Você está na página 1de 141

UNIMES

VI
\
\\
J
Os JOGOS OLÍMPICOS
NA GRÉCIA ANTIGA
LAURET GODOY

SÃO PAULO NQ^VLEXANDRIA


UNIMES 1 9 9 6
© Copyright, 1996 - Lauret Godoy
Direitos reservados à
Editora Nova Alexandria Ltda
Rua Dionísio da Costa, 141
04117-110 - São Paulo - SP
Caixa Postal: 12.994
04010-970 - São Paulo - SP
Fone/Fax: (011) 575 3503/571 5637

Editor: Luiz Baggio Neto


Revisão: Araci do Reis Rodrigues
Capa e Projeto Gráfico: LBN/Antônio Kehl
Ilustrações: Getúlio Delphin
Editoração: GAPP design - Antônio Kehl

ISBN 85-86075-04-3
S U M A R I O

PREFACIO 9

APRESENTAÇÃO li

A GRÉCIA NA A N T I G Ü I D A D E 13

OS GREGOS E O ESPORTE 25

OS DEUSES E AS COMPETIÇÕES 41

OLÍMPIA: CIDADE DA PAZ 53

JOGOS OLÍMPICOS: GLÓRIA AO T R I U N F O 65

O FIM DOS JOGOS DA ANTIGÜIDADE 101

A REDESCOBERTA DOS JOGOS 117

OS JOGOS OLÍMPICOS MODERNOS 123


Ao verdadeiro autor — Deus — amigo fiel
e compreensivo, que nestes anos de trabalho ár-
duo guiou meus passos, governou minhas ações,
orientou minhas buscas, socorreu minhas neces-
sidades e honrou-me com Suas bênçãos.

Com amor e especial carinho a Luiz de Godcy,


meu pai e maior amigo, paradigma de honradez, dig-
nidade, amor à verdade, ao trabalho e meu grande mes-
tre na arte de viver. Com ele aprendi que "é mais im-
portante estar de pé no plano que encolhida no alto de
uma montanha".
À tia Jamile, abnegada e querida "segunda-
mãe".
A Dininha, dedicada e amada "mãe-segunda".
A irmã Luizete, "mana-véia" e minha runóloga
predileta, por seus cuidados.
A irmã Lucy, "mana-méia", por ter-me levado
às praças esportivas, onde aprendi os valores educaci-
onais do esporte.
Ao meu sobrinho Carlos Eduardo, "Caca". Ao
escolher-me por modelo, honrou-me com a preferência.
Ao Cyro dei New, que tornou possível a edição
deste livro.
A querida Rosinha Viegas. Por ter sido sempre
magnífica, acabou por tornar-se reitora.
PREFACIO

ivo o esporte de maneira contínua e buscando ocupar um lugar de destaque no


consistente há muitos anos. Como cenário internacional.
atleta, educador, dirigente esportivo A trajetória foi de lutas e sacrifícios.
e finalmente na qualidade de mem- Agora com alegria, já conseguimos aplaudir
bro do Comitê Olímpico Internacional. vários premiados olímpicos. Como é agra-
Não tive apenas parte da minha vida dável e emocionante a sensação de ver-se um
dedicada ao esporte. A atividade esportiva brasileiro subir ao pódio, ao som do Hino
foi minha vida. Sempre estive mais especifi- Nacional acompanhando o hasteamento da
camente ligado ao esporte olímpico. Sinto- nossa bandeira. Essa é a saudável alegria que
me integrado a toda essa completa engrena- o esporte deverá proporcionar e deveria ser
gem, que não só movimenta atletas de alto a única forma de confronto entre os homens.
nível competitivo em busca de prêmios. A Pierre de Coubertin, "Pai do Olim-
abrangência do Movimento Olímpico é pismo Moderno" em sua Ode ao Esporte, diz
maior do que imaginamos. Sai dos campos o seguinte: "Ó, Esporte... por ti a juventude
de treinamento e das praças de esportes, in- universal aprende a respeitar-se na origem
fluenciando também diversos setores da de uma grandiosa e pacífica emulação".
Ciência, da Cultura e da Tecnologia. Essa Foi nos Jogos da Antiga Grécia que o
complexidade o fortalece e engrandece. renovador inspirou-se para levar os jovens do
Ao longo dessa caminhada, vi em nos- mundo inteiro a defrontarem-se quadrienal-
so país o esporte dar os primeiros e vacilan- mente, sem preconceito de raça, cor, religião
tes passos para, com dificuldades, firmar-se, ou condição social. Toda a riqueza cultural e
mítica de um povo que serviu de modelo a um retorno no tempo, propiciando-lhe a
várias civilizações encontra-se na história dos oportunidade de entender o como e o por-
Jogos da Antigüidade. Lá estão as verdadeiras quê de fatos que marcam o Olimpismo Anti-
raízes do grande movimento da atualidade. go e Moderno.
Nossa literatura é escassa em relação Lauret conheceu o esporte como atleta,
ao tema. Por essa razão, Os Jogos Olímpicos professora e dirigente, acompanhando dele-
na Grécia Antiga virá, em boa hora, trazer- gações esportivas. As diferentes vivências aju-
nos informações sobre a realidade esportiva daram-na a percebê-lo sob variados prismas.
dos gregos. Tive o prazer de ceder os livros Isso torna mais rica sua exposição e fortalece
onde a professora Lauret Godoy fez as pri- o papel de educadora — traço marcante da
meiras pesquisas. Ela falou-me que preten- sua postura pessoal e profissional.
dia fazer uma "Cartilha Olímpica". Venceu Oportuno o lançamento de um traba-
um concurso literário promovido pelo Co- lho de inquestionável qualidade histórico-
mitê Olímpico Brasileiro e, em silêncio, pros- literária, justamente no ano em que os Jogos
seguiu suas buscas. Imaginei mesmo que a Olímpicos Modernos comemoram o cente-
cartilha "não tivesse vingado". Hoje, com nário de sua instituição. A coragem e o ta-
enorme alegria, preparo o texto de apresen- lento dessa pesquisadora merecem aplauso.
tação de um livro que foi elaborado com zelo, À Editora Nova Alexandria e à Universida-
paciência, persistência e disciplina, onde as de Metropolitana de Santos — UNIMES,
cenas da história do Olimpismo original tor- meus cumprimentos pela edição deste livro.
nam-se agradáveis e atraentes, descritas de Ao leitor desejo um ótimo entreteni-
forma séria, precisa, fluente e poética. Onde mento, pelos sábios caminhos dos Jogos
a ordem seqüencial dos fatos leva o leitor a Olímpicos Antigos.

Sylvio de Magalhães Padilha


Presidente de Honra do Comitê Olímpico Brasileiro
Membro do Comitê Olímpico Internacional
APRESENTAÇÃO

nfinitos caminhos transportam-nos à desse povo: os Jogos Olímpicos na Grécia


Grécia Antiga. Todos eles, interligados, Antiga são o tema deste livro. Ele pretende
entrelaçados, influenciando-se mutua- revelar o que ocorria ali onde a atividade fí-
mente, fortalecem uns aos outros e aca- sica intercalava-se com as letras para que fos-
bam por expandir-se em todas as direções. se encontrado o equilíbrio ideal entre corpo
Ao mergulharmos na civilização helê- e espírito. Onde o homem treinava suas po-
nica verificamos a extensão e a consistência tencialidades atléticas para vencer e agradar
da herança que ela nos legou: suas letras às divindades. Onde o anseio de perfeição
povoam nossa escrita; suas tragédias lotam marcou muitos povos civilizados.
nossos teatros; seus mitos enriquecem nossa O espírito grego permaneceu vivo
fantasia; seus símbolos filosóficos mostram através dos séculos. Chegou até nós forte e
os intrincados caminhos da mente humana; atual, provando que sua base corresponde a
sua sensibilidade ativa nosso lado emocio- uma verdade imutável. Essa evidência o en-
nal e não deixa a poesia morrer; seus jogos grandece, pois o falso rende-se diante do im-
estimulam os jovens e promovem competi- parcial carrasco denominado tempo. Ele, que
ções esportivas, buscando maior fraternida- tudo corrói, não conseguiu destruir a fron-
de entre os homens. dosa árvore de beleza e a sabedoria que os
E pertence justamente ao universo es- helenos plantaram. No outro lado do mun-
portivo uma das heranças mais fascinantes do e do outro lado do tempo...

a autora

r'H ,
A GRÉCIA NA ANTIGÜIDADE

^ ara nós, Grécia. Para os gregos, Hellas. feito por mar, pois os vales curtos dificultam
J De qualquer forma, a República Helê- a comunicação por terra. As paisagens são
nica de hoje, onde mar e montanha marcadas ora pela presença do mar, ora pe-
ü se encontram para criar um cenário las paredes montanhosas, as alvas areias e a
especial. vegetação.
Localizada na Europa meridional, entre As barreiras naturais restringiram uma
os mares Jônio, Egeu e Mediterrâneo, a Grécia fixação mais expressiva do homem no interior.
ocupa o sul da península dos Bálcãs. É um país Em contrapartida, os grandes mares foram fon-
de constituição peculiar, onde se distinguem te de alimento e caminho para a expansão.
três regiões nitidamente definidas. Aparte con- Próxima da África e da Ásia, a locali-
tinental, ligada ao continente europeu; a região zação privilegiada foi patrimônio da Grécia
peninsular, representada pelo Peloponeso, Antiga. As ilhas Egéias facilitaram o contato
une-se à Grécia continental pelo istmo de com outros povos, proporcionando perma-
Corinto; a região insular, composta do arqui- nente intercâmbio comercial e cultural. Os
pélago do mar Egeu. conhecimentos absorvidos, bem aproveita-
As características geográficas da Grécia dos, contribuíram para a construção de uma
tiveram papel determinante na evolução his- civilização de características inigualáveis.
tórica do país. As montanhas dividem o país Os mitos representam a história do so-
em pequenos distritos, e o maior contato é brenatural, retratam as crenças humanas e são
Zeus, lançador de raios, deus supremo do Olimpo

H
y :"3n« í-

tão antigos quanto o homem. A necessidade


de explicar a criação foi moto gerador de toda
mitologia, inclusive a grega. A criação do mun-
do precisava ser compreendida de alguma for-
ma. Céu, mares, dia, noite, sol, lua eram evi- Diz a tradição que por volta dei 250 a. C.
dências. Como teriam surgido? Das respostas havia na Ásia Menor uma cidade cha-
nasceriam os mitos. Transmitidos de geração
para geração, sofriam transformações, geran- madaTróia ou ílion. Um príncipe troiano,
do novas versões. Elas, porém, só confirma- Paris, esteve no Peloponeso e foi hós-
vam que, na Grécia, a criatividade sempre es- pede de Menelau, rei de Esparta. Lá
teve a serviço da razão, do concreto, do fato e conheceu e apaixonou-se por Helena,
da socialização do indivíduo. esposa do rei e tida como a mais bela
Segundo os antigos gregos, a partir da
origem do mundo a humanidade passou pe- de todas as mulheres. Na ausência do
las Idades do Ouro, da Prata, do Bronze e do anfitrião, Paris raptou Helena e a le-
Ferro. Na Idade do Ouro, graças à limpidez vou para Tróia.
da alma, os homens eram alegres e felizes.
Sempre jovens, possuíam coração bondoso, Pretendendo vingar-se, Menelau, aju-
sem envolver-se em crimes ou guerras. Por dado pelo irmão Agamenon, rei de
sua nobreza, o homem dessa época obteve o Micenas, formou uma expedição con-
privilégio de viver ao lado dos deuses. tra os troianos. Estes resistiram por dez
Na Idade da Prata, os homens perde-
anos. Aconselhados pela deusa Atena,
ram a juventude eterna, o doce viver e acre-
ditavam-se donos dos próprios destinos. os gregos construíram um cavalo de
Descuidaram da devoção aos deuses e per- madeira, oco, enorme, que permitia es-
deram sua companhia. conder muitos guerreiros. O "presen-
O deus dos deuses, Zeus, para destruir te" foi deixado junto às muralhas que
os homens, provocou o dilúvio universal.
Deucalião, filho de Prometeu e que reinava protegiam Tróia. Recolhido, os gregos
na região da Tessália, encerrou-se numa arca saíram do esconderijo à noite, saque-
com sua esposa Pirra, orientado pelo pai. ando e queimando a cidade.
A chuva durou nove dias e nove noites,
A batalha de Maraton

Paralelamente à expansão helênica, firma- espartanos não puderam enviar ajuda de ime-
va-se no Oriente o vasto Império Medo-Persa. diato, porque comemoravam festas religiosas.
Irradiou-se dos platôs do Irã e cobriu territóri- Platéia mandou um pequeno grupo de solda-
os da índia ao mar Mediterrâneo. Contando dos e Atenas formou uma tropa de dez mil
com fartos recursos humanos e materiais, os homens.
persas submeteram povos, chegaram à Eu- Milcíades propôs um ataque antes que os
ropa e dirigiram sua atenção para a Grécia. persas iniciassem a marcha rumo a Atenas.
Em 490 a.C. o exército de Dario, "o Gran- Aceita a sugestão, os soldados foram orien-
de Rei", atravessou o mar Egeu e chegou ao tados para que atravessassem correndo o tre-
território grego. Cem mil persas desembarca- cho de 1.500 metros de planície, atacando os
ram na planície de Maratona, a 40 quilôme- persas de surpresa. Estes, confiando na su-
tros de Atenas. A tropa ficou acampada na perioridade numérica, imaginaram tratar-se de
praia, aguardando o momento oportuno para um bando de loucos. Assim começou a bata-
invadira planície. lha de Maratona, que terminou com a vitória
O comando das ações gregas coube a dez dos helenos. Sagraram-se vencedores, com
generais superiores, denominados estrategos. poucas baixas: uma parte do exército foi do-
Reuniram-se para decidir as estratégias do minada, o restante recuou para o mar, em-
combate. Entre eles estava Milcíades, conhe- barcou nos navios e partiu apressadamente.
cedor da tática de guerra dos persas. Para transmitir a surpreendente notícia,
Os atenienses preparavam-se. Enviaram Milcíades mandou Fidípedes seguir para Ate-
a Esparta o mensageiro Fidípedes, excelente nas. Embora ferido, o mensageiro correu mais
corredor de longas distâncias, para pedir au- de 40 quilômetros e, com os pés sangrando,
xílio. Ele cumpriu quase 200 quilômetros de chegou ao estádio da cidade, onde o povo,
percurso de ida e volta, em dois dias. Os apreensivo, aguardava informações sobre a

