Karin Barber - Como o Homem Cria Deus Na Africa1

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Meu sina ex no teu corpo (Eseritas sobre a religiéo dos orixds)€ 0 quarto volume de uma sei iniciada em 1981, com a publicacio de Olddriga (Excrtas sobre {a religito dos ores), que se seguiram Bandeira de Aird (Outros esritos sobre a religito do, orixis) e Candomblé ~ Desvendando identidades. (Novos escris sobre ‘areligido dos orixés). ‘Um dos objtivos da série ¢colocar novamente em circulagio ensios ¢ arti- 0s publicados nas décadas de 1940 a 1960 poios pioneros dos estudos sobre as re- ligises afro-brasliras (Edison Carneiro, Baste, Herskovits, Verger ¢ Costa iuardo), com énfase no candomblé, Tal producio,divulgeda em publicasoes espe- cializadas, tomou-s de dic acesso. Outro propésto¢ divulgar ensios inéitos de autores contemporineos, a nova geragio de antropélogos,socislogose peicdlogos aus vin aprofndan, rvs cavindy gaye caninbos mga ctenimento a) 7 MONIQUE AUGRAS # RITA LAURA SE- GATO © JOSE FLAVIO PESSOA DE BARROS & MARIA LINA LEAO-TEI- XEIRA @ MARIA THEREZA LEMOS DE ARRUDA CAMARGO ¢ JOSE JORGE DE CARVALHO ¢ KAREN BARBER ¢ SER- GIO FIGUEIREDO FERRETTI @ MUNDI- CARMO FERRETTI @ REGINALDO PRANDI & VAGNER GONCALVES @ CARLOS EUGENIO MARCONDES DE a religido afro-brasileird.“Mfuitos centram suas pesquisas nas regides diversas da- quelas privilegiadas na fase inicial. A produgéo dos africanistas ilumina certos as~ pectos da religio, tal como ¢ praticada atualmente no Benin ¢ Nigéria, ao revelar a manutengao de valores tradicionais, descrever e analisar procedimentos rrituais, ‘apontar fendéncias de adaptacio ou renovacdo de conhecimentos e, sobretudo, pos- sibilitar a realizacio de estudos comparativos em relacdo ao Brasil. Alguns de seus censaios constam sistematicamente da série. Finalmente a elaboracdo de uma biblio- ‘grafia, a cargo do organizador, encarada como instrumento imprescindivel de traba- Iho, abrange alguns dos patses onde é praticada a religido dos orixés, voduns ¢ in- ‘quices: Brasil, Cuba, ¢ Haiti, na América Latina, e Benin e Nigétia, na Africa Oci- dental. Até agora foram Ievantados cerca de 1.500 titulos, isolados em mais de SO diferentes temas. Escritos sobre a religiao dos _orixas Carlos Eugénio Marcondes de Moura /org- y EDICON/EDUSP 0.9 ‘COMO 0 HOMEM CRIA DEUS NA AFRICA OCIDENTAL: ‘ATITUDES DOS YORUBA PARA COM 0 ORISA Karin Barber* Tradugdo: Carlos Eugénio Marcondes de Moura 1 © conceito de que os deuses sfio criados pelos homens € ndo os homens pelos deuses um trufsmo sociolégico. Pertence obviamente a uma tradigdo de pensamento distanciada e critica, incompativel com a f€ naqueles deuses. No entanto a religifo tradicional yoruba apresenta uma concepc’o muito semelhante que, longe de indicar ce~ ticismo ou declinio da crenga, parece constituir um impulso vigoroso em direco & devosio. De acordo com o pensamento tradicional yo- ruba, 0s driga (‘‘deuses”) sféo mantidos vivos gracas & atencao que ‘os humanos Thes dedicam. Sem a colaboraco de seus fiis, 0 drisé seria atraigoado, ridicularizado e reduzido a zero. Tal concepgio pa- rece ser intrinseca a religido desde eras remotas. Como pode seme- Thante percepgdo fazer parte da “‘crenga’” de um devoto? Em vez de especular abstratamente se pessoas pertencentes a outras culturas acreditam ou nfo, conforme faz Rodney Needham (Needham, 1972), parece mais interessante recorrer a um exemplo como o yoruba, no qual ocorre uma inesperada configuracio de idéias, aparentemente * Artigo publicado pela primeira vex em Africa, 51(3), Journal ofthe Tniernational Af can Insitute, 1981 142 parodoxal ¢ indagar como essas idéias se formam(1). Ao encaré-la como integrante de um determinado tipo de sociedade, com determi nados tipos de