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Bossa Nova
Bateria
(Acompanha um CD)
Kiko Freitas
LUMIAR
E D I T O R A 5O ANOS DE BOSSA NOVA
iCCHEDlRK 20ANOS DE SONGBOOK
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Bossa Nova
Bateria
(Acompanha um CD)
Kiko Freitas
Editor responsável:
Chediak Arte e Comunicação
Capa:
Bruno Liberati e Rui de Carvalho
Composição e diagramação:
Júlio César P. de Oliveira
Fotos:
Arquivo Kiko Freitas
Revisão de texto:
Nerval M. Gonçalves
Revisão musical:
Ricardo Gilly
Coordenação de produção:
Márcia Bortolotto
Coordenação do projeto:
Nelson Faria
Kiko Freitas toca com pratos SABIAN e peles LUEN-Dudu Portes signature
À minha mãe Beatriz de Castro, pela minha formação como pessoa, pelos primeiros sons em forma de
doce canto, pela luz que me mostrou todo o caminho e pelo apoio desde o início.
Ao grande e eterno amigo Nico Assumpção, pela parceria mágica no caminho da música e por ter sempre
acreditado e apostado em mim.
S U M A R I O DO L I V R O
PREFACIO 7
PARECERES 8
SOBRE O AUTOR 10
CONCEITO DO LIVRO n
HISTÓRICO 12
PRÁTICA B
AGRADECIMENTOS o
NOTAÇÃO 14
PARTE l - CORCOVADO
Comentários gerais 15
Corcovado (parte cifrada) 16
Corcovado (transcrições de bateria) is
PARTE 2 - INSENSATEZ
Comentários gerais 21
Insensatez (parte cifrada) 22
Insensatez (transcrições de bateria) 24
PARTE 7 - WAVE
Comentários gerais 55
Wave (parte cifrada) 56
Wave (transcrições de bateria) 58
GLOSSÁRIO eo
S U M Á R I O DO CD
Nos dias de hoje, todos nós, gente de música e entusiastas, sabemos da importância dos songbooks
idealizados e realizados por Almir Chediak e a Lumiar Editora. Os títulos publicados até o presente
momento são fontes constantes de busca e elucidação do nosso cancioneiro.
Tom Jobim disse certa vez que o songbook era uma obra patriótica; que ele não só iria permanecer
como nos daria filhotes. Eis que surge Toque junto. Visando a aprimorar o conhecimento daqueles que
desejam interpretar canções melódica e harmonicamente correias (tal qual o compositor as pensou), não
excluindo a liberdade de se imprimir um jeito próprio de interpretá-las, o guitarrista Nelson Faria, o
baterista Kiko Freitas e o baixista Ney Conceição estão apresentando três livros e três CDs para que você
"toque junto" com eles. O sistema interativo play along é com certeza a melhor forma de se exercitar
"sentindo" a música.
A experiência e o conhecimento adquiridos por esse consagrado trio de instrumentistas estarão ao seu
dispor para um melhor aproveitamento deste projeto. São sete canções de António Carlos Jobim:
Corcovado, Insensatez, Samba de uma nota só, Samba do avião, Só danço samba, Triste e Wave. Nos
livros (para guitarra, baixo ou bateria) há informações detalhadas que objetivam uma melhor aplicação
deste novo lançamento da Lumiar Editora.
Nunca foi tão fácil conhecer e aprender música. Como é estimulante ver músicos como Nelson, Kiko
e Ney trazendo para nós ideias que certamente nos darão mais filhotes. Parabéns à Lumiar por mais esta
publicação. Vamos em frente. Que venha mais Toque junto, com mais canções, mais compositores,
integrantes deste cancioneiro que nos enche de orgulho e emoção.
João Bosco
PARECERES
Melhor do que falar sobre o KIKO FREITAS, este grandioso baterista, é ouvi-
lo tocar, vê-lo tocar ou cantar com ele pilotando a bateria! Imagino o que ele
possa sugerir como cama rítmica para as músicas maravilhosas de mestre António
Carlos Jobim... Tive a felicidade de ver o Kiko no palco algumas vezes, com
João Bosco e com Michel Legrand.
