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A construção de um projeto de pesquisa em Geografia

Caro aluno,

Você está se aproximando da conclusão do seu curso de Licenciatura em Geografia, e


terá que elaborar uma monografia, que se define como um estudo de caráter individual
sobre determinado tema, que visa ao aprofundamento do conhecimento a respeito do
assunto tratado. Fundamentalmente, a monografia inclui uma pesquisa de gabinete e/
ou laboratório e/ou campo. Você terá que fazer um levantamento do material disponível
(biblioteca, mapas, dados estatísticos, etc.) sobre o tema que se pretende investigar.

Porém para a elaboração de uma monografia e/ou trabalho de conclusão de curso é


fundamental a construção de um projeto de pesquisa, que irá lhe ajudar a desenvolver a
monografia. Destarte, nesse período iremos auxiliá-lo a construir o seu projeto de
pesquisa.

Em toda a investigação é necessário construir uma problemática a ser investigada,


elencar os questionamentos ou hipóteses que conduzirão a pesquisa, apontar os
objetivos da pesquisa, estabelecer os procedimentos metodológicos a serem adotados,
indicar um cronograma de trabalho, e listar as referências utilizadas na construção do
seu projeto de pesquisa.

De modo geral um projeto de pesquisa apresenta a seguinte estrutura:

1) Apresentação/Introdução;

2) . Problemática;

3) Questionamentos; questão central e/ou hipóteses

4) Objetivos;

5) Procedimentos metodológicos;

6) Cronograma;

7) Referências.
Estaremos detalhando cada um desses tópicos, com um exemplo para que você possa
iniciar a construção do seu juntamente com o tutor a distância.

Cabe a você agora iniciar a construção do seu projeto de pesquisa. A seguir indicamos
algumas referências que podem lhe ajudar nessa empreitada. Além dessas, existem
inúmeros livros de metodologia científica que podem lhe auxiliar. Consulte-os.

http://www.uel.br/cce/geo/didatico/omar/pesquisa_geografia_fisica/
ConstruindoCiencia.pdf

http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20-
%20Material/Pesquisa%20e%20Ensino%20de%20Geografia/
PESQENSGEOAULA4.pdf

1) APRESENTAÇÃO E/OU INTRODUÇÃO

Nesse tópico você vai apresentar como chegou ao tema e proporcionar, ao leitor, uma
visão geral do que pretende investigar. É importante demonstrar como você chegou ao
tema a ser investigado.

Exemplo de projeto de pesquisa:

Tema: ANÁLISE DA AGRICULTURA FAMILIAR NO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO

I – APRESENTAÇÃO

Este projeto encontra-se alocado no Instituto de Geografia da UERJ, Departamento


de Geografia Humana, e representa a continuidade de uma agenda de pesquisa, iniciada
em 1995, quando ingressei como professor assistente e obtive a promoção a professor
adjunto em 21/07/1998, com a obtenção do título, de doutor em Geografia, na UFRJ em
maio de 1998. Na trajetória na UERJ fundamos o Núcleo de Estudos em Geografia
Fluminense – NEGEF, em 1997, o qual coordenamos e aonde realizamos nossas
atividades de pesquisa e extensão. Entre os projetos desenvolvidos destacamos: 1) O
Projeto Quissamã, que já resultou na publicação do livro Quissamã: em busca de novos
caminhos (2002), no Atlas Escolar do Município de Quissamã (2002), na realização de
dois vídeos sobre o município, além de inúmeros cursos de aperfeiçoamento ministrados
para os professores de Quissamã; 2) O Projeto Transformações socioespaciais do rural
fluminense, cujos resultados foram a organização e publicação dos livros Estudos de
Geografia Fluminense (2002), Revisitando o território fluminense (2003), Revisitando o
território fluminense II (2008) e Revisitando o território fluminense III (2010),
Revisitando o território fluminense IV (no prelo), dos Atlas do município de Nova
Friburgo (2005), Novo Atlas Municipal de Macaé (2009) e do Atlas escolar do
Município de Rio Bonito (2011), do livro Geografia do estado do Rio de Janeiro: da
compreensão do passado aos desafios do presente (2012), 3) Diagnóstico das condições
socioespaciais nas Regiões de Governo do Estado do Rio de Janeiro (o resultado foi a
publicação do livro Regiões de Governo do Estado do Rio de Janeiro: uma contribuição
geográfica - 2005); 4) A Geografia vai à escola que objetiva a divulgação dos cursos de
geografia e das pesquisas sobre o estado do Rio de Janeiro nas escolas de Ensino
Básico. 5) Fundamos, em 1997, e continuamos a editar a revista Geo UERJ, que
atualmente se encontra no formato eletrônico, e que pode ser acessada pelo site
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj ISSN 1981-9021, e com
indexadores nacionais e internacionais.

Nesse período publicamos 21 artigos em revistas científicas, quatro livros, 13


capítulos de livros, e organizados 15 livros. Apresentamos trabalhos completos em 47
congressos, como no: Encontro Nacional de Geógrafos, Encontro Nacional de
Geografia Agrária, Encontro de Geógrafos da América Latina, Congressos da Sociedade
Brasileira de Economia e Sociologia Rural, Seminário Internacional de la RII - Red
Iberoamericana de investigaores en globalización y território (Argentina e México) e
Jornadas interdisciplinarias de estudos agrarios y agroindustriales (Argentina), além de
editar a Revista Geo UERJ (B1 no qualis) desde 1997. Estamos recebendo bolsa
PROCIENCIA desde 2000 e bolsa de produtividade CNPq 2 desde 2007, além de
financiamento para projetos de pesquisas, publicações e comparecimento a congressos.
Nessa trajetória, orientamos 57 monografias de graduação, 9 monografias de pós-
graduação lato sensu e 11 dissertações de mestrado stricto sensu. Também orientamos
37 bolsistas de Extensão, 54 de Estágio Interno Complementar, 12 do Programa
Especial de Treinamento – PET, 12 de monitoria e 26 de Iniciação Científica.

No ano de 2005, organizamos o I Encontro de grupos de Pesquisa “Agricultura,


Desenvolvimento Regional e Transformações Socioespaciais”, com a participação de
grupos da USP, UFU, UFSM, UFRGS, UNESP, PUC-RJ e UERJ, com o objetivo de
refletir sobre a produção dessa temática e realizar encontros anuais dos quais resultaram
na publicação dos livros: INTERAÇÕES GEOGRÁFICAS: a conexão interinstitucional
de grupos de pesquisa (2007) e AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO E
TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAS: reflexões interinstitucionais e constituição
de grupos de pesquisa no rural e no urbano (2008) e A Metrópole e o Interior
Fluminenses: simetrias e assimetrias geográficas (2009), além do “Caderno de turismo:
apoio à orientação da atividade turística no estado do Rio de Janeiro”. Esse trabalho está
no prelo e foi elaborado conjuntamente com a ALERJ e FECOMÉRCIO.

