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Professor Henrique Correia

Procurador do Trabalho

Professor de Direito do Trabalho

Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm

Professor Henrique Correia


Procurador do Trabalho

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INFORMATIVO Nº 221 DO TST

(Poder de controle e fiscalização de e-mail)

“RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA


DA LEI Nº 13.015/2014 E ANTERIORMENTE À LEI Nº 13.467/2017. 1. PROVA
ILÍCITA. "E-MAIL" CORPORATIVO. ACESSO E UTILIZAÇÃO DO CONTEÚDO
DAS MENSAGENS DOS EMPREGADOS PELO EMPREGADOR.
POSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. I. Consoante entendimento consolidado
neste Tribunal, o e-mail corporativo ostenta a natureza jurídica de ferramenta de
trabalho. Daí porque é permitido ao empregador monitorar e rastrear a atividade do
empregado em e-mail corporativo, isto é, checar as mensagens, tanto do ponto de vista
formal (quantidade, horários de expedição, destinatários etc.) quanto sob o ângulo
material ou de conteúdo, não se constituindo em prova ilícita a prova assim obtida. II.
Não viola os arts. 5º, X e XII, da Constituição Federal, portanto, o acesso e a utilização,
pelo empregador, do conteúdo do “e-mail” corporativo. III. Acórdão regional proferido
em consonância ao entendimento desta Corte Superior. IV. Recurso de revista de que
não se conhece. [...]” (TST-RR-1347- 42.2014.5.12.0059, 4ª Turma, rel. Min.
Alexandre Luiz Ramos, julgado em 23/6/2020.) (Informativo nº 221 – decisão
turmária)

Comentários:

1. PODERES DO EMPREGADOR
O poder do empregador está previsto no art. 2º da CLT, pois o empregador “dirige a
prestação pessoal de serviços”. Como ele assume, exclusivamente, os riscos da atividade
econômica, há necessidade de organizar e controlar a prestação de serviços, mesmo que,
para isso, seja necessária a aplicação de penalidades aos trabalhadores. Se de um lado há
presença do poder de direção, por parte do empregado há também a presença da
subordinação. O poder de direção do empregador encontra seu fundamento na própria
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existência do contrato de trabalho. De acordo com Gustavo Filipe Garcia Barbosa:


Uma outra corrente, que pode ser considerada a mais adequada, defende que o
fundamento do poder de direção encontra-se no contrato de trabalho. O fundamento,
assim, seria de ordem jurídica; a existência do contrato de emprego, em si, autoriza o
empregador a exercer o poder de direção, tornando o trabalho do empregado
subordinado1.

Importante frisar que esses poderes, conferidos ao empregador, não são absolutos. Há
limites previstos na CLT e na CF/88, por exemplo, respeitar a intimidade e a dignidade
do empregado. Aliás, se transmitida ordem ilegal (comprar entorpecentes, fazer sexo com
clientes da empresa), alheia ao contrato (empregado contratado como professor de inglês,
sendo exigido que transporte os filhos do empregador para escola e que faça suas compras
de supermercado), ou desproporcional (trabalhar 18 horas por dia, ou sem equipamentos
básicos de proteção), o empregado poderá se recusar2 a cumprir a ordem dada.
Nesse mesmo sentido, o TST entendeu que ocorre abuso do poder de direção quando
o empregador impede o empregado de utilizar o banheiro para evitar interrupção na
produção3. De acordo com o tribunal, a limitação ao uso do banheiro, ainda que seja nas
“linhas de produção”, acarreta risco à saúde do empregado ao comprometer o atendimento
às necessidades fisiológicas impostergáveis.
Os poderes do empregador são divididos em: poder de organização, de controle de
disciplinar. O tema do informativo analisado diz respeito aos limites do poder de controle.

