Pedagógico
Gênero na
EJA
2019
2019
S586c Da Silva, Analise
Caderno pedagógico : gênero na educação de jovens e adultos (EJA) /
Analise de Jesus da Silva ... [et al.]. – Belo Horizonte : NEJA: FaE/ UFMG, 2019.
182 p. il.
ISBN 978-85-8007-136-8
CDD- 374.012
Catalogação da Fonte * : Biblioteca da FaE/UFMG (Setor de referência)
Bibliotecário: Ivaney Duarte. CRB6 2409
(Atenção: É proibida a alteração no conteúdo, na forma e na diagramação gráfica da ficha catalográfica † .)
* Ficha catalográfica elaborada com base nas informações fornecidas pelo autor, sem a presença do trabalho físico completo. A veracidade e correção
das informações é de inteira responsabilidade do autor, conforme Art. 299, do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 - "Omitir, em
documento público ou particular, declaração que dele devia co nstar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita..."
† Conforme Art. 297, do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940: "Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento
público verdadeiro..."
DEDICATÓRIA
Dedicamos este Caderno Pedagógico aos 54.810 cidadãos e cidadãs que tem 15
anos ou mais e que são não alfabetizados; às 579.740 pessoas com o Ensino
Fundamental incompleto e que tem 15 anos ou mais; e às 343.360 pessoas de 18
anos ou mais e com Ensino Médio incompleto. Estes sujeitos totalizam 977.910,
ou seja, 39% da população de Belo Horizonte.
Dedicamos este Caderno aos 579 educadores e educadoras que atuam com as
519 turmas de Educação de Jovens e Adultos ofertadas pela Prefeitura de Belo
Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Educação, nas quais
compartilham saberes os 13.055 educandos e educandas da EJA, segundo o
SGE, em 05 de novembro de 2019.
1
SUMÁRIO
2
Gênero e Diversidade Sexual na EJA -
Alexandre Gomes Soares, Analise da Silva e
Sâmara Carla Lopes Guerra de Araújo ....... 116
01. Causo................................................................................. 116
02. Teorização ......................................................................... 117
03. Relatos de Experiência....................................................... 121
04. Sequência Didática ............................................................ 125
Referências Bibliográficas ........................................................ 149
3
Apresentação
DA SILVA, Analise.
4
Os convites que trago a você são para que nos leia, aplique ao seu cotidiano
aquilo que avaliar que deva e produza o seu Caderno Pedagógico. Teorize a sua
prática e dê notícias ao mundo sobre que possibilidades você tem encontrado
em seu fazer docente.
Sobre a EJA
2
https://neja.fae.ufmg.br/index.php/pesquisa/
5
Médio incompleto. Estes sujeitos totalizam 977.910, ou seja, 39% da população
de Belo Horizonte.
Por ser uma modalidade da Educação Básica, a Educação de Jovens e
Adultos não pode reproduzir a mesma matriz curricular do Ensino
Fundamental e Médio, destinada a crianças e adolescentes. Em vez disso, a
Educação de Jovens e Adultos deve ser pensada como uma modalidade que
requer um olhar específico e diferenciado, tendo como eixo seus sujeitos e seus
motivadores para a busca pela escolarização.
Dessa forma, a EJA diz respeito a um campo teórico e prático vasto que
mantêm numerosas interfaces com temas correlatos. Entendemos que, se ao
longo da última década, as ações, projetos e programas de educação escolar no
Brasil trataram como prioridade a universalização do acesso e permanência
de crianças e adolescentes no Ensino Fundamental, o quadro educacional
brasileiro ainda se mostra bastante insatisfatório quanto à garantia dos direitos,
e um de seus grandes desafios continua sendo oferecer Educação Básica aos
jovens, adultos e idosos que a ele não tiveram acesso ou não conseguiram
concluí-lo com êxito, marcando em qualquer uma das formas a negação do
direito à educação.
Entendemos que tal resposta se dará na medida em que cumprirmos o
objetivo de lançar luz sobre o momento que estamos vivendo e em que se
anuncia a retirada de direitos que afetará, em maior medida aos educandos da
EJA, sujeitos de direitos historicamente alijados.
6
A construção social, coletiva e intencional do reconhecimento de que
situação de vulnerabilidade a que são submetidos todos os sujeitos
discriminados pelo sexo de nascimento e ou pela orientação sexual requer a
adoção de políticas públicas que lhes garantam além da vida o direito de que
ela seja bem vivida vem junto com a compreensão de que situação é o que se
configura em um certo momento, enquanto condição é algo dado pela essência,
pela natureza.
A Lei 11.340/063, em seu art. 7º demonstra algumas considerações e
estabelece critérios objetivos para categorizar o que seja a violência doméstica e
familiar contra a mulher. Assim dispõe o artigo 7º da mencionada lei:
Art. 7 º São formas de violência doméstica e familiar contra a
mulher, entre outras:
I- a violência física, entendida como qualquer conduta que
ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta
que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante,
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;
III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou
uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio,
3Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
Acesso em 12.09.2019
7
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV- a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta
que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V- a violência moral, entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injuria.
Assim, mulheres não podem ser violentadas. Se em outros momentos
acreditávamos que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”, hoje
sabemos que há dados oficiais alarmantes e que representam a realidade das
violências vivenciadas, cotidianamente, inclusive por algumas educandas da
EJA e praticadas por alguns educandos da EJA. E, dessa forma, esse alarme
precisa soar na consciência coletiva da necessidade de um compromisso do
conjunto da sociedade para combatermos o machismo, o sexismo, a lgbtifobia,
o abuso e a exploração econômica e sexual de crianças, adolescentes, jovens,
adultas e idosas.
Diante disso, este Caderno Pedagógico se dispõe a dialogar com
educadores e educadoras da EJA na perspectiva de identificar violências de
gênero; trabalhar projetos educativos que busquem contribuir para que as
pessoas vitimadas se reconheçam nessa situação; trabalhar projetos educativos
que busquem contribuir para que as pessoas vitimadas compreendam sua
condição de sujeito de direitos; identificar formas de se constituir uma rede de
proteção às pessoas vitimadas pela violência de Gênero, seja ela, física,
psicológica, sexual, patrimonial, moral, nas escolas em que atuem.
8
Sobre este Caderno
9
Este Caderno Pedagógico tem eixos estruturantes, a saber:
A experiência docentes e discentes como eixos articuladores da prática
educativa, por serem mola propulsora da abordagem temática;
A imaginação sociológica como elemento constitutivo da escrita do
material;
O direito como elemento indissociado de uma prática educativa
emancipatória.
Dessa forma, este Caderno se divide em uma Apresentação e cinco
Capítulos:
Gênero na EJA
Gênero, Religiosidade e Laicidade na EJA
Gênero e Diversidade Geracional na EJA
Gênero e Diversidade Sexual na EJA
Gênero e Educação para as Relações Etnico Raciais na EJA.
Por sua vez, cada Capítulo está dividido em quatro Seções, a saber: Causo;
Perspectiva Teórico Metodológica; Relato de Experiência e Sequência Didática,
sempre como possibilidades educativas decorrentes de problematizações
suscitadas pelos causos lidos em perspectiva que os sistematizem em diálogo
com as experiências vivenciadas por docentes da Rede.
Será disponibilizado online pelo site do Núcleo de Educação de Jovens e
Adultos: pesquisa e formação da Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Minas Gerais (NEJA/FaE/UFMG) https://neja.fae.ufmg.br/
Também serão impressos alguns exemplares para atender a demanda de
idosos(as) que assim o desejarem e de outros sujeitos da EJA que tenham essa
necessidade.
Assim que assumimos essa empreitada, conversamos sobre o significado de
falar de gênero na escola e concluímos que, ao fazê-lo, os docentes estarão
cumprindo a função social da escola de não compactuar e de não permitir que
10
o art 3º da Constituição4 em seu inciso IV seja descumprido, ao não permitir
que se impeça, de maneira irresponsável e cruel, que os direitos das pessoas
LGBT, das mulheres vítimas de violência doméstica, das crianças vítimas de
abuso sexual em casa, por membros da família, não sejam assegurados, pois na
escola de Educação Básica, inclusive na EJA, os e as profissionais podem
detectar essas situações e acionar os órgãos competentes.
Discutimos, também, com que concepção de qualidade trabalharíamos nesse
Caderno Temático e optamos pela qualidade social. A concepção de qualidade
social com a qual trabalhamos é aquela originária do Plano Nacional de
Educação – Proposta da Sociedade Brasileira que, segundo o Consolidado na
Plenária de Encerramento do II Congresso Nacional de Educação (CONED),
realizado em 9 de novembro de 1997, em Belo Horizonte,
implica providenciar educação escolar com
padrões de excelência e adequação aos
interesses da maioria da população. Tal
objetivo exige um grande esforço da
sociedade e de cada um para ser atingido,
considerando as dificuldades impostas pela
atual conjuntura. De acordo com essa
perspectiva, são valores fundamentais a
serem elaborados: solidariedade, justiça,
honestidade, autonomia, liberdade e
cidadania. Tais valores implicam no
desenvolvimento da consciência moral e de
uma forma de agir segundo padrões éticos.
A educação de qualidade social tem como
conseqüência a inclusão social, através da
qual todos os brasileiros se tornem aptos ao
questionamento, à problematização, à
tomada de decisões, buscando as ações
11
coletivas possíveis e necessárias ao
encaminhamento dos problemas de cada um
e da comunidade onde vivem e trabalham.
Incluir significa possibilitar o acesso e a
permanência, com sucesso, nas escolas,
significa gerir democraticamente a
educação, incorporando a sociedade na
definição das prioridades das políticas
sociais, em especial , a educacional.
(CONED, 1997)
A cada encontro mais se fortaleceu a noção de que a proteção e a segurança
dos e das educandos e educandas de nossa cidade será assegurada quando o
poder público, monitorado pela sociedade civil, garantir que a educação
ofertada seja democrática, popular, pública, gratuita, laica, inclusiva, de
qualidade social se contrapondo a todas as formas de preconceito e que o
profissional que a oferte seja valorizado.
Contamos ainda com o auxílio das graduandas Doris Vitória Guedes Pinto
Coelho (Física – Licenciatura) e Rafaela Vanessa Xavier Roque (História –
Licenciatura).
Escrita encerrada, encaminhamos nossos textos àqueles e àquelas que
chamamos de Revisores(as) de Conteúdo. São profissionais, estudiosos,
pesquisadores das temáticas que em nosso Caderno dialogaram com a EJA
constantemente e, pela contribuição agradecemos Adilson Nobre, Carlos
Magno Silva Fonseca, João Paulo Mariano, Nilma Coelho e Yone Gonzaga.
Isso feito, fomos à revisão da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) a quem muito agradecemos à Daniela Teodoro de Paula.
Ao terminar nosso trabalho coletivo da produção, reflexão, ação,
mobilização, coordenação e escrita deste Caderno, nos ocorreu que também
deveríamos dar conta do formato dele e da sua forma de divulgação.
Propusemos, então, e contamos com a criatividade do Pedagogo e Webdesigner
Tiel Neves que dedicou seus finais de semana à produção do nosso visual.
12
E não conseguimos pensar em algo que melhor representasse nossa
proposta na produção deste Caderno Pedagógico do que ter suas bordas,
inclusive no que transbordam, cobertas de chita. Daí, lemos5 a respeito e
descobrimos que a história da chita se cruza com a história de muitas mulheres
sujeitos de direitos da EJA.
Com diversas estampas, cores e flores, as chitas são tecidos constituídos
do algodão, feitas sobre um tecido chamado “morim”. Conhecido como um
pano caracteristicamente alegre e chamativo, o tecido da chita, originário da
Índia, foi trazido para o Brasil no período colonial pelos portugueses,
inicialmente como uma mercadoria de troca. Com o desenvolvimento das
relações e a inserção do material no território, a chita passa a ser fortemente
utilizada como vestimenta e em decorações das festividades populares. Ao
longo dos séculos e com a multiplicação dessa estamparia pelo território e no
imaginário das diferentes regiões brasileiras, a chita foi se fazendo presente
também em diversas decorações cotidianas, expositivas e, deste modo, se
tornaram essencialmente simbólicas no que diz respeito à identidade cultural
do Brasil.
No século XIX, sua produção começa a ser feita diretamente no país e se
consolida, com o advento do processo da fabricação, não só como símbolo da
nossa cultura mas também como uma importante via econômica para as
mulheres dos grupos populares devido à sua intensa participação produtiva
dentro da indústria têxtil. As vestes de chita eram marcadores fortes dos grupos
de base pois, até então, os imigrantes utilizavam apenas roupas vindas de seus
países de origem, mesmo que não adequadas ao clima brasileiro. A chita era,
nesse sentido, utilizada expressivamente pela camadas populares.
A partir desta perspectiva, é de extrema relevância pensar no uso e
produção da chita no Brasil entendendo-a como um marcador importante na
5https://projetos.habitissimo.com.br/projeto/a-chita-um-tecido-simbolo-da-cultura-popular
https://www.audaces.com/a-historia-da-chita-um-tecido-quase-brasileiro/ e
https://pt.wikipedia.org/wiki/Chita_(tecido)
13
construção não só da forma de vestir da grande massa de mulheres brasileiras
mas também na forma como esse tecido ajudou a construir simbólica e
materialmente a cultura destas que estavam intensa e diretamente ligadas à
produção deste pano, uma vez que delas partia a mão de obra da tecelagem.
Somado à isso, faz-se importante pensar também sobre as chitas enquanto fonte
de renda para essas mulheres que, tendo as habilidades produtivas em suas
mãos conseguiam, diante da alta demanda pelo tecido, utilizar do seu
conhecimento para assumirem a produção, obter renda a partir disso e garantir
seu sustento e de suas famílias.
Nesse sentido, entende-se que a chita faz parte da cultura das mulheres
no Brasil e, sendo assim, se insere enquanto forma de diálogo e exemplificação
das discussões propostas neste Caderno.
Temos a esperança de que este Caderno possa contribuir na construção
coletiva que anseia pela “reconversão cultural da escola em um projeto político-
pedagógico fundamentado nos princípios emancipatórios da democratização política,
social, econômica e cultural”. (GADOTTI, 20166)
Este Caderno, ao tratar das diversidades presentes na EJA e de seus
sujeitos, busca alcançar o objetivo central que é o de pensar e propor algumas
estratégicas educativas que possibilitem a construção de um ambiente em que
o(a) diferente não seja inferiorizado(a), não seja tratado(a) como perigoso(a),
não seja tratado(a) como subalterno(a) e, que, portanto, não tenha seus direitos
negados.
Sim. Diversidade. Porque ela é a base da Constituição de nosso país e do
reconhecimento que deve superar a Desigualdade.
6Disponível em https://www.paulofreire.org/noticias/464-por-uma-escola-cidad%C3%A3
Acesso em
8 Jun 2016.
14
Sobre as Autoras e o Autor
Este Caderno foi escrito por cinco professoras e um professor da Rede
Municipal de Educação de Belo Horizonte e uma professora da Faculdade de
Educação da UFMG e ex-professora da Rede.
15
(CEFET-MG) e Mestrado em Educação Tecnológica (CEFET-MG). Atua também
como professora da pós- graduação Lato Sensu (IEC-PUC/MG). Integra o
Núcleo de Discussão Étnico- racial do Barreiro, é membro do Fórum de
Educação e Diversidade Étnico- racial de MG e do Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros (NEAB/CEFET-MG). fernandaalcarvalho@yahoo.com.br
Sâmara Carla Lopes Guerra de Araújo - Professora dos anos iniciais do ensino
fundamental desde 1999, atua como professora da Rede Municipal de Educação
de Belo Horizonte desde 2004. Desse período, 6 anos foram dedicados à
Educação de Jovens e Adultos. Possui formação em Pedagogia (UFMG),
Psicopedagogia (UNI-BH) e Mestrado e Doutorado em Educação (UFMG). Atua
em cursos de graduação em instituições privadas. asamaracarla@gmail.com
16
Referências Bibliográficas
17
Gênero na EJA
18
Apresentaremos uma breve descrição histórica sobre o surgimento do
conceito de gênero e sobre a formação de estudos anteriores à introdução do
conceito, como as ideias fundadas nas questões biológicas, que, no início do
século XIX, por outro pensamento, forjava justificativas das desigualdades entre
homens e mulheres, baseando-se na diferença física entre os sexos, inerentes à
condição humana. Ou seja, compreendiam que homens eram melhores porque
possuíam maior competência física. Logo, aos homens seriam dadas tarefas
superiores; e às mulheres, as inferiores. Cientificamente, justificava-se a
desigualdade social e, dentro das possibilidades das tarefas superiores,
incluíam-se as tarefas do pensar, decidir, estudar, administrar, resolver,
escolher e votar. De outro modo, essa distinção demarcava o lugar social entre
homens e mulheres: o lugar superior ocupado pelos homens e os inferiorizados
e oprimidos pelas mulheres. Portanto, uma hierarquia e poder dos homens
sobre as mulheres.
Diante disso, neste Caderno, assumimos o conceito de gênero,
recolocando o debate no campo do social, no qual gênero é uma categoria de
caráter cultural e social, que distingue homens e mulheres, visto que a
subordinação do feminino se dá desde as relações de trabalho até às afetivas. E,
então, propomos o rompimento do pensamento que polariza homens e
mulheres, compreendendo que nosso diálogo se desenvolve no deslocamento
do estudo sobre mulheres e sobre sexo feminilidades, para, enfim,
compreendermos as relações de gênero.
Nesse contexto, oprimidas não são apenas as mulheres, mas um conjunto
de categorias que implicam o ser, entre elas o gênero feminino. E aqui o
feminino está sendo visto como constitutivo da identidade do sujeito,
constituída por identidades múltiplas e atravessadas por classes, raças,
religiosidades, idades, sexualidades, territorialidades. Isso significa que temos
como princípio a definição de gênero como uma categoria interligada,
atravessada por outras, atenta à diversidade que a compõe.