relagées locais, € que se pode perceber por que essa configuragao € to convincente, O conceito de que os homens eriam 0s deuses de modo algum € privativo do pensamento yoruba. Apre- senta-se, dentro de certos limites, em numerosas religides tradicio- nais da Africa Ocidental, Em algumas, tal como se dé entre os kala- bari, essa concepséo pode ser vista sob uma forma ainda mais expli- cita do que entre os yoruba. Uma comparacio talvez possa ajudar a demonsirar como é a constituigao de relacionamentos sociais que toma esse concecito no somente aceitével, mas primordial para o pensamento religioso da sociedade. ‘As relag6es entre os homens © os drigd constituem, em certo sentido, uma projecéo das relagées entre as pessoas na sociedade. Gostaria de sugerir que, se os yoruba encaram poder dos érisd como algo que é mantido e ampliado gragas & atengéo do homem, is- to se deve a0 fato de que eles vive num tipo de sociedade onde fi- cca muito claro que 0 poder humano do individuo depende, 2 longo prazo, da atengio ¢ do reconhecimento de seus semelhantes. Trata- se de uma sociedade hierdrquica, dominada pela instituigéo da mo- narquia divina e articulada por meio de uma série de titulos de che- fia, que englobam diferentes graus e postos. No entanto 0 impulso dindmico, na vida politica, é a ascengio dos homens que se fazem por si mesmos. Os individuos competem a fim de criar uma posiglo prépria, recrutando seguidores dispostos a reconhecer sua grandeza. Os titulos significam posigées de poder, mas néo séo hereditérios So obtidos por homens que, antes de mais nada, devem ter-se fir- mado. O sistema de titulos é bastante flexivel, permitindo a um ho- mem que ocupa uma posicéo de segundo plano amplié-la, gracas a seus préprios esforgos. E igualmente possivel para os homens ultra- passarem o sistema de titulos ¢ se tomarem importantes na cidade (1) Aguile que interessa realmente a Needham & saber se existe ou no um estado interior discriminivel, universalmente experimentado, © que corresponde 20 conceit de "crenga’. Ele conclue que no e que, portato, nio se deve te apresungio de falar a respeito das “crengas" de outras cultura, A pats deste ponto de vst, o exemplo yo- nba provavelment seria encarado como uma prova a mais de sua conclusto. Se 06 {ado de mene do yoruba em relaggo a seus deuses de cero mode lembra 0 ceticiemo de um homem ecidenta, isso indica que ua experiénca de crengas ~ se é que al expe riencia existe ~ nfo €a mesma. A questio que, no meu modo de ver, deveia ser sbor- dada diz respeito a quaissio as diferencas de esraura ~ estruura da Sociedade e das ideas ~ que possibiltaa algo aparenterente semelhaate ao ceticismo exetcet un pel ti diferente. A articular conf guragdo de idtias que consti astitude devocio= ral yoruba faz sentido unicamente em circunstincis soiais histéricas partiulares, A natureza da "experigncia' da erenca me parece menes importante do que snatureza ‘Soo 0 Baile dos compounds ¢ autra com 75 representantes de rds grupos etios(ve- ‘hos ide meia-idade ¢ homens jovens), duran 2s quais foram fornecidas evocas es 146 eon. pina sezointe) nai etree ba apresentam grande diversidade e aqui nao se faz « menor tentati- va de generalizar conclusdes. E evidente, entretanto, que a estrutura politica fundamental do Okukii assemelha-se & de outras cidades da rea de Qy§, embora seja mais simples do que as das cidades maio- res. A descrigéo das instituigées tradicionais, conforme sobrevive- ram até o presente, é repleta de relatos orais, que se referem a como elas eram no século XIX. Nao existem testemunhos suficientes que demonstrem se elas eram muito diferentes antes desse periodo. Pare- ce no entanto que o tumulto provocado pelas guerras do século XIX intensificou caracteristicas de flexibilidade e abertura que jé se fa- iam presentes.