'
alagando tudo. Com exceção de Pirra e
Deucalião, todos os seres morreram e, assim,
quando a chuva parou, desembarcaram no
Monte Parnaso.
Zeus permitiu que os sobreviventes fi-
batalha. Fidípedes só conseguiu gritar:
zessem um pedido: eles solicitaram compa-
"Alegrai-vos. Vencemos!", antes de morrer. nheiros. Zeus ordenou que cobrissem os ros-
A corrida de resistência disputada na atua- tos e lançassem pedras atrás de si. As pedras
lidade e chamada de maratona é um home- se transformaram em seres humanos, sendo
nagem a esse episódio da história grega. O as lançadas por Pirra transformadas em mu-
percurso, superior a 40 quilômetros, represen- lheres. O mundo foi repovoado com uma
ta a distância que Fidípedes cumpriu para le- nova raça e Zeus acalmou-se.
var aos atenienses a alvissareira notícia.
Esse mito conta que Deucalião e Pirra
tiveram quatro filhos, cujos descendentes
Segundo Heródoto, quando os dois mil sol-
deram origem aos povos helênicos. Por isso,
dados espartanos chegaram para lutar, tudo
eles se julgavam provenientes da própria
havia terminado. Conseguiram ver, apenas, Grécia e descendentes de Heleno, filho de
os corpos destroçados dos persas, espalha- Deucalião. Daí vem o nome Hélade, pelo
dos pela planície. qual também a Grécia é conhecida, e o de
Maratona foi uma das quatro batalhas em heleno, conferido aos seus habitantes.
que o destino do mundo antigo ficou decidido Para os historiadores, por outro lado,
pelo confronto direto entre europeus e asiáti- a civilização helênica teve início nas ilhas do
cos. Se os persas conseguissem vencer, toda
mar Egeu, em especial em Creta. A partir de
4000 a.C. essa ilha evoluiu até ser um estado
a Grécia seria escravizada. Consta que o ge-
organizado. Especializou-se em indústrias
neral Milcíades pleiteou uma honraria. Afinal,
extrativas e artesanais, atingindo elevado
a vitória fora conseguida graças ao seu plano nível sócio-econômico-cultural. Ao redor de
de ataque. Recebeu, então, a seguinte res- luxuosos palácios foram construídas cidades
posta: "Milcíades, quando houveres lutado so- que se tornaram ricas, graças também ao co-
zinho, aí sim, serás honrado sozinho". mércio de azeite de oliva, cereais e vinho.
Essa cultura, no meio do mar Mediter-
râneo, influenciou outros povos. Teve os
nomes de civilização cretense, egéia, mi- nente e em 1450 a.C. invadiu Creta, que vi-
noana ou minóica, estes dois últimos por via um período de franca decadência.
causa de Minos, nome de seus reis. A partir de 1200 a.C. problemas climá-
O apogeu cretense ocorreu no século ticos na Argólida provocaram perdas nas co-
XX a. C., quando começava, na história polí- lheitas. O mundo miceniano decaiu até de-
tica da Grécia, o chamado período pré- saparecer logo depois, em conseqüência tam-
homérico. Nessa época, grupos provenien- bém de invasões de novos conquistadores.
tes do norte, em ondas sucessivas, chegaram No século XII a.C. chegou à Península
à Europa meridional e penetrando pelos Balcânica um povo indo-europeu, os dórios,
Bálcãs, conquistaram a Grécia. que avançaram sobre regiões habitadas. No
Os primeiros seminômades que chega- rumo sul atacaram a Grécia. Os acontecimen-
ram ao território grego delimitaram seus tos violentos que se seguiram deram origem a
pastos e instalaram-se. Tornaram-se, a par- histórias transmitidas oralmente. Cantores po-
tir de então, sedentários. Quatro tribos prin- pulares, os aedos, recitavam narrativas poéti-
cipais penetraram no território: aqueus, cas em festas, acompanhados de citara. Entre
eólios, jônios e dórios. Os primeiros a che- rimas e melodias, divindades, heróis e simples
gar foram os aqueus, a mais antiga família mortais atravessaram os séculos para mostrar
étnica grega. Em seguida vieram eólios e os caminhos percorridos pelos helênicos até
jônios. Ocuparam diferentes regiões, mistu- chegarem ao ponto máximo de sua civilização.
raram-se com os primitivos habitantes. Homero foi o primeiro nome da poe-
Enquanto Creta evoluía no mar, desen- sia grega. Através da Ilíaáa e da Odisséia des-
volvia-se no Peloponeso outra brilhante civili- creveu a vida dos gregos durante as inva-
zação. Na região montanhosa da Argólida, em sões dóricas, as aventuras da guerra de Tróia
pequenos reinos, vivia um povo comercian- e, após as lutas, os incidentes que marcaram
te e guerreiro com características econômi- a volta dos heróis helênicos para casa.
cas e sociais semelhantes às dos cretenses. Diante desse expressivo referencial e
Eles dominaram a Grécia continental entre por ter vivido, provavelmente, no século IX
1600 e 1200 a.C., sendo chamados de mice- a.C., o espaço da história grega compreen-
nianos ou micênicos, por ser Micenas a maior dido entre 1200 e 800 a.C. recebeu o nome
de suas cidades. de Período Homérico.
A Micenas antiga foi capital da Argó- Com a fixação das tribos invasoras na
lida. Progredindo, esse povo saiu do conti- terra conquistada e o posterior crescimento

18
populacional, aumentou a necessidade de recebê-las por herança. Deviam obediência
defesa. Como ocorria nas cidades mais anti- aos pais quando solteiras e aos maridos após
gas, além da muralha protetora, na parte o casamento. Dedicavam-se aos filhos, ao lar
mais alta era construída uma fortaleza que e à arte de tecer.
recebia o nome de acrópole: em grego Os escravos podiam ser prisioneiros de
acropolis significa cidade alta. Servia de re- guerra ou comprados. Eram muito pobres,
fúgio no perigo e atendia também a uma ra- não possuíam direitos legais e prestavam
zão religiosa: para os primitivos, os lugares serviços como trabalhadores ou servos.
altos tinham caráter sagrado. Metecos eram aqueles que nasciam fora da
Ao redor da acrópole crescia um cidade-estado. Estrangeiros e livres, muitos
grupamento denominado poleis ou polis. Ex- deles chegaram a possuir grande fortuna.
pressão comumente traduzida por cidade, Os helenos possuíam grande varie-
representava a sede do governo. O sentido dade de dialetos, mas tinham em comum as
que os helenos davam ao termo cidade era tradições e o idioma indo-europeu. Isso man-
bem diferente do atual. As poleis autônomas tinha as diversas tribos unidas. A união ocor-
e soberanas eram como cidades-estado ou ria, em especial, diante de perigo iminente,
estados-comunidade, que se desenvolviam provocado por inimigo comum.
como unidades comunitárias independen- A ciência histórica conta que, entre 800
tes. Possuíam características próprias de eco- e 500 a.C. os gregos viveram o período ar-
nomia, administração, força militar e culto caico, quando foi adotado novo sistema de
religioso. escrita. A partir de 750 a.C. uma série de fa-
Os habitantes das poleis eram dividi- tores levou o povo helênico a procurar no-
dos em duas categorias: cidadãos e não-ci- vas terras.
dadãos. Estes eram representados pelas mu- Pelo Egeu chegaram à Ásia Menor, atu-
lheres, escravos e metecos. Os cidadãos al Turquia. Atingiram o litoral ocidental, ocu-
integravam a classe social mais privilegiada pando regiões à margem do Mediterrâneo e
da Grécia Antiga. Falavam nos tribunais, do Egeu. Em outra direção, pelo mar Jônio
eram donos de terras, serviam o exército e foram para o sul da Itália, dominando cida-
somente eles podiam integrar o governo das des e fundando a Magna Grécia. Nos núcle-
respectivas poleis. os fundados fora do território grego eram
As mulheres gregas não podiam par- mantidos o idioma, as idéias, os costumes,
ticipar do governo, possuir propriedades ou as tradições míticas e religiosas da terra-mãe.

19
Partenon, templo erigido cm homenagem a Ateiui, na acrópolc tlc Atenas


Assim, durante o século VII a.C., uma daram a capital Atenas, edificaram as pri-
civilização helênica, já com características mitivas construções sobre o rochedo da
próprias, vigorosas e bem delineadas flores- acrópole e, ao redor da fortaleza, espalha-
cia na Grécia, Ásia Menor e sul da Itália. ram-se as casas. Com a situação privilegia-
O século VI a.C. fez surgir um novo da, a cidade recebia pelo mar influências cul-
mundo grego. Cidades antigas de grande po- turais, inclusive cretenses.
der cederam lugar àquelas fundadas pelos Outros grupos ocuparam a Ática, mas
conquistadores. Em apenas alguns séculos, os habitantes sempre se consideraram des-
foram realizados progressos inimagináveis, cendentes dos jônios. A ocupação de terras
em todos os setores de atividade helênica. foi lenta, gradual e pacífica. Os elementos
culturais jônios se agregaram aos primitivos
da região.
Atenas e Esparta De início Atenas foi monarquia. Mais
tarde transformou-se em democracia. Legis-
ladores e estadistas como Sólon, Psístrato e
Os séculos V e IV a.C. representaram Clístenes, além das guerras da primeira me-
o período propriamente clássico da história tade do século V a.C., a ajudaram a dominar
grega. Marcado por difíceis guerras e mais o mundo helênico.
breve que os anteriores, ele foi, porém, o de Destruída pelos persas em 480 a.C.,
maior brilho e aquele que mais luz projetou Atenas foi reedificada sob o estímulo do ora-
sobre o mundo ocidental. dor e general Péricles, um grande estadista.
Entre as guerras contra os persas (490 - Diziam que "a persuasão morava em seus
449 a.C.) e a guerra do Peloponeso (431 - 404 lábios". Durante trinta anos protegeu as ar-
a.C.), houve uma fase de paz que muito repre- tes e as letras e construiu grandes e impor-
sentou para a civilização helênica. Algumas tantes monumentos em Atenas. O século^
cidades se destacaram, mas as principais fo- mais brilhante da história grega, o V a.C.,
ram Atenas e Esparta, as mais poderosas da recebeu o nome de "século de Péricles".
Grécia. A influência jônica e dórica não se res- Nessa fase áurea a história de Atenas
tringiu ao período clássico, fazendo-se sentir, mistura-se à da própria Grécia. Por seus fi-
desde antes, em vários aspectos. lósofos, poetas, historiadores, pintores, es-
Os jônios fixaram-se na península da cultores, arquitetos, Atenas, a "senhora dos
Ática, que se projeta sobre o mar Egeu. Fun- mares gregos", representou o maior pólo da
cultura helênica e chegou a ser tida como "o de instituí-las e de receber dos cidadãos o
centro do mundo". juramento de que seriam respeitadas mes-
Os dórios fizeram de Esparta sua ci- mo em sua ausência, ele saiu da cidade e
dade principal. Era capital de uma região nunca mais voltou.
chamada Lacônia ou Lacedemônia, no sul do Ordem, disciplina e autoridade eram
Peloponeso, na Grécia peninsular. Ficava muito valorizadas pelos espartanos. Des-
num vale fértil, às margens do rio Eurotas. prezavam os estrangeiros e mantinham a
De um lado era defendida por uma cadeia todo custo a rigidez de sua hierarquia po-
de montanhas. Do outro, havia um desfila- lítico-social.
deiro, fortificação natural que ajudava a ci- Os espartanos, espaciartas ou "iguais"
dade a isolar-se. representavam a camada dominante. Até os
Nos primeiros tempos, a Lacônia foi sete anos de idade eram educados pela fa-
ocupada por aqueus e jônios. Entre os sécu- mília. Depois, deixavam o lar, entregues ao
los XI e X a.C. ocorreu a invasão dórica e os estado. Passavam a formar batalhões infantis,
antigos habitantes foram dominados ou ex- submetidos a intensa atividade física. Adoles-
pulsos. A seguir, os dórios conquistaram ter- centes, dormiam sobre palha, faziam fortes
ritórios vizinhos. exercícios e comiam pouco. Ficavam aquarte-
O fator geográfico e o aumento popu- lados até os trinta anos, quando podiam ca-
lacional ajudaram a definir a agressividade sar-se. Até os sessenta anos faziam a primei-
espartana. Os moradores recebiam educação ra refeição do dia na caserna, integrando um
com acentuada tendência guerreira, pois a for- grupo que devia manter-se unido para o caso
mação de um soldado era prioritária. Recém- de guerra. Eram excelentes guerreiros e vi-
nascidos fracos ou doentes não sobreviviam. viam prontos para a luta. As mulheres se
O bem coletivo estava acima do individual, da dedicavam às atividades físicas e também
espiritualidade e do materialismo. tinham rígido treinamento.
O estado espartano era dirigido por Esse povo era treinado para falar o
dois reis. Essa diarquia obedecia a uma cons- mínimo possível, o que deu origem à expres-
tituição rígida e aristocrática, elaborada por são "lacônico" para definir o indivíduo de
um legislador chamado Licurgo. Uma lenda poucas palavras. A arquitetura dórica tam-
contava que ele consultara o oráculo de bém se caracterizava pela austeridade.
Delfos e o deus Apoio indicou as reformas Uma reconstituição detalhada da his-
que deveriam ser feitas em Esparta. Depois tória espartana sempre foi dificultada pelo
fato de eles sonegarem informações delibe- Esparta. Os atenienses renderam-se em 404
radamente e não terem deixado nada escri- a.C., subjugados pela fome. Em 371 a.C.
to sobre suas tradições. Esparta foi derrotada por Tebas.
A partir de 431 a.C. atenienses e O que sobrou a respeito da história de
espartanos enfrentaram-se na guerra do atenienses e espartanos foi avaliado, estuda-
Peloponeso, que se estendeu por vinte e sete do e divulgado. Por terem dado força, vida
anos, com um período intermediário de tré- e colorido ao mundo helênico, os romanos
gua. A primeira parte da guerra foi vencida costumavam dizer que "Atenas e Esparta fo-
por Atenas. Na segunda, a vitória coube a ram os dois grandes olhos da Grécia".

23
,
OS G R E G O S E O E S P O R T E

família se encarregava da educação ainda, atividades físicas como dançar, mon-


\ da criança até os sete anos de idade. tar a cavalo e jogos. A partir dos doze anos
,-,- -A Exceto em Esparta, depois disso ela dimensionava-se a atenção e o cuidado com
,/^ ii ingressava numa escola ou era entre- o corpo. Aos dezesseis, o estado intervinha
gue aos cuidados de um pedagogo. Este pro- no programa educacional e o jovem iniciava
movia uma educação ética, orientando a importante estágio de sua formação físico-
criança sobre a postura a adotar diante do intelectual.
mundo. O ensino era feito através de dança A partir de cerca de vinte e cinco anos o
e canto. Em grego arcaico cantar tinha o mes- indivíduo podia habilitar-se ao mais elevado
mo significado de falar. grau de formação integral. Somente podia fazê-
A música tinha função pedagógica por- lo quem demonstrasse coragem, após um lon-
que os gregos entendiam que ela expressava go período de recolhimento. Os aprendizes
com eficácia o entusiasmo e os sentimentos eram submetidos a profunda meditação, para
do ser humano. Consideravam a escrita pro- aprenderem a ouvir a voz interior. Era a forma
duto da razão pura e por isso não atendia às de processar-se a iniciação.
complexas necessidades infantis. Atingir o chamado "estado de excelên-
O ensino se dava por meio de sons e cia" era o ideal da educação helênica. A fór-
gestos. O lema era: "Aprenda e pratique. De- mula mágica era o constante aprimorar das
pois você saberá o porquê". Ensinavam-se, virtudes: somente o aperfeiçoamento pessoal

25
podia fazer o indivíduo manter-se no pata- gos e brincadeiras, da dança e do canto, eram
mar mais elevado da condição humana. exploradas todas suas potencialidades.
Esse "estado de excelência" era atingi- Há descrições de um torneio fúnebre-
do por uma minoria. Pessoas que graças aos desportivo realizado na Grécia por volta do
próprios méritos conseguiam manter-se num século X a.C. Mais tarde, há registros de mi-
nível onde os mais fortes sentimentos eram lhares de peregrinos deslocando-se de várias
o amor e o respeito pelo próximo. Uma posi- regiões para ver os sacrifícios habituais em
ção privilegiada onde o treino permanente honra a deuses e heróis. Nessas reuniões ha-
dirigia-se à transparência moral e à limpidez via disputas e combates entre representan-
de caráter. Onde o trabalho e o talento dos tes de várias cidades. Os eventos espalharam-
sábios eram reconhecidos e valorizados. Por se por todo o território helênico e por volta
esse caminho o homem aproximava-se dos do século VIII a.C. os jogos públicos eram já
deuses, transformando-se em herói e atingin- periódicos, com caráter religioso, data fixa e
do a imortalidade. local determinado.
O sistema educacional grego privile- Naquele mesmo século os mitos gre-
giava as atividades esportivas. O vigor físi- gos seriam conhecidos em todo o país, atra-
co era incentivado. O homem precisava ter vés da poesia e da música. Os jogos esporti-
força e saúde para defender sua cidade em vos, reunindo grande número de pessoas,
guerras e estádios. Afinal, também nos jogos tornaram-se extraordinário veículo de divul-
públicos as poleis se defrontavam buscando gação cultural.
superar umas às outras. De início os mitos eram transmitidos
Nas guerras, a participação era prece- de pessoa para pessoa, de modo disperso,
dida de tristeza, inquietação e medo. Mas o através da tradição oral. Ao serem discipli-
confronto nos estádios gerava disciplina, nados pelo poeta Hesíodo e fixados pela es-
método, respeito e alegre expectativa. As crita, passaram a ser lidos e interpretados
competições esportivas, talvez por isso, eram com mais detalhes. O racional pôde buscar o
muito prestigiadas entre os helenos, e existi- estudo, a análise, a lógica, a temporalidade,
ram desde tempos remotos. o peso e a medida. Os mitos foram avaliados
A educação iniciada na infância pas- sob diferentes prismas.
sava a ser abordada de outra forma. Hoje, A mitologia grega mostra que, do mun-
pode-se afirmar que as crianças gregas rece- do criado ao mundo habitado, um longo ca-
biam uma formação global. Por meio de jo- minho foi percorrido por deuses e homens.