Também organizamos o XVIII Encontro nacional de Geografia Agrária em 2006,


com o lançamento do livro ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS EM
GEOGRAFIA AGRÁRIA (2009), o 2º Simpósio Nacional sobre o rural e o urbano no
Brasil (2009), o 1º (2009) e o 2º (2001) Seminários: Rio de Janeiro: um olhar
sócioespacial, cujos resultados foram a organização dos livros Rio de Janeiro: um olhar
sócioespacial (2010), Rio de Janeiro um território em mutação (no prelo). Ambos os
seminários e livros foram organizados com colegas da Faculdade de Economia e do
Departamento de Ciências Sociais da UERJ.

Nessa caminhada, inúmeros trabalhos de campo foram realizados, nos mais


diversos municípios fluminenses, a fim de valorizar essa técnica de investigação para os
trabalhos geográficos, e, também, obter informações acerca da realidade socioespacial
de municípios, regiões de governo e Estado do Rio de Janeiro. Por meio dessas
excursões em campo, estabeleceram-se parcerias com EMATER-RJ, FIRJAN,
SEBRAE, IBGE, Prefeituras Municipais que muito têm contribuído para a consecução
de nossos trabalhos.

Sempre ministramos aulas na graduação e pós-graduação e no campo


administrativo exercemos as funções de coordenador do curso de graduação em
Geografia (1996-2007), coordenação do curso de Geografia a distância ( a partir de
agosto de 2011), coordenador das licenciaturas da UERJ (2004-2009), chefe do
departamento de Turismo (2010), Diretor do Instituto de Geografia (2008-2012),
membro do Conselho Universitário (2008-2010), membro do CSEPE (2010-2012),
membro da CPG (2010-2012), além de integrar as comissões de avaliação do DEPEXT,
CETREINA e DCARH. Atualmente exerço a função de assessor na Sub-reitoria de
pós-graduação e pesquisa e atuo na comissão de avaliação da CAPES na área de
Geografia.

Destarte, o projeto que apresentamos representa uma continuidade no foco de


nossa investigação: a realidade socioespacial do Estado do Rio de Janeiro, com ênfase
no seu espaço rural e suas transformações. Nesse sentido, o objetivo central de nossa
investigação é o de analisar o papel da agricultura familiar no estado do Rio de Janeiro.

2). Problemática

A construção da problemática de uma pesquisa pressupõe a leitura e conhecimento dos


conceitos da Ciência Geográfica. Nessa construção você indicar o que vai estudar. Vai
indicar o tema a ser investigado, o objeto da pesquisa. Vai indicar também onde vai
pesquisar, pois essa indicação resulta no recorte espacial da pesquisa. Para nós da
Geografia é muito importante indicar esse recorte, que deve ser compatível com a
proposta de pesquisa. Pode ser um distrito, uma localidade, um município, um estado da
federação, etc. Na continuidade devemos indicar o período de tempo que vamos estudar
– Quando–Essa indicação representa o recorte temporal da investigação, que pode ser o
presente ou um período de tempo (Ex.: de 1950 a 2015). Através das referências sobre o
tema e dos conceitos geográficos vamos estabelecer uma reflexão sobre o que
pretendemos analisar, investigar, e estabelecer o Por quê? de nossa pesquisa.

Os conceitos básicos e fundamentais da Geografia – espaço geográfico, território,


paisagem, região, redes e lugar – entre outros devem auxiliar nessa construção, pois nos
ajudam e estabelecer uma problemática delimitada e consistente para o desenvolvimento
da pesquisa.

Exemplo de problematização:

Assistimos, a partir da década de 1990, uma proliferação de estudos sobre a produção


familiar e, como afirma Wanderley (2000), "pela primeira vez na história, a agricultura
familiar foi oficialmente reconhecida como um ator social" e passou a ser vista como
campo de ação de uma agricultura alternativa ao "padrão moderno vigente", que
predominou na agricultura brasileira e que não contemplou a grande maioria dos
produtores familiares. A agricultura familiar se afirma, assim, como uma categoria
expressiva no meio rural brasileiro. Na busca de sua reprodução e sobrevivência, tem
apresentado características como o trabalho em tempo parcial, face à diminuição da
jornada de trabalho favorecida pela incorporação de tecnologias de produção e a
consequente liberação de membros da família para exercerem outras atividades,
agrícolas e não agrícolas, a fim de complementar a renda familiar. Esse fenômeno,
denominado pluriatividade, expandiu-se, entre outros fatores, pela revalorização do
mundo rural nas atividades associadas aos setores industriais e de serviços, que
passaram a absorver, em suas atividades, trabalhadores oriundos de unidades de
produção familiar.

A análise da produção familiar enseja um debate teórico e pode ser sintetizada em duas
posições: uma, que está centrada na categoria Agricultura Familiar, derivada, sobretudo,
do estudo elaborado conjuntamente pela FAO/INCRA (1994) e que passou a orientar as
políticas de desenvolvimento rural implementadas pelo Estado Brasileiro; e outra, que
preconiza a atualidade e a eficácia do conceito de campesinato para a análise da
produção em base familiar no Brasil e que tem na luta pelo acesso à terra o eixo
fundamental de análise. Estabeleceu-se, assim, um profícuo debate sobre a produção em
base familiar e suas estratégias de sobrevivência no território brasileiro.

Somente após a publicação do estudo FAO/INCRA (1994) é que a agricultura familiar


passou a integrar efetivamente o debate sobre o desenvolvimento rural brasileiro e as
políticas públicas voltadas para o setor. Conforme aponta Elesbão (2007, p. 63)) "há um
crescente reconhecimento por parte dos órgãos oficiais de que a agricultura familiar tem
papel importância fundamental no seu desenvolvimento". Essa percepção é
compartilhada por Buainaim (2006, p. 22) quando afirma que agricultura familiar
brasileira é extremamente diversificada e que "a década de 90 caracterizou-se por
profunda reestruturação do agronegócio nacional (...) mas com a agricultura familiar
espalhada por todo o território nacional, sendo a principal fonte de postos de trabalho no
meio rural brasileiro. Esse mesmo autor (p. 27) ainda afirma que a presença da
agricultura familiar é variável segundo as regiões do país, e "em todas as regiões, mais
de 1/3 dos estabelecimentos foram classificados como familiares". Merece destaque que
o Censo Agropecuário de 2006, pela primeira vez, disponibiliza estatísticas oficiais
sobre a agricultura familiar, e França et al (2009, p.38) consideram que "Ao repercutir a
lei da Agricultura Familiar nas estatísticas oficiais produzidas pelo Censo Agropecuário
2006, o IBGE e o MDA dão uma contribuição importante para a identificação e
caracterização de um setor social, cuja importância econômica e social é objeto de um
crescente reconhecimento por parte do Estado, informada por uma trajetória de lutas
sociais e de debates acadêmicos".

