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ESCOLA SECUNDÁRIA D.

JOÃO II

Ficha Formativa de David Hume FILOSOFIA 11º ano 1º Período 2021/2022

Leia os textos e responda às questões:

Impressões e ideias

“Todos admitirão prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções da


mente quando uma pessoa sente a dor de um calor excessivo ou o prazer de uma tepidez
moderada, e quando mais tarde traz à memória essa sensação ou a antecipa pela sua
imaginação. Essas faculdades podem imitar ou copiar as perceções dos sentidos, mas
jamais podem atingir toda a força e vivacidade do sentimento original. (…) Todas as cores
da poesia, por mais esplêndidas que sejam, jamais serão capazes de retractar os objetos
naturais de modo tal que se tome a descrição por uma paisagem real. O mais vivido
pensamento será sempre inferior à mais ténue das sensações.

Podemos aqui, portanto, dividir todas as percepções da mente em duas classes ou


espécies, que se distinguem pelos seus diferentes graus de força e vivacidade. As que são
menos fortes e vividas são geralmente chamadas pensamentos ou ideias. A outra espécie
carece de nome na nossa língua, bem como na maioria das outras, e suponho que isto
acontece porque nunca foi necessário para qualquer finalidade, com exceção das de caráter
filosófico, designá-las por qualquer termo ou denominação geral. Permitamo-nos portanto
uma certa liberdade e chamemos-lhes impressões, empregando esta palavra num sentido
um pouco diferente do habitual. Entendo pelo termo impressão, assim, todas as nossas
impressões mais vividas, sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou
odiamos, ou desejamos ou queremos. E as impressões são distintas das ideias, que são as
percepções menos vividas de que temos consciência, quando reflectimos sobre qualquer
das sensações ou movimentos acima mencionados.

A primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que não
apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas também nem sempre é
reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. Inventar monstros e juntar as mais
incongruentes formas e aparências não custa à imaginação mais esforço do que conceber
os objetos mais naturais e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um só planeta,
sobre o qual se arrasta com dor e dificuldade, o pensamento pode-nos transportar num
instante às mais distantes regiões do universo, ou mesmo para além do universo, até ao
caos ilimitado, onde se supõe que a Natureza jaz em total confusão. Aquilo que nunca se
viu, ou de que nunca se ouviu falar, pode ainda ser concebido; e nada há que fique fora do
alcance do pensamento, exceto o que implicar absoluta contradição.

Mas embora o nosso pensamento pareça possuir essa liberdade ilimitada, vemos como um
exame mais atento nos mostrará que ele realmente está confinado a limites muito estreitos,
e que todo este poder criador da mente não é mais do que a capacidade compor, transpor,
aumentar e diminuir os materiais que nos são fornecidos pelos sentidos e pela experiência.
Quando pensamos numa montanha de ouro, estamos apenas a juntar duas ideias
consistentes, a de ouro e a de montanha, as quais já conhecíamos anteriormente. Podemos
conceber um cavalo virtuoso porque a partir dos nossos próprios sentimentos, podemos
conceber a virtude, e depois uni-la à forma e à figura de um cavalo, animal que nos é
familiar. Em suma, todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensações
externas ou internas. Apenas a mistura e composição deles compete à mente e à vontade.
Ou, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou percepções mais
fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas.”

David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano

1. Explicite as razões usadas no texto para defender que a origem de todas as nossas
ideias reside nas impressões dos sentidos.

2. O que distingue as impressões e as ideias simples e complexas?

3.O que é o PRINCÍPIO DA CÓPIA?

Relações entre ideias e conhecimentos de facto

“Todos os objectos da razão ou investigação humanas podem naturalmente


dividir-se em duas classes, a saber, Relações de Ideias e Questões de Facto. Do
primeiro tipo são as ciências da Geometria, Álgebra e Aritmética e, em suma, toda a
afirmação que é intuitiva ou demonstrativamente certa. Que o quadrado da
hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos dois lados é uma proposição que
exprime uma relação entre estas figuras. Que três vezes cinco é igual à metade de
trinta expressa uma relação entre estes números. Proposições deste tipo podem
descobrir-se pela simples operação do pensamento, sem dependência do que
existe em alguma parte no universo. Ainda que nunca tivesse havido um círculo ou
um triângulo na natureza, as verdades demonstradas por Euclides conservariam
para sempre a sua certeza e evidência.
As questões de facto, que constituem os segundos objectos da razão humana,
não são indagadas da mesma maneira, nem a nossa evidência da sua verdade, por
maior que seja, é de natureza semelhante à precedente. O contrário de toda a
questão de facto é ainda possível, porque jamais pode implicar uma contradição, e é
concebido pela mente com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse idêntico à
realidade. Que o Sol não se há-de levantar amanhã não é uma proposição menos
inteligível e não implica maior contradição do que a afirmação de que ele se
levantará. Por conseguinte, em vão tentaríamos demonstrar a sua falsidade.”
David Hume, Investigação Sobre o Entendimento Humano
4. Distinga questões de facto e relações de ideias?