26
E entre os dois que estão posicionados os Em toda a Grécia havia amplos teatros
heróis. ao ar livre com excelente acústica. Tinham
Surgiram também divindades alegóri- forma de ferradura para favorecer a visão do
cas para personificar os conceitos de vícios e palco. Canções e músicas dramatizadas em
virtudes, pois o principal papel da mitolo- festivais religiosos deram origem à arte tea-
gia era educar na arte de viver, por meio de tral, que não tinha apenas a função de entre-
histórias recheadas de heróicas e divinas ter as pessoas. O teatro grego era educativo,
manifestações. O mito grego é exemplar, é cultural, aristocrático e objetivava promover
paradigmático. Além de narrar fatos divinos a elevação moral e espiritual do indivíduo.
e justificar o concreto, mostra a postura que A inspiração e a criatividade presentes na
o homem deve adotar na vida para tornar-se arte grega transmitiram aos estudiosos infor-
perfeito. mações precisas sobre a civilização helênica.
Os personagens do mito viviam suas A cultura atlética era promovida por-
aventuras num cenário onde bem e mal, jus- que ali o esporte sempre esteve ligado à evo-
tiça e injustiça, alegria e tristeza, vitória e der- lução do próprio homem. As concepções ar-
rota intercalavam-se para punir ou premiar, tísticas manifestadas através da pintura dos
provocar dor ou prazer. O homem precisava ceramistas, das esculturas, das poesias e das
dar valor à elevação moral e espiritual. Por obras literárias imortalizariam o êxito do es-
isso, o que realmente se destacava no mito porte e trouxeram até nossos dias o entusias-
era a grande lição final, o sentido sério a ser mo que, na época, ele gerou.
compreendido. Os gregos, além de se considerarem
Nenhum detalhe do mito provoca es- autóctones, afirmavam terem sido os inven-
panto ou é considerado chocante. Ele é na- tores das artes e justificavam-se com a lenda
tural como a vida. Evidente como a supe- sobre Dédalo. Ateniense, filho de família
rioridade de deuses sobre homens. E encerra real, era ferreiro, escultor, arquiteto e artista
um conceito irrefutável como a ação do tem- de grande potencial criativo. Inventou ins-
po. Por não possuir passado, presente, nem trumentos que facilitaram o trabalho. A ele se
futuro, o mito será sempre forte e atual. atribui a criação do machado, da machadinha,
Os mitos chegavam aos helenos por di- da pua e de bancos dobráveis. Ácale, seu so-
ferentes caminhos, transmitidos pela pintu- brinho e auxiliar, certa vez abriu a boca de uma
ra dos ceramistas, pela poesia, pelo teatro, serpente morta e viu os dentes agudos e
pela literatura e pela música. enfileirados do réptil. Na oficina, reproduziu

27
o maxilar do animal num pedaço de ferro. Muitas dessas ilustrações complemen-
Estava criada a serra. Ácale inventou, ain- taram narrativas de antigos escritores, per-
da, o compasso, o torno de oleiro, o mastro mitindo conclusões mais acertadas sobre a
e a vela. vida atlética dos helenos. Na maior parte, as
A criatividade crescente do sobrinho peças de cerâmica eram vasos para guardar
atingiu a vaidade de Dédalo com tanta força vinho e azeite.
que ele sentiu enfraquecer sua energia cria- Houve pintores famosos, mas a arquite-
dora. Certo dia convidou o aprendiz a visi- tura e a escultura foram as mais expressivas
tar um templo da acrópole e atirou-o do alto
das muralhas.
Condenado ao exílio, refugiou-se em
Creta, onde o rei Minos o recebeu com hon-
ras e encomendou-lhe grandes obras. Uma
delas era o labirinto, construção composta de
salas e um conjunto de corredores e cami-
nhos sinuosos, sem saída, entrecruzados. Ali
viveria o Minotauro, monstro com corpo de
homem e cabeça de touro, que se alimenta-
va de carne humana.

As Artes Plásticas

Pintura e demais artes eram transmiti-


das de forma hereditária. A decoração de
peças de cerâmica permitiu que a pintura
grega encontrasse sua expressão maior. En-
tre motivos religiosos, heróicos, míticos, his-
tóricos e cotidianos, as atividades esportivas
ocupavam papel destacado. Vaso representando corredores de Dromo

28
i >'j,ôl!i.vr , i .,11 f ->r í »á '^

manifestações da arte grega. A maior parte das mais perfeitos traços. Os vencedores dos jo-
casas era de edificações simples, mas os locais gos públicos também eram imortalizados
de adoração religiosa eram majestosos. Por através de estátuas e, com isso, o corpo hu-
isso, os templos representaram a verdadeira mano passou a ser reproduzido de maneira
amostragem da arquitetura grega. bela e próxima da perfeição.
Em Atenas, no século VI a.C., começa- À escultura grega atingiu sua plena
ram a ser construídos templos de pedras e os maturidade nos séculos VI e V a.C., época
suportes de madeira foram substituídos por em que os Jogos Olímpicos estavam no apo-
colunas. O detalhe passou a ser adotado pelas geu. O mais famoso escultor desse período
demais poleis gregas e assim a arquitetura flo- foi Fídias, que começou com a pintura. Tro-
resceu. Três estilos se distinguiram, tendo como cou os pincéis pelo cinzel e mudou a
referencial forma, dimensão e ornamentos das estatuária grega. Formou a chamada Escola
colunas: o estilo jônico era leve e elegante; o de Fídias, aglutinando outros artistas.
dórico apresentava solidez e sobriedade; de- Estátuas feitas em ouro e marfim fize-
pois do século IV a.C. surgiu o estilo coríntio, ram a fama de Fídias. Esculpiu divindades e
mais elaborado que os anteriores. acompanhou a decoração dos mais impor-
Os templos gregos tinham grande be- tantes templos gregos. Destacaram-se as es-
leza arquitetônica e eram santuários onde os tátuas de Palas Atena, no Partenon de Ate-
deuses poderiam viver ocasional ou tempo- nas, e a de Zeus Olímpico, no templo de
rariamente. Os dois mais importantes eram Olímpia. Seu trabalho foi muito valorizado
o Partenon de Atenas e o templo de Zeus em sob Péricles. Por oito anos trabalhou na
Olímpia. estátua de Zeus Olímpico. Morreu em 431
A escultura foi a mais festejada das ar- a.C., no ano em que começou a guerra do
tes gregas e ficou conhecida em virtude da Peloponeso e abriu-se o declínio da civiliza-
grande quantidade de cópias que se espalha- ção grega.
ram pelo mundo. Iniciou-se com trabalhos Míron foi outro importante escultor,
em madeira e passou por uma evolução que nascido na Ática. Especializou-se no traba-
a levou a um alto grau de perfeição. lho com bronze, esculpindo vencedores de
As atividades físicas deram grande jogos esportivos. Foi ele autor do famoso
impulso à escultura, pois como os deuses Discóbolo, peça onde um atleta anatomi-
eram representados segundo o modelo hu- camente perfeito se prepara para arremesar
mano, os escultores copiavam dos atletas os um disco.

29
era o mármore. Sua obra mais famosa repre-
sentava a deusa do amor, Afrodite, entran-
do no banho, talvez a primeira estátua de
uma mulher nua, sozinha.
Peônio, de Mendea, ficou famoso por
sua obra A vitória, esculpida provavelmente
na primeira metade do século V a.C. Os
espartanos foram vencidos numa batalha da
guerra do Peloponeso e ele foi contratado
para fazer a estátua como parte da multa
paga pelos vencidos.
O último dos grandes nomes da escul-
tura grega, Lisipo, iniciou uma nova escola,
dando às figuras proporções mais esbeltas,
personalizando as estátuas. Esculpiu o busto
de vários homens célebres e era o predileto de
Alexandre Magno, que permitia somente a
Lisipo esculpir-lhe o rosto. Gares de Mitilena,
discípulo de Lisipo, esculpiu o Colosso de
Rodes, monumento tido como uma das sete
maravilhas do mundo antigo.
Na Grécia Antiga, as esculturas não
estavam relacionadas apenas a uma condi-
ção externa. Tratava-se de um conceito mais
profundo e bem mais complexo, porque re-
Discóbolo fletia o conteúdo interior dos homens. En-
quanto os artistas buscavam aprimorar sua
Praxíteles, que surgiu após Fídias, de- arte, promovendo a fixação da beleza, a es-
senvolveu um tipo calmo e elegante de es- cultura grega floresceu. Começou a decair
cultura, com linhas descontraídas, postu- quando os interesses artísticos deixaram de
ras leves, articulações perfeitas e muscu- obedecer a essa característica.
latura distendida. Seu material predileto

.
Letras estabelecendo a genealogia e a hierarquia
divinas.
As disputas entre deuses pela conquista
A literatura, por sua vez, apresentou do mundo, ou o confronto entre divindades e
um desenvolvimento espontâneo e original, heróis, podem ser considerados torneios espor-
permitindo que a história grega fosse traça- tivos. Afinal, nessas contendas havia de-
da com expressivo grau de exatidão. Vários monstração permanente de força, astúcia,
autores fazem alusão à educação física. sabedoria e poder.
Homero, o primeiro poeta épico e o Outro grande poeta foi Píndaro. Mem-
mais célebre dos aedos, teria vivido no sécu- bro de nobre família de origem dórica, rece-
lo IX a.C. A ele atribui-se a autoria da Ilíada e beu apurada educação, dedicando-se desde
da Odisséia. A primeira obra descreve a fase cedo à música e à poesia. Em sua obra havia
final da guerra entre gregos e troianos. A muitos epinícios, ou cantos triunfais, dedi-
Odisséia narra as aventuras de Odisseu, ou cados aos vencedores dos diversos jogos
Ulisses, herói grego que lutara contra os públicos. Em Tebas, sua terra natal, foi
troianos. Graças a essas duas coleções de poe- erigida uma estátua que o reproduzia em-
mas puderam ser conhecidos vários séculos punhando uma lira e coroado com um
da história grega. Episódios que os dois tex- diadema de louros. Quando os macedônios
tos revelam foram mais tarde confirmados atacaram Tebas, por ordem de Alexandre
pela arqueologia. Magno, a casa de Píndaro foi poupada.
Por ter relatado o que muitos conside- Poeta lírico como Píndaro foi Baqui-
ram a mais antiga disputa esportiva da his- lides, que parece ter vivido no Peloponeso.
tória, Homero é tido como o "primeiro cro- Escreveu cantos para procissões, epigramas,
nista esportivo do mundo". Trata-se da cantigas para dançar, hinos, peãs, canções de
descrição de uma corrida de carros durante amor, ditirambos e odes triunfais. Uma obra
os Jogos Fúnebres. quase desconhecida até que no fim do sécu-
Hesíodo, poeta grego que viveu, pro- lo XIX foi encontrado um papiro contendo
vavelmente, no século VIII a.C., dedicava composições de sua autoria. Dentre elas ha-
profunda devoção às musas, que o teriam ilu- via quatorze canções de vitória relacionadas
minado na produção de sua obra poética. No a feitos gloriosos de campeões olímpicos.
trabalho Teogonia, com base nos mitos já exis- Heródoto, que viveu no século V a.C.,
tentes, ele narrou o surgimento dos deuses, foi chamado de "Pai da História". Viajou
'j fe V f ritórrs. ju r, . (W . ~|i. U , « ' ,o,",'

para fora do mundo helênico, buscando in- Outro narrador que também forneceu
formações para compor seus trabalhos de inestimáveis subsídios sobre a vida esportiva
historiador. Relatou as disputas do mundo grega foi Filostrato. Não se limitava a disser-
grego com os bárbaros. Foi muito aplaudido tar, efetuando análises de situações, avaliando
nos Jogos Olímpicos, em especial em suas os diversos aspectos e apresentando conclu-
brilhantes narrativas sobre as vitórias dos sões oportunas. Acreditava que o treinamento
gregos contra os persas. seria mais eficaz se fosse concedida certa mar-
Eurípides era o mais jovem dos gran- gem de independência à atuação do treinador
des poetas trágicos e também viveu no sécu- do atleta. Sua obra Gimnastica é rica em infor-
lo V a.C. Estudou filosofia, pintura, ciências mações sobre locais de treinamento, métodos,
e, desde cedo, dedicou-se à poesia e ao tea- competições, data e horário da realização dos
tro. Deixou considerável obra literária, onde eventos, nomes dos campeões. Sobre a sede
efetuou análises psicológicas das paixões permanente dos Jogos Olímpicos, assim se ex-
amorosas, mergulhando nos conflitos da pressou: "É um lugar da Arcádia, o mais fa-
alma humana. Enriqueceu o teatro e a litera- moso de lá e a grande alegria de Zeus. Nós o
tura com sua originalidade e consta que foi chamamos Olímpia".
atleta. Mesmo que as discussões a respeito do
Luciano, nascido em Samosate, viveu belo, do bom e do justo não atingissem o fim
no século II de nossa era. Escreveu diálogos almejado e provocassem disputas entre críti-
e romances satíricos. Seus escritos oferecem cas e aplausos, os pensadores gregos enrique-
informações substanciais a respeito do pre- ceram o mundo das idéias. Uns de maneira
paro dos atletas e da prática esportiva na mais incisiva do que outros, mas de qualquer
Antigüidade. forma sempre brilhantes. Sua filosofia marcou
Também do segundo século de nossa era a história do pensamento humano.
foi Pausânias, geógrafo e historiador. Escreveu De início, vale citar Sócrates, um dos
Pariegesis, descrição geográfica de grande va- mais influentes e provavelmente o filósofo que
lor para o estudo da topografia, da mitologia e mais controvérsias gerou na Grécia Antiga.
da arqueologia da Grécia Antiga. Foi ele o au- Seus ensinamentos eram transmitidos oral-
tor que mais se dedicou a detalhar as ativida- mente entre discípulos, amigos, admiradores,
des esportivas. Abordou, inclusive, importan- políticos e mesmo simples observadores.
tes aspectos da organização administrativa dos Muitas vezes os debates provocavam reações
diversos jogos públicos. exaltadas e imprevisíveis.
novas divindades e não reconhecer os deu-
ses que o estado reconhece". Julgado e con-
siderado culpado, foi condenado a beber
cicuta. Corajosamente, ele ingeriu o veneno.
Platão, membro de família aristocrática,
nasceu na ilha de Egina, perto de Atenas, em
plena guerra do Peloponeso. Ainda jovem ele
começou a estudar todas as artes do seu tem-
po, em especial música e matemática. Seu ver-
dadeiro nome era Arístocles, e Platão, que vem
de platys, significando largo, foi apelido que
ganhou por causa dos ombros desenvolvidos.
Foi o mais célebre discípulo de Sócrates e
divulgador de suas idéias.
A filosofia de Platão ficou conhecida gra-
ças aos Diálogos que publicou. Como um dos
precursores da teoria da pluralidade de vidas
e imortalidade da alma, Platão defendia a im-
portância do equilíbrio entre corpo e espírito,
aconselhando: "Ginástica e música, uma inter-
calada com a outra". Foi o pensador que mais
Sócrates
se dedicou a debater o amor, sentimento que
Ele nada escreveu sobre suas teorias, representou um dos pontos fundamentais de
mas defendia a simplicidade. Dizia que, na sua doutrina filosófica. Platão foi lutador, ten-
música, ela torna a alma sábia e, na ginás- do participado dos Jogos Istmicos e Olímpi-
tica, proporciona saúde ao corpo. Para cos, onde obteve vitórias que o tornaram tão
Sócrates, seria "uma desgraça para o homem famoso quanto seus célebres Diálogos.
tornar-se velho sem ter conhecido nunca a Após a morte de Sócrates, Platão via-
beleza e a força de que seu corpo é capaz". jou por vários países, permanecendo afastado
Em 399 a.C., quando estava com seten- por mais de dez anos e regressando à Grécia
ta anos de idade, Sócrates foi acusado de cor- em 389 a.C. Instalou sua escola filosófica nos
romper a juventude grega, de "introduzir jardins do Acádemo, e em face da localização