19
Sendo assim, a nossa proposta tem o objetivo de desmantelar os
argumentos naturalizados, que inferiorizam o ser e que representam formas de
preconceito e exclusão. Propomos uma reflexão crítica, que provoque o livre
pensar, o reconhecimento de si e, principalmente, a consciência sobre a quem
interessa os discursos que estão sendo produzidos e que reproduzimos sobre os
sujeitos trabalhadores com os e as quais partilhamos saberes na perspectiva de
que são trabalhadores(as) que estudam e não estudantes que, às vezes,
trabalham. E isso define sua visão, seu olhar, suas expectativas, seu prazer sobre
o nosso fazer docente/pedagógico/didático/educador. Entender isso altera a
forma de os e as vermos e de nos vermos, pois a categoria trabalhadora passa a
dialogar com a categoria educanda e esta por sua vez com a categoria mulher e
mais outra e mais outra... E todas.
Conforme Arroyo (2017, p.112):
20
Para Joan Scott (1991), gênero deve ser visto como elemento constitutivo
das relações sociais (e históricas), baseadas em diferenças percebidas entre os
sexos, forma primeira de significar relações de poder (campo no qual e por meio
do qual o poder é articulado). As diferenças e semelhanças entre homens e
mulheres são, pois, produto de construções sociais.
O conceito de gênero nega a “razão” biológica e aponta os aspectos
culturais como produtores das diferenças entre os sexos (SCOTT, 1991).
Portanto, muda-se, radicalmente, o entendimento sobre comportamentos de
homens e mulheres. Para além disso, tal visão criou a distância necessária entre
os conceitos de sexo e gênero, humanizando aqueles que não se “encaixavam”
propriamente ou “apropriadamente” nesses dois universos (masculino e
feminino) tão rígidos.
No que se refere ao conceito de gênero, é importante destacar a sua
relevância na sociedade e sua inserção no campo científico. Gênero se relaciona
à subjetividade, pois não nascemos prontos e acabados, mas sim nos
transformamos ao longo da vida. A compreensão sobre gênero está relacionada
também aos papéis sociais que fomos designados a desempenhar, a princípio
como homem ou mulher.
Nas relações educativas nas diversas instituições que tivemos contato,
seja a família, a escola e as instituições religiosas, aprende-se desde muito cedo
o que é ser mulher e homem na sociedade e os valores atribuídos a cada
sujeito. Isso ocorre por meio dos processos educativos e dos valores vigentes
na sociedade.
O conceito de gênero foi construído no campo da teoria social e passou
por reformulações, especialmente a partir das reflexões feministas no fim da
década de 1960.
21
A antropóloga norte-americana Margaret Mead7 pesquisou os povos
Arapesh, Mundugumor e Tchambuli em Nova-Guiné, nos anos 1930, na
perspectiva de compreender diferenças de práticas sociais entre homens e
mulheres. A pesquisadora procurou identificar até que ponto as diferenças
sexuais entre homens e mulheres eram concebidas como naturais desde o seu
nascimento ou construídas culturalmente.
Mead observou as personalidades atribuídas ao homem e à mulher e, em
cada uma dessas sociedades, concluiu que as características psicológicas
masculinas e femininas não são inatas, mas padrões culturais aprendidos e
ensinados de uma geração à outra, sustentando, com isso, a ideia de que o cunho
social molda o comportamento, assim como produz a diferenciação de
personalidade entre sexos.
O termo gênero foi empregado pela primeira vez no final dos anos 50, por
John Money (psicólogo neozelândes), com o intuito de reconhecer o viés social
da diferença entre homens e mulheres. Money estudava crianças intersexos, nas
quais a constituição do corpo possuía características de forma diversa do que se
concebia na visão binária.
É consenso entre as estudiosas do tema, como Vencato e Vieira
(2014); Piscitelli (2009); Louro (1997), que o conceito de gênero nasceu na década
de 1970, dentro dos movimentos feministas, com o propósito de evidenciar que
feminino e masculino não são categorias inatas, mas construções sociais e
culturais. O uso do conceito carrega em seu bojo o objetivo de desmontar
argumentos naturalizados que têm compreendido e justificado, ao longo dos
anos da nossa história, a desigualdade percebida como resultante das
características biológicas naturais de homens e mulheres, situações de
preconceito, discriminação e desigualdades baseadas na diferença entre sexos.
Para recuperarmos, resumidamente, o processo histórico do movimento
feminista, no qual o conceito de gênero desponta, utilizamos como referência os
7Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000192&pid=S0104-
7183201000020001400017&lng=en Acesso em 12.09.2019
22
estudos feitos por Louro (1995, 1997), que nos explica que ações isoladas e
coletivas dirigidas contra as mulheres podem ser comprovadas em variados
momentos da história mundial.
Contudo, as mulheres começaram a se organizar como um movimento
social, muito antes no século XIX, no Ocidente. Na virada do século, elas
adquiriram maior visibilidade por meio de um grande movimento organizado:
a luta pelo direito ao voto feminino (movimento denominado Sufragismo). O
direito ao voto pela mulher e sua repercussão se tornaram reconhecidos como
um marco, chamado a ‘primeira onda’ do movimento feminista e alardeado por
vários outros países do mundo, considerando as particularidades de cada
história e lugar.
Entretanto, a partir dos críticos e suas críticas feitas à organização desse
movimento inicial, dá-se o início a uma nova fase do movimento feminista,
chamado ‘segunda onda’, quando, diante das críticas, mulheres estudiosas e
pesquisadoras do movimento, para além das preocupações sociais e políticas,
voltaram-se para construções propriamente teóricas, trazendo para o interior
das universidades e escolas aquilo que as mobilizava e as organizava: a
opressão feminina.
Nesse ambiente de críticas e de reajustamento dentro do próprio
movimento, o conceito de gênero emerge, tornando a mulher visível, retirando-
a do lugar segregador a que foi alocada social e politicamente durante os
primeiros tempos da história. Esses estudos iniciais, trazidos por intelectuais e
pesquisadoras, apontavam e comentavam as desigualdades sociais, políticas,
econômicas e jurídicas, denunciando a opressão e o submetimento feminino.
Nas palavras de LOURO (1997, p.19):
23
A partir daí, novas perspectivas analíticas das questões feministas foram se
desenvolvendo e se firmando. Em outra posição, também se fundando na
contraposição, havia aqueles que justificavam as desigualdades entre homens
e mulheres devido a questões biológicas inerentes à condição humana. Para
eles, a explicação para a relação entre homens e mulheres acontecer de maneira
tão desigual servia-se de um argumento forte, que justificava a desigualdade
em função da própria competência física dos corpos masculinos e femininos. A
grande explicação é que há uma característica biológica distintiva entre os
seres, por isso mulheres desenvolvem algumas tarefas e os homens outras.
Conforme Louro (1997, p. 21), “[...] Seja no âmbito do senso comum, seja
revestido por uma linguagem "científica", a distinção biológica, ou melhor, a
distinção sexual, serve para compreender — e justificar — a desigualdade
social”.
E foi justamente contra essa argumentação de bases biológicas, que
nomeia e diferencia o sexo forte do sexo frágil, no sentido de desmontá-la, que
o conceito de gênero se impõe e torna-se fundamental para demonstrar que não
são propriamente as características sexuais que justificam as desigualdades
estabelecidas, mas a forma como essas características são representadas ou
valorizadas, ou melhor, tudo que socialmente se construiu sobre os sexos.
Exatamente nesse sentido, para que se compreenda o lugar e as relações
entre homens e mulheres em uma sociedade, o conceito de gênero nasce para
distinguir-se do conceito de sexo. Gênero passa a ser entendido a partir daí como
uma categoria de caráter cultural e social, que distingue homens e mulheres,
visto que a subordinação do feminino se dá em variadas esferas da sociedade:
das relações de trabalho às relações afetivas. Logo, a maneira de tratar uns e
outras com submissão e opressão não se dá por merecimento ou
desmerecimento biológico.
O que podemos ver, então, é que o conceito de gênero se fez necessário
para demarcar o lugar do feminino nas relações de poder estabelecidas na nossa
24
sociedade, nas quais uns inferiorizam e oprimem outras para obter controle
social e político. Dessa forma, as relações de gênero se sustentam na hierarquia
e no poder dos homens sobre as mulheres.
Nesse momento é que podemos falar de divisão sexual do trabalho.
Conforme Vencato; Vieira (2014), é essa divisão socialmente legitimada por
meio do processo de naturalização do gênero que se busca vinculá-lo ao sexo
biológico. Trata-se, pois, de relações de gênero construídas histórica e
socialmente.
Para que compreendamos os lugares diferenciados e desiguais que o
feminino ocupa nessas relações, segundo Piscitelli (2009), é preciso prestar
muita atenção nos aspectos culturais que participam na delimitação desses
lugares.
Já caminhando para o conceito de gênero nos tempos atuais, a chamada
‘terceira onda’ do movimento feminista surge como todas as outras, a partir das
críticas às fases anteriores e envolve também outras leituras de como se constitui
o poder, refutando o binarismo dominação/subordinação, dividindo o mundo
entre oprimidos e opressores (PISCITELLI, 2009).
Essas novas concepções se esforçam por eliminar radicalmente a
naturalização na noção de diferença sexual e assumem que a distinção entre
feminino e masculino não esgota os sentidos do gênero.
As novas leituras sobre gênero se concentram no que Motta (2014);
Vencato e Vieira (2014) apresentam como o momento da análise das diferenças,
da alteridade, da diversidade e da produção discursiva da subjetividade.
Propõe-se, então, um rompimento do pensamento dicotômico, que opõe
masculino e feminino. Busca-se compreender o conceito de gênero deslocando-
se o campo do estudo sobre as mulheres e sobre os sexos para o estudo das
relações de gênero.
Nesse sentido, oprimidas não são apenas as mulheres, mas um conjunto
de categorias que implicam o ser, entre elas o gênero feminino, visto como
constitutivo da identidade do sujeito. Nessa forma de pensar, a identidade do
25
sujeito é vista como constituída por identidades múltiplas e atravessadas por
classes, raças, religiosidades, idades, sexualidades, territorialidades.
Portanto, é possível pensar até aqui que o conceito de gênero sofreu, ao
longo da sua história, variadas reelaborações, não estabelecendo um consenso,
mas ampliando, como sugere Piscitelli (2009), a ideia de humano e a ideia de
ser.
Judith Butler (2003) é considerada a filósofa mais importante da
atualidade a tratar do tema. No livro “Problemas de Gênero: feminismo e
subversão da identidade”, a autora propõe o caráter performativo do
gênero, problematizando a tríade gênero/sexo/desejo, assim como o
rompimento com o modelo binário, falocêntrico e cisheteronormativo. “O
gênero é culturalmente construído: consequentemente, não é nem resultado
causal do sexo tampouco tão aparentemente fixo quanto o sexo” (BUTLER,
2018). Butler descarta a ideia de que o gênero ou sexo seja uma “substância
permanente”, argumentando que uma cultura heterossexual e
heterossexista estabelece a coerência dessas categorias para perpetuar e
manter o que a poeta e crítica feminista Adrienne Rich chamou de
“heterossexualidade compulsória” (SALIH, 2017, p. 71).
O que Butler (2003) propõe em seu livro “Problemas de Gênero” é
uma reflexão acerca do sujeito na medida em que analisa a emergência desse
sujeito no discurso. Ao colocar as teorias foucaulteanas e psicanalíticas para
análise dos sujeitos, Butler nos atenta para a construção relacional entre o
sujeito e o outro. Isso assevera que “as identidades não são absolutamente
tão hétero, legítimas ou únicas quanto aparentam e podem subversivamente
ser trabalhadas a contrapelo, a fim de revelar a natureza instável e
ressignificável de todas as identidades de gênero” (SALIH, 2017, p. 101).
Assim, não há que se falar que gênero é apenas a inscrição cultural do
sexo, mas pode-se dizer que gênero emerge no discurso, ou no pré-discurso
anterior à cultura. Para Butler (2003), gênero é de tal complexidade e totalidade
escorregadia, que jamais será plenamente exibido. Como dito, não há que se
26
falar de gênero como uma categoria estática, fixa, nem que, uma vez definido o
gênero, ele se dará por todo o sempre.
Sintetizando, o conceito de gênero continua, nos nossos tempos, sendo
um termo político, referindo-se às diferenças e desigualdades não apenas nas
distinções entre homens e mulheres, mas em como essas construções se
embaralham a outras diferenças e se constituem em desigualdades, abrindo
espaço para a compreensão do ser e de suas relações.
O conceito de gênero sofreu um alargamento, principalmente com a
Butler, pois se referir a gênero não diz respeito apenas a homem/ mulher/
masculino/feminino , mas a feminilidades e masculinidades, pois há tantas
feminilidades e masculinidades quanto a quantidade de sujeitos.
Assim, discutir gênero na escola significa também discutirmos a
27
pela vivência social das diferenças biológicas que cada sujeito porta (gênero,
geração, etnia).
São essas diferenças entre mulheres e homens, pessoas negras e não
negras, pobres e ricas, jovens, adultas ou idosas que vão delimitando o lugar
que os sujeitos ocupam nas chamadas hierarquias sociais, nas quais as questões
relativas ao gênero interagem com as de raça, as geracionais e as de classe na
produção de um sistema educacional excludente.
A professora Eliane Marta Teixeira Lopes, em seu livro “Perspectivas
Históricas da Educação”, de 1989, já afirmava que:
28
sexos. Daí, encaminhamo-nos à reflexão proposta para o nosso próximo tópico:
por que as questões de gênero são tão caras aos sujeitos da Educação de Jovens
e adultos?
29
em 2016, “desagregando-se a população ocupada do país por sexo, as mulheres
dedicavam 18,1 horas semanais aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos
– cerca de 73% a mais de horas do que os homens (10,5 horas semanais)”.
Também o recorte racial entrecruzado ao sexual se evidencia quando vemos que
as “mulheres pretas ou pardas são as que mais se dedicam aos cuidados de
pessoas e afazeres domésticos, com 18,6 horas semanais. Entre os homens, o
indicador pouco varia quando se considera a cor ou raça ou região”.
Ao analisar o Quadro 1, representado a seguir, constatamos que o tempo
dedicado aos cuidados de pessoas e /ou afazeres domésticos em horas
semanais reflete a concepção social e o papel que mulheres e homens ocupam
em nossa sociedade. É ainda responsabilidade da mulher, principalmente da
mulher preta ou parda, o cuidado com as crianças e com as pessoas idosas da
maioria das famílias.
Em relação aos rendimentos entre homens e mulheres, a diferença é
maior do que a metade do salário mínimo. É sabido que muitas famílias são
sustentadas por mulheres que criam suas crianças, adolescentes e jovens
sozinhas, ou com ajuda de outra mulher. Esse lugar que as mulheres ainda
ocupam em nossa sociedade reflete a baixa participação na vida pública e nos
espaços de poder e de decisão.
Em relação aos direitos sexuais e reprodutivos, os dados nos mostram
que são altas as taxas de gravidez de adolescentes, o que irá incidir na
permanência das meninas adolescentes nas escolas.
Outro dado importante é que mesmo as mulheres sendo a maioria nos
ensinos médio e superior, em relação aos homens, ainda há uma desproporção
entre as mulheres pretas ou pardas em relação às não consideradas assim.
30
Quadro 1 – Indicadores econômicos e sociais entre homens e mulheres
31
De certo que, mesmo vivendo perante um conjunto de discriminações
historicamente construídas, as mulheres, por meio dos movimentos sociais,
fortaleceram-se e começaram a buscar a igualdade de direitos, ocupando cada
vez mais os espaços educativos, evidenciando-se uma maior presença feminina
no conjunto de educandos da EJA.
No que se refere ao mapeamento das pessoas LGBTIQA na EJA, há um
hiato. Na Rede Municipal de Belo Horizonte, desde 2012, haja um
monitoramento do uso do nome social nas escolas que ofertam EJA e, em 2019,
o nome social passou a integrar todos os formulários do SGE. Importante
destacar que o uso do nome social nas escolas de EJA é realizado
exclusivamente por estudantes travestis e transexuais conforme a Resolução
002/2008 do Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte (CME/BH).
Isso significa um avanço, embora ainda insuficiente para o mapeamento da
presença das pessoas LGBTIQA na EJA e, consequentemente, para a demanda
da oferta desse direito. Não se tem notícia também de mapeamento desses
sujeitos no âmbito estadual ou federal. Da mesma forma, em pesquisa do IBGE
do último censo (2010), a pergunta sobre orientação sexual ou gênero sequer
aparece. Nesse sentido, a ausência de mapeamento nas três esferas há de indicar
que as pessoas LGBTIQA são caracterizadas pela invisibilidade na Educação.
Mesmo depois de muitas conquistas, avanços e transformações pelas
quais a sociedade vem passando nas últimas décadas, as desigualdades entre
mulheres e homens ainda são enormes e se manifestam na escola, que reforça e
reproduz atitudes e comportamentos preconceituosos e discriminatórios de
todas as formas, visíveis e invisíveis, que acabam contribuindo para a
manutenção de práticas sexistas, homofóbicas e conflitos intergeracionais.
32
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007),
referentes à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),
demonstraram que, no ano de 2007, a EJA era composta por 54% de alunas
mulheres, com idade entre 18 a 39 anos. Ou seja, a perspectiva de gênero se
evidencia nas turmas de EJA, porque a construção escolar na sociedade
ocidental se organizou de forma a separar adultos de crianças; católicos de
protestantes; ricos de pobres e meninos de meninas (LOURO, 1995).
Nessa perspectiva, Arroyo (2006, p.30) afirma que:
33
(gravidez precoce). Arroyo (2006, p.30) reforça essa nova oportunidade de
maneira positiva:
al (2016, p.18):
34
que a escola é parte de uma sociedade em que há extremas
desigualdades de gênero, portanto, se não defendermos uma
proposta pedagógica de intervenção nessas questões, ela
somente reproduzirá injustiças, violências, discriminações,
exclusões e marginalizações.
35
aptos(as) ao questionamento, à problematização, à tomada de decisões,
buscando as ações coletivas possíveis e necessárias ao encaminhamento dos
problemas de cada um, da comunidade em que vivemos e da sociedade. A
educação, nessa perspectiva, dirige-se ao ser humano integral, considerando
todas as dimensões de sua relação com o mundo.
