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INTRODUÇÃO À CLÍNICA PSICANALÍTICA

Psi. Tamara Levy

O CURSO
Este curso tem como objetivo ser uma porta de entrada aos que desejam trabalhar com a clínica
psicanalítica e como aperfeiçoamento aos que já caminham por ela. Lembro aqui que a perfeição
é inalcançável e que as falhas, se é que assim podemos chamá-las, tem um espaço importante
nesse percurso. Este é o caminho.

O ponto de partida se dará pela teoria Freudiana, base de toda a construção teórica da
Psicanálise que veio a seguir. A compreensão da teoria e a técnica psicanalítica são essenciais
para sua prática. Teoria e a prática caminham lado a lado.

FORMAÇÃO DO PSICANALISTA
A formação de quem deseja fazer uso da técnica psicanalítica acontece de forma contínua. Não
possui um fim, nem há uma formatura, pois ela acontece durante todo o tempo. O analista se
faz no seu fazer analítico.

Na prática, as escolas que formam psicanalistas usam um determinado momento da formação


para denominar alguém como psicanalista. Este tempo varia entre uma escola e outra, mas
geralmente é de 3 a 5 anos. A formação é contínua, mas segue alguns critérios.

TRIPÉ DA FORMAÇÃO
O psicanalista em formação tem como base um tripé, comum em todas as formações: o estudo
da teoria; a supervisão, o estudo de casos e da teoria; e a análise pessoal, o analista se faz na
sua análise.

Este curso não lhe transformará em um psicanalista, mas pode ser uma porta de entrada para
sua prática na clínica, um caminho para quem inicia ou um auxílio para quem já o conhece.

A psicanálise acontece dentro da relação psicólogo/analista e paciente, em uma clínica que tem
como base a teoria psicanalítica, ainda que este não seja um psicanalista. Ao ser posta em
prática, a psicanálise ultrapassa as paredes da academia e os dogmas das escolas, se instalando
a partir da fala e do compromisso entre analista e analisando.
O Conteúdo
MÓDULO I: O INÍCIO DA PSICANÁLISE E A SUA TÉCNICA

Aula 1 História da Psicanálise


Aula 2 O poder mágico
Aula 3 Os afetos e seus adoecimento
Aula 4 Escuta psicanalítica.
Aula 5 Repressão - O protótipo do inconsciente
Aula 6 A resistência
Aula 7 Transferência
Aula 8 Transferência - O manejo

MÓDULO II: O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA

Aula 9 Três ensaios sobre a sexualidade


Aula 10 Complexo de Édipo
Aula 11 Édipo e Neurose
Aula 12 O Ics
aula 13 Primeira tópica freudiana
Aula 14 Segunda tópica freudiana
Aula 15 - Além do princípio do prazer - Introdução
Aula 16 Além do princípio do prazer
Aula 17 Eros e Thanatos
Aula 18 Pulsões e seus Destinos
Aula 19 Estruturas
Aula 20 Recordar repetir e elaborar

MÓDULO III: FREUD É ATUAL

Aula 21 Recomendações
Aula 22 A clínica hoje
Aula 23 Análise finita e a infinita
Aula 24 Escolas Psicanalíticas
Aula 25 Como se tornar um analista
Introdução

Olá, aqui iniciamos nossa caminhada nos textos freudianos e esse será seu material de apoio
que foi pensado como um suporte para ser consultado durante o curso e que possa ser
consultado quando surgir alguma demanda, não se trata de um material que reescreve
integralmente os textos freudianos, mas um suporte que lhe dará orientação sobre os temas
abordados nas aulas e informações complementares, juntamente com esse material estaremos
disponibilizando alguns dos textos que constam nas referências bibliográficas do curso, a citadas
e comentadas e alguns matérias extras.
Iniciaremos com a história da psicanálise, pois compreender seu início nos ajuda a compreender
as motivações de Freud para a formulação da teoria psicanalítica, diante dos seus relatos sobre
as dificuldades e necessidades enfrentadas pelos profissionais de saúde do período nos mostra
o objeto de estudo da psicanálise, sendo um caminho introdutório para a clínica psicanalítica.
A técnica foi desenvolvida por Freud para atender as demandas emergentes no período. O
desenvolvimento acontece em meio a sua prática e vai sendo criada e recriada. São formulações
mais ou menos definidas, que pode frustrar quem busca encontra-la de forma unitária,
integrada e coerente, Freud se questiona e se contradiz, se constrói, desconstrói e se refaz ao
longo de sua obra. A leitura, compreensão e interpretação dá espaço para o desenvolvimento
da técnica que convidou outros teóricos a desenvolver a teoria para além Freud, mas a partir
dele, são múltiplas e diversas e em alguns momentos opostas, chamas escolas psicanalíticas.
A amplitude da psicanálise que ecoa em quem a ler, possibilitando a abertura de antigas e novas
formas de ouvir e sentir e olhar e interpretar o mundo interno e externo. Frustrações,
inquietações provavelmente e questionamentos farão parte deste percurso, que apesar de
parecer solitário, talvez as vezes seja mesmo, afinal alguns lugares você vai visitar só, que esse
material possa ser sua companhia, são caminhos já percorridos e essa é uma forma de
compartilhar e apresentar.
MÓDULO I
O INÍCIO DA PSICANÁLISE E A SUA TÉCNICA
Ementa:
Apresentação do início da psicanálise, da origem e história de vida de Freud. Contextualização
do cenário social e cultural do surgimento da psicanálise: sua aplicabilidade nesse período,
função e as mudanças que acontecem ao longo de sua construção a partir do ambiente e da
relação de Freud com esses cenários.

Objetivo:
- Conhecimento do início da psicanálise
- Contextualização da teoria e sua função nesse período
- Breve biografia de Freud
- Processo de construção da psicanálise
- A sexualidade infantil como plano de fundo da psicanálise
- Compreender o Complexo de Édipo e seu papel.
- A função da Castração
Aula 1 História da Psicanálise
Apresentação do início da psicanálise, da origem e história de vida de Freud. Contextualização
do cenário social e cultural do surgimento da psicanálise. Esta complexa investigação através da
psique humana, a qual Freud empregava esforços a desvendar, tinha como objetivo
compreender o adoecimento psíquico.

História da Psicanálise: A Transformação da Psicanálise como a conhecemos

Ao olharmos o percurso da psicanálise, podemos vê-la em seu início como a junção de uma
teoria e prática que rompem com a psiquiatria, a neurologia e a psicologia do século XIX. É
exatamente neste cenário, onde a ciência médica predominava, é que a psicanálise se inicia, a
partir das rígidas concepções médicas patológicas do adoecimento da psique que deram início
a caminhada em busca da compreensão da mente humana (Garcia Roza, 1984).
Seu surgimento ocorre, portanto com a criação de um lugar para si, diante das dificuldades
encontradas na medicina e psiquiatria para sua aceitação e reconhecimento como ciência. A
psicanálise era vista como uma ameaça, pois a ciência até então reconhecida, se regia pela
possibilidade de predizer toda a realidade do mundo, à medida que fossem estabelecidas leis
gerais do funcionamento da natureza.
Freud, baseado em novos paradigmas que viriam a se tornar a base da Física Moderna,
estruturou suas construções teóricas no relativo, complexo e instável, levando questionamentos
ao determinismo científico. Assim foram conduzidas as formulações no campo da psicanálise.
Antes do seu advento, o único lugar institucional onde o discurso individual tinha acolhida eram
os confessionários religiosos. A psicanálise vem ocupar, no século XX, este lugar de escuta.
(Garcia Roza, 1984).

Pré-História da Psicanálise

Um Lembrete que Zimmermann deixa para nós e deve nos acompanhar.

Todo texto psicanalítico, quer seja ele de natureza teórica ou técnica, necessita ser lido dentro
de um contexto histórico-evolutivo, social, cultural e científico no qual está inserido. Dito isso, a
aplicabilidade da técnica e a construção teórica registrada nos escritos freudianos remontam
um momento histórico, um recorte, e devemos constantemente nos atentar ao momento que
estamos para pensar a nossa prática. (ZIMERMAN,2009)

O sofrimento e o adoecimento mental

Para falar de sofrimento vamos colocá-lo nesse primeiro momento como algo inerente a
vivência humana que temos em registros históricos, literários e na história da humanidade da
qual temos registro e que lidamos durante toda a vida, que está presente nas relações humanas
e nos acontecimentos da vida dentre as diversas intemperes possíveis, doenças, desastres,
morte, luto, que serão enfrentadas em algum momento da vida e por outro lado temos o
sofrimento que passa a caracterizar um processo de adoecimento mental.
Para se referir a esses dois pontos, colocaremos aqui que o sofrimento humano como
algo “normal” ou algo inerente a vivência humana, Freud já nos adverte em O mal-Estar na
civilização e destaca três fontes de sofrimento que ameaçam o ser humano: destaca três: o
poder devastador e implacável das forças da natureza, a ameaça de deterioração e decadência
que vem de nosso próprio corpo, e o sofrimento advindo das relações entre os humanos a partir
do entendimento de que o conceito de normalidade é um processo de construção, que vai sendo
reconhecido como características do processo de saúde e doença. (DE LIMA, 2010)

As pesquisas sobre o adoecimento humano têm registros na história.

O adoecimento mental acompanha a história da humanidade desde que temos registro: No


Egito antigo com o exame de crânios em busca de adoecimentos vestígios em escavações; na
bíblia temos transtornos psiquiátricos, alcoolismo, psicose maníaco-depressiva, são algumas
que aparecem. No período da idade média (idade das trevas V ao XV) o adoecimento mental
era visto como algo a ser banido, castigado, a exclusão e expulsão era uma prática. A
institucionalização e prisão, hospícios e masmorras era o lugar para pessoas que apresentavam
algum desvio de comportamento, criminosos, loucos, culminava na exclusão social. Essa prática
não se aplicava somente a adoecimentos mentais, pessoas os lepra (hanseníase), alguma
deficiência também eram candidatos a exclusão, expostos a todo tipo de violência, torturas,
exorcismo, havia a demonização do doente.

O começo de um tratamento para a loucura, os primeiros registros de tratamentos para


doentes mentais ocorrem através de instituições ligadas a igreja, lembrando o período em que
estado e igreja (idade das trevas). Foucault retrata esse período em a história da loucura, e fala
da Grande internação, quando a loucura passa a ser entendida como um problema para as
cidades. O trabalho de Foucault em seu livro a história da loucura apresenta a construção da
loucura como doença e como a leitura sobre ela muda no decorrer da história humana, deixo
aqui como recomendação a leitura da obra de Michael Foucault.

Philippe Pinel (1745-1826), um dos primeiros médicos que começa a identificar e registrar
adoecimentos mentais e a, promoverem uma inovadora reforma hospitalar que ficou sendo
conhecida como tratamento moral, consistindo num conjunto de medidas que não as de
contenção física vigentes na época, mas, sim, daquelas que mantivessem o respeito pela
dignidade do enfermo mental e aumentassem a sua moral e autoestima.

História ocidental – registros europeus – Contextualização


Uma breve retrospectiva histórica para orientação temporal para contextualizar o momento
histórico e o cenário científico e filosófico do período.

Idade Média V ao XV – A igreja - neste momento a igreja centralizava a organização social,


política, econômica e científica. Conhecida como idade das trevas.

séculos XIV-XVI - Renascimento cultural e científico– Reforma protestante – Estado absolutista


(Maquiavel, René Descartes, Frances Bacon, Thomas Hobbes).

XVII e XVIII - Iluminismo últimas décadas dos séculos - movimento cultural e filosófico ética,
política, religião, costumes, direito ou economia. (Voltaire, Montesquieu, David Hume, Jean-
Jacques Rousseau, John Locke, Immanuel Kant).

Contemporâneo séculos XIX e XX- revolução político-social, a Revolução Francesa, a Revolução


Industrial Inglesa, o capitalismo. (Karl Marx, Friedrich Nietzsche, Arthour Schopenhauer, Jean-
Paull Sartre, Simone de Beauvoir, Michael Foucault, Zygmount Bauman, Jurgen Habermas).

Seguindo a cronologia e o início de Freud nos estudos vindo de um momento de apogeu


científico, de descobertas e construções nas ciências e encontra um ambiente pulsante para
seus estudos e descobertas.

Encontrando Freud uma breve biografia.

Sigmund Freud inicia sua formação em medicina aos 17 anos em Viena,1873. Em 1856, em
Freiberg, Morávia (Tchecoslováquia), cresceu em Viena, filho mais velho de uma família de
Judeus com a tradição de Rabinos na família, se forma em medicina aos 25 anos, feito um longo
aprendizado em neurologia.
Descrito como brilhante, um gênio, se dedicou a fisiologia primeiro em animais, depois do
sistema nervoso, dedicou-se aos estudos sobre adoecimento mental, nesse momento visto
através da medicina/biologia, e buscava em suas pesquisas científicas explicação e cura para
esses adoecimentos. Como pesquisador e neurologista publicou Sobre afasias 1891, e o projeto
1895

Obs. A medicina desta época era quase que inteiramente assentada em bases biológicas, muito
pouco interessada na psicologia (Zimmermann,2009).
Indicação de leitura sobre a biografia de Freud: A vida e obra de Freud de Ernest Jones

ROUDINESCO, Elisabeth. Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo. Editora Schwarcz-
Companhia das Letras, 2016.

Freud tem um extenso trabalho que antecede a psicanálise em outras áreas da medicina, uma
de suas primeiras publicações que anunciavam o que estava a caminho é “O projeto para uma
psicologia científica 1895”.
A leitura desse trabalho nos mostra um início com base médica, biológica, um trabalho repleto
de siglas e termos que costuram a seu modo algo que buscou tonar palpável, mensurável seu
objeto de pesquisa, ainda que não seja uma leitura essencial ou indispensável, ela pode ser
interessante diante da condição caleidoscópica do texto. Fica aqui a sugestão de leitura, ele está
sendo colocado neste momento para demonstrar os caminhos que Freud trilhou para chegar à
psicanálise, nele temos registrados conceitos que seriam difundidos posteriormente. Vamos
destacar alguns pontos que não descartam a leitura integral do texto original.

O QUE ENCONTRAMOS NO PROJETO – A busca por uma base orgânica para adoecimentos
psíquicos (Bezerra, 2013).

● Objetivo geral: Descrever o funcionamento mental em termos mecânicos- fisiológicos,


e superar o hiato conceitual entre o funcionamento mental normal e o patológico.
● Objetivo fundamental: Encontrar uma solução neurofisiológica para o enigma da defesa
patológica.
● Mudança da abordagem fisiológica-mecânica para organísmica ou evolucionista
(organismo -> ambiente)

Indicação de leitura: Introdução à metapsicologia freudiana 1 Luiz Alfredo GARCIA-ROZA; O


Projeto 1895 Freud

Alguns pontos que encontramos e aqui destacamos por nos parecerem conhecidos: o neurônio
e a quantidade, quantidade e intensidade, o princípio da inércia neurônica, o investimento, as
barreiras de contato, o sistema e a consciência, os signos de qualidade, prazer e desprazer,
noção de período, memoria, dor e vivencia de dor, afeto e desejo, introdução ao eu, processos
secundários, A coisa (das ding precursor do objeto a de Lacan), os sonhos, O pensar e a realidade,
o pensar prático, o pensar discernidor, se assemelham uns mais e outros menos ao que vemos
ao longo do trabalho desenvolvido posteriormente,
O projeto está preso na neurologia, sendo uma tentativa de representar o cérebro, a tentativa
de uma igualdade entre o neural e o psíquico (isomórfico). Com o avanço de sua construção
Freud sai do aparelho isomórfico para o abstrato do aparelho psíquico.

Temos algumas especulações sobre o “abandono do projeto”:

Mark Solms
O projeto não foi abandonado mas sofreu restrições.
Limitação conceitual e tecnológica
União do conhecimento neurológico com a prática clínica
Integração da psicanálise com as neurociências ou a impossibilidade dessa integração.

Karl Pribam
Intensão de Docência na Universidade de Viena;
Rumo mais seguro (clínica) X Laboratório
Restringir o trabalho para uma construção própria;

A leitura do Projeto deixa claro que muitas das ideias psicológicas ali contidas permaneceram
no espírito de Freud e continuaram a ser elaboradas ao longo de sua vasta obra.

Ao olharmos o percurso da psicanálise, podemos vê-la em seu início como a junção de uma
teoria e prática que rompem com a psiquiatria, a neurologia e a psicologia do século XIX. É
exatamente neste cenário, onde a ciência médica predominava, é que a psicanálise se inicia, a
partir das rígidas concepções médicas patológicas do adoecimento da psique que deram início
a caminhada em busca da compreensão da mente humana (Garcia Roza, 1984).

Seu surgimento ocorre, portanto, com a criação de um lugar para si, diante das dificuldades
encontradas na medicina e psiquiatria para sua aceitação e reconhecimento como ciência. A
psicanálise era vista como uma ameaça, pois a ciência até então reconhecida, se regia pela
possibilidade de predizer toda a realidade do mundo, à medida que fossem estabelecidas leis
gerais do funcionamento da natureza.

Freud, baseado em novos paradigmas que viriam a se tornar a base da Física Moderna,
estruturou suas construções teóricas no relativo, complexo e instável, levando questionamentos
ao determinismo científico. Assim foram conduzidas as formulações no campo da psicanálise.
Antes do seu advento, o único lugar institucional onde o discurso individual tinha acolhida eram
os confessionários religiosos. A psicanálise vem ocupar, no século XX, este lugar de escuta.
(Garcia Roza, 1984).

Pontos importantes:
- Período Histórico e contexto social
- O período de surgimento da psicanálise
- Crescimento da filosofia – Racionalidade
- Tem origem na medicina e na biologia
- O Projeto é um ponto importante para o início da psicanálise, ele prevê seu
desenvolvimento, não pela biologia.

Textos base:
BEZERRA JR, Benilton. Projeto para uma psicologia científica: Freud e as neurociências. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

FREUD, Sigmund. O Eu e o Id, Autobiografia e outros textos: 1923-1925. In: O Eu e o Id,


Autobiografia e outros textos: 1923-1925. 2011.

______________. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (PC de


Souza, trad. e notas, pp. 13-50). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado
em 1914), 2010.
______________. Projeto para uma psicologia científica. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 1, p. 29-397, 1895.
______________. Três ensaios sobre A teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma
histeria ("O caso Dora") e outros textos: 1901-1905. São Paulo Companhia das Letras, 2016.
______________. Fundamentos da clínica psicanalítica. Autêntica, 2017.

FREUD, Sigmund; BREUER, Josef. (1893-1895) Estudos sobre a histeria. Obras completas, v. 2,
São Paulo; Companhia das Letras; 1996.
BREUER, J.; FREUD, S. 1893-1895. Estudos sobre a histeria. Obras completas, ESB, v. 2. 1977.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Zahar, 1987.

______________________. Introdução à Metapsicologia Freudiana 1. Zahar, 2010.

______________________. Introdução à Metapsicologia Freudiana 3. Zahar, 2010.

DE LIMA, Brunno Marcondes. O mal-estar na civilização: um diálogo entre Freud e


Marcuse. Revista Subjetividades, v. 10, n. 1, p. 61-86, 2010.

FOUCAULT, Michel. História da loucura na idade clássica.(1961) 5º edição. 1997.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem


Didática: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem Didática. Artmed Editora, 2009.
Aula 2 O poder mágico
Nesta aula vamos falar sobre pontos norteadores da teoria e como eles foram sendo articulados
de forma que se tornaram imprescindíveis para a psicanálise. O primeiro que vamos abordar é
o conceito sobre a psique humana:

“Psique é uma palavra grega que em alemão significa alma. Portanto, tratamento psíquico seria
tratamento anímico – Tratamento que parte da alma, tratamento de distúrbios anímicos ou
físicos - com meios que terão efeitos sobre o anímico da pessoa. Um desses meios é, em
primeira linha ferramenta essencial do tratamento a palavra.” (FREUD 1890)
Nesse trecho Freud coloca a palavra como uma via de acesso para o tratamento anímico com
efeitos no físico, então é através da palavra que o tratamento acontece, afirmação que para a
época não teve fácil aceitação no meio médico científico.

