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Curso: Engenharia Hidráulica │2021│

HIDRÁULICA II Capítulo II .

Aula 2 Escoamento uniforme

• Características do escoamento uniforme


• Resistência ao escoamento
• Coeficiente de Manning em secções compostas
Docentes
Foquiço e.mail: efoquico@ispsongo.ac.mz Contacto: +258 82 865 1679
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ESCOAMENTO UNIFORME
Introdução .
Hidráulica II. Capítulo II.

• Serão abordados, no presente capítulo, os aspectos mais importantes sobre o


escoamento uniforme. Será feita a aplicação dos parâmetros geométricos e
hidráulicos para o dimensionamento de canais de secções simples; serão também
vistos aspectos sobre rugosidade relacionados com perdas de carga, onde poderão
ser abordadas as principais equações que descrevem os escoamentos uniformes.

❑ Objectivo.
• Caracterizar escoamentos uniformes
• Identificar as equações que caracterizam os escoamentos uniformes
• Aplicar o teorema de Euler na descrição de resistência ao escoamento
• Caracterizar o factor de rugosidade de Manning
• Identificar os factores de Manning característicos de canais artificiais e naturais
• Aplicar as equações características de escoamentos livres em regime uniforme
ESCOAMENTO UNIFORME

Características
•A ocorrência do escoamento uniforme leva
Hidráulica II. Capítulo II.

em conta as características do canal

❑ Trechos longos e rectos de declividade e


secção transversal constantes

❑ Consequentemente, a profundidade da
água, a área molhada da secção
transversal e a velocidade são constante
ESCOAMENTO UNIFORME
Características

A linha de energia total, a superfície do


líquido e o fundo do canal possuem a
mesma declividade
Hidráulica II. Capítulo II.

No escoamento uniforme não há


desaceleração nem aceleração – verifica-se
um equilíbrio de forças no volume de
controlo (ver Figura 1)
A profundidade de água associada à este
escoamento é denominada profundidade
normal
ESCOAMENTO UNIFORME
Características
Hidráulica II. Capítulo II.

Figura 1. Equilibro de forças em um volume de controlo


– escoamento uniforme.
ESCOAMENTO UNIFORME

Resistência ao escoamento
•Seja a declividade (𝐼 ou 𝑆0 ) 𝑆0 = tan 𝜃, na
Hidráulica II. Capítulo II.

qual 𝜃 é o ângulo que o fundo forma com a


horizontal e considerando que as
velocidades na secção 1 (de entrada) e na
secção 2 (de saída) são iguais (ver Figura
1), ou seja, 𝑈1 = 𝑈2 = 𝑈 , tem-se, da
equação de energia:
ℎ𝑓 = 𝑍1 − 𝑍2 = 𝑆0 𝐿 1
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento

•Neste caso, a equação de Darcy-Weisbach


pode ser aplicada:
𝑓𝐿𝑈 2
Hidráulica II. Capítulo II.

ℎ𝑓 = 2
2𝑔𝐷
Onde
Para canais circulares: 𝐷 = 𝐷ℎ = 4𝑅ℎ
𝐴
Para canais não circulares: 𝐷 = 𝐷ℎ = 4
𝑃𝑚
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Resistência ao escoamento

Fórmula de Chézy
•Combinando as equações (1) e (2), tem-se:
Hidráulica II. Capítulo II.

1Τ2
8𝑔𝑅ℎ 𝑆0
𝑈= 3
𝑓
Sendo que, para uma mesma geometria de
canal e uma mesma rugosidade de fundo, a
8𝑔 1Τ2
quantidade é constante e pode ser
𝑓
representada por 𝐶
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Chézy

•Levanco em conta o factor 𝐶, obtém-se a


Fórmula de Chézy:
1Τ2
𝑈 = 𝐶 𝑅ℎ 𝑆0 4
Hidráulica II. Capítulo II.

•Foi desenvolvida pelo engenheiro francês


Antoine Chézy no Rio Sena e no Canal
Courpalet em 1769
•O coeficiente de Chézy 𝑪 , varia de
aproximadamente 30 𝑚1Τ2 Τ𝑠 até 90 𝑚1Τ2 Τ𝑠
em função das características do canal
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento

Fórmula de Manning
•Após a abordagem de Chézy, vários são os
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estudiosos que dedicaram-se ao coeficiente


𝐶:
87 𝑅ℎ
•Bazin: 𝐶=
𝐾𝐵 + 𝑅ℎ

100 𝑅ℎ
•Kutter: 𝐶=
𝐾𝑘 + 𝑅ℎ
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Manning

•A Fórmula de Manning é a comumente


utilizada em problemas de escoamento livre
em canais artificiais e naturais
Hidráulica II. Capítulo II.

•Através de correlações, Robert Manning


conclui, em 1891, que o coeficiente C de
Chézy aumentava aproximadamente com a
raiz sexta do tamanho do raio hidráulico:
1Τ2
8𝑔 1 1Τ6
𝐶= ≅ 𝑅ℎ
𝑓 𝑛
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Manning

• A Fórmula de Manning que a seguir é


apresentada, representa uma modificação
da Fórmula de Chézy
Hidráulica II. Capítulo II.

1 2Τ3 1Τ2
𝑈 = 𝑅ℎ 𝑆0
𝑛
Ou:
1 2Τ3 1Τ2
𝑄 = 𝐴𝑅ℎ 𝑆0
𝑛
O inverso 1Τ𝑛 = 𝐾𝑠 corresponde ao
coeficiente de Strickler
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Manning

Coeficiente de rugosidade 𝒏
•O coeficiente de rugosidade de Manning 𝒏
representa a resistência ao escoamento
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devido ao atrito entre as paredes do canal


em contacto com o líquido

•Em função do tipo de material das paredes e


do fundo do canal, bem como o nível de
água no canal, a rugosidade 𝒏 pode variar
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Manning
Coeficiente de rugosidade 𝒏

•Em um mesmo canal natural a rugosidade 𝒏


pode variar bastante ao longo do seu
percurso desde a nascente até a foz
Hidráulica II. Capítulo II.

•Uma variação da forma ou do material entre


o fundo e as margens de um mesmo canal é
suficiente para a variação do coeficiente 𝒏
•Na Tabela 1 constam os valores
experimentais do coeficiente 𝒏
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Manning
Coeficiente de rugosidade 𝒏

• Tabela 1. valores experimentais do factor 𝒏 de Manning


Hidráulica II. Capítulo II.
ESCOAMENTO UNIFORME
Resistência ao escoamento Fórmula de Manning
Coeficiente de rugosidade 𝒏

• Tabela 1. valores experimentais do factor 𝒏 de Manning


Hidráulica II. Capítulo II.
ESCOAMENTO UNIFORME

Aplicação da fórmula de Manning


•Os cálculos em problemas de escoamento
uniforme podem seguir dois tipos de
Hidráulica II. Capítulo II.

abordagens:
1. Todas as características geométricas do
canal são conhecidas → faz-se necessário
encontrar 𝑸
2. 𝑸 conhecido → faz-se necessário
encontrar as características geométricas
do canal
ESCOAMENTO UNIFORME

Secção composta
•Secção transversal composta refere-se
àquela em que a sua configuração resulta
Hidráulica II. Capítulo II.

da combinação de uma ou mais figuras


simples
•Para a determinação dos parâmetros
hidráulicos como perímetro molhado e área
molhada, são válidos os mesmos conceitos
vistos nas aulas anteriores
•A Figura 2 mostra uma secção composta
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção composta
Hidráulica II. Capítulo II.

Figura 2.
Exemplo de secção composta. Os números entre
parenteses mostram as diversas subsecções componentes
da secção
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção composta

Perímetro molhado
•Para o cálculo do perímetro molhado é
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contabilizada toda a linha molhada, ou seja,

𝑃𝑚 = ෍ 𝑃𝑚𝑖 ; 𝑖 = 1; 2; 3; …
𝑠𝑒𝑐çã𝑜 𝑆

Onde
𝑃𝑚𝑖 = é o perímetro molhado correspondente à
subsecção 𝑖 componente da secção total 𝑆
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção composta

Área molhada
•A área molhada é obtida somando as
Hidráulica II. Capítulo II.

subsecções 𝑖 componentes da secção total


𝑆, ou seja,

𝐴= ෍ 𝐴𝑖 ; 𝑖 = 1; 2; 3; …
𝑠𝑒𝑐çã𝑜 𝑆

Onde
𝐴𝑖 = é a área molhada correspondente à
subsecção 𝑖 componente da secção total 𝑆
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção composta

Coeficiente de Manning
•O coeficiente de Manning médio 𝑛ത pode ser
estimado levando em conta o perímetro
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molhado total e nas subsecções 𝑖


componentes da secção total 𝑆, ou seja,
3Τ2 2Τ3
σ 𝑃𝑚𝑖 𝑛𝑖
𝑛ത = ; 𝑖 = 1; 2; 3; …
𝑃𝑚
Onde
𝑛𝑖 = é o coeficiente de Manning correspondente à
subsecção 𝑖
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção composta Coeficiente de Manning

•Alternativamente, em secções compostas


em cursos artificiais ou naturais, a
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determinação de n pode ser feita com base


na área molhada:
σ 𝑛𝑖 𝐴𝑖
𝑛ത = ; 𝑖 = 1; 2; 3; …
𝐴
Onde
𝑛𝑖 = é o coeficiente de Manning correspondente à
subsecção 𝑖
ESCOAMENTO UNIFORME

Curva de capacidade
• Esta curva pode ser estabelecida analisando a
fórmula de Manning:
Hidráulica II. Capítulo II.

1 2Τ3 1Τ2
𝑄 = 𝐴𝑅ℎ 𝑆0
𝑛
Isolando os termos independentes da altura do
escoamento, tem-se,
𝑛𝑄 2Τ3
1Τ2
= 𝐴𝑅ℎ =𝐹 𝑥
𝑆0
Em que F 𝑥 é a curva de capacidade de
escoamento da secção função da profundidade 𝑦𝑛
ESCOAMENTO UNIFORME

Secção óptima
• Corresponde a área molhada que permite a máxima
capacidade de escoamento do canal
Hidráulica II. Capítulo II.

❑ Secção circular:
1 2Τ3 1Τ2 → 𝜃 = 128,73°
𝑈𝑚á𝑥 = 0,718 𝑅ℎ 𝑆0 ቊ
𝑛 → 𝑦 = 0,813𝐷

1 8Τ3 1Τ2 → 𝜃 = 151,21°


𝑄𝑚á𝑥 = 2,129 𝑅ℎ 𝑆0 ቊ
𝑛 → 𝑦 = 0,938𝐷

A Figura 3 mostra o ponto da ocorrência dos valores


máximos de velocidade e caudal
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção óptima
Hidráulica II. Capítulo II.

Figura 3. Velocidade e caudal em função da profundidade 𝑦.


Ponto de ocorrência da velocidade e caudal máximo
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção óptima

❑ Secção trapezoidal
• Em secções trapezoidais (Figura 4) é possível
maximizar a capacidade de escoamento do canal
Hidráulica II. Capítulo II.

sem ter que necessariamente aumentar a secção


• Para um trapézio, a secção óptima ocorre quando
1 → 𝜃 = 60°
𝑅ℎ = 𝑦 ቊ 2 1Τ2
2 → 𝑃𝑚 = 4𝑦 1 + 𝛼 − 2𝛼𝑦

1
Retângulo: 𝑅ℎ = 𝑦 ; 𝑃𝑚 = 4𝑦 ; 𝑏 = 2𝑦
2
ESCOAMENTO UNIFORME
Secção óptima
Hidráulica II. Capítulo II.

Figura 4.
Parâmetros geométricos de uma secção trapezoidal
ESCOAMENTO UNIFORME

Exercício 1
• Calcular (a) a área molhada, (b) o perímetro
Hidráulica II. Capítulo II.

molhado e (c) o raio hidráulico das seguintes


secções transversais:

1. Rectangular: base: 0,8 m, altura normal: 0,6 m


2. Trapezoidal: base maior: 2,0 m, taludes: 1:2,
altura normal: 1,0 m
3. Triangular: altura normal: 0,7 m, talude: 1:3
ESCOAMENTO UNIFORME

Exercício 2
1. Calcular o caudal em m³/s de um canal recto,
Hidráulica II. Capítulo II.

de 2° de declividade e secção transversal


rectangular de 1,5 m de profundidade e
largura de 1,0 m. considerar um factor de atrito
𝑓 = 0,022.
2. Um canal trapezoidal em betão (sem
acabamento) tem 5,0 m de base (menor),
talude 1:2, e declividade 0,06%. Determinar o
caudal em m³/s. Sabe-se que a altura normal
do escoamento é de 4,0 m.
Hidráulica II. Capítulo I.

Fim da aula 2

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