O Quadro a seguir evidencia a relevância de trabalharmos em sala de aula a
questão de gênero, pois indica que houve um crescimento dos homicídios
femininos (feminicídios) no Brasil em 2017, com cerca de 13 assassinatos por
dia.
36
Fonte: Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/19060
5_atlas_da_violencia_2019.pdf Acesso em 15.10.2019
37
05. E o que isso tem a ver com a EJA?
38
39
Entendemos que a proteção e a segurança dos e das estudantes de nossa
cidade será assegurada quando o poder público, monitorado pela sociedade civil,
garantir que a educação ofertada seja democrática, popular, pública, gratuita, laica,
inclusiva, de qualidade social se contrapondo a todas as formas de preconceito e
que o profissional que a oferte seja valorizado.
40
Essa postura autoriza que profissionais da Educação sejam, constantemente,
alvos de perseguição, constrangimento, cerceamento, criminalização e chantagem.
Autoriza, também, ideias que espalham a mentira, o medo, a desconfiança, a
violência, o desrespeito e o pânico, que, por sua própria natureza, não colaboram
para o encaminhamento de possíveis soluções de problemas relevantes da
educação pública.
41
educando(a) traz de seu meio não pode ser negado. Assim, no conceito de
Freire, tanto educandos(as) quanto professoras e professores são transformados
em pesquisadores(as) críticos(as). Seu convite ao educando(a) jovem, adulto(a)
ou idoso(a) é, inicialmente, para que esses sujeitos se vejam, de princípio, como
homem ou mulher vivendo, interagindo e produzindo em uma determinada
sociedade.
Um dos principais desafios é o de reconhecer que as desigualdades
existem no ambiente escolar e são muitas vezes reforçadas e legitimadas por
nós, professoras e professores, demais profissionais da educação e pelos
educandos(as). Uma das formas mais sutis de reforçar ou negar a existência de
diferenças entre sujeitos sociais, na perspectiva de gênero, é o uso da linguagem
escrita e falada que utilizamos diariamente, em nossas ações pedagógicas ou
não. Essa prática historicamente vem definir o lugar e o papel do dominador na
compreensão, percepção e atuação do mundo.
Para Arroyo (2017)
42
desses sujeitos com seu corpo e consigo mesmos? Uma longa
história de preconceitos que persiste na sociedade, no trabalho,
nas mídias e nas escolas. Os/as adolescentes e adultos pobres,
tão marcados por essa história desde crianças, têm direito a
conhecê-la. Há estudo nas diversas ciências que aprofundam o
conhecimento dessa história de preconceitos, de estruturas e de
padrões segregadores. Como incorporar esses estudos nos
currículos de formação profissionais da educação e das
educandas/os?
Referência Bibliográfica
43
SOARES, Leôncio. Formação de educadores de jovens e adultos. Belo
Horizonte: Autêntica/ SECAD - MEC/ UNESCO, 2006.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 26º ed. RJ: Paz e Terra, 2002.
______. Pedagogia da Autonomia. 31º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
44
mulheres dos espaços de saber-poder. Revista UnilaSalle. Diálogo, Canoas, n. 23,
p. 93-104, ago. 2013. / ISSN 2238-9024. Disponível em:
http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php. Acesso em: 19 fev. 2018.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, história e educação. Educação & Realidade, Porto
Alegre, v. 20, n.2, jul. /dez.1995.
Scott J. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Recife: SOS corpo,
1991.
45
Sugestão de Filme:
“As sufragistas (suffragett)” – 2014/ Reino Unido. Direção: Sarah Gavron
46
Gênero, Diversidade Religiosa e Laicidade na EJA
Sâmara Carla Lopes Guerra de Araújo.
01. Causo
Se por um lado as orações me causavam temor; por outro, não tive maiores
dificuldades com as canções. Protestante, desde que se entende por gente, canta.
Mas hoje, ao passar em revista o passado, vejo que mesmo as letras das músicas
que cantávamos possuíam conotação religiosa ou, então, exaltavam o momento
47
político que estávamos vivendo: “criança feliz, feliz a cantar / alegre embalar,
seu sonho infantil/Oh! meu bom Jesus, que a todos conduz / olhai as crianças
do nosso Brasil...”
02. Contextualização
12
Trata-se da Lei n.º 2555, sancionada pelo prefeito de Ribeirão das Neves em 17 de
junho de 2002.
48
nórdica, celta, chinesa, japonesa, dos indígenas americanos e outras comprovam
a diversidade religiosa entre os homens.
É por isso que ser uma pessoa religiosa pode significar tantas coisas
diferentes, principalmente quando pensamos no contexto brasileiro:
13
Ultimato online. A religiosidade humana. Disponível em:
<http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/evangelizacao/a-religiosidade-humana>. Acesso
em: 21 out. 2018.
14
Dicionário Que Conceito. Religiosidade. Disponível em:
<https://queconceito.com.br/religiosidade>. Acesso em: 21 out. 2018.
49
Afinal, tradições religiosas fazem parte de nossas culturas e são modeladoras
dela em menor ou maior intensidade conforme a época. Isso é tanto verdade
que temos em nossa base de ensino a orientação para a abordagem do tema no
ambiente escolar.
50
Fonte: Disponível em:
<http://www.edulaica.net.br/uploads/imagem/O%20TEMPO%20LAICIDADE.jpg>. Acesso
em: 28 out. 2019.
E você? Qual a sua opinião sobre o tema? E por que você pensa assim?
51
Laicidade
Nesta discussão, um importante conceito é o de Escola Pública Laica.
O termo “laico” tem origem grega laos, que designa a unidade de uma
população. Isso implica na liberdade e na igualdade dos indivíduos que a
constituem e, por conseguinte, sua liberdade de consciência. Em sua raiz, o
termo exprime coesão de um povo (CERF e HORWITZ, 2011).
Como define o Observatório da Laicidade na Educação, o termo “laico”
diz respeito a uma posição imparcial em matéria de religião, seja nos conflitos
ou nas alianças entre as crenças religiosas, seja diante da atuação dos não
crentes. Ou seja, não se trata de uma rejeição a qualquer religião, nem do
envolvimento por proselitismo (entendido aqui como o empenho ativista para
converter o pensamento de outrem), nem por disputas entre as religiões pela fé
dos crentes, e menos ainda se trata da crítica a qualquer delas ou a todas elas
pelos não crentes.
O fato de a população brasileira ser profundamente religiosa não é um
impedimento para que o Estado seja laico. Pelo contrário, o Estado laico seria
uma maneira de efetivar a garantia constitucional à liberdade de culto, de
consciência e de crença e de não crença da população, conforme prescrito no
artigo 5º, incisos VI, da Constituição Federal. Ele dispõe sobre a garantia à
assistência religiosa, quando diz que “é inviolável a liberdade de consciência e
de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias” (VALENTE,
2016). Ademais, a laicidade permite a criação de barragens e obstáculos para
que as alianças entre espaço público e religiões não sejam formadas, garantindo
assim que seja respeitada a liberdade de escolha religiosa de cada um.
Cabe ressaltar que, como processo social, a laicidade, assim como a
democracia, é marcada por avanços e retrocessos. E são muitas as posições do
Estado em relação à religião, considerando o desenvolvimento histórico e
cultural de cada realidade.
52
Posições do Estado em relação à religião
Estado confessional
O Estado confessional é aquele que adota oficialmente uma ou mais religiões.
Existe influência religiosa nas decisões do Estado, mas o poder secular
predomina.
Estado teocrático
Nas teocracias, as decisões políticas e jurídicas passam pelas regras da religião
oficial adotada. Em países teocráticos, a religião pode exercer o poder político
de forma direta, quando membros do próprio clero têm cargos públicos; ou de
forma indireta, quando as decisões dos governantes e juízes (não religiosos)
são controladas pelo clero.
53
Estado ateu
Um Estado ateu é caracterizado pela proibição ou perseguição a práticas
religiosas. O Estado não apenas se separa da religião, mas a combate. Exemplos
de ateísmo de Estado podem ser encontrados em experiências socialistas ou
comunistas do século XX: União Soviética (URSS), Cuba, China, Coreia do
Norte, Camboja, entre outros.
54
Entretanto, não significa que o fundamento desses valores éticos, como
princípios compreensivos, não esteja no ocidente alimentado por uma
perspectiva religiosa, nesse caso, a judaico-cristã. Quer dizer apenas que esses
princípios abarcam a validade de prescrever relações éticas entre pessoas que
professam alguma fé ou não.
Dito isso, Delahaye (2011) faz uma contribuição na qual apresenta
algumas características dessa escola laica e republicana:
● É uma escola que faz separação entre igrejas e escola;
● É uma escola que vive a fragilidade do equilíbrio entre a lei e o interesse
geral;
● É uma escola que tem uma visão justa da história e da laicidade;
● É uma escola que compreende e que acolhe as manifestações identitárias
de seus estudantes, sem se sobrepor aos princípios republicanos;
● É uma escola que mostra que a laicidade é uma liberdade e não uma
restrição.
É interessante observar que, independentemente da oferta da disciplina
Ensino Religioso, segundo respostas dadas por 54.434 diretores ao questionário
da Prova Brasil 2011, 51% das escolas brasileiras têm o hábito de cantar músicas
religiosas ou fazer orações no período letivo, no horário de entrada ou da
merenda, entre outros. Vejam os dados:
Religiosidade e Escola
É interessante observar que, independente da oferta da disciplina Ensino
Religioso, segundo respostas dadas por 54.434 diretores ao questionário da Prova
Brasil 2011, 51% das escolas brasileiras têm o hábito de cantar músicas religiosas ou
fazer orações no período letivo, no horário de entrada ou da merenda, entre outros.
Vejam os dados:
Dados de 2015
66% ministram aulas de Ensino Religioso
51% têm o costume de fazer orações ou cantar músicas religiosas
22% têm objetos, imagens, frases ou símbolos religiosos expostos
55
Dados de 2017
34% das escolas não têm aulas de ensino religioso
36% das escolas o ensino religioso é de presença obrigatória
4% das escolas segue uma religião específica e em 56% destas não há atividades
para os estudantes que não queiram participar das aulas de ensino religioso.
Fonte Questionário Diretor Prova Brasil 2015 e 2017
Fonte: https://www.qedu.org.br/brasil/pessoas/diretor (acesso em outubro/2019)
1988 - A Constituição Federal diz no artigo 210, parágrafo primeiro: "O ensino
religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais
das escolas públicas de ensino fundamental".
1996 - O texto da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96) definia: "O ensino
religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os
cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou
por seus responsáveis, em caráter confessional ou interconfessional”.
1997 - Em julho, passa a vigorar uma nova redação do artigo 33 da LDB 9394/96
(a Lei n.º 9.475): "O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas
56
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa
do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição
dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação
e admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso".
2009 - Aprovação pelo Congresso Nacional do Acordo Brasil-Santa Sé, assinado
pelo Executivo em novembro de 2008. O acordo cria novo dispositivo em vigor:
"Art. 11 - A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de
liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do
País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral
da pessoa. §1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de
matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis
vigentes, sem qualquer forma de discriminação".
Conheça a linha do tempo completa em:
https://gestaoescolar.org.br/conteudo/728/as-leis-brasileiras-e-o-ensino-religioso-na-escola-
publica
Para pensar
Antes de prosseguir, convém ainda refletirmos sobre a diferença entre laicidade
e laicismo. Como mencionado, a laicidade é característica dos Estados não
confessionais que assumem uma posição de neutralidade perante a religião, a
qual se traduz em respeito por todos os credos, inclusive pela ausência deles
(agnosticismo, ateísmo etc.). Já o laicismo, igualmente não confessional, refere-
se aos Estados que assumem uma postura de intolerância religiosa, ou seja, a
religião é vista de forma pejorativa ou negativa, ao contrário do que se passa
com a laicidade. Esse é um tema bastante sensível e é importante que se tenha
57
atenção quanto às práticas que podem se constituir, por esse caminho, como
uma franca deturpação dos princípios da laicidade.
58
Enquanto a religião católica tem um declínio em seu número de fiéis, a
religião evangélica cresce significativamente. Outro dado importante é o
aumento significativo de pessoas que se declaram sem religião ou optaram por
não declararem.
O Gráfico 2 apresenta dados do censo 2000 e 2010. Nele, podemos
observar o percentual de grupos religiosos:
Gráfico 2 – Classificação percentual dos grupos religiosos e comparação
com o Censo 2000
59
Figura 1 – Predominância no Brasil de pessoas que professam as
religiões católicas e evangélicas
60
Conheça quais são as religiões do mundo com maior número declarado de fiéis:
https://super.abril.com.br/blog/superlistas/as-8-maiores-religioes-do-mundo/
61
assegurados certos direitos fundamentais. “Hoje a tolerância religiosa é
largamente reconhecida como um ideal, ainda que haja muitos lugares no
mundo em que, neste exato instante, sangue está sendo derramado em função
de divisões que são, ao menos em parte, religiosas” (SCALON, 2009, p. 32).
Casos de extrema violência, segundo os mesmo autores, são relatados
constantemente por pais, educadores e educandos. Há casos em que os
agressores normalmente escapam das punições com alegações igualmente
abusivas e desrespeitosas, por exemplo, a defesa de suas crenças, cumprimento
de ordens de seus líderes religiosos ou mesmo inspiração divina.
Legislação brasileira
O Brasil tem normas jurídicas que visam punir a intolerância religiosa. No Brasil,
a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de
1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões.
62
igualitária, equânime e justa. O objetivo da educação e das suas
políticas não é formar gerações para o mercado, para o vestibular
ou, tampouco, atingir os índices internacionais de alfabetização
e matematização. O foco central são os sujeitos sociais,
entendidos como cidadãos e sujeitos de direitos. Essa
interpretação tem sido adensada do ponto de vista político e
epistemológico pelos movimentos sociais ao enfatizarem que os
sujeitos de direitos são também diversos em raça, etnia, credo,
gênero, orientação sexual e idade, entre outros (GOMES, 2011,
p. 688).
63
não podem sofrer discriminação e intolerância religiosa e não podem sofrer
racismo religioso. Além disso, ali deve prevalecer uma perspectiva histórica, que
não pode estar submetida a explicações religiosas sobre desigualdades
historicamente construídas, devendo haver o estímulo a uma abordagem
antropológica sobre sociedades africanas e indígenas que as valorizem e não as
estigmatizem.
Em uma escola pública laica e comprometida com os Direitos Humanos,
também não são admitidas explicações religiosas sobre desigualdades de gênero,
sendo exigido aporte em pesquisas e teorias ao se tratar desse tema. Ademais,
com fundamentação científica, uma escola pública laica não impede debates – e
não permite que impeçam – por motivos religiosos, nem mesmo se tais debates
forem sobre temas morais controversos.
Afinal, a Laicidade na escola pública não permite que esta esteja a serviço
das crenças das famílias, nem de um tipo de reprodução de um modelo único de
família, assegurando uma discussão sobre diferentes modelos de parentesco e de
arranjos econômicos das unidades familiares, sob uma perspectiva científica
desses temas no âmbito das Ciências Sociais e sem interdições de cunho religioso.
Assim, em uma escola pública laica e comprometida com os Direitos Humanos,
também não se estimula a submissão das meninas aos meninos, mas sua
igualdade, e se apresenta aos alunos e às alunas os resultados de estudos sobre as
desigualdades sociais entre homens e mulheres, além de se combater a
estigmatização de minorias, sem sub-representação de nenhum segmento da
sociedade.
É correto dizer que a escola pública laica é neutra em matéria de religião.
Mas uma escola pública laica e comprometida com os Direitos Humanos não
precisa ser neutra em matéria de temas morais controversos: alicerçada na defesa
dos Direitos Humanos, não se omite de defender a igualdade e a dignidade de
todas as pessoas, a liberdade para crentes e descrentes, assegura espaço para a
diversidade e não dá espaço para o racismo religioso, ou nenhum outro tipo de
64
racismo, e tampouco para o machismo ou qualquer outro tipo de violência de
gênero.
Enfim, em uma escola pública laica e comprometida com os Direitos
Humanos, são debatidas cientificamente tanto a condição social dos diferentes
grupos étnicos que compõem a sociedade brasileira quanto a condição social das
populações LGBT e das mulheres, com respeito a cada um desses segmentos
sociais, sem nenhuma visão religiosa interferindo ou impedindo discussões como
essas, sob qualquer pretexto. Porque em uma escola pública laica e comprometida
com os Direitos Humanos é a ciência que deve ocupar o seu lugar, em vez de
preconceitos e discriminações que ali não devem estar presentes.
65
coletivo. Transformar esse paradigma é uma tarefa compartilhada entre os mais
diversos atores sociais: sociedade civil, governo, ONGs, iniciativa privada,
lideranças comunitárias, entre outros. Trata-se de unir forças para promover a
mudança de pensamento das relações humanas e atualizar condutas para um
contexto mais justo e próspero para todos.
Com a ideia inicial em mente, o próximo passo seria debatê-la com a direção e
professores da escola. O que era para ser uma etapa simples do processo acabou
por demonstrar uma falta de compreensão acerca do tema que não se restringia
somente aos alunos. Tanto a direção quanto o corpo docente, ao invés de
66
debater, foram caixa ressonante do problema. A impossibilidade do diálogo
refletiu a condição daquela comunidade: tratar somente de assuntos
preestabelecidos de maneira autofágica, não sendo possível conhecer outras
perspectivas culturais.
67
melhor compreendida. Instigados por objetos levados à sala pelo professor
responsável, como o adjá, uma sineta de metal, as pessoas puderam aprender
os reais significados e simbolismos dentro do candomblé, desmistificando a
visão demonizada de antes. O interesse verdadeiro de alguns professores e
alunos finalmente surgiu, provocando maior adesão ao projeto.
● religião
● laicidade
● pluralidade religiosa
● tolerância
● reconhecimento
● direitos humanos
68
● secularização
69
Faça você também uma redação com esse tema.
