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11 de abril de 2011 | N° 16667

TRÂNSITO A SÓS

Ruas cheias e carros vazios


Um levantamento feito por Zero Hora em seis pontos da Região Metropolitana revela a força da cultura do transporte
individual. Ignorando o exemplo de outros países, onde o compartilhamento de veículos por amigos e colegas é parte
da rotina e recebe estímulo oficial, a maior parte dos motoristas daqui viaja sozinha, colaborando para os
congestionamentos nos horários de grande movimento

Nas congestionadas vias da Região Metropolitana, há espaço de sobra. Dentro dos veículos. Levantamento de ZH aponta
que dois terços dos carros circulam só com o motorista, resultando em acúmulo de veículos nas ruas e demora nos
deslocamentos.

ZH foi a pontos da BR-116, da Terceira Perimetral e da Avenida Ipiranga para contabilizar, por 30 minutos, o número
de ocupantes dos carros. Não entraram na contagem táxis, motos, picapes, caminhões e carretas. Também foram
desconsiderados veículos com película nos vidros.

O percentual de motoristas solitários foi superior a 60%. Os carros com dois ocupantes foram 27%. De um total de 4.471
veículos monitorados, apenas 270 levavam três ou mais ocupantes, o equivalente a 6%.

Os números indicam que os gaúchos não se organizam para viajar em grupo nem para dar carona a conhecidos e
familiares. Prática comum em países europeus e no Canadá, a carona solidária poderia reduzir congestionamentos e
emissão de poluentes. No Exterior, é comum colegas irem à faculdade ou ao trabalho em grupo. Essa cultura levou alguns
países à institucionalização da carona, que pode ser agendada pela internet.

– Um pouco de organização resultaria em menos carros nas ruas – diz João Fortini Albano, do Laboratório de Sistemas
de Transporte da UFRGS.

Ônibus perderam 20% dos usuários

Na Europa, há políticas oficiais para estimular os carros a andar cheios. Foram instituídas pistas exclusivas para os
veículos de alta ocupação. Na Califórnia (EUA), essa pistas existem há 40 anos e só podem ser usadas, nos horários de
pico, por veículos com dois ou mais ocupantes. Em alguns locais, o motorista solidário tem descontos ou isenção de
pedágios.

Especialistas acreditam que viajar de carro sozinho é um fenômeno relacionado a fatores como a qualidade do transporte
coletivo, o bom momento econômico do país e uma cultura de valorização do indivíduo.

– As pessoas querem resolver sozinhas suas questões. E estão pouco preocupadas em ajudar o próximo. Isso se reflete
no trânsito. Cada um quer chegar com seu carro e não está disposto a dar carona – avalia Magda Vianna de Souza,
doutora em Ciências Sociais da PUCRS.

A nova cultura se reflete nos números. Entre os anos de 2000 e 2009, a frota gaúcha cresceu 37,5%, chegando aos 4,4
milhões de veículos. A população aumentou 6,9%, atingindo a marca de 10,9 milhões de habitantes. Em âmbito nacional,
no mesmo período, o número de passageiros dos transporte coletivo caiu cerca de 20%, segundo dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Participaram desta reportagem:

Francisco Amorim, Letícia Barbieri, Lívia Meimes e Maicon Bock

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