(6) ‘A cidade, unidade politica fundamental, era composta de certo rimero de linhagens locais, cada uma delas com uma alta proporcéo de “convidados” ou elementos estranhos, a elas ligados e semi-liga- dos. A frente da cidade estava o gba, dirigente sagrado, escolhido rotativamente entre cada um dos quatro segmentos da linhagem real aque era mito numerosa, Propritério nominal da terra, 0 gba det nha sobre cla poderes residuais. Distinguie-se gragas a um enorme séquito composto de esposas, criados, detentores de cargos e — pelo menos até o final do século XIX ~ escravos. Essa corte era mantida pelo trabaiho dos habitantes da cidade ¢ 0 gba epoiava-se noma vie ‘gorosa ¢ difusa ideologia de realeza. . emtats «cum a ass rt vid on tore poomlasie de cles se lembravam, A informagio sobr ts ba 2 wo wreectichuscorse ooeuuone cae poietic ae Eee en racine Can anal testi eas rsd, dadas pelos que os recitavam. Todas of outros cultos existentes o SE fer i-cndabo do sampamene dein, 0 «ose Fain ern, Pot tommoe's crac avncs ese be itm at pale Pemanese durante 17 anos em ikirun, antes de voltar a se estabelecer em Okuki, em. 11893. Nio havin organizac3o militar na localidade. Os guerreiros da cidade organiz Meera gia eerie pein’ botaniorsh neloree ena Gia eae tce ibn antes sce oeuare cea mae Some as fexinel quanto ce din, aqua drat o eal XIX, ru Seciedade de Gran. ts Hons une sos eur esos ee Ippo rnin proccess es ierarquia da Antiga ‘Oyé, onde 0 privilégio hereditério, so que tudo indica, se fir soln’ B do 2OuBr Besceocosas nantes seen te Meck Gbtapetcne caipannns” eomethe segereension anes Spe ren epost 147 Cada Jinhagem era representada € presidida por seu badlé ou chefe da familia, escolhido por seus companheiros mais velhos, na base da senioridade e posicéo. Ele agia como um primus inter pares ¢ de acordo com eles, mas alcangava prestigio adicional pelo fato de Ser o chefe de um grande mimero de pessoas. Em alguns compoun- s(7) também detinha direitos sobre uma drea especial de terra cule fivavel e podia requerer que todos os membros de seu compound trabalhassem nela de vez em quando, Devido a seu prestigio o badlé podia, em geral, adguirir um titulo de chefia na cidade. & maioria Gos baalé também eram chefes, embora muitos chefes ndo fossem baale. ‘Os chefes compartilhavam 0 governo da cidade com 0 gba, ‘além da renda que derivava desse fato. Os chefes ocupavam trés fraus, cada um dos quais intermamente escalonado. Os mais impor: fantes eram os mais velhos chefes da cidade (iwarefa). Cabia aos eis mais proeminentes dentre eles a escolha do rei. Os titulos de maior graduagfo pertenciam a uma nica linhagem, de modo geral Cecolhida entre as linhagens mais antigas da cidade.(8) Abaixo des Ses chefes estavam os alddad, os chefes da cidade mais jovens. ‘Gram numerosos e atuavam como participantes do séquito dos chefes mais velhos, acompanhando-os a encontros no palicio, mas sem de Jes participar. A maior parte desses titulos podia ser conferida pelo ‘gba ds pessoas por ele indicadas pertencentes a qualquer com ‘pound. Vinham ent&o os chefes do paldcio, influentes pelo fato de fstarem préximos do gba e gozarem de sua especial confianca. ‘Quando necessério, os chefes representavam os interesses dos membros de suas linhagens nos conselhos, mas também formavarn por si s6 um importante grupo de interesses. Passavam boa parte do Tempo estabelecendo aliangas ¢ suscitando rivalidades mituas que, tem geral, nfo mereciam a atencdo dos membros da linhagem. Havia ‘uma Juta constante entre o gba (a coroa) e os chefes mais velhos, conhecidos coletivamente como awgn ii (“a cidade”). Havia {ambém constante rivalidade entre os préprios chefes em relacao & preeminéncia derivada do parentesco. O sistema era bem flexivel ¢ Pinbora se invocassem precedentes, todas as partes interessadas pro- furavam criar novos precedentes, Jevando adiante suas reivindi- cages com maior vigor do que no passado. Entre 1800 e 0 presente, & ardem de precedéncia dos trés chefes mais velhos ¢ importantes foi @ 0 “compound” é um conjunta de habiagées cas, qurtos) onde residem os ment: ‘Bros de Pina familia exten, as edades, podem ocvpar todo um quarstfo. © ter- vio ence communitias” no fax jstiga asus complexidade.