70
“Deus Há de Ser” (Pedro Luís)
Deus é Mãe
E todas as ciências femininas
A poesia, as rimas
Querem o seu colo de madona
A poesia, as rimas querem o seu colo de madona
Deus é Mulher
Deus há de ser
Deus há de entender
Deus há de querer
Que tudo vá para melhor
Se for mulher
Deus-há-de-ser
Deus-há-de-ser Fêmea
Deus-há-de-ser Fina
Deus-há-de-ser Linda
Deus-há de Ser
Deusa
Deus é Mãe
71
● Alguém pensa Deus como mulher?
● Para você, Deus tem sexo?
● Por que temos a tendência, em geral, de imaginar Deus masculino?
● Qual a mensagem transmitida pela música?
72
c) Pesquise na internet outras biografias de mulheres que se destacaram em
importância e atuação em suas religiões. A turma poderá organizar uma
exposição na escola, divulgando esse levantamento.
Fonte: http://www.pallaseditora.com.br/admin/_m2brupload/produtos/160/280_max.jpg
73
a. Reescreva o conto que você considera mais interessante e ilustre.
2. Acesse o link abaixo que apresenta o simulador “As religiões e seus contos”
para ver imagens e ouvir contos de quatro matrizes religiosas:
http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/simuladores/inici
o.swf
Fonte:
http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/Image/imagens120/infografico100.PN
G
Referências Bibliográficas
ARROYO, Miguel. Balanço da EJA: o que mudou nos modos de vida dos jovens-
adultos populares? Revej@ - Revista de Educação de Jovens e Adultos, V. I; 2007.
74
BURITY, Joanildo. Religião, política e cultura. Tempo Social, revista de sociologia
da USP, v. 20, n. 2, 2008, p. 83-113.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Por uma concepção do estado laico. In: D’AVILA-
LEVY, Claudia Masini; CUNHA, Luiz Antônio (Orgs.). Embates em torno do
Estado laico [livro eletrônico]. São Paulo: SBPC, 2018.
75
SALLES, Walter; GENTILLI, Maria Augusta. Desafios do ensino religioso em
um mundo secular. Cadernos de Pesquisa. v. 48, n. 169, p. 856-875, jul/set 2018.
Sugestões de links
76
A vida de Brian (1980) Manika: a menina que nasceu duas
vezes (1988)
A volta do todo poderoso (2007)
Noah (2014)
Além da eternidade (1989)
Nosso lar (2010)
Amistad (1997)
O auto da compadecida (2000)
As aventuras de Pi (2012)
O Crime do Padre Amaro (2002)
As cinco pessoas que você encontra
no céu (2004) O nome da rosa (1986)
77
Gênero e Diversidade Geracional: Adolescentes,
Jovens, Adultos e Idosos presentes na EJA
Amanda da Conceição Barros e Analise da Silva.
01. Causo
78
organização da escola, na qual eu me adaptei. Mas nada que eu tenha
escolhido.
Por vezes, essa mesma visão é apropriada pelos(as) estudantes com mais
de 24 anos, chamados(as) “jovens adultos(as)” pelos adultos(as), incluindo
os(as) mais velhos(as), que entendem que a “Escola do Noturno” é deles(as),
considerando, algumas vezes, os(as) mais jovens como intrusos(as).
Em três das escolas onde esta pesquisa se desenvolveu, ouvimos relatos
de professores(as) sobre a discordância dos mais velhos com a presença dos
jovens. Em uma delas, os(as) adultos estudantes nos procuraram para saber por
que eles não seriam ouvidos(as), entrevistados(as). Uma estudante de 46 anos
expressou o seguinte questionamento: “Se é pesquisa do noturno, porque é que não
vai conversar com a gente?”. Ao ouvir a explicação do foco na juventude, outra
estudante, de 48 anos, sentenciou: “Com essa molecada não vai sair nada que preste,
viu!”.
A fala de uma professora evidencia bastante essa questão:
Naníbia: Hoje, para falar a verdade, eu estou com muito mais problema
para trabalhar com o adulto que a gente tem aqui do que com o jovem
[...} Mas agora a gente se vê numa situação que a gente não é mais EJA,
a gente é Fundamental Noturno. E a gente tem que aceitar o jovem. E
esse adulto não quer ele (o jovem) aqui também não. E eu acho isso um
desaforo, sabe, (risos) porque eu fico tentando convencê-los assim:
“gente, a escola é de vocês, mas é deles também.” O espaço é para todo
mundo; não dá para a gente agora dizer: é você que não está adequado
para ficar sentadinho direitinho dentro da carteira, e que essa escola não
é mais sua. É dele também. E a gente tem que dar conta desse aluno.
Então, eu fico pensando assim: eles que já sofreram a exclusão, que de
alguma forma não tiveram apoio na escola porque a escola não deu
conta deles, agora eles não querem dar conta do outro.
É recorrente a fala dos(as) professores(as) ao manifestarem insatisfação
com as relações entre os(as) estudantes jovens e os(as) estudantes mais
velhos(as). Os(as) docentes localizam parte da responsabilização por essa
relação tensa à forma como o direito à Educação foi incorporado pelos(as)
adultos(as), sem trazer consigo, como parceira, a necessidade do
reconhecimento do(a) jovem como sujeito de vivências próprias, diferentes das
suas e também de direitos.
79
Argélia: Com adulto, eu posso ter uma dificuldade, mas é uma
dificuldade que não sou só eu que tenho não. Toda pessoa tem [...] pelo
fato do adulto já vir [...] com uma ideia de como é o estudo para ele. E o
adulto tem mais preconceitos ainda de mostrar talvez que não sabe uma
coisa que ele... que a sociedade pode querer que ele já saiba, não é? Tem
um preconceito maior. O jovem não. O jovem tem facilidade; eu brinco
como se fosse jovem também, e eles aceitam mais. [...] Ele (o adulto) tem
uma ideia de escola do tempo dele, então, ele acha que você vai fazer
aquilo que ele já conhece. Aí, se você faz uma coisa diferente, que o
adolescente gosta, aí ele não se sente bem. Não... não vou chamar de
dificuldade, não. Eu vou chamar de... e... não é dificuldade, como é que
eu vou escolher a palavra certa aí? ... Todo adulto tem dificuldade de
você trabalhar com ele, é... é... ele exige o professor que ele quer, do estilo
que ele pensa que tem que ser e o adolescente aceita outros tipos. Só por
causa disso.
Numa de nossas observações em sala de aula, presenciamos uma
situação em que Angola localiza uma adulta estudante que teve maior
dificuldade e se detém com ela por mais tempo. Isso faz com que os estudantes
jovens que já terminaram a atividade comecem a conversar. Inicialmente de
dois a dois, depois aos grupos maiores e o burburinho se transforma em
barulho. Respeitar ritmos e tempos se constitui um desafio quando se trabalha
com uma concepção inclusiva.
DA SILVA, Analise. Jovens Estudantes Pobres: significados atribuídos às práticas
pedagógicas denominadas inovadoras por seus professores. Tese de Doutorado. 2007.
2. Teorização
80
estudos, devido à situação econômica familiar, por isso a entrada mais cedo no
mercado de trabalho ou, no caso de muitas mulheres, para cuidar dos filhos e
da casa.
No âmbito da legislação, a Constituição Federal Brasileira de 1988 trata
do assunto nos seguintes artigos:
Art. 208: O dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de: I- ensino fundamental obrigatório e
gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na
idade própria.
Art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios: I- igualdade de condições de acesso e
permanência na escola
Art. 3: Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: IV- promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
formas de discriminação.
81
infraestrutura: pontes, elevados, metrô etc. Naquele momento, falava-se em
juvenilização do supletivo.
São vários os motivos que trazem os(as) adolescentes da escola pensada
para crianças e idealizada para elas à EJA. Alguns desses motivos vão além dos
muros da escola, enquanto outros se relacionam diretamente com a concepção
educacional presente nas escolas e, portanto, envolvem os gestores federais,
estaduais e municipais, além, evidentemente, dos(as) educadores(as) que atuam
na modalidade.
Nas últimas décadas, esses motivos se repetem e são agregados por
outros, tais como: trabalho, gravidez precoce, vulnerabilização estrutural,
distâncias físicas da escola, transporte público caro, inadequação curricular,
entre tantos outros.
Segundo o estudo Jovens de 15 a 17 Anos no Ensino Fundamental (CORTI et
all, 2011), publicado na série Cadernos de Reflexões, do MEC, 29% desses sujeitos
que estavam matriculados do 1º ao 9º ano já exerciam alguma atividade
remunerada. Desses, 71% ganhavam menos de um salário mínimo. Muitas
vezes, a impossibilidade de conciliar a continuidade dos estudos com o trabalho
faz com que mudar para as turmas da EJA, geralmente ofertadas à noite, seja a
única opção possível. A necessidade de trabalhar para ajudar no sustento
próprio ou da família é condição da quase totalidade dos(as) jovens presentes
na EJA, uma vez que são jovens pobres, filhos e filhas de trabalhadores e
trabalhadoras que auferem baixa remuneração decorrente, por vezes à sua
própria ausência ou baixa escolaridade e ou especialização.
Outro motivo que afasta adolescentes das escolas é a gravidez precoce,
uma vez que a chegada de filho(s) ainda na adolescência os(as) obriga a pararem
de estudar para cuidar dos bebês e, quando conseguem, retornam à escola
tempos depois para a EJA.
Todos nós que atuamos na Educação de Jovens e Adultos, ou melhor
identificando, na Educação de Adolescentes, Jovens, Adultos e Idosos, já vimos
82
meninos e, principalmente, meninas que largaram os estudos porque tiveram o
primeiro filho antes dos 18 anos, por vezes, sem que isso fosse de sua vontade.
Em quase todas as configurações familiares, são as mulheres que
assumem o cuidado da prole e o ônus de abandonar, mesmo que
temporariamente, a escola, muitas vezes antes dos 15, 16, 17 anos.
Também a vulnerabilização de que são vítimas faz com que
educandos(as) da EJA, em geral, enfrentem problemas, como a pobreza
extrema, o uso de drogas, a violência doméstica, a precarização do viver, dentre
outros. Entretanto, lançando o olhar para as juventudes presentes na EJA,
contatamos que esse processo de vulnerabilização inclui o uso de outras drogas
para além daquelas que englobam os adultos e até os idosos, a exploração
juvenil e a violência de Estado. Muitas vezes, é essa vulnerabilização que não
lhes permite ter a Educação como prioridade, como direito constitucional, como
desejo.
Nossa sociedade já naturalizou que pobres continuem pobres, que quem
não tem seu direito à Educação garantido continue sem ela, privados de seus
direitos. Essa naturalização vem no combo de uma sociedade escravista,
machista, patriarcal, que entende que educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, assistência aos desamparados, enfim, que os direitos
sociais previstos na Constituição Cidadã de 1988 são privilégios.
Ainda, a inadequação curricular é forte motivo para o abandono, mesmo
que temporário, da escolarização dos(as) jovens adolescentes. Não se adequar à
dinâmica presente nas escolas pensadas com centralidade nas crianças e nos
adolescentes ainda é ensejo de abandono temporário trazido no relato de
educandos(as) que mais uma vez interrompem seus percursos de escolarização.
A distância física da escola em relação a sua casa ou ao local de trabalho
ou da busca dele, tanto no campo quanto na cidade, é outro grave motivo de
desistência. No campo, reunir educandos(as) em uma só escola núcleo,
83
nucleação, faz da distância a ser percorrida mais um empecilho para que sigam
estudando.
Nos centros urbanos, dois motivos se apresentam como desmotivadores
ou mesmo impeditivos para a continuidade dos estudos de jovens que precisem
se deslocar para estudar. Um deles é a passagem cara. Ao ser interpelado pela
formadora por mensagem de whatsapp, recentemente, um jovem graduando
egresso da EJA respondeu:
Eu pago uma passagem no valor de R$ 3,15/ 6,30 por dia, para
conseguir vir o mês todo. Por causa das aulas do noturno às vezes eu
volto pra casa utilizando Move, que custa R$4,50. Mas isso altera as
minhas passagens. Esse último mês eu utilizei do Move pra voltar pra
casa porque é mais "rápido" e eu tava mais cansado.
Outro jovem educando da EJA com número significativo de faltas já havia dito
sobre o mesmo desmotivador/impeditivo “... e eu não consegui ir de busão e nem a pé
por causa da treta com o pessoal que mora no bairro da escola com os do meu bairro. Mas eu vou
voltar. Só dá um tempo e vou voltar”.
15 Sugerimos a leitura de ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1981; e de MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX. Rio de Janeiro. Forense
– Universitária, 1969.
84
conflitos, notadamente urbanos, que emergiram sob a forma de
rebeldias, revoltas e situações caracterizadas como
delinquência.
Esse é um outro motivo para que a interação com o sujeito adulto e idoso
e inclusive com professores(as) e funcionários(as) que atuam nesse contexto
tende a ser conturbada e conflituosa. Diante disso, faz-se necessário considerar
as particularidades trazidas por esses jovens e repensar a abordagem de ensino
adotada pela escola. O objetivo é atender as especificidades desse grupo e
proporcionar o acolhimento e a inclusão não apenas no meio escolar e no
mercado de trabalho, mas também na vida pessoal desses(as) jovens, de
maneira que possam sentir-se capazes de avançar e ocupar seu espaço na escola
e na sociedade com dignidade e perspectiva de vida.
Em 2008, Da Silva apresentou em sua pesquisa de doutorado sobre
jovens negros(as), pobres, na EJA que:
Pensar experiências de trabalho que expandam as
possibilidades de construção de um projeto amplo de busca de
dignidade, como jovem e trabalhador, está entredito no
levantamento de elementos necessários para uma reflexão em
torno de uma pedagogia da juventude. Essa reflexão leva à
constatação da necessidade de conceber uma metodologia de
trabalho calcada em uma concepção de educação
“problematizadora e libertadora” (FREIRE, 1987, p.35), que se
baseia na premissa freireana, em que “ninguém educa
ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam
85
entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p. 39) e
ainda à problematização de questões que envolvem possíveis
repercussões na formação dos jovens, do processo de
construção da identidade, neste momento do desenvolvimento
humano, bem como da questão legal relacionada aos jovens
trabalhadores e da relação entre esses jovens e a escola (DA
SILVA, 2007, p.225).
86
além de dar voz aos educandos(as) idosos(as) e contribuir para sua valorização
e aumento da autoestima.
A compreensão dessa particularidade intergeracional que compõe o
coletivo dos(as) educandos(as) da EJA, é fundamental para que possamos
pensar em uma abordagem pedagógica que valorize a heterogeneidade desse
grupo, de modo a extrair ao máximo as oportunidades valiosas de troca de
experiências, que são únicas e muito específicas desse contexto de ensino.
87
No ambiente escolar, a desigualdade entre mulher e homem fica ainda
mais visível e representa um desafio para os(as) educadores(as) que, para não
perpetuem a discriminação da mulher em sua prática docente, precisam estar
atentos(as) à escolha do material didático, à organização da escola, aos projetos
desenvolvidos e, sobretudo, a seus discursos.
Por isso, ações afirmativas são necessárias para mulheres presentes na
EJA, uma vez que, segundo o documento Contribuições para a construção de uma
Política Nacional de Alfabetização na EJA, é fundamental a promoção de parcerias
horizontais, intersetoriais e articuladas em programas de escolarização de
jovens e adultos e trabalho nas diferentes instâncias governamentais e da
sociedade civil, ampliando o sistema de atendimento da EJA, com perspectivas
de gênero, raça/etnia, geração, campo/cidade, orientação sexual, deficiência e
regionalidade. Trazemos aqui duas delas.
A primeira diz respeito à atenção especial que deve ser dada à
problemática da violência doméstica como obstáculo à permanência de
mulheres na EJA. A segunda é a oferta de condições para a permanência na EJA
de pais e mães, avôs e avós e responsáveis legais de crianças pequenas,
avaliando-se as propostas da Pauta Nacional da EJA, elaboradas pelos Fóruns de
EJA do Brasil16 em conjunto com representantes da CNAEJA17 (Comissão
Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos), com representante
do GT (Grupo de Trabalho) 18 da Anped18 (Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação) e com representante do FNE19 (Fórum
Nacional de Educação) que, à época, ainda não havia sido desconfigurado.
16 http://forumeja.org.br/
17 Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos (Cnaeja), criada em
2003 para assessorar o ministro da Educação no que tange à formulação de políticas para
alfabetização e EJA, teve seu âmbito e composição ampliados pelo Decreto nº 5.475, de junho
2004, reafirmados pelo Decreto nº 6.093, de abril de 2007.
18 http://www.anped.org.br/
19 http://fne.mec.gov.br/
88
Diante desta desconfiguração unilateral por parte do MEC, foi configurado o
FNPE20 (Fórum Nacional Popular de Educação).
Para isso, faz-se necessária a formação de gestores prevista no item 12 da
Pauta Nacional da EJA, na qual se propõe a instalação de “Salas de
Acolhimento”, com profissionais qualificados, para atender crianças, nos
espaços educativos onde a modalidade é ofertada, para assegurar melhores
condições de acesso e permanência dos educandos da EJA. O referido item 12 é
destrinchado em duas letras que especificam a amplitude do direito pleiteado,
a saber:
a. Promover formação aos gestores públicos considerando o
aspecto importante de que 70% dos jovens que não estudam e
não trabalham são mulheres, sendo que 58% delas tem ao
menos um filho, ou seja, parte do abandono da escola e do fato
de não trabalhar se justifica pela necessidade de cuidar do filho.
A gravidez das jovens torna-se uma chave explicativa
importante, sendo necessário considerar que grande parte
dessas mulheres jovens, geralmente, não tem acesso às creches
para garantir o cuidado e a educação dos filhos.
b. Promover formação aos gestores públicos considerando a
necessidade de que os profissionais qualificados que atenderão
aos filhos e filhas de educandos da EJA tenham formação
específica de educadores de crianças que sejam qualificados
para tratar com crianças (DA SILVA, 2017, p. 28-29).
20 http://fnpe.com.br/
89
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição (BRASIL. Constituição Federal, 1988).
Artigo 3
Universalizar o acesso à educação e promover a equidade
90
1. A educação básica deve ser proporcionada a todas as
crianças, jovens e adultos. Para tanto, é necessário universalizá-
la e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas
para reduzir as desigualdades.