Buainain e Fonseca (2011) contataram que "a agricultura familiar foi uma bem sucedida
'invenção' e 'inovação' dos anos 90, na qual a academia teve um papel importante.
Destarte, foi disseminada, na literatura que, a agricultura familiar é definida pela
utilização da mão-de-obra, tamanho da propriedade, direção dos trabalhos e na renda
gerada pela atividade agrícola. Há sempre um traço em comum: ao mesmo tempo em
que é proprietária dos meios de produção, o trabalho é realizado pela família.
Assim reafirma-se o papel da agricultura familiar, e a Região Sudeste, emerge como a
terceira região com maior número de estabelecimentos familiares, com 699.978
estabelecimentos, ou 16% do total, segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2006.
Eles ocupavam 12.789.019 ha, ou 15,9% do total da área ocupada por este tipo de
estabelecimento no país. Nela, os estabelecimentos familiares representaram 76% do
total de estabelecimentos e 24% do total da área. E essa realidade também se encontra
presente no estado do Rio de Janeiro, que no Censo Agropecuário de 2006 registrou a
presença de 58.482 estabelecimentos agropecuários, ocupando uma área de 2.048.973
há e com 157.634 pessoas ocupadas nesses estabelecimentos, e com um aumento de 6%
no número de estabelecimentos rurais em relação a 1995/1996.

Destarte, o objetivo central é investigar as características da agricultura familiar


presentes no território fluminense, não deixando de se evidenciar as abordagens sobre a
produção familiar e suas estratégias de sobrevivência, por meio de empregos agrícolas
ou não-agrícolas. Nossa reflexão está centrada no Território Fluminense, que se
encontra marcado por um intenso processo de urbanização que tem provocado
profundas transformações socioespaciais. Entre elas destacamos as atividades
associadas ao turismo rural contemporâneo, com a proliferação de hotéis-fazenda, spas,
pousadas, e casas de segunda residência, e a manutenção e até mesmo o aumento da
produção familiar. A proliferação dessas atividades possibilitou aos produtores
familiares a inserção em atividades não-agrícolas e conseqüentemente o aumento da
renda familiar. Esse processo, porém, ocorre sobretudo nas áreas dos eixos de
urbanização e próximas à RMRJ. Nas áreas mais distantes, os produtores familiares
continuam na dependência da renda agrícola, enfrentando inúmeros problemas para a
realização de suas atividades.

DELIMITAÇÃO DO TEMA, PROBLEMATIZAÇÃO E QUESTIONAMENTOS.

A reflexão sobre a produção familiar remonta a autores clássicos, como Chayanov


(1974), Mendras (1976), Caio Prado Junior (1977), Guimarães (1979), entre outros, e
foi retomada nos anos 1990 com as contribuições de Abramovay (1992), Wanderley
(1994, 2000), Lamarche (1998) e Fernandes (2002), Tinoco (2006), Buainain (2006),
Elesbão (2007), Conterato et al (2009), França et al (2009), Domingues (2010),
Buainain e Fonseca (2011), entre outros.

Existe consenso de que a produção familiar se caracteriza pelo trabalho familiar na


exploração agropecuária e pela propriedade dos meios de produção. Para Wanderley
(1999), a agricultura familiar constitui, na atualidade, um conceito genérico, que
incorpora uma diversidade de situações específicas e particulares. Para ele, o
campesinato corresponde a uma dessas formas particulares da agricultura familiar.

A concepção que prioriza a agricultura familiar como unidade de análise centra-se nos
estudos da FAO/INCRA (1994), que dividem a exploração agrícola em modelo patronal
e familiar, e no estabelecimento do Programa Nacional de Produção Familiar –
PRONAF. Esta concepção objetiva estabelecer diretrizes e ações que levem ao
desenvolvimento rural e à integração dos produtores familiares ao mercado, realizando,
para tanto, uma classificação dos agricultores familiares brasileiros.

A agricultura de propriedade familiar é caracterizada por estabelecimentos em que a


gestão e o trabalho estão intimamente ligados, ou seja, os meios de produção pertencem
à família e o trabalho é exercido por esses mesmos proprietários em uma área
relativamente pequena ou média. Dessa forma, segundo a classificação da FAO/
INCRA (2000) e de Molina Filho (1979), os agricultores familiares estariam
classificados em três eixos: consolidados, em transição e periféricos ou de subsistência.

Os dois primeiros são produtores com maior desenvoltura no mercado e, por isso, a
busca por assistência técnica e crédito ocorre com maior frequência. Neste caso, o uso
de média/alta tecnologia (máquinas, insumos, defensivos etc) é inevitável, sendo
considerada uma agricultura dinâmica e de trabalhadores “qualificados” de acordo com
o padrão capitalista. Esses agricultores, também, obtêm bons rendimentos de
produtividade e lucro, apresentando os modelos mais semelhantes aos de uma empresa
rural familiar, inseridos em todos os padrões de agricultura familiar adotados pelo
PRONAF.

O terceiro grupo de agricultores periféricos ou de subsistência é aquele cuja utilização


do crédito é praticamente nula e cujas propriedades são de baixa tecnologia e
produtividade. Ressaltamos que este modelo de agricultor é o que mais se aproxima do
camponês tradicional, visto que não mantém uma “dependência externa” e utiliza
métodos tradicionais, com sua produção voltada para satisfazer as necessidades da
família. A luta pela terra também é uma preocupação constante desse produtor rural
que, sobrevivendo muitas vezes como trabalhador sem-terra, é obrigado a ocupar as
terras pertencentes ao outro extremo da sociedade rural, o latifúndio.

Para compreender a problemática que envolve a questão da luta pela terra no século
XX, devemos considerar que, durante os anos de 1960-1980, predominou, no Brasil, um
modelo de desenvolvimento econômico baseado na substituição de importações, cujo
objetivo era desenvolver a indústria e eliminar as relações “arcaicas” da agricultura.
Esse processo, que ficou conhecido como “modernização da agricultura”, provocou
modificações significativas na forma de produzir. Estas transformações, sobretudo, as
ligadas à alteração da base técnica de produção, estão inseridas em um movimento de
mudanças significativas em nível econômico e territorial(Marafon, 1998).