"
ela recebeu o nome de Academia, que sobre- Em alguns aspectos, Aristóteles discor-
viveu até o século VI de nossa era. Platão dava das teses de Platão. Para ele, a expe-
morreu em 347 a.C. riência e a observação representam o princí-
Isócrates foi um dos mais sábios pen- pio de toda ciência. Interessado em biologia,
sadores políticos gregos. Discípulo de medicina, astronomia e autor de tratados de
Sócrates, mais escritor que orador, prepara- lógica, política, história natural e física, dei-
va brilhantes e eloqüentes discursos, onde xou obras ricas em originalidade e profun-
exaltava de maneira sistemática a necessida- didade.
de de unificação helênica. Certa vez nos Jo- Com relação aos esportes, Aristóteles
gos Olímpicos elogiou os idealizadores dos afirmava que o treinamento especializado
grandes festivais esportivos: "Juntamo-nos objetivava descobrir qualidades físicas que
todos em um lugar onde evocamos nossa poderiam levar o indivíduo a ser campeão
origem comum e sentimo-nos mais próximos olímpico. Aquele capaz de dar passadas lar-
uns dos outros, revivendo nossas velhas gas e rápidas deveria ser treinado para corri-
amizades e estabelecendo novos vínculos". das. Capacidade de subjugar seria indispen-
Aristóteles foi o último dos grandes re- sável a um bom lutador. Quem, golpeando,
presentantes da tradição socrática. Filho de fizesse o adversário retroceder, deveria ser
um médico do rei da Macedônia, foi para preparado para o pugilismo. O jovem que
Atenas após a morte do pai, estudar filoso- se distinguisse em todas as atividades espor-
fia. Discípulo de Platão, era chamado pelo tivas seria um pentatleta.
mestre de O espírito, A inteligência, O ledor.
Tornou-se preceptor de Alexandre Magno e,
quando retornou a Atenas, fundou e passou Medicina
a dirigir uma escola no Liceu, pequeno bos-
que público. Valorizando o papel da nature-
za no estímulo e desenvolvimento da inteli- A medicina foi outra área do conheci-
gência, dava aulas durante passeios com os mento muito cultivada pelos gregos. Contam
alunos. Por caminharem através de uma eles que Asclépio, filho do deus Apoio e
aléia coberta chamada perípatos, seu método Corônis, foi abandonado pela mãe assim que
foi chamado de sistema peripatético de en- nasceu. Apoio confiou o filho a Quirão,
sino. Aristóteles dizia: "A natureza nada fez centauro sábio e profundo conhecedor da
em vão". medicina. Asclépio foi aprendendo essa arte
e chegou até mesmo a ressuscitar mortos, ciências médicas. No século V a.C. havia qua-
sendo transformado por Apoio em deus da tro grandes escolas para médicos e Ico de
medicina. Em várias cidades construiram-se Tarento foi um dos que mais se destacou.
santuários em sua homenagem, junto a fon- Associou a prática esportiva à medicina e
tes de águas minerais e jardins. consta que participou dos Jogos Olímpicos.
Com o tempo, a medicina foi passan- E considerado um dos precursores da medi-
do do campo religioso para caminhos mais cina esportiva.
racionais e analíticos. Isso ocorreu graças aos Por conhecer a prática da medicina e
filósofos que, por se interessarem pelo espí- das atividades físicas, Heródico criou um
rito e pelo corpo, tinham uma visão geral de tratamento que levava seus pacientes a ado-
todas as coisas. tarem regime alimentar baseado nas dietas
A atuação de Pitágoras foi tão marcante
que conseguiu modificar a medicina de seu
tempo. Filósofo e matemático, possuía uma
escola na Magna Grécia. Um de seus discípu-
los, Empédocles de Agrigento, celebrizou-se
pela teoria dos quatro elementos. Para ele, ter-
ra, ar, fogo e água constituem as quatro raízes
de tudo. O equilíbrio ou o desajuste entre elas
provocariam no indivíduo saúde ou moléstia.
Com características diferentes da sacer-
dotal, surgiu a "medicina dos filósofos", ba-
seada no seguinte princípio: "Sendo o mun-
do um macrocosmo, todos os microcosmos
de cuja soma ele é constituído devem obede-
cer às mesmas leis, particularmente o
microcosmo humano".
Os gregos consideravam os médicos
artistas cujo talento era exercido sobre a vida
humana. Por estar a saúde diretamente liga-
da ao corpo e à mente, a educação física foi
objeto de estudo para os que exerciam as Hipócmtes, pai da Medicina
dos atletas e no treinamento físico. Foi tam- dando em importantes centros médicos,
bém um precursor da medicina esportiva e Galeno retornou a Pérgamo. Não tinha ain-
chamado "pai da ginástica terapêutica". da trinta anos, passou a cuidar de gladiadores
O mais importante cultor da medicina feridos e iniciou seus primeiros textos.
na Antigüidade foi Hipócrates, que viveu en- Pesquisador cuidadoso, distinguiu-se
tre 460 e 375 a.C. Consta que a ascendência como anatomista, patologista, experimenta-
de Hipócrates contava com mais de quaren- dor e filósofo. Foi quem primeiro explicou o
ta médicos, muitos deles seus homônimos. mecanismo da respiração e afirmava que o
Em Cos, sua ilha natal no mar Egeu, ficava exame de urina poderia ser excelente meio
um dos mais antigos templos de Asclépio, de controle dos exercícios físicos.
deus da medicina. Ela era chamada de "ber- Dedicou-se ao aperfeiçoamento da gi-
ço da medicina". nástica, preocupava-se com o esporte, mas
Hipócrates recusou ofertas magníficas criticava sua prática brutal e o fanatismo.
por não desejar socorrer inimigos de sua pá- Explicou a limitação humana ao declarar:
tria. Grande pensador, condenava os exercícios "Uma coisa que atinge seu apogeu não é
muito fortes. Dizia que "o estado de saúde vale mais suscetível de acréscimo nem pode per-
mais". Defendia a prática de atividades físi- manecer no mesmo estado. Só pode portan-
cas para .conceder maior resistência ao indi- to declinar".
víduo. Muitos de seus conceitos são atuais. Galeno era esportista praticante e che-
Sua ética, profissional, resumida, consta do gou a disputar os Jogos Olímpicos. Na quali-
juramento proferido pelos médicos ao cola- dade de pensador e moralista, observou que o
rem graüi "A fadiga não provocada indica homem é, por natureza, proporcionalmente
moléstia" e "O sono e;a insônia além da me- inferior à maioria dos animais, obrigando-se
dida são sinais, de moléstia" são aforismos a cultivar sua superioridade espiritual. Mor-
de Hipóeratesi' ,' , reu em 210 de nossa era, em Roma, onde se
Galeno'.nasceu em 131 da nossa era, em tornara médico de imperadores. Muitos sé-
Pérgamo, cidade da Ásia Menor com tradi- culos se passaram até que surgissem outros
ção na medicina. Seu pai era arquiteto, e di- médicos famosos. Ele costumava dizer: "Lou-
zem as lendas*que Ascíépío lhe apareceu em vo a quem nos fez, pela sabedoria com que
sonho, dizendo^ que o-filho teria um futuro estabeleceu isso que somos".
brilhante se estudasse medicina. Assim foi
feito e, depois de nove anos viajando e estu-
Deuses e mortais
Os deuses olímpicos
Na verdade, para os gregos os fenôme-
Zeus — o deus supremo, a maior divinda-
nos da natureza e da vida encontravam res-
de do Olimpo.
postas nas histórias sobre divindades que Poseidon — senhor dos mares.
amavam, casavam-se, traíam, protegiam,
Apoio— deus da luz e das artes.
perseguiam, vingavam, ajudavam, inveja-
Hefestos — deus do fogo, ferreiro e arte-
vam, castigavam. Todos os acontecimentos são divino. Hera gerou-o sozinha, para
e emoções que impulsionavam os humanos vingar-se das traições de Zeus.
povoavam o mundo divino. Os dois planos Hermes — deus dos ventos e mensageiro
eram iguais nesse sentido, mantida a distân- divino, filho de Zeus e Maia.
cia entre inferiores e superiores. Os deuses - deus da guerra, filho de Zeus e
foram os primeiros habitantes da Grécia e Hera. Consta que, em face do seu tem-
vieram transmitir seus conhecimentos aos peramento briguento, foi expulso do
humanos. Olimpo.
Para os gregos, os deuses eram seus Dioniso — deus do vinho, filho de Zeus e
semelhantes, mas possuíam algo que falta- Semeie.
va aos homens: a imortalidade. Surgiram Hera — esposa de Zeus, reinava com ele
através de três dinastias divinas, personifi- sobre o Olimpo.
cavam qualidades e defeitos dos mortais e a Héstia — protetora do lar, era a mais velha
eles podiam unir-se. Os filhos dessas uniões dos filhos de Cronos e Réia.
estavam colocados acima dos homens, ocu- Atena — deusa da guerra e da sabedoria,
param lugar de destaque nas histórias gre- era filha de Zeus e Métis, a Prudência.
gas e deram mais colorido à mitologia. Deméter— deusa da terra cultivada, era
Uma espécie de apelido ou sobrenome, filha de Cronos e Réia.
o epíteto, identificava a função ou manifesta- Artemis — deusa da lua e da caça, irmã
gêmea de Apoio, filha de Zeus e Leto.
ção pela qual a divindade estava sendo
Afrodite — deusa do amor e da beleza,
invocada ou reverenciada. Enquanto Zeus
nasceu da espuma que se formou no
Xênios era protetor dos hóspedes e estrangei- mar quando sobre ele caíram as partes
ros, Zeus Ktésios proporcionava riqueza. mutiladas de Urano.
Afrodite Urânia, "a celeste", protegia o amor

37
puro e idealista. Afrodite Pândemos, "de todo pai numa luta que durou dez anos. Vitorio-
o povo", cuidava do amor sensual e venal. sos, repartiram o universo entre si. Coube a
Hermes Empolaios presidia o comércio e Her- Zeus o domínio sobre o céu e a terra. Uniu-
mes Trimegisto era "três vezes santo". se a Hera, tornou-se dono e senhor do
O helenos classificavam as divindades Olimpo e, assim, teve início a terceira dinas-
em primordiais, das águas, siderais, dos ven- tia divina ou era olímpica por excelência.
tos, superiores e alegóricas. As primordiais Essas eram as divindades chamadas
atuavam como forças responsáveis pela cria- superiores, que formavam o conselho ou as-
ção do mundo. Destacavam-se Gaia, a terra, sembléia do Olimpo. Este era o nome de vá-
e Urano, o céu, que representavam a primei- rios montes da Grécia. O mais célebre de to-
ra forma de criação. Envolvida pela ação de dos possuía quase três mil metros de altura,
Eros, o Amor Universal, Gaia uniu-se a sendo considerado a morada dos deuses. Fi-
Urano, gerou muitos filhos e iniciou a pri- cava ao norte, na região da Tessália. Os pri-
meira dinastia divina, chamada também de meiros raios de sol o iluminavam e, à noite,
dinastia uranida. permanecia brilhando enquanto ao seu re-
As divindades primordiais existiam dor tudo já se encontrava mergulhado em
para informar sobre a origem e evolução do sombras. Era o último ponto atingido antes
universo. Delas, possivelmente, os primitivos de o sol desaparecer.
rendessem culto a Eros, como elemento fecun- O monte Olimpo parecia o local ideal
dante, e a Gaia, a Grande Mãe Terra, símbolo para os deuses se esconderem da curiosida-
universal da fecundidade e profetisa. Consta de dos mortais. Residiam em ricos palácios
que o oráculo de Delfos foi propriedade de no cimo enevoado, de onde desciam para
Gaia antes de pertencer a Apoio. exercer funções educacionais e socializa-
Cronos, o tempo, era filho de Urano e doras entre os humanos. Alimentavam-se de
Gaia. Incentivado pela mãe, enfrentou o pai, néctar e ambrosia — iguaria feita à base de
tirou-lhe o poder e ocupou seu lugar no uni- mel e que concedia imortalidade aos deuses
verso. Desposou Réia, e dessa união nasce- e juventude eterna aos homens.
ram Poseidon, Hades, Zeus, Héstia, Deméter Além dos deuses olímpicos havia ali
e Hera. Eles representavam a segunda dinas- os chamados heróis ou semideuses que, gra-
tia divina, ou dinastia cronida. ças a feitos extraordinários, ganharam o di-
Zeus, filho mais jovem de Cronos, au- reito de viver no Olimpo. Eram, na maioria,
xiliado por Poseidon e Hades, enfrentou o filhos de uma divindade e um mortal.

38
Durante muitos séculos os helenos culo VI a.C. surgiram os Jogos Públicos, com
cultuaram a beleza e o esforço físico para data fixa, lugar determinado para a realização
homenagear as divindades, acreditando que e caráter fundamentalmente religioso.
assim teriam proteção. Periodicamente, os Os Jogos Públicos interromperam
gregos dirigiam-se para os diversos locais guerras, aproximaram povos e geraram ex-
onde a veneração dos deuses e heróis era pressivo número de obras nas artes plásticas
mais expressiva e participavam de disputas e literárias. Porém, sem dúvida, o aspecto
esportivas. mais positivo das competições esportivas da
Aos poucos, a organização desses even- antiga Hélade foi a paz que reinou entre as
tos foi sendo aperfeiçoada e proporcionou a poleis gregas durante as celebrações dos Jo-
expansão dessas cerimônias. Por volta do sé- gos Públicos.

,39
OS D E U S E S E AS C O M P E T I Ç Õ E S

~, \ V á Grécia, a prática esportiva represen- tras, o corpo era polvilhado com areia para
•! x \ tou elemento de cultura e socialização. fechar os poros e impedir excessiva trans-
|| \ x j O esporte era praticado nas palestras, piração, mantendo estável a temperatura
.•*• --j ginásios, estádios e hipódromos. Em- corporal. Além disso, de acordo com a colo-
bora os teatros fossem destinados à apresenta- ração, a areia possuía certas propriedades
ção de tragédias, comédias, poesias, música, medicinais.
eram também utilizados para certas competi- As palestras eram edifícios arejados e
ções esportivas. espaçosos, construídos na beira de rios, cerca-
As palestras possuíam dimensões mais dos de árvores e que passaram a ser usadas,
modestas que os ginásios e pertenciam geral- aos poucos, para treinamentos de exercícios
mente a um particular. Eram edificações desti- físicos gerais. Dada a competição entre os pro-
nadas à prática de modalidades de ataque e prietários, o uso desvirtuou-se e, posteriormen-
defesa e possuíam vários compartimentos. te, foram integradas aos ginásios.
Havia cômodos para massagens, du- Os ginásios eram propriedade estatal,
chas, banhos quentes. Os gregos tinham o lugares de paz e beleza. Ali havia salas para
hábito de lavar-se antes e depois dos exercí- conferências, instalações esportivas, recintos
cios físicos. Em algumas salas, o atleta era para massagens, duchas e unções. Também
besuntado com óleo, para manter a pele ma- ficavam em locais privilegiados, agradáveis.
cia apesar da longa exposição ao sol. Em ou- Eram uma espécie de escola superior na
formação físico-intelectual de jovens. Ser- terceiro dia e dar lugar a um programa bem
viam, também, como ponto de encontro en- suave na última etapa.
tre artistas e literatos, que efetuavam troca Os treinadores, por acharem muito efi-
de experiências. cientes os ciclos preparatórios, não permitiam,
Palestra e ginásio eram pólos de atra- sob nenhum pretexto, que a corrente fosse
ção. Jovens entregavam-se a treinamentos quebrada. Esse rigor chegou a ser criticado e
esportivos, preparavam-se para a vida mili- Filostrato registrou o caso do anteniense
tar, desfrutavam de repouso e recreação. No Gereno, campeão olímpico que teve uma está-
contato com poetas, filósofos e artistas enri- tua erigida na estrada que ligava Atenas a
queciam o espírito. Obrigatoriamente, pas- Elêusis. Por sentir-se indisposto, o atleta pe-
savam a freqüentar o ginásio aos dezesseis diu dispensa do treinamento. Na véspera, num
anos. Depois de dois anos juravam fidelida- banquete, comeu e bebeu em demasia, o que
de ao estado, deuses e tradições morais do lhe provocou dor de estômago. Para não inter-
seu povo. A partir daí eram cidadãos livres. romper o ciclo de tetras, o treinador o obrigou
Nos ginásios havia disciplina rigorosa a participar dos treinos. Gereno assim fez e,
e o programa estabelecido era cumprido de no meio da sessão de exercícios, teve forte cri-
forma a atender três classes de freqüen- se, vindo a falecer entre vômitos contínuos.
tadores: os jovens ou aprendizes, os adultos Nos ginásios, os atletas seguiam uma
e os atletas propriamente ditos. dieta alimentar. Segundo Galeno, durante o
dia alimentavam-se de coisas leves e somen-
te no fim da tarde recebiam farta refeição.
Os Treinamentos Frituras, alimentos cozidos e bebidas quen-
tes eram proibidos. Consta que, ao ser incluí-
da no regime, a carne surtiu excelentes re-
Aos que deveriam participar dos gran- sultados. Não se sabe se carne de carneiro
des jogos, especialmente dos olímpicos, era ou de cabra, menos gordurosa.
ministrado um treinamento que ocupava a O estádio, edificação destinada às corri-
maior parte do dia. Os exercícios eram pro- das pedestres, era mais utilizado nos dias da
gramados em séries contínuas de quatro dias competição propriamente dita. No hipódromo
e recebiam o nome de tetras. A primeira ses- havia corridas de carros ou de cavalos monta-
são era leve e ligeira. Havia maior carga na dos. Estádio e hipódromo estendiam-se bas-
segunda, para diminuir de intensidade no tante no sentido do comprimento e pouco na
largura. Do ponto de vista arquitetônico eram disciplinar do ginásio. Cuidava da provisão
de construção muito simples, contendo ape- de óleo necessário aos lutadores. Eventual-
nas as instalações necessárias à sua função. Por mente comprava com seu próprio dinheiro
ser a atividade eqüestre muito antiga e até o material para as competições. Fazia a esco-
mesmo lendária, os hipódromos surgiram bem lha e organizava as equipes que deveriam
cedo na Grécia. representar a cidade nos festivais esportivos.
A arena esportiva era objeto de muita Era, ainda, responsável pela supervisão de
atenção e cuidado por parte dos gregos. Não treinamento dos atletas locais.
era possível imaginar-se uma comunidade Possuía vários auxiliares: o primeiro
grega sem uma praça de esportes, sua pales- era o ginasta ou cosmeta. Conhecedor de hi-
tra e seu ginásio. giene e medicina, orientava as lições de ginás-
O ginasiarca, eleito a cada ano, era res- tica e os treinamentos, além de outras ativida-
ponsável pela parte administrativa, moral e des. Dada a condição de médico-treinador,

... __

^ IM^é
Selo comemorativo da Grécia, representando os treinamentos nos ginásios

"
^
sua figura sempre aparecia nos desenhos da Animado por nova força, Promachos
época. Costumava estar vestido com longa passou a concentrar-se só nos treinamentos.
túnica e, numa das mãos, trazia uma longa e Sua participação em Olímpia foi duplamen-
delgada vara terminada em forquilha. Esse te exaltada: além de vencer, derrotou um dos
objeto dava-lhe autoridade, além de ser uti- melhores lutadores da época — o famoso
lizado para corrigir, pelo toque, determina- Pulidamos. Os conterrâneos de Promachos
dos defeitos de postura do atleta. Possivel- mandaram erigir-lhe uma estátua de bronze
mente servisse, também, para aplicar castigo no Altis e outra, de mármore, no ginásio da
corporal nos que se comportassem de ma- cidade.
neira desleal. A história não contou se Promachos
O papel desempenhado pelos ginastas casou-se com a jovem, mas evidenciou o
era muito importante. Os gregos davam-lhes mérito de um treinador que soube usar o
lugar de evidência e das narrativas conclui-se amor para conduzir seu atleta à vitória.
que da sua atuação dependia o"êxito dos es- Pelo importante papel que os ginas-
portistas. Eles zelavam, também, pelo com- tas desempenharam na vida esportiva da
portamento do atleta fora do ginásio ou pa- Grécia, muitos deles tiveram estátuas
lestra, interferindo na vida particular, :se , erigidas no bosque sagrado, onde seus atle-
necessário fosse. •_, \/ : tas tornaram público o agradecimento pe-
Filostrato ilustra essa .afirmação con- los ensinamentos recebidos. O grupo de
tando a seguinte história: Promachos, um treinadores dos ginásios era completado
lutador destacado pela assiduidade, discipli- pelos preparadores de corridas e prepara-
na e dedicação aos treinos,, apresentou mu- dores de luta.
dança de comportamento. Q treinador des- - , ," Várias modalidades de jogos tinham
cobriu que seu atleta.estava.{enamorado de ; lugar na Grécia Antiga, embora os mais con-
uma jovem que o evitavá. ',C"omo os Jogos sagrados, e que se mantiveram até nossos
Olímpicos estavam-próximos, chamou dias, tenham sido os Jogos Olímpicos.
Promachos, disse que sabia do fato e iria in-
terceder junto à moça. Alguns dias depois,
mesmo sem ter feito o que prometera, disse
ao jovem que ela adotava aquela atitude es-
quiva porque desejava apenas que ele con-
seguisse a vitória em Olímpia.