2. PODER DE CONTROLE
Por meio do controle, o empregador fiscaliza as tarefas executadas, verifica o
cumprimento da jornada de trabalho e protege seu patrimônio, mediante o controle de
estoque, produtividade etc.
Sobre o assunto, há discussão quanto à possibilidade de revistas íntimas e pessoais
dos empregados. O(a) trabalhador(a) que lida com joias ou munição de armas poderá ser
revistado? Há expressa previsão em lei vedando revistas íntimas nas mulheres, art. 373-
A, VI, da CLT. Essa proibição à revista íntima tem sido estendida também aos
empregados do sexo masculino, com fundamento no princípio da igualdade. Em
abril/2016, foi promulgada a Lei nº 13.271/2016, que estabelece a proibição de revistas
íntimas de funcionários e clientes do sexo feminino por empresas privadas e órgãos e

1
. GARCIA, Gustavo Filipe Garcia. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. Forense: Rio de Janeiro, 2016. p. 382.
2
. De acordo com Délio Maranhão, o direito de resistência ou jus resistentiae: “A personalidade do empregado não se anula com
o contrato de trabalho, razão pela qual lhe é reconhecido certo jus resistentiae no que respeita às determinações do empregador.
Assim, pode ele, legitimamente, recusar-se ao cumprimento de uma ordem, por exemplo, que o coloque em grave risco, que fuja
à natureza do trabalho contratado, que o humilhe ou diminua moralmente, ou seja ilícita, ilegal ou de execução
extraordinariamente difícil.”
3
. Informativo nº 120 do TST.
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entidades da Administração Pública:


Art. 1º. As empresas privadas, os órgãos e entidades da Administração Pública, Direta
e Indireta, ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima de suas
funcionárias e de clientes do sexo feminino.
Art. 2º. Pelo não cumprimento do art. 1º, ficam os infratores sujeitos a:
I – multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ao empregador, revertidos aos órgãos de
proteção dos direitos da mulher;
II – multa em dobro do valor estipulado no inciso I, em caso de reincidência,
independentemente da indenização por danos morais e materiais e sanções de ordem
penal.

Com essa nova lei, acaba a discussão sobre a possibilidade de revistas íntimas em
mulheres, em quaisquer atividades, inclusive no serviço público.
Há, ainda, a discussão sobre a possibilidade de revistas íntimas das empregadas e
servidoras públicas que prestam serviços em sistemas prisionais. O art. 3º da Lei nº
13.271/2016 previa que a revista íntima em estabelecimentos prisionais seria permitida
desde que realizada por servidoras do sexo feminino. Contudo, o dispositivo foi vetado
pelo Chefe do Executivo. Além disso, entendemos que essa permissão somente seria
aplicada às pessoas que fossem realizar visitas ao presídio4. Nesse caso, a medida se
justifica diante da necessidade de garantir a segurança da sociedade e dos próprios
detentos, pois evitaria o ingresso de armas, aparelhos celulares, drogas etc.
Entendemos, portanto, que a revista íntima das empregadas e servidoras públicas que
trabalham nos presídios não é possível, uma vez que o art. 1º da Lei nº 13.271/2016 é
claro ao proibir essa forma de revista a todas as funcionárias da Administração Pública,
o que inclui as funcionárias públicas do sistema prisional.
Para as demais atividades e empresas, repita-se que essa conduta não é admitida nem
mesmo via instrumento coletivo. Registra-se que a alteração legislativa acima transcrita
deveria ter ampliado a proibição de revistas íntimas também aos homens, homossexuais
e transexuais. Não nos parece razoável a proibição restrita apenas às mulheres e permitida
aos homens.
Sobre esse assunto, interessante conferir a jurisprudência do TRT-RJ que proíbe a
revista íntima a qualquer trabalhador de qualquer sexo:
Súmula nº 16 do TRT – 1ª Região. Revista íntima. Dano moral. Limites dos poderes
de direção e fiscalização. Violação à honra e à intimidade do trabalhador. Princípio
da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III, CF).
Cabe reparação por dano moral, por ferir o princípio da dignidade da pessoa humana,
o ato patronal consubstanciado em revistas íntimas de trabalhadores de qualquer sexo,
incluindo a vigilância por meio de câmeras instaladas em banheiros e vestiários.