Ao fazer referencia a palavra Freud diz que:


“As palavras do cotidiano possuem magia empalidecida e será necessário trilhar um mais um
desvio para tornar compreensível como a ciência consegue devolver à palavra pelo menos
uma parte de seu antigo poder mágico.” (FREUD 1890)

O entendimento sobre a existência da psiquê a partir da divisão do corpo e a mente/alma de


René Descartes (séc. XVII) ampliou os entendimentos e as pesquisas sobre os processos de
saúde e doença nas ciências naturais sendo um divisor, nos anos/séculos que se seguiram
temos um salto nas descobertas de tratamentos de doenças do corpo e o desenvolvimento da
medicina, houve o avanço das ciências naturais.
Freud coloca que médicos cientificamente treinados aprenderam a reconhecer o valor do
tratamento anímico só em tempos recentes, ele estava falando isso em 1890, ainda que já
houvesse a compreensão sobre a existência sobre o anímico, os adoecimentos e a interação
entre ele e o físico não tiveram o mesmo espaço de desenvolvimento nas ciências, não ocupando
o lugar de ciência.

O anímico e o físico nunca deixaram de se relacionar (mente e corpo), a medicina tem uma
direção unilateral voltada ao corpo, esta direção começa a mudar com o surgimento de
pacientes e menor e maior gravidade que com seus distúrbios e queixas colocam muitos
desafios para a arte dos médicos, pois não há sinais visíveis e palpáveis do processo de doença
nem em vida e nem em morte, um grupo desses doentes chama atenção pela riqueza e
variedade do quadro clínico. (FREUD 1890) pag. 22

Chega-se à conclusão de que esses doentes devem ser tratados como de afecções do sistema
nervoso, não haviam sinais visíveis no cérebro desses pacientes, coube aos médicos a
investigação destes processos de adoecimentos nervosos.

A medicina chega a um consenso que esses sinais do sofrimento se originavam de uma influência
modificada de sua vida anímica sobre seu corpo (FREUD 1890) pag. 23. E que a busca de um
tratamento deveria partir do anímico, sendo encontrada a conexão, ainda faltava voltar as
atenções, a relação desprezada entre mente e corpo. Algumas pesquisas começam a se voltar
para essa área paulatinamente e entremeada pela medicina, nesse momento Freud inicia suas
pesquisas sobre os adoecimentos da alma.

Freud produz seus trabalhos sobre os adoecimentos anímicos através da sua prática, sua prática
dá base para sua teoria.
Alguns dos diversos adoecimentos físicos dos quais Freud faz referência: afecções do sistema
nervoso, ideias obsessivas, ideias delirantes, loucura, dores, fraqueza, paralisias, dormência,
problemas digestivos, arrotos, câimbras estomacais, distúrbios de sono, evacuação. Que são a
Ações de processos anímicos sobre o corpo ou das Oscilações de Ânimo, estados anímicos
chamados de “afetos”, deles citados como o depressivo como a tristeza, preocupação, luto, que
ocasionam doenças em outros órgãos. Ex: maior ocorrência de adoecimento de membros do
exército derrotado do que entre aos vencedores

Outros processos que podem ter influência sobre o corpo, sendo que essas podem ser
produzidas ou intensificadas ou esquecidas: vontade, atenção

Ex: Não sentir um ferimento durante uma luta/briga, melhoras milagrosas em estados de
adoecimento – aqui é pontuado sobre a influência sobre a vontade de viver e a vontade de
morrer em processos de adoecimento. Ex: Expectativa, expectativa temerosa, expectativa
crédula (curas milagrosas)

Sobre a personalidade do médico:

O que conhecemos hoje como ciência é uma construção, não terminada, está em constante
movimento, e desse modo as áreas que permeia como as ciências humanas e naturais. Aqui não
vamos apontar um início ou data específica, mas a existência de tratamentos de saúde que
antecederam a medicina, pois os adoecimentos sempre estiveram presentes, assim como a
morte.
Tomaremos aqui de referência a maneira que os povos antigos tratavam os processos de
adoecimento que era principalmente o tratamento anímico, na ausência de meios médicos
científicos/biológicos havia o tratamento intensivo da alma através de autoridades de cuidado
como pajé, sacerdotes, benzedeiras, através de chás, bebidas rezas e outros meios de cura
- nesse contexto havia uma junção, há uma referência sobre a personalidade do médico a ter
uma herança, fama derivada diretamente do poder divino, tanto naquela época como hoje (
Freud falava de 1890), sendo essa uma das principais circunstâncias para a cura.

Esse trecho é do século 19, e convido para uma reflexão como podemos pensar essa relação em
2021? A forma que essa relação se estabelece e o seu papel no processo do tratamento.

Temos aqui a afirmação de que o médico possui uma autoridade de cura herdada e que teria
controle sobre a magia das palavras que exerce influência sobre o doente, palavras que podem
afastar manifestações de doença, ainda mais aquelas que se originam em estados anímicos. A
psicanálise se origina no meio médico que já possui essa herança que é trazida e se faz presente
na figura do analista. Tal afirmação ou informação pode ser recebida com desconfiança, como
algo tão anterior pode se fazer presente na relação médico/analista paciente? Quando o sujeito
busca um atendimento psicanalítico, acredita que irá encontrar uma pessoa com conhecimento
para “curá-lo” livrá-lo de sua angustia, do sofrimento que o move em busca do profissional.

A partir dessas conclusões se introduz o tratamento anímico moderno.

Freud passa ase dedicar aos estudos sobre a histeria e o tratamento feito com base na hipnose
que tem como percursor o Jean-Martin Charcot em Paris. Freud parte em busca dos trabalhos
desenvolvidos, como aluno começa seus trabalhos práticos e de pesquisa com o método de
Charcot. A publicação do trabalho Estudos sobre a Histeria (1895) que traz os relatos de casos
de Freud e Breuer. Tamos os casos publicados como referência e material de análise e estudo
que continuam a serem utilizados na transmissão da psicanálise, neles temos descrições das
percepções de Freud e suas conclusões que são utilizadas paras construções sobre o
funcionamento psíquico, deixo aqui a indicação da leitura do trabalho e os casos, destaco aqui
o caso Dora, certa da contribuição que trará aos seus estudos.

Coloco aqui alguns pontos importantes sobre esse momento inicial da psicanálise (que não
substituem a leitura do texto original:

- A relação entre hipnotizado e hipnotizador e a credulidade, que depois dá lugar a transferência

- Reconhece os efeitos, benefícios e limitações da hipnose - não são todas as pessoas possíveis
de serem hipnotizada.

- A hipnose como resultado da sugestão pela palavra,

- Freud responde sobre os questionamentos de o tratamento da palavra tem efeito sobre o


corpo e nos diz que é através da eficácia da palavra

- Aqui faz referência a causalidade e a magia das palavras, não havia se dado conta do fenômeno
da transferência, mas podemos perceber sua atenção a relação médico paciente.

Texto base:

FREUD, Sigmund. Fundamentos da clínica psicanalítica; Tratamento anímico (1890). Autêntica,


2017
BREUER, Josef; FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 2: estudos sobre a histeria (1893-
1895) tradução Laura. Barreto; revisão da tradução Paulo César de Souza—. 2016.

Pontos importantes:

- Conceito de Psiquê
- A importância da palavra
- O papel do médico no tratamento
- A relação Médico Paciente
- A ligação de mente e corpo
Aula 3 Os afetos e seus adoecimentos
Os afetos e seus adoecimentos

Os médicos encontravam dificuldades em comprovar patologias corporais de ordem anímica


(psíquica/alma), ocorrendo a desvalorização e injustiças com os adoecimentos psíquicos. Ainda
que seja um trabalho antigo, ainda se faz presente no cenário da saúde mental.
Como contextualização, sobre os estudos da histeria acontece através da pesquisa do
adoecimento de mulheres, é necessário identificar o papel da mulher nessa sociedade como
plano de fundo e como parte do processo de adoecimento mental.

Estudos sobre a Histeria

A Psicanálise tem como origem nos trabalhos Estudos sobre a Histeria (1985). Freud e Breuer
em seu prefácio, os estudos são apresentados como um novo método de examinar e tratar os
fenômenos histéricos, onde a partir do desenvolvimento do método catártico aplicado em
pacientes histéricos, através do uso da hipnose havia a intensa manifestação dos afetos,
lembranças e impulsos que estavam fora da consciência e a partir dessas manifestações tinha
como principal função o afastamento de sintomas da doença. Ex: Regressão a primeira vez que
o sintoma acontece (momento do trauma).

Esses Sintomas seriam processos psíquicos reprimidos e que não chegam à consciência e que o
escoamento desses afetos que se encontravam comprimidos tinha uma eficácia terapêutica
(lembrando que ainda não havia se construído o conceito de inconsciente, mas havia um
esboço. )

Os autores começam a encontrar algumas falhas em seus métodos:

- As dificuldades ao identificar que não era só um trauma que causava o adoecimento e sim
vários acontecimentos.
- As sugestões durante a hipnose não fazem mais parte da técnica, e a partir do que surge na
cartasse se espera mudança no percurso psíquico diferente do que levou a formação de sintoma
- Nem todos são hipnotizáveis
- Não é uma cura duradoura, ocorre o retorno de sintomas.

Freud desiste da hipnose e adota sessões que ocorrem como uma conversa entre duas pessoas
igualmente despertas, o paciente é colocado de forma confortável de e com o médico fora do
seu campo de visão, ele convida os pacientes a falarem à vontade suas comunicações “tudo o
que vem à cabeça, mesmo que não achem importante, ou que não vem ao caso ou o que não
faz sentido ainda que lhe pareça vergonhoso ou embaraçoso” (FREUD, 1904). Ao solicitar que o
paciente discorra o histórico de sua doença sobre seu adoecimento e sintomas, Freud identifica
lacunas nas lembranças, confusões temporais resultando em efeitos incompreensíveis, quando
questionado e busca preencher com certo esforço, surgem críticas refreadas e o mal-estar
quando a lembrança aparece, a conclusão de Freud sobre as amnésias em pacientes sem
histórico são ocasionadas por um processo que nomeia de recalque e descreve que sente forças
psíquicas contrárias ao para esse recalque vir à tona , uma resistência se ergue contra esse
conteúdo. (FREUD, 1904)

Aos poucos acontece a passagem da hipnose para a associação livre, ocorrendo de forma
gradativa de acordo as experiências com as pacientes. No decorrer do trabalho nos são
apresentados os métodos desenvolvidos e utilizados nos casos apresentados.
Com as mudanças adotadas a psicanálise passa a ser um tratamento adequado a mais pessoas
e adoecimentos, havendo uma ampliação do saber terapêutico através das descobertas nos
casos de histeria se mostrando um tratamento eficaz, ressaltando sobre a aplicação feita em
casos graves o que demanda um extenso trabalho e tempo, mas sugere que em casos mais leves
isso deve se abreviar.

Pontos importantes:

- Apresentação de técnicas utilizadas e de conceitos que serão difundidos como pilares da


psicanálise.
- Formações Psíquicas recalcadas
- A Interpretação
- Resistência
- Inconsciente
- Associação Livre

Obs. Nestes pontos propostos e nos textos citados é possível rastrear os primeiros passos do
desenvolvimento da psicanálise enquanto instrumento para o exame científico da mente
humana, não é um simples relato de história da superação de uma série de obstáculos; é o da
descoberta de uma série de obstáculos a serem superados, e os caminhos encontrados para
desenvolver a psicanálise.

Textos base:

FREUD, Sigmund. Fundamentos da clínica psicanalítica; O método Psicanalítico Freudiano


1904/05. Autêntica, 2017.
FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund
Freud; Estudos sobre a Histeria (1895)
. Imago editora, 2016.
Aula 4 Escuta psicanalítica
O desenvolvimento da técnica psicanalítica através da associação livre e a atenção flutuante
como principais ferramentas de trabalho.

Percurso psicanalítico: da hipnose à associação livre

Em Princípios Básicos da Psicanálise, de 1913, Freud descreve a psicanálise como uma disciplina
singular, um novo tipo de pesquisa das neuroses e um método de tratamento, diferente das
práticas médicas vigentes até então. As primeiras pesquisas psicanalíticas e tentativas de
tratamento ocorreram com o método hipnótico.
Entretanto, para Freud a psicanálise teve seu inicio apenas quando deixou de usar a técnica
hipnótica e introduziu as associações livres. Após essa mudança, ele mesmo desenvolveu uma
técnica de interpretação para extrair conclusões do material revelado na associação livre (Freud,
1913).
A associação livre consiste em exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que
acodem ao espírito, quer a partir de um elemento dado, quer de forma espontânea (Laplanche
& Pontalis, 1970).
A fala do analisando durante o uso da associação livre põe o analista no lugar de escuta, voltando
sua atenção ao que está sendo enunciado. Uma das recomendações técnicas de Freud foi
quanto à forma da escuta, que deveria ser feita através da atenção flutuante, na qual o analista
deve escutar o analisando, não privilegiando a princípio nenhum elemento do seu discurso, o
que implica que deixe funcionar o mais livremente possível a sua própria atividade inconsciente
e suspenda as motivações em que dirigem habitualmente a atenção (Laplanche & Pontalis,
1970).
Durante toda a obra freudiana é constantemente encontrada a formulação e retomada de
teorias sobre formas de expressões do inconsciente. Ao se deparar com conteúdos que estavam
fora da consciência, e assim fora do acesso do analisando, estas teorias buscavam formas de
identificá-los para além do método hipnótico. Para Freud era possível identificar na fala dos
pacientes estes conteúdos na forma de atos falhos, equívocos de memória e linguagem, e
esquecimentos, ligando-os á atuação de fortes pensamentos inconsciente.
O sonho, também como um processo psíquico, foi estudado mais a fundo se tornando uma das
principais colunas da obra freudiana, chegando à fórmula geral: “O sonho é a realização
disfarçada de um desejo reprimido” (Freud, 1913). O estudo da interpretação dos sonhos presta
uma valiosa ajuda na técnica psicanalítica, construindo um método para penetrar na vida
psíquica inconsciente.
A investigação iniciada por Freud através da subjetividade humana e a busca em compreender
seu adoecimento nos leva a deparar com a complexidade que empregou esforços a desvendar.
Ao encontrar obstáculos e mecanismos de defesa, descobre a capacidade dos conteúdos se
deslocarem, converteram e se transformarem. Ao tempo em que vai dando espaço para a fala,
vai abrindo um caminho rumo ao desconhecido.

Um acesso ao desconhecido

O método psicanalítico de investigação buscava formas de acesso aos indícios de conteúdo que
estariam presentes na psique, mas não de forma consciente. A tese da existência destes
conteúdos tornou-se mais forte durante os diversos estudos de pacientes em estado hipnótico,
para Freud, “uma idéia inconsciente é uma idéia que não notamos, cuja existência estamos
dispostos a aceitar, com base em indícios e provas” (Freud, 1912).

Em busca da causa dos sintomas que acometiam os pacientes Freud se depara com o
desconhecido, uma nova possibilidade a ser explorada: a existência de conteúdos inconscientes
que estariam ativos agindo no surgimento destes sintomas. As evidências encontradas deram
um novo e amplo sentido ao sofrimento humano.

Ao introduzir a noção de inconsciente, Freud coloca o que é dito pelo paciente em um espectro
mais amplo, para além da palavra enunciada conscientemente. O inconsciente busca ser
escutado, ter seus desejos satisfeitos, comunicando-se por meio de complexas formações:
sonhos, sintomas, lapsos, chistes, atos-falhos; fenômenos que apontam para esse
“desconhecido” que habita o sujeito (Macedo & Falcão, 2005).

Na busca de tratá-las, com diversas tentativas desde o uso da hipnose até chegar a associação
livre, o acesso ao inconsciente e a possibilidade de escutá-lo.

O que está em foco não é mais um sujeito sob hipnose, mas a fala consciente com suas lacunas
a serem escutadas, dando lugar à narrativa do sujeito e da sua história, contextualizando e
inserindo um cenário para sua dor, solicitando que a sua história seja levada em conta.

O trabalho do analista é reconstruir a história a partir de fragmentos encontrados no discurso.


Reconstruir e dar sentido. Freud compara o trabalho do analista ao arqueólogo que utiliza de
fragmentos para cuidadosamente remontar e a apresentar a história ao analisando e juntos a
construção em análise é feita.

Segundo Garcia-Roza (1984), a psicanálise não coloca em cheque o sujeito da verdade, mas
verdade do sujeito. Pergunta o porquê da recusa dos desejos rejeitados pela sua consciência
através dos fenômenos de defesa, as formas que o ego encontra de se proteger de uma
representação desagradável.

Ainda este autor afirma que, ao se fazer uso da psicanálise sem a hipnose o analista encontra
resistência ao trabalho de análise que anteriormente estava oculta. Ao tentar entrar em contato
com conteúdos que teriam causado os sintomas, os pacientes esbarravam com uma resistência,
idéias de natureza aflitiva, capazes de despertar emoções de vergonha, autocensura e de dor
psíquica.

Compreender que o que cabe ao analista é ouvir o sujeito, sua história e o que nela é dor; e
ainda, que quando livres de classificações ou rótulos, os lapsos, sonhos, repetições e sintomas,
revelam-se enfim, formas de subjetividade que abrem espaços de singularidade. Considerar a
psique como um sistema que possui uma organização determinada, mas que pode transformar-
se e adquirir novas propriedades, como o faz produzindo e reproduzindo continuamente a
história do sujeito, implica colocar a escuta em um campo intersubjetivo, ou seja, no campo da
transferência.

“Desde a primeira sessão a história oficial é confrontada com aquela que o analista ajuda a
construir, analisando as formações de compromisso. os testemunhos do passado são os
sintomas, as transferências, as repetições, as formações de caráter, os sonhos e também as
recordações” (HORNSTEIN, 2003 apud MACEDO & FALCÃO, 2005).
Cabe ao analista escutar o sujeito em sua totalidade e, a partir do que é apreendido, aplicar as
técnicas que cabem no momento, pois a teoria psicanalítica não pode ocupar o lugar da história
de vida do paciente. Ainda assim, justifica-se a importância dos suportes teóricos que sustentam
a práxis do analista. (Macedo & Falcão, 2005).

Embora analista e analisando compartilhem deste processo, não existe uma relação de
igualdade entre eles. Essa assimetria necessária advém da capacidade de escuta do analista: A
escuta que mantém a transferência, mas não se confunde com ela, e não cede à solicitação do
paciente, impedindo uma satisfação substituta do desejo, o que abre possibilidade para sua
ressignificação.

O analista deve ouvir e ao se colocar é como uma retirada específica, cirúrgica no material
apresentado do analisando, a ideia da escultura de Da Vince, onde se retira para criar a imagem
da escultura

Importante: Formas de atendimento presencial ou remoto, ambras possibilitam a aplicação da


técnica, a maneira de desenvolver o trabalho acontece de com a disponibilidade de ambos, do
paciente em levar conteúdo para a análise e o espaço interno do analista.

Pontos Importantes:

- A associação Livre como regra primordial a ser seguida pelo analisando


-A atenção Flutuante como forma de apreender o material a ser analisado
- O analista deve despir-se de rótulos durante a escuta
- O analista só sabe o que é dito pelo analisando
- A associação livre acontece independente do uso de espaço físico ou virtual ou o uso de divã

Textos base:

FREUD, Sigmund. Princípios básicos da psicanálise. Observações psicanalíticas sobre um caso


de paranoia relatado em autobiografia (" O Caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros
textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. Algumas observações sobre o conceito de inconsciente na
psicanálise. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia
(" O Caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Jorge Zahar Editor Ltda, 1984.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes Editora
Ltda, 1970.
MEDEIROS KOTHER MACEDO, Mônica; NEUMANN DE BARROS FALCÃO, Carolina. A escuta na
psicanálise e a psicanálise da escuta. Psychê, v. 9, n. 15, 2005.
FREUD, Sigmund. O método Psicanalítico Freudiano 1904/05. Fundamentos da clínica
psicanalítica. Autêntica, 2017.
FREUD, Sigmund. Estudos sobre a Histeria (1985). Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Imago editora, 2016.
Aula 5 Repressão - O protótipo do inconsciente
Agora vamos falar sobre o conceito de repressão para nos encaminhar a construção do conceito
de Inconsciente que falaremos mais a frente, ela faz parte do percurso de compreensão da
construção do conceito de inconsciente e sobre o funcionamento da dinâmica pulsional.