[...] 3. A prioridade mais urgente é melhorar a qualidade e
garantir o acesso à educação para meninas e mulheres, e
superar todos os obstáculos que impedem sua participação
ativa no processo educativo. Os preconceitos e estereótipos de
qualquer natureza devem ser eliminados da educação (Grifo
nosso).
91
vida, foi privada dos estudos por motivos variados: trabalho, família, falta de
apoio e de estrutura familiar, entre outros.
É difícil para a grande maioria desses(as) educandos(as) compreender e
vislumbrar o sentido da escola em suas vidas para além de inserção no mercado
de trabalho. Para que consigam formar esse significado, é crucial que os(as)
professores(as) procurem entender todos os fatores que justificam a relevância
da existência da EJA, para que consigam, a partir disso, construir uma relação
de reconhecimento com esses discentes.
Cada vez mais a demanda desses(as) educandos(as) se intensifica.
Muitas escolas repletas de preconceitos assumem que eles(as) não poderiam
acrescentar positivamente nas estatísticas de rendimento (no IDEB, por
exemplo) e optam pela rejeição de suas matrículas.
Em Belo Horizonte, muito desses(as) discentes são encaminhados(as) ao
espaço BH Futuro, antes Criança Esperança, onde todas as turmas são
administradas pela Prefeitura por meio da Escola Municipal Senador Levindo
Coelho. Nesse ambiente, existem duas turmas noturnas destinadas à
certificação e à alfabetização. Essas duas categorias possuem características
distintas: a primeira conta com jovens e adultos(as); já a segunda é composta
quase que inteiramente por adultos(as) e alguns idosos(as).
As diferentes idades criam um novo contexto na sala de aula. Adultos(as)
e jovens nem sempre vão ter uma boa relação, talvez isso se dê por estarem em
momentos diferentes da vida, com preocupações distintas e com objetivos que
não se cruzam necessariamente.
A professora Silvia e o professor Douglas, que lecionam no BH Futuro,
relataram um pouco dessa convivência entre eles e quais iniciativas foram
aplicadas para que todos tivessem melhores possibilidades de ter seu direito à
escolarização efetivado.
Muitas reclamações dos(as) adultos(as) sobre os(as) jovens já foram
escutadas pela professora Silvia, questionamentos como: “nós viemos porque nós
queremos estudar, a gente entende que perdeu tempo e agora é a hora… aí vem esses
92
meninos que não estão querendo nada da vida, não estão querendo nada com os estudos
e atrapalham a gente, não é justo“. De prontidão, Silvia refuta o argumento baseada
no direito universal de acesso à escola. Além disso, originariamente, os(as)
educandos(as) da EJA passaram por adversidades que culminaram com o
abandono escolar temporário. Portanto, é fundamental a empatia e a
compreensão das diferenças, já que se trata de um ambiente plural (diferentes
idades, histórico de vida, expectativas e relações interpessoais), mas que tem em
comum a exclusão social pela qual todos passaram ou passam.
As necessidades de um(a) adulto(a) quando está numa sala de aula são
diferentes quando comparadas às de outros(as) adultos(as) e mais ainda
quando comparadas às dos(as) jovens. Um ambiente tranquilo é um fator
essencial para os mais velhos. Eles(as) enxergam na escola um ambiente de
descanso da luta diária travada durante décadas. Muitos deles(as) buscam
experiências que nunca vivenciaram: experiências de escolarização, pois foram
excluídos(as) da escola. Já os(as) jovens presentes na EJA, segundo Da Silva
(2007, p. 258-259):
[...] estão insatisfeitos com a pobreza, com o desemprego,
com a negação do direito ao lazer e à cultura, com a falta de
perspectivas a serem apontadas a eles e a elas por nossa
sociedade. ..Estão insatisfeitos com a inexistência de vagas
para todos os interessados na Universidade, pois a indústria
do vestibular coloca o acesso à Educação Superior mais
distante deles... Estão insatisfeitos com a invisibilidade que
adquirem quando alguns governos pensam em políticas
públicas, pois estas costumam ser generalizantes quanto à
idade, gênero, etnia e classe social... Estão insatisfeitos por
não terem seu potencial empregado na proposição de
soluções para problemas juvenis e para problemas sociais...
Estão insatisfeitos com o olhar que a sociedade em geral
destina a eles e a elas, pois, quando se trata de um olhar
negativo, não se espera deles nenhuma parceria.
93
Observou-se que, no caso dos(as) que já estiveram na escola, dentre
os(as) adultos(as), a maioria somente experienciou ao longo da vida a
abordagem de ensino tradicional. Quaisquer outras atividades que fujam do
padrão não são vistas por eles(as) como uma forma de aprendizagem.
Atividades, como filmes e rodas de conversa, geram questionamentos tais
como: “Professora, não vai ter aula não?”. A aula expositiva se torna uma exigência
desses(as) adultos(as). Entretanto, os(as) jovens que fazem parte de outra
geração, consequentemente necessitam de outros tipos de abordagem de
ensino. Para eles(as), a abordagem tradicional não é totalmente efetiva. O uso
do recurso “quadro e giz” causa a dispersão desses(as) educandos(as) que não
conseguem muitas vezes alcançar o aprendizado desejado.
Tendo em vista todos os fatores anteriormente citados, os(as)
professores(as) viram a necessidade de aplicar diferentes atividades para cada
um desses grupos.
Os(as) jovens, sob a orientação da professora Silvia, realizaram rodas de
conversa em diferentes ambientes sobre assuntos variados e assistiram a filmes,
realizando coletivamente uma análise sobre ele, que resultava em sínteses ao
final. O objetivo principal das atividades estava voltado para escutar esses(as)
jovens, seus anseios, objetivos e lidar com desavenças pontuais que surgiam
entre eles(as).
Uma das práticas consistia em vários papeizinhos. Cada educando(a)
pega um, neles estavam escritos assuntos como: comida, escola, lazer, música,
religião etc. Ao ler o que estava no papel, o(a) jovem contaria um pouco sobre
sua relação com o tema sorteado e um bate-papo era desenrolado em torno
disso. A professora e os(as) educandos(as), por meio dessa atividade, tiveram a
oportunidade de se conhecerem melhor.
Silvia, atenta aos diálogos dos(as) discentes, detectou diversos aspectos,
porém os que mais chamaram sua atenção foram sobre a precariedade do lazer
em suas vidas, o não entendimento do sentido da religião e sobre a falta de
perspectiva de futuro.
94
No outro cenário, Douglas estava com os(as) adultos(as) na sala de aula
dando continuidade às aulas tradicionais a que estavam acostumados(as).
Eles(as) pareciam satisfeitos(as) com a calmaria do ambiente sem os(as) jovens.
Uma atenuação no clima entre os(as) jovens e os(as) adultos foi notada pelo
professor Douglas, devido a essas atividades que faziam em outro ambiente.
Por outro lado, a professora Silvia percebe que mesmo o ambiente se tornando
um pouco caótico na presença dos(as) jovens, esses(as) adultos(as), mesmo que
inconscientemente, sentem falta dessa energia que os(as) mais novos(as) trazem
para a sala de aula.
Como dito, a variedade de idades na EJA torna mais desafiadora a tarefa
do(a) professor(a). Nesse cenário, faz-se imprescindível o uso da imaginação
para elaborar novas atividades, o diálogo com todos(as) os(as) educandos(as)
para que se possa entender suas demandas e necessidades, o respeito a suas
preferências assim como a troca de experiências entre os(as) professores(as).
A educação tem um potencial transformador independentemente da
faixa etária, já que amplia o repertório de conhecimentos, referências, analogias
e percepções da realidade. Nesse processo, os(as) educandos(as) podem
compreender de uma maneira aprofundada seu lugar no mundo, sua
capacidade de mobilizar contextos melhores e, assim, se tornarem ativos nas
alterações sociais que desejem ter.
Os estatutos...
95
a) Você conhece o estatuto da Criança e do Adolescente? E o Estatuto do
Idoso?
Estatuto do Idoso
CAPÍTULO V
Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
Art. 20. O idoso tem direito à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos,
produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.
Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação,
adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele
destinados.
§ 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de
comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida
moderna.
§ 2o Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para
transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação
da memória e da identidade culturais.
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal, serão inseridos
conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso,
de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.
Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada
mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos
artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos
locais.
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados
aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o
processo de envelhecimento.
Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão às pessoas idosas, na
perspectiva da educação ao longo da vida, cursos e programas de extensão, presenciais ou
a distância, constituídos por atividades formais e não formais. (Redação dada pela Lei nº
13.535, de 2017).
Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de universidade aberta para as
pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão
editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da
capacidade visual. (Incluído pela Lei nº 13.535, de 2017).
96
Estatuto da Criança e do Adolescente
Capítulo IV
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
97
Leia o texto a seguir:
De acordo com o texto e com o Estatuto do Idoso, podemos dizer que a lei foi
cumprida? Por quê?
A violência...
Leia os textos a seguir.
98
Alunos do IEMG fazem passeata pela paz após morte de colega
Levando balões brancos, grupo saiu da Praça Raul Soares e caminha até a
Praça da Assembleia
99
Denúncias de casos de violência contra o idoso chegam a cinco
por dia no Ministério Público do Maranhão
Esses são apenas as denúncias que chegam à Promotoria do Idoso. Para incentivar
ainda mais a denúncia de maus-tratos e combater esse crime, um evento levou
informação, cultura e lazer a idosos de São Luís.
Cinco casos de violência contra o idoso são denunciados por dia no Ministério
Público do Maranhão. Esse é apenas o número registrado pela Promotoria do
Idoso em 2018. De janeiro a maio deste ano já foram mais de 800 registros. No
ano passado o número ultrapassou 1750 em todo o Maranhão e também
aponta que muitos ainda sofrem os mais variados tipos de violência.
100
Apesar de os números relacionados à violência contra as mulheres no Brasil
serem alarmantes, muitos avanços foram alcançados em termos de legislação,
sendo a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) considerada pela ONU uma
das três leis mais avançadas de enfrentamento à violência contra as mulheres
do mundo.
Em 2015, a Lei 13.104 (Lei nº 13.104, de 2015) altera o Código Penal para prever
o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e
inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos. O feminicídio, então, passa
a ser entendido como homicídio qualificado contra as mulheres “por razões
da condição de sexo feminino”.
101
As fases da vida....
a) Em sua opinião, o que é ser idoso?
b) Quais as vantagens e desvantagens de ser idoso?
c) Há diferenças entre homens e mulheres nessa fase da vida? Quais? Por
quê?
Agora, leia os textos a seguir e comente sobre eles com seus colegas.
Fonte: Disponível em
https://static.imagemwhats.com.br/content/assetz/uploads/2017/05/dia-mundial-de-
combate-a-violencia-contra-o-idoso-mensagens-imagens-e-frases-6.jpg. Acesso em 19 de
setembro de 2019.
Fonte: Disponível em
https://static.imagemwhats.com.br/content/assetz/uploads/2017/05/dia-undial-de-
combate-a-violencia-contra-o-idoso-mensagens-imagens-e-frases-6.jpg. Acesso em: 19 set.
2019.
102
Fonte: Disponível em http://ospontosdevista2.blogspot.com/2018/04/frases-do-facebook-o-
corpo-envelhece.html. Acesso em: 19 set. 2019.
d) De acordo com os textos, qual a diferença entre ser idoso e ser velho?
Juventude É Atitude
Cidadãos Brasileiros
103
futuro é agora o lugar é aqui, agora é hora de lutar e não vamos fugir desse
governo que ainda não mostrou o seu respeito, estamos aqui para exigir
nossos direitos, temos honra, vai ser difícil nos parar, temos força, fôlego para
gritar.
Lutamos por direitos iguais para nossa gente seja rico, pobre,classe média
ou indigente num país onde a miséria só tende a aumentar, violência e
desemprego existem em todo lugar, tem gente que tem de tudo e não quer
saber de nada, aquele que não tem nada faz de tudo pra viver, juventude é
atitude, acredite pra mudar pra que isso tudo mude você tem que acreditar.
Refrão
Atitudes corretas é o que faz a diferença, não seja mais uma marionete do
sistema valorize sua origem e também sua cultura honre aqueles que lutaram
por você na ditadura em batalhas passadas que marcaram nossa história
através de conquistas, derrotas, vitórias, vamos seguir em frente, tome sua
atitude, pois o futuro só depende da juventude.
Refrão
Povo que luta, povo que sofre, povo que nasce, povo que morre
Gente que canta, gente valente, gente que ama, gente da gente
Homem que faz, homem de ferro, homem honrado, homem eterno
Brava Nação, Nação guerreira, Brava Gente Brasileira.
104
b) Peça para que discutam sobre o que é ser jovem, de acordo com
a música.
c) Em duplas ou grupos, peça para que os alunos copiem e
ilustrem trechos da música.
d) Peça para que compartilhem seus desenhos com a turma ou
montem um mural em outro espaço da escola, para que a
comunidade escolar possa conhecer o trabalho realizado.
105
A idade é uma verdade, não ilude
Quem dividiu a vida com prazer
Velho é se drogar de juventude
Ser jovem é saber envelhecer
Velho é quem se ilude
Que a idade é juventude
Ser jovem é saber envelhecer
106
Fonte: Disponível em: < http://www.incluser.com.br/wp-
content/uploads/2018/04/infoger.png>. Acesso em: 24 nov. 2018.
j) Você concorda com os textos? De acordo com eles, a qual geração você
pertence? Por quê?
As mulheres e a publicidade
107
Leia o texto na íntegra e conheça as dez propagandas, acessando o link:
https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/01/dez-propagandas-
historicas-machistas.html
108
Gerações. Carlos (com a badeja), de 57 anos, e Ribeiro (de azul), 67, levam suas experiências
e padrões de atendimento para os mais novos no bar no Centro do Rio. Foto: Barbara
Lopes.
RIO — Durante toda a sua carreira, entre uma reportagem e outra, o jornalista
Ricardo Moraes tinha um sonho além dos papéis: ter um bar. Há dois anos, quando
se aposentou, preferiu trocar a desaceleração de uma vida inteira de trabalho pelo
desafio de recomeçar. E, aos 65 anos, acabou de inaugurar a filial do boteco
paulistano Bar Léo, no Centro do Rio.
Mas não é só ele. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos, os idosos
somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do registrado em 1991. E a
projeção é que serão 30% da população em 2050 (em 2010 eram 10%).
Com avanços da medicina e estilo de vida mais saudável, aquele senhor que há
décadas passadas se preparava para ficar no sofá aos 60 anos, hoje, está a todo vapor.
Além disso, há a questão pessoal, de querer se manter ocupado e útil, e a financeira,
pois, como se sabe, apesar da contribuição de uma vida inteira, o retorno é quase
sempre baixo aos trabalhadores comuns.
Tudo isso afeta diretamente o mercado de trabalho, que passa a contar com uma
força de trabalho mais madura e bem presente, e traz desafios também. Um deles é
justamente a harmonia entre gerações tão diferentes. Em tese, ambos agregam: os
mais velhos com sua experiência, padrões de qualidade sólidos e comprometimento;
e o mais jovens com sua vivacidade, fácil adaptação e familiaridade à tecnologia. Na
prática, porém, há outras questões.
109
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/emprego/mais-idosos-no-mercado-
de-trabalho-22520971>. Acesso em: 25 nov. 2018.
110
Há no relatório fortes recomendações no sentido de que o sistema de capacitação e
colocação profissional do Brasil seja significativamente fortalecido. Dessa forma,
melhorias na qualidade do sistema educacional brasileiro são componentes
fundamentais para a agenda da produtividade.
E, nesse sentido, se colocam muitas expectativas nos resultados positivos da reforma
do ensino médio. A baixa qualidade da educação ou mesmo a percepção limitada de
sua relevância podem levar os jovens a perderem o interesse e a investir pouco em sua
formação, traduzindo-se em uma falta de engajamento da juventude.
O resultado disso é o aumento dos chamados “nem, nem”, grupo que não estuda nem
exerce atividade renumerada e que saltou de 22,7% em 2014 para 25,8% em 2017, do
total na faixa entre 16 e 29 anos, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2017,
do IBGE.
Fonte: Disponível em https://economia.estadao.com.br/blogs/radar-do-
emprego/os-impactos-da-exclusao-dos-jovens-do-mercado-de-trabalho/. Acesso em:
19 set. 2019.
111
MULHERES HOMENS
JOVENS
ADULTOS
IDOSOS
112
Leia os textos a seguir.
Texto 1
Texto 2
113
a) O que os textos têm em comum?
b) Em sua opinião, por que esse problema ocorre? Como solucionar essa
situação?
Referências Bibliográficas
114
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Agência de Notícias.
Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/20234-mulher-estuda-mais-
trabalha-mais-e-ganha-menos-do-que-o-homem>. Acesso em: 17 out. 2018.
UNICEF. Declaração mundial sobre educação para todos. Plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Aprovada pela
Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Satisfação das Necessidades
Básicas de Aprendizagem. Jomtien, Tailândia, 5 a 9 de março de 1990.
115
Gênero e Diversidade Sexual na EJA
Alexandre Gomes Soares, Analise da Silva e
Sâmara Carla Lopes Guerra de Araújo.
01. Causo
Neste momento, já percebia que a sala era composta em sua grande parte
por mulheres adultas.
─ Olha os comentários.
116
Prossigo com a explicação sobre a Declaração, mas termino a aula com a
sensação de que poderia ter explanado melhor os comentários. Afinal, de que
maneira deveria abrir espaço para a turma conversar sobre o assunto?
Indagações da docência na educação de jovens e adultos(as).
02. Teorização
117
Assim, o diálogo sobre os marcadores de gênero e sobre a diversidade
sexual na sala de aula possibilita a construção de um espaço alicerçado no
reconhecimento das diferenças e da diversidade.
Ao pensar em diversidade sexual, é preciso pensar que esse campo
permeia a identidade de gênero, a orientação sexual. Mas do que tratam essas
percepções e práticas dos sujeitos? Vamos observar a Figura 1 a seguir?