(N.T.) {No cotanto, em pelo menos dias ocaiés,ogha conseguiv tar tule de uma Tinha~ fem que 0 "posta, dando-0. outa 148 i modificada pelo menos trés vezes, como resultado dessas lutas. Os titulos menos importantes também foram promovidos a um status maior e titulos que formalmente Se encontravam vacantes foram apropriados por uma tnica linhagem. Mais importante do que isso, porém, € 0 fato de que as pessoas podiam estabelecer para si mesmas um posto em completa despro- porcio com sua posicdo formal na hierarquia da chefia, Em Okuka, no século passado, ocorreu um exemplo com Elgmgna. Era ele © badle de uma pequena linhagem e detentor de um titulo de palécio sem importancia. Devido, porém, a sua asticia em arregimentar um ‘grande séquito, reunir grande riqueza e obter plantagdes, acabou tornando-se 0 mais famoso de todos os Grandes Homens de Okuki. No auge de seu poder rivalizou com o préprio gba.(9) Outro exem- plo foi o de Omiktinlé, jovem guerreiro sem titulo, que participou das guerras de Horin-Ibadan e que recebeu a alcunha de “Bal6gun”, a exemplo do general de Ibadan. Tornou-se ele tio importante por ter liderado os guerreiros da cidade que 0 titulo acabou sendo adota- do pela hierarquia formal ¢ hoje € 0 mais elevado dos quatro titulos que 0 compound detém correntemente. Mas se os homens podiam ampliar sua posicao na hierarquia da chefia, poderiam igualmente contorné-la de vez em quando ¢ se transformarem em Grandes Homens sem jamais receberem um tfulo, © reinado de Oyéékiinlé (1917-1923) foi abalado por uma profonga- da disputa entre 0 gba e uma facco de chefes. No entanto, no relato que fizeram-me dessa dissencao, os Iideres das duas facs6es eram Fawandé e Téyinbé. O primeiro néo tinha titulo de chefia eo se- gundo detinha apenas 0 titulo palaciano de Sdbal6j. O que os tor- ava grandes era sua reputagio como curandeiros perigosos, pois a disputa se travou em termos de incapacitar ou eliminar inimigos por meio de odgiin (medicamentos mégicos) ¢ gf (encantac&es). Eram diversas as maneiras através das quais os homens (¢ também as mulheres)(10) podiam tomar-se grandes. Diante de novas situages hist6ricas surgiam novas oportunidades. As mais importan- tes se apresentaram por ocasido das guerras do século XIX ¢ da ex- (©) Ae que se afirma, dara o festival el de Ol6k0, le semtou-s rm seu ppt to- to, odendo de eu stquio,¢ emarou 0 ha, 00 otro lai da propa do mercado ‘Quando os amborileros do gba oadmoessaram ("Eg rora hel calms, {igmond, nio € 0 gba”), seus pedpriestamboriliros responderam: “Ei mo rije 6 {goat (*A posto gue aguorapo 4 msi ques do gba). 5 (10) Hava algunas Grandes Mulberesm Okukb no seulo XIX «inicio do seulo XX. ‘Uma delay aproveltosse de sv errvel fepulsio de ficera pra apoderar-se ds terns de eultvoalfeaseempregou excravos pra as culuva. Uma 04a fi 3 pr- ‘era comercfante vender na cidade soo) imports 149 pansio do mercado agricola. Em determinado momento, porém, na ftajetoria que © conduzia ao poder, o individuvo tinha de obter 0 apoio de uma grande familia e de tum grupo mais amplo de seguido- wes e freqiientadores habituais, Embora nem sempre, isso costumava fer alcangado através da exibigio e distribuicdo da riqueza. Ate mesmo nos dias pré-coloniais 0 