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ILUSTRÍSSIMO SENHOR AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL

Protocolo: 16000.142221/2021-27

ELISA FORTES PICOLI MARTINS DA SILVA (faltou indicar: nacionalidade,


estado civil, profissão, endereço completo, E-mail), inscrita no CPF 014.235.291-89, vem,
respeitosamente, à ilustre presença de Vossa Senhoria, apresentar

RECURSO ADMINISTRATIVO
em razão da decisão administrativa proferida em 26.11.2021, que indeferiu o
pedido de isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), com fulcro no art. 9° da
IN RFB nº 1.769, de 18 de dezembro de 2017.

1 DO DIREITO À NOVA ISENÇÃO. VEÍCULO ADQUIRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA


LEI 14.183/21. REDUÇÃO DE ISENÇÃO QUE DEVE OBSERVAR O PRINCÍPIO DA
IRRETROATIVIDADE E ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 104,
DO CTN
A recorrente apresentou pedido de isenção do IPI junto a este órgão, cujo
benefício fiscal não fora reconhecido sob a justificativa de que os requisitos legais para tanto
não foram atendidos, já que a referida parte adquiriu veículo com isenção de IPI há menos de
3 anos, nos termos do art. 2º, § único, da Lei 8.989/95. Vejamos:

Ocorre que a recorrente adquiriu o veículo em 30/10/2019, conforme nota fiscal


anexa, ou seja, na vigência da redação antiga da Lei 8.989/95, bem como da IN n. 1769, da
RFB, que previam o prazo de 2 (dois) anos para nova isenção de IPI.
De acordo com o art. 1º, §2º, I, da IN 1769, da RFB:

Art. 1º Esta Instrução Normativa disciplina a aplicação da isenção do Imposto sobre


Produtos Industrializados (IPI), instituída pela Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, e
do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores
Mobiliários (IOF), instituída pelo art. 72 da Lei nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991, na
aquisição de veículos destinados a pessoas com deficiência física, visual, mental severa ou
profunda ou autistas.
[...]
§ 2º O direito à isenção de que trata o caput pode ser exercido:
I - quanto ao IPI, uma única vez a cada 2 (dois) anos, contados da data de emissão da nota
fiscal referente à aquisição anterior, ainda que no curso desse prazo tenha ocorrido furto,
roubo ou perda total do veículo, observada a vigência da Lei nº 8.989, de 1995; e (g.n.)

No mesmo sentido, o art. 2º, da Lei 8.989/95:

Art. 2o A isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI de que trata o art.
1o desta Lei somente poderá ser utilizada uma vez, salvo se o veículo tiver sido adquirido
há mais de 2 (dois) anos. (g.n.)

O amparo legal usado para indeferimento do benefício fiscal pleiteado, qual seja, o
§ único, do art. 2º, fora inserido na Lei 8.989/95, pela Lei 14.183/2021, publicada no último
dia 15/07/2021, ou seja, quase 2 anos após a compra do veículo pela recorrente, motivo pelo
qual não lhe pode ser imputada a nova regra mais gravosa.

Parágrafo único. Na hipótese prevista no inciso IV do caput do art. 1º desta Lei, o prazo
de que trata o caput deste artigo fica ampliado para 3 (três) anos.   

A regra geral é que a lei tributária deve reger o futuro, sem se estender a fatos
ocorridos anteriormente ao início de sua entrada em vigor. Isso porque, só há legitimidade da
norma se o contribuinte conhece de antemão a sua obrigação e os elementos do tributo.

O princípio da anterioridade tributária, inserido no art. 150, III, “b” e “c”, dispõe
sobre um intervalo mínimo que deve ser observado entre a data de publicação da lei
instituidora ou majoradora e a data de cobrança do tributo.

A ideia também segue para as isenções, ainda que não prevista expressamente, já
que a anterioridade busca proteger o contribuinte contra as surpresas que agravem a carga
tributária a que está submetido. Assim, se estivermos diante de uma redução da carga
tributária do sujeito passivo, não há que se falar em anterioridade. De outro lado, se a isenção
é revogada ou reduzida, seus efeitos devem operar somente no exercício financeiro seguinte.