Estou certa de que ele não simplesmente toca, mas usa as baquetas como
pincéis de cerdas macias, maleáveis, a serviço da música e do que o compositor
sugere no mais profundo da canção. É um instrumentista que ouve a música, ouve
o artista e os músicos com quem divide a canção, integrando-se ao grupo e se
entregando de corpo (literalmente) e alma ao que juntos apresentam. Fiquei
hipnotizada com sua técnica, certa de que é fruto de infinitas horas de estudo.
Convidei-o para gravar comigo no meu novo disco e vivemos juntos
momentos raros, inesquecíveis. Posso imaginar com que suavidade e beleza o
Kiko toca as canções do Tom. Certamente o maestro adoraria tê-lo junto, fazendo
parte de sua banda. Músico delicado, sensível, preciso, seguro, criativo e, acima
de tudo, uma pessoa rara.
Parabéns, Kiko, pelo seu talento e obrigada pelo convite pra escrever aqui.
Um beijo,
Leila Pinheiro
Ivan Lins
It is my opinion that Kiko Freitas hás a lot to offer the world of music ...
Dave Weckl
David Goldblatt
JeffRichman
Andrew Hovan
Cleveland Heights OH, july 2004
SOBRE O AUTOR
É muito importante lembrar que para se tocar bem e compreender qualquer estilo musical é
fundamental que se ouça profundamente o género em questão, analisando diversas gravações e
performances ao vivo com bons músicos e grupos. Sempre achei fantástica a experiência de tocar com
discos de grupos dos mais diferentes idiomas musicais e sempre pensei também ser um pouco limitada a
prática do instrumento apenas com o metrônomo ou bateria eletrônica, apesar de achá-los de grande
utilidade também no desenvolvimento do tempo e na técnica básica de todos os instrumentistas. Quando
tocamos com máquinas, entretanto, perdemos o sentimento humano e, principalmente, a interação
musical e o "diálogo" que existe entre os músicos de um grupo, que, na minha opinião, representa a
verdadeira "mágica" da música e seu principal objetivo.
A ideia deste livro é dar ao músico ou estudante de música informações importantes para o enten-
dimento e interiorização do estilo chamado bossa nova, que, em sua versão instrumental, foi balizada de
"samba-jazz", no início da década de 1960. Os temas utilizados são do grande mestre da nossa música,
Tom Jobim. Recomendo que todos ouçam também as gravações originais dessas músicas, verificando
como foram concebidas, uma vez que neste play along colocamos nossa própria interpretação dos temas.
Todas as músicas abordadas no livro têm uma partitura básica usada por todos os instrumentos.
Optei por não escrever uma partitura de bateria, mas deixar que o leitor possa ver como é o material que
chega às minhas mãos em uma situação normal de show ou gravação. Escrevi as conduções principais,
convenções adaptadas para o instrumento e frases mais importantes.
Aos exemplos escritos e comentários das músicas somam-se as faixas tocadas no CD pelo trio
formado por Ney Conceição (baixo), Nelson Faria (violão) e Kiko Freitas (bateria). O leitor poderá
portanto seguir as sugestões escritas, estudando-as, e também ouvir as execuções gravadas, compreen-
dendo assim o sentido das conduções rítmicas e frases dentro dos temas musicais apresentados.
Para completar, é possível também tocar os temas com o violão e o baixo nas faixas sem bateria,
criando-se um ciclo de absorção do estilo através dos exemplos escritos, análise e audição dos temas
(temas com o trio completo) e prática em conjunto (baixo e violão, sem bateria), buscando a fluência e
liberdade de criação no instrumento.
HISTÓRICO
O termo "samba-jazz" talvez tenha sido usado oficialmente pela primeira vez no ano de 1964,
quando, na gravadora RCA Victor, foi nomeado um gerente para o recém-criado departamento de Bossa-
Jazz-Samba, Roberto Jorge. Em um país dominado pela tradição de cantores e melodias cantadas surgia
uma nova geração de instrumentistas brasileiros fortemente influenciados pelos músicos de jazz dos
Estados Unidos. Esses brasileiros romperam barreiras e tabus e passaram a "cantar" as melodias através
de seus instrumentos. Isso em verdade já ocorria antes da "era dos cantores", com artistas de diversas
gerações como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Radamés Gnatalli, Luciano Perrone,
além de diversos "conjuntos melódicos" e bandas instrumentais que acabaram perdendo espaço para a
música cantada e mais comercial. É importante também lembrar que a bossa nova "foi música antes de
ser canção".