A repressão é um conceito que trata de encontrar um destino possível para conteúdos de caráter
desagradável que teriam a capacidade de causar incômodo na consciência, desprazer, esses
conteúdos seriam convidados ou escolhidos a se retirarem da consciência através do mecanismo
da repressão.

Dentre as considerações de Laplanche sobre a repressão vamos destacar a Repressão como


Operação psíquica tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou
inoportuno: ideia, afeto, etc. (LAPLANCHE, 1988)

Lembrando que as traduções sobre o termo pulsão que é central na obra de Freud têm algumas
especificidades sobre a sua tradução, que em alguns momentos aparece como instinto, mas o
termo pulsão segue sendo o mais próximo da proposta freudiana e em nota de rodapé na
tradução da Companhia das Letras de Paulo César de Souza temos:

Triebregung: Nas versões estrangeiras consultadas: instinto, moción pulsionale, moto


pulsionale, motion pulsionelle. (Freud, 1915)

Obs: Dentre os textos disponibilizados para essa aula incluímos um e-book sobre os livros
disponíveis no mercado e suas traduções.

Aqui faremos algumas pontuações a partir do texto de Repressão de 1915, nossa intenção aqui
é trazer a compreensão sobre o conceito e não esgotar as discussões sobre ele.
Destacamos alguns pontos do trabalho sobre a repressão.

Repressão Primordial: uma primeira fase da repressão que consiste uma negação, à
representação psíquica da pulsão na consciência. Com isso se produz uma fixação; a partir daí a
representante em questão persiste inalterável, e a pulsão permanece ligada a ela.

Repressão propriamente dita: um segundo estágio da repressão, afeta os derivados psíquicos


da representante reprimida ou as cadeias de pensamentos que, originando-se de outra parte,
entraram em vínculo associativo com ela. Graças a essa relação, tais repressões sofrem o mesmo
destino que o que já foi reprimido primordialmente. A repressão propriamente dita é uma pós-
repressão.

Freud coloca que a tendência a repressão só acontece porque algo foi reprimido anteriormente
e está disposto a acolher, atraindo o que é repelido pelo consciente e a atuação dessas duas
forças em conjunto permitem que o propósito seja alcançado
O que a consciente repulsa, o inconsciente atrai.

O que foi reprimido assim permanece quando feito com êxito este não retorna, mas
dependendo de mudanças possíveis e no êxito ou não dessa repressão, podem surgir
representantes pulsionais do reprimido, ideias, afetos que chegam a consciência, mas não
permanecem.
O reprimido não está morto, existe uma constante força dele em direção ao consciente exigindo
um constante gasto de energia, na qual é compensada com uma contrapressão.

O que foi reprimido assim permanece quando feito com êxito este não retorna, mas
dependendo de mudanças possíveis e no êxito ou não dessa repressão, podem surgir
representantes pulsionais do reprimido, ideias, afetos que que chegam à consciência através de
cadeias de pensamentos, mas não permanecem.

Quando o representante pulsional tem acesso ao consciente como uma ideia, logo este é
convidado a se retirar, como um hóspede indesejado e tem seu acesso negado, essa ideia some
do consciente e não retorna.
A pulsão é reprimida de modo que dela nada se encontra. O afeto surge de maneira
qualitativamente nuançado, com aparência sutil e menor ao seu antigo formato ou se
transforma em angústia, as duas condições nos permitem observar novas vicissitudes da
pulsão, a conversão das energias psíquicas das pulsões em afetos, muito especialmente em
angústia.

Lembrete: O propósito da repressão é evitar o desprazer. E o seu fracasso e o seu sucesso diz
se consegue ou não evitar o desprazer, o que é o foco do nosso estudo.
Freud usa como exemplo um hospede indesejado que é retirado da sala e impedido de retornar,
no caso da repressão, permanece um vigia na porta que impede o acesso a sala.

Podemos entender o papel da repressão na formação dos sintomas através de indícios do


retorno do reprimido, os mecanismos de repressão têm uma coisa em comum, a retração do
investimento de energia.
É observado nos casos de repressão o surgimento de psiconeuroses como, fobias, histeria de
angústia, histeria de conversão, todos envolvidos nas formações de sintomas, com mais
diferentes manifestações comparadas por Freud, que mostra também na neurose obsessivas
através da formação reativa.

formação reativa: mecanismo de defesa que substitui sentimentos e comportamentos


opostos a forma ao desejo real, por medo de punição social.
A repressão como posta aqui se apresenta com um papel no objeto de estudo proposto, nas
angustias e no processo de adoecimento, os desdobramentos sobre ela nos adoecimentos
identificados por Freud e a sua relação com o inconsciente.

Pontos Importantes:

- A função da repressão na formação de sintomas


- A principal função da repressão é evitar o desprazer, quando essa falha surgem os sintomas.
- As vicissitudes das pulsões e formas de escape a cs
- As variações e interações nas manifestações como mecanismos de defesa

Textos base:

CAROPRESO, Fátima; SIMANKE, Richard Theisen. Repressão e inconsciente no desenvolvimento


da metapsicologia freudiana. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, v. 16, p. 201-216, 2013.
FREUD, Sigmund. A repressão: 1915. Freud (1914-1916) introdução ao narcisismo, ensaios de
metapsicologia e outros textos; Companhia das Letras, 2010.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da psicanálise. In: Vocabulário da
psicanálise. 1988.
Aula 6 A resistência
A resistência é identificada nos estudos sobre a histeria é descrita como forças contrárias que se
opõem ao tratamento, é um entrave, uma barreira na elucidação dos sintomas e o avanço do
tratamento. Podemos observar além da identificação, a superação dessas barreiras

A resistência em Laplanche (1988): No decorrer do tratamento psicanalítico, dá-se o nome de


resistência a tudo o que, nos atos e palavras do analisando, se opõe ao acesso deste ao seu
inconsciente. Por extensão, Freud falou de resistência à psicanálise para designar uma atitude
de oposição às suas descobertas na medida em que elas revelaram os desejos inconscientes e
infligiam ao homem um “vexame psicológico”

Freud propõe uma apreciação mais correta da resistência e considerou a interpretação da


resistência, juntamente com a da transferência, como características específicas da sua técnica.
Mais, a transferência deve ser considerada parcialmente uma resistência na medida que
substitui pela repetição, a resistência utiliza, mas não a substitui. Transferência é uma das
maiores resistências

A rememoração que faz parte do tratamento, faz com que a resistência tenha sua manifestação
própria diante de Representações penosas, uma resistência que tem sua origem no recalcado.
É uma forma de defesa ao desprazer, onde mantem conteúdos de prazerosos fora da
consciência.

Com o desenvolvimento da segunda tópica com as instâncias psíquicas ocorre um


acentuamento no aspecto defensivo da resistência que passam a serem identificadas como
mecanismos de defesa do ego (falaremos mais a frente) e esse entendimento é preservado por
Freud até seus últimos escritos. Ao longo de sua Obra Freud descreve várias fontes de resistência

Os mecanismos de defesa contra perigos antigos retornam no tratamento sob forma de


resistências à cura, isso porque a cura é considerada pelo ego um novo perigo.

Em inibições, sintoma e angústia Freud distingue cinco formas de resistências, três estão ligadas
ao ego: O recalcamento, a resistência de transferência e o benefício secundário da doença
onde o sintoma é integrado no ego, as outra tem como origem resistência do ics ou do id e com
a do ego, (a força da compulsão à repetição) e por último a resistência do superego, culpa ics e
o castigo.

Pontos importantes:

- Resistência como um mecanismo de defesa


- Relação entre Resistência e transferência
- O recalcamento
- A resistência de transferência
- O benefício secundário da doença
- Resistências do Ics
- Resistência do Superego

Textos base:
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da psicanálise. In: Vocabulário da
psicanálise. 1988.
FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund
Freud; Estudos sobre a Histeria (1895)
Aula 7 Transferência
Freud nos diz que a transferência na análise é a mais forte resistência contra o tratamento,
enquanto fora da análise temos de reconhecê-la como portadora do efeito de cura e condições
para o sucesso do tratamento.

Podemos acompanhar no processo de construção de Freud desde as técnicas hipnóticas sua


atenção ao papel do médico no tratamento e a relação que se estabelece com o paciente e a
função desta nos resultados do tratamento, podemos ver similaridades ao que ele viria construir
como a Transferência como técnica central do tratamento através do seu manejo. (Freud, 1912)

Não é sobre a pessoa do analista e sim da relação estabelecida entre analista e o analisando e
os fenômenos que fazem parte dela, a observação desses fenômenos é um ponto primordial do
tratamento a partir do manejo dos conteúdos que emergem, o manejo de transferência.

A Transferência

Laplanche: Designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam


sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e,
eminentemente, no quadro da relação analítica.

Freud coloca que acontece uma junção de predisposições inatas e influências durante os anos
de infância, que todas as pessoas adquirem idiossincrasias ao conduzirem sua vida amorosa, ou
seja daí vem as condições que a pessoa estipula para o amor, as pulsões a satisfazer e as suas
metas almejadas. Isso resulta em um clichê, que ao longo da vida é repetido e reeditado de
acordo com as condições internas e externas. Diante dessa informação, ao nos atermos ao
tratamento e os conteúdos que nele emergem na relação entre paciente e analista, essas
repetições e reedições dessas vivencias infantis se fazem presentes, como insatisfações e
frustrações com demandas antigas, Freud coloca que é compreensível que uma pessoa
parcialmente insatisfeita, carregado de muita expectativa volte seu investimento libidinal para
a figura do médico, seguindo um modelo pré definido e herdado das vivências infantis, mas não
há um interesse genuíno da figura do médico.

A transferência surge como um obstáculo que precisa ser analisado atentamente.

Neurose > Introversão da Libido (está no ics) > Libido Movida para a regressão > reanima
complexos infantis > surgimento das resistências (a serviço da conservação do estado recolhido
de baixa energia) > superar o recalque (suspender essa atração com conteúdo ics no processo
analítico) > Transferência.

Sempre que nos aproximamos de um complexo patogênico, a porção do complexo capaz de


transferência é empurrada para a consciência e defendida com a maior insistência.

“À transferência na análise é a mais forte resistência contra o tratamento, enquanto fora da


análise temos de reconhece-la como portadora do efeito de cura e condições para o sucesso do
tratamento”. (Freud, 1912)

A intensidade e a duração da transferência são um efeito e uma e uma expressão da resistência.


A ideia aqui é resgatá-la e coloca-la a serviço da consciência.
Temos tipos de transferência que se apresentam como herança edípica, ambivalência que se
apresenta em vários momentos do trabalho freudiano.

Transferência Positiva: sentimentos ternos, dividindo- se em sentimentos simpáticos e


carinhosos que chegam à consciência, e pela via do Ics que remontam fontes eróticas.

Transferência Negativa: sentimentos hostis.

As formas de uso da transferência, quando desassociada da pessoa do analista tem a capacidade


do conteúdo chegar à consciência e não repulsivo, como forma de chegar ao êxito, assim admite-
se o uso da sugestão como base do método, entendendo que o sugestionamento é feito por
meio dos fenômenos da transferência. Nós cuidamos da autonomia final do paciente, na medida
que utilizamos a sugestão para fazê-lo desempenhar um trabalho psíquico.

Textos base:

FREUD, Sigmund. a dinâmica das transferências (1912) Fundamentos da clínica psicanalítica;


autêntica, 2017.
Aula 8 Transferência - O manejo
Para Freud muitos acreditam que a maior dificuldade da Psicanálise é a interpretação do
recalcado, mas logo ele nos esclarece que as únicas dificuldades sérias são encontradas no
manejo da transferência.

Podemos acompanhar no processo de construção de Freud desde as técnicas hipnóticas sua


atenção ao papel do médico no tratamento e a relação que se estabelece com o paciente e a
função desta nos resultados do tratamento, podemos ver similaridades ao que ele viria construir
como a Transferência como técnica central do tratamento através do seu manejo.

Não é sobre a pessoa do analista e sim da relação estabelecida entre analista e o analisando e
os fenômenos que fazem parte dela, a observação desses fenômenos é um ponto primordial do
tratamento a partir do manejo dos conteúdos que emergem, o manejo de transferência.

Laplanche nos diz que se trata de uma repetição de protótipos infantis vivida com uma
sensação de atualidade acentuada, diante do exposto seguimos para compreender sobre o que
Freud nos falava.

O manejo da transferência
Freud coloca que por muitos acreditam que a maior dificuldade da Psicanálise é a interpretação
do recalcado, mas logo ele nos esclarece que as únicas dificuldades sérias são encontradas no
manejo da transferência.
Em seu trabalho Observações sobre o amor transferencial (1915), o autor descreve as
dificuldades encontradas no manejo de transferências positivas de cunho erótico,
especificamente com pacientes mulheres que se apaixonam pelo analista. Relata aspectos
desconcertantes e divertidos da situação, e coloca desfechos possíveis e qual o procedimento
necessário para o uso dessa transferência como ferramenta de análise.

Paciente apaixonada pelo analista: o que eu fazer?

Esta possibilidade é apresentada por Freud em seu trabalho Observações sobre o amor
transferencial (1915), nesse trabalho o trabalho do analista é apresentado diante de cenários
diversos na relação com o analisando e dos possíveis desdobramentos o apaixonamento do
analisando pelo analista tem destaque para falar sobre o amor na relação transferencial,

São postas algumas saídas possíveis como, ficarem juntos, finalizar os atendimentos ou a
continuidade do processo, algumas com um tom irônico dada a ideia uma relação entre a dupla,
o autor fala das observações necessárias diante destes casos e a relação transferencial.
A interrupção dos atendimentos deveria ser dada como inviável, Freud coloca que isso se
repetiria em outros processos iniciados pela paciente, como uma pontuação minha coloco que
se por condições do analista a continuidade se mostrar inviável no manejo, finalizar o processo
talvez seja um caminho necessário.

É preciso que o analista reconheça que o enamoramento é forçado pela situação analítica e não
deve ser atribuído às vantagens da sua pessoa, portanto, então não há motivos para se orgulhar
da sua “conquista” (contexto de masculinidade). É importante ter esse alerta sempre em
mente. (Feud,1915)

Os investimentos da paciente desviam dos objetivos do processo para uma quebra da


autoridade do médico, colocando o analista severo à prova.
A técnica analítica estabelece uma lei para o médico que lhe impõe a recusa diante da satisfação
exigida pela paciente carente de amor. O tratamento precisa ser executado em abstinência;
fazendo referência ao físico ou sentimental ou a tudo que se deseja, talvez nenhum paciente
suportasse (um analista frio/rígido). A necessidade e o anseio devem ser mantidos no paciente
como força motivadora do trabalho e da mudança e devemos evitar o abrandamento desses
sentimentos por substitutos.

Se a paciente atinge o objetivo, estaria colocando algo em movimento, repetir, reproduzir como
material psíquico e manteria no âmbito psíquico, ela atingiria seu objetivo, a análise não. Aqui a
transferência está a serviço da resistência se opondo ao trabalho analítico.

Mantemos a transferência amorosa, a tratamos como algo irreal, como algo que deva ser
enfrentado no tratamento e reconduzida a suas origens ics e que deve ajudar a levar a
consciência da paciente os sentimentos ocultos de sua vida amorosa e, com isso, a dominá-los.
Quanto mais dermos a impressão de estarmos nós mesmos (analistas) imunes a toda tentação.
(FREUD, 1915) pág. 174

Ao analista se exige abstinência.

O que Freud convida o analista a abstinência, mantendo uma não satisfação do paciente fora
dele, impondo assim uma abstinência de realização ao paciente que só encontra a satisfação
libidinal através da expressão verbal.

A abstinência ao lado da transferência e da atenção flutuante se torna uma condição necessária


para a associação livre, imprescindíveis para o trabalho. A abstinência mantém o analista numa
estranha forma de impessoalidade na presença pessoal (CELES, 2008). A estranheza da forma se
dá pela relação estabelecida entre a dupla que a diferencia de qualquer outra na sua forma e
proposta, é na escuta que o analista se diferencia de uma conversa, é longe de suas expectativas
e desejos seus sobre si e sobre o outro, abster-se, nela que se apoia a atenção flutuante, ouvir
atentamente sem expectativas de achar algo, julgar ou ter algo para falar.

A sugestão em parecer imune aos conteúdos hostis do paciente não o torna imune, dentre os
textos dedicados aos que trabalham com o método psicanalítico podemos destacar
“recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico” que é uma prescrição sobre a
técnica. Nela Freud fala sobre condições para a transferência acontecer e dentre elas fala que o
analista deve ser opaco ao analisando, e, tal como um espelho, não mostra senão o que lhe é
mostrado, e coloca que qualquer coisa fora disso não é psicanálise (exemplifica com a sugestão
hipnótica), aqui ressalto que o uso de técnicas (híbridas) de diferentes áreas da psicologia com
a psicanálise, não é psicanálise verdadeira, essa é uma afirmação de Freud que ainda podemos
usar.

Sobre a contratransferência:

É um conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando mais


particularmente à transferência deste. Uma reação a transferência (Laplanche, 1988 pag
146/7)

São raras as passagens dedicadas por Freud à contratransferência, mas veio chamando.
Existem variações sobre a contratransferência e Laplanche destaca:

Do ponto de vista técnico, podemos esquematicamente distinguir três orientações:


a. Reduzir o máximo possível as manifestações contratransferências pela análise pessoal,
de modo a que a situação analítica seja estruturada, por assim dizer, como uma superfície
projetiva do paciente;

b. Utilizar, controlando-as, as manifestações de contratransferência no trabalho analítico,


na sequência da indicação de Freud segundo a qual “... todos possuem no seu próprio
inconsciente um instrumento com o que podem interpretar as expressões do inconsciente dos
outros”

c. Guiar-se, mesmo para a interpretação, pelas suas próprias reações


contratransferências, muitas vezes assimiladas, nesta perspectiva, às emoções sentidas. Essa
atitude postula que a ressonância “de inconsciente a inconsciente” constitui a única
comunicação autêntica psicanalítica.

O processo terapêutico reaviva afetos diversos, aqui o enamoramento foi colocado como plano
de fundo para pensarmos sobre a relação entre analista e analisando, aqui foi sobre amor
romântico, mas independentemente de quais sejam os afetos despertos e presentes eles
precisam da atenção do analista e a forma que os afetos mobilizam a dupla e a sua dinâmica, o
analista está em contato com esses afetos e o que lhe for despertado precisa de atenção
também, dada alguma dificuldade no manejo da transferência, sua análise pessoal e a
supervisão são as ferramentas do analista.