De acordo com Hugo de Brito Machado:

A revogação de uma lei que concede isenção equivale à criação de tributo. Por isso deve
ser observado o princípio da anterioridade da lei, assegurado pelo art. 150, inciso III, letra
“b”, da Constituição Federal (...) a irrevogabilidade da isenção passou a depender dos dois
requisitos, isto é, de ser por prazo certo e em função de determinada condições.

Ainda o art. 104, III, do CTN, prevê que entram em vigor no primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a
impostos sobre o patrimônio ou a renda que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei
dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178.

Ou seja, a redação dada pelo parágrafo único, do art. 2ª, da Lei 8.989,
anteriormente transcrito, limita a utilização do benefício fiscal então permitido, promovendo,
em consequência, um aumento indireto do tributo. Nesse sentido o entendimento
jurisprudencial, abaixo, enquanto vigorou a redação do referido artigo dada pela MP
1.034/21, posteriormente convertida na Lei 14.183/21:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. IPI. ISENÇÃO.


PORTADOR DE DEFICIÊNCIA. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO. RESTRIÇÃO DO
BENEFÍCIO FISCAL PROMOVIDA PELA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.034, DE 2021.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGÉSIMA. VIOLAÇÃO. (TRF4, AG 5020475-
05.2021.4.04.0000, SEGUNDA TURMA, Relator RÔMULO PIZZOLATTI, juntado aos
autos em 13/07/2021, g.n.)

Conforme fundamentação do julgado acima referido “Evidentemente, a


ampliação do prazo e a imposição de limite de preço para nova aquisição de veículo
automotor com isenção de IPI por pessoa portadora de deficiência física, operada pela Medida
Provisória nº 1.034, de 2021, limita a utilização do benefício fiscal então permitida,
promovendo em consequência um aumento indireto do tributo, caso em que a norma deveria
observar o princípio da anterioridade nonagesimal para produzir efeitos no mundo jurídico.” .
No caso em tela a situação é a mesma, porém agora sob a vigência da Lei 14.183/21 que
aumentou o prazo de nova isenção de IPI para 3 anos, quando na redação anterior da Lei
8.989/21 era previsto 2 anos.

Assim, a revogação de isenção ou de qualquer outro benefício fiscal representa,


mesmo que indiretamente, uma majoração da carga tributária do contribuinte. Portanto, deve
sujeitar-se à anterioridade tributária, motivo pelo qual a recorrente não pode ser prejudica em
seu novo pedido de isenção, em razão da redação dada pela Lei 14.183/21, ao art. 2º, §único,
da Lei 8.989, em 15/07/2021.

2 DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, requer:

2.1 O provimento do presente recurso para o fim de conceder o benefício fiscal


requerido, visto que o veículo adquirido pela recorrente teve sua nota fiscal emitida em
30/10/2019, cumprindo os requisitos legais para nova concessão, conforme fundamentação
supra.
2.2 Ad argumentandum tantum, entendendo não ser caso de provimento do
recurso, que seja deferida a nova isenção desde já, se quando do julgamento já estivemos no
prazo de 3 anos (contados da emissão da NF em 30/10/2019), conforme previsto no §único, da
atual redação do art. 2º, da Lei 8.989, visto estarmos há menos de 20 dias do cumprimento do
referido prazo, conforme fundamentado na decisão recorrida.

2.2 De outro lado, havendo entendimento contrário ao


provimento do recurso aqui apresentado e na hipótese da resposta ao presente
recurso ocorrer ao tempo em que se houver exaurido o prazo de 3 (três) anos –
contados da data da emissão da NF, ou seja: 30/10/2019 – prescrito pelo
parágrafo único do Art. 2º da Lei nº 8.989/95 (redação atual) requer-se, desde já,
que seja deferida a nova isenção fiscal pleiteada no caso em cena, haja visto que
restam menos de 20 (vinte) dias para o cumprimento do prazo legal conforme
fundamento constante da decisão recorrida. (SUGESTÃO DE TEXTO PARA
SUBSTITUIR A PARTE DESTACADA EM VERDE).

Termos em que pede deferimento.

Maringá/PR, 01 de dezembro de 2021.

CRISTINA APARECIDA GIGLIO RUI

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