Partindo dessa premissa, podemos, já de início, explicar essa relação existente na vida
do consagrado para viver a vida monástica.
Quando alguém se dispõe a viver a vida monástica, significa que está igualmente
disposto a viver uma vida de contínua oração, pois a oração passa a ser algo
indispensável para a existência do monge. Por isso, numa comunidade monástica, os
monges se reúnem sete vezes por dia, para fazer o mais belo encontro com o Esposo
da sua alma. A oração é o diálogo que acontece entre o amante (o monge) e o Amado
(Cristo). É um diálogo ininterrupto, porque deve ser prolongado ao longo do dia,
quando o monge se ocupa com seus diversos afazeres. Dessa forma, os monges
prolongam no tempo a oração da Igreja, emprestando a sua voz e os seus lábios, para
que através deles toda a Igreja possa rezar.
O monge canta em comunidade os louvores de Deus por sete vezes ao longo do dia. O
monge canta a Palavra de Deus que não deve se afastar dos seus lábios, mesmo
quando ele está distante do coro monástico. Essa será a missão daquele que entrou
numa comunidade e prometeu solenemente permanecer nela até o fim da sua vida.
A oração será para o monge, exatamente o que a água é para o peixe! Ela é
essencial para que ele tenha qualidade de vida aqui na terra e conquiste no momento
oportuno, quando passar dessa vida, a eternidade, prometida e preparada por Nosso
Senhor: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt
16,24). A fidelidade do monge é a Cruz de cada dia que ele assume para ser
configurado a Jesus Cristo. Portanto, quando um monge reza, ele se oferece como
vítima e se une a Jesus Crucificado e toda a Igreja reza com ele. Enquanto a
humanidade ainda está repousando o sono da noite, o monge está vigiando, acordado
e elevando a sua voz para tocar o coração de Deus em nome de todos os seus filhos,
ainda peregrinos aqui na terra. A celebração litúrgica passa a ser um encontro perfeito
entre o céu e a terra, pois a terra sobe e o céu desce. A Igreja da terra se une à Igreja
do céu num incessante louvor ao Criador.
O grande Santo Agostinho vai nos dizer: “Quem canta reza duas vezes”. As orações de
todos os dias são cantadas em comunidade. E, durante o dia, dentre os mais diversos
afazeres na comunidade, o monge deve prosseguir no silêncio do seu coração,
elevando até Deus os seus louvores e apresentando a Ele as suas súplicas e as daqueles
que a ele se recomendaram em orações. Essa missão se desenvolve por toda a vida do
monge, que, na clausura, pode viver unicamente para Deus.
Encontramos nos nossos Pais do monaquismo muitas instruções para bem viver essa
realidade de “céu na terra” através dos sete momentos de oração ao longo do dia.
Santo Antão, considerado o pai do monaquismo no Oriente, nos adverte com a
seguinte frase: “Os monges que saem de suas celas, ou buscam a companhia do povo,
perdem a paz, como o peixe perde a vida fora d’água”. Essa frase deixa claro para nós,
que a clausura deve ser considerada um valor inestimável e necessário para se viver
esse estilo de vida, onde cada monge, através das suas orações e do seu recolhimento,
busca continuamente a paz tão desejada e procurada no mundo e nas suas agitações.
Essa paz que o monge busca e que pede a Deus para si e para o mundo, é aquela
mesma paz pronunciada pelos sagrados lábios de nosso Senhor, que ao entrar onde
estavam os discípulos, por medo dos judeus, disse: “A paz esteja convosco!” (Jo 22,20-
19). Durante os momentos do Louvor Divino, ou seja, os momentos de oração dos
monges, entre um salmo e outro, o monge eleva silenciosamente a Deus a sua prece
pessoal, onde o seu pedido, o seu louvor, repousa no coração de Deus e, Deus, no seu
amor infinito, concede para o orante, a sua paz, que é a paz do coração de Jesus Cristo.
Em outras palavras, a voz do monge, na sua oração comunitária ou pessoal, é como
uma escada que liga o céu à terra: o monge eleva a sua voz com as súplicas e os
louvores de toda a humanidade e os Anjos de Deus, recolhem os seus pedidos,
apresentam a Deus e, do céu trazem para a terra as bênçãos que tanto necessitam. A
oração deve ser desejada como ponto de partida e, ao mesmo tempo, uma meta a ser
conquistada por todos os homens e mulheres de boa vontade.
A vida monástica já existia antes mesmo de nosso Senhor caminhar em nossa terra. Já
existiam comunidades de homens que se retiravam para uma vida de solidão nos
desertos da Judeia. Eles esperavam a vinda dos Messias, faziam jejuns e penitências,
estudavam a Palavra de Deus e ansiavam por uma experiência com o Prometido a
Israel. O deserto sempre foi o lugar privilegiado para as lutas contra as tentações e, por
isso, também nosso Senhor enfrentou o inimigo de Deus e dos homens e foi vencedor.
Nesse contínuo diálogo entre o céu e a terra, o monge, através da sua oração, renova o
seu coração e eleva a humanidade inteira para manter essa união tão desejada por
Deus para os seus filhos, peregrinos rumo à Terra Prometida, ou seja, para o seu
Grande Retorno, onde, juntos, com os Anjos e Santos, eternamente cantaremos as
maravilhas de Deus e do seu amor infinito.
O monge canta com os lábios, reza com o coração e busca manter a unidade da sua
vida em conformidade à vida de Jesus Cristo, modelo e vida de cada consagrado.
Na Regra de Nosso pai São Bento ele adverte os seus monges sobre a vida de
oração: “Nada antepor ao Ofício Divino” (RB 43,1). Esse é um convite e, ao mesmo
tempo, uma advertência de São Bento para que os seus monges jamais se afastem
dessa belíssima oportunidade de manter a unidade do coração com o coração de Jesus
Cristo. Assim, torna-se possível, através da fidelidade do monge na vida de oração, o
contínuo despertar de um amor profundo com o Sagrado.
A oração cantada ou recitada silenciosamente pelo monge, o aproximará cada dia mais
da vida de perfeição. Além do louvor de seus lábios que sobe aos céus, através da voz
do monge, ele será também um intercessor entre o céu e a terra. A Santa Regra inicia
assim: “Escuta Filho os preceitos do mestre...”. O monge deve escutar constantemente,
fazendo a experiência do discipulado, porque deve aprender com aquele que está à
frente, a arte da vida espiritual, a arte da oração do coração para elevar a Deus a voz
silenciosa dos louvores de todos os dias.
E a Santa Regra continua dizendo: “Nada, absolutamente nada antepor a Cristo!” (RB
4, 21) Com esta frase compreendemos que a busca do monge é a de permanecer
sempre unido a Cristo, seja isso, enquanto está celebrando os louvores divinos com a
comunidade ou durante o trabalho manual, quando, silenciosamente, o monge busca
incessantemente esta unidade do coração com Cristo, o Amado da sua alma.