Pontos importantes:
- Transferência positiva
- Transferência a serviço da resistência
- Manejo da transferência
- Abstinência
- Contratransferência

Leitura recomendada:
CELES, L. A. M. Crise terapêutica da psicanálise e presença do analista. Revista Percurso, v. 21,
n. 41, p. 47-54, 2008

Textos base:

CELES, L. A. M. Crise terapêutica da psicanálise e presença do analista. Revista Percurso, v. 21,


n. 41, p. 47-54, 2008.
FREUD, Sigmund. Observações sobre o amor transferencial (1915) Fundamentos da clínica
psicanalítica. Autêntica, 2017.
FREUD, Sigmund. Escritos Sobre a Psicologia do Inconsciente, vol. 3. Imago Editora, 2017.
FREUD, Sigmund. O Eu e o Id, Autobiografia e outros textos: 1923-1925. In: O Eu e o Id,
Autobiografia e outros textos: 1923-1925. 2011.
______________. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (PC de
Souza, trad. e notas, pp. 13-50). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado
em 1914), 2010.
______________. Projeto para uma psicologia científica. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 1, p. 29-397, 1895.
______________. Três ensaios sobre A teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma
histeria ("O caso Dora") e outros textos: 1901-1905. São Paulo Companhia das Letras, 2016.
______________. Fundamentos da clínica psicanalítica. Autêntica, 2017.
PONTALIS, Jean-Baptiste; LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem
Didática: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem Didática. Artmed Editora, 2009.
MÓDULO II

Ementa:
Conhecer a construção e funcionamento do aparelho psíquico. Os conceitos de topografia e
economia, primordiais para o funcionamento do aparelho psíquico, que auxiliam na
compreensão da aplicabilidade das técnicas fundamentais da clínica psicanalítica. Entendimento
e domínio do conceito de Repressão, pedra angular da clínica psicanalítica, que inaugura o
Inconsciente e norteia o fazer do psicanalista a partir da teoria.

Objetivo:
- Conhecimento do funcionamento do aparelho psíquico
- Compreender a fundação, funcionamento e função do Inconsciente
- Conhecimento sobre o funcionamento das resistências na clínica, teoria e prática
- As estruturas na clínica

O aluno terá domínio sobre o surgimento e funcionamento do aparelho psíquico e como esse
conhecimento auxilia na clínica psicanalítica e no manejo das demandas, identificando e
exercendo sua função como analista de forma efetiva.
Aula 9 Três ensaios sobre a sexualidade

Freud (1905/2016) em Três ensaios sobre a teoria da Sexualidade apresenta à comunidade


científica da época que o desenvolvimento psicossexual durante a infância seria a base para
a compreensão do processo de construção da psique e o caminho para os estudos do
adoecimento psíquico.

Os Três ensaios sobre a sexualidade (1905) juntamente com a interpretação dos sonhos é um
dos trabalhos mais significativos e um dos que mais sofreu alterações, durante foram diversas
alterações acrescentadas por Freud sendo a última em 1920. Durante as observações clínicas,
Freud destacava conteúdos sexuais nos sintomas histérico e que eles remontavam a infância.

Os temas trazidos por Freud em seus ensaios eram desafiadores para a sociedade tradicional da
época, falar da sexualidade na infância e como algo estruturante psiquicamente não foi
facilmente aceito.

Aqui traremos um breve resumo destacando pontos importantes para nossa jornada na clínica
psicanalítica, este texto é estruturante da teoria e sua leitura integral é essencial.

Três ensaios sobre a sexualidade

O trabalho inicia com o tema As aberrações sexuais, mas já antecipo que suas conclusões sobre
as aberrações são normalizadas enquanto expressões da sexualidade, e destaca a bissexualidade
humana como algo intrínseco. Houve uma perversão sobre o saber existente sobre sexualidade,
principalmente sobre as chamadas aberrações sexuais, e que não há aberrações e que a
perversão da sexualidade humana é que ela toma uma dimensão deferente da sexualidade
animal que é regida pela reprodução. A sexualidade humana é regida pelo princípio do prazer

Sempre importante relembrarmos a necessidade de contextualizar historicamente o momento


em que o texto foi escrito e as influencias socioculturais e religiosas do período. Ainda que as
construções de Freud estivessem destoando dos valores da época, ainda sim é atravessado por
elas.
Os três ensaios sobre a sexualidade é um trabalho extenso repleto de conceitos importantes
que são desenvolvidos ao longo da teoria, dentre eles destacaremos:

Teoria da libido

Freud é levado a conceber um aparato psíquico, de contenção, de transformação de algo que


lhe chega a partir da exterioridade (exterioridade do aparato, bem entendido). Esse aparato
pode ser pensado, em seu funcionamento analogamente a uma usina hidrelétrica, isto é, a um
grande aparato que captura armazena e transforma água de um rio gerando eletricidade. (um
esboço de um funcionamento econômico)

A libido é concebida por ele como energia psíquica, como expressão anímica da pulsão sexual,
ou ainda como uma força suscetível de variações quantitativas que poderia servir de medida
para os processos e as transformações no domínio da excitação sexual.
Pulsão: Por “pulsão” podemos entender, a princípio, apenas o representante psíquico de uma
fonte endossomática de estimulação que flui continuamente, para diferenciá-la do “estímulo”,
que é produzido por excitações isoladas vindas de fora. Pulsão, portanto, é um dos conceitos da
delimitação entre o anímico e o físico (FREUD, 1905. pág. 104).

A pulsão é uma exigência de trabalho feita à vida anímica. O que distingue as pulsões entre si e
as dota de propriedades específicas é sua relação com suas fontes somáticas e seus alvos. A
fonte da pulsão é um processo excitatório num órgão, e seu alvo imediato consiste na supressão
desse estímulo orgânico.

Pulsão sexual e libido

As duas formas são tidas como sinônimos e encontradas de forma alternada, em latim libido
tem aproximação com “vontade” e “desejo”. Freud atribui a libido como quantitativa e
qualitativa, referindo-se a um quantum de libido, algo concebido como uma força ou uma
energia capaz de aumento ou diminuição e cuja distribuição ou deslocamento tornam possível
a explicação da sexualidade humana. Mas também ocupa um ligar qualitativo responsável pela
distinção entre libido e outra energia que possa servir de suporte aos processos psíquicos em
geral. O que está marcando é o lugar não sexual, que primeiro vai ser ocupado pelas chamadas
pulsões de autoconservação e mais tarde pulsão de morte.

O movimento da libido é repetir a experiência de satisfação, a busca de um encontro da primeira


satisfação é na verdade um reencontro (com o seio materno). Um reencontro impossível.

Objeto sexual

Objeto ao qual se destina libido, esse objeto difere do objeto desejado o da primeira satisfação
que é impossível, um objeto perdido Melanie Klein desenvolve a teoria entorno do objeto seio
-mãe e Lacan desenvolve o conceito de objeto a um objeto vazio central na trama das
representações, tem similaridades aos conceitos de ding que encontramos no projeto 1895.
Bissexualidade: a constituição humana estruturalmente como bissexual desde o seu início.

A Sexualidade infantil

É um conceito explicativo designando a natureza da sexualidade humana, sempre parcial, não


plena e marcada pela incompletude.

O funcionamento infantil não acontece de forma estruturada, o bebê é toda pulsão (desejo,
satisfação, sexual). Não é organizado sexualmente como um adulto, onde tem no ato sexual sua
meta de satisfação (que é incompleta), as necessidades infantis de satisfação acontecem de
outra forma, não estruturada enquanto funcionamento. São atos e partes do corpo que através
de seu desenvolvimento vão se atribuindo satisfações.

Não há uma diferenciação entre o bebê e a mãe, e sua compreensão enquanto dentro e fora,
eu e o outro e as suas necessidades biológicas e libidinais acontecem de forma associada.
Freud aponta o sugar (chuchar na imago) como uma das primeiras exteriorizações da
sexualidade infantil. A sucção com a boca, repetindo ritmicamente, que não tem por finalidade
a nutrição. Nele o que está presente é o prazer do sugar e não a satisfação de uma necessidade,
embora ocasionalmente possam estar associadas.
Na sexualidade infantil temos como características o Apoio, zona erógena e autoerotismo, na
emergência da pulsão, surge quase como perversão do instinto, perverter o instinto é ter como
finalidade a satisfação e não a necessidade orgânica (fome, reprodução, sede). Esta prática
acontece associada a uma parte do próprio corpo (dedo), que a tornaria independente de um
objeto externo (seio materno) – esses dois conceitos levam Freud a postular aquele que por ser
o conceito considerado mais importante dos três ensaios o Autoerotismo.

O Autoerotismo é um conceito essencial para a estruturação do aparelho psíquico que segue a


partir do autoerotismo, que é uma etapa na constituição psíquica, nela ainda não existe uma
organização do Eu enquanto instância, mas a partir dela começa a organização para o
surgimento do Eu a partir do Narcisismo, no autoerotismo não há organização de unidade, mas
sim um amontoado de si. A partir do narcisismo começa a acontecer uma organização da
unidade que mais a frente será denominada de eu.

Introdução ao Narcisismo

O narcisismo é o Surgimento do eu e a organização do funcionamento psíquico sendo dividido


em dois momentos

Narcisismo primário coincide com o autoerotismo, no autoerotismo não há uma unidade


organizada, o narcisismo primário acontece através do olhar do outro-mãe, uma imagem
unificada sobre o próprio corpo através do olhar do outro, esse é o narcisismo dos pais que
atribuem ao filho todas as perfeições o que incide no próprio corpo, a criança tem seus
investimentos voltados para fora, seus cuidadores, pai, mãe.

Narcisismo secundário é o retorno dos investimentos sobre o próprio corpo, a libido investida
nos objetos externos volta como investimento no próprio eu, tendo o eu como objeto de
investimento

Pode haver uma concomitância das formas de investimentos com a predominância de uma
delas.

Modos de funcionamento de investimento do eu

Neurose: Há uma retração da libido em favor do eu, mas sem que o indivíduo elimine totalmente
o vínculo erótico com pessoas e coisas, esse vínculo é conservado fantasia, substituindo objetos
reais por imaginários.

Psicose: A retração de libido não se faz por substituição de objetos reais por objetos imaginários,
a retirada acontece das pessoas e coisas sem o recurso da fantasia, ocorre um corte da relação
com o objeto e uma acumulação da libido no eu. O vínculo erótico com os objetos do mundo é
eliminado sem que no seu lugar surjam objetos imaginários. Freud designa esse narcisismo,
característico da psicose, como narcisismo secundário, um narcisismo que se edifica sobre as
bases do narcisismo primário infantil.

Hipocondria: Retira a libido dos objetos do mundo externo e investe em uma parte do próprio
corpo. A parte afetada passa a funcionar como zona erógena, podendo ser estendida por todo
o corpo, assim qualquer parte ou órgão pode funcionar como zona erógena, no caso da
hipocondria, uma zona erógena particularmente sensível e isso independente da doença ser real
ou imaginária.
Pontos importantes:
- A Sexualidade infantil
- Autoerotismo
- Conceito de pulsão, Pulsão sexual e libido
- Teoria da libido
- Narcisismo

Sugestão de leitura:

SALLES, Ana Cristina Teixeira da Costa; CECCARELLI, Paulo Roberto. A invenção da


sexualidade. Reverso, v. 32, n. 60, p. 15-24, 2010.

Textos base:

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a sexualidade (1905). Edição Standart Brasileira de Obras
Completas de Sigmund Freud, v. 7, 1996.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Introdução à metapsicologia freudiana (Vol. 3. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed, 1991.
Aula 10 Complexo de Édipo

Da mitologia grega para o divã, Freud empresta de Sófocles a tragédia Édipo Rei para contar
sobre a realização de nossos próprios desejos infantis.

Inspirado na lenda do rei Édipo, Freud encontra uma confirmação “cujo poder profundo e
universal de comover só pode ser compreendido se a hipótese que propus com respeito à
psicologia infantil tiver validade igualmente universal” (FREUD, 1900 p. 178). Freud tomou como
referência a narrativa do dramaturgo Sófocles, que por volta de 427 A.C, se baseou no mito
grego para escrever a famosa tragédia Édipo Rei.

Édipo, filho de Laio, Rei de Tebas, e de Jocasta, foi enjeitado quando criança
porque um oráculo advertira Laio de que a criança ainda por nascer seria o
assassino de seu pai.
A criança foi salva e cresceu como príncipe numa corte estrangeira, até que,
em dúvida quanto a sua origem, também ele interrogou o oráculo e foi alertado
para evitar sua cidade, já que estava predestinado a assassinar seu pai e receber
sua mãe em casamento. Na estrada que o levava para longe do local que ele
acreditara ser seu lar, encontrou-se com o Rei Laio e o matou numa súbita rixa.
Em seguida dirigiu-se a Tebas e decifrou o enigma apresentado pela Esfinge
que lhe barrava o caminho. Por gratidão, os tebanos fizeram-no rei e lhe deram
a mão de Jocasta em casamento. Ele reinou por muito tempo com paz e honra,
e aquela que, sem que ele o soubesse, era sua mãe, deu-lhe dois filhos e duas
filhas. Por fim, então, irrompeu uma peste e os tebanos mais uma vez
consultaram o oráculo. É nesse ponto que se inicia a tragédia de Sófocles. Os
mensageiros trazem de volta a resposta de que a peste cessará quando o
assassino de Laio tiver sido expulso do país.(FREUD,1900 p. 178)

O decorrer da tragédia é o processo de revelação. Freud compara os criativos adiamentos da


peça ao processo psicanalítico, onde Édipo é o assassino de Laio, mas também é filho deste
homem assassinado e de Jocasta. Diante da profecia cumprida, Édipo cega a si próprio e
abandona o lar.

Através da história do Rei Édipo, Freud (1900) nos mostra a realização de nossos próprios
desejos infantis e que o destino daquele personagem nos comove porque poderia ter sido o
nosso, teríamos nascido sob a mesma maldição que caiu sobre ele. Seria este nosso destino:
dirigir nossos primeiros impulsos sexuais a nossa mãe e o nosso primeiro ódio assassino ao nosso
pai.

A análise de conteúdos de sonhos levou Freud a esta compreensão sobre os desejos primevos
da infância, que se manifestam através do que é chamada de nossa alma secreta, a qual
podemos compreender como uma referência ao inconsciente através de manifestações oníricas
pois, embora esses desejos estejam reprimidos, ainda podem ser encontrados.

Da relação proposta entre a psicanálise e o mito descrito por Sófocles, emerge o Complexo de
Édipo, que nos possibilita observar suas fases e suas repercussões na construção da
subjetividade contemporânea.

Édipo e psicanálise
Ao tentar trazer a tona características do mito edipiano descrito pelos poetas, como a escolha
de objeto, em comparação com a vivência sexual infantil, Freud apresenta indícios do que
posteriormente viria a ser descrito como o Complexo de Édipo.

O centro desta alegoria se apoia no desejo da criança pela mãe e o ódio ao pai como um rival
que põe obstáculos ao seu desejo. Considera uma infidelidade o fato da mãe conceder ao pai e
não a ele.

Freud (1910) relata que a escolha de objeto de amor no homem está sempre relacionada a um
terceiro que será prejudicado, seja quando a mulher já possui um marido, ou tem má fama, ou
uma integridade sexual duvidosa, tal como ocorre com a mãe. Desta forma, busca salvar o objeto
amado. No caso da vivência da triangulação, o salvar a mãe aparece como lhe dar um filho que
é igual a ele, ou seja, vem através de tornar-se o pai, ou ser seu próprio pai.

O Édipo incide em uma crise sexual de desenvolvimento observável no comportamento das


crianças e uma fantasia inscrita no inconsciente-ID. É o pilar do arcabouço teórico que a
Psicanálise construiu para refletirmos quem somos, o adulto que nos tornamos hoje. É o mito
contemporâneo que nos desponta que o proibido universal do incesto nos aflige com
sofrimentos, angústias, desejos que vieram da infância até as vivências de hoje, na fase adulta.

Para NASIO (2007), são essas aflições da neurose que o analisando traz como queixa, ou seja, o
Édipo é tudo isso ao mesmo tempo: uma realidade, uma fantasia, um conceito e um mito.

“É a fantasia infantil agindo no inconsciente do paciente, duplicada pela


mesma fantasia, reconstruída, dessa vez, pelo profissional. Assim, só consigo
compreender o sofrimento que escuto em meus pacientes adultos ao supor-lhes
desejos, ficções e angústias vividas na idade edipiana” (NASIO, 2007, p. 14).

Édipo masculino

A princípio Freud compreende que a vivência do Édipo ocorreria de maneira similar para ambos
os sexos, não haveria diferenciação. O amor ao genitor do sexo oposto e a rivalidade com o do
mesmo sexo representaria um paralelismo na vivência edípica masculina e feminina.

Na relação entre o menino e a sua mãe, que seria seu primeiro objeto de amor, Freud descreve
que haveria uma intensificação dos impulsos amorosos do filho em relação a ela. Ele, ao
compreender a relação que existe entre os pais, torna o pai seu rival, uma vez que este estaria
ameaçando sua relação com a mãe. Neste triângulo o pai representa uma ameaça ao desejo
incestuoso pela mãe, o risco da castração vem como um castigo a este desejo, e a ameaça se
torna possível ao descobrir que as mulheres que não possuem pênis. A resolução do Édipo no
menino ocorre com o abandono do objeto de amor por medo da castração, havendo
dessexualização da mãe e identificação do pai como modelo de masculinidade. Esse processo
origina a internalizarão da lei como a proibição aos desejos incestuosos, dando início a
construção do Super-Eu.

Édipo Feminino

Antes do complexo de Édipo se iniciar na menina, a mesma vivencia um período em que nutre
um desejo incestuoso de possuir a mãe, ao qual Freud denomina de pré-édipo. Nesta etapa a
menina tem a mãe como objeto amoroso. Quando se vê desprovida do pênis, e descobre que
sua mãe se encontra na mesma posição, a menina se decepciona, atribuindo à mãe ódio por sua
incompletude e desprovimento de poder, voltando-se para o pai, detentor do falo e que poderá
restituí-la, tornando-a completa (FREUD, 1931).

É neste momento que o Édipo propriamente dito se inicia, dividindo-se em três fases. A primeira
fase é a fantasia da dor da privação, pois o apêndice visível do menino mostra para ela que sua
onipotência vaginal e clitoridiana se torna nula frente ao órgão visível do menino. Agora o falo
está no outro. Na segunda fase a menina se volta para o pai, o grande detentor do falo e solicita
a ele que lhe dê o falo, mas ele se recusa a dar e a menina constata que nunca o terá. Neste
momento a inveja transforma-se em desejo, pois não busca mais possuir o falo e sim ocupar o
seu lugar para o pai. A partir deste momento a menina se identifica com a mãe enquanto mulher
desejada e modelo de feminilidade. A última fase é caracterizada pela resolução do Édipo. Após
a recusa do pai, a menina o dessexualiza. Esta passa a ter na figura do pai seu exemplo e torna-
se mulher, parte em busca do seu parceiro. Ela deixa a idealização do falo, e descobre a vagina
e o útero e passa a desejar um filho do amado (NASIO, 2007).

Textos base:

CECCARELLI, P. R. A patologização da normalidade. Estudos de Psicanálise, n.33, p.125-136,


2010.
FREUD, S. Um tipo especial de escolha de objeto feita pelo homem (1910). In: Obras completas,
vol. 9.: Observações sobre um caso de neurose obsessiva [“O homem dos ratos”], uma
recordação da infância de Leonardo da Vinci e outros textos (1909-1910)/ Freud, S. Tradução de
Paulo César de Souza. 1° ed. São Paulo. Companhia das Letras. 2013, p. 334-346.
FREUD, S. Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise
I). Obras completas, v. XII. Imago. 1913, p. 139-158, .
FREUD, S. Luto e Melancolia (1917[1915]). In: Introdução ao narcisismo, ensaios de
metapsicologia e outros textos (1914-1916) – Obras completas, vol.12. Tradução de Paulo César
de Souza. São Paulo. Companhia das Letras. 2010, p. 170-194.
FREUD, S. A identificação (1921). In: Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos (1920-
1923). Obras completas, vol. 15. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Companhia das
Letras. 2011, p. 60-68.
FREUD, S. O Eu e o Id (1923). In: O Eu e o Id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925)– Obras
completas, vol. 16. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Companhia das Letras. 2011,
p. 13-74.
FREUD, S. A interpretação dos sonhos; Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, Vol. 4, 5;. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.
FREUD, S. Sexualidade feminina. Obras completas, vol.12. Tradução de Paulo César de Souza.
São Paulo. Companhia das Letras. 2010
Aula 11 Édipo e Neurose

O sofrimento gerado pela tragédia que denominamos complexo de Édipo anuncia os caminhos
que levam à neurose, a primeira neurose saudável na vida de um sujeito.