Com o novo movimento da década de 1960, as harmonias j azzísticas foram mescladas com os ritmos
brasileiros, gerando novas melodias e temas. Velhos clássicos da música brasileira foram também
"vestidos" com as novas roupas dessa verdadeira revolução musical.
O próprio Tom Jobim, escrevendo um prefácio para o disco Você ainda não ouviu nada, de Sérgio
Mendes & Bossa Rio, de 1964, profetizou: "Certo dia, lá vinha eu da cidade, naquela hora impossível.
Anda, pára, anda mais um pouquinho e aí pára um tempão. Por impaciência, liguei o rádio: o que veio foi
um piano, lindo, tocado com gosto de menino que descobriu um pé de jabuticaba. E, lá do alto da árvore,
ele riu um riso inexplicável. Meu Deus, a música existe, Deus existe, quem é esse cara? Para onde vão
essas vozes todas? Não sei, mas sei que vão lindas. De repente acabou a música. Catei os meus pedaços e
fui, anda, pára, anda - fui para casa. Mas aquele som ficou e, mais tarde, vim a conhecer quem estava
tocando. Sérgio Mendes é um tremendo músico. Já tocou piano para todo o Brasil e também na Europa e
nos Estados Unidos. Onde quer que este moço se sente, num piano, todo mundo fica sabendo que está
diante de um músico extraordinário. Sua carreira está se iniciando e sei que ele vai muito longe. Além de
ser um intuitivo, é um estudioso. Coisa rara, pois geralmente os intuitivos ficam só intuitivos e os
estudiosos seguem estudiosos. Agora, tive o prazer (o sofrimento) de colaborar com ele neste disco. E
foram mil noites sem dormir e café e cigarros. Depois eu ia levar o Serginho até a Praça XV. Comprá-
vamos os jornais do dia, enquanto vinha chegando a barca que o levava de volta à sua Niterói. Não sou
profeta, mas creio que este disco, produto de muito trabalho e amor, abra novos caminhos no panorama
da nossa música."
Alguns dos músicos e grupos seminais do estilo foram: Sérgio Mendes, Tião Neto, Raul de Souza,
Edson Maciel, Aurino Ferreira, Hector Costita, Tenório Jr, Zézinho, Hamilton Cruz, Paulo Moura, J. T.
Meireles, Rio 65 Trio, Bossa Três, Brasil'65, Hot Trio, Os Cobras, Quinteto Jazz e Bossa, Sexteto Bossa
Rio, Zimbo Trio, entre vários outros. Os bateristas mais marcantes desse novo movimento foram Edison
Machado, Milton Banana, Dom Um Romão, Vítor Manga, Chico Batera, entre outros que seguiram os
passos de velhos mestres do instrumento como Luciano Perrone.
PRATICA
AGRADECIMENTOS
À minha mãe Beatriz de Castro; à minha família; a Helena, Sr. Manoel e Dona Elaine dos Santos;
aos companheiros Nelson e Ney, por tocarem sempre de forma tão verdadeira e inspiradora; a todos os
meus alunos; aos grandes amigos David, Kimmer e Jordan Goldblatt, João Bosco, Nico Assumpção,
Família Locks, Daniel Barros, Nazari; ao pessoal da Lumiar; a Almir Chediak, que muito divulgou a boa
música e os músicos; a todos os grandes músicos vivos ou que já transcenderam; a Dave Weckl, pela
sinceridade, generosidade e apoio "circular"; a todos os bateristas que moldaram a bateria brasileira; a
Charles Gavin, pelo belo trabalho de resgatar gravações históricas da nossa música; a Wayne Blanchard e
a todo o pessoal da Sabian; a peles Luen-Dudu Portes signature; a Deus e Jesus pela música e por terem
me feito músico. Obrigado.