A corrente que centra sua análise na concepção da existência do campesinato tem em


Fernandes (2002) um defensor, que em seu trabalho Agricultura Camponesa e/ou
Agricultura Familiar resgata o conceito de camponês e explica que o uso do conceito de
agriculturafamiliar, muitas vezes, é supérfluo e de grande força teórica-política,
argumentando que:

Em uma leitura atenta dos trabalhos acadêmicos, pode-se observar que os


pesquisadores, que utilizam o conceito de agricultura familiar com consistência teórica,
não usam o conceito de camponês. Já os pesquisadores que usam o conceito de
camponês, podem chamá-los de agricultores familiares, não como conceito, mas como
condição de organização do trabalho. Da mesma forma, ao se trabalhar com o conceito
de camponês, pode-se utilizar as palavras: pequeno produtor e pequeno agricultor.
Todavia, como existem muitos trabalhos que utilizam essas palavras como equivalentes
do conceito de agricultura familiar, é necessário demarcar bem o território teórico.

O autor acrescenta que:

A organização do trabalho familiar no campo existe desde os primórdios da história da


humanidade. Em seu processo de formação, a organização do trabalho camponês
realizou-se em diferentes tipos de sociedade: escravista, feudal, capitalista e socialista.
No capitalismo, a sua destruição não se efetivou conforme prognosticado, porque sua
recriação acontece na produção capitalista das relações não capitalistas de produção e
por meio da luta pela terra e pela reforma agrária. Assim, na não realização da
destruição efetiva do camponês, tenta-se refutar o conceito.

Em suas obras, Fernandes (2002) demonstra que a figura do camponês caminhou por
alguns sistemas de organização da vida social e sobrevive até os dias de hoje – com
relações capitalistas e não-capitalistas de produção – principalmente dentro dos
movimentos sociais, como é o caso do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra. O autor opõe-se, assim, à idéia de que os agricultores familiares representam
o novo, o moderno e o progresso; e os camponeses, o velho, o arcaico e o atrasado.

O autor considera ainda que o campesinato se reproduz no interior do capitalismo e se


constitui como uma classe social deste modo de produção. Segundo Marques (2002), o
campesinato não é apenas um setor da economia, uma forma de organização da
produção ou um modo de vida. Este pode ser entendido como uma classe social que ora
serve aos interesses capitalistas, ora lhes é contraditória. Dessa maneira, se por um lado
o mercado domina o campesinato, por outro, ele não o organiza.
Para Wanderley (1999), a agricultura familiar é um conceito genérico, que inclui uma
diversidade de situações específicas e particulares; ao campesinato corresponde uma
dessas formas particulares da agricultura familiar, que se constitui um modo específico
de produzir e de viver em sociedade.

A autora considera que o campesinato tradicional “tem particularidades que o


especificam no interior do conjunto maior da agricultura familiar e que dizem respeito
aos objetivos da atividade econômica, às experiências de sociabilidade e à forma de sua
inserção na sociedade global” (WANDERLEY, 1999, p. 23).

O debate entre essas duas concepções foi sintetizado por Germer (2002, p. 47 e 48) em
interessante artigo denominado A irrelevância prática da agricultura “familiar” para o
emprego agrícola sinaliza que a denominação de agricultura familiar deriva da
concepção norte-americana de produção familiar, na qual “o chamado produtor
“familiar” representava o pequeno produtor ousado, o homem da fronteira, o pequeno
industrial inovador e assim por diante, representado na agricultura pelo farmer”; e a de
campesinato deriva da concepção européia de produção familiar baseada em Chayanov
(1974), segundo o qual a produção familiar é vista como “dotada de uma lógica própria
e, por isso, capaz de resistir “à transformação capitalista”. Ainda de acordo com Germer
(2002), a concepção norte-americana passa a prevalecer a partir dos anos 1990, no
Brasil, enquanto a concepção européia predominou nos anos de 1970-1980.

Sobre esse debate, concordamos com Wanderley (1999) que a agricultura familiar é um
conceito genérico e que o campesinato corresponde a uma das formas da agricultura
familiar.

A valorização do mundo rural e as transformações que têm ocorrido nas unidades


familiares de produção, como a diminuição do tempo destinado às atividades agrícolas,
a diminuição da renda agrícola e a busca de outras atividades para complementação da
renda, o retorno para as áreas rurais de pessoas oriundas do espaço urbano, sobretudo
aposentados, que passam a se dedicar não somente a atividades agrícolas, levam-nos a
uma busca de caracterização desses fenômenos que, genericamente, têm sido
denominados de unidades familiares de produção pluriativas. Há também inúmeros
estudos sobre esse fenômeno com destaque para aqueles realizados por Lamarche
(1984), Clerk (1984), Lacombe (1984),Hubcher (1984), Shucksmith et al (1990, 1991),
Carneiro (1998), Kageyama (1998), Teixeira (1998), Schneider (1999, 2003) e Anjos
(2003), Elesbão (2006). A pluriatividade remete a um fenômeno no qual os
componentes de uma unidade familiar executam diversas atividades com o objetivo de
obter uma remuneração, que tanto podem se desenvolver no interior como no exterior
da própria exploração, por meio da venda da força de trabalho familiar, da prestação de
serviços a outros agricultores ou de iniciativas centradas na própria exploração –
industrialização da propriedade, turismo rural, agroturismo, artesanato e diversificação
produtiva – que conjuntamente impliquem o aproveitamento de todas as potencialidades
existentes na propriedade e/ ou em seu entorno (Anjos, 2003). A pluriatividade,
portanto, não é um fenômeno conjuntural, mas o resultado de um amplo processo de
transformação da agricultura, em correspondente sincronia com a dinâmica da economia
em geral e no marco da profunda reestruturação que atravessa o modo de produção
capitalista (ANJOS, 2003).

Este fenômeno não representa uma situação inteiramente nova no modo de


funcionamento das formações sociais e econômicas agrárias. Podemos lembrar os
estudos de Kautsky (1980) e Chayanov (1974) que se referem aos “trabalhos
acessórios” e às “outras atividades não-agrícolas” como formas complementares de
obtenção de renda e inserção econômica de pequenos proprietários.