Fonte: http://www.diversidadesexual.com.br/wp-
content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdf
118
A partir da Figura 1, buscamos explicitar alguns termos que aparecem no
cotidiano brasileiro, mas que ainda carecem de uma definição com maior
profundidade, conforme a literatura.
De acordo com Soares (2012, p. 64-65), o termo diversidade sexual
permeia três eixos: o sexo biológico, a identidade de gênero e a orientação
sexual.
Segundo a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação (BRASIL, 2007), o sexo
biológico é constituído basicamente pelas características fenotípicas (i.e., órgãos
genitais externos, órgãos reprodutores internos, mamas, barba) e genotípicas
(i.e., genes masculinos e genes femininos).
No que se refere à identidade de gênero, Parker (1999) salienta que não
existe uma relação direta e única entre anatomia e gênero, tampouco entre
gênero, identidade sexual e orientação. Para o autor, a identidade de gênero é a
maneira como o sujeito se sente e se apresenta para si e para os demais, sendo
masculino ou feminino, ou ainda uma mescla de ambos independentemente do
sexo biológico e da orientação sexual.
Para ilustrar esse conceito, suponha-se que uma pessoa pode ter uma
identidade de gênero (masculina, feminina, ambas ou nenhuma), apresentar
características fisiológicas do sexo oposto ao seu e, ainda assim, ser
heterossexual, homossexual ou bissexual.
Ao contrário do que comumente se tende a crer, pessoas transgêneras
(travestis ou transexuais) não são necessariamente homossexuais, assim como
homens homossexuais não são forçosamente femininos ou afemininados e
tampouco mulheres lésbicas são necessariamente masculinas ou
masculinizadas (JESUS et al., 2006, p. 37).
Ainda nesse campo de discussão, aborda-se a orientação sexual, que se
refere à direção ou à inclinação do desejo afetivo e erótico. Esse desejo pode ter
como único ou principal objeto pessoas do sexo oposto (i.e.,
heterossexualidades), pessoas do mesmo sexo (i.e., homossexualidades) ou de
119
ambos os sexos (i.e., bissexualidades) ─ todas no plural, pois são inúmeras e
dinâmicas suas formas de expressão e representação (JESUS et al., 2006,p.46).
Orientação sexual é um conceito que, ao englobar e reconhecer como
legítimo um conjunto de manifestações, sentimentos e práticas sociais, sexuais
e afetivas bastante diversificadas, desestabiliza concepções reificantes,
heterocêntricas, naturalizantes e medicalizadas (que insistem em falar de
homossexualismo21).
Além disso, o termo orientação sexual veio substituir a noção de opção
sexual, pois o objeto do desejo sexual não é uma opção ou escolha consciente da
pessoa. A orientação sexual é resultado de um processo profundo, contraditório
e extremamente complexo de constituição, no decorrer do qual cada indivíduo
é levado a lidar com uma infinidade de fatores sociais, vivenciando-os,
interpretando-os, (re)produzindo e alterando significados e representações a
partir de sua inserção e trajetória social específica.
120
(LGBT) no Brasil, quase a totalidade das pessoas entrevistadas respondeu
afirmativamente: acreditam que existe preconceito contra travestis 93%, contra
transexuais 91%, contra gays 92%, contra lésbicas 92% e, tão frequente, mas um
pouco menos intenso, 90% acham que no Brasil há preconceito contra
bissexuais.
Porém, ao serem indagados se são preconceituosos, apenas 29%
admitiram ter preconceito contra travestis, 28% contra transexuais, 27% contra
lésbicas e bissexuais e 26% contra gays.
É muito significativo que isso aconteça. Nós identificamos o preconceito
da sociedade da qual fazemos parte. No entanto, não nos identificamos como
preconceituosos. Cabe à escola trabalhar conceitos como cidadania,
participação, inclusão social, equidade, para que nossas crianças, adolescentes,
jovens, adultos(as) e idosos(as) possam se reconhecer em práticas
preconceituosas e trabalhar na superação delas.
121
uma leitura transparente ao se deparar com problemas sociais, políticos e
ambientais ou combate à discriminação, a atenção precisa ser constante.
A Educação, como um direito fundamental de todos(as), perpassa o
desenvolvimento humano por meio do ensino e da aprendizagem, não se
limitando à instrução ou à transmissão de conhecimento, uma vez que
compreende o desenvolvimento da autonomia e do senso crítico do sujeito,
objetivando sua atuação na sociedade em que vive.
Na Escola Municipal Dinorah Magalhães Fabri, localizada em um
aglomerado chamado Sem Terra, dois professores relataram uma situação
ligada à questão de gênero e sexualidade e contaram um pouco sobre o papel
da escola diante do ocorrido.
O aglomerado Sem Terra fica nas proximidades da Vila Cemig em Belo
Horizonte. Trata-se de um bairro precário e sem visibilidade. A escola se torna
para os(as) moradores(as) da região uma referência, um local de encontro e de
lazer, principalmente para os educandos e as educandas da EJA. Por ser um
bairro pequeno, apresenta características semelhantes às de uma cidade de
interior, pois todos ali se conhecem e compartilham uma realidade similar.
A chegada de uma pessoa nova no bairro é imediatamente percebida e
por si só causa estranhamento e olhares curiosos. Isso se potencializa quando
essa pessoa é uma jovem de 18 anos com uma filha recém-nascida. Jéssica (nome
fictício) veio do interior para Belo Horizonte e estava tentando se adaptar à
vastidão da cidade. Morava também nesse aglomerado Júlia (nome fictício), de
15 anos de idade. As duas logo se conheceram, apaixonaram-se e assumiram
um relacionamento. Juntas, decidiram se matricular na escola Dinorah
Magalhães na EJA. Uma delas não possuía qualquer tipo de documento de
identificação, mas a escola, ainda assim, possibilitou a matrícula para que elas
estudassem juntas.
O contexto escolar no qual estavam inseridas não se mostrou muito
amigável no que se refere a um casal lesboafetivo. As pessoas não estavam
demonstrando empatia e era evidente a não aceitação por parte da comunidade
122
acerca do relacionamento das duas jovens. Acontecia ali na escola uma situação
de lesbofobia.
Júlia sempre morou na Vila Cemig, muitas pessoas a conheciam e a viram
crescer, e por isso é provável que tenham se sentido no direito de dar opiniões e
reproduzir discursos de ódio e preconceito, mesmo que de forma velada.
Dentro da escola, as pessoas mais velhas não compreendiam ─ por suas crenças
religiosas ou pela própria criação ─ e repudiavam o que ia contra as suas
idealizações. O ambiente hostilizado afastava cada vez mais as jovens da escola
e de uma socialização com outros(as) colegas.
O clima da escola estava piorando, o casal estava sendo vítima de
inúmeras situações ofensivas e desconfortáveis. Era questão de tempo até que
optassem por não continuar naquele ambiente, visto que não se sentiam
acolhidas ou confortáveis.
Dentro da sala de aula, Jessica e Júlia sempre estavam isoladas, seus
(suas) colegas de turma insistiam em ridicularizá-las sem entenderem as
consequências de seus atos. Cansadas de insistir e de acreditar em dias
melhores, optaram pelo abandono da escola, que estava frente a um problema
sério de preconceito. Os(As) professores(as) e a direção, ao perceberem o que
estava ocorrendo, se reuniram para discutir qual seria a maneira correta de
tratar essas questões com os(as) educandos(as).
A Educação de Jovens e Adultos, como o próprio nome já sugere, envolve
uma grande variedade de idades, desde adolescentes até idosos(as), ou seja,
existem ali gerações diversas, com referências específicas e níveis de apreensão
heterogêneo. Como seria possível criar uma intervenção para tratar questões
sobre sexualidade e gênero em um contexto tão plural? Que iniciativa seria
capaz de abranger e sensibilizar toda a comunidade escolar? Os(As)
professores(as) avaliavam que o assunto deveria ser tratado com celeridade e
com providências efetivas.
Em cada turma da escola, a discussão sobre esse tema foi introduzida.
Os(As) educandos(as) se mostraram abertos(as) a ouvir e também a contar sobre
123
suas experiências. O principal objetivo dos(as) professores(as) com essa
intervenção estava no respeito ao outro, independentemente das suas escolhas
pessoais, de suas orientações sexuais.
O episódio de lesbofobia que vinha acontecendo foi colocado em pauta
assim como as possíveis consequências desses atos. Os(As) professores(as)
também trouxeram para discussão em sala de aula muitas informações sobre a
diversidade sexual e as possibilidades de conviver harmoniosamente com a
diversidade sexual. Uma situação em específico marcou essas intervenções, pois
uma das pessoas mais ativas em lançar ofensas para as educandas vitimadas se
desculpou emocionada e arrependida.
A mudança de comportamento dos(as) educandos(as) frente à questão
da lesboafetividade foi significativa, porém existiam outros fatores que
impediram o regresso das meninas à escola. A intervenção dos(as)
professores(as) afetou positivamente os(as) educandos(as), porém seu alcance
não atingia toda a comunidade do bairro. Os(As) moradores(as) ainda
repudiavam o relacionamento, em especial, a família da Júlia.
O barraco onde moravam era alugado e o proprietário o
havia requisitado de volta. Júlia pediu ajuda para sua avó, também moradora
do Sem Terra. Entretanto, seus tios, ao saberem do pedido, vetaram qualquer
ajuda a elas devido aos preconceitos deles.
Não encontrando outra saída, as duas retornaram para a escola para
comunicar que teriam que ir embora para outra cidade. As dificuldades
financeiras e a falta de contribuição dos(as) familiares as impediam de dar
continuidade a seus estudos.
Recebida essa notícia, os(as) professores(as) se organizaram e
viabilizaram uma cesta básica para levarem a elas. As meninas contaram que
estavam se mudando para Águas Formosas, um município no interior de
Minas, quase na divisa com a Bahia. Por ser uma cidade muito pequena, os(as)
professores(as) ficaram receosos(as) e alertaram-nas para o possível contexto
que poderiam encontrar: um preconceito ainda mais arraigado e uma
124
incompreensão ainda maior acerca da lesboafetividade. Ressaltaram que toda
precaução seria válida.
Mesmo em face de todos os esforços desempenhados pelos(as)
professores(as) e pela direção da escola, a mudança foi inevitável. Embora o
desfecho não tenha sido o ideal, observou-se a mobilização e o engajamento
para reverter uma conjuntura preconceituosa, raivosa, excludente e
ultrapassada.
Nesse sentido, a escola cumpriu o seu papel: ir além da disseminação de
conhecimento e atuar na formação de cidadãos, em prol de uma sociedade
digna. A experiência ainda permite a avaliação de erros e acertos, para que, na
recorrência de situações semelhantes, a instituição possa agir com maior
assertividade.
Ainda que o destino de Jéssica e Júlia tenha tomado outra direção, os
eventos relacionados a elas serviram para aprofundar o debate, transformar
percepções e motivar novos comportamentos.
O combate ao preconceito, ao discurso de ódio e a luta pelo acolhimento
das diversidades no ambiente escolar é um processo contínuo, que demanda o
envolvimento ativo de todos os sujeitos da Educação. O aumento da discussão
do tema no ambiente escolar é um sinal positivo de que é possível conviver com
as diferenças e assegurar o reconhecimento das “diferentes diferenças”.
125
Família Mosaico: conceito e características
126
maneira complexa, com novos tratos de poder, de gênero, com propensão a uma
horizontalidade das relações.
Portanto, as novas famílias são advento de uma sociedade em constante
evolução, que a cada vez menos estão presas a ditames religiosos, sociais,
políticos e econômicos. É tempo de buscar a felicidade interna, e a família
mosaico nasce dessa oportunidade e do afeto entre seus membros. É certo que
outras famílias advirão em um pequeno espaço de tempo, tendo em vista a
grande complexidade da vida contemporânea aliada à velocidade das
informações no mundo.
127
considerado como um direito da personalidade merecendo a proteção legal
(CUNHA, 2009).
As novas famílias nascem de laços de amor, amizade e de um sentimento sincero
entre seus membros, o alvo é a realização individual dos membros da família.
Isso é diferente da formação das famílias clássicas em que os vínculos são
consanguíneos, com ou sem afeto.
Além disso, seus constituintes tendem a ter maior exigência de adaptação, tendo
em vista que seus membros vêm de famílias anteriores, portanto, trazem uma
bagagem vivida de experiência familiar (FERREIRA, 2017).
Na família mosaico é muito comum a figura da madrasta e do padrasto, mas eles
não têm o direito de interferir no exercício da autoridade parental do seu cônjuge
ou companheiro com os filhos somente deste. Isso é descrito no artigo 1636 do
Código Civil de 2002. Porém, a nova composição familiar desenvolve um novo
arranjo interno, portanto há mostras de que essa interferência de padrasto e
madrasta acontece de maneira positiva ou negativa (TEIXEIRA; RODRIGUES,
2015).
O padrasto ou madrasta não tem nenhum encargo em relação ao filho do
cônjuge ou companheiro no tocante a alimentos, ainda que comprovada a
existência de vinculo afetivo entre ambos, e mesmo que este tenha garantido sua
sustentação durante o período em que estava com o seu gerador. O que vem
sendo discutido e admitido pela jurisprudência, apoiado no Princípio da
Solidariedade, é o direito de visitas (DIAS, 2011).
Nas famílias ditas primitivas, as regras são explícitas, está tudo disciplinado na
legislação. O papel de cada membro já é delimitado. Por outro lado, as famílias
mosaico têm suas regras e funções ajustadas ao longo do tempo, diante da
convivência, o que faz com que elas não se solidifiquem rápido (VALADARES,
2010).
É certo que a família mosaico está em constante crescimento, a jurisprudência
tem trabalhado muito para isso. E as novas relações formadas entre seus
128
membros podem desenvolver traços benéficos ou não. Todavia, todas as
categorias de família têm seus momentos alegres e tristes.
Fonte: Disponível em:
<https://thaisgoncalvesdias.jusbrasil.com.br/artigos/590006244/familia-mosaico-conceito-e-
caracteristicas>. Acesso em 10 nov. 2019.
Configurações familiares;
Relação entre família e atividades domésticas e gênero;
Inserção das mulheres e homens no mundo do trabalho.
Texto 1
129
Texto 2
130
Texto 3
131
Fonte: https://reporter10.com/voce-o-que-e-a-arvore-genealogica/
132
1ª MÚSICA
13/04/2015 16:22
Por Euler de França Belém
Até o diretor de cinema Orson Welles se encantou com a música Amélia
133
[Ataulfo Alves, sempre elegante, com Roberto Carlos e Caçulinha]
Elegante (e magro) como Barack Obama, refinado como Louis Armstrong e
genial como Noel Rosa, Ataulfo (ou Ataulpho) Alves nasceu em 2 de maio de
1909, há quase 106 anos, e morreu em 20 de abril de 1969, há 46 anos. Para
conhecê-lo e sua criação artística, recomenda-se a leitura do livro “Ataulfo
Alves — Vida e Obra” (Companhia Editora Nacional e Lazuli), do jornalista e
historiador Sérgio Cabral. Em entrevistas, o excelente pesquisador conta uma
história que, se parece nova, está documentada em pelo menos dois livros:
“Ataulpho Alves — Um Bamba do Samba” (edição do autor, 272 páginas, 2004),
de Luizito Pereira, e “A Canção no Tempo — 85 Anos de Músicas Brasileiras,
Volume 1: 1901-1957” (Editora 34, 366 páginas, 1997), de Jairo Severiano e Zuza
Homem de Mello.
O samba “Ai Que Saudades da Amélia”, de Mário Lago e Ataulfo, é
considerado uma obra-prima por Jairo Severiano, um dos mais categorizados
historiadores da música patropi, autor do seminal “Uma História da Música
Popular Brasileira — Das Origens à Modernidade” (Editora 34, 501 páginas,
2008). Severiano e Zuza dizem que se trata de “primoroso poema popular,
134
coloquial espontâneo”. “Escrito por Mário Lago, recebeu de Ataulfo Alves uma
de suas melhores melodias, que expressa musicalmente o espírito da letra.” A
letra de Mário Lago, compositor inspirado (e pouco comunista, apesar de ter
pertencido ao Partidão), é baseada numa história real. Aníbal Alves de Almeida,
conhecido como Almeidinha, irmão da cantora Araci de Almeida, é o pai não
intelectual de “Amélia”.
“Amélia”, segundo Severiano e Zuza, “nasceu de uma brincadeira de
Almeidinha, que sempre que se falava em mulher costumava brincar — ‘Qual
nada, Amélia é que era mulher de verdade. Lavava, passava, cozinhava…’.
Então, Mário achou que aquilo dava samba e fez a letra inicial de ‘Ai Que
Saudades da Amélia’”. Os historiadores sustentam que Amélia realmente
“existiu e, possivelmente, ainda vivia à época da canção. Era uma antiga
lavadeira que serviu à sua família [de Almeidinha]. Morava no subúrbio do
Encantado (Zona Norte do Rio) e trabalhava para sustentar uma prole de nove
ou dez crianças”.
A versão de Luizito acrescenta mais molho, mas não é muito diferente da
apresentada por Severiano e Zuza. Mário conta que, em 1941, enquanto
conversava com Ataulfo, Frazão e Orlando Silva, no Café Nice, “o Almeidinha
começou a cantarolar a história de uma mulher que era solidária ao seu homem,
que passava fome ao seu lado e achava bonito não ter o que comer. Eu e Ataulfo
pensamos: isso dá um samba”.
O baterista Almeidinha admirava o desprendimento de Amélia dos Santos
Ferreira, empregada de Araci (ou Aracy) de Almeida. A versão de Ataulfo,
transmitida por Luizito: “Tínhamos combinado fazer o samba juntos. Eu já tinha
a música e pedi os versos ao Mário. Ele escreveu o poema e me deu. Em casa,
meti os peitos no samba. Mudei então alguns versos. Não o sentido. Uma ou
outra palavra, trocando de lugar uma frase para melhor adaptar minha
música”.