NOTAÇÃO
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(pé)
PARTE l - Corcovado
(faixas l e 8 do CD)
Nesta música a bateria entra de uma forma pouco usual no estilo bossa nova, pontuando o
último acento da sincopa sugerida pelo violão no segundo compasso de anacruse da introdução.
A condução básica utilizada para este tema foi uma forma tradicional antiga de se conduzir
samba, com uma vassourinha na mão direita e uma baqueta na mão esquerda. O som da vassourinha
conduzindo na caixa próxima da borda e a baqueta tocando no aro da caixa faz lembrar um efeito de
ganzá e tamborim que fica muito interessante e percussivo.
A condução da introdução está transcrita e já mostra a ideia, usada também em outras partes do
tema, do som fechado da levada de caixa com a vassourinha + aro somado ao som aberto do ride com
rebites que é tocado pela vassourinha ocasionalmente (figura 1).
A condução do início do tema é toda fechada, com a vassourinha na caixa com a mão direita e o
aro tocado com a mão esquerda (figura 2). Na repetição do tema começa a ideia meio aberta/meio
fechada, com a vassourinha tocando as semicolcheias do primeiro tempo do compasso no ride com
rebites e as semicolcheias do segundo tempo do compasso na caixa, com o aro tocando durante todo
o tempo (figura 3).
Na casa 2 o padrão de aro muda um pouco, passando a tocar uma nota forte na cabeça do tempo
2 do compasso com uma leve nota fantasma (ghost note) na última semicolcheia do tempo 2,
mantendo-se o desenho do tema no primeiro tempo do compasso. Isso oferece à essa parte do tema
uma sensação de relaxamento, como se a bateria estivesse tocando um pouco "para trás" (laia back —
figura 4).
Outra parte interessante é a mudança de levada na segunda casa durante o solo de violão,
quando a figura de bumbo e hi-hat com os pés muda completamente, parecendo impulsionar o
solista para novas ideias (figura 5). O ponto principal neste tema é tocar bem relaxada e suavemente.
KIKO FREITAS
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PARTE 2 - Insensatez
(faixas 2 e 9 do CD)
Nesta música o ambiente todo é mais solto e etéreo, as conduções são muito sutis e não explíci-
tas. Procurei pensar na criação da bateria para este tema como uma obra de pintura, na qual o pintor
vai escolhendo as cores, misturando aos poucos as tintas até alcançar a cor que deseja para a tela que é
a música. O volume da execução da bateria é também muito suave e o uso das vassourinhas é
constante em todo o tema.
Alguns pratos "estranhos" e com sonoridade bem marcante são usados para construir os matizes
diversos para a música. Ao tocar nesses pratos com a vassourinha ou com as mãos tem-se um resul-
tado muito musical. Várias vezes eu descanço a vassourinha em cima do surdo e toco os pratos com a
mão direita, retomando rapidamente a vassourinha após a execução.
E importante citar aqui a grande influência que a bossa nova teve do jazz, especialmente das
baladas.
Procuro não tocar o bumbo e o contratempo (hi-haf) originais da bossa nova, tentando mais
omitir que tocar, em algumas passagens.
A ideia da introdução está transcrita e apresenta um prato que se antecipa aos demais
instrumentos, em anacruse, criando uma ideia cíclica de uma figura em tercinas de semicolcheia que
se apresenta sempre deixando um compasso entre cada repetição da ideia (figura 1). A figura é tocada
ora na parte fraca do tempo (contratempo), ora na parte forte. A mão esquerda executa um círculo
amplo na caixa com a vassourinha, acompanhando e dando suporte ao desenho da mão direita
(figura 1.1).
Note sempre a mudança de atitude na condução nos compassos 21 e 29, quando vou, aos
poucos, dando mais cadência na levada e tocando o bumbo e o hi-hat de forma mais fixa.
Os desenhos tentam mostrar os movimentos usados com ambas as mãos ao tocar com as
vassourinhas (figuras 2 e 3).
No início do solo de baixo fica claro um desenho melódico nos pratos, com o bumbo e o hi-hat
com o pé esquerdo bem esparsos. A mão esquerda toca em círculos na caixa como na introdução
(figura 4).