Dessa forma, a noção de pluriatividade vem sendo utilizada para descrever o processo
de diversificação que ocorre dentro e fora da propriedade, bem como para apontar a
emergência de um conjunto de novas atividades que tomam lugar no meio rural. De
acordo com Fuller apud Schneider (1999, p. 367):

A pluriatividade permite reconceituar a propriedade como uma unidade de produção e


reprodução, não exclusivamente baseada em atividades agrícolas. As propriedades
pluriativas são unidades que alocam trabalho em diferentes atividades, além da
agricultura familiar [...].

Muitas propriedades possuem mais fontes de renda do que locais de trabalho, obtendo
diferentes tipos de remuneração. A pluriatividade, portanto, refere-se a uma unidade
produtiva multidimensional, onde se pratica a agricultura e outras atividades, tanto
dentro como fora da propriedade.

Alentejano (1999) afirma que a pluriatividade é mais adequada como instrumento de


análise da dinâmica agrícola, pois como a agropecuária não exige um tempo integral de
trabalho, a sazonalidade do trabalho agrícola permite a combinação de atividades fora
das propriedades rurais.

Na concepção de Graziano da Silva e Del Grossi (2002), o conceito de pluriatividade


permite juntar as atividades agrícolas com outras atividades que gerem ganhos
monetários e não monetários, independentemente de serem internos ou externos à
exploração agropecuária.

Ainda de acordo com Graziano da Silva e Del Grossi (2002), a pluriatividade incorpora
os conceitos de diversificação produtiva e de agricultura em tempo parcial, sendo
consideradas todas as atividades exercidas por todos os membros do domicílio,
inclusive as ocupações por conta própria, o trabalho assalariado e não assalariado,
realizado dentro e/ou fora das explorações agropecuárias. Desse modo, a renda agrícola
vem sendo cada vez mais insuficiente para a manutenção das famílias. A agricultura
está se convertendo em uma atividade de tempo parcial e responde cada vez menos pela
renda e pelo tempo de ocupação da família nessa atividade.

A diversificação das fontes de renda e a combinação de atividades agrícolas e não-


agrícolas têm possibilitado à população do meio rural elevar seu poder aquisitivo,
"passando a demandar uma variada gama de bens de consumo” (SCHENEIDER,1999,
p.174).

Assim, entendemos que a pluriatividade é um fenômeno que tem se aprofundado em


função da queda da renda agrícola e se torna um caminho a ser percorrido pelos
membros das unidades familiares de produção, sobretudo, em áreas próximas aos
grandes centros urbanos, onde o fluxo de turistas em direção ao espaço rural tem sido
mais intenso, devido à revalorização do espaço rural e da natureza. Nesse sentido, essas
atividades complementares podem ser vistas como oportunidades que se colocam para
complementação da renda familiar, e esse fenômeno pode estar associado a áreas de
colonização e de industrialização, como muito bem analisou Schneider (1999), ou a
antigas áreas de exploração de café e cana-de-açúcar, como no Rio de Janeiro; ou ainda
em áreas próximas às metrópoles onde proliferam hotéis, pousadas e casas de segundas
residências, como na Região Serrana Fluminense, conforme estudado por Teixeira
(1998).

O Estado do Rio de Janeiro é o segundo polo industrial do Brasil e produz cerca de 71%
do petróleo nacional, sendo também o maior produtor de gás natural do país. Além
disso, sua produção de pescado é significativa assim como a olericultura, horticultura e
produção de leite. A sua paisagem natural é bastante diversificada, mas, também,
bastante degradada devido às atividades socioeconômicas vivenciadas pelo Estado.
Corresponde ao Estado mais urbanizado do país, com de 96,7% (Censo Demográfico
2010) de sua população vivendo em áreas urbanas. De acordo com Rua (2002), o
território fluminense é marcado por eixos de urbanização, nos quais ocorre uma
urbanização mais densa, indicando assim uma redistribuição da população e das
atividades produtivas (LIMONAD, 1996, SANTOS, 2003).

O Estado apresenta muitos problemas em relação ao meio rural. A vasta concentração


de população, de renda, de poupança, de condições de desenvolvimento na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro gerou um forte desequilíbrio inter-regional, com
exclusão política e social de parte da população do interior (Moreira, 2001). Apesar da
ainda enorme concentração da população fluminense em sua Região Metropolitana,
surgiram, nos anos 1990, algumas novidades em relação à dinâmica demográfica do
Estado do Rio de Janeiro. A mais importante refere-se à simultaneidade de um
movimento tendente à despolarização espacial, com a emergência de novos centros de
porte médio no interior do Estado, e de outro, em sentido inverso, de consolidação dos
centros urbanos metropolitanos (SANTOS, 2003). Apesar da expansão demográfica nas
bordas metropolitanas manifestar-se desde, pelo menos, a década de 1950, esse
movimento não implicou numa desconcentração da população em direção ao interior, o
que resulta no aumento do número das cidades médias, que eram 10 em 1980, e
passaram para 17 nos anos 2000. Destas, 10 localizam-se fora da Região Metropolitana
(SANTOS, 2003).

Rua (2002, p. 47-48) assinala que no Estado do Rio de Janeiro “prevalece a projeção da
metrópole carioca que intensifica o processo de urbanização”, uma vez que 72% da
população fluminense reside na RMRJ, e essa intensa urbanização marca intensamente
o território fluminense nas “dimensões política, cultural, comportamental, econômica,
onde o significado dessa área urbana torna-se esmagador”.

O Interior Fluminense vem se destacando, não somente em termos de crescimento


demográfico (ainda pequeno), mas no abastecimento de produtos agropecuários
(hortigranjeiros, leite e produtos com nicho de mercado especializado como orgânicos,
ervas-finas, leite de cabra, trutas etc), além de estar servindo como área de lazer para a
prática de turismo rural, de ordem contemporânea, com a proliferação de hotéis-
fazenda, pousadas, spas e casas de segunda residência. A prática desse turismo rural
segue, em boa medida, os eixos de urbanização presentes no território fluminense e é
uma prática alternativa ao turismo intenso que ocorre na Costa Fluminense (Costa
Verde e do Sol).

De acordo com Ribeiro (2002, p. 21), apesar de o Estado do Rio de Janeiro


apresentar baixos totais, em relação aos totais nacionais, quanto às variáveis pessoal
ocupado, valor da produção, quantidade colhida e modernização, o seu quadro agrário
apresenta relevância e contrastes no âmbito estadual. Estes contrastes são decorrentes de
uma agropecuária tradicional, que domina a maior porção do território fluminense,
diante de outra de caráter moderno. De um lado, produtos tradicionais, exemplificados
pela cana-de-açúcar, além de cultivos de subsistência; do outro, culturas que requerem
técnicas aprimoradas, como o tomate, a horticultura, a fruticultura e a olericultura,
marcando o Cinturão Verde da metrópole e ocupando municípios integrantes das
Regiões Serrana, Centro-Sul, e Noroeste Fluminense.

