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Mapa revela fauna e flora capixaba em

extinção
Paula Stange Rosi   Jornal A Gazeta - Vitória,ES   August 2004

Identificação Lista traz 375 animais que estão prestes a desaparecer das
matas no espírito santo

Relação deve sair em outubro; com ela será possível traçar ações de
preservação

Tartaruga gigante, onça-pintada, gavião-real, tamanduá-bandeira... Daqui a


alguns anos, é possível que esses animais só existam nos livros ou museus.
Eles fazem parte do grupo das 375 espécies da fauna capixaba que entrarão
para a lista da extinção, que está sendo elaborada por pesquisadores do
Instituto de Pesquisa da Mata Atlântica (Ipema).

A lista das espécies ameaçadas do Espírito Santo está em fase preliminar. A


previsão é que seja concluída em outubro e divulgada juntamente com o
projeto Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica no Espírito Santo, do
Ipema.

O Espírito Santo é o único Estado da Região Sudeste que ainda não catalogou
suas espécies nativas que correm risco de extinção. Na relação constam em
torno de 400 espécies da flora capixaba que estão prestes a sumir do mapa.

"Por enquanto, a lista está sendo submetida a uma consulta ampla, via e-mail,
a cerca de 70 especialistas no Brasil, que poderão adicionar ou excluir
espécies. Mas a tendência é que a relação definitiva seja menor", explicou o
biólogo Marcelo Passamani, coordenador do projeto.

O objetivo, diz, é oficializar a lista. Para isso, ela terá que ser homologada pelo
governador Paulo Hartung. "Quando isso acontecer, teremos subsídios para
apontarmos as principais ameaças a que essas espécies estão sujeitas e
indicar ações necessárias para sua conservação", afirmou o biólogo.

A Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção foi atualizada em


2003 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em 13 anos,
desde a publicação da lista anterior, o número de espécies ameaçadas passou
de 219 para 395.

Extinção

Os mais jovens com certeza nunca viram uma arara vermelha nas florestas
capixabas. Desde a década de 50 não se tem registro dessa espécie nativa,
que acreditam ter sido completamente exterminada no Estado.
Pouca gente sabe também que o litoral capixaba já abrigou espécies como o
peixe-boi marinho, aproximadamente quatro séculos atrás. "Essas espécies
nativas povoavam o Espírito Santo de Norte a Sul, mas foram desaparecendo
do mapa", disse Passamani.

De acordo com o biólogo, a destruição de habitat e as pressões provocadas


por desmatamentos, queimadas e caça ilegal são apontadas como as ações
humanas que mais causam impacto na sobrevivência dessas espécies.

Critérios

Para ser considerada regionalmente extinta, a espécie precisa estar sem


registro na natureza nos últimos 50 anos. As listas das espécies ameaçadas
são elaboradas segundo categorias como: extinta, extinta na natureza,
criticamente em perigo, em perigo, vulnerável, quase ameaçadas e dados
insuficientes.

A maior parte das espécies nativas do Estado se encontra em situação de


vulnerabilidade. Mas no caso da onça-pintada, por exemplo, o estágio
alcançado é de criticamente em perigo.

"A estimativa é de que existam menos de 20 onças no Estado, isoladas em


regiões como em Linhares e na Serra do Caparaó. É um número muito
pequeno para conservar uma espécie", observou Passamani.

Projeto será apresentado em workshop

A lista de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção no Espírito


Santo se tornará pública em outubro deste ano, quando a comunidade
científica capixaba promoverá um workshop para a apresentação do projeto.
Entretanto, não há uma data definida.

A elaboração da lista é um dos subprojetos do projeto de Conservação da


Biodiversidade da Mata Atlântica, que está sendo elaborado pelo Instituto de
Pesquisa da Mata Atlântica (Ipema), em parceria com vários órgãos ambientais
do Estado.

Os demais subprojetos são "Avaliação do Manejo de Unidades de


Conservação" e "Definição de Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação
da Biodiversidade da Mata Atlântica".

A previsão é que o projeto seja divulgado no primeiro trimestre de 2005,


quando seus resultados serão publicados em livro, CD-rom e na página
eletrônica do Ipema.

"Queremos dotar os órgãos de meio ambiente de ferramentas para a


implementação de ações prioritárias de financiamentos para pesquisas e ações
que visam a conservação biológica", afirmou o diretor do Ipema, Sérgio Lucena
Mendes.
Segundo Lucena, o Ipema é a primeira organização não-governamental a
receber o financiamento do Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF),
chamado, no Brasil, de Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos.

São parceiros do Ipema: Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), Instituto


de Desenvolvimento Agropecuário Florestal (Idaf), Incaper e o Ibama.