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Figura 1.1: A mão esquerda toca este padrão circular como acompanhamento da condução escrita na
figura 1.
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Figura 2. Mão direita: No primeiro tempo as partes forte e fraca do tempo ( l ê "e") passam pelo mesmo
ponto da caixa, como mostra o pequeno círculo. O início do movimento é marcado pelo ponto preto na
extremidade do círculo. No tempo forte do segundo tempo a mão direita desenha um número 2, que
começa no alto da caixa e termina na parte de baixo, à direita, da pele. O tempo fraco do segundo tempo
é tocado da mesma forma que o tempo fraco do primeiro tempo.
Figura 3. Mão esquerda: No primeiro tempo a mão esquerda desenha um pequeno círculo na parte de
baixo, à esquerda, da caixa, passando o tempo forte e o tempo fraco ( l ê "e") pelo mesmo ponto. No
segundo tempo o tempo forte é um amplo círculo que começa onde está marcado o ponto escuro e se
estende por toda a circunferência da caixa. O tempo fraco é tocado no mesmo pequeno círculo do
primeiro tempo.
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KIKO FREITAS
Figura 4: Primeiros dez compassos da condução do ride durante o solo de baixo. A mão esquerda toca
com a vassourinha, fazendo um acompanhamento ao desenho do ride, como na introdução.
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PARTE 3 - Samba de uma nota só
(faixas 3 e 10 do CD)
Este tema é iniciado tocando com as vassourinhas durante todo o tema e o improviso de violão,
mudando para as baquetas no início do solo de baixo e seguindo assim até o fim do tema. Essa
variação proporciona uma nuance ao colorido da música.
A execução da vassourinha é feita com um padrão básico de quatro semicolcheias, sendo a
primeira e as duas últimas notas do grupo de cada tempo executadas com a mão direita na forma de
taps, com dinâmica bem baixa. A segunda semicolcheia de cada grupo de quatro figuras é tocada
arrastando-se a vassourinha com a mão esquerda contra a pele da caixa, tendo o efeito característico
desse tipo de baqueta.
A escrita que usei para representar esses toques "arrastados" da mão esquerda foi a colocação de
um pequeno arco sobre a nota (figura 1). Temos então uma soma de toques baixos batidos (taps) e
toques arrastados sobre a pele. A ideia é dar à condução um balanço diferente pela variação existente
entre os dois toques, sendo o toque arrastado da mão esquerda levemente acentuado pelo fechamento
dos dedos indicador e médio (pegada tradicional) sobre o cabo da vassourinha, pressionando-o
levemente contra a pele.
É importante apoiar a última colcheia dos compassos 20 e 24, podendo-se inclusive preparar o
ataque no compasso 24 (figura 2). A bateria prepara também a entrada do solo do violão, compasso
37 (figura 3).
A ideia cíclica de acompanhamento do início do solo de baixo no ride está transcrita como
referência de construção e apoio ao solista, podendo-se ver o início mais esparso e a sugestão de um
padrão que se repete ao longo do solo, recorrendo às vezes ao tradicional uso das quatro semicolcheias
tocadas diretamente para dar mais "gás" ao solista (figura 4).
Acho importante a elaboração de uma ideia musical de condução, evitando as figuras totalmente
retas e repetidas, guardando essas figuras para quando se quer realmente impulsionar a música ou o
solista.
É importante prestar atenção à ideia da primeira troca de oito compassos com o violão, na qual
eu toco um desenho de sete por oito entre a caixa, o tamborim, o surdo e o tom que se inicia no
contratempo do terceiro compasso de improviso de bateria. O ciclo começa com a caixa (figura 5).
A ideia de frase para a bateria sobre a convenção final está escrita também (figura 6).
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KIKO FREITAS
Figura 4: Condução com a baqueta no ride durante os primeiros oito compassos do solo de baixo. Na
última repetição do tema, conduzo com quatro semicolcheias diretas, adotando depois novamente uma
ideia cíclica parecida com esta.
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Figura 5: Primeiros oito compassos de solo de bateria, na troca de oito compassos com o violão. Tocado
com baquetas.