excedente era propositalmente pro- Guzido e vendido nos mercados locais ou situados a grande distan- ia, Comerciar em ampla escala era caracteristico daquela economia. Oficios como o de ferreiro, a tecclagem ¢ a cerdmica eram exercidos por especialistas que tinham amplo mercado a sua disposiglo, Antes be ser saqueada e novamente fundada no século XVIII, Okukd, fentio conhecida como Kogkin,ao que se dizia tinha 140 fereiros, Que obtinhem a limelha de ferro nas minas de Ejigbd © forneciam fewementas e armas a toda a regido situada entre Ilé e Qyg.A0 que parece, sempre houve campo para as pessoas empreendedoras se fomarem ricas. ‘Comenta-se que alguns dos Grandes Homens de Okukd, nos séculos XIX e XX, gozaram de vantagem inicial devido 2o offcio em Ge se especializaram. Elgmna, que cite, comegou a vida como en- {hhador. Outros tiveram oportunidades através de heranca, freqiien- temente do lado matero; outros gozavam de excepcional capacidade enquanta agricultores ¢ tinham a sorte de contar com muitos irmios nats jovens que trabathavam para cles e possibilitaram a expanséo de suas lavouras. Durante as guerras de Hprin-Tbadan, jovens que se sobressairam conseguiram enriquecer vendendo os escravos que €ap- turaram e desposando as escravas. Quando a estrada de ferro La- fgos-Kano chegon 2 Okukt em 1904, pessoas dotades de iniciativa, Gue perceberam rapidamente suas possibilidades, prosperaram io Siitivo e venda do inhame em escala comercial. Outras adquiriram Capital trabalhando, quando jovens, como assalariados, antes de re- tressarem a sua terrae se estabelecerem como agricultores. Uma vez Sssegurada a vantagem inicial, 0 padsio de prosperidade era, em g6- ral, semelhante. © dinheiro era empregado para contratar trabalho extra, sob a forma de fpf (homens cujo trabalho constitute o juro de um empréstimo assumido por um de seus parentes mais ve~ thos).(11) Bor volta de 1930, quando a agricultura comercial expan diu-se subitamente, como resultado da procura do cacau ¢ da noz de (11) De acordo com Oroge (Oroge 1971) 0 ins somente tomou-se font importante de twabalho depois que a exravidfo fo} abolida, no final do sfeuto XIX. No entanto os [Estomunhos oral indiam que of excravos no erm muito empregades em Okuki ‘ho steulo pasta: na retidade quase todos eram vendidos, A Iieratum oral mostra {ue o hve enquanto instiuigo certamente existiu desde as eras mais remots 180 cola, trabalhadores pagos também comegaram a ser contratados. O regime de inpfa e os trabalhadores foram usados para ampliar a Ia~ voura do Grande Homem ¢ até que a agricultura comercial realmente se expandisse nfo houve falta de terra. A mAo-de-obra era a Unica Timitago, no que dizia respeito a0 aumento das fazendas. A riqueza era empregada para expandir a familia através do casamento com mais mulheres e a gestacéo de mais filhos. Um homem bem-sucedido também podia esperar que seus parentes, tanto matrilineares quanto patrilineares, enviassem alguns de seus filhos para morar com ele, a fim de gozarem dos beneficios de uma casa grande e préspera. “‘Se- guidores” que nao residiam no compound também apareciam por Ié as visitas ali se hospedaram e algumas ficavam permanentemente, tomando-se "“gré debt” (“amigos-se-tornam-da-famflia"). Lagos de parentesco eram manipulados com a finalidade de fazer com que de- pendentes e freqlentadores habituais girassem em torno de um ho- mem rico. (© recrutamento de gente era importantissimo para o sucesso de um Grande Homem por dois motivos. Em primeiro lugar, essas pes- soas eram fatores que contavam na produgo da riqueza, como mio-de-obra na plantagSo do Grande Homem e, no caso das espo- sas, como produtoras de futura mdo-de-obra (os filhos que geravam). Em segundo lugar, numa estrutura social bastante flexivel, onde os individuos podiam criar uma posiso para si mesmos, gente que o ‘acompanhasse era indicio do nfvel de apoio e reconhecimento que um homem obtinha ¢ do quo importante ele era, Um homem sem “gente” nfo teria como disputar um titulo de chefia,(12) a0 passo gue um dos meios mais importantes gracas ao qual a aquisigao de tum titulo fortalecia o poder politico de um homem era o fato de isso trazer para sua companhia mais gente ou cuidar dela.