Os agricultores familiares, como grande maioria, passam por uma grave crise devido à
concentração de renda e à falta de políticas agrícolas efetivas. As grandes propriedades
sempre ocuparam uma parcela considerável do Estado do Rio de Janeiro tendo
desempenhado papel relevante nas exportações agrícolas do País. Entretanto, após
encerrar os ciclos fluminenses de exportação de açúcar e do café (respectivamente
1900-1930 e 1970-1980), a maioria das grandes propriedades voltadas para a
comercialização desses produtos passou a se caracterizar pela falta de dinamismo das
atividades agrárias nela desenvolvidas, devido à descapitalização decorrente da
decadência das grandes lavouras comerciais. Isso contribuiu para que extensas áreas do
Estado apresentem um nível de aproveitamento agrícola muito inferior ao potencial
produtivo das terras, podendo-se mencionar o Vale do Paraíba, no qual predomina a
pecuária bovina caracterizada por índices muito baixos de produtividade.

Por outro lado, verifica-se que os pequenos proprietários – bastante numerosos no


Estado do Rio de Janeiro – têm poucas possibilidades de realizar investimentos em suas
terras, uma vez que operam com retornos muito reduzidos para permitir a capitalização
de suas unidades de produção. Este é o caso dos pequenos proprietários fornecedores de
leite às Cooperativas do Noroeste Fluminense, do Médio Vale e Centro Sul Fluminense,
os quais, embora detenham a propriedade da terra, têm uma forma de inserção na
produção regional que implica reduzida autonomia na condução do processo produtivo
e limitações quanto à possibilidade de investir em suas unidades de exploração. Em
outros casos, como na Região Serrana, onde há o predomínio da produção de
hortigranjeiros em pequenas propriedades, a pluriatividade é adotada como alternativa
de fonte de renda pelos agricultores. Muitos, além de realizarem suas funções na
propriedade agrícola, exercem atividades não-agrícolas (como caseiros, motoristas,
empregados domésticos, fiscais de rodovia etc) nas casas de veraneio, nos hotéis e nas
prefeituras da Região.

Constata-se que, em território fluminense, as transformações no espaço rural, como a


prática do turismo rural e a disseminação de empregos não-agrícolas, encontram-se
associadas ao intenso processo de urbanização que pode ser sintetizado da seguinte
forma: eixo que se desloca da RMRJ em direção a Angra dos Reis e Paraty, a Região da
Bahia da Ilha Grande, também conhecida como Costa Verde, na qual se destacam as
atividades de turismo que têm provocado imensas transformações, com apelo intenso
para o turismo de praia, histórico e ecológico. Esta região concentra em seu território
grandes reservas de Mata Atlântica, inúmeras ilhas (entre elas a Ilha Grande) e cidades
históricas como Paraty. Grande parte do território integra áreas de proteção ambiental, o
que inibe a prática de atividades agrícolas. A intensa ocupação por grandes hotéis de
luxo e condomínios fechados tem provocado uma intensa especulação imobiliária e
expulsado os produtores familiares de suas terras. A eles resta a inserção no mercado de
trabalho urbano ou a prática de uma agricultura extrativista, como a exploração da
banana e do palmito, assessorada por técnicos governamentais da Emater e IBAMA, e o
exercício de atividades não-agrícolas nos hotéis e condomínios. Outro eixo que tem no
turismo um forte vetor de crescimento é o que segue da RMRJ em direção a Cabo Frio,
Búzios e Macaé, a Região das Baixadas Litorâneas (Costa do Sol). Observa-se também
um intenso crescimento de turismo de massa em direção ao litoral norte do Estado do
Rio de Janeiro, provocando intensa urbanização e proliferação de segundas residências,
o que levou ao fracionamento da terra e à expulsão das atividades agropecuárias, para a
criação de loteamentos e condomínios. A presença da Petrobrás em Macaé representa,
na constatação de Rua (2002, p. 48), “uma avassaladora especulação imobiliária com
profundas marcas de segregação socioespacial”.

Outro eixo de urbanização é o que ocorre no “topo da serra” cujos principais


representantes são os municípios de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis (RUA,
2002). Essa área é marcada pela produção de hortigranjeiros e flores que abastecem a
RMRJ. Apresenta, também, um tradicional e significativo polo industrial (com destaque
para a moda íntima), além da presença de inúmeros sítios de veraneio, casas de segunda
residência, hotéis-fazenda, pousadas, spas, que associam seus estabelecimentos aos
aspectos naturais da região. Corresponde a uma área de turismo alternativa ao turismo
de praia das costas Verde e do Sol. Nessa área, ocorre uma intensa produção agrícola de
base familiar, centrada em pequenos estabelecimentos, na mão-de-obra-familiar e na
baixa tecnificação da lavoura. Esses produtores, que, na grande maioria das vezes,
ficam à mercê dos atravessadores que controlam o processo de comercialização da
produção, produzem alface, brócolis, couve-flor, tomate, etc e acabam tendo uma baixa
remuneração por suas atividades agrícolas. Na complementação da renda familiar, se
inserem no mercado de trabalho não-agrícola, exercendo atividades de jardineiros,
caseiros, domésticos, ou como trabalhadores em empresas das cidades da região. Essa
área também produz orgânicos e hidropônicos para um mercado consumidor restrito à
zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Na Região Serrana Fluminense, nota-se a
presença marcante de atividades relacionadas ao turismo rural contemporâneo e em
sintonia com a produção familiar.

O território que engloba as Regiões do Médio Vale do Paraíba e Centro Sul Fluminense,
além da produção leiteira, contribui com a produção de hortigranjeiros para o
abastecimento da RMRJ, mas apresenta como marca, na paisagem, a atividade cafeeira,
com presença das grandes casas nas sedes das fazendas, o que levou os municípios da
área a organizarem o “Festival do Vale do Café”. Todavia, não apresenta interatividade
com os produtores familiares, que continuam a buscar sua complementação de renda
nas indústrias da região, que concentram um grande número de empresas do setor
metal-mecânico.