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Michel Legrand e Kiko Freitas
PARTE 4 - Samba do avião
(faixas 4 e 11 do CD)
Neste clássico de Tom Jobim a bateria entra na introdução já em anacruse, chamando uma ideia
de maracatu com o uso de toques múltiplos (press roll) com a mão esquerda, enquanto a mão direita
toca drags de uma forma mais limpa.
O diferencial aqui está no uso de um bloco de percussão tocado com pedal no pé esquerdo que
executa uma citação da célula gonguê, tradicional do maracatu (figura 1). A célula não aparece na
íntegra, mas apenas para adicionar uma cor à condução. No compasso 12 da introdução aparece um
prato minichina tocado com os bumbos, dando um pouco mais de peso a essa parte da intro.
É importante notar que a ideia do maracatu se repete quando a ideia da introdução é tocada
novamente no fim do tema.
O ponto-chave nesta música é atingir a precisão na transição das partes de maracatu para samba
e vice-versa, cuidando para tocar com o metrônomo sem perder o sentimento humano e a integração
com o violão e o baixo.
No início do tema (compasso 17) é importante prestar atenção ao uso de dois sons diferentes de
pratos, preparando a entrada do tema (figura 2).
Chamo a atenção também para a forma como toquei a convenção do compasso 29, com o tom-
tom agudo criando uma espécie de contraponto à ideia da frase melódica (figura 3).
Na repetição do tema, note a figura do aro de caixa em uma ideia polirrítmica de seis contra dois
(figura 4).
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PARTE 5 - Só danço samba
(faixas 5 e 12 do CD)
Neste tema a bateria entra em anacruse com o prato de condução e as vassourinhas são mais uma
vez utilizadas em toda a música.
O tipo de condução utilizado na parte A do tema é um misto de samba com afoxé, no qual a
caixa toca um acento forte (back beat) no tempo l do segundo compasso, além de manter as semi-
colcheias em toda a levada e o bumbo toca sempre as duas colcheias no segundo tempo de cada
compasso (base do afoxé - figura 1).
Esse tipo de levada é muito aplicada pelo pianista e compositor João Donato.
A forma de tocar com as vassourinhas é semelhante à utilizada no Samba de uma nota só, com a
mão direita percutindo as semicolcheias (taps) l, 3 e 4 e a mão esquerda "arrastando" a vassourinha
contra a pele.
Na parte B do tema é aplicada uma condução onde o ride com rebites é tocado sempre na cabeça
dos tempos com a mão direita, que também toca a caixa nos contratempos, enquanto a mão esquerda
toca, agora sem arrastar, as semicolcheias l, 2 e 4 com um leve acento na quarta semicolcheia (figura
típica do samba). O bumbo continua tocando as duas colcheias no segundo tempo dos compassos.
A parte diferencial está no pé esquerdo, que toca uma clave de marcha utilizando o som do block
plástico de percussão (figura 2).
Acontecem espaços que são preenchidos pela bateria no fim do primeiro chorus, preparando para
o solo de violão (figura 3), e no fim do solo do baixo, preparando a volta do tema (figura 4).
No fim da música também ocorrem intervenções da bateria entre as convenções do violão e na
frase final, onde o trio toca a mesma figura em uníssono. Essas intervenções estão transcritas aqui
como sugestão e a título de análise do que foi criado por mim. E válido o estudo desses exemplos sem
esquecer de criar os seus próprios também (figuras 5, 6 e 7).
KIKO FREITAS
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KIKO FREITAS
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Figura 3:
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Figura 4:
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45
Nelson Faria, Kiko Freitas e Ney Conceição - Nosso Trio
PARTE 6 - Triste
(faixas 6 e 13 do CD)
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TOQUE JUNTO-BOSSA NOVA
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KIKO FREITAS
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51
KIKO FREITAS
Figura 5: Condução nos primeiros 16 compassos do solo de violão. O tamborim está escrito na linha do
tom 1.
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KIKO FREITAS
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54
PARTE 7 - Wave
(faixas 7 e 14 do CD)
Aqui a bateria já entra na introdução tocando harmónicos nos pratos, criando uma ideia de
contraponto, respondendo à melodia tocada pelo violão.