(13) {Tay Res primaios anos deste seul um alo ene, penecete ot Ohad, vagou¢ {4 membor do compound pedir aur ancl repeltivel,Oplnl6, que o sn0- twine El vette gen acs aia rapor Senseo ge ‘lo comava com for em ninerosublent pr 0 spate scm es’ no tela ondigdesdeefentaros aque de clme gue ou desig Ssperaia. Aina fem tas tm ree feminine cl grata gu, at eto Tor pend de asta {fuer Ese rm er, prem, bende for fn omen vee smpemadeor gu Sem dso, nina uni fin “Ode gu 9d, 3 mo, peo {Sie wn we, cere tn hin mi) OAc Wo tents assum 0 ul come, mals tae, contegy cane no Wo gsdo 3 f funcio de Baalé. Noles 1) Seo uulo sompenhaao papel de Bale su deena sencontvaa frente dea nde conmade que he consi ei problems pots ale de outs, 8 Seemleysei cone yon go «mobo Seo lo nf ose ia Rts te Dade, ou der nna sain obtain suis ae espemvam shes 166 oba por seu intermédio. “ eens ao 151 ‘As evocagées dos mais antigos sugerem que muitfssimes ho” mens, senso todos, lutavar para se tornarem importantes, Fices 0 © Tmagem de insimeras pessoas firmando-se ¢ competindo Pars adguirit saa proprio cftculo de freqientadores. Alguns pouces Pavecch ter ssovise procminentes que deixaram os demais na sombra, mas QHaee See, mundo. paticipava do jogo. Sua competitividade transporte tras qualidades que se admiravam num Grande Hemem. Em seus ag (poesia aributiva),notarnes gue eles eram elogiados ni 6 por cha generosidade, magnificéncia, estilo ¢ esplendor pessoal, como sagen por sua dureza, inatingibilidade, intransigéncia poder, frequentemente concebidos em rermos da eapacidade de praticar ul- teages com impunidade. O Grande Homem era reais. ite al fuém que no se deixava atingir pelos ataques maliciones dos mais guém aM, ¢, a0 roesmo tempo, levave a melhor os ataques que Ges ‘echava contra eles. Era visto como um individvo isolado, aye CO petia com inimigos que se empenhavam noite ¢ 0 PAT $= desfaze- Pe dele, Nao se podia confiar em ninguém. Enquanto tallensi rer aan ue as relagées entre os humanos eram essencialmene aratocas, que todo infortnio e a morte eram causados pelos ANCES. aanse yoruba afirmam que os homens sfo inimigos uns dos OUTS que a maioria dos inforténios séo provocados pelas atividades ne- Seatee do ané, 0 “*mundo"” 0B, ais especifieamente, 2s BrUXas, feiti- tceiros e gente mé que recorre a seus servigos. se SeMmologia yoruba apresenta um retrato do Homem cor jndividuo isolado, abrindo seu caminho ajudado por so Ort ou srewtino, por ele escothido antes de vir para a terra) por onze Prrtiplfeidade de forces, algumas benignas, algumas hosts © muitas smaePalentes. Ele procura aplacé-las ¢aliar-e a cla, numa ‘enietv® alan seus rivais € inimigos na sociedade dos homens, tre % eres hostis incluem-se as entjn ov feitceiras € os Ajogu males Personificados, fais como a Morte, a Doenga, a Perla 0. Entre 08 Boderes benignos estio os ancestrais que voltam visitar seus d¢s- Poaeretee sob 0 disfarce de egiingin (mascarados), bem come % Origa. Acima deles paira Ol6domaré, o Deus Suprem®s de quem 0s Qrtnanos néo se acercam diretamente, © seus dois intermediérios, Bgl, 0 tapaceiro ambivalente e Qrénmilé, o devs 58 sabedoria, que Eye eePontade de Ol6dimaré aos humanos através Ja adivi- nhagao.