Unidades de Conservação são avaliadas

Pela primeira vez na história do Espírito Santo, as unidades de conservação


federais e estaduais, como parques, reservas e áreas florestais, ganharão um
rigoroso diagnóstico. O trabalho, coordenado pela bióloga Maria da Penha
Padovam, faz parte do projeto Avaliação do Manejo de Unidades de
Conservação, do Instituto de Pesquisa da Mata Atlântica (Ipema).

Das 15 unidades de conservação que tem algum tipo de manejo, 12 já foram


avaliadas. Os resultados mostraram que as unidades apresentam limitações
em todos os âmbitos considerados.

O objetivo do diagnóstico é propor um Sistema de Monitoramento, visando


sistematizar o processo de avaliação e, assim, promover as mudanças no
manejo de forma gradual e contínua.

"Foram avaliados os aspectos ambientais, econômicos, sociais e institucionais


das unidades. A média da pontuação obtida é de pouco mais de 1 numa escala
de 0 a 4. Isso significa que o desempenho do manejo é considerado pouco
satisfatório".

"As unidades de conservação estão vulneráveis a fatores internos e externos e,


se forem mantidas estas condições, não há garantias de permanência a longo
prazo".

A pesquisa do Ipema apontou falhas com relação à identificação e adoção de


medidas para a prevenção e controle de ameaças. "Em certos casos, as
ameaças à manutenção de recursos naturais estão identificadas. Mas, em
100% de unidades, a fiscalização não é efetiva".

Outro problema identificado no diagnóstico foi a falta de pessoal. Em 58% das


unidades avaliadas não há funcionário designado. Nas demais, o número não
chega a 50% do necessário.

Flora também na lista

A relação de espécies ameaçadas tem mais de 400 tipos de plantas,


principalmente bromélias

Se a lista das espécies de animais ameaçados de extinção no Espírito Santo já


assusta os especialistas, imagine a relação das espécies da flora, em que
constam pelo menos 400 tipos.
Orquídeas e bromélias são as principais famílias de plantas que integrarão
essa lista, que está sendo elaborada pelo Instituto de Pesquisa da Mata
Atlântica (Ipema).

De acordo com o coordenador do grupo de flora do Ipema, o biólogo Claudio


Nicoletti, existem cerca de 20 mil espécies de orquídea e três mil de bromélias
espalhadas em todo o mundo.

"O problema é identificar essas e outras plantas. Nossa lista preliminar terá
dados deficientes sobre as espécies, principalmente com relação ao nível de
ameaça em que se encontram", disse.

Para se ter uma idéia da dificuldade em se pesquisar sobre a flora no Estado,


estão sendo realizados por quatro consultores, enquanto que o grupo que
estuda a fauna é de sete consultores.

No rastro do muriqui

Considerado o maior primata americano, o macaco só pode ser encontrado em


MG e ES

Um outro projeto do Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) vem se


destacando na luta para salvar uma espécie de um macaco que está beirando
a extinção: o muriqui.

Considerado o maior primata americano, o muriqui só pode ser encontrados


nas matas de Minas Gerais e do Espírito Santo. Aqui, os macacos têm sido
acompanhados de perto por pesquisadores no município de Santa Maria de
Jetibá, na região serrana do Estado.

Foi lá que os muriquis foram fotografados pela primeira vez, em 2002, quando
equipes do jornal A GAZETA e do Projeto Muriqui percorreram o que resta de
Mata Atlântica na região.

"Na época, foram localizados 114 indivíduos. Atualmente, o número passa de


130. Cada vez a contagem aumenta mais. Por isso, acreditamos que haja
cerca de 200 indivíduos nessas matas", afirmou o coordenador do projeto e
diretor do Ipema, Sérgio Lucena Mendes.

Satélite vai monitorar devastação

A Mata Atlântica cobria mais de 90% do Espírito Santo, mas atualmente está
reduzida a fragmentos que totalizam 7,25% do território. De acordo com a
secretária Estadual de Meio Ambiente, Maria da Gloria Brito Abaurre, a
intenção é que o Espírito Santo possa obter informações regionais. "Estamos
implementando o sistema de monitoramento por satélite, que nos permitirá
colher informações mais precisas sobre a situação da cobertura vegetal no
Estado e conseqüente planejamento de ações para proteção das espécies
ameaçadas e das unidades de conservação ambiental", afirmou. A devastação
da Mata Atlântica está ligada a fatores históricos. "Isso já vem de uma
ocupação agressiva, em uma época em que não havia consciência ambiental
ou legislação específica", comentou.

Saiba mais

Ameaçados :

- Onça pintada
- Muriqui (maior macaco americano)
- Tamanduá Bandeira
- Tatu Canastra
- Gavião Real

Extintos :

- Arara Vermelha
- Peixe Boi Marinho
- Ariranha

Situação por espécie

Animais candidatos à extinção:

- Mamíferos 68
- Aves 175
- Répteis 12
- Anfíbios 28
- Invertebrados Terrestres 29
- Invertebrados Marinhos 14
- Peixes 49

*dados da lista preliminar

(Fonte: Ipema)

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