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JOÃO II
Impressões e ideias
A primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que não
apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas também nem sempre é
reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. Inventar monstros e juntar as mais
incongruentes formas e aparências não custa à imaginação mais esforço do que conceber
os objetos mais naturais e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um só planeta,
sobre o qual se arrasta com dor e dificuldade, o pensamento pode-nos transportar num
instante às mais distantes regiões do universo, ou mesmo para além do universo, até ao
caos ilimitado, onde se supõe que a Natureza jaz em total confusão. Aquilo que nunca se
viu, ou de que nunca se ouviu falar, pode ainda ser concebido; e nada há que fique fora do
alcance do pensamento, exceto o que implicar absoluta contradição.
Mas embora o nosso pensamento pareça possuir essa liberdade ilimitada, vemos como um
exame mais atento nos mostrará que ele realmente está confinado a limites muito estreitos,
e que todo este poder criador da mente não é mais do que a capacidade compor, transpor,
aumentar e diminuir os materiais que nos são fornecidos pelos sentidos e pela experiência.
Quando pensamos numa montanha de ouro, estamos apenas a juntar duas ideias
consistentes, a de ouro e a de montanha, as quais já conhecíamos anteriormente. Podemos
conceber um cavalo virtuoso porque a partir dos nossos próprios sentimentos, podemos
conceber a virtude, e depois uni-la à forma e à figura de um cavalo, animal que nos é
familiar. Em suma, todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensações
externas ou internas. Apenas a mistura e composição deles compete à mente e à vontade.
Ou, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou percepções mais
fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas.”
1. Explicite as razões usadas no texto para defender que a origem de todas as nossas
ideias reside nas impressões dos sentidos.
"Em que consiste a nossa ideia de necessidade quando dizemos que dois objetos
estão necessariamente ligados entre si? A este respeito repetirei o que muitas
vezes disse: como não temos ideia alguma que não derive de uma impressão se
afirmarmos ter a ideia de ligação necessária (ou causal) deveremos encontrar
alguma impressão que esteja na origem desta ideia. Para isso, ponho-me a
considerar o objeto em que comumente se supõe que a necessidade se encontra. E
como vejo que esta se atribui sempre a causas e efeitos, dirijo a minha atenção para
dois objetos supostamente colocados em tal relação (causa-efeito) e examino-os em
todas as situações possíveis. Apercebo-me de imediato que são contíguos em
termos de tempo e lugar e que o objeto denominando causa precede o outro, a que
chamamos efeito. Não existe um só caso em que possa ir mais longe, não me é
possível descobrir uma terceira relação entre esses objetos.
Suponhamos que uma pessoa, embora dotada das mais fortes faculdades de razão
e reflexão, é trazida subitamente para este mundo; observaria, de facto,
imediatamente uma contínua sucessão de objetos e um acontecimento
sucedendo-se a outro, mas nada mais seria capaz de descobrir. Não conseguiria, a
princípio, mediante qualquer raciocínio, alcançar a ideia de causa e efeito, visto que
os poderes particulares pelos quais todas as operações da natureza são
executadas, nunca aparecem aos sentidos; nem é justo concluir, unicamente porque
um evento, num caso, precede outro, que o primeiro é, por isso, a causa e o
segundo o efeito. A sua conjunção pode ser arbitrária e casual. Pode não haver
motivo para inferir um a partir do aparecimento do outro. E, numa palavra, tal
pessoa, sem mais experiência, nunca poderia utilizar a sua conjetura ou raciocínio
acerca de qualquer questão de facto ou certificar-se de alguma coisa para além do
que está imediatamente presente à memória e aos seus sentidos".
a) Empirismo
b) Impressões
c) Ideias
d) Relações de Ideias
e) Questões de facto
f) Princípio da causalidade