135
[Louis Armstrong, Juscelino Kubitschek e Ataulfo Alves]
O relato de Severiano e Zuza: “Com a letra pronta, Mário pediu a Ataulfo Alves
para musicá-la. O compositor executou a tarefa, mas alterou algumas palavras
e aumentou o número de versos de doze para quatorze. ‘Isso é natural’ —
comentava Ataulfo, em depoimento para o MIS do Rio de Janeiro, em 17 de
novembro de 1965 —, ‘as composições dos parceiros que são letristas sofrem
influência minha, que sou autor de letra e música. Mas o Mário não gostou. E
não adiantou dizer que a música me obrigara a fazer as modificações’. De
qualquer maneira, como o samba estava bom, ficaram valendo as alterações”.
Luizito registra que Mário atacou, furibundo: “Esse samba não é meu, não
escrevi isso. Pode lançá-lo sozinho”. No final de 1941, serenados os ânimos,
Mário decidiu “assinar o contrato para a gravação de ‘Ai Que Saudades da
Amélia’, “mas”, comunista de “mercado”, “exigiu pagamento adiantado”.
Vicente Vitale, apresentado por Luizito como editor-comerciante esperto,
aceitou fazer o adiantamento, mas exigiu “a exclusividade da composição”.
Mais tarde, Ataulfo lamentou: “A empresa Vitale só quer me dar 10% daquilo
que eu julgo com direito, e por isso não recebo um vintém”.
136
Resolvido o impasse, com Mário aceitando que o samba e a grana eram dele,
Ataulfo sugeriu que um cantor famoso gravasse a música. Ninguém queria
gravá-la. Alguns disseram para Ataulfo: “O samba é bonito, mas não é
carnavalesco”. Outros ficaram com receio: “A música é boa, mas, não sei, é
diferente e acho que o povo não gosta disso”. Nem Orlando Silva, o Sinatra da
casa grande e da senzala, ousou gravar “Amélia”.
Na falta de um grande cantor, Ataulfo decidiu gravar o samba, no fim de
novembro de 1941, com o grupo Academia do Samba e, tocando cavaquinho,
Jacob do Bandolim. Lançada em janeiro de 1942, a música fez sucesso, não
desagradando homens e mulheres, que entenderam aquilo que Ataulfo disse
numa entrevista: “Amélia é compreensão, é ternura, é vida”. Não é um hino à
submissão. “Ela simboliza a companheira ideal, que luta ao lado do marido,
vivendo de acordo com suas possibilidades, sem exigir o que ele não pode dar”,
acrescentou o compositor-cantor. “Amélia”, pontificou Mário, era o “símbolo
da mulher brasileira” (um exagero, pois as troianas, e outras, eram tão solidárias
quanto).
A mulher do presidente Getúlio Vargas, Darcy, mandou executar a música no
Baile de Gala do Municipal. “O cinematografista americano Orson Welles,
encarregado de dirigir a filmagem de aspectos da festa, fez questão de conhecer
a letra de ‘Amélia’ em versão para o inglês, cantarolando a música durante todo
o carnaval”, garante Luizito.
Indicada para a disputa do melhor samba do carnaval de 1942, “Amélia”
enfrentou “Praça Onze”, sucesso de Herivelto Martins e Grande Otelo. As duas
músicas empataram, por decisão do público, e levaram a grana do prêmio.
137
2ª MÚSICA
Mulheres De Atenas
Chico Buarque
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
138
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Fonte: https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45150/
139
Mulheres de Atenas: o que Chico Buarque pretendia criticar
Por isso, nem ele nem outros artistas daquela época expressavam suas
críticas ou opiniões abertamente, em público. Muitos deles usavam
metáforas para falar do que não concordavam, fosse na sociedade ou no
governo do país.
140
procriam para alimentar a guerra: geram para seus maridos os novos
filhos de Atenas;
Veja que ele não fala para as mulheres se inspirarem nas mulheres de
Atenas. O convite dele é para todos, não existe um único destinatário.
O que ele diz com isso é que a ditadura impunha a todos os brasileiros uma
situação semelhante às das atenienses. Os cidadãos eram maltratados e não
tinham o direito de chorar, não tinham gosto ou vontades. Seus sonhos
haviam dado lugar aos presságios. Como canta na música, “tinham medo,
apenas”.
E não é só isso: assim como a guerra, a ditadura levava maridos que lutavam
pela liberdade, e que nunca mais retornavam. Quantas mulheres, nesse
período, viram seus filhos serem torturados, mortos e desaparecidos depois
de enfrentarem as forças de repressão? Portanto, a crítica social e política
estão camufladas na letra.
141
Vale lembrar que esse tipo de música nos faz criar paralelos entre o presente
(no caso de Chico Buarque) e o passado (as verdadeiras atenienses). Então,
nada melhor que descobrir como elas viviam.
142
fosse infértil, o homem tinha o direito de se divorciar. Caso ela o traísse, ele
poderia exigir a separação ou mesmo matar a infiel em público.
Do lado masculino, tudo era diferente. Eles não só tinham o direito de trair
suas esposas, mas de manter relacionamentos extraconjugais tanto com
mulheres quanto com outros homens. Aliás, o envolvimento entre um
homem maduro e um jovem — uma prática chamada pederastia — era até
incentivada pela sociedade.
Sempre vale a pena lembrar que julgar antigas culturas e costumes a partir
de nossos próprios valores não é o mais adequado. Embora algumas dessas
situações sejam inadmissíveis hoje (embora algumas ainda aconteçam), é
importante verificarmos que o momento histórico era outro.
143
3ª MÚSICA
144
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra night ferver
145
Quem deve colocar o filho para dormir?
Quem são os destaques da música?
Você conhece Balzac?
O que significa mestrado para você?
Quem é vista como serva e objeto na sociedade?
Você concorda com esses adjetivos? Por quê?
b) Roda de conversa sobre as três canções.
Registrem os principais pontos da conversa.
c) Dividam a turma em três grupos. Cada grupo deverá escrever uma análise
de uma das canções. Considerem os pontos levantados na Roda de Conversa.
Façam a revisão da escrita coletiva com a ajuda do professor e compartilhem os
textos com os colegas.
146
Fonte: https://www.lacuna.film/
Imagem 2
Fonte: https://somemquadrinhos.wordpress.com/2014/01/07/ad-08-meire-laerte-coutinho/
147
c. Ouçam a música “Não recomendado” de Caio Prado. Para isso, acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=Rl1soyz0DAY
Uma foto
Estampada na avenida
Uma foto
Publicada no jornal
Uma foto
Na denúncia de perigo na televisão
148
Muito cuidado, má influência, péssima aparência
Menino indecente, viado
Referências Bibliográficas
149
SOARES, A. G. Presenças, silêncios e ausências sobre gênero e diversidade sexual no
âmbito do currículo de dois cursos da educação profissional. 170 f. 2012. Dissertação
(Mestrado em Educação Tecnológica). CEFET/MG. Belo Horizonte, 2012.
Disponível em: < http://www.files.scire.net.br/atrio/cefet-mg-
ppget_upl/THESIS/180/alexandre_gomes_soares.pdf> Acesso em: 29 set.
2015.
VENTURI, G.; BOKANY, V. (Org.) . Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil.
1. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2011. v. 1. 252p .
VENTURI, Gustavo. Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil - Intolerância e
respeito às diferenças sexuais. 2010. Disponível em:
<https://fpabramo.org.br/2010/02/13/diversidade-sexual-e-homofobia-no-
brasil-intolerancia-e-respeito-as-diferencas-sexuais/>. Acesso em: 11 nov. 2019.
150
Gênero e Educação para as Relações Étnico-Raciais
na EJA
Fernanda Almeida de Carvalho.
01. Causo
151
Consciência Negra, pois, segundo alguns educandos, isso reforçaria mais ainda
o racismo. Outros(as) eram contra a política de cotas raciais nas universidades
e em concursos e por aí vai.
152
história e cultura dos africanos e seus descendentes ao longo da história brasileira,
passando-se a defender o estudo de tais conteúdos nos currículos escolares.
As duas últimas décadas foram marcadas por investimentos nessa
direção, por meio de uma série de medidas no âmbito da legislação e das
políticas educacionais. Esse processo vem se consolidando com a promulgação
da Lei Federal 10.639/03-MEC, que trata da obrigatoriedade do ensino de história
e cultura africana e afro-brasileira em todos os níveis da educação básica, com
o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira,
além da construção do Plano Nacional de Implementação dessas Diretrizes
Curriculares Nacionais. Elas apresentam, como objetivo central, colaborar para
que todo o sistema educacional cumpra com as determinações legais de
enfrentamento a todas as formas de racismo, preconceito e discriminação.
Tal documento não consiste em mudar o foco etnocêntrico da matriz
europeia para a africana e indígena, mas sim ampliar o foco dos currículos
educacionais, dando uma maior abrangência à diversidade cultural, racial e
econômica. Ela abrange em seu texto que a educação para as relações étnico-
raciais objetiva a divulgação e a produção de conhecimentos, bem como
atitudes, posturas e valores que possibilitem a educação de cidadãos voltada à
pluralidade étnico-racial e valorização da identidade em busca da plena
democracia brasileira.
Nesse percurso de lutas em prol da inclusão da diversidade étnico-racial
nos currículos escolares, no ano de 2008, foi criada a Lei 11.645, que modificou
a Lei 10.639/03, inserindo a obrigatoriedade do trabalho com o conteúdo da
história e cultura indígena, mostrando, mais uma vez, que a educação deve ser
espaço por excelência do reconhecimento da diversidade, oportunizando a toda
a comunidade escolar um currículo multicultural, que questione as bases da
nossa sociedade desigual.
Nessa direção, vemos serem reconhecidas as nossas raízes de matriz
africana e indígena, valorizando todas as contribuições culturais desses povos,
na construção da nossa história e da identidade nacional.
É importante destacarmos o caráter de Ação Afirmativa dessas Leis, pois
se constituem como instrumentos de promoção da equidade na educação, ao
considerar, como direito, o conhecimento da história e cultura afro-brasileira,
africana e indígena, que, historicamente, foi negado a todos os cidadãos
brasileiros durante muito tempo.
Ao indagarmos o que é uma Ação Afirmativa, averiguamos que são
políticas públicas específicas voltadas a sujeitos alijados de seus direitos,
atuando como ferramenta de correção social. Elas partem do reconhecimento
153
das desigualdades sociais materiais e simbólicas e atuam como instrumento
propulsor de transformações de mentalidades, espaços, hábitos, valores e
outros.
154
Fonte: Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa - GEMAA. (2011). Ações
afirmativas. Disponível em:
<http://gemaa.iesp.uerj.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=1&It
emid=217>. Acesso em: 05 nov. 2018.
155
2. Fortalecimento de identidades e de direitos - visa à afirmação de
identidades; o rompimento com imagens negativas contra os povos
negros e indígenas; a conscientização quanto à dimensão da diversidade
humana; o combate à privação e violação de direitos; o fornecimento
ampliado de informações sobre a diversidade étnico-racial brasileira e a
oportunização de formações de qualidade aos sujeitos professores,
gestores que atuam nos estabelecimentos de ensino nesta linha de
trabalho.
3. Ações educativas de combate ao racismo e a discriminações
- encaminha os processos pedagógicos com base em orientações que
auxiliem na construção de estratégias de ensino que abarquem toda a
diversidade étnico-racial brasileira, reconhecendo e valorizando as
experiências dos educandos, a inserção das diversas áreas de
conhecimento, tomando-se por base o trato com a história e cultura afro-
brasileira e africana, numa articulação com o passado, presente e futuro.
Trata-se do olhar problematizador diante das desigualdades em busca
de uma mudança da mentalidade racista para a conscientização do
reconhecimento, respeito e valorização das diferenças e da importância
do diálogo com grupos dos movimentos negros e indígenas que podem
acrescentar no trabalho com essa frente. Essa base direciona diversas
estratégias de ensino que podem ser desenvolvidas com os educandos,
observando a representação da diversidade nos instrumentos
pedagógicos que serão utilizados, além do envolvimento dos professores
e educandos na direção de relações étnico-raciais positivas.
156
Diante do panorama apresentado, urge a efetivação de uma educação
antirracista, ao pautarmos o diálogo da Educação de Jovens e Adultos com as
questões étnico-raciais, é necessário trazer algumas questões de fundo para
permearem nossas reflexões: Qual a ligação da EJA com a dimensão das
relações étnico-raciais? Quais os nós que ligam a identidade dos sujeitos
educandos dessa modalidade de ensino a essa dimensão? Qual o diálogo das
políticas de promoção da igualdade racial com as políticas de EJA?
A compreensão da construção do campo da EJA, como parte do
movimento da Educação Popular, faz-se essencial para emergirmos uma pauta
de discussão em torno das questões apresentadas anteriormente. Nessa direção,
um primeiro ponto relevante a ser levantado na ligação da EJA com a questão
racial se refere à contribuição dos Movimentos Negros diante das práticas de
alfabetização e letramento com jovens, adultos(as) e idosos(as) em meados do
século XX, por meio da Frente Negra Brasileira (FNB) e do Teatro Experimental
do Negro (TEN). Esses movimentos promoveram cursos educacionais que
ultrapassavam meras propostas de ensino, trazendo em seu bojo uma educação
política dos sujeitos.
Tais ações educativas dos movimentos negros trouxeram uma
proximidade com o campo da EJA, principalmente no que diz respeito ao seu
caráter de educação popular, em busca da garantia de direitos negados aos
descendentes de escravizados e/ou filhos do processo escravocrata por uma
justiça social, além de terem o elemento de politização dos educandos em suas
aulas.
Dando continuidade aos elementos dialógicos dessa conversa, podemos
destacar o caráter multicultural desse público, que se compõe atualmente por
sujeitos jovens, adultos e idosos, com as suas especificidades de cor/raça/etnia,
gênero, orientação sexual, classe social, religiosidade e suas variadas
experiências de vida. Nesse sentido, tal caráter aponta que pensar esses sujeitos
da EJA é trabalhar para a diversidade, reconhecendo as especificidades deles e
delas e as diversas desigualdades que sofrem, dentre elas as diferenças étnico-
raciais que, ao não se configurarem como fator de desigualdade, contribuem na
possibilidade de transformações sociais na vida desses indivíduos.
Nesse sentido, acreditamos que seja primordial aprofundarmos nossa
discussão em torno dos sujeitos educandos da EJA, pois é necessário reconhecer
profundamente as suas especificidades, com base em suas diversas vivências,
construídas na realidade cultural em que estão inseridos, traçando os principais
“nós” que os conectam à questão étnico-racial.
Inicialmente, destacamos o fator exclusão nas trajetórias desses
indivíduos que foram “expulsos” da escola quando crianças e adolescentes
157
e/ou não tiveram acesso às práticas escolarizadas por diversos motivos. Deve-
se salientar que é intrínseco considerar na EJA as identidades individuais e
coletivas desses sujeitos de direitos, embora vivenciem uma constante negação
dos direitos básicos à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, ao trabalho
e à dignidade, a saber, aqueles previstos no Art. 6º da Constituição Cidadã.
Dialogando com essa realidade, Arroyo (2001, p. 1) reflete que:
158
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por amostra de
Domicílios (PNAD Contínua). Disponível em: http://fjpdados.fjp.mg.gov.br/Educacao/.
Acesso em: 04 nov. 2019.
159
porém ainda não alcançou patamares esperados e destacam desigualdades
substanciais. Em 2015, podemos visualizar, a partir do Gráfico 2 a seguir, que
entre mulheres e homens brancos, com 15 anos ou mais de idade, somente 4,9%
eram analfabetos. No caso das mulheres negras, o número dobra para 10,2%,
ficando só em vantagem em relação aos homens negros, que apresentam um
índice um pouco mais elevado de analfabetismo.
Fonte: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/170306_apresentacao_re
trato.pdf. Acesso em 10 de novembro de 2018.
160
Mulher no Brasil: a luta pela igualdade de gênero e raça
Diferença salarial
Na busca pelo empoderamento e independência da mulher, a percepção da
desigualdade começou a se tornar mais presente na vida da população. A
cada geração, o conceito de ‘mulher submissa’ do século passado está se
esvaindo, o que permite que as mulheres lutem e conquistem seu espaço na
sociedade.
“A percepção da desigualdade de gênero no Brasil é algo recente, mas já
consolidado na sociedade. Cada geração de mulheres jovens tem uma maior
161
consciência dessa desigualdade nas relações pessoais, no trabalho, em escolas
e universidades”, afirma Jacira.
De acordo com a Comissão Econômica das Nações Unidas (CEPAL), as
mulheres podem ganhar até cerca de 30% menos que os homens no mercado
de trabalho, estando em condições semelhantes, ou seja, realizando as
mesmas funções.
Além de ganhar menos, a mulher ainda enfrenta a dupla jornada de trabalho,
que se estende ao voltar para a casa e realizar as tarefas domésticas. Injusto?
Sim.
Jacira Mello também falou que as pessoas até entendem racionalmente essa
diferença de gênero, mas que o conceito de família “normal” em que o homem
trabalha e a mulher faz as tarefas domésticas é tão forte e enraizado no dia a
dia que as pessoas deixam de refletir sobre o assunto quando mais precisam.
Essa diferença se torna ainda maior quando se trata de mulheres negras.
Duplo preconceito
Ser mulher negra é algo que aflige parte da população. Elas normalmente são
discriminadas tanto por serem mulheres, quanto por serem negras; além de
serem estereotipadas de mulheres pobres, que geralmente trabalham como
empregadas domésticas.
“As mulheres negras, além de sofrerem com o machismo, sofrem com o
racismo. Essa dupla pressão coloca as mulheres negras numa situação muito
maior de vulnerabilidade social”, afirma Djamila Ribeiro, pesquisadora da
área de filosofia política e feminista.
Esses estereótipos da sociedade fazem parte do processo cultural. Desde a
abolição da escravatura, os negros não tiveram o auxílio necessário para
reinserção na vida social, com oportunidades iguais às dos brancos.
Consequentemente, essa falta de socialização tornou os negros vítimas de
racismos e injúrias raciais. E, claro, a mulher negra é a que mais sofre.