Édipo na contemporaneidade e sua relação com a Neurose

Ceccarelli (2010) afirma que só é possível avaliar o Complexo de Édipo dentro do momento
sócio-histórico e da organização simbólica dos afetos que é vivenciada pelo sujeito, ainda que
se trate de uma vivência universal e atemporal para o ser humano, delimitado pela singularidade
das normas e sanções sociais advindas deste conjunto. Desta forma, o padecimento psíquico
apresenta marcas da sociedade e de seu momento sócio-histórico.

A neurose é um sofrimento psíquico acirrado pela convivência de emoções conflitantes de amor,


ódio, medo e desejos incestuosos para a pessoa que se ama e que também depende. Ou seja, o
Édipo é a própria neurose, sendo a primeira neurose saudável na vida de um sujeito, a segunda
vivida como crise na adolescência como uma atualização do Édipo. Tudo habita na discrepância
entre um eu infantil em constituição e um efeito, afluência do desejo transbordante. O empenho
do Eu para dominar e assimilar o arrebatamento do desejo traduz-se na criança por sentimentos,
palavras e comportamentos conflitante em relação aos seus pais (NASIO, 2007).

A relação estabelecida com os pais, ainda que ambivalente servirá como base para a
personalidade do sujeito na fase adulta, atuando como um protótipo das relações amorosas
a serem estabelecidas ao longo da vida.

Assim descrevemos que os conflitos mais habituais e inevitáveis com quem nos cerca são
aproximadamente reflexos de nossa neurose infantil conhecida como complexo de Édipo.
Conflito esse que vêm daqueles que amamos e desejamos de forma incestuosa. A nossa neurose
atual é instigada pela incoerência de alcançar ou impedir nossos impulsos incestuosos durante
o período edipiano perpetuando como traumas.

Nasio (2007) destaca que esses traumas infantis serão a causa de uma neurose mórbida que se
abriga na adolescência e prossegue na idade adulta. Em resumo, se apresentam em duas
grandes possibilidades do retorno neurótico do Édipo na idade adulta: a neurose ordinária e a
neurose mórbida.

A neurose ordinária incide no conflito que vêm daquelas que amamos, e continuamos
desejando-os. Essa neurose cotidiana é ajustada com uma vida socialmente aberta e criativa,
resulta na dessexualização dos pais edipianos.

Outro tipo de distúrbio neurótico é a neurose mórbida e patológica, marcadas por


manifestações de sintomas cíclicos que restringe o sujeito em uma solidão narcísica e doentia.
Esse sofrimento seja fóbico, obsessivo ou histérico, advém de traumas na fase edipiana ou
fantasias, como um abandono real ou imaginário, que aborrece e angústia a criança.

O Édipo que falamos é uma lenda-mito que esclarece a raiz de nossa identidade sexual de
homem e mulher e, além disso, a raiz de nossos sofrimentos neuróticos. Essa lenda-mito abarca
todas as crianças, convivam em uma família clássica, monoparental, refeita ou, ainda,
desenvolvem no seio de um casal homossexual, ou ainda, sejam crianças abandonadas, órfãos
e adotadas pela sociedade. Nenhuma criança escapa ao Édipo! Por quê? Porque nenhuma
criança de quatro anos, menina ou menino, escapa à corrente das pulsões eróticas que lhe
ocorrem e porque nenhum adulto de seu meio adjacente pode impedir ser o escopo de suas
pulsões ou tentar dificultá-las. (Nasio, 2007).

A simbolização para o trabalho em psicoterapia não é racional e nem intelectual e sim de uma
grande entrega dos sentimentos, dos conflitos internos do paciente, de simplesmente falar, de
dizer, de deixar-se dizer, de colocar para fora suas vivências. Esta demonstração é individual e
promove vários significados e abrir caminhos para o sentido. Podemos pensar sobre os conflitos
vivenciados na fase edipiana e a sua simbolização que emergem durante a relação psicoterápica
e nela o discurso do paciente se desenvolve.

Contudo, em alguns momentos, devido a diferentes demandas do analisando, o paciente pode


resistir, não desenvolvendo seu discurso. Ainda assim, no contexto Setting se apresentam
diversas situações que requerem que o analista deixe o paciente falar independentemente de
onde iniciará, como: história de vida, história de sua doença ou lembranças de infâncias (FREUD,
1913).

Textos bases:

CECCARELLI, P. R. A patologização da normalidade. Estudos de Psicanálise, n.33, p.125-136,


2010.
FREUD, S. Um tipo especial de escolha de objeto feita pelo homem (1910). In: Obras completas,
vol. 9.: Observações sobre um caso de neurose obsessiva [“O homem dos ratos”], uma
recordação da infância de Leonardo da Vinci e outros textos (1909-1910)/ Freud, S. Tradução de
Paulo César de Souza. 1° ed. São Paulo. Companhia das Letras. 2013, p. 334-346.
FREUD, S. Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise
I). Obras completas, v. XII. Imago. 1913, p. 139-158, .
FREUD, S. Luto e Melancolia (1917[1915]). In: Introdução ao narcisismo, ensaios de
metapsicologia e outros textos (1914-1916) – Obras completas, vol.12. Tradução de Paulo César
de Souza. São Paulo. Companhia das Letras. 2010, p. 170-194.
FREUD, S. A identificação (1921). In: Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos (1920-
1923). Obras completas, vol. 15. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Companhia das
Letras. 2011, p. 60-68.
FREUD, S. O Eu e o Id (1923). In: O Eu e o Id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925)– Obras
completas, vol. 16. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo. Companhia das Letras. 2011,
p. 13-74.
FREUD, S. A interpretação dos sonhos; Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, Vol. 4, 5;. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.
FREUD, S. Sexualidade feminina. Obras completas, vol.12. Tradução de Paulo César de Souza.
São Paulo. Companhia das Letras. 2010
Aula 12 O Ics
O inconsciente é o que está ausente no campo da consciência e que pode ser sentido pela sua
falta, falta que Freud identificou durante suas experiências na clínica nos esquecimentos de seus
pacientes.

O Inconsciente - A Ferida Narcísica da Humanidade

Durante toda a obra freudiana é constantemente encontrada a formulação e retomada de


teorias acerca das formas de expressões do inconsciente. Ao se deparar com conteúdos que
estavam fora da consciência, e assim fora do acesso do analisando, estas teorias buscavam
formas de identificá-los para além do método hipnótico. Para Freud era possível identificar na
fala dos pacientes estes conteúdos na forma de atos falhos, equívocos de memória e linguagem,
e esquecimentos, ligando-os a atuação de fortes pensamentos inconsciente.

O sonho, também como um processo psíquico, foi estudado mais a fundo se tornando uma das
principais colunas da obra freudiana, chegando à fórmula geral: “O sonho é a realização
disfarçada de um desejo reprimido” (Freud, 1913). O estudo da interpretação dos sonhos presta
uma valiosa ajuda na técnica psicanalítica, construindo um método para penetrar na vida
psíquica inconsciente.

A investigação iniciada por Freud através da subjetividade humana e a busca em compreender


seu adoecimento nos leva a deparar com a complexidade que empregou esforços a desvendar.
Ao encontrar obstáculos e mecanismos de defesa, descobre a capacidade dos conteúdos se
deslocarem, converteram e se transformarem. Ao tempo em que vai dando espaço para a fala,
vai abrindo um caminho rumo ao desconhecido.

Um acesso ao desconhecido

O método psicanalítico de investigação buscava formas de acesso aos indícios de conteúdo que
estariam presentes na psique, mas não de forma consciente. A tese da existência destes
conteúdos tornou-se mais forte durante os diversos estudos de pacientes em estado hipnótico,
para Freud, “uma ideia inconsciente é uma ideia que não notamos, cuja existência estamos
dispostos a aceitar, com base em indícios e provas” (Freud, 1912).

Em busca da causa dos sintomas que acometem os pacientes Freud se depara com o
desconhecido, uma nova possibilidade a ser explorada: a existência de conteúdos inconscientes
que estariam ativos agindo no surgimento destes sintomas. As evidências encontradas deram
um novo e amplo sentido ao sofrimento humano.
Ao introduzir a noção de inconsciente, Freud coloca o que é dito pelo paciente em um espectro
mais amplo, para além da palavra enunciada conscientemente. O inconsciente busca ser
escutado, ter seus desejos satisfeitos, comunicando-se por meio de complexas formações:
sonhos, sintomas, lapsos, chistes, atos-falhos; fenômenos que apontam para esse
“desconhecido” que habita o sujeito (Macedo & Falcão, 2005).

Na busca de tratá-las, com diversas tentativas desde o uso da hipnose até chegar à associação
livre, o acesso ao inconsciente e a possibilidade de escutá-lo.
O que está em foco não é mais um sujeito sob hipnose, mas a fala consciente com suas lacunas
a serem escutadas, dando lugar à narrativa do sujeito e da sua história, contextualizando e
inserindo um cenário para sua dor, solicitando que a sua história seja levada em conta.

O trabalho do analista (arqueólogo) é reconstruir a história a partir de fragmentos encontrados


no discurso. Reconstruir e dar sentido. Freud compara o trabalho do analista ao arqueólogo que
utiliza de fragmentos para cuidadosamente remontar e a apresentar a história ao analisando e
juntos a construção em análise é feita.

Segundo Garcia-Roza (1984), a psicanálise não coloca em cheque o sujeito da verdade, mas
verdade do sujeito. Pergunta o porquê da recusa dos desejos rejeitados pela sua consciência
através dos fenômenos de defesa, as formas que o ego encontra de se proteger de uma
representação desagradável.

Ainda este autor afirma que, ao se fazer uso da psicanálise sem a hipnose o analista encontra
resistência ao trabalho de análise que anteriormente estava oculta. Ao tentar entrar em contato
com conteúdo que teriam causado os sintomas, os pacientes esbarravam com uma resistência,
ideias de natureza aflitiva, capazes de despertar emoções de vergonha, autocensura e de dor
psíquica.

Compreender que o que cabe ao analista é ouvir o sujeito, sua história e o que nela é dor; e
ainda, que quando livres de classificações ou rótulos, os lapsos, sonhos, repetições e sintomas,
revelam-se enfim, formas de subjetividade que abrem espaços de singularidade. Considerar a
psique como um sistema que possui uma organização determinada, mas que pode transformar-
se e adquirir novas propriedades, como o faz produzindo e reproduzindo continuamente a
história do sujeito, implica colocar a escuta em um campo intersubjetivo, ou seja, no campo da
transferência.

“Desde a primeira sessão a história oficial é confrontada com aquela que o analista
ajuda a construir, analisando as formações de compromisso. os testemunhos do
passado são os sintomas, as transferências, as repetições, as formações de caráter, os
sonhos e também as recordações” (HORNSTEIN, 2003 apud MACEDO & FALCÃO,
2005).

Cabe ao analista escutar o sujeito em sua totalidade e, a partir do que é apreendido, aplicar as
técnicas que cabem no momento, pois a teoria psicanalítica não pode ocupar o lugar da história
de vida do paciente. Ainda assim, justifica-se a importância dos suportes teóricos que sustentam
a práxis do analista. (Macedo & Falcão, 2005).

Embora analista e analisando compartilhem deste processo, não existe uma relação de
igualdade entre eles. Essa assimetria necessária advém da capacidade de escuta do analista: A
escuta que mantém a transferência, mas não se confunde com ela, e não cede à solicitação do
paciente, impedindo uma satisfação substituta do desejo, o que abre possibilidade para sua
ressignificação.

Textos base:

FREUD, Sigmund. Princípios básicos da psicanálise. Observações psicanalíticas sobre um caso


de paranoia relatado em autobiografia (" O Caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros
textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. Algumas observações sobre o conceito de inconsciente na
psicanálise. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia
(" O Caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Jorge Zahar Editor Ltda, 1984.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes Editora
Ltda, 1970.
MEDEIROS KOTHER MACEDO, Mônica; NEUMANN DE BARROS FALCÃO, Carolina. A escuta na
psicanálise e a psicanálise da escuta. Psychê, v. 9, n. 15, 2005.
Aula 13 Primeira tópica freudiana
A primeira estrutura do aparelho psíquico elaborada por Freud para explicar seu funcionamento.

Primeira tópica

A primeira tópica é a topologia do aparelho psíquico, para uma demonstração do funcionamento


da psiquê. O autor identificou três instâncias do aparelho psíquico para explicar seu
funcionamento: o Pré-Consciente, Consciente e Inconsciente.

A primeira tópica é apresentada no capítulo VII da Interpretação dos sonhos, aqui usaremos os
comentários de Garcia-Roza além do trabalho de Freud.

Essa declaração de fé numa explicação “psicológica” dos fenômenos psíquicos exclui qualquer
possibilidade de vermos os “lugares” a que se refere Freud, como sendo lugares anatômicos,
físicos ou neurológicos.
Podemos concordar com a suposição de que essa teoria dos lugares psíquicos foi sugerida pelo
contexto científico da época, que tentava, a todo custo, encontrar lugares anatômicos para os
distúrbios mentais e para os fenômenos psíquicos normais. A doutrina das localizações
cerebrais, assim como os estudos sobre a afasia, são exemplos proeminentes desse tipo de
postura teórica. No entanto, a tópica freudiana escapa a esse tipo de empreendimento, já que
os lugares de que ela trata não são lugares físicos, não podem ser localizados anatomicamente
e não possuem nenhuma realidade ontológica. Podemos mesmo dizer que a tópica freudiana
importa menos pelos lugares que ela estabelece do que pela direção do funcionamento do
aparelho (GARCIA-ROZA, 1987).

A importância maior do caráter orientado do funcionamento do aparelho psíquico pode ser


avaliada pela afirmação de Freud de que

“não há necessidade de hipótese de que os sistemas psíquicos sejam realmente dispostos numa
ordem espacial. Seria suficiente que fosse estabelecida uma ordem fixa pelo fato de, num
determinado processo psíquico, a excitação passar através dos sistemas numa sequência
temporal especial. (op. cit., p. 573)”

Metapsicologia - descreve um processo psíquico em suas relações - topológica, dinâmica,


econômica e a gênese (histórico do desejo).

Texto base:
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago; 1987.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Zahar, 1987.
Aula 14 Segunda tópica freudiana

A segunda estrutura do aparelho psíquico elaborada por Freud como uma complementação da
primeira, que abrangeria suas novas descobertas sobre o funcionamento psíquico

Segunda Tópica

Escrito por Freud em 1923, o texto retoma os pensamentos que o autor iniciou anteriormente
em seu trabalho Além do Princípio do Prazer, de 1920. Retoma concepções acerca da definição
de Consciente e Inconsciente como premissa básica da psicanálise. A partir da elaboração do
conceito de Inconsciente, originado da teoria da repressão, Freud busca compreender a
dinâmica psíquica, pois para ele, o reprimido seria o protótipo do Inconsciente.

O autor identificou três instancias do aparelho psíquico para explicar seu funcionamento: o Pré-
Consciente, Consciente e Inconsciente. No decorrer do trabalho Freud verifica que essas
diferenciações são insuficientes na prática e passa a formar a idéia de uma organização coerente
dos processos psíquicos na pessoa e a denomina de Eu, que estaria ligado à consciência,
dominando o acesso ao mundo externo e agindo sobre as percepções e repressões. As
repressões partiriam desse Eu, que escolhe o que permanece e o que é excluído da consciência
e de outras atividades psíquicas.

A consequência destas descobertas para a prática psicanalítica foi a redução de inúmeras


dificuldades e obscuridades, facilitando a compreensão das relações estruturais da vida psíquica
e outras ainda mais significativas. Freud afirma que todo reprimido é inconsciente, mas nem
todo inconsciente é reprimido, e que haveria uma parte do Eu que seria inconsciente, havendo
uma ambiguidade no Eu.

O texto prossegue com o capítulo denominado O Eu e o Id, onde o autor enfatiza o Eu e sua
ambiguidade, iniciando sua discussão pelo que seria a superfície da psique, a consciência, e
como se dá seu funcionamento no processo interno de deslocamento dessas energias.
Freud faz referência ao trabalho de Georg Groddeck que trouxe a idéia de que o Eu se conduz
de modo essencialmente passivo e que somos “vividos” por poderes desconhecidos e
incontroláveis e que isso aconteceria de forma inconsciente. Freud propõe nomear essa
entidade de Id. Podemos observar que Freud aos poucos nos apresenta a elaboração do
aparelho psíquico. Até aqui temos o Eu, que representado pela razão; e o Id, que em oposição
representa as paixões.

O autor dá continuidade a esta apresentação no capítulo nomeado O Eu e o Super-Eu, supondo


a existência de uma diferenciação que estaria no interior do Eu, já havia citado em outros
trabalhos (com o nome de Instância Crítica no texto Luto e Melancolia de 1915), à qual é dado
o nome de Super-Eu ou Ideal do Eu, que teria sua origem na primeira e mais significativa
identificação do indivíduo com o pai da pré-história pessoal, construído a partir da dissolução
do Complexo de Édipo. Para o autor o Super-Eu seria herdeiro do Complexo de Édipo.

Mais adiante, no capitulo Duas Espécies de Instinto (na tradução utilizada nesta resenha
encontramos instinto no que seria pulsão), o autor nos apresenta dois tipos de força que atuam
na dinâmica psíquica: as pulsões sexuais (Eros), que tem como objetivo de conservar a vida e
trazendo complexidade; e o instinto de autoconservação do Eu, pulsão de morte, que tem a
tarefa de conduzir o organismo ao estado inanimado, a vida seria a luta entre essas duas forças.
Freud finaliza o texto com o capítulo As relações de dependências do Eu, retomando assuntos
já tratados sob novos aspectos, mostrando o Eu em diferentes relações, trazendo maior nitidez
aos conceitos. Entre as relações de dependência do Eu, a mais interessante é talvez aquela com
o Super-Eu, destacando a força que este pode desempenhar sobre o Eu, este seria sede da
angústia tendo em vista que o Eu estaria ameaçado de perigo por três direções externas e
internas (Id e Super-Eu). E o autor expõe problemas difíceis para a psicanálise, que até este
ponto não possui um conceito abstrato de teor negativo, como o perigo sentido pelo Eu
(angustia), medo de morte ou aniquilação.

E Freud convida o leitor a imaginar como se daria o processo de dominação das pulsões de vida
e morte, onde a pulsão de morte busca calar Eros, mas Eros este estraga o sossego trazendo a
incomoda pulsão de vida. Neste texto tivemos o esclarecimento topológico e dinâmico do
aparelho psíquico, mas que ainda gerem algumas dúvidas quanto ao seu funcionamento
econômico.

Ego/Eu (FREUD, 1923-1925. pág. 31) - O eu é aquela instância que supervisiona todos os
processos parciais que ocorrem na pessoa. É a instância que a noite vai dormir, mesmo
dormindo, ainda detenha o controle da censura onírica. É também desse Eu que procedem os
recalques, fazendo com que determinadas tendências psíquicas sejam excluídas, não só da
consciência, mas também impedindo-as de agir por outro meio.
Obs. É exatamente com aquilo que o recalque pôs de lado que o Eu terá que se confrontar
durante a análise, durante a análise o doente tem dificuldades de seguir na cadeia associativa,
encontrando-se sobre o domínio da resistência, pois ele nada sabe a respeito, ainda que com
seus sentimentos de mal estar, com a resistência em curso não saberia nomear, apontar. Assim
nos deparamos com uma parte do Eu que é Ics, algo que se comporta como recalcado, sem se
tornar Cs pode trazer consequências a psique.

Agora o Ics não mais coincide com o recalcado - Todo recalcado é Ics mas nem todo Ics é
recalcado.

Texto base:

FREUD, Sigmund. O Eu e o Id; Autobiografia e outros textos (1923-1925). São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
Aula 15 - Além do princípio do prazer – Introdução

Um marco na psicanálise que explica o início do desenvolvimento da vida psíquica a partir da


infância e suas primeiras vivências.