(14) ‘Direrentemente dos tallensi, os yoruba tem, portanto,, Wont grande variedade de forgas esprituais com que Hider ‘0 panteio co- 18) Fa un exasto mls aml cr ole cosmalogia yoruta ver Abimbgl, 482 SES MMM Sipatmente dominio dos bebatne, ea eae ae nina cxoesinci = cee um vasto corpus de versos de adi meatus rbora consulta Itkconstantemente, pereuera wma visS0 mop de cenlog, Seminal ir girs cei os ct “om os quais envolvic is ai pine Saeco nee 3 rid, a0 geo te le, obo sees que vera sae ram eon) Ca ga tom sua propria dads 3 onze se apron as pein arts edo niloeamene 2 Estero seceaani Pare ssp eng fora combats coy ei smd i ho Fr ts eee ee en £0 aio eto or, sews mi tia as eNcep AS a sacs Yano oder (egiingtin bom), de roupa simples, que pertence a0 compound cor no emp scone de sepa dele a ee ee nd (egiingiin grande) © 08 eégun aldgbo (igi som pass mec tae nnn, Ee i jon yor to '0 compound como igor sncestas cs tame repent ie Sia ae Henc ao im coe men's BO se pcm rags fe ga pes = * faemitem a esaneia eopirual da Tote compe 1h os hone, eno en vita a Somiag, bem como abe hignidade ancesual, Existem igualmente indmeres egtingtin peqoe- nos que mantém uma associacao apenas residual com os ancestrais: os pak, levado por meninoe 7m cenos as de fesivals O codnein no so, pro aio de comune om ob a= dae Os martes poder sparooct peta on viveh cm sue On vo Sess po ter fecadonstoes e Seu descendent poe eee aaa eta eons nats aes Sa do, dentro de casa, e que constitui uma espécie de altar. Oferendas : rine pode sa fetes lle os moro podem ser iavooedoe pot a0 dei (15) Alguns poueos arg, m guns poucos did, muito especiais, que participaram da criago do mundo, 20 que se dina vera do ku ara 3 trae para seinem ct para rtornram, Orinmil, Obat18 Ese 183 meio da entoagio de seus orfki. Perguntas so feitas e respondidas Dor inerméo da nor de cola, numa, fora snple esd nhag&o.(16) © culto dos egringiin destina-se a todo mundo, mas existem sa- cerdotes especializados. O festival dos egiinguin é prolongado, espe- taculoso e dele participam todas as familias da cidade. No entanto os Orisa sio cultuados unicamente pelos préprios membros de seu culto © € aqui que os elementos de personalidade individual, escolha e re- ciprocidade entre o homem € o deus se tomam maos aparentes, 0 ue oferece um contraste marcante com a religiéo dos tallensi, Assim como 0 Grande Homem opera nos quadros do sistema de titulos politicos, orelacionamento do individuo com seu drigd se 44 numa organizagio de culto mais ampla, 7 1O,mals imporante evento public, para cada culo, €o festival ‘anual, do qual muitas pessoas, que no so membros, podem partic- par de modo peritérico,Taisfestivas sioordenados nom cicis anual ¢ cada festival segue 0 tltimo a intervalos fixados pela tradigao. Um fator de integrago a mais € que a autoridade definitiva, em relacdo a ceda culto, pertence ao pba. E ele quem ratifica a escolha da data de cada festival (?dajé). E representado por um membro de sua casa ou por seu proprio sacerdote de Ifé em cada sacrificio realizado durante © festival. Ao regressarem do altar, os figis sempre vao até o palécio dangar diante de gba e pedir sua bencéo. Alguns festivais apresentam temas politicos ¢ civicos tio im Portantes quanto 0 proprio culto a0 drjsd. O festival de Ol6ékd, 0 maior do ciclo, ¢ para o qual todos vém das lavouras, ocupando suas casas na cidade, € essencialmente real e civico. O drisa Ol6ékt cuidado durante o ano inteiro unicamente pelos Award Ol66k ¢ os membros de seu compound, alids muito pequeno. Ol66kD é, porém, © espirito guardiéo da cidade © todos participam de seu festival Nessa ocasido, € reencenada uma velha disputa pelo poder, através de uma luta corporal de mentira entre 0 gba ¢ os Award Ol6ékd, Boa parte do festival gira em torno da realeza e da exibicfo propi-

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