Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
1. RESUMO
A observação da formação de mecanismos de colapso durante a construção de túneis é uma das atividades mais
importantes do acompanhamento técnico de obras ou ATO, pois garante a segurança da obra e permite definir os ajustes
necessários para a adaptação do projeto à realidade.
Todas as atividades do ATO têm sempre como foco evitar a formação dos mecanismos de colapso. Para tanto, o ATO
deve ser realizado por equipes de engenheiros com noções básicas sobre o assunto.
Pretende-se apresentar neste artigo parte de um trabalho realizado com o objetivo de se reunir as informações de
conhecimento fundamental para a realização de um ATO. O artigo é dedicado a apresentar a parte relativa aos modos de
ruptura dos túneis, dando enfoques separados para o mecanismos da estrutura do revestimento e para os mecanismos do
maciço.
São apresentados os principais modos de ruptura com suas prováveis causas e os prováveis sintomas que podem ser
identificados através da monitoração durante os trabalhos de ATO.
2. INTRODUÇÃO
Os mecanismos de colapso no maciço formam-se pela
alteração do estado de tensões no mesmo, causada pela
escavação ou pelas condições do lençol freático. Tais
mecanismos ocorrem, na maior parte das vezes, na frente de
avanço do túnel. Uma vez executado o revestimento, os
mecanismos no maciço podem ocorrer somente se a estrutura
entrar em colapso.
Os mecanismos nos maciços podem ser classificados em
locais ou globais dependendo da abrangência dos seus efeitos.
Mecanismos globais são aqueles em que os estado de tensões
de volumes do maciço que se localizam muito além de uma
superfície envoltória nas proximidades da escavação
influenciam o equilíbrio do mecanismo. Na Figura 1 ilustra-se
idealizadamente a diferença entre mecanismo global e local. Figura 1 – Mecanismos global e local.
Estes mecanismos ocorrem devido a massas de solo
localizadas acima da geratriz superior do túnel,
em volumes muito maiores do que a porção que
invade a escavação, ou seja, os esforços que
solicitam o teto ou a frente da escavação são
gerados por uma grande massa de solo que
normalmente chega à superfície.
Como os mecanismos globais envolvem massas
de terra extremamente grandes, são difíceis de
serem contidos. Tais mecanismos podem-se
originar já como globais e, também, podem se
originar pelo desenvolvimento de mecanismos
locais, os quais causam a perda de apoio de uma
área muito grande do maciço.
Face à dificuldade de se conter mecanismos
globais após a sua formação, a execução de túneis
em maciços favoráveis à ocorrência de tais
instabilidades normalmente é realizada com a
tomada de algum tipo de providência, como:
adotar frentes parcializadas com a redução da
área exposta; executar tratamentos para melhorar
as características de resistência do maciço,
tornando-o suficientemente competente; utilizar
máquinas; entre outras.
Figura 2 – Mecanismos de colapso globais – Casos G1 * .
*
M. Eng. Cláudio Atsushi Murakami – ca_murakami@hotmail.com – 011-9977-3478
†
Prof. Dr. Carlos Eduardo Moreira Maffei – maffei@maffeiengenharia.com.br – 011-5531-7416
Mecanismos locais são aqueles em que a estabilidade depende
apenas das tensões do maciço nas proximidades da abertura
(Figura 1).
São mecanismos que ocorrem devidos apenas à ação do peso do
solo da porção que se destaca do maciço.
Os mecanismos locais envolvem pequenos volumes de solo e
ocorrem somente até a pequenas distâncias da face de escavação,
sendo por este motivo possíveis de serem controlados por
intervenções da obra, através de tratamentos localizados ou não,
ou por redução da superfície escavada exposta. Muitas vezes,
podem ser contidos mesmo após a sua formação, através da
aplicação de concreto projetado ou de aterros.
4. Mecanismos Locais
A Figura 8 apresenta os modos de ruptura de mecanismos locais.
5.1.1.1. Monitoração
Os mecanismos de recalque de fundação são detectados pelo
monitoramento dos pinos internos.
Nos gráficos de recalques em função da distância (Figura 13) a
curva deve apresentar uma forma com tendência à
estabilização, isto é, com velocidades (velocidade=
recalque/comprimento de avanço) decrescentes (curva 1). A
curva 2 apresenta recalques com velocidades crescentes,
indicando possível formação de mecanismo. Na curva 3 os
recalques ocorrem com a frente de escavação parada,
mostrando a falta de equilíbrio da casca.
Nos casos das curvas 2 e 3 é necessário saber se o problema é
realmente de fundação ou de carregamento de frente
5.1.2.1. Monitoração
Os mecanismos de abertura e fechamento da casca são monitorados
através das medidas de convergência das cordas internas.
A verificação de deformação da abóbada por flexão no caso D2B
pode ser feita através da análise comparativa entre os recalques dos
pinos do teto e do piso. Em caso positivo, os recalques dos pinos do
teto passam a ser maiores do que os do piso. Figura 13 – Gráficos de recalque de
O caso D2C pode ser detectado pelas convergências das diagonais, as fundação.
quais devem passar a convergir de um lado e divergir do outro.