O primeiro modo de funcionamento psíquico na infância tem como base o princípio do prazer.
Um bebê recém-nascido em seus primeiros meses de vida depende integralmente da
mãe/cuidador, suas demandas para serem sanadas dependem dessa pessoa e da relação
mãe/bebe. Demandas orgânicas Fome, sede, frio. E os impulsos internos, nesse momento o
bebê já teve sua primeira experiência de satisfação, e segue em busca de revivê-la (chuchar).

Não existe uma tolerância ao desprazer, as perturbações internas e externas são sentidas como
ameaças a vida da criança, a criança não sabe comunicar o que está sentindo, não sabe falar,
dores estranhas e sem nome, ainda não possui o domínio da linguagem (Lacan), o choro é sua
forma de comunicação na esperança de ter suas demandas sanadas.

Aos poucos a criança caminha rumo para o princípio de realidade, quando a criança consegue
esperar, com o adiamento da satisfação e aceitação temporária do desprazer.

O processo de desenvolvimento psíquico e orgânico caminham juntamente, a dependência


integral, sua inserção na linguagem, domínio do corpo e a percepção de si, diferente da mãe.
Freud nos esclarece:

O princípio do prazer é um modo de funcionamento primário do aparelho psíquico.


Posteriormente, frente às dificuldades do mundo externo e devido aos instintos de
autoconservação do Eu, ocorre a substituição pelo princípio da realidade,
possibilitando a aceitação do desprazer temporário, uma espécie de rodeio para chegar
ao prazer. Essa substituição, porém, não anula o objetivo do aparelho psíquico na
busca do prazer ou na evitação do desprazer. Pode-se dizer que permanece na psique
uma forte tendência ao princípio do prazer que se opõe a determinadas forças, de
modo que o resultado final nem sempre corresponde à tendência ao prazer (FREUD,
1920).

Texto base:

FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”): além do princípio
do prazer e outros textos (1917-1929). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Aula 16 Além do princípio do prazer

A descrição do fator topológico e ao dinâmico do aparelho psíquico, levando em conta o fator


econômico do princípio do prazer.

Neste texto o autor faz uma descrição do fator topológico e ao dinâmico, levando em conta o
fator econômico do princípio do prazer. O princípio do prazer é um modo de funcionamento
primário do aparelho psíquico, e por influência dos instintos de autoconservação do Eu, o
princípio do prazer é substituído pelo princípio da realidade.

Na primeira parte do texto o autor faz especulações na tentativa de descrever e dar conta do
que vinha observando em suas pesquisas. Até então a compreensão do funcionamento do
aparelho psíquico através da relação entre o prazer e o desprazer relacionando com a
quantidade de excitação, onde o desprazer corresponde a um aumento de excitação, e o prazer
seria a diminuição dessa quantidade de estímulo, sendo que o aparelho psíquico se empenha
em conservar a quantidade de excitação nele existente o mais baixa possível, ou ao menos
constante, e tudo que tem a capacidade de aumenta-la é percebido como disfuncional, ou seja,
desprazeroso.

Após a substituição pelo princípio da realidade é possível acontecer o adiamento da satisfação


e a aceitação temporária do desprazer, a própria substituição é uma experiência dolorosa.
O autor afirma que a maior parte do desprazer que sentimos é desprazer de percepção, seja
por instintos insatisfeitos ou percepção externa, que é dolorosa em si ou que provoca desprazer
no aparelho psíquico.

Segundo o autor, as formas de desprazer descritas não dão conta de todas as nossas vivências
desprazerozas, e segue admitindo uma maior limitação do princípio do prazer e que as reações
psíquicas estímulos externos podem fornecer um novo material e novas colocações sobre o
problema.

Freud propõe a lançar luz sob o fenômeno das “neuroses traumáticas”, pois nesse período ainda
não se obtivera uma compreensão nem das neuroses de guerra e nem das neuroses traumáticas,
o que o leva a percorrer esse caminho é a ocorrência de sonhos numa neurose traumática têm
a característica de que o doente sempre retorna à situação do acidente, da qual desperta com
renovado terror. Sendo que sua a compreensão sobre o sonho seria a realização do desejo,
restando acreditar que nesse estado o sonho estaria desviado da sua função, e sonhos que
rememoram constantemente situações traumáticas em que mostra uma repetição do trauma,
tendo em vista que o sonho seria o caminho mais seguro para uma investigação dos processos
psíquicos profundos.

Neste ponto o autor nos convida a olhar para a repetição de situações traumáticas a partir da
descrição de uma brincadeira infantil, pois ao observar a brincadeira de uma criança de 18
meses, em que a criança lança fora (fort) um brinquedo e depois o trás de volta (da). Freud
identifica uma encenação do momento em que a mãe se afasta da criança e seu retorno, e ao
constante repetição da brincadeira e principalmente o da saída da mãe, dentre as possibilidades
de teorias a respeito desta brincadeira infantil, o que a repetição demostra é a tentativa de uma
elaboração da vivência dolorosa, onde a criança busca estar ativo e ter controle daquilo que lhe
cauda dor e que a há caminhos para tornar o objeto de recordação e elaboração psíquica o que
é em si desprazeroso.
Como o texto propõe é pensar o que além do princípio do prazer, o que estaria fora do campo
de compreensão do que causa o desprazer que o conhecemos, que comprovaria algo que foge
do campo do princípio do prazer, o que parece mais primitivo e seria independente.

O autor nos leva a outra perspectiva acerca de suas investigações e de sua experiência na
prática, onde a partir da clínica psicanalítica onde o paciente é levado a repetir o reprimido
(trauma) na relação com o médico. Aqui Freud expõe a fim de compreender a “compulsão a
repetição” manifesta durante o tratamento analítico pelos neuróticos, e que o inconsciente ou
o reprimido não promove resistências aos esforços terapêuticos, mas que procura abrir caminho
rumo a consciência para uma descarga na ação real. A busca em justificar a hipótese da
compulsão a repetição, qual sua função e ao que corresponde e qual a sua relação com o
princípio do prazer.

Freud usa do funcionamento econômico para explicar o funcionamento e topológico e como


ocorre o prazer-desprazer, e como estímulos externos e internos agem no aparelho psíquico, e
que nesta instância de processos Inconsciente são atemporais, portanto, não são ordenados
temporalmente, que o tempo não modifica a ideia, então conteúdos traumáticos podem ser
vivenciados na mesma intensidade em que foram sem interferência temporal. Pois haveria um
sistema de proteção contra esses estímulos potencialmente traumáticos, e que a neurose
traumática seria uma ruptura da proteção contra estímulos. E sua investigação segue acerca dos
eventos traumáticos que se repetem através de sonhos que não seriam a realização de um
desejo, mas sim obedecendo compulsão a repetição, nesse ponto o autor admite pela primeira
vez que existe exceções em que o sonho não é a realização do desejo e esses seriam os sonhos
dos neuróticos traumáticos.

Texto base:

FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”): além do princípio
do prazer e outros textos (1917-1929). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Aula 17 Eros e Thanatos

As forças que movimentam a vida psíquica, principal de propulsão e manutenção de vida.

Contextualização:

Primeira Guerra mundial - Freud vivencia a primeira guerra (1914-1918) com sua força mortífera
se volta para a ideia de morte, estudos sobre as neuroses de guerra, havendo uma reorientação
para contemplar uma categoria de pensamentos e sentimentos humanos que escapavam ao
alcance do entendimento.

Temos o Freud Cientista, biologista, darwinista, evolucionista, que passa a faz considerações
atuais sobre a guerra, diante da desilusão causada pela guerra , da atitude perante a morte
temos um outro momento da obra que deixa de lado as ideias evolucionistas e temos um Freud
antropologista, sociólogo que se ocupa da sociedade, cultura, religião e política que vemos nos
trabalhos posteriores como em, Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921/2001), O Futuro
de uma Ilusão (1927/2004d), O Mal - Estar na Cultura (1929/2004c) e Porque a Guerra?
(1933/2004b).

A ideia de uma evolução humana vai se afastando e dando lugar a uma dualidade que vem se
apresentando e ocupando espaço nos trabalhos, amor e ódio, vida e morte.

Com conceitos sobre:

Pulsão: Fronteira entre o mental e o somático, representante psíquico dos estímulos que se
originam dentro do organismo e alcançam a mente (pulsões e suas vicissitudes); força motriz
que impulsiona.

Em além do princípio do prazer o autor nos diz que é uma força impelente/impulsiona
internamente o organismo vivo que visa restabelecer um estado anterior que o ser vivo precisou
abandonar devido a influência de forças externas.

A partir dessas construções ocorre um embate: a ânsia conservadora e o desejo por crescimento
em direção aos elementos inéditos apresentados pela exterioridade.

Freud apresenta duas ideias sobre as pulsões. Duas espécies de pulsões a serem diferenciadas,
a mais visível e mais acessível:

Pulsão sexual ou Eros: Por pulsão sexual devemos entender não apenas pulsões sexuais
propriamente ditas, as quais atuam sem inibição na busca por meta sexual, mas também as
pulsões delas derivadas. Fazendo referência às moções pulsionais sexuais sublimadas, ou, como
denominamos, pulsões sexuais inibidas em sua busca pela meta. Além disso devem ser incluídas
as pulsões de autoconservação; também elas pertencem ao Eu.

E continua sua construção nos apresentando a pulsão de morte: tem como missão conduzir a
vida orgânica de volta ao estado inanimado, visa a estabilidade da economia psíquica através de
uma manutenção conservadora de estado inanimado contrapondo-se à pulsão de morte, a
pulsão de vida, Eros, teria como meta amalgamar cada vez mais partículas fragmentadas da
substância viva, dando à vida uma forma mais complexa e, assim, preservando-a.
Desse modo, podemos dizer que as pulsões se conduzem, no sentido de mais estrito do termo,
de forma conservadora, pois ambas visam o restabelecimento de um estado que foi perturbado
pelo surgimento da vida. Assim, tanto o empenho em prosseguir lutando pela vida, como a
nostalgia pela morte, devem-se ao próprio brotar da vida (pág. 49/50).

Textos base:

DE CARVALHO, Maura Cristina; LAZZARINI, Eliana Rigotto. Pulsão de morte e (re) criação: entre
o mal-estar na civilização e a “dádiva do outro”. Revista Crítica Cultural, v. 14, n. 1, p. 71-80,
2019.
FREUD, Sigmund. O Eu e o Id; Autobiografia e outros textos (1923-1925). São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
Aula 18 Pulsões e seus Destinos
Os possíveis destinos das pulsões de vida e morte que movimentam o aparelho psíquico.

A Pulsão - tem sempre como objetivo/meta a satisfação e objeto pode ser o próprio corpo ou
fora/outro – eliminar o desprazer

Para uma caracterização geral dos instintos sexuais podemos dizer o seguinte: eles são
numerosos, originam-se de múltiplas fontes orgânicas, atuam de início independentemente uns
dos outros, e apenas bem depois são reunidos numa síntese mais ou menos completa (pág. 33).

A meta que cada um deles procura atingir é o prazer do órgão; somente após efetuada a síntese
eles entram a serviço da função reprodutiva, tornando-se geralmente reconhecidos como
instintos sexuais.

Ao aparecer, apoiam-se inicialmente nos instintos de conservação, dos quais se desligam apenas
aos poucos, e seguem também na busca de objeto os caminhos que lhes mostram os instintos
do Eu. Uma parte deles a vida inteira associada aos instintos do Eu, dotando-os de componentes
libidinais, que na função normal são facilmente ignorados, e apenas quando há doença surgem
claramente. Caracterizam-se pelo fato de poderem, em larga medida, agir vicariamente uns
pelos outros, e trocar facilmente seus objetos. Devido a esses atributos, são capazes de
realizações que se acham bem afastadas de suas originais ações dotadas de objetivo.

Nossa investigação referente às vicissitudes que os instintos podem experimentar no curso da


evolução e da vida terá que se limitar os instintos sexuais, que conhecemos melhor. Eis o que a
observação nos ensina a reconhecer como destinos dos instintos:

● A reversão no contrário
● Conversão de conteúdo
● Atividade-passividade
● Sadismo-masoquismo/ voyeur- exibicionista - amor e ódio.
● O voltar-se contra a própria pessoa
● Masoquismo como um sadismo que se voltou contra o próprio Eu
● A repressão (Aula 5)
● A sublimação: processo civilizatório , reconhecimento social cultura- arte

Texto base:

FREUD, Sigmund. As pulsões e seus destinos–Edição bilíngue. Autêntica, 2016.


Aula 19 Estruturas Clínicas
Neurose, Psicose e Perversão são formas de funcionamento psíquico.

A identificação das estruturas são Modos de estar na linguagem - modos de funcionamento e


de interpretação do mundo. Não são diagnósticos, na maioria das vezes não se apresentam de
forma “pura”, integral nas suas características.

Neurose - dúvida - faz sintoma

A neurose seria o resultado de um conflito entre o Eu e o Id

Na recusa do Eu em acolher demandas pulsionais vindas do Id e transformá-las em ação motora,


a resistência do conteúdo recalcado, toma como um representante para lhe servir como
substituto, providencia um sintoma, esse sintoma se impõe como uma formação de
compromisso. Ao se sentir ameaçado e tendo danos por conta do conteúdo intruso o Eu passa
a lutar contra o sintoma, esse processo resultará em um quadro de neurose

Neurose Histérica- corpo

Neurose Obsessiva- pensamento - homem dos ratos


impossibilidade de satisfação de desejo
necessidade de controle, formação reativa, regras internas
racionalização excessiva como tentativa de controle em análise
Neurose Fóbica - direcionada a um objeto

Psicose - certeza - delírio

A psicose seria o resultado de uma perturbação entre o Eu e o mundo externo

Situadas sob a égide da foraclusão do Nome-do-Pai, elas apresentam diferenças clínicas que
demandam a verificação de sua diferença na estrutura.

Essa distinção está presente desde sua descrição na psiquiatria clássica: enquanto na
esquizofrenia preponderam os distúrbios da associação de idéias (Bleuler), na paranóia
predominam as interpretações (Sérieux et Capgras).

No registro do Imaginário – âmbito do narcisismo, isto é, da imagem, do eu e do sentido – há


“regressão”, segundo Freud, ao auto-erotismo no caso dos esquizofrênicos e ao narcisismo na
paranóia.

No registro do Real, no que concerne ao gozo,verifica-se na esquizofrenia a fragmentação do


gozo do corpo, da fala e do pensamento – o gozo está disperso e tende a invadir todas as
instâncias sem enquadramento algum, de forma anárquica. Na paranóia, em contraposição, há
uma concentração do gozo no Outro, na figura do perseguidor, da pessoa amada ou odiada, do
traidor etc.

Esquizofrenia - corpo fragmentado - auto erotismo - dispersão no sentido


Paranoia - fixação na imagem do outro - paranóia prepondera a fixação à
imagem do outro (a-a’), o congelamento do sentido e a enfatuação do eu que
vai até a megalomania.
Mania-Melancolia - bipolar

Perversão fetiche - negação da castração - substituto


Sadismo - satisfação em infligir dor no outro
Masoquismo - satisfação em ter dor infligida por outro
Aula 20 Recordar repetir e elaborar
Percursos possíveis do tratamento e seus caminhos junto à transferência e a relação com o
analista.

Repetir, recordar e elaborar

Repetição é um conceito psicanalítico que deve ser levado em consideração na experiência da


clínica. Ocorre no início do processo analítico e permite sua continuidade através dos
desdobramentos na clínica.

Tendo como base os trabalhos de Freud Recordar, repetir e elaborar (1915) e Além do princípio
do Prazer (1920), abordaremos desde o modo como se constitui a sua forma de surgimento no
processo analítico até os possíveis usos terapêuticos como a transferência.

O processo de transferência funda a relação analítica, e se ela é um caso particular da repetição,


o tratamento psicanalítico só tem início quando o paciente produz uma repetição desse tipo
com o analista.

Neste artigo, pretendemos mostrar como a repetição pode se manifestar como processo
elaborativo na clínica psicanalítica, tomando como exemplos fragmentos de casos que
possibilitam uma visualização da repetição.

Clínica e repetição

A repetição faz parte do cotidiano. Durante toda a vida sempre estamos às voltas com posições
semelhantes as que já foram ocupadas em algum outro momento. Na psicanálise a repetição é
um conceito fundamental e surge frequentemente na relação analítica.

A partir de estudos de caso e da observação da vida cotidiana, Freud inicia a formulação de sua
teoria sobre a repetição. Em 1914, no trabalho Novas Recomendações sobre a Técnica da
Psicanálise II - Recordar, Repetir e Elaborar, Freud lembra o leitor a respeito das alterações que
a técnica psicanalítica sofreu ao longo dos anos desde seu início e de outras que viriam ao longo
dos anos. Neste texto, Freud afirma que os objetivos da análise permanecem inalterados,
descritos como o preenchimento de lacunas da recordação e superação das resistências da
repressão.

Para Freud (1914) o objeto da repetição foi perdido, logo o sujeito estaria repetindo de forma
inconsciente aquilo que não é possível ser lembrado, ou seja, aquilo que se repete estaria
recalcado.

Assim, de forma recorrente, as representações retornam à consciência e por resistência do ego,


permanecem sob forma de ação (NETO E ROCHA, 2014).

O autor afirma ainda que a análise é iniciada com certo tipo de repetição, como quando o
analisando diz não se lembrar de ter sido teimoso e rebelde ante a autoridade dos pais, mas se
comporta de tal maneira diante do analista, podemos compreender que esta seria sua forma de
recordar. A transferência na relação analítica seria uma parcela da repetição do passado, que
seria transferida não somente para o analista, mas para todos os âmbitos da situação presente
e quanto maior a sua resistência, mais o ato de recordar seria substituído pela repetição.
As armas usadas pelo analisando para se defender da terapia têm origem no seu passado, sua
fonte seria o reprimido de onde emergem as resistências. Desta maneira, sua doença não deve
ser tratada de maneira histórica, mas como um poder atual, e enquanto o doente vivencia de
forma atual e real, parte do trabalho terapêutico exercido seria sob ela seria uma recondução
ao passado.

Um dos principais meios de domar a compulsão a repetição é quando esta se transforma em um


modo de recordação e através do manejo da transferência, desta maneira ela se torna inofensiva
e até mesmo útil para o processo terapêutico. A transferência cria uma zona intermediária entre
a vida e a doença.

No texto Além do Princípio do Prazer, Freud (1920) volta a elaborar questões a respeito da
repetição, como a repetição de situações traumáticas e foi a partir da descrição de uma
brincadeira infantil, que ao observar a brincadeira de uma criança de 18 meses, em que a criança
lança fora (fort) um brinquedo e depois o trás de volta (da). Freud identifica uma encenação do
momento em que a mãe se afasta da criança e seu retorno, e ao constante repetição da
brincadeira e principalmente o da saída da mãe, dentre as possibilidades de teorias a respeito
desta brincadeira infantil, o que a repetição demonstra é a tentativa de uma elaboração da
vivência dolorosa, onde a criança busca estar ativo e ter controle daquilo que lhe causa dor e
que a há caminhos para tornar o objeto de recordação e elaboração psíquica o que é em si
desprazeroso.

O autor nos leva a outra perspectiva acerca de suas investigações e de sua experiência na
prática, onde a partir da clínica psicanalítica onde o paciente é levado a repetir o reprimido
(trauma) na relação com o médico. Freud, a fim de compreender a “compulsão a repetição”
manifesta durante o tratamento analítico pelos neuróticos, e que o inconsciente ou o reprimido
não promove resistências aos esforços terapêuticos, mas que procura abrir caminho rumo a
consciência para uma descarga na ação real. A busca em justificar a hipótese da compulsão a
repetição, qual sua função e ao que corresponde e qual a sua relação com o princípio do prazer.