A sutileza e a economia são as chefes na execução desta música. A música é tocada inicialmente
com baquetas.
Tento resgatar urna forma muito antiga de se tocar a bossa nova, quando o baterista conduzia no
hi-hat tocando as quatro semicolcheias de cada tempo com a mesma intensidade, sem variações de
dinâmica.
Nesta faixa eu toco as semicolcheias com a mão direita conduzindo no aro da caixa, enquanto a
mão esquerda toca o aro característico da bossa nova (figura 1).
Na repetição do tema, após a casa l, a levada muda ligeiramente (figura 2). No compasso 23 há
uma importante mudança de atitude, na qual eu abro a condução sutilmente no ride, voltando
depois à ideia inicial no compasso 31.
No início do solo de violão, após a convenção que marca o fim do chorus, que é a mesma do fim
da introdução, começo a tocar um ganzá com a mão direita em fusas e o tamborim com a mão
esquerda tocando um desenho bem típico da bossa nova (sem baquetas, muito levemente com o dedo
indicador -figura3).
No compasso 23 do solo de violão (após a casa 2) a levada toma nova forma (como já havia
acontecido durante o tema), utilizando o ride, pratos em harmónicos, caixas esparsas e com toques
múltiplos (press roll) e o hi-hat tocado com o pé esquerdo criando um desenho assimétrico utilizando
muitas vezes a abertura dos dois pratos (splash), tudo para criar um clima mais espacial, deixando um
certo suspense no ar (figura 4). Isso tudo ajuda o solista a sentir-se confortável, podendo criar novas
tensões e climas no improviso.
Na volta do tema, após o solo, o ganzá e o tamborim voltam à cena conduzindo inicialmente
com apenas uma semínima tocada no bumbo no tempo 2 do compasso e quase sem tocar o hi-hat
com o pé esquerdo.
Na repetição do tema, depois da casa l, o bumbo e o hi-hat característicos do estilo entram,
criando um clima de desenvolvimento na levada. Depois da segunda casa as baquetas voltam tocando
de forma mais solta. Preste atenção na secada dos pratos com a mão preparando a volta ao início do
tema (compasso 30).
A ideia da introdução volta no fim da música de uma forma mais cheia, o que cria um contraste
com a primeira vez em que ela ocorre, quando só os pratos tocavam.
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56
TOQUE J U N T O - B O S S A NOVA
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KIKO FREITAS
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Figura 1: Condução da primeira parte, com as duas mãos tocando no aro da caixa.
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Figura 3: Condução com ganzá na mão direita e tamborim tocado com a mão esquerda, usada no início
do solo de violão e na volta ao tema, após o solo.
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TOQUE JUNTO-BOSSA NOVA
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KIKO FREITAS
GLOSSÁRIO
Chorus - É a forma da música completa com todas as partes, incluindo ritornelos e codas. Os improvisos
são feitos usualmente sobre a forma completa da música, uma ou mais vezes, ou seja, um ou mais chorus.
Ganzá - Instrumento de percussão de madeira, metal ou plástico que tem em seu interior arroz, areia ou
outro material que produza som.
Laíd back - Forma de tocar muito relaxadamente, parecendo "para trás" do tempo.
1a casa e 2a casa - Às vezes no fim de uma repetição há uma Casa l marcada, o que significa voltar ao
sinal de repetição e, quando chegar novamente ao compasso da Casa l, pular diretamente à Casa 2.
Sincopa - É o prolongamento da parte fraca de um tempo para a parte forte de um outro tempo.
Anacruse - Uma ou mais notas não acentuadas imediatamente antes do primeiro tempo forte de um
compasso.
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Outras publicações da Lumiar Editora
• Harmonia & Improvisação • Segredos do violão
Em dois volumes (Português/Inglês/Francês)
Autor: Almir Chediak Autor: Turíbio Santos
(Primeiro livro editado no Brasil sobre técnica de Ilustração em quadrinhos: Cláudio Lobato
improvisação e harmonia funcional aplicada em mais de 140 (Um manual abrangente, que serve tanto ao músico iniciante
músicas populares.) quanto ao profissional.)
João Bosco
ISBN: 85-7736-002-4
LUMIAR
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