44
L.
Jogos Fúnebres utilidade para os humanos. Poseidon fez bro-
tar um cavalo de uma rocha da Acrópole e
uma fonte de água salgada. Atena domou o
Esses jogos são considerados os mais belo animal e feriu a terra com a ponta de sua
antigos de todos os jogos gregos. Homenagea- lança. Na pedra nua cresceu uma oliveira, que
vam os mortos e, possivelmente, neles estejam adquiriu farta folhagem.
as raízes dos Jogos Olímpicos. Continham uma Deuses e mortais reconheceram no pre-
ampla programação esportiva, incluindo due- sente uma valiosa criação. Além dos frutos
lo, corrida de carros, de cavalos, etc. servirem de alimento, diz o mito que foi a
Homero, em sua Ilíada, escreveu uma própria deusa quem ensinou os gregos a pre-
bela página relacionada aos Jogos Fúnebres, pararem o azeite. Poseidon considerou-se
celebrados em honra a Pátroclo, herói da vencido. Em homenagem à deusa, a cidade
guerra de Tróia, que lutou junto com seu recebeu o nome de Atenas e tornou-se a mais
amigo Aquiles. Pátroclo matara muitos importante da Grécia Antiga. Essa era a oli-
adversários, mas perdeu a vida quando ten- veira sagrada, que sobreviveu a todos os ata-
tou atingir o carro de Heitor. Aquiles vin- ques feitos à Acrópole.
gou o amigo. Os funerais de Pátroclo foram Os ramos de oliveira, além de servirem
realizados com grande pompa e marcados para coroar vencedores de alguns importan-
pelo sacrifício de doze jovens troianas. tes jogos gregos, eram oferecidos também aos
O vencedor dos Jogos Fúnebres era assassinos, que deviam ser purificados.
coroado com um ramo de oliveira silvestre,
planta que exerceu grande influência nas
crenças, usos e costumes dos gregos. Era tida Jogos Pítícos
como árvore da civilização, da vitória e da
paz. Os gregos acreditavam que a árvore
possuisse uma alma e mesmo um significa- Por sua importância religiosa, o tem-
do sagrados. plo de Delfos era sustentado por uma liga
Um mito diz que a oliveira foi intro- de cidades-estado. O regulamento que a re-
duzida entre os gregos por Atena, deusa da gia buscava impedir a guerra e a pirataria
sabedoria. Ela e Poseidon, deus dos mares, entre cidades e membros associados.
lutaram pelo domínio de certa região da Ática. Uma das atribuições da liga era a res-
Venceria aquele que criasse algo de maior ponsabilidade pela segurança do templo,

45
preservação dos caminhos que conduziam Jogos Nemeus
a ele e proteção dos peregrinos nas festas
mais importantes. Uma delas eram os Jogos
Píticos, realizados em Delfos para homena- Um versão mitológica tradicional diz
gear Apoio e que se tornaram os mais popu- que o filho de Zeus e Alcmena, a exemplo
lares da Grécia. De início, eram promovidos do pai de Anfitrião, chamava-se Alceu ou
de oito em oito anos. A partir de 582 a.C., Alcides. Para saber qual penitência deveria
passaram a ser quadrienais. Quase todas as cumprir, a fim de redimir-se do assassinato
cidades gregas enviavam seus representan- dos filhos, foi consultar o oráculo de Delfos.
tes para participarem de procissões solenes, Uma pitonisa informou que ele era um elei-
ritos religiosos, concursos de música e poe- to e, para mudar o destino, precisava trocar
sia. Mais tarde foram incluídas tragédias e de nome. A partir daquele momento deve-
comédias. ria chamar-se Héracles, que significa "ten-
A origem do nome refere-se às sacer- dência para o sagrado" ou "glória de Hera".
dotisas do oráculo de Delfos. Dos vários tem- Foi assim que surgiu Héracles, inegavelmen-
plos da Grécia o maior e mais famoso estava te o maior dos heróis gregos.
situado ali. Fora edificado no local onde se Apoio disse-lhe que, para se purificar
dizia que, após seu nascimento, Apoio ma- dos crimes cometidos, deveria submeter-se a
tara a serpente Pitão. A comemoração desse Euristeu, seu primo e rei de Argos. Por
fato conferiu às sacerdotisas a denominação imposição dele, durante doze anos, o herói
de pítias ou pitonisas. precisou cumprir as difíceis tarefas conhecidas
No início do século V a.C. passaram a como "os doze trabalhos de Héracles".
ser promovidas provas atléticas e os Jogos O primeiro trabalho imposto foi o com-
Píticos transformaram-se num certame reli- bate ao leão de Neméia, região da Argólida.
gioso-artístico-esportivo de grande esplen- Tido como invulnerável, devorava pessoas
dor. Um esplendor digno do luminoso e animais da cidade. Héracles o encurralou
Apoio, o mais querido de todos os deuses no esconderijo e a seguir o estrangulou. Uti-
gregos. lizando as próprias garras da fera, esfolou-a
e vestiu sua pele. Da cabeça fez um capacete
e dirigiu-se a Micenas. Para perpetuar a fa-
çanha do herói, Zeus transformou o leão de
Neméia numa constelação.

46 ,
Se a vingativa Hera continuava perse- Jogos Istmicos
guindo Héracles, ele contava com Zeus para
protegê-lo. Além da execução dos doze tra-
balhos, participou de inúmeras outras aven- Poseidon hão habitava o Olimpo como
turas que o colocaram em posição muito des- os demais deuses olímpicos. Residia no fun-
tacada dentro da mitologia grega. As tarefas do do mar, em lindo e tranqüilo palácio. Go-
o purificaram e ajudaram-no a merecer a vernava seu império com calma, serenidade
imortalidade. e tinha conhecimento de tudo o que aconte-
Vítima da vingança do centauro Nesso cia, desde as profundezas do mar até a su-
e em desespero, por sentir a pele queimar, perfície das ondas.
Héracles cometeu suicídio lançando-se Era representado empunhando pode-
numa pira que ergueu no monte Eta. En- roso tridente, como se fosse um cetro. Seu
quanto a fogueira ardia, reboou um trovão e carro puxado por cavalos brancos era cer-
ele foi elevado aos céus. No Olimpo reconci- cado por seres marinhos de variadas espé-
liou-se com Hera. cies. Para conquistar o amor de deusas e
Os Jogos Nemeus eram realizados em mortais, a exemplo do irmão Zeus, o pode-
honra a Héracles, a cada dois anos, na floresta roso Poseidon metamorfoseava-se em tou-
sagrada da Neméia. Ali ainda existem colu- ro, carneiro, pássaro, cavalo, delfim, ou
nas do templo do herói. Erguem-se sobre o mesmo em rio.
santuário onde foram descobertas salas de ba- Muito cultuado na Grécia, principal-
nho e uma espécie de hotel com restaurante mente nas ilhas e ao longo da costa, possuía
para atletas e espectadores. Arqueólogos des- templos erigidos perto do mar. Um dos mais
cobriram paredes de um túnel de quarenta bonitos localizava-se no cabo Sunion, na
metros de comprimento, que servia de entra- Ática.
da para o estádio. Nas paredes, além de dese- Em honra a Poseidon, a cada dois anos
nhos, estão gravados nomes dos vencedores eram promovidos os Jogos ístmicos, que tive-
das provas realizadas em 340 a.C. e a palavra ram extraordinária importância e esplendor.
niko, que significa "eu ganho". Eram os jogos solenes da Grécia e realizavam-
se no istmo de Corinto, ponto de ligação entre
a Grécia continental e o Peloponeso.
Esses torneios recebiam grande núme-
ro de participantes e espectadores, pois
Corinto era um dos mais importantes cen-
tros comerciais e de diversões daquele tem-
po. Os prazeres de Corinto eram caros e ha-
via, inclusive, um provérbio a esse respeito.
Os gregos costumavam dizer: "Não é dado
a todos ir a Corinto", provavelmente refe-
rindo-se às pessoas que não conseguiam
obter aquilo que almejavam.
Não se sabe a data em que os Jogos
Istmicos começaram a ser disputados. Em-
bora não haja referência à administração,
organização ou esportes praticados, dese-
nhos da época levam a crer que eram dispu-
tadas provas atléticas, hípicas, musicais, li-
terárias e náuticas.
A partir de 580 a.C. os concursos de
poesia e música passaram a ser acessíveis
também às mulheres. Num dos jogos,
Píndaro foi derrotado cinco vezes pela poe-
tisa Corina. Os vencedores dos Jogos ístmi-
cos recebiam como prêmio uma palma e uma
coroa de folha de pinheiro.

Panatenéias

Atena era deusa da guerra, da inteli-


ÍW^fc l
gência e da eqüidade. Os gregos diziam
"contra Atena, nada pode", indicando que a
Henicltis, com a pele do leão de Neméia sabedoria e a justiça são mais poderosas do
que a violência. Em homenagem à deusa, foi

48
construído o Partenon, um dos mais belos para o primeiro e o segundo colocados. Os
templos da Grécia. vitoriosos nas lutas e eventos atléticos rece-
Para homenagear Atena, eram realiza- biam diversas ânforas contendo azeite tira-
das as Pequenas e Grandes Panatenéias. As do dos frutos da oliveira sagrada, conside-
primeiras eram anuais e as segundas, mais rada propriedade de Atena.
importantes, eram promovidas a cada qua- O programa de atletismo incluía uma
tro anos. É provável que essas festas visas- prova de revezamento chamada lampa-
sem a agradar a deusa para que ela prote- dodromia ou "corrida das tochas". Cada equi-
gesse as colheitas. pe era formada por quarenta atletas, dispos-
As mais hábeis fiandeiras, tecelãs e jo- tos a vinte e cinco metros uns dos outros.
vens das mais tradicionais famílias atenien- Cobriam a distância que ia da muralha da
ses bordavam um rico manto que, no dia da cidade ao altar de Prometeu, o titã que rou-
cerimônia de abertura, era levado à divin- bou o fogo do céu para entregá-lo aos hu-
dade em solene procissão. As mulheres car- manos. A tocha passava de mão em mão, a
regavam cestos com utensílios para os sacri- chama não podia apagar-se e vencia a equi-
fícios. Os rapazes, vasos com óleo e vinho; pe que conseguisse acender a fogueira colo-
os velhos, ramos de oliveira. cada no marco de chegada.
Além dos grandes sacrifícios e ritos re- Em 380 a.C. Licurgo, líder ateniense,
ligiosos, nas Grandes Panatenéias eram pro- iniciou em Atenas a construção do estádio
movidos o concurso de beleza para escolher Panatenaico, com forma de ferradura alon-
o efebo mais forte e mais belo, eventos artís- gada, para que ali fossem realizadas as
ticos, náuticos, hípicos, atléticos e de ataque Panatenéias. Os espectadores sentavam-se
e defesa. nas colinas adjacentes e somente os que des-
No torneio hípico era disputada uma frutavam do direito de preferência ocupa-
prova muito perigosa. O carro transportava vam lugares especiais. No século II de nossa
dois aurigas. Enquanto um deles conduzia o era Herodes Ático mandou reconstruí-lo. Re-
veículo, o outro saltava para fora e para den- vestiu-o com mármore branco do Pentélico,
tro do carro, com os cavalos a todo galope. Esse monte célebre pelo material usado nos
evento está registrado em escultura que orna- monumentos atenienses. Construiu arqui-
menta um dos frisos internos do Partenon. bancadas que chegavam a abrigar cinqüen-
Aos vencedores eram outorgados prê- ta mil pessoas, além de pórticos, templos e
mios de 300 e 200 dracmas, respectivamente outras obras artísticas. Isso fez do estádio a

49'!
mais suntuosa praça de esportes do mundo
antigo e mesmo do moderno. Consta que a
riqueza da decoração do estádio Panatenaico
era superior, na época, à do Circo Máximo e
do Coliseu de Roma, marcos da arquitetura
antiga.

Jogos Heranos

Majestosa, digna e serena, a deusa Hera,


esposa de Zeus, tornava-se vingativa e ciumen-
ta para perseguir as amantes do marido e os
filhos ilegítimos dele. O temperamento forte
não impediu que ela fosse adorada como pro-
tetora das esposas e mães. Assim como Zeus,
era venerada no alto das montanhas e o maior
templo a ela dedicado foi construído no sécu-
lo V a.C. Ficava entre Argos e Micenas e abri-
gava a célebre estátua de ouro e marfim, de
Hera, esculpida por Polícleto.
A deusa era ali representada como uma
bela mulher, jovem, casta e austera, vestin-
do longa túnica e um véu. A cabeça era ador-
nada por um diadema e trazia na mão um
cetro encimado por um cuco e uma granada.
Esta pedra simboliza o amor e a fidelidade
conjugais. O pássaro consagrado à deusa era
o pavão. Os gregos associavam a plumagem
brilhante e enfeitada da ave à magnificência Hera
de um céu estrelado, também reino de Hera.

50
Para a cauda do pavão, a rainha do Olimpo jovens da cidade de Elis. Corriam descalças,
transportou os olhos que arrancara de Argos, com os cabelos soltos, usando uma pequena
por vingança. túnica que exibia o ombro e o seio direitos.
Em homenagem à esposa de Zeus eram A vencedora recebia como recompensa uma
realizados no mês da virgem — junho ou ju- coroa de oliveira selvagem e uma porção de
lho atuais — os Jogos Heranos, destinados carne da vaca sacrificada à deusa. Segundo
apenas às mulheres. Segundo Plutarco, a ati- Pausânias, poderia também mandar erigir
vidade física ajudava as mulheres a terem uma estátua em seu nome.
filhos vigorosos. Embora fosse realizada apenas uma
A organização e a administração do corrida nos Jogos Heranos, em algumas re-
evento eram de responsabilidade das dezes- giões da Grécia as mulheres dedicavam-se a
seis sacerdotisas de Hera. Elas também con- outros eventos esportivos. Inicialmente, par-
duziam a prova esportiva, presidiam os ri- ticipavam das atividades nuas. Com o tem-
tos religiosos e, a cada cinco anos, teciam o po adquiriram o hábito de se cobrir. Foram
véu consagrado à deusa. encontrados mosaicos reproduzindo jovens
Disputava-se apenas uma corrida de usando maios de duas peças e participando
162 metros e participavam exclusivamente as de esportes diversos.