Conhecimentos de facto e a relação de causalidade

“Todos os raciocínios relativos aos factos parecem fundar-se na relação de causa e


efeito. Só mediante esta relação podemos ir além do testemunho da nossa memória
e dos nossos sentidos. Se perguntássemos a um homem porque acredita ele em
alguma questão de facto que está ausente, por exemplo, que o seu amigo está no
campo ou na França, fornecer-nos-ia uma razão e esta razão seria algum outro
facto, como uma carta dele recebida ou o conhecimento das suas antigas
resoluções e promessas. Um homem que encontrasse um relógio ou qualquer outra
máquina numa ilha deserta concluiria que noutros tempos estiveram homens nessa
ilha. Todos os nossos raciocínios acerca de factos são da mesma natureza. E aqui
supõe-se constantemente que existe uma conexão entre o facto presente e aquele
que dele é inferido. Se nada houvesse a ligá-los, a inferência seria inteiramente
precária. A audição de uma voz articulada e de discurso racional na escuridão
certifica-nos da presença de alguma pessoa. Porquê? Porque são efeitos da
maneira de ser e da estrutura humanas, e intimamente a elas adstritos. Se
analisamos todos os outros raciocínios desta natureza, veremos que se baseiam na
relação de causa e efeito, e que esta relação é próxima ou remota, directa ou
colateral. O calor e a luz são efeitos colaterais do fogo, e um efeito pode ser
adequadamente inferido a partir do outro.”
David Hume, Investigação Sobre o Entendimento Humano

5. Caracterize a relação causal de acordo com Hume.

"Em que consiste a nossa ideia de necessidade quando dizemos que dois objetos
estão necessariamente ligados entre si? A este respeito repetirei o que muitas
vezes disse: como não temos ideia alguma que não derive de uma impressão se
afirmarmos ter a ideia de ligação necessária (ou causal) deveremos encontrar
alguma impressão que esteja na origem desta ideia. Para isso, ponho-me a
considerar o objeto em que comumente se supõe que a necessidade se encontra. E
como vejo que esta se atribui sempre a causas e efeitos, dirijo a minha atenção para
dois objetos supostamente colocados em tal relação (causa-efeito) e examino-os em
todas as situações possíveis. Apercebo-me de imediato que são contíguos em
termos de tempo e lugar e que o objeto denominando causa precede o outro, a que
chamamos efeito. Não existe um só caso em que possa ir mais longe, não me é
possível descobrir uma terceira relação entre esses objetos.
Suponhamos que uma pessoa, embora dotada das mais fortes faculdades de razão
e reflexão, é trazida subitamente para este mundo; observaria, de facto,
imediatamente uma contínua sucessão de objetos e um acontecimento
sucedendo-se a outro, mas nada mais seria capaz de descobrir. Não conseguiria, a
princípio, mediante qualquer raciocínio, alcançar a ideia de causa e efeito, visto que
os poderes particulares pelos quais todas as operações da natureza são
executadas, nunca aparecem aos sentidos; nem é justo concluir, unicamente porque
um evento, num caso, precede outro, que o primeiro é, por isso, a causa e o
segundo o efeito. A sua conjunção pode ser arbitrária e casual. Pode não haver
motivo para inferir um a partir do aparecimento do outro. E, numa palavra, tal
pessoa, sem mais experiência, nunca poderia utilizar a sua conjetura ou raciocínio
acerca de qualquer questão de facto ou certificar-se de alguma coisa para além do
que está imediatamente presente à memória e aos seus sentidos".

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano

6. Que problema é discutido no texto?

7. O que se entende por conexão necessária entre dois objetos?

8. A causalidade pode, segundo Hume, ser definida como uma conexão


necessária. Justifique

9. Em que princípio se baseiam as inferências causais segundo Hume?

10. A crença no princípio da uniformidade da natureza está, para Hume,


justificada? Porquê?

11. Qual o objectivo da sua Filosofia?

12. Defina os seguintes conceitos:

a) Empirismo
b) Impressões
c) Ideias
d) Relações de Ideias
e) Questões de facto
f) Princípio da causalidade

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