto de


mudança climática na construção!!!!!

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Madeira Amazonica
não manejada

legal ou ilegal
9,5 – 16,5 t CO2/t

Desmatamento
principal causa do GEE no Brasil
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Qual a pegada de CO2 da
madeira plantada?
A plantação de eucaliptos e pinus cresce capturando o CO2.
Na decomposição do resíduo e da madeira este CO2 é liberado
para atmosfera. O balanço é neutro.

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Como degrada?
Como considerar aspectos de durabilidade no
projeto?

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Fungos
• Manchadores • Apodrecedores
• Peças úmidas, ciclos • Peças úmidas, ciclos
molhagem-secagem molhagem-secagem
• Efeito estético • Prejuízo as propriedades
• Sem prejuízo as propriedades mecânicas (destrói fibras)
mecânicas

Madeira Pinus (bolor)


Madeira piquiarana
(Caryocar sp)

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Cupins

• Alimenta-se da celulose
(destrói a estrutura da madeira)

www.markleyspest.com/Termites.php

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Conceitos básicos de biodeterioração

Nutrientes Água
(celulose,
sujeira)
ATIVIDADE BIOLÓGICA

Tempo
Temperatura

Como evitar (projetar p/ durar mais)?


- Ambiente seco
- Temperaturas baixas

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Detalhes de projeto: o que deve ser evitado

Falta de beirais e recuos adequados

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Detalhes de projeto: o que deve ser evitado

Manchas de cimento sobre madeira crua. Falta de verniz (exposição a luz – envelhecimento)
http://www.revistatechne.com.br/engenharia-
civil/135/imprime93278.asp

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Detalhes de projeto:
boas práticas

Projetista: Stefano Capretti

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Categorias dos climas e recomendações:
cap.34 (livro ibracon); NBR 7190 (anexo D)

Classes Condições Agentes


de risco
1 Protegida (UR < 65%), s/ contato Cupins (alguns locais)
com solo ou alvenaria

Agressividade do meio
2 Protegida (UR < 65%), contato com Cupins (incluindo
alvenaria subterrâneo)
3 Exposta a umidade (não frequente), Cupins (todos os tipos),
s/ contato com solo fungos (manchadores,
4 Exposta a umidade (frequente), s/ apodrecedores)
contato com solo
5 Contato com água doce e solo

6 Água do mar Teredos,


fungos (todos os tipos)
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Recomendações

• Evitar contato com a alvenaria, o solo, e locais


úmidos
• Em locais úmidos (não frequentes), proteger a
madeira com sistema de pintura (verniz, stain)
• Contém fungicidas
• Em contato frequente com água doce e solo ou
água do mar, madeira precisa ser tratada com
fungicidas e inseticidas.
• Mais comuns (CCA – cromo/arsênio)
• São substâncias solúveis e tóxicas. Contaminam o
ambiente!!!
• Há outras soluções ??????

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É possível “engenheirar” a madeira?
Que aspectos podemos melhorar?

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Engineered Woods: “man-made!”

• Há diversas razões para industrializar


a madeira
• Reduzir a heterogeneidade
• Reduzir a anisotropia
• Melhorar as propriedades mecânicas
• Reduzir as variações dimensionais (deformabilidade)
• Aumentar a resistência
• Aumentar o aproveitamento da tora
• Nem toda a seção da tora é apta ao uso estrutural
• Melhorar a durabilidade
• Secar melhor, reduzir vazios (por prensagem e aquecimento),
torná-la não-molhável ou menos susceptível ao ataque biológico
(ácido acético).

https://en.wikipedia.org/wiki/Engineered_wood#Laminated_timber
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Quais são os tipos de madeiras
“engenheiradas”?

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Madeira aglomerada (particle board):
menores variações dimensionais, é sensível a umidade

Fragmentos de Cola (a base de


madeira (mm) formaldeído)

+ +
Aglomerado

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Oriented Strand Board (OSB):
resistência/rigidez, menores variações dimensionais

Tiras de madeira orientadas, secas e prensadas com 5%


de resinas (fenol-formaldeído, uréia-formaldeído)

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Madeira compensada (plywood):
resistência/rigidez, menores variações dimensionais

Lâminas finas coladas com resinas


(a base de formaldeído), com fibras orientadas
perpendicularmente. Podem ser prensadas a quente.

+ +
Lâmina 1 Lâmina 2 Lâmina 3

Compensados
Diversas espessuras (4-25mm) e
camadas (3, 5, 7, 9, 13)
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Madeira Laminada (laminated venner lumber):
peças estruturais em grandes vãos

PU

Uso de pressão e temperatura


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Medium (or high) density fiberboard
(MDF/HDF)

Fibras (< 0.1 mm) prensadas


com resinas (~10%)

Tratamento termomecânico
aumenta compacidade, aumenta densidade, reduz vazios

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Usos diversos na construção:
painéis, fôrmas, móveis, pisos

Móveis decorados são constituídos de madeira aglomerada


ou MDF, cobertos com revestimento melamínico

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Usos como painéis (casas pré-fabricadas)

Densidade OSB – 700 kg/m³; Rigidez (1,9-4,8 GPa).


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Resistência à flexão (15-28 MPa)
Compensados de madeira (fôrmas):
uso externo requer revestimento melamínico

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Piso Resina melanina (desgaste a abrasão)

(madeira laminada)

HDF
Barreira acústica, c/ umidade

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Laminated (or cross-laminated timber):
casas, edifícios, fundações pré-fabricadas

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Laminated Venner Lumber
(LVL)

https://www.apawood.org/ewp-training-module-a

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Há diversos tipos de madeira. Como
gerenciar esse resíduos?

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Madeira: produto com ciclo de vida curto

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Resíduos de madeira: como gerenciar?

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Resíduos de madeira:
triar para (melhor) reciclar
Engineered woods Madeira serrada
Contém colas, resinas, tintas Não há substâncias perigosas.
(pode conter formaldeído). Podem ser reciclados como
VOCs (polui ambiente interno) madeira, biomassa-energia.
Podem ser reciclados Qualquer processo industrial de
(biomassa-energia). queima (sem restrição)
Processos de queima
(> 800ºC)

Madeira tratada (CCA, etc)


São resíduos perigosos. Não podem
ser incinerados. Destinação possível
(aterro industrial classe I). Lixiação
contamina solo e água (Ar). Manual ABIPA. Gerenciamento de resíduos de madeira
Poli USP © 2019 industrializada na construção civil.
Leitura Obrigatória

• Ilston; Domone. Caps 52, 53, 54 e 55.


Disponíveis no moodle.
• Wood Handbook. Cap 11. Disponível no
moodle.
• ABIPA. Gerenciamento de resíduos de
madeira industrializada na construção civil.
Disponível no moodle.

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Leitura Complementar
• Forest Products Laboratory (USA). Wood handbook.
2010. www.fpl.fs.fed.us/documnts/fplgtr/fplgtr113/fplgtr113
• Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Projeto de Estruturas de Madeira – NBR 7190/96 –
Anexos.
• IPT. Catálogo de Madeiras Brasileiras para a
Construção Civil. 2013. https://www.wwf.org.br/
• IBAMA. Fichas de madeira
http://www.ibama.gov.br/lpf/madeira

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