Freud reforça a ideia de que os processos Inconscientes são atemporais, portanto, não são
ordenados cronologicamente. O tempo não modifica a ideia, assim conteúdos traumáticos
podem ser vivenciados na mesma intensidade de quando aconteceram, sem interferência
temporal.

Podemos presenciar na clínica psicanalítica a repetição ocorrer de forma clara e em diversas


intensidades, possibilitando ao analisando reviver lugares ou papeis que representou durante
grande parte de sua história. Através de fragmentos de um caso clinico, ilustra-se uma destas
histórias que se repetem.

“Vejo uma estrada longa e muito bonita e não tem nada perto, só uma casinha e por mais que
eu ande quando paro e olho para o lado é a mesma casa, sempre volto pra lá, paro na frente.
Porque eu sempre paro lá?”

Rosa, 30 anos. Buscou atendimento a fim de encontrar coragem para tomar uma decisão. Está
casada há 11 anos, e há 2 meses descobriu que o marido abusou de sua filha mais velha, fruto
de uma relação anterior. Diz que está se organizando para deixá-lo, pois o abuso da filha e o não
arrependimento do marido seriam motivos suficientes para tal decisão. Rosa afirma que o
casamento nunca foi bom. Traições, agressões físicas e verbais sempre fizeram parte da
convivência. Ela diz ser doença suportar este tipo de relação e que após o acontecimento com
a filha se sente responsável e conivente com o crime. Quando criança, Rosa foi abusada. Hoje,
mãe de duas meninas, diz sempre ter tido cuidado para que isso nunca ocorresse com elas, mas
que em um único descuido o marido abusou da sua filha. O abuso sofrido por Rosa ocorreu
quando ela tinha 8 anos. Estava dormindo em uma rede quando foi surpreendida por uma
pessoa conhecida que a violentou. Após as agressões, Rosa vai até a mãe para pedir ajuda e
contar o ocorrido. A reação da mãe é mandá-la lavar a rede suja de sangue, pois a culpa teria
sido dela. Para fugir dos gritos e agressões da mãe, a menina foge e se esconde em um poço
seco nos fundos da casa e fica lá até amanhecer.

O medo de repetir a história da mãe, que culpa a filha pelos abusos sofridos, motivou Rosa a
tomar todos os cuidados e providencias que julgou necessário. No entanto, ela se encontra no
lugar semelhante ao ocupado pela sua mãe.

Durante toda a sua vida, Rosa ocupou o lugar de vítima. Após o primeiro abuso, outros
ocorreram, em sua maioria por homens da família e conhecidos. Durante a vida adulta se
envolve em relacionamentos abusivos em que sofre diversas formas de violência, a repetição da
violência durante sua história.

No decorrer do processo terapêutico Rosa atuou de diversas formas, como a mãe que culpa a
filha, a criança abusada e culpada, como nos mostra a teoria, uma parcela da repetição do
passado acontece na transferência, e que por diversas vezes a fala se repete no espaço da
análise, sendo este um recurso para superar a experiência dolorosa. O intenso trabalho psíquico
para na tentativa de se reconstruir do trauma.

Enquanto o sujeito associa livremente, ele vai tecendo algum tipo de representação para os
conteúdos inconscientes, aquilo que até então, para ele, não era possível ser dito (NETO E
ROCHA, 2014).

Conclusão

Nos fragmentos do caso clínico descrito encontramos referências explícitas à repetição. O


percurso da análise evidenciou que os constantes retornos de Rosa à suas vivências dolorosas
podem indicar uma tentativa de elaboração.
Este trabalho possibilitou outra visão ao caso citado, mostrando que de fato a repetição se
manifesta na clínica no sentido de restituir alguma coisa ao plano psiquico. E que de forma
singular possibilitando ao sujeito um que repete em busca de algo, dando sentido a destinos e
ações até então sem sentido.

Textos base:

FREUD, Sigmund. Observações Psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em


autobiografia (“O caso Schreber”): Artigo sobre técnica e outros textos; Recordar, Repetir e
Elaborar e outros textos (1917-1929). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”): além do princípio
do prazer e outros textos (1917-1929). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Acaso e repetição em psicanálise. Zahar, 1999.
NETO, Esperidião Barbosa; ROCHA, Zeferino. Repetir, repetir, repetir... por quê? Psicologia &
Saberes, v. 3, n. 4, 2014.
MÓDULO III
FREUD É ATUAL

Ementa:
A clínica psicanalítica em sua prática. Como técnica e teoria psicanalíticas atuam na clínica e na
escuta a partir de textos fundamentais e a expansão da teoria na clínica psicanalítica
contemporânea.

Objetivo:
- A teoria e a técnica psicanalítica na prática clínica
- O papel do analista na demanda
- A aplicabilidade da teoria
- Compreender o Complexo de Édipo e seu papel.
- A função da Castração

A partir da base teórica apresentas no eixo I e II, será apresentada a técnica e sua prática clínica
e como elas norteiam o processo analítico.
Aula 21 Recomendações de Freud
Um recado de Freud para nós, analistas ou futuros analistas.

Nessa aula usaremos como texto de referência o trabalho de 1912, é um texto curto e acessível
que está disponível no material e por isso não irei transcrevê-lo aqui e farei poucas pontuações.
O texto que usei durante a aula foi da editora autêntica que tem algumas diferenças de tradução
do texto disponibilizado, que foi o da editora companhia das letras, apesar das diferenças o
conteúdo permanece o mesmo, para mais esclarecimentos sobre traduções temos o E-book
disponível, agora seguimos as pontuações.

Temos regras fundamentais ao analista e ao analisando:

- A regra fundamental para o analista: a descrição feita no texto é, ouvir tudo que lhe dizem,
sem se preocupar em fazer anotações ou sem se preocupar se vai lembrar ou não, mantendo
longe todas as influências (preocupações, julgamentos ou qualquer outra coisa que possa
interferir), isso é a atenção flutuante.

- A regra fundamental para o analisando: Falar tudo que lhe vier à mente, associar livremente.

Nosso foco nessa aula é o analista, e assim o texto segue de recomendações e outra que chama
atenção é a noção neutralidade comparando ao trabalho do cirurgião, a abstinência que falamos
na aula sobre transferência e volto a recomendar a leitura do artigo sugerido na aula. Seguindo
outro ponto importante é a análise do analista, desejo uma boa leitura e se tiver alguma dúvida
estamos à disposição para auxiliar.

Recomendação de leitura:
CELES, L. A. M. Crise terapêutica da psicanálise e presença do analista. Revista Percurso, v. 21,
n. 41, p. 47-54, 2008.

Textos base:

FREUD, Sigmund. Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico (1912)


Fundamentos da clínica psicanalítica. Autêntica, 2017.
Aula 22 A clínica hoje
Os adoecimentos recorrentes que encontramos na clínica hoje e os registros Freudianos que nos
guiam diariamente.

Nos estudos que buscam a compreensão da subjetividade humana, encontramos condições que
fazem parte da constituição do ser humano como o desamparo, uma particularidade da vida
que todos nós experienciamos.

A partir dos estudos freudianos encontramos o desamparo como inevitável. Nestes trabalhos,
apesar das constantes mudanças e revisões, o núcleo da ideia do desamparo não sofreu
mudanças, ou seja, permaneceu significando a falta de amparo. A primeira citação de Freud a
respeito do desamparo é feita no texto Projeto para uma Psicologia Científica (1895), ao explicar
a experiência de satisfação; e em Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926), o desamparo é
apresentado como uma parte importante da constituição psíquica a partir da constituição da
realidade psíquica.

Laplanche e Pontalis (1970) explicam o desamparo na teoria freudiana como o estado em que a
criança recém-nascida, que depende inteiramente do outro para satisfazer suas necessidades,
se descobre impotente para por fim à tensão interna causada por estas demandas, e do ponto
de vista econômico, o aparelho psíquico ainda não domina a necessidade. Para o indivíduo
adulto, o estado de desamparo é o protótipo da situação traumática geradora de angústia e que
do ponto de vista econômico o desprazer gerado pela angustia que leva ao aumento da tensão.

Na visão destes autores a condição física e psíquica do ser humano em seu nascimento o coloca
em situação de dependência fisiológica e psíquica, e a ausência do aparelho psíquico o impede
de dar conta das tensões vividas. Diante desta questão, partiremos em busca da compreensão
e relação do desamparo no processo de desenvolvimento psíquico.

O desamparo

Ceccarelli (2009) também nos propõe a compreensão do desamparo psíquico não somente do
ponto de vista fisiológico, mas da perspectiva psíquica. Assim como a imaturidade física de suprir
suas necessidades, haveria uma imaturidade psíquica, pois a impossibilidade do recém-nascido
em lidar com as exigências pulsionais uma vez que não haveria existência do aparelho psíquico.

Em Além do Princípio do Prazer (1920) Freud propõe que o aparelho psíquico é regulado
automaticamente pelo Princípio do Prazer que, sempre que incitado por uma pulsão
desprazerosa, busca uma direção em que seu resultado seja o rebaixamento da tensão, pela
evitação do desprazer ou pela geração de prazer. Sendo assim o desprazer corresponde a um
aumento, e o prazer, a uma diminuição dessa quantidade de pulsão.

O princípio do prazer é um modo de funcionamento primário do aparelho psíquico.


Posteriormente, frente às dificuldades do mundo externo e devido aos instintos de
autoconservação do Eu, ocorre a substituição pelo princípio da realidade, possibilitando a
aceitação do desprazer temporário, uma espécie de rodeio para chegar ao prazer. Essa
substituição, porém, não anula o objetivo do aparelho psíquico na busca do prazer ou na
evitação do desprazer. Pode-se dizer que permanece na psique uma forte tendência ao princípio
do prazer que se opõe a determinadas forças, de modo que o resultado final nem sempre
corresponde à tendência ao prazer (FREUD, 1920).
Ainda neste texto Freud empresta noções da biologia e reconhece duas classes de pulsões na
vida mental: uma tem origem nos Instintos do Eu, possui caráter conservador e busca a
reprodução de um estado primitivo da matéria inanimada que levam a morte; a outra seriam os
Instintos Sexuais, que visam o prolongamento da vida (Eros).

Freud (1923) dá continuidade na elaboração da teoria e nos apresenta a estruturação


topográfica do aparelho psíquico em instâncias nomeadas de Id, Eu e Super-Eu. Neste trabalho
ele identifica e apresenta de forma definitiva que há dois tipos de forças que atuam na dinâmica
psíquica: as pulsões sexuais (Eros), que tem como objetivo de conservar a vida e trazendo
complexidade; e o instinto de autoconservação do Eu, a pulsão de morte, que tem a tarefa de
conduzir o organismo ao estado inanimado. A vida seria a luta entre essas duas forças:

“... podemos dizer que as pulsões se conduzem, no sentido mais estrito do


termo, de forma conservadora, pois ambas visam ao restabelecimento de um
estado que foi perturbado pelo surgimento da vida. Assim tanto o empenho em
prosseguir lutando pela vida, como a nostalgia pela morte, vem-se ao próprio
brotar da vida. Diremos, então, que a vida consiste ao mesmo tempo em uma
luta e um acordo de compromisso entre essas duas pulsões opostas” (FREUD,
1923 p.49).

Então para lidar com as tensões no aparelho psíquico as pulsões agem de forma que buscam
manter um equilíbrio dentro do aparelho, trabalhando de forma simultânea, pois estas estariam
misturadas umas com as outras ou amalgamadas (FREUD, 1923).

Através da compreensão do que ocorre no campo subjetivo na dinâmica do aparelho psíquico,


podemos dizer que o desamparo leva o indivíduo à experiência de estar submetido a uma
intensidade pulsional excessiva. Haveria então uma duplicidade no desamparo, pois assim como
o desamparo é uma ausência de sustentação, o indivíduo estaria à mercê do outro que pode ou
não o auxiliar a lidar com esse estado emocional (GARCIA E COUTINHO,2004).

Possíveis destinos da dependência vivenciada no desamparo e as formas que encontramos


para lidar com ele.

Ainda que na vida ocorram inevitáveis vivências de desamparo, não apenas aquela primeira da
infância, as reações a elas seguem o modelo de enfrentamento desta inicial: diante da angustia
partimos em busca de alento no mundo interno, ou nas construções sociais simbólicas, havendo
uma variação nos laços sociais que estabelecemos para lidar com o desamparo psíquico. A
universalidade do desamparo se singulariza na história pessoal de cada com a dependência que
estabelece com quem lhe deu a vida (CECCARELLI, 2009).

Ceccarelli (2009) propõe que o Eros, por ser responsável pelas ligações pulsionais, age de forma
a produzir investimentos libidinais que confortam, imaginariamente, o Eu em constituição.
Como a primeira relação de dependência que estabelecemos é com os pais, acreditando que
eles possuem poderes sem limites, esperando sempre ser protegidos e amados por esses seres
superiores.

Mais tarde os pais são substituídos pelos deuses ou por aqueles que julgamos possuir
capacidades mágicas, e sendo capazes de tudo para não perder essa ilusão. Ao reagir a situações
de desamparo, a tendência é enfrentar de acordo com o protótipo construído na infância, pois
a angustia que faz partir em busca de alento no mundo interno, ou nas construções sociais
simbólicas, havendo uma variação nos laços sociais que estabelecemos para lidar com o
desamparo que variam de acordo com a cultura e com o momento histórico.
Para Freud (1895, p. 241), “o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos
os motivos morais” e desta maneira podemos compreender a discussão do autor acerca de
possíveis destinos do desamparo como as religiões, as ligações inquestionáveis aos mestres, às
teorias tomadas como verdades, que teriam como destino laços sociais que são estabelecidos
para lidar com o desamparo. Outra possibilidade seriam as relações com o outro nas quais “a
fronteira entre ego e objeto ameaça desaparecer”.

Este destino do desamparo também é discutido por Garcia e Coutinho (2004), que encontram
expressões aflitivas do desamparo que através de novas formas de mal-estar subjetivo, que
seriam a experiências recorrentes do desamparo que caracterizam a experiência cotidiana
contemporânea, tendo como faces do desampara na atualidade o pânico e a depressão.

As discussões utilizadas como base para a elaboração deste trabalho remontam a outra época,
quando Freud escrevia acerca do desamparo observado em seus pacientes. Embora
identificados a várias décadas o estudo destes conceitos trazem para o presente profundas e
importantes contribuições sobre a experiência cotidiana encontrada na clínica.

Como exemplo podemos citar que Freud se ocuparia dos destinos do desamparo em Inibições,
Sintomas e Ansiedade (1926) e suas formulações acerca da ansiedade frente à ameaça de uma
situação traumática, que seria uma ameaça de desamparo psíquico, são claramente válidas e
rotineiramente observadas até hoje na clínica psicanalítica. Os textos freudianos permanecem
fundamentais para subsidiar o psicanalista diante do sofrimento humano, que por mais atuais
que possam aparentar, são apenas novas formas de sofrer.

O perigo do desamparo psíquico permanece sendo um perigo de vida e a psicanálise possui


conteúdos que nos ajudam a construir uma clínica contemporânea apta para lidar com esta
condição humana, sendo sensível à atualização das formas de sofrer do homem moderno ao
tempo em que recorre aos já estabelecidos conceitos da ciência psicológica, aprimorados ao
longo dos séculos de pesquisa.

Textos Base:

CECCARELLI, Paulo Roberto. Laço social: uma ilusão frente ao desamparo. Reverso, v. 31, n. 58,
p. 33-41, 2009.
FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 14: História de uma neurose infantil (“O homem dos
lobos”), Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). São Paulo: Companhia das
Letras, 2010.
______________ Obras Completas,volume 16: O eu e o id, "autobiografia" e outros textos
(1923-1925). Companhia das Letras, 2011.
______________Projeto para uma psicologia científica (Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. 1). 1996.
______________ Inibições, sintomas e ansiedade (1926). Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Edição Standard Brasileira, v. 20, p. 81-171, 1996.
GARCIA, Claudia Amorim; COUTINHO, Luciana Gageiro.Os novos rumos do individualismo e o
desamparo do sujeito contemporâneo. Psychê, v. 8, n. 13, p. 125-140, 2004.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes Editora
Ltda, 1970
Aula 23 Fim de análise
O analista não dá alta, mas toda análise tem fim.

O que o paciente busca na análise?


Geralmente há um pedido por resgatar uma felicidade e autonomia no gerenciamento de sua
vida, em algum ponto da história perdida

● Demanda: A capacidade de extrair prazer nas atividades mais simples do seu cotidiano
agora está cercada pelas limitações que seu sintoma lhe impõe. Mal-estar, sintoma que
se impõe, escapa, se repete como ato involuntário, mas que impulsiona a buscar a
análise
● Função da análise: possibilidade de remanejamento pulsional que o nó do
sintoma parece absorver , de forma que a pulsão encontre outras possibilidades de
escoamento mais livres.
● Associação livre: Fala como tentativa da explicação do impossível, nela encontra um
endereço - A transferência, o analista.

Obs. O efeito terapêutico de uma análise está atrelado à transferência, que utiliza a linguagem
como instrumento.

Infinita: pulsão, que se identifica com o fim de análise


Finita: castração, relacionamento infinito em Freud - ver o trecho

A análise traz questionamentos, que o sintoma/sofrimento inicia colocando em questão, num


mundo fragmentado e marcado por certezas (regras sociais e roteiros que levam a felicidade), a
psicanálise procura reinstalar a capacidade de questionamento. Mesmo que de início se faça
acreditando que o um outro saiba todas as respostas, cabe ao analista endereçá-las de volta a
ele, para que se abra sua capacidade de se pôr em questão aquela que se pôs em análise.

O Destino da cura depende do destino da pulsão que se articula em análise, o eu que tenta
dominar, mas sempre fica um resto de sofrimento que insiste (uma dor que resta), desilusão da
cura.

Em Pulsão e suas vicissitudes temos como destino, a possibilidade de fazer algo novo, o
analisando faz sua criação em seu nome próprio, assume a construção de seu destino. Aceita a
condição do seu desamparo fundamental e encontra formas de lidar com sua condição
(Capacidade de criação- sublimação).

Ao final descobre que ao analista também falta o ser e toma a seu cargo o enigma do desejo.

"O amanhã não pertence a ninguém, mas se você quiser, ele pode ser seu.”

Texto base:

FREUD, Sigmund. Análise Finita e infinita (1937). Fundamentos da clínica psicanalítica.


Autêntica, 2017.
PIMENTEL, Déborah; ARAÚJO, Maria das Graças; VIEIRA, Maria Jésia. Final de análise: uma
revisão sistemática da literatura. Estudos de Psicanálise, n. 32, p. 51-70, 2009.
Aula 24 Escolas Psicanalíticas
As sete escolas psicanalíticas

1. Escola Freudiana (S. Freud);


2. Escola dos Teóricos das Relações Objetais (M. Klein);
3. Psicologia do Ego (Hartman – M. Mahler);
4. Psicologia do Self (Kohut);
5. Escola Francesa de Psicanálise (Lacan);
6. Winnicott; e
7. Bion.

ESCOLA FREUDIANA

É quase uma redundância falar em “escola freudiana” porquanto toda a psicanálise, e todos os
psicanalistas, de um forma ou de outra, estão ligados aos postulados metapsicológicos, teóricos
e técnicos legados por Freud e seus seguidores diretos, tanto os seus contemporâneos como os
pósteros a ele. No entanto, o paradigma psicanalítico freudiano, nos seus mais de 100 anos de
existência, embora conserve a invariância dos seus princípios básicos, vem sofrendo profundas
transformações, quer com acréscimos, reformulações ou refutações. (zimerman)

Sigmund Freud
Karl Abraham
Sandor Ferenczi
Wilheml Reich
Anna Freud

ESCOLA DOS TEÓRICOS DAS RELAÇÕES OBJETAIS


Melanie Klein

Melanie Klein Incorpora e amplia os pensamentos freudianos.


M. Klein conservou as concepções relativas ao “complexo de Édipo”, e ao “superego”, porém os
situou em etapas bastante mais primitivas do desenvolvimento da criança.

