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Lapa da Meruge|Carvalhal de Vermilhas

A 29 de março de 2021 completou-se cinco séculos desde as primeiras escavações na Anta Lapa
da Meruge, que foram empreendidas por Amorim Girão, pioneiro da arqueologia vouzelense e
descobridor do seu megalitismo.
O arranque em 2016 de um projeto de investigação arqueológica promovido pela Câmara Municipal de
Vouzela tem no estudo daquela importante anta um dos seus grandes objetivos.
Construída há seis mil anos, no período neolítico, apresenta um potencial ainda enorme e encerra
muitas incógnitas. A sua arquitetura funerária não está bem esclarecida. O corredor parece ter sido
acrescentado em época indeterminada e, junto à entrada, o declive mais abrupto da mamoa sugere a
existência de um átrio, um espaço exterior onde então se teriam realizado rituais hoje impossíveis de
recuperar. Achados similares noutros locais sugerem que aqui se encontrarão vestígios de fogueiras e
oferendas às divindades, enquadradas por uma arquitetura própria. Os mortos depositados no interior
terão sido acompanhados de diversos objetos, como potes em cerâmica, machados em pedra, arcos e
flechas e adornos pessoais feitos em minerais então considerados preciosos. Como num templo, as
paredes ostentam representações de símbolos de uma religiosidade entretanto desaparecida cujo
estudo abre portas para o conhecimento das mentalidades destas gentes.
Na própria localização da anta, entre o litoral atlântico e o planalto beirão, palco de um dos mais
imponentes conjuntos megalíticos nacionais, reside a importância muito singular que o megalitismo
vouzelense assume a outra escala: como testemunho de interligação cultural e de passagem de
pessoas e bens. O achado em 2016 de pontas de seta em sílex, ao que tudo indica oriundo do
Ribatejo, é já um indicador dessas relações longínquas.

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