5-í-'
OLÍMPIA: CIDADE DA PAZ

'f i. eus, soberano incontestável do Olimpo, os jogos públicos a ele dedicados


/ Olimpo, era o deus dos conselhos pru- eram os soberanos de todos os confrontos
i dentes, imagem da justiça e da razão, esportivos na Grécia Antiga. Representa-
da ordem e da autoridade, depositá- ram a expressão máxima do esplendor al-
rio das leis do mundo e pai universal. Os gre- cançado pela educação física na Antigüi-
gos diziam que quando Zeus franzia o cenho, dade e, sem interrupção, foram realizados
o Olimpo estremecia. Embora fosse conside- durante doze séculos.
rado terrível e vingador, ele podia ser ao Os Jogos Olímpicos tiveram maior des-
mesmo tempo bondoso e paternal. taque pelo expressivo número de participan-
Um homem maduro, de aspecto majes- tes, de espectadores, pela grande repercussão
toso e austero era sua representação mais cor- político-religiosa e por encerrarem elevado es-
rente. Com barba e abundante cabeleira, era pírito unificador.
coroado com folhas de carvalho. A mão direi- Não é possível precisar quando e por
ta segurava o raio, e a esquerda, a vitória. quê os Jogos Olímpicos foram instituídos,
Para homenagear Zeus, eram promo- pois na história da Grécia lenda e realidade
vidos os Jogos Olímpicos a cada quatro confundem-se. As aventuras vividas por
anos, em Olímpia, local onde ele era espe- deuses e heróis eram transmitidas de uma
cialmente venerado. Da mesma forma que pessoa a outra. O mesmo ocorre com os Jo-
o poderoso Zeus era o supremo rei do gos Olímpicos.
Várias histórias são contadas, e as ver- de Poseidon. Na véspera da corrida, à beira-
sões mais correntes são as que se seguem. mar, Pélope invocou o deus, solicitando auxí-
lio. Recebeu um carro de ouro puxado por
• Em Olímpia, originalmente, eram quatro cavalos alados e foi o vitorioso, tendo o
venerados os deuses mais antigos, como rei falecido quando tentava vencer.
Urano e Gaia. A seguir surgiu Cronos, que Uma variante dessa versão informa
destronou Urano e batizou a montanha que que Hipodâmia apaixonou-se por Pélope
domina Olímpia com seu próprio nome. e, com a cumplicidade de um escravo, man-
Depois, os Curetas, cinco irmãos — dou-o danificar o carro do rei. Durante o
sacerdotes que viviam no Monte Ida, em percurso, o carro esfacelou-se e o rei veio a
Creta —, instalaram-se em Olímpia. O mais morrer.
velho deles, Héracles, para homenagear Pélope, para comemorar sua vitória e
Zeus, propôs como brincadeira uma corrida o casamento com Hipodâmia, instituiu os
a pé entre seus quatro irmãos, coroando o Jogos Olímpicos em honra a Zeus, determi-
vencedor com um ramo de oliveira selvagem. nando que deveriam ser realizados a inter-
Assim, coube a Héracles de Ida a honra de valos fixos. Foram erigidos em Olímpia dois
ter instituído os Jogos, estabelecendo sua monumentos funerários. Um em honra a
periodicidade para cada quatro anos. Isso Pélope e outro a Hipodâmia. Seus filhos dei-
teria ocorrido entre 2500 e 2300 a.C. xaram a Elida e espalharam-se por uma das
regiões mais bonitas, a península ao sul da
• A cidade de Elis perdeu a supremacia Grécia, denominando-a Peloponeso, ou seja,
sobre Olímpia, que passou ao domínio do rei a "ilha de Pélope".
de Pisa. Uma pitonisa anunciou que ele seria
destronado e morto por um pretendente de sua • A seguir, apareceram Augias, rei da
filha Hipodâmia. Para que a previsão não se Elida, e Héracles, o herói tebano, filho de
concretizasse, o rei convocava todos os candi- Zeus e Alcmena. De uma divergência entre
datos para uma corrida de carros que ia do al- eles surgiram os Jogos Olímpicos.
tar de Zeus em Olímpia ao de Poseidon em Euristeu determinou que Héracles lim-
Corinto. Conta-se que matou treze concorren- passe os estábulos de Augias, que não eram
tes e era tido como imbatível. limpos há trinta anos. Pela falta de asseio,
Certo dia, apresentou-se Pélope, filho além do cheiro, infestavam a região. Héracles
legítimo do rei da Erigia, embora filho natural solicitou a Augias a décima parte do gado se

54!
conseguisse fazer a limpeza em pouco tem- Zeus, daí as competições chamarem-se atla e
po. O rei concordou. os participantes atletas.
Com rapidez incrível o herói removeu Vários autores teceram considerações
as reses para o campo e desviou o curso do a respeito, mas foi somente por volta do sé-
rio Alteu, fazendo-o passar pelas estrebarias. culo VIII a.C. que surgiram as primeiras ci-
Embora cobrasse o prêmio, o rei não cum- tações com alguma segurança histórica.
priu o acordo. A divergência acabou em guer- Durante longo tempo Pisa, Elis e
ra. Héracles matou Augias e, vitorioso, se- Esparta lutavam entre si. Enquanto os com-
guiu para Olímpia. Instituiu os Jogos para bates sucediam-se, destruindo a unidade do
homenagear Zeus e a si mesmo, estabelecen- país, Ifito, rei de Elis, consultou o oráculo de
do que os participantes deveriam competir Delfos. Soube que os deuses interviriam se
pela honra e glória do triunfo e não por inte- fossem oferecidos sacrifícios e restabelecidos
resse material. os jogos instituídos por Héracles, que já ha-
Consta que o próprio Héracles inscre- viam caído no esquecimento.
veu-se para disputar as provas, mas nenhum Em 884 a.C. Cleóstenes de Pisa, Ifito de
concorrente ousou competir com o herói. Zeus Elis e Licurgo de Esparta encontraram-se em
disfarçou-se de atleta. Combateram árdua e território neutro — o vale de Olímpia. Con-
longamente, sem que ficasse definido o ven- cluíram um tratado que consagrava a cele-
cedor. A divindade, então, deu-se a conhecer, bração dos jogos esportivos e firmaram o que
cumprimentando o filho pela força e valentia. se chamou de trégua sagrada: "Olímpia é
Essas versões mostram dois Héracles, lugar sagrado. Quem ousar ingressar no
muito distanciados no tempo. O primeiro mesmo com armas na mão será estigmatiza-
deles, vindo de Creta, berço da civilização do como sacrílego. É igualmente considera-
grega primitiva. O segundo Héracles, herói do sacrílego quem não vingar tal ultraje se
contemporâneo de Augias e autor dos "doze isto estiver a seu alcance".
trabalhos". Parece que, inicialmente, os Jo- A inscrição foi gravada em círculos
gos se chamavam Herácleos, daí ser mais concêntricos num disco de bronze que per-
aceita a versão que atribui a um desses per- maneceu depositado no templo de Hera.
sonagens a honra de tê-los instituído. -Para manter a trégua em vigor, formaram
Por razões etmológicas, há uma corren- uma espécie de Senado Olímpico encarrega-
te segundo a qual o instaurador dos Jogos do de proclamar a realização dos jogos es-
foi Atlios, primeiro rei da Elida e filho de portivos a intervalos regulares.
A trégua sagrada foi firmada em 884
a.C. Alguns autores acreditam que, a partir
daí, os Jogos foram realizados quadrie-
nalmente. Mas não é possível afirmar que
tenha sido o ano exato dos primeiros jogos
da Antigüidade. Se foram promovidos após
essa data, os nomes dos campeões permane-
ceram no anonimato.
Oficialmente, são considerados como
os primeiros Jogos Olímpicos da Antiga
Grécia os realizados em 776 a.C. Surgiu ali a
primeira descrição histórica e a partir de en-
tão os nomes dos campeões passaram a cons-
tar dos registros públicos.
A palavra "olimpíada" significava "es-
paço de tempo": quatro anos consecutivos en-
tre duas realizações de Jogos Olímpicos. Daí o
ano 776 a.C. ser memoravelmente histórico.
Se/o comemorativo da Grécia representando Depois dessa data os gregos situaram
o Disco da Trégua Sagrada seus fatos marcantes através das olimpíadas,
ou seja, quatro vezes doze meses. No início,
Inicialmente, a suspensão de hostilida- participavam dos jogos apenas os mais velo-
des referia-se às três cidades, mas depois tor- zes corredores de Pisa e Elis. Com o tempo,
nou-se mais abrangente. A paz não foi pro- seu êxito empolgou as demais cidades, nu-
priamente obtida, mas durante os Jogos merosas regiões solicitaram a inclusão e a
Olímpicos era declarada uma trégua. Eram Grécia apaixonou-se pela grandiosa festa
abertas as fronteiras de todas as cidades e os esportiva.
atletas recebiam um salvo conduto. Elis e Os Jogos Olímpicos da Antigüidade
Olímpia passaram a ser locais proibidos às representaram uma solenidade de tão eleva-
armas. Foi estabelecido também o "mês sa- da expressão que é difícil imaginar outra se-
grado", durante o qual toda atividade guer- melhante, em qualquer época ou qualquer
reira deveria cessar. outro lugar do mundo.

56
A atração que Olímpia exercia sobre os vores, surgia o monte Cronos. Nesse local, por
gregos era tão intensa que, pelo menos uma volta do ano 1.000 a.C, os sacerdotes ofereciam
vez em suas vidas, sonhavam visitá-la. E o sacrifícios ao deus Cronos. Era onde ficava
motivo principal era assistir aos Jogos Olím- Olímpia, a sede permanente dos Jogos Olím-
picos. picos da Antigüidade.
Píndaro dizia: "Como a água é o primei- Consta que a beleza da região influiu
ro dos elementos, como o ouro é a mais pre- na escolha para a celebração dos jogos, pois
ciosa das riquezas humanas, como os raios de as divindades preferiam os lugares mais bo-
sol são a fonte mais brilhante de calor, não nitos para serem homenageadas e receberem
há combate mais nobre a cantar que os Jo- as oferendas. Além disso, as vantagens geo-
gos Olímpicos." gráficas favoreciam a reunião de atletas e
Na antiga Elida, no Peloponeso, na con- espectadores que, vindos de todos os cantos
fluência do rio Alfeu com seu afluente Cladeu, da Grécia, participavam da grande festa es-
ficava uma das regiões mais bonitas da Grécia. portiva destinada a agradar os deuses co-
Aí também, de baixa altitude e repleto de ár- muns a todos os helenos.
Olímpia situava-se num vale calmo.
Não era uma cidade semelhante à maioria
das poleis gregas. Foi sempre uma região onde
eram promovidos cultos religiosos e depois
Construído no bosque Altis um altar associados a uma concorrida e abrangente
consagrado a Zeus, os sacerdotes da Elida competição esportiva. Portanto, as constru-
ali depositavam as oferendas e prepara- ções de Olímpia representavam a estrutura
vam a lenha, com um deles segurando necessária ao bom desempenho das ativida-
uma tocha acesa. Selecionados entre os des religiosas, administrativas e esportivas
peregrinos os mais ágeis e fortes, eram que ali ocorriam a cada quatro anos.
alinhados a cerca de 200 metros do altar
Entre os plátanos e as oliveiras do
e participavam de uma corrida a pé, que
terminava diante do sacerdote. O primeiro
Altis, bosque sagrado dedicado a Zeus, en-
colocado recebia a tocha acesa. Cabia-lhe contravam-se os templos e altares primiti-
a honra de acender a fogueira do sacrifí- vos, feitos de pedras amontoadas. As insta-
cio e a glória de ser proclamado campeão lações que não possuíam caráter religioso
olímpico. Esse atleta passava a ser consi- situavam-se fora do lugar. As mais expressi-
derado um favorito de Zeus. vas edificações de Olímpia eram estas:
O grande altar de Zeus, elevado entre de mãe" era cultuada na base do monte
os templos de Zeus, Hera e o monumento a Cronos, antes da veneração ao seu filho Zeus
Réia. Peça fundamental do santuário. Zeus ser levada para Olímpia. Embora tenha sido
determinou onde ele deveria ser erguido lan- erigido um templo a Réia, com o tempo sua
çando um raio no local. Durante os Jogos adoração perdeu força.
Olímpicos aí eram celebrados os mais impor- O templo de Zeus Olímpico era o mais
tantes sacrifícios. Media 7 metros de altura e importante e o mais bonito prédio de Olímpia.
tinha uma escada com trinta e dois degraus, Possuía 64,12 metros de comprimento por
que levava ao ponto mais alto do altar. Nos 27,68 de largura e 78 colunas. A altura total do
primeiros tempos dos Jogos Olímpicos, mar- templo ultrapassava 20 metros. Abrigava a co-
cava o final da corrida disputada entre os lossal estátua de Zeus Olímpico, obra de Fídias.
mais velozes peregrinos de Pisa e Elis. Numa altura superior a 13 metros, so-
O monumento mais antigo de Olímpia bre um pedestal, o deus esculpido em mar-
era o templo de Hera, rainha do Olimpo. Cons- fim e ouro apresentava-se sentado em seu
truído em 600 a.C., era um dos mais belos edi- trono. A mão esquerda sustentava um cetro
fícios da época. Em sua câmara foi descoberta de ouro encimado por uma águia. Os cabe-
a célebre estátua do divino Hermes com o pe- los eram de ouro, as partes despidas de mar-
queno Dioniso, atribuída a Praxíteles. Nele fim e o trono de ébano, ouro, pedras precio-
eram conservados muitos objetos preciosos, sas e marfim. Fídias recobriu o chão da
como o disco de bronze contendo a inscrição câmara principal com ladrilhos negros e isso
da trégua sagrada e a mesa de marfim e ouro, dava maior destaque à estátua.
obra do escultor Colotes, rival de Fídias. Ali Diz a lenda que, terminada a obra,
permaneciam depositadas as coroas destina- Fídias pediu a Zeus um sinal de aprovação.
das aos campeões. Meninos com pais vivos Um raio caiu, então, ao pé da estátua, em
eram escolhidos criteriosamente e cortavam os lugar que ficou assinalado com um vaso de
ramos da oliveira sagrada com uma foice de bronze.
ouro. A seguir, com as mais belas folhas eram
tecidas as coroas que, a partir de certa época,
passaram a ser o único prêmio para os vence-
dores das disputas esportivas.
Diante do templo de Hera ficava a
edificação em homenagem a Réia. A "gran-

58
Escultura mentos com finalidades distintas, porém
relacionadas à prática dos esportes de ata-
que e defesa.
A efígie de Zeus, feita por Fídias, foi cu- O estádio de Olímpia, um dos maiores
nhada em moedas eleas. A estátua, considera- da Grécia, ficava no lado oposto ao ginásio e à
da a primeira das sete maravilhas da Antigüi- palestra. Segundo os estudiosos, de 776 a.C,
dade, foi adorada durante muito tempo. data oficial dos primeiros Jogos Olímpicos, até
Quando os Jogos Olímpicos foram extintos, foi a extinção dos mesmos, por cinco vezes o está-
levada para Constantínopla, onde desapare- dio sofreu reformas e ampliações. Ele era o cen-
ceu destruída pelo fogo. No canto sudeste do tro dos jogos, com exceção dos esportes
templo de Zeus, perto do altar das Ninfas, cres- eqüestres. O local destinado às corridas era um
cia a oliveira sagrada de onde eram extraídos retângulo de 211 metros de comprimento por
os galhos para tecer as coroas dos campeões. 32 de largura. Para atingir o estádio havia um
Para atender ao aspecto esportivo fo- corredor com um longo banco, que servia de
ram construídas várias obras. O ginásio de descanso para os atletas antes da prova. A acús-
Olímpia tinha formato retangular, era rodea- tica era excelente e isso favorecia a chamada.
do de átrios amplos e colunatas em estilo Mais tarde foi transformado num túnel
dórico. No espaço livre desenvolviam-se os abobadado e recebeu o nome de porta crypta,
treinamentos de corridas e lançamentos. Um sendo a entrada oficial. Havia distribuição farta
pórtico de 210,50 metros de comprimento ser- de água por todo o estádio. Ele era composto
via para a preparação dos atletas nos dias de uma pista central rodeada de colinas com
chuvosos ou de grande calor. Segundo suave inclinação.
Pausânias, durante a estada em Olímpia, os No monte Cronos foi instalada uma
atletas alojavam-se no ginásio. tribuna de honra onde, ao que consta, per-
Na continuação do ginásio ficava a maneciam os helanóicas — "juizes dos gre-
palestra, uma construção que formava um gos" — os senadores de Elis, e as mais altas
quadrado quase perfeito, cujo lado maior autoridades.
media 66,75 metros. No pátio interno, ao ar Nos dois meses que antecediam as
livre, treinavam os atletas que deveriam par- competições o estádio passava por algumas
ticipar das provas de saltos e lutas. reformas. A terra da pista era removida, re-
Como as demais palestras gregas, as volvida e recolocada para endurecer. Depois,
alas cobertas possuíam vários comparti- era recoberta com uma leve camada de areia.
Olímpia, situada às margens do rio Al
realização dos Jogos Olímpicos da Ant idade
Ao sul do estádio ficava o hipódromo, Pórtico de Eco era um extenso corre-
peça importante entre as instalações espor- dor coberto que limitava o Altis a leste. Ti-
tivas de Olímpia. Media quase 400 metros nha esse nome porque a voz repercutia aí por
de comprimento e ali eram disputadas as cor- sete vezes. Em face da excelente acústica, era
ridas de carros e as provas eqüestres. Os es- o local onde se realizava a prova para arau-
tudiosos não conhecem bem o hipódromo, tos e trombeteiros, varões de voz mais sono-
pois as constantes enchentes do rio Alfeu e ra. Ao vencedor cabia a honra de proclamar
seu afluente destruíram vestígios que pode- o nome dos campeões olímpicos. Mais tarde
riam ser importantes. foi chamado Pórtico das Variedades, por cau-
Na base do monte Cronos, ao norte do sa de pinturas e inscrições em seus muros.
Altis, havia doze edifícios denominados erá- O Teocoleu era um prédio simples,
rios ou casas do tesouro. Construídos por com dimensões reduzidas e onde os teólo-
várias cidades gregas, serviam para guardar gos possuíam residência permanente. Eram
vasos e objetos preciosos usados nas cerimô- eles os únicos moradores de Olímpia, pois
nias religiosas. Na frente dessas edificações ela permanecia vazia durante os quatro anos
havia um muro onde estavam fixadas peque- que separavam os Jogos. Os teólogos, res-
nas estátuas de Zeus fundidas em bronze. ponsáveis pelo zelo dos recintos sagrados e
Recebiam o nome de znnes e eram feitas com o pela organização dos sacrifícios, eram esco-
produto de multas impostas aos que agiam de lhidos entre as famílias mais nobres e a fun-
modo desonesto, infringindo o regulamen- ção era transmitida por sucessão.
to dos Jogos Olímpicos. O maior edifício de Olímpia era o
Na face oeste do Altis havia um depósi- Leonideu e recebeu esse nome porque foi
to de água de grande beleza arquitetônica. mandado construir por Leônidas de Naxos
Herodes Ático, de Maratona, mandou cons- para homenagear Zeus. Consta que era o
truí-lo em 160 d.C. para suprir a falta de água mais amplo hotel da Antigüidade. Edifiçado
potável em Olímpia. No tempo dos jogos, dian- no século IV a.C., possuía dois andares e oi-
te do grande calor, os dois rios da região não tenta quartos cada um, destinados a alojar
atendiam às necessidades do grande número helanóicas e altas autoridades.
de pessoas. A água era colhida num outro rio, O Buleutério era peça fundamental, pois
a 10 quilômetros. Trazida por um aqueduto, era aí estava instalado e reunia-se o senado olím-
lançada num reservatório que a distribuía para pico para ordenar as normas das competi-
o estádio através de bicas. ções, redigir documentos oficiais e resoluções