“O racismo é algo muito perverso, porque nem sempre ele é declarado, e as
mulheres negras são tratadas de forma diferente. Não importa o nível cultural
ou social que ela tenha, o racismo continua”, disse a advogada e presidente
da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, Carmen Dora.
Feminicídio
Segundo o Mapa da Violência de 2015, o número de brasileiras negras mortas
aumentou 54% em dez anos. Isso equivale a quase 3 mil mortes no ano de
2013. Já o homicídio de brasileiras brancas aumentou quase 10%, o
equivalente a cerca de 1,5 mil casos.
162
Apesar dos números, ainda existe muita resistência ao termo “feminicídio”.
“As pessoas têm resistência ao termo porque não pensam na importância
dele. A maioria dos feminicídios é feita com requintes de crueldade. Não
existe matar por amor; as pessoas matam por ódio e por acharem que têm
posse da mulher”, disse a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.
Feminicídio é quando uma mulher é assassinada devido ao preconceito de
gênero. Muitas vezes, os delitos são cometidos por ex-parceiros que não
aceitaram o término de uma relação, ou foram denunciados por violência,
entre diversos outros casos.
“A cada assassinato de uma mulher, a imprensa busca uma justificativa para
o crime. Ciúme, traição, rompimento de uma relação etc. Toda vez que se tem
uma cobertura que reflete o que a sociedade está acostumada a pensar, você
reforça o feminicídio. Ao buscar uma justificativa, você permite que mais
casos aconteçam. Não existe justificativa para uma pessoa assassinar outra.
Isso é uma expressão de ódio”, conclui.
163
Ademais, encontra-se um importante espaço de apontamentos das
políticas de promoção da igualdade racial voltados para a EJA por meio do
Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-brasileira e Africana, construído a partir da Lei 10.639/03 e de suas
Diretrizes Curriculares. Elas propõem, claramente, ações direcionadas ao
campo da EJA e afirmam a importância de se trabalhar as questões étnico-raciais
nessa modalidade de ensino, como garantia da promoção da justiça
social/racial na sociedade.
Segundo o Plano Nacional22, as ações são apresentadas para essa
modalidade de ensino da seguinte maneira:
22 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-
diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
164
raciais. Tal diálogo aberto e constante feito pelos profissionais da EJA dá a
possibilidade de abertura para desvelar as práticas racistas presentes em seu
interior e que, muitas vezes, passam despercebidas, além de promover o
fortalecimento do debate sobre o assunto e a intervenção educativa, muitas
vezes, nas situações de racismo apresentadas. Todos esses elementos remetem
ao quanto à educação, por meio de suas práticas e seus (suas) profissionais, são
meio essencial na transformação do paradigma racista presente em nossa
sociedade.
Para refletir...
1. Qual a diversidade étnico-racial da EJA da sua escola? Que tal fazer
uma pesquisa fazendo um levantamento do quesito cor/raça com os
estudantes para averiguar como enxergam seu pertencimento racial e
“puxar” um debate em torno de como é ser negro no Brasil?
165
social e cultural da essência de quem somos. A diversidade e o
multiculturalismo fazem parte de nosso DNA.
No entanto, o preconceito racial ainda é evidente, seja nas relações
intrapessoais, no ambiente de trabalho, nas escolas ou mesmo em situações
corriqueiras. Resquícios de um sistema social profundamente desigual, que
ainda mantém uma enorme desproporção de oportunidades vinculada à cor da
pele. Uma conjuntura inaceitável e que precisa ser transformada.
É cada vez mais recorrente a discussão do combate à discriminação. Basta
avaliar a quantidade de movimentos de cunho racial, a criação de políticas
afirmativas que garantem maior acessibilidade às “minorias” e a profusão de
manifestações culturais e artísticas que reforçam a identidade negra. Nesse viés,
tão importante quanto suprimir o preconceito, é despertar o reconhecimento do
valor da negritude, incentivando o orgulho de suas origens e a conquista de seu
espaço no mundo. O projeto leva essas diretrizes para dentro da sala de aula.
Já está prevista na legislação (Leis 11.645/2008 e 10.639/2003) a
obrigatoriedade de trabalhar as questões étnico-raciais, assim como a história
da África, afrodescendentes e indígenas na grade curricular. Mais do que
cumprir com essa determinação, o “Mama África” assume uma condição
estrutural, ou seja, está inserido na dinâmica do Colégio, independentemente
da disciplina, em todas as faixas etárias. Tal concepção é ainda mais relevante,
se considerado que a instituição se situa em um bairro periférico e
majoritariamente negro. O estímulo à formação de cidadãos que se valorizam,
compreendem que possuem os mesmos direitos e que devem lutar por
oportunidades iguais é decisivo para sua trajetória e ascensão social.
O projeto é desenvolvido a partir de debates constantes, referências
intelectuais e artísticas de origem negra, projetos de artesanato, música,
literatura, culinária que reforçam a dimensão grandiosa dos povos de origem
africana e indígena. Nota-se que a abordagem afasta a visão limitada, que
enfoca apenas a escravidão e a dominação branca. Para além de um olhar
ressentido, propõe o protagonismo do indivíduo, ciente da riqueza de suas
raízes. Essa relação é concretizada por meio de um elemento prático, que visa
lembrar e ressaltar de maneira constante a magnitude dessas culturas. Uma
camisa do projeto é entregue a professores(as), alunos(as) e funcionários(as),
multiplicando a visibilidade da iniciativa.
O programa desenvolvido na Escola ainda garante experiências únicas.
Os(as) alunos(as) puderam conviver diretamente com pessoas de realidades
distintas que compartilharam suas vivências, trajetórias e conhecimentos de
antepassados. Dentre eles, destacam-se as visitas de uma tribo Pataxó e de
Angolanos na instituição. Tal escopo permite extrapolar a exposição teórica e
166
corroborar em fatos reais o extenso universo de significados, valores, formas de
expressão, modos de vida que envolvem a africanidade e os indígenas. Assim,
a fronteira do conhecimento extrapola os muros da escola e se aplica na
percepção de diferentes realidades.
É justamente este princípio que norteia as ações do “Mama África”:
promover a noção de que é possível fazer a diferença, transformar contextos e
se tornar ─ assim como os(as) convidados(as) ─ uma referência para seu
entorno. As próprias atividades desenvolvidas mobilizam tal sensação. Os
conteúdos não são apenas assimilados de maneira passiva. Pelo contrário, os(as)
estudantes são convocados(as) a “colocar a mão na massa”, perceber o seu
potencial de produção e manifestação. Exemplos não faltam: criação de livros,
músicas, curta-metragens, produtos artesanais.
Merece especial menção a ação realizada em parceria com um Salão Afro
localizado no bairro. Nessa ação, foi trabalhada a autoestima de meninas
negras, na valorização de seus cabelos crespos. Foi evidenciado um novo olhar,
que desassocia o padrão estético “branco” do entendimento de beleza. Os(as)
cabelereiros(as) foram ao colégio e preparam as garotas para um desfile. No
evento, a admiração e o aplauso se deram sustentados em seu visual.
O repertório de experiências e aprendizados fazem com que os alunos se
tornem influenciadores de seu meio, projetando uma nova consciência de seu
lugar no mundo. Com novas referências, são capazes de combater os
preconceitos que, infelizmente, ainda se encontram disseminados em
praticamente todos os espaços. Não é incomum que negros(as) reproduzam, em
alguma instância, o racismo tão enraizado em nosso país.
No relato que embasa este Capítulo, foram compartilhadas situações em
que pais/mães negros(as) que não têm uma leitura do racismo estrutural se
recusaram a assumir a etnia negra de seus filhos e filhas no momento da
matrícula para reduzirem as discriminações sofridas por eles(as) nos ambientes
escolares. Mesmo que bem intencionados(as), já que não queriam que sofressem
injúrias raciais - perpetuaram a desvalorização dos(as) negros(as). O “Mama
África” contribui para que os(as) jovens e adultos(as) da EJA sejam agentes de
transformação, inclusive no seu ciclo social.
A proposta pedagógica da Escola Dinorá Magalhães Fabri oportuniza
uma visão inclusiva, buscando a igualdade de oportunidades e a valorização
dos(as) negros(as) e indígenas. Nessa medida, promove a percepção da
relevância dessas etnias, incentivando que as novas gerações se assumam
sujeitos dessa transformação e alcancem melhores condições de vida.
167
04. Sequência Didática
Objetivos:
Discutir o lugar e o papel da mulher, mais especificamente da mulher
negra na sociedade;
Trabalhar as questões ligadas às desigualdades de gênero;
Compreender os conceitos de racismo, machismo, feminismo;
Pesquisar histórias de personalidades femininas negras importantes na
história do Brasil e do mundo;
Conhecer histórias de vida de mulheres negras da EJA (estudantes e/ou
funcionárias da escola) – desafios e superações;
Apresentar oportunidades às mulheres negras da EJA;
Reconhecer as conquistas das mulheres negras da EJA.
Desenvolvimento:
1º Momento
Para iniciar o trabalho sobre a temática, construa um painel coletivo na
sala, com as respostas advindas dos(as) estudantes, completando a
seguinte frase: Ser mulher é...
A partir das respostas apresentadas no painel e com base em dados e
estudos sobre a questão de gênero, inicie um debate sobre o tema,
refletindo sobre o lugar e o papel social da mulher no mundo.
Algumas sugestões de questões para o debate:
1. O que é ser mulher no Brasil hoje?
2. Qual o papel da mulher na sociedade?
3. Existem desigualdades sociais entre homens e mulheres?
4. Qual a realidade das mulheres negras ao longo da história e nos
dias atuais?
2º Momento
Realizar uma sessão de cinema comentada sobre o filme “Estrelas além
do Tempo”.
168
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-219070/ Acesso em 15 de
novembro de 2018.
Sugestões de links:
https://www.geledes.org.br/o-que-podemos-aprender-com-o-filme-estrelas-
alem-do-tempo/
23 https://www.sympla.com.br/engenharia--cinema-estrelas-alem-do-tempo__658738
169
https://novaescola.org.br/conteudo/4779/o-que-o-filme-estrelas-alem-do-
tempo-tem-a-ver-com-a-sua-aula
https://www.modefica.com.br/5-ensinamentos-valiosos-do-filme-estrelas-
alem-do-tempo/#.W8teNtej9dg
3º Momento
Trabalhar os conceitos de machismo, feminismo, racismo.
1. Pedir aos(às) estudantes que pesquisem esses conceitos no dicionário
e/ou na internet para levar para a aula.
Racismo
https://www.infoescola.com/sociologia/racismo/
https://www.geledes.org.br/sobre-racismo-e-suas-multiplas-manifestacoes/
https://www.geledes.org.br/onu-racismo-no-brasil-e-estrutural-e-
institucionalizado/
170
https://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo_no_Brasil
4º Momento
Trabalhar as desigualdades de gênero e raça a partir de dados de
pesquisas do IBGE, IPEA e outros, apresentando slides com gráficos.
Sugestão de links:
http://www.ipea.gov.br/retrato/apresentacao.html
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=articl
e&id=29523&catid=30&Itemid=9
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf
/
https://www.cese.org.br/dossie-sobre-a-situacao-dos-direitos-humanos-das-
mulheres-negras-no -brasil-violencias-e-violacoes/
171
Fonte: Disponível em: <https://www.hypeness.com.br/2015/08/ilustracoes-divertidas-
mostram-que-a-luta-pela-igualdade-de-genero-esta-longe-de-acabar/>. Acesso em: 09 out.
2018.
Texto 2
Texto 3
5º Momento
Iniciar um diálogo com a turma falando sobre a representatividade das
mulheres negras no Brasil e no mundo, enfatizando seus movimentos de
172
luta e resistência. Para ilustrar, você poderá projetar alguns vídeos sobre
personalidades negras femininas.
Sugestão de vídeos:
1. A biografia da escritora negra Carolina Maria de Jesus - Vídeo “Heróis
de todo mundo - A cor da Cultura”.
https://www.youtube.com/watch?v=mLkJy86VU84
Fonte: https://ims.com.br/titular-colecao/carolina-maria-de-jesus/.
Acesso em 15 de novembro de 2018.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2019/10/gravacao-aponta-novos-
suspeitos-pela-morte-de-marielle-franco-diz-site-ck290e10r0a2h01r2tqgdmtu4.html . Acesso
em 15 de novembro de 2018.
173
3. O olhar da filósofa, feminista e acadêmica brasileira Djamila Taís Ribeiro
dos Santos.
https://revistatrip.uol.com.br/homenageados/2017/djamila-ribeiro
https://observatorio3setor.org.br/noticias/djamila-ribeiro-e-eleita-
personalidade-do-amanha-na-franca . Acesso em 15 de novembro de 2018.
https://banhodeassento.wordpress.com/2011/11/03/textos-de-lelia-gonzalez-para-baixar.
Acesso em 15 de novembro de 2018
https://pt.wikipedia.org/wiki/Benedita_da_Silva .
Acesso em 15 de novembro de 2018
174
Dividir a turma em duplas e/ou trios para realizarem uma pesquisa
sobre a biografia das personalidades femininas negras importantes na
história do mundo e do Brasil. Levar algumas sugestões de nomes,
como:
1. Dandara
2. Chica da Silva
3. Chiquinha Gonzaga
4. Enedina Alves Marques
5. Daiane dos Santos
6. Maria Quitéria de Jesus
7. Angela Davis
8. Tereza de Benguela
9. Conceição Evaristo
10. Sueli Carneiro
11. Carolina Maria de Jesus
12. Dona Ivone Lara
13. Djamila Ribeiro
14. Marielle Franco
15. Bell Hooks
16. Chimamanda Adichie
17. Bia Ferreira
18. Luana Tolentino
19. Dona Valdete da Silva Cordeiro
20. Dona Fininha
175
Orientações para a realização do trabalho das personalidades femininas
negras:
Sugestões de links:
https://www.geledes.org.br/10-mulheres-negras-ativistas-de-destaque-
brasil/
https://catracalivre.com.br/cidadania/17-mulheres-negras-brasileiras-que-
lutaram-contra-escravidao/
6º Momento
Mais uma alternativa de abordagem das personalidades femininas negras.
176
2. Desenvolver com os(as) educandos(as) releituras das obras com
técnicas artísticas e artesanais, como pinturas, bolsas, almofadas e
outros.
3. Criar releituras com ilustrações das mulheres da EJA da escola e suas
histórias.
Fonte: https://rvitorelo.com/portfolio/coisa-de-mulher/.
Acesso em 20 de novembro de 2018.
Sugestões de links:
https://www.rvitorelo.com/coisademulher
https://www.facebook.com/pg/rvitorelo/photos/?tab=album&album_id=5
78932722216225
7º Momento
Dividir a turma em trios para entrevistar algumas mulheres negras da
escola (estudantes, professoras, cantineiras e outras) sobre suas histórias
de vida, apontando as situações de racismo e machismo que já sofreram,
além de seus desafios e conquistas.
Outra possibilidade de trabalho seria entrevistar mulheres negras da
Comunidade, não alfabetizadas, para falar sobre suas contribuições para
a localidade, tanto no nível micro (cada uma com sua família) como no
nível macro.
As entrevistas deverão ser gravadas para a construção de um vídeo e/ou
caderno, que serão construídos no coletivo.
Apresentar os trabalhos para toda a comunidade escolar e fazer um
desfile com essas mulheres negras entrevistadas, propiciando um
fortalecimento feminino delas.
177
Sugestão de roteiro de entrevista
1. Fale um pouco sobre você: nome, idade, estado civil, família,
escolaridade, fatos marcantes em sua vida.
Sugestão de links:
https://www.almapreta.com/editorias/o-quilombo/5-documentarios-sobre-
mulheres-negras-que-voce-precisa-assistir
https://www.youtube.com/watch?v=6JEdZQUmdbc
Referência Bibliográfica
ARROYO, M. G. A Educação de Jovens e Adultos em tempos de exclusão. In:
Alfabetização e Cidadania. São Paulo: Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora do
Brasil (RAAAB), n. 11, abril 2001.
ARROYO, M. G. Formar educadores e educadoras de jovens e adultos. In: SOARES,
Leôncio José Gomes (Org.). Formação de educadores de jovens e adultos. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006.
178
PASSOS, Joana Célia. Juventude Negra na EJA: os desafios de uma política
pública. Tese de Doutorado (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação
– UFSC. Florianópolis, 2010.
Bibliografia Sugerida
ARROYO, M. G. Currículo, território em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
179
BRASIL. Lei nº. 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Inclui a obrigatoriedade da
temática História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial da rede de
ensino. Diário Oficial da União, Brasília: MEC, 2003.
180
GIOVANETTI, Maria. A formação de educadores de EJA: o legado da Educação
Popular. In. SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria; GOMES, Nilma; (Org.).
Dialogo na educação de Jovens e Adultos. Belo horizonte: autêntica, 2005.
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações
raciais no Brasil: uma breve discussão. In: MEC/SECAD. Educação anti-racista:
caminhos abertos pela Lei Federal 10.639/03. Brasília: MEC, Secretaria de
Educação Continuada, alfabetização e diversidade, 2005.
GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. In: Revista Brasileira de Educação
nº23. Rio de Janeiro mai/ago. 2003. p. 75-85.
GOMES, Nilma Lino (org.). Práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-
raciais na escola na perspectiva da Lei nº 10.639/03. 1. ed. Brasília: MEC, UNESCO,
2012.
181
GONÇALVES, L.A.; GONÇALVES e SILVA, P.B. Movimento negro e educação. In:
Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 15, p. 134-158,
set./out./nov./dez, 2000.
IPEA. Situação social da população negra por estado. SEPPIR. Brasília: IPEA, 2014.
SANTOS, Sales Augusto dos. A Lei nº. 10.639/03 como fruto da luta anti-racista do
movimento negro. In: MEC/SECAD. Educação anti-racista: caminhos abertos
pela Lei Federal nº. 10.639/03. Brasília: MEC, Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
SILVA, Natalino Neves da. Juventude, EJA e Relações Raciais: um estudo sobre os
significados e sentidos atribuídos pelos jovens negros aos processos de
182
escolarização da EJA. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Educação),
Faculdade de Educação-UFMG, Belo Horizonte, 2009.
183