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Europa, modernidade e eurocentrismo

Enrique Dussel
1. Deslizamento semântico do conceito de “Europa”
Mitologia europeia vem dos fenícios ou seja é semita
● Vinda do Oriente
● Grécia-Roma-Europa é um invento ideológico de fins do século XVIII romântico
alemão
○ Base para o modelo ariano, racista

● O ocidental (império romano que fala latim) opõe-se ao “Oriental” (império


helenista, que fala grego)
● Constantinopla, desde o século VII o Império Romano Oriental cristão, enfrenta o
mundo árabe-muçulmano crescente.
○ O grego Clássico é tanto cristão-bizantino como árabe-muçulmano
● Europa latina medieval também enfrenta o mundo árabe-turco
○ As Cruzadas representam a primeira tentativa da Europa latina de impor-se
no Mediterrâneo Oriental. Fracassam, e com isso a Europa latina continua
sendo uma cultura periférica, secundária e isolada pelo mundo turco
muçulmano
○ Se algum império foi o centro da história regional euro-asiática antes do
mundo muçulmano, só podemos referir-nos aos impérios helenistas. Mas, de
qualquer modo, o helenismo não é Europa, e não alcançou uma
“universalidade” tão ampla como a muçulmana no século XV.
● No Renascimento italiano começa uma fusão que representa uma novidade; o
Ocidental latino (seqüência c do esquema) une-se ao grego Oriental (seta d), e
enfrenta o mundo turco, o que, esquecendo-se da origem helenístico-bizantina do
mundo muçulmano, permite a seguinte falsa equação:
○ Ocidental = Helenístico + Romano + Cristão.
○ Nascimento da ideologia eurocêntrica do romantismo alemão

Ninguém pensa que se trata de uma “invenção’’ ideológica (que “rapta” a cultura grega
como exclusivamente “européia” e “ocidental”) e que pretende que desde as épocas grega e
romana tais culturas foram o “centro” da história mundial. Esta visão é duplamente falsa:
fáticamente ainda não há uma história mundial.
porque o lugar geopolítico impede-o de ser o “centro”

2. Dois conceitos de “modernidade”


Dois conceitos de modernidade
● Eurocêntrico: A modernidade é uma emancipação, uma “saída” da imaturidade por
um esforço da razão como processo crítico, que proporciona à humanidade um novo
desenvolvimento do ser humano
○ Indica como pontos de partida da “Modernidade” fenômenos intra-europeus,
e seu desenvolvimento posterior necessita unicamente da Europa para
explicar o processo
● Sentido mundial: determinação fundamental do mundo moderno o fato de ser
“centro” da História Mundial
○ 1º Etapa: Mercantilismo mundial
■ A "centralidade" da Europa Latina na História Mundial é o
determinante fundamental da Modernidade. Os demais
determinantes vão correndo em torno dele, são o resultado de um
século e meio de “Modernidade”: são efeito, e não ponto de partida
○ 2º Etapa: Revolução Industrial e Ilustração
■ Esta Europa Moderna, desde 1492, “centro” da História Mundial,
constitui, pela primeira vez na história, a todas as outras culturas
como sua “periferia”
● desejamos opor-nos a estas falsas unanimidades e propor uma completa e distinta
conceitualização da “Modernidade”, com um sentido mundial, o que nos levará a
uma interpretação da racionalidade moderna distinta dos que imaginam “realizá-la”
como dos que se opõem a ela

3. Racionalidade e irracionalidade ou mito da Modernidade


O “eurocentrismo” da Modernidade é exatamente a confusão entre a universalidade
abstrata com a mundialidade concreta hegemonizada pela Europa como “centro”.
● Ego cogito moderno foi antecedido em mais de um século pelo ego conquiro
○ Conquistas como trampolim para tirar vantagem comparativa determinante
com relação a suas antigas culturas antagônicas
● A modernidade surge ao final do século XV e com a conquista do Atlântico
Se a Modernidade tem um núcleo racional ad intra forte, como “saída” da humanidade de
um estado de imaturidade regional, provinciana, não planetária, essa mesma Modernidade,
por outro lado, ad extra, realiza um processo irracional que se oculta a seus próprios olho
(mítico)
● a “Modernidade” é justificativa de uma práxis irracional de violência
● Mito
○ A civilização moderna autodescreve-se como mais desenvolvida e superior
○ A superioridade obriga a desenvolver os mais primitivos, bárbaros, rudes,
como exigência moral
○ O caminho de tal processo educativo de desenvolvimento deve ser aquele
seguido pela Europa (falácia desenvolvimentista)
○ Como o bárbaro se opõe ao processo civilizador, a práxis moderna deve
exercer em último caso a violência, se necessário for, para destruir os
obstáculos dessa modernização
○ Produz vítimas e é interpretada como ato inevitável (herói salvador)
○ Para o moderno, o bárbaro tem uma “culpa” que permite à
○ “Modernidade” apresentar-se não apenas como inocente mas como
“emancipadora” dessa “culpa” de suas próprias vítimas.
○ inevitáveis os sofrimentos ou sacrifícios da “modernização” dos outros povos
“atrasado”
● se se pretende a superação da “Modernidade”, será necessário negar a negação do
mito da Modernidade
○ Apenas quando se nega o mito civilizatório e da inocência da violência
moderna se reconhece a injustiça da práxis sacrificial fora da Europa e, então,
pode-se igualmente superar a limitação essencial da “razão emancipadora”
○ Trans-Modernidade: projeto mundial de libertação em que a Alteridade, que
era coessencial à Modernidade, igualmente se realize
■ subsunção real do caráter emancipador racional da Modernidade e de
sua Alteridade negada da Modernidade, por negação de seu caráter
mítico
A Modernidade nasce realmente em 1492: esta é nossa tese
● Sua real superação é subsunção de seu caráter emancipador racional europeu
transcendido como projeto mundial de libertação de sua Alteridade negada “a trans-
modernidade”
● Dois paradigmas contraditórios: o da mera “modernidade” eurocêntrica e o da
Modernidade subsumida de um horizonte mundial no qual cumpriu uma função
ambígua (de um lado como emancipação; e, de outro, como mítica cultura da
violência)

Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina


Aníbal Quijano

1. A América e o novo padrão de poder mundial


América primeira identidade da modernidade
- como o primeiro espaço/tempo de um padrão de poder de vocação mundial
- Dois processos históricos convergiram e se associaram na produção do
referido espaço/tempo (eixos fundamentais do novo padrão de poder)
- a codificação das diferenças entre conquistadores e conquistados na
idéia de raça
- Inferioridade e superioridade
- a articulação de todas as formas históricas de controle do trabalho, de
seus recursos e de seus produtos, em torno do capital e do mercado
mundial

Raça, uma categoria mental da modernidade


Ideia de raça não existia antes da América
- diferenciação fenotípica entre colonizadores e colonizados
- construída como referência a supostas estruturas biológicas diferenciais entre esses
grupos.
- A formação de relações sociais fundadas nessa idéia, produziu na América
identidades sociais historicamente novas e redefiniu outras
- indicavam apenas procedência geográfica e então adquiriram conotação
racial (ex. europeu)
Relações sociais → relações de dominação

- identidades associadas às hierarquias


- raça e identidade racial foram estabelecidas como instrumentos de classificação
social básica da população
- os colonizadores codificaram como cor os traços fenotípicos dos colonizados e a
assumiram como a característica emblemática da categoria racial
A ideia de raça foi usada para dar legitimidade às relações de dominação
- expansão do colonialismo europeu ao resto do mundo conduziram à elaboração da
perspectiva eurocêntrica do conhecimento e com ela à elaboração teórica da idéia de
raça como naturalização dessas relações coloniais de dominação entre europeus e
não-europeus
- raça converteu-se no primeiro critério fundamental para a distribuição da população
mundial nos níveis, lugares e papéis na estrutura de poder da nova sociedade

O Capitalismo: a nova estrutura de controle do trabalho

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