As Regiões Norte e Noroeste Fluminense, em função do distanciamento da Área


Metropolitana, apresentam fortes características rurais, com a produção de leite, cana-
de-açúcar, café e frutas. Esse quadro tem sido alterado com a presença da Petrobrás e
seus royalties, os quais têm proporcionado empregos também para os agricultores
dessas regiões.
O território Fluminense encontra-se marcado por um intenso processo de urbanização
que tem provocado profundas transformações socioespaciais (RIBEIRO, 2002; RUA,
2002, 2007; SANTOS, 2003). Entre elas, destacamos as a obtenção de receitas com
atividades não agrícolas, que segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, existiam
3190 estabelecimentos familiares que indicaram o recebimento de renda extra-agrícola,
além das pensões e aposentadorias. Esse número indica a importância crescente que as
atividades não-agrícolas exercem na composição da renda familiar desses
estabelecimentos.

3) Questionamentos

Estabelecida a problemática da pesquisa devemos indicar algumas questões que


nortearão a investigação, e as mesmas devem estar associadas a problematização que
efetuamos sobre o tema de pesquisa escolhido. É sempre importante associar o
problema a teoria e a empiria. Elegemos sempre uma questão central e duas ou três
questões secundárias.

Exemplos de questionamentos:

Com o intuito de buscar o aprofundamento teórico sobre o papel da agricultura familiar


e sobre as suas estratégias de sobrevivência, apontamos o questionamento central da
pesquisa, a saber: qual é a importância da agricultura familiar para o estado do Rio de
Janeiro, não deixando de se evidenciar as abordagens sobre a produção familiar e suas
estratégias de sobrevivência, por meio de empregos agrícolas ou não-agrícolas?

A partir da questão geral, formulam-se outras indagações secundárias cujas respostas


estarão diretamente vinculadas à resolução da questão principal. São elas:
a) Até que ponto as atividades não agrícolas beneficiam os produtores familiares com
a oferta de empregos não-agrícola?

b) Não seria mais uma forma de exploração da força de trabalho familiar?

c) Como o espaço rural se transforma em decorrência de seus aspectos naturais e da


manutenção da produção familiar?

d) A manutenção da produção familiar se torna importante para a disseminação da


imagem do espaço rural?

e) Como se expandem as atividades não-agrícolas nos eixos de urbanização no território


fluminense?

É possível também, na construção de um projeto de pesquisa, se trabalhar com hipótese,


que é uma afirmação, como se fosse uma resposta ao seu problema, que deve ser
confirmada ou refutada ao final da pesquisa. Assim, a hipótese deve ser uma afirmativa
sobre sua investigação, e escrita de forma direta, simples e passível de ser testada,
através de técnicas de pesquisa.

Exemplo:

O papel da agricultura familiar no estado do Rio de Janeiro, e suas estratégias de


sobrevivência, por meio de empregos agrícolas ou não-agrícolas é significativo para
apreender as transformações no espaço rural fluminense.
ão-de-obra, tamanho da propriedade, direção dos trabalhos e na renda gerada pela
atividade agrícola. Há sempre um traço em comum: ao mesmo tempo em que é
proprietária dos meios de produção, o trabalho é realizado pela família.

Assim reafirma-se o papel da agricultura familiar, e a Região Sudeste, emerge


como a terceira região com maior número de estabelecimentos familiares, com 699.978
estabelecimentos, ou 16% do total, segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2006.
Eles ocupavam 12.789.019 ha, ou 15,9% do total da área ocupada por este tipo de
estabelecimento no país. Nela, os estabelecimentos familiares representaram 76% do
total de estabelecimentos e 24% do total da área. E essa realidade também se encontra
presente no estado do Rio de Janeiro, que no Censo Agropecuário de 2006 registrou a
presença de 58.482 estabelecimentos agropecuários, ocupando uma área de 2.048.973
há e com 157.634 pessoas ocupadas nesses estabelecimentos, e com um aumento de 6%
no número de estabelecimentos rurais em relação a 1995/1996.

Destarte, o objetivo central é investigar as características da agricultura familiar


presentes no território fluminense, não deixando de se evidenciar as abordagens sobre a
produção familiar e suas estratégias de sobrevivência, por meio de empregos agrícolas
ou não-agrícolas. Nossa reflexão está centrada no Território Fluminense, que se
encontra marcado por um intenso processo de urbanização que tem provocado
profundas transformações socioespaciais. Entre elas destacamos as atividades
associadas ao turismo rural contemporâneo, com a proliferação de hotéis-fazenda, spas,
pousadas, e casas de segunda residência, e a manutenção e até mesmo o aumento da
produção familiar. A proliferação dessas atividades possibilitou aos produtores
familiares a inserção em atividades não-agrícolas e conseqüentemente o aumento da
renda familiar. Esse processo, porém, ocorre sobretudo nas áreas dos eixos de
urbanização e próximas à RMRJ. Nas áreas mais distantes, os produtores familiares
continuam na dependência da renda agrícola, enfrentando inúmeros problemas para a
realização de suas atividades.

4) Objetivos
Em toda a pesquisa é necessário se apontar os objetivos de nossa investigação: o geral e
os específicos. Eles indicam a meta que pretendemos atingir em nossa investigação.
Eles devem ser claros pois indicam o caminho que o investigar pretende seguir no
processo de pesquisa.

Os objetivos são classificados como: Geral, que como o próprio nome indica é o mais
amplo e que sinaliza o escopo da investigação, ele indica a meta a ser atingida, eos
específicos que vão auxiliar nesse processo.

Exemplos:

Objetivo Geral:

Analisar as características da agricultura familiar e suas estratégias de sobrevivência por


meio de empregos agrícolas ou não-agrícolas no estado do Rio de Janeiro

Objetivos Específicos:

a) Identificar as áreas do território fluminense com maior presença de produção


familiar.

b) Identificar os eixos de urbanização presentes no território fluminense especialmente


os presentes nas áreas de produção familiar.

c) Analisar como ocorre a inserção de membros de famílias de agricultores familiares


nas atividades não agrícolas.

d) Representar as áreas do espaço rural fluminense com a presença de atividades


agrícolas familiares e com a presença de atividades não-agrícolas.
e) Analisar a importância da reprodução das unidades familiares de produção para a
expansão das atividades não agrícolas.

f) Investigar quais são as principais atividades não-agrícolas presentes no território


fluminense.

5) Procedimentos metodológicos

Nessa etapa do projeto de pesquisa você irá expressar como irá efetuar a pesquisa.
Como irá responder a sua questão ou confirma a sua hipótese. Assim é importante
explicitar as fontes que irá utilizar. Podem ser fontes primárias, como entrevistas,
aplicação de questionários, através da realização de trabalhos de campo etc., ou fontes
secundárias, como dados estatísticos, mapas, jornais ou outro material que contenha
dados sobre o tema que está investigando. Os procedimentos devem estar de acordo
com o problema apresentado e objetivos apontados.