62
regulamentares. Ali também eram decididas ção nos jogos e o rei Filipe II iniciou em
as sanções aos infratores. A construção tinha Olímpia a construção do Filipeu ou templo
forma de ferradura. No espaço compreendido de Filipe. Após sua morte, seu filho Alexan-
entre as duas alas, estava a estátua de Zeus dre Magno concluiu a construção, dedican-
Hórkios ou Zeus vingador, diante da qual os do-a à memória do pai. O edifício tinha esti-
participantes juravam, prometendo fidelidade lo jônico, possuía dezoito colunas e abrigava
aos ideais olímpicos. cinco estátuas de ouro e marfim, de mem-
Pritaneu era o centro político e local bros da família de Filipe II.
de encontro dos helanóicas. Nome originá- Posteriormente, os romanos passaram
rio de pritnnos, magistrados. No seu interior também a disputar os Jogos Olímpicos e
estava a capela de Réstia, deusa do lar e construíram, em Olímpia, a casa de Nero. É
guardiã da paz, onde a sacerdotisa manti- provável que tenha servido para hospedar o
nha uma chama acesa dia e noite. Durante imperador quando de sua estada na cidade.
os jogos era um lugar muito alegre, pois Mais tarde a edificação foi ampliada e pode
numa sala chamada de hestiatório, atletas, ter sido ocupada por oficiais romanos.
homens públicos, visitantes oficiais e sacer- Segundo Estrabão, Olímpia foi edifica-
dotes faziam suas refeições. No Pritaneu era da sem muralhas porque os exércitos que
oferecido um grande banquete aos campeões, entravam na região deveriam entregar as ar-
no último dia dos Jogos Olímpicos. mas ao chegar e recebê-las ao sair.
Quando os macedônios dominaram a
Grécia, usufruíram do direito de participa-

63
' ^BHmiÉl^^^^^H
xx
ti
JOGOS OLÍMPICOS: GLÓRIA AO TRIUNFO

"]• r' ">' ssas competições representavam a cada da aos chefes de estado, divulgada à popula-
1 „ i quatro anos o maior encontro pacífico ção e todos os gregos tomavam conhecimento
Hr ** de í todos
. j os gregos, pois. .iniciavam-se
. . da proclamação da trégua.
)-.-i com a suspensão das hostilidades. A partir daí qualquer tipo de ativida-
Quem decidia sobre a proclamação da tré- de guerreira era suspensa para que atletas,
gua sagrada era o senado olímpico, cuja sede treinadores, pessoal de apoio e viajantes pu-
ficava em Elis. dessem dirigir-se ao território da Elida e par-
Os arautos ou mensageiros que rece- ticipar, tranqüilamente, da jornada esporti-
biam como atribuição definida proclamar a va. A mínima falta era severamente punida.
trégua sagrada chamavam-se espondoforos. Cada cidade estaria implicada e deveria as-
Escolhidos entre as mais nobres famílias, sumir todas as responsabilidades do delito,
eram uma espécie de embaixadores encarre- mesmo que praticado isoladamente por um
gados de anunciar a boa nova. cidadão. Os transgressores recebiam pesadas
Deixavam Elis três meses antes da aber- penas e isso conferia grande reputação aos
tura das competições. Separados em três gru- Jogos Olímpicos.
pos, partiam com seus auxiliares e percorriam O senado não tinha complacência e
todo o território grego. Recebidos pelas asso- cumpria, rigorosamente, a carta de procla-
ciações locais, estas se encarregavam de reu- mação: "Que o mundo esteja livre do crime,
nir o povo. Assim, a mensagem era transmiti- do assassinato e do ruído das armas".
Durante o longo período de realização tes em Olímpia, no décimo-primeiro dia do
dos Jogos, essa trégua foi violada apenas cin- hecatombeu (primeiro mês do ano grego).
co vezes e, desde a Antigüidade, o festival Milhares de pessoas de todas as con-
esportivo deveria representar o símbolo da dições sociais e de todas as idades afluíam
fraternidade universal. de barco, a cavalo, a pé, por estradas, cami-
Os atletas olímpicos submetiam-se a trei- nhos e atalhos, vindas de todas as regiões.
namentos intensivos nos ginásios de suas ci- Indivíduos que viviam constantemente em
dades, mas sessenta dias antes dos Jogos de- luta reencontravam a paz. O mesmo entu-
veriam estar concentrados em Elis para um siasmo os unia.
estágio obrigatório. Dessa forma, eram-lhes Por serem os jogos muito concorri-
concedidas condições para se acostumarem dos, o público era numeroso e variado. Pri-
com o clima e o regime alimentar, para toma- meiro vinham os atletas. Originários de
rem contato com os equipamentos esportivos várias cidades gregas, faziam-se acompa-
e conviverem com os demais participantes. nhar dos pais, treinadores, massagistas e
Cada disciplina exigia um treinamento cavalariços.
especializado. Por isso, as sessões de ativida- A seguir, havia as delegações oficiais
des e os exercícios eram muito diversificados. das cidades. Dirigidas pelas principais au-
O final do estágio de Elis era assinalado por toridades, traziam sempre abundantes pre-
uma série de provas eliminatórias. sentes. Alguns eram depositados no rio
Ao seguirem para o local das competi- Alfeu, enquanto os ofertantes formulavam
ções, os atletas selecionados ouviam as se- pedidos. Os outros eram destinados aos en-
guintes palavras de despedida: "Para carregados dos templos, às divindades e aos
Olímpia: ide ao estádio e mostrai-vos como governantes da Elida.
homens capazes". Uma das mais ricas delegações que
compareceu aos Jogos foi a de Atenas em 420
a.C. Dirigida e financiada pelo general
O momento inicial Alcibíades, apresentou-se com vários notá-
veis ricamente vestidos, sete carros de ouro
para as corridas, centenas de cavalos para o
Um mês antes dos Jogos, uma loucura desfile, grande manada para o sacrifício aos
coletiva percorria a Grécia. Os afazeres eram deuses e alimento da equipe, além de carros
suspensos, pois todos desejavam estar presen- repletos de presentes e provisões.

66
Finalmente, surgia o público propria- Sendo o ambiente propício, com o tem-
mente dito. Por ter Olímpia apenas um edi- po os Jogos transformaram-se em ponto de
fício destinado a abrigar altas personalida- encontro político, onde problemas comuns a
des, os visitantes que não possuíssem essa todos os gregos eram levantados e discuti-
condição acampavam na planície adjacente dos. Os estadistas aproveitavam-se da situa-
em barracas improvisadas, tendas e, freqüen- ção. Passaram a proferir discursos, a divul-
temente, ao ar livre. gar planos e distribuir panfletos. Isso prova
Olímpia transformava-se numa cidade que, em todas as épocas, os homens sempre
temporária repleta de entusiasmo e de grupos serão movidos pelos mesmos interesses.
heterogêneos. Comerciantes vendiam peixes, Vários autores afirmam que os Jogos
carnes, frutas frescas, nozes, tâmaras, vinho, Olímpicos eram promovidos com nobreza e
etc. Havia instalação de barracas onde eram distinção. Outros asseguram que não eram
vendidas peças de cerâmica, madeira, bronze, festas agradáveis como possa parecer. A água
miniaturas de imagens dos deuses, estatuetas era escassa e, por certo, as oferendas deposi-
com motivos esportivos, toalhas de linho, te- tadas nos altares do bosque sagrado deviam
cidos, roupas prontas, etc. atrair insetos e exalar mau cheiro.
Enquanto alguns aproveitavam para Embora o festival fosse realizado na
ostentar suas riquezas, outros ansiavam pelo época mais quente do ano, era proibido co-
aplauso. Às vezes essa ânsia de notoriedade brir a cabeça. A longa exposição ao sol acar-
acabava provocando o ridículo. Consta que retava sérios problemas físicos. Uma das ví-
o pintor Zeuxis, um dos mais ilustres da timas foi Tales de Mileto, um dos sete sábios
Grécia, foi objeto de críticas e zombarias por da Grécia. Filósofo, matemático, físico, astrô-
ter-se apresentado em Olímpia com uma rica nomo e um dos fundadores da ciência gre-
vestimenta tendo às costas seu nome borda- ga, morreu de insolação em Olímpia.
do em letras de ouro. Mas isso não impedia que os gregos
Filósofos, poetas, escritores, oradores, comparecessem prazerosamente. Nada os
pintores, escultores compareciam para di- atemorizava. Acreditavam que lá estariam
vulgar sua cultura e sua arte. O filósofo sempre seguros, sob a guarda de Zeus
Platão sempre foi um dos mais aplaudidos, Xênios, o protetor de hóspedes e estrangei-
por servir de exemplo para todos os helenos. ros. Terminadas as competições sagradas,
Foi um homem que aliou a beleza física a pelos quatro anos seguintes Olímpia mergu-
um profundo saber. lharia novamente na paz e no silêncio.

67
Õ11HS11Í

As leis dos Jogos


Os gregos foram também responsáveis pela criação dos regulamentos, das leis, do respeito
à disciplina e da ordem no esporte. Para o atleta estar credenciado a participar dos Jogos
Olímpicos, precisava obedecer a um código, cujos itens eram severamente observados.
1 - Ser cidadão livre; nem escravo, nem estrangeiro (ou meteco).
2 - Não ter sido punido pela justiça, nem ter moral duvidoso.
3 - Dentro do prazo legal, inscrever-se para o estágio no ginásio de Elis. Cumprir o período de
concentração, passar pelas provas classificatórias e prestar o juramento.
4 - Todo retardatário estará fora da competição.
5 - As mulheres casadas são proibidas de assitirem aos Jogos ou subirem ao Altis sob
pena de serem atiradas do rochedo Typeu.
6 - Durante os exercícios e desenvolvimento das competições no estádio, os treinadores de-
verão permanecer num recinto a eles destinado, próximo ao local da prova.
- É proibido matar o adversário ou provocar sua morte voluntária ou involuntariamente.
8 - É proibido perseguir fora dos limites determinados, empurrar o adversário ou utilizar contra
ele um comportamento desleal.
9 - É proibido amedrontar.
10 - Toda corrupção de árbitro ou de participante será punida com chicote.
11 - Todo concorrente contra quem não se apresentar o adversário, será considerado ven-
cedor.
12 - É proibido ao participante rebelar-se, publicamente, contra as decisões dos juizes.
13 -Todo concorrente descontente com uma decisão poderá recorrer ao senado olímpico
contra os árbitros. Estes, ou serão punidos, ou sua decisão será anulada se ela for
considerada errada.
14 - Será considerado fora de concurso qualquer um dos membros do colegiado de juizes.

68
>F~ l

A violação dos regulamentos era pu- gicos. Preferencialmente eram usados chico-
nida de acordo com a falta cometida. As san- tes nos locais de competição. Infrações nas
ções podiam ser de quatro espécies: políti- lutas, pugilato e pancrácio, bem como saída
cas, econômicas, esportivas e corporais. falsa nas corridas, eram punidas com casti-
As penas políticas aplicavam-se aos gos corporais.
que cometiam infrações de caráter bélico ou Com referência ao quinto item do có-
político. A falta de pagamento dessas puni- digo, por serem consideradas criaturas infe-
ções impedia a participação nos Jogos Olím- riores, as mulheres eram proibidas de assis-
picos. tir ao espetáculo realizado quadrienalmente
As sanções econômicas eram as mais no vale sagrado. Esse privilégio era privati-
comuns e podiam ser penas exclusivas, aces- vo de homens e deuses.
sórias ou substitutivas de uma penalidade Há quem assegure que o impedimen-
de outra natureza. Punições assim eram gra- to atingia somente as mulheres casadas. As
vadas em locais por onde as procissões pas- virgens podiam comparecer para aprender a
savam obrigatoriamente. O nome do infra- admirar o sexo oposto e adquirir gosto pelo
tor e de sua cidade natal eram bem visíveis, casamento. Segundo Pausânidas, as jovens
o que servia de muda advertência aos com- assistiam às provas eqüestres, porque po-
petidores. A vitória lhes proporcionava fama, diam atingir o hipódromo sem necessidade
mas a punição provocava marginalização e de atravessar o Altis.
vergonha. Toda mulher casada encontrada no lo-
A mais comum pena esportiva era a des- cal dos Jogos seria atirada ao mar, do alto do
classificação, geralmente aplicada aos que pro- rochedo Typeu, sem qualquer julgamento. A
vocassem a morte do adversário ou tivessem proibição foi violada apenas uma vez. A única
um comportamento ignóbil. Pausânias regis- mulher casada cuja presença era permitida e
trou que, num combate difícil, Ico de Epidauro via as provas de um lugar especial era a sacer^
veio a falecer na luta, em virtude dos golpes. dotisa da deusa Deméter. Essa divindade era
Como punição ao vencedor Cleomedes, não filha de Cronos e Réia. Deusa da fertilidade,
lhe foi outorgada a coroa de ramos de oliveira da terra cultivada e da germinação do trigo,
e ele enlouqueceu de tristeza. seus atributos eram a espiga e o narciso. Do
As penas corporais, comumente regis- casamento com lasão, Deméter deu à luz Pluto,
tradas nos desenhos da época, abrangiam deus da abundância. De uma união com Zeus
aspectos dogmáticos, esportivos e pedagó- nasceu Perséfone, que surgia como explicação
do ciclo das estações, nos dramas litúrgicos pa. Entrava no Al tis pela porta do Sul e era
representados durante o culto a Deméter. recebido calorosamente pela multidão.
Todos os dias de competição iniciavam-
se com procissões no Altis e sacrifícios às di-
programação vindades. Das várias versões existentes, os es-
pecialistas concluíram que, no período em que
os Jogos atingiram seu apogeu, os eventos de-
Durante vários anos a programação senvolviam-se da forma descrita a seguir:
durou apenas um dia, no qual se desenvol-
viam as cerimônias religiosas e a corrida do PRIMEIRO DIA
estádio. Com a inclusão de outras provas, o
tempo de duração foi aumentado gradativa- Cerimônia de abertura.
mente, até atingir o máximo de sete dias. Dividia-se em duas partes, sendo a pri-
Embora as competições esportivas fos- meira inteiramente dedicada às atividades re-
sem a base do programa olímpico, o caráter ligiosas. Uma procissão saía do Pritaneu, diri-
religioso era muito acentuado, porque os Jo- gindo-se ao bosque sagrado onde, junto aos
gos sempre representaram um ato sagrado altares, os sacerdotes recebiam as oferendas.
em honra a Zeus. Guardavam os tesouros nos templos e, em se-
A maior festividade da Grécia Antiga guida, celebravam os ritos expiatórios ao ar li-
iniciava-se no momento em que todos os vre. Coroados com guirlandas de flores, imo-
participantes deixavam Elis rumo à sede das lavam bois: chifres eram pintados de dourado
competições. Alguns autores afirmam que a e borrif ados com farinha, cevada e sal. A carne
viagem era feita dois dias antes dos Jogos. era cozida e servida num banquete Queima-
Outros, que se processava na véspera da ce- vam as vísceras sobre incenso e as imolações
rimônia de abertura. Mas as opiniões coinci- eram acompanhadas do som de flautas, pre-
dem num detalhe: ao final do estágio obri- ces e cantos. Encerrados os sacrifícios religio-
gatório, após a seleção dos concorrentes, sos, iniciava-se a segunda parte da cerimônia.
separação por categorias e organização das O cortejo rumava para o Buletério,
provas, helanóicas, atletas e treinadores, a onde atletas e seus pais, helanóicas, treina-
cavalo ou em carros, percorriam a "via sa- dores e todos os que, de uma forma ou de ou-
cra", estrada que unia Elis a Olímpia. O cor- tra estivessem ligados aos Jogos, prestavam
tejo chegava à cidade-sede com grande pom- juramento solene, com os braços estendidos

70
em direção à estátua de Zeus Hórkios, o Zeus se primeiro dia realizavam-se, também, as
vingador. provas para arautos e trombeteiros.
Depois, seguiam para o estádio e par-
ticipavam do grande desfile, que só era inici- SEGUNDO DIA
ado quando todos os espectadores estives-
sem em seus lugares. À frente iam os arautos, Corridas pedestres:
tocadores de trombetas e flautas. Seguiam- Dromo, diaulo e dólico.
nos os helanóicas, as delegações oficiais, atle-
tas, treinadores, demais participantes, cava- TERCEIRO DIA
los e carros. Findo o desfile, os atletas
alinhavam-se no centro do estádio e um arau- Nesse terceiro dia era disputado o
to chamava cada um deles, mencionando pentatlo, chave de ouro das provas de atle-
também o nome do genitor e a cidade de ori- tismo.
gem. O indivíduo dava um passo à frente e, à Pela manhã, altas personalidades e
menção dos mais famosos, o público aplau- atletas colocavam-se diante do Pritaneu, em
dia com entusiasmo. cujo interior a sacerdotisa oferecia um sacri-
Alguns autores dizem que após a di- fício à deusa Héstia. Ao final da cerimônia
vulgação do nome, o atleta se aproximava do um sacerdote entoava o hino a Zeus, com-
helanóica, ajoelhava-se e, com a mão direita posto especialmente para a ocasião por um
levantada, pronunciava o juramento, alegan- dos grandes poetas gregos. A procissão diri-
do que não violara o código olímpico. gia-se ao grande altar da divindade, sendo
Terminadas as apresentações, o anun- que a multidão distribuía-se pelo Altis. Vá-
ciador bradava aos espectadores que denun- rios sacerdotes, solenes, acendiam uma imen-
ciassem os atletas que não possuíssem con- sa fogueira. Ocorria, então, o momento mais
dições de participar dos Jogos, fosse por importante de todas as cerimônias religiosas.
nascimento dito impuro, pena criminal, mo- Era realizada a hecatombe (matança de cem
ral duvidosa ou comportamento indigno. É bois), que era o maior sacrifício em honra ao
evidente que tal fato jamais ocorreu. Os senhor do Olimpo. Enquanto os sacerdotes
helanóicas observavam com rigor essa exi- procediam à sangria dos animais, vários hi-
gência na fase preparatória em Elis. Com essa nos eram entoados e os fiéis dançavam ao
pergunta, estava encerrada a cerimônia de redor do altar.
abertura. Certos autores registram que nes-

71
QUARTO DIA Solenemente, era colocada em sua cabeça a
coroa de ramos de oliveira.
Luta, pugilato e pancrácio. A cerimônia revestia-se de grande dig-
nidade. A multidão permanecia no mais
QUINTO DIA absoluto silêncio, ouvindo atentamente os
discursos das autoridades. Findo o ritual, e
Provas para jovens. sob grande ovação, os vencedores conduzi-
dos pelos helanóicas seguiam para o templo
SEXTO DIA de Zeus. Ali ofereciam suas últimas ações de
graças, depositavam as coroas aos pé da es-
Corridas de carros e corridas de cava- tátua da divindade e viam seus nomes se-
los montados assinalavam, no hipódromo, o rem gravados no calendário grego. Esse era
final das competições esportivas. o grande momento, pois o título de "olim-
piônico" era a maior ambição de todos os
SÉTIMO DIA atletas. Os vencedores eram assim designa-
dos porque a denominação olímpico era so-
Cerimônias de encerramento dos Jo- mente dada aos deuses.
gos Olímpicos Paralelamente, uma revoada de pom-
Se os helanóicas passavam quatro bos brancos anunciava o final dos jogos es-
anos preocupados com a jornada" olímpi- portivos. Livres, também, pombos-correios
ca, dedicavam-se com- 'maiorentusiasmo rapidamente dirigiam-se para todos os pon-
aos preparativos da1 apoteose final. tos do horizonte a fim de levarem ao conhe-
Uma grande procissão dirigia-se ao cimento dos povos helenos os nomes dos
bosque sagrado, pois no Pórtico'de Eco, à vencedores. Precediam em muitos dias o re-
frente do templo de Zeus, seriam proclama- torno às cidades e aldeias dos atletas cam-
dos os campeões. Os vitoriosos, vestidos com peões festejados em Olímpia. Assim, era pos-
túnicas bordadas em ouro e prata, aguarda- sível preparar grande recepção.
vam compenetrados o momento da sagração. Nesse momento os Jogos Olímpicos
Um arauto divulgava ó nome do "olim- estavam oficialmente encerrados. À noite era
piônico" junte com o dó pai e o da cidade oferecido, no Pritaneu, um farto banquete,
que ele representava. O atleta, a passos len- onde bebidas e alimentos eram servidos sem
tos,; caminKaya em direção aos helanóicas. restrição. Assim Píndaro se referiu à festa:

7-2 i
"Quando, ao anoitecer, a formosa Selene en- vida. Em Olímpia, competir apenas não satis-
via sua bela luz, durante todo o banquete fazia, pois não havia prêmios para o segundo
todo o bosque ressoa com as notas do canto nem para o terceiro colocado. Embora nos Jo-
vitorioso". gos Olímpicos só fossem premiados os vence-
No dia seguinte, processava-se o ritual dores, um antigo aforismo grego dizia que
de preparação dos novos heróis. Devidamen- "para ganhar é preciso saber perder".
te banhados, massageados com óleo e vesti- Segundo Píndaro, em Olímpia somen-
dos com roupa de gala, subiam em carros te a vitória importava. Sobre o perdedor, ele
puxados por cavalos brancos. Conduzindo- assim se expressou: "Ele anda furtivamente,
os, retornavam escoltados às suas cidades. golpeado pela má-sorte. Nenhum sorriso
Havia festas em todos os lugares por onde amável saúda seu retorno".
passavam. Cercados de gentilezas, eram
sempre alojados no local mais importante,
pois os anfitriões sentiam-se honrados em Organização e Financiamento
hospedá-los.
Sob uma chuva de flores e ao toque de
trombetas, os campeões entravam em suas Os autores antigos nada mencionam a
cidades por uma brecha cavada na muralha. respeito do financiamento dos Jogos Olím-
A origem desse hábito prendia-se ao fato de picos. No entanto, é certo que em outros fes-
os gregos acharem que o "olimpiônico" era tivais esportivos a responsabilidade era de
um cidadão que recebera sinais de graça di- um rico cidadão chamado "remunerador".
vina, sendo favorecido com o dom da Assumia publicamente o encargo e sua pro-
invencibilidade. Tratava-se, portanto, de um jeção social era beneficiada quando não me-
semideus e não poderia usar a passagem dia esforços nem dinheiro para valorizar o
destinada a homens comuns. Merecia uma evento. De início gastava apenas de sua pró-
entrada especial. pria fortuna, mas com o tempo recorreu a
Finda a recepção da chegada, o cortejo outras fontes de renda, como doações ou sub-
rumava para o templo da comunidade e o atle- venções imperiais.
ta, novamente, ofertava sua coroa à divindade. É possível que, isoladamente, cada de-
O título de "olimpiônico" era almejado e res- legação oficial tivesse um financiador. Nada
peitado. Unido ao nome de um indivíduo, as- foi escrito com referência aos Jogos Olímp:~
segurava-lhe estima e consideração por toda a cos sobre a utilização de qualquer forma de
arrecadação. Para alguns autores, talvez em a serem aplicadas aos atletas infratores, es-
Olímpia as dotações adviessem dos abun- tátuas que deveriam ser erigidas, além da
dantes presentes ofertados ou, ainda, do pa- supervisão dos funcionários subalternos.
gamento de ingressos. A direção das competições, que inicial-
Os Jogos Olímpicos eram cuidadosa- mente estava confiada a magistrados de Pisa,
mente preparados, dirigidos e desenvolviam- a partir da sétima olimpíada (748 a.C.) ficou
se sob perfeita organização. Os escritórios ad- a cargo dos senadores de Elis, os helanóicas,
ministrativos situavam-se em Elis, e o núcleo figuras imparciais que conservaram esse pri-
de comando era constituído de pessoas proe- vilégio até os últimos Jogos da Antigüidade.
minentes da Elida. Por se tratar de manifesta- Eles iniciavam suas atividades vários meses
ção religiosa e esportiva, havia participação de antes das competições. Estudavam os regu-
pessoal numeroso e especializado. lamentos elaborados por mestres em tradi-
O aspecto religioso era responsabilida- ções olímpicas e recebiam instruções sobre
de dos teólogos, sacerdotes, sacerdotisas, vi- tudo que envolvia as festividades e eventos
gários, escravos, etc. Os teólogos olímpicos esportivos.
exerciam as mais elevadas funções diretoras. No estágio em Elis, junto com treina-
Eram designados três para cada festival, e dores, assistiam aos exercícios diários, diri-
sob suas ordens trabalhavam indivíduos in- giam os treinos, julgavam o mérito e a possi-
feriores na hierarquia religiosa. bilidade de participação dos inscritos,
Os mais respeitados eram os adivinhos, presidiam as provas de seleção dos compe-
pois, na Antigüidade, dava-se muito valor às tidores, separavam-nos por categorias e ins-
profecias. Eles eram muito solicitados, e, além pecionavam as instalações esportivas de
do atendimento constante ao público, deve- Olímpia.
riam participar dos sacrifícios às divindades. Por um sistema de exclusão mantinham
Em face do grande número de especta- apenas os atletas mais formosos e donos de
dores, havia severo policiamento. O chefe de melhor técnica. Esse critério tornava a festa
polícia e seus auxiliares eram responsáveis mais grandiosa e excitante. Durante as compe-
pela guarda e vigilância de Olímpia. tições em Olímpia presidiam o sorteio de es-
O senado olímpico analisava a presta- colha das duplas nas provas de ataque e defe-
ção de contas feita pelos sacerdotes, cuidava sa, decidiam sobre o vencedor (o veredito fi-
da reforma dos templos e locais sagrados, nal era decisão de três helanóicas) e outorga-
decidia sobre recursos interpostos, sanções vam as coroas de ramos de oliveira.

74.
Ao final das competições, eles inscre- alongada, sendo a parte aberta voltada para
viam nos registros olímpicos dados referen- o Al tis. O local era amplo e consta que che-
tes ao campeão: categoria, prova em que foi gou a abrigar sessenta mil pessoas.
vitorioso, seu nome, cidade de origem e nome As altas autoridades ficavam na tribu-
do genitor. Ao final do estágio obrigatório na de honra, protegidas por uma espécie de
em Elis, os helanóicas, seguidos por todos grade que as isolava da massa popular. As
os concorrentes classificados, dirigiam-se delegações oficiais sentavam-se nos primei-
para Olímpia. ros lugares, às vezes sobre bancos individuais
e confortáveis almofadas. Os treinadores
permaneciam em local a eles reservado e os
Em busca dá vitória demais espectadores espalhavam-se pelos
declives da relva. Muitos passavam a noite
ali, para conseguir um bom lugar no dia se-
A maior festa esportiva da Antigüida- guinte. Em 180 da era cristã, ao redor da pis-
de apresentou, em diferentes momentos, vá- ta, foi construída uma arquibancada com
rias modalidades de competição, entre elas: muitos degraus, que proporcionou maior
comodidade ao público.
Corridas A pista de corrida era retangular, co-
berta de areia e dividida, no sentido do com-
Esse foi o mais antigo e popular espor- primento, em raias que mediam cerca de 1,25
te grego. Durante cinqüenta e dois anos dis- metro de largura. O início e o fim da pista
putou-se apenas uma corrida rasa, no único eram marcados por longas lajes de pedra, que
dia de duração dos Jogos Olímpicos. Com o possuíam canaletas com orifícios, para encai-
tempo e o aumento de participantes, os atle- xar pequenos postes de madeira. Nas corri-
tas previamente selecionados no estágio de das mais curtas, os postes serviam de meta.
Elis adquiriam o direito de competir nos Jo- Quem primeiro os tocasse era considerado
gos Olímpicos. vencedor. Nas longas distâncias, os postes
Em Olímpia, as competições iniciavam- eram ponto de virada.
se pela manhã, ao raiar do sol. Os concor- Essas lajes eram as linhas de saída. A
rentes participavam de séries eliminatórias que estava situada a leste recebia o nome de
e os vencedores disputavam a prova final. O nphesis, que significa "ato de soltar, partida".
estádio possuía a forma de uma ferradura A outra, posicionada a oeste e mais próxima

75
do altar de Zeus, chamava-se terma, que sig- tado por um auxiliar do juiz de partida de-
nifica "fim, término, meta". nominado "porta-chicotes".
Todas as corridas terminavam na linha Nos Jogos Olímpicos disputavam-se as
terma. Segundo Pausânias, esse costume teve seguintes corridas:
suas raízes nos primeiros Jogos Olímpicos,
oportunidade em que a corrida era realiza-
da no Altis. Finda a prova, o vencedor rece-
bia a tocha da mão do sacerdote para acen-
der a fogueira dos sacrifícios. Mais tarde, a
prova passou a ser disputada fora do bos-
que sagrado, mas a tradição foi mantida.
O dromo era a única prova cuja saída
ocorria no marco aphesis. Ao toque de trom-
beta, os atletas apresentavam-se aos hela-
nóicas e efetuavam o sorteio das séries. Cada
série era disputada por quatro concorrentes.
Antes do início da prova, soava novo clarim.
O anunciador divulgava o nome de cada par-
ticipante, de seu genitor e cidade de origem.
A seguir os atletas posicionavam-se na linha
de saída. A identificação dos competidores
pelos arautos ocorria em todos os demais
eventos olímpicos.
A técnica de saída não era uniforme,
conforme registram desenhos da época. Por Vaso representando corredores de Dói k
serem mais abundantes as ilustrações de cor-
redores em pé, com leve inclinação do tron- Dromo, que significa "corrida" ou "rua"
co à frente, é provável que fosse essa a atitu- foi a primeira prova olímpica. Por seu senti-
de mais comum. do religioso representou, sempre, o principal
Quando um corredor escapava antes evento esportivo dos Jogos Olímpicos. Cada
do sinal, dando uma saída falsa, esta era anu- olimpíada era batizada com o nome do atle-
lada e o infrator recebia castigo corporal, açoi- ta vencedor do dromo.

*
HA .l -gj, r r? Aí ç y 3

Essa corrida media 192,27 metros e ficou nasse com dedicação, poderia ser tão veloz
conhecida, também, com o nome de "estádio". quanto o filho de um mercador. Por serem
Como em todas as lendas que envolvem os Jo- os demais competidores de condição social
gos, existem duas versões a respeito dessa superior à sua, Corebus entendeu ser
medida. Uma informa que Héracles de Ida, o deselegante vencê-los constantemente nos
"cretense", na base do monte Cronos, marcou treinos. Imaginou um plano para não
e delimitou o percurso que deveria ser cum- melindrá-los e poupar-se fisicamente. Não
prido por seus irmãos — seiscentas vezes o dava o máximo de suas forças nos treinos,
comprimento de seu pé. A outra conta que deixando que os outros o superassem e fi-
Héracles estabeleceu os limites da prova após cassem mais confiantes. No dia da prova,
correr essa distância de um só fôlego. aproximadamente no meio do percurso, uti-
Durante um longo período, nas diver- lizou a reserva física armazenada na fase pre-
sas regiões da Grécia, não havia uniformidade paratória. Sagrou-se vencedor e, num quen-
na extensão das pistas de corrida. Finalmente, te dia de verão do ano de 776 a.C, teve a
a palavra "estádio" foi adotada e passou a ser suprema glória de ver seu nome inscrito com
empregada de três formas: como medida na- letras de ouro sobre o mármore sagrado,
cional de distância; como sinônimo do evento como primeiro campeão olímpico da Anti-
atlético denominado dromo; como edificação güidade.
onde eram disputadas as corridas pedestres e Os traços que marcavam essa vitória
outros eventos esportivos. são identificados com clareza. Corebus me-
O dromo era uma prova de velocida- receu vencer porque, apesar de humilde, sem-
de. Os corredores deslocavam-se nas pontas pre acreditou nas próprias forças. E foi prin-