4
. Destaca-se, entretanto, que a Resolução nº 5/2014 do CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,
recomenda que não seja realizada nenhuma forma de revista íntima nos presídios, nem mesmo dos visitantes, sendo permitida
somente a revista pessoal desde que preservada a integridade física, moral e psicológica da pessoa revistada.
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As revistas pessoais, realizadas com razoabilidade, sem que envolvam nudez, têm
sido admitidas5, desde que a atividade exercida justifique esse controle. O TST6 tem
aceitado essas revistas pessoais, de bolsas, mochilas e sacolas, desde que não submeta o
trabalhador a situação constrangedora. Aliás, a revista generalizada e impessoal desses
pertences do empregado pode, segundo a jurisprudência do TST, ser realizada por pessoa
do sexo oposto7, por exemplo, segurança do sexo masculino fiscaliza a bolsa da
empregada (sem que haja contato físico com a trabalhadora). Contudo, se a revista pessoal
envolver o apalpamento de partes do corpo do empregado, há ofensa ao direito à
intimidade do trabalhador, possibilitando a indenização por dano moral8.
Por outro lado, há posicionamento minoritário que proíbe inclusive as revistas
pessoais de bolsas e pertences do empregado por violação ao direito de intimidade e
dignidade humana. Nesse sentido, prevê a jurisprudência consolidada do TRT da 5ª
Região:
Súmula nº 22 do TRT da 5ª Região: Revista pessoal. Pertences do empregado.
I – É ilícito ao empregador realizar revista pessoal em pertences do empregado.
II – A prática da revista em pertences do empregado, sejam bolsas, sacolas, carteiras,
mochilas ou qualquer outro acessório que ele porte, configura violação ao direito
fundamental de proteção à intimidade e à dignidade humana (Art. 1º, III, e incisos II
e X do art. 5º da CF/88), acarretando dano de natureza moral.

Em junho/2017, a Súmula nº 7 do TRT 19ª Região, que antes vedava a realização de


revistas visuais, foi reformada, passando a vigorar com a seguinte redação:
Súmula nº 7 do TRT da 19ª Região:
Revista Íntima. Dano Moral. Configuração. I – Submeter o empregado a revistas
íntimas em seus pertences pessoais viola direitos da personalidade do trabalhador
assegurados constitucionalmente (art. 5º, X, CF), o que implica a existência de dano
moral e o pagamento da correspondente indenização. II – A mera revista visual dos
pertences do trabalhador não constitui violação ao direito da personalidade do
empregado, logo não configura dano moral, nem dá lugar a pagamento de
indenização.

2.1. Fiscalização de e-mail

Há discussão sobre a possibilidade de fiscalizar o correio eletrônico (e-mail) do

5
. O tema é polêmico. Há corrente doutrinária que defende a impossibilidade, inclusive das revistas pessoais. A fiscalização
exercida pelo empregador é possível mediante outros métodos, como câmeras, controle de estoque etc. Para as questões objetivas,
que é a finalidade dessa obra, importante assinalar a opção que traga o posicionamento majoritário: revistas íntimas são vedadas,
e as revistas pessoais, admitidas, desde que com cautela e razoabilidade.
6
. Informativos nº 3 e 112 do TST.
7
. Informativo nº 17 do TST.
8
. Informativo nº 121 do TST
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empregado. Prevalece o entendimento de que se o e-mail é da empresa (corporativo),


utilizado como ferramenta de trabalho, há possibilidade de fiscalização, pois é
responsabilidade da própria empresa verificar o conteúdo dessas mensagens. Nesse
sentido, é o informativo em análise que estabelece que o e-mail corporativo tem natureza
jurídica de ferramenta de trabalho.
Por essa razão, é permitido ao empregador monitorar e rastrear a atividade do
empregador, checando as mensagens, seja do ponto de vista formal, como quantidade,
horários de envio das mensagens, destinatários, seja do ponto de vista material ou de
conteúdo.
Além disso, diante desse poder do empregador, é permitido o uso das informações
coletas como prova no processo.
O controle, entretanto, não pode recair sobre o correio eletrônico pessoal/particular do
trabalhador, sob pena de configurar afronta à intimidade.

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Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm
O material foi retirado do livro Direito do
Trabalho da Coleção Concursos Públicos – 5ª
edição/2019 da Editora JusPodivm, que conta
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atualizado com as últimas novidades legislativas
e jurisprudenciais acerca do Direito do Trabalho,
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Direito do Trabalho. Coleção Concursos
Públicos. 5ª edição 2019. Editora Juspodivm

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