Exemplo:

Para alcançar os objetivos propostos, será necessário um levantamento de dados


sobre a produção familiar no estado do Rio de Janeiro – com dados que serão obtidos no
IBGE e na Fundação CIDE para que possamos traçar o perfil da agricultura familiar no
estado do Rio de Janeiro – com dados referentes à estrutura fundiária, principais
produtos, número de membros na família etc, a fim de classificá-los de acordo com a
proposta do INCRA, por município e informações sobre atividades não-agrícolas
presentes nos municípios fluminenses. Esses resultados serão organizados em tabelas,
gráficos e cartogramas que serão fundamentais para traçar o perfil da agricultura
familiar fluminense.
Será necessário, também, identificar e representar as principais atividades
associadas as práticas não-agrícolas. Esses dados serão cruzados com as principais áreas
de produção familiar, identificando-se assim os espaços onde predominam as atividades
não-agrícolas. Os dados sobre as atividades não agrícolas serão buscados nem órgãos de
governo como TURISRIO, Fundação CEPERJ, EMATER, e nas Prefeituras
Municipais.

Ainda em gabinete, será realizado um levantamento bibliográfico complementar


sobre agricultura familiar, atividades agrícolas e não-agrícolas e também sobre o
território fluminense.

Para a verificação dos dados obtidos em gabinete serão efetuados trabalhos de


campo nas principais áreas, a serem identificadas, de produção familiar e turismo rural.
Serão construídos instrumentos de coleta de dados para cada segmento envolvido:
agricultores familiares, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços e órgãos
públicos, como prefeituras municipais e escritórios da EMATER. Os trabalhos de
campo permitirão somar uma perspectiva qualitativa da obtenção de dados à pesquisa
quantitativa anteriormente mencionada.

O roteiro dos questionários, que será aplicado aos produtores rurais, contemplará
aspectos relativos a: dados do produtor; condições de moradias do produtor, bens de
consumo duráveis disponíveis, dados referentes à unidade de produção, força de
trabalho, meios de produção, irrigação, prática ambiental, financiamento, assistência
técnica e organização dos produtores. Os questionários aplicados na EMATER e em
outros órgãos públicos contemplarão aspectos relativos a objetivos, funcionamento,
atuação e compreensão dos problemas regionais do setor agrícola. Em relação aos
empreendimentos relacionados ao turismo rural (hotéis, pousadas, lojas, etc.) serão
efetuados questionamentos que contemplarão o histórico dos empreendimentos, a
atuação, força de trabalho, clientela, inserção na área onde estão localizados e sobre os
fluxos gerados.
A investigação terá resultados parciais, que deverão se traduzir em artigos de
periódicos especializados; apresentação em eventos científicos e na incorporação do
tema às aulas ministradas no curso de graduação e de pós-graduação (mestrado e
doutorado).

6) Cronograma

7)    Referências

Aqui são listadas todas as referências que auxiliaram na construção do seu projeto de
pesquisa. Importante observar as normas da ABNT.

-Livros:
AUTOR(ES).Título: subtítulo. Indicação de responsabilidade (organização,revisão
crítica, tradução etc).Edição. Local de publicação (cidade): Editor, data (ano). Número
de páginas ou volumes.

SILVA, José Graziano da. A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira


agrícola e trabalhadores rurais no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982. 192p.

-Dissertações e teses:

AUTOR. Título: subtítulo. Data. Número de folhas ou volumes. Tipo de trabalho


(grau)-vinculação acadêmica, local e data de apresentação ou defesa, mencionada na
folha de apresentação (se houver).

MARAFON, Glaucio José. A dimensão espacial do complexo agroindustrial soja no


estado do Rio Grande do Sul. 225f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1988.
- Capítulos de livro:

AUTOR(ES) Título do capítulo. In: AUTOR (ES) DO LIVRO. Título do livro. Edição.
Local de publicação (cidade): Editora, data (ano). Número de páginas. Páginas inicial e
final do capítulo.

HAESBART, Rogério. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de


exclusão. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA,
Roberto Lobato (Orgs). Geografia: conceitos e temas. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1995. 353p. p. 165-205.

- Trabalhos apresentados em congressos:

AUTOR(ES) DO TRABALHO. Título do trabalho. In: NOME DO CONGRESSO,


número do evento, data da realização, local de realização (cidade). Título... Local de
publicação (cidade): Editora, data de publicação (ano). Páginas inicial e final do
trabalho.
RUA, João. Transformações sócio-espaciais do rural fluminense. In: ENCONTRO
NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. 14., 1998, Presidente Prudente.
Comunicações... Presidente Prudente: UNESP, FCT, 1998. p. 300-301.

- Artigos de revistas

AUTOR(ES) DO ARTIGO. Título do artigo. Título da revista, local de publicação


(cidade), número do volume, número do fascículo, página inicial e final do artigo. Mês e
ano do fascículo.

FERREIRA, Assuério. Migrações internas e subdesenvolvimento: uma discussão.


revista de Economia Política, São Paulo, v.6, n.1, p. 98-124. ja.n/jun. 1986.

- Informação obtida via CD-ROM:

AUTOR(ES). Título. Local de publicação (cidade): editora, data (ano). Tipo de suporte.
Notas.
CIDE. Anuário Estatístico do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nigraph, 1997.
CD-ROM. 

-www:
AUTOR(ES). Título. Disponível na Internet. Endereço. Data de acesso.
MOARES, Antonio Carlos R. de. O território brasileiro no limiar do século XXI.
Disponível em: www.geografia.igeo.uerj.br/dgeo/geouerj1h/tonico.htm. Acesso em: 30
maio 2000.

Fonte: Revista Geo UERJ.

 Cabe a você agora iniciar a construção do seu projeto de pesquisa. A seguir indicamos
algumas referências que podem lhe ajudar nessa empreitada. Além dessas, existem
inúmeros livros de metodologia científica que podem lhe auxiliar. Consulte-os.

http://www.uel.br/cce/geo/didatico/omar/pesquisa_geografia_fisica/
ConstruindoCiencia.pdf

http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20-
%20Material/Pesquisa%20e%20Ensino%20de%20Geografia/
PESQENSGEOAULA4.pdf
Formatação

Formato A4, espaço 1,5 e letra Times News Roman, tamanho 12. A configuração das
margens será 3,0 cm para a esquerda e superior; 2,0 cm para direita e inferior.

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