Pioneira em psicanálise com crianças


● ego rudimentar, pulsão de morte inata (seio bom e seio mau, obj idealizado e
persecutório, posições depressiva e esquizoparanóide, antecipação do tempo edipiano)

1) Criou uma técnica própria de psicanálise com crianças e introduziu o entendimento simbólico
contido nos brinquedos e jogos.
2) Postulou a existência de um inato ego rudimentar, já no recém-nascido.
3) A pulsão de morte também é inata e presente desde o início da vida, sob a forma de ataques
invejosos e sádico-destrutivos contra o seio da mãe.
4) Essas pulsões, agindo desde dentro da mente, promovem uma terrível “angústia de
aniquilamento”.
5) Para contra-arrestar tais angústias terríveis, o incipiente ego do bebê lança mão de
mecanismos primitivos de defesa, como são: “negação onipotente”, “dissociação”,
“identificação projetiva”, “introjeção” e “idealização”.
6) Ela concebeu a mente como um universo de objetos internos que estão relacionados entre si
através das fantasias inconscientes, constituindo a realidade psíquica.
7) Além dos objetos totais, ela concebeu os objetos parciais (figuras parentais representadas
unicamente por um mamilo, seio, pênis, etc.).
8) Postulou uma constante dissociação entre os objetos (seio bom x mau, idealizados x
persecutórios, etc.) e entre as pulsões (construtivas x destrutivas, etc.).
9) M. Klein concebeu a noção de posição – que é conceitualmente diferente de “fase evolutiva”
– e descreveu as, agora clássicas, posições esquizoparanóide e a depressiva, que representam
uma enorme importância para a teoria e prática psicanalítica.
10) Suas concepções sobre os mecanismos arcaicos do desenvolvimento emocional primitivo
permitiram uma possibilidade de análise com crianças, com psicóticos e com pacientes muito
regressivos em geral.
11) Para não ficar descompassada com os princípios de Freud, M. Klein conservou as concepções
relativas ao “complexo de Édipo”, e ao “superego”, porém os situou em etapas bastante mais
primitivas do desenvolvimento da criança.
12) Juntamente com os ataques sádico-destrutivos da criança, com as respectivas culpas e
conseqüentes medos de ataques persecutórios, ela postulou a importância de a criança, ou o
paciente na situação analítica, desenvolver uma imprescindível “capacidade para fazer
reparações”.
13) Deu ênfase extraordinária à importância da inveja primária, como expressão direta da pulsão
de morte.
14) Como decorrência dessas concepções, M. Klein promoveu uma significativa mudança na
prática analítica no sentido de que as interpretações fossem sistematicamente transferenciais,
mais dirigidas aos objetos parciais, aos sentimentos e defesas arcaicas do paciente, e com uma
ênfase na prioridade de o analista trabalhar na transferência negativa.

ESCOLA DA PSICOLOGIA DO EGO

Como muitos outros psicanalistas europeus perseguidos pelo nazismo na época da Segunda
Guerra Mundial, também o austríaco Heinz Hartman migrou para os Estados Unidos, onde,
juntamente com Kris, Loewenstein, Rappaport e Erikson, fundou a corrente psicanalítica
denominada “Psicologia do Ego”. Esses autores fundamentaram-se nos últimos trabalhos de
Freud, particularmente a partir da formulação da estrutura tripartida da mente – id, ego e
superego – e também se alicerçaram nos trabalhos de A. Freud referentes às funções do ego

Margateth Mahler -Assim, ela descreveu as seguintes fases, com as respectivas subfases:
autismo normal, seguida da simbiose normal, passando pela progressiva saída da
indiferenciação com a mãe através da etapa de individuação e separação (com as subetapas de
“diferenciação”, “treinamento” relativo à exploração do mundo externo e a de “afastamento e
reaproximação”) até chegar à quarta etapa, que consiste na obtenção de uma constância objetal
emocional com uma consolidação do self e da individuação.

ESCOLA DA PSICOLOGIA DO SELF


Heinz Kohut

Nasceu em Viena, em 1913, onde se formou em medicina, exercendo a especialidade de


neurologia. Também ele foi pressionado pelo nazismo imperante no período da Segunda Grande
Guerra e, por isso, resolveu migrar para os Estados Unidos, onde se incorporou ao Instituto
Psicanalítico de Chicago, tendo ali trabalhado e vivido até a sua morte, em 1981, com 68 anos.
Desde menino foi de uma inteligência precoce e, mais tarde, revelou sólidos conhecimentos de
grego, latim, teatro e música.
1) Ele situa como o principal instrumento da psicanálise não o lugar da livre associação de idéias
do analisando, mas, sim, o da Introspecção e o da recíproca, Empatia.
2) Da mesma forma, Kohut retira o lugar hegemônico do “complexo edípico”, de Freud, e coloca
no seu lugar as falhas dos selfobjetos primitivos (em outras palavras, ele substitui o “homem
culpado” de Freud e M. Klein pelo que ele considera ser o “homem trágico”).

ESCOLA FRANCESA DE PSICANÁLISE


Jacques Lacan

Retorno a Freud com um distanciamento e partir de sucessivas dissidências


ideológicas – e querelas narcisísticas – entre os seus membros. O conjunto dessas sociedades
caracteriza o que se denomina como a, pujante, Escola Francesa de Psicanalise
Esse genial, polêmico e altamente controvertido autor psicanalítico, revoltado com o
crescimento da norte-americana escola da “psicologia do ego” e alegando que essa escola
estaria deturpando o verdadeiro espírito da psicanálise, decidiu dirigir os seus estudos
psicanalíticos a partir de um “retorno a Freud”.
1) A inveja e a agressão em geral não seriam inatas e primárias, mas sim elas surgem quando é
desafiado e frustrado o registro imaginário do sujeito (na sua crença onipotente de que ele tem
uma fusão e posse da mãe).
2) Para Lacan, a análise “não deve ficar reduzida à mesquinharia exclusiva do mundo interno”.
3) Pelo contrário, o analista deve dar uma importância muito especial à palavra do paciente
(que pode ser “cheia” ou “vazia”, de significados), assim mesmo ele também deve rastrear a
“cadeia de significantes” que está contida no conteúdo, forma e estrutura da “linguagem”.
4) A forclusão (forma extrema de negação) impede a ruptura de fusão narcisista com o outro e,
portanto, não se produz a capacidade para formar símbolos nem o ingresso no registro
simbólico, o que pode ser um dos determinantes da psicose.
7) Em relação à técnica, Lacan modificou muitos dos critérios técnicos clássicos da psicanálise
freudiana, sendo que os seguintes merecem ser destacados: a) Modificações no setting: Lacan
propôs e aplicou uma modificação revolucionária e, no mínimo, altamente discutível até os dias
atuais; é a que se refere ao tempo de duração da sessão. Ao invés de durar os habituais 50 ou
45 minutos, para os lacanianos esse tempo “cronológico” foi substituído pelo “tempo lógico”,
que alude ao fato de que o importante é a sessão terminar quando se processa
na mente do analisando o “corte simbólico”, isto é, a passagem do plano “imaginário” – onde a
palavra do paciente é “vazia” e está a serviço de obstaculizar o acesso à verdade – para o plano
do registro simbólico, onde a palavra deve ser “plena” e realmente a favor da comunicação e
das verdades. b) Em relação à transferência, muitas vezes Lacan considera que não se instalará
a transferência caso o analista interprete adequadamente. Ele chega a afirmar (1951) que a
transferência do paciente resulta de uma resposta deste a uma atitude pré-conceituosa do
psicanalista, sendo que Lacan retoma esse aspecto em um trabalho posterior (1970-73) com o
nome de “Sujeito Suposto Saber” (SSS) e que, como o nome indica, parte de um pressuposto
que o analista sabe tudo aquilo que o paciente ignora. c) Quanto à contratransferência, Lacan
não aceita a possibilidade de que a mesma possa constituir-se como um importante instrumento
técnico. d) Em relação à interpretação, Lacan adverte que o uso sistemático da interpretação
reducionista ao “aqui-agora” pode contribuir para uma fixação do paciente no registro
imaginário, narcisista, com o risco de que ele se identifique com os desejos do analista. Na
verdade, ele valoriza muito mais as interrupções que representem a castração, o corte
simbólico, do que propriamente as interpretações clássicas.

ESCOLA DE WINNICOTT
Donald Woods Winnicott
É tão extensa e original a sua obra (são apenas quatro livros, porém na totalidade de seus
escritos constam mais de 200 títulos) que, aqui, não resta outro recurso a não ser aquele de dar
apenas algumas pinceladas nas suas concepções mais significativas, seguindo uma certa ordem
cronológica. Em 1945, ainda fortemente influenciado por M. Klein, Winnicott publica o seu
clássico Desenvolvimento emocional primitivo, no qual propõe que a maturação e o
desenvolvimento emocional da criança processam-se em três etapas: 1) Integração e
personalização: o bebê nasce num estado de não integração (não é a mesma coisa que
“desintegração” e nem “dissociação”), na qual ele está numa condição de “dependência
absoluta”, apesar da sua crença mágica em possuir uma “absoluta independência”. Segundo
Winnicott, o desenvolvimento normal desse período levaria à obtenção de um esquema
corporal integrado da criança, que ele chama de uma “unidade psique-soma”, sendo que
Winnicott define a personalização como “o sentimento de que a pessoa habita o seu próprio
corpo”.
2) Adaptação à realidade: a mãe tem o papel fundamental de ajudar a criança a sair da
subjetividade total e provê-la com os elementos da realidade objetiva (tal como é a passagem
da “gratificação alucinatória do seio” para a gratificação provinda de um real seio nutridor), de
modo que a criança comece a evocar “aquilo que realmente está à sua disposição”. Mãe
suficientemente boa
O ano de 1960 representa um marco bastante significativo na obra de Winnicott, que então
publicou dois de seus mais importantes trabalhos: um é A teoria da relação paterno-filial, em
que mais claramente define o papel da mãe no desenvolvimento emocional do filho, descreve
o estado psicológico de preocupação (ou devoção) materna primária, desenvolve as noções das
funções da mãe como ego auxiliar, até que a criança consiga desenvolver as suas capacidades
inatas de pensamento, síntese, integração, etc., ou seja, como uma função holding que sustente
a criança tanto física como emocionalmente, de modo a garantir-lhe uma continuidade
existencial.
• A decisiva influência do ambiente facilitador e da mãe suficientemente boa.
• Um estado de identificação primária com a mãe, no qual ainda não há o reconhecimento de
que existe uma mãe externa a ele, ao mesmo tempo em que “não existe um bebê
sem a mãe”.
• Assim, diz Winnicott, o bebê sente-se num estado de “absoluta independência”, ao mesmo
tempo em que, de fato, está em “dependência absoluta”.
• Nos primeiros tempos, a corporalidade do bebê consiste num estado de não-integração (é
diferente de angústia de “desintegração”) entre as diferentes partes de seu corpo, e entre o seu
corpo e a sua mente.
• Assim, Winnicott introduz os conceitos de integração (dessas partes dispersas) e o de
personalização, que refere à aquisição da capacidade de a criança poder “habitar o seu próprio
corpo”, o que implica em renunciar à ilusão de que seu corpo está fundido com o da mãe.
• A angústia que, em situações futuras, acompanha os estados de uma “não-integração”, foi
definida por Winnicott como breakdown, ou seja, uma angústia catastrófica, que às vezes
denomina de “agonias impensáveis”.
• Postula a concepção dos fenômenos transicionais – com os objetos transicionais e o espaço
transicional – que aludem ao fato de que nesse período o bebê está com um pé no mundo do
imaginário e com o outro ingressando na realidade exterior, assim criando condições para uma
separação da mãe.
• Ele estabelece uma diferença entre mãe-ambiente (ainda não há no bebê a diferença entre
“eu-outro”) e mãe-objeto (onde já há essa diferença).
• Dentre as condições da “mãe suficientemente boa”, ele incluiu: a preocupação materna
primária (um estado inicial de “devoção” ao filho); capacidade de holding (sustentação) e de
handling (manejo); a progressiva desilusão das ilusões de onipotência e a capacidade para
sobreviver aos ataques agressivos do filho.
• Vale fazer um registro especial para a função especular da mãe: para Winnicott (1967), o
primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe, sobretudo o seu olhar. Ao olhar-se no
espelho do rosto materno, o bebê vê-se a si mesmo: “Quando olho sou visto, logo existo... posso
agora me permitir olhar e ver”.
• A capacidade de estar só”, cujo conceito alude ao fato de que nesse período em que a criança
está constituindo a sua confiança básica ela consegue ficar sozinha, embora

ESCOLA DE BION
Wilfred Ruprecht Bion
Nasceu em 1897, na Índia (pela circunstância de que seu pai lá executava, então, um serviço de
engenharia de irrigação a mando do Governo Inglês), onde viveu até os 7 anos e foi sozinho para
Londres, a fim de iniciar a sua formação escolar.
Em Londres, ele completou a sua titulação acamica, tendo-se formado em medicina e
posteriormente fez a sua formação psiquiátrica e psicanalítica.
1. Elementos de psicanálise. Bion preconizava a necessidade de substituir o excesso de
teorias que impregnam a psicanálise e substituí- las por “modelos” e, da mesma maneira, ele
propôs uma simplificação por “elementos da psicanálise”, que, segundo ele, comportam-se de
forma análoga às sete notas musicais simples, ou aos algarismos de 0 a 9, ou ainda às letras do
alfabeto, que em diversas combinações permitem as mais complexas configurações. Os seis
elementos psicanalíticos por ele propostos são: 1) uma permanente interação entre a “posição
esquizoparanóide”(PS) e “depressiva” (D); 2) a identificação projetiva na relação “continente”-“
conteúdo”; 3) os “vínculos” de amor (L), ódio (H) e “conhecimento” (K); 4) as “transformações”;
5) a relação entre idéia (I) e razão (R); 6) a “dor psíquica”.
ele enfatizou que toda análise é um processo de natureza vincular entre duas pessoas que vão
enfrentar muitas angústias diante dessas verdades, e isso impõe que o analista possua o que
Bion denomina como condições necessárias mínimas, como a referida condição de ele ser
“verdadeiro”, e mais as seguintes: • Um permanente estado de “descobrimento”. • Uma
capacidade de ser “continente”, aliado a uma “função-alfa”. • Uma “capacidade negativa”(ou
seja, uma condição de suportar, dentro de si, sentimentos negativos, como é, por exemplo, o de
um “não saber”. • Uma “capacidade de “intuição”. • Um “estado de “paciência” e de “empatia”.
• A necessidade de que, na situação analítica, a mente do analista não esteja saturada por
memória, desejo e ânsia de compreensão imediata. • O reconhecimento de que o analista
também é importante como “pessoa real” e que ele serve como um novo modelo de
identificação para o analisando.

Teóricos percursores de Freud que deram continuidade na obra freudiana e expandiram seus
horizontes ampliando sua aplicabilidade de tratamento de adoecimentos mentais nos mais
diversos públicos.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem


Didática: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem Didática. Artmed Editora, 2009.
Aula 25 Como se tornar um analista
A formação em psicanálise como uma constante

Formação do Psicanalista

A formação de quem deseja fazer uso da técnica psicanalítica acontece de forma contínua. Não
possui um fim, nem há uma formatura, pois ela acontece durante todo o tempo. O analista se
faz no seu fazer analítico.

Na prática, as escolas que formam psicanalistas usam um determinado momento da formação


para denominar alguém como psicanalista. Este tempo varia entre uma escola e outra, mas
geralmente é de 3 a 5 anos. A formação é contínua, mas segue alguns critérios.

Tripé da formação

O psicanalista em formação tem como base um tripé, comum em todas as formações: Estudo
da Teoria; a supervisão; e a análise pessoal, o analista se faz na sua análise.

Este curso não lhe transformará em um psicanalista, mas pode ser uma porta de entrada para
sua prática na clínica, um caminho para quem inicia ou um auxílio para quem já o conhece.

A psicanálise acontece dentro da relação psicólogo/analista e paciente, em uma clínica que tem
como base a teoria psicanalítica, ainda que este não seja um psicanalista. Ao ser posta em
prática, a psicanálise ultrapassa as paredes da academia e os dogmas das escolas, se instalando
a partir da fala e do compromisso entre analista e analisando.

Instituições de formação

Os institutos de formação nasceram com o objetivo inicial de garantir um ensino fiel à


descoberta psicanalítica e, ao mesmo tempo, disciplinar uma prática que corria o risco de se
tornar selvagem em mãos de charlatões sem uma formação adequada.

Análise pessoal

Será o processo de análise o lugar de encontro com os efeitos do próprio inconsciente, com o
reconhecimento dos seus desejos e paixões, angústias e temores. Nesta condição, a força de um
núcleo traumático pulsional de natureza infantil terá lugar na cena transferencial.

Desta experiência transformadora, geradora de uma familiaridade do analista com o seu próprio
funcionamento psíquico, poderão surgir as condições de escuta analítica. O desejo e a
disponibilidade de ocupar o lugar de analista poderão despontar no analisando.

A supervisão

Desta experiência transformadora, geradora de uma familiaridade do analista com o seu próprio
funcionamento psíquico, poderão surgir as condições de escuta analítica. O desejo e a
disponibilidade de ocupar o lugar de analista poderão despontar no analisando.
Estudo da Teoria

O estudo das teorias é o terceiro elemento deste tripé. Conhecer o desenvolvimento dos
principais modelos teóricos instrumentaliza o analista e favorece o diálogo com seus pares. No
entanto, o estudo teórico, a meu ver, não deveria reduzir-se à exegese do texto nem à erudição
psicanalítica.

https://www.campolacaniano.com.br/
https://febrapsi.org/
https://www.bion.org.br/

Textos base:

FREUD, Sigmund. O caso Schreber. LeBooks Editora, 2020.


FREUD, Sigmund. O chiste e sua relação com o inconsciente. LeBooks Editora, 2019.
FREUD, Sigmund. A questão da análise leiga (1926). Fundamentos da clínica psicanalítica.
Autêntica, 2017.
FREUD, S. Recordar, repetir, elaborar (1974) In: _ Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud. 1914.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem
Didática: Teoria, Técnica, Clínica–Uma Abordagem Didática. Artmed Editora, 2009.
FREUD, Sigmund. Fundamentos da clínica psicanalítica. Autêntica, 2017.
FREUD, Sigmund. Princípios básicos da psicanálise. Observações psicanalíticas sobre um caso
de paranoia relatado em autobiografia (" O Caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros
textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. Algumas observações sobre o conceito de inconsciente na
psicanálise. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia
(" O Caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Jorge Zahar Editor Ltda, 1984.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes Editora
Ltda, 1970.
TANIS, Bernardo. Considerações sobre a formação psicanalítica: Desafios atuais. Percurso, XVIII,
v. 35, p. 29-36, 2005.
Sugestão de filmes :

Aqui fiz algumas sugestões de filmes que tem um conteúdo que conversam com a teoria e a
concepção de funcionamento psíquico, relação mãe e bebê, alguns sobre a história da
psicanálise e outros sobre contexto social e o que nele vem atrelado aos sofrimentos que
conhecemos e que interferem diretamente nos sujeitos e encontramos na clínica, as séries são
um ponto fora da curva em seus episódios específicos que me chamaram atenção em momentos
de lazer e que achei interessante compartilhar aqui. A maioria deles estão em plataformas como
Netflix e Amazon Prime.
Obrigada por acompanhar até aqui e nos vemos em breve :)

Cisne negro
Mãe
Melancolia
Helena
Lady BIRD
O mínimo para viver

O estranho em mim ( fora de circuito e não está em plataforma)


Precisamos falar sobre Kevin
Olmo e a Gaivota
Nise : o coração da loucura
Freud além da alma
Parasita
Roma
Que horas ela volta
Histórias cruzadas
Green Book
O som ao redor
Casa Grande
Bacurau
Cidade de Deus

Séries
Modern Love - episódio Take me as i am, 2019 Amazon prime
The crown T 1 ep 09 Assassine NetFlix

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