Entretanto, quando se esperam deformações por distorção da seção,
torna-se mais eficiente adotar cordas de medição de convergência
adicionais que passam pelos “rins” da seção (Figura 12), pois, as
cordas que passam pela geratriz superior são pouco sensíveis à estas
deformações. Juntamente com as convergências, podem-se utilizar
inclinômetros nas laterais do túnel para monitorar os deslocamentos
do maciço.
5.2.1.1. Monitoração
A monitoração neste caso se faz da mesma forma que no caso D2, através da análise das medidas de convergências e
divergências, dos recalques dos pinos e dos inclinômetros, com exceção do caso O1C que deve ser evitado, verificando-
se sempre o tipo de material encontrado sob o invert antes da sua concretagem.
5.2.2.1. Monitoração
A monitoração dos mecanismos provocados por cisalhamento não é possível por se
tratar de colapsos frágeis e sem prévio aviso. Neste caso, deve-se realizar uma boa
fiscalização dos trabalhos de campo, garantindo a correta execução das ligações. Deve
se garantir ainda, acima de tudo, a elaboração de um projeto robusto, através de um bom
dimensionamento dos elementos de suporte. Nas ligações entre a calota e o invert, deve-
se dar preferência às soluções que privilegiem a transferência de carga por compressão
(Figura 15b) e não por cisalhamento.
6. Conclusões
Figura 15 – Tipos de • Durante a execução de obras de estruturas de túneis, é imprescindível a presença de
juntas de concretagem uma equipe de ATO com engenheiros devidamente capacitados com noções
entre calota e invert. mínimas sobre o método NATM, o comportamento de maciços, o desenvolvimento
de carregamentos sobre o revestimento, os elementos de suporte, as fundações e sobre os mecanismos de colapso.
• Os conhecimentos dos mecanismos de colapso e dos seus efeitos não devem ser utilizados apenas para evitar os
acidentes, mas sim para elaborar e aperfeiçoar projetos, executar obras mais econômicas e realizar intervenções que
dêem melhor desempenho ao túnel.
• A capacidade de previsão das deformações nas estruturas e no maciço através de modelos matemáticos, antes do
início das obras, é de grande importância para que sejam detectados os pontos ou regiões de máximas solicitações e
deformações. Dessa forma, podem-se monitorar tais regiões com maior detalhamento, permitindo a antecipação de
possíveis intervenções na obra face ao aparecimento dos primeiros sintomas.
• Quando acidentes ocorrem, é bastante comum culpar-se o maciço pelo mesmo. São justificativas freqüentes de
acidentes: o aparecimento de maciços pouco competentes, o surgimento de infiltrações de água, a sobrecarga do
suporte pelo maciço, etc. Deve-se lembrar nestas situações que as prospecções é que podem ter sido insuficientes, a
água não foi devidamente combatida; as cargas no suporte não foram devidamente equilibradas. Contudo, não é
intenção culpar-se as pessoas pelos acidentes, mas lembrar que se deve dar a máxima atenção às armadilhas da
natureza nas execuções de obras subterrâneas.
Bibliografia
ANDERSON, J.M. Reducing risk and improving safety with particular reference to NATM. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON NORTH AMERICAN TUNNELING’96, Washington, 1996. Proceedings. Rotterdam: A. A.
Balkema, 1996. v.1., p.35-42.
CELESTINO, T.B. et al. Utilização de dados de instrumentação no projeto de túneis urbanos. In: SIMPÓSIO SOBRE
INSTRUMENTAÇÃO GEOTÉCNICA DE CAMPO, Rio de Janeiro, 1990. Anais. Rio de Janeiro: ABMS/ABGE,
1990. p.231-237.
GUIMARÃES NETO, J.D. Estabilidade de frente em túneis. 1997. 128p. Dissertação (Mestrado) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo
HSE - Health & Safety Executive. Safety of new austrian tunnelling method (NATM) tunnels. Sudbury: HSE
Books, 1996, 86p. ISBN 0-7176-1068-3
MAFFEI, C.E.M.. Cálculo de túneis em solo. São Paulo: Carlos E. M. Maffei Engenharia S/C Ltda., 1995.
MURAKAMI, C.A. Noções básicas para o acompanhamento técnico de obras de túneis. 2001. 98p. Dissertação
(Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo.
NEGRO, A. Soil tunnels and their supports. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES, 10., Foz do Iguaçu, 1994. Anais. Foz do Iguaçu: ABMS, nov. 1994. p.33-60.
RIBEIRO NETO, F. Segurança, ruptura e colapso de túneis urbanos em NATM. 1999. 171p. Dissertação
(Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo.
TERZAGHI, K. Geologic aspects of soft-ground tunneling. In: TRASK,P.D. Applied sedimentation. New York:
Wiley, 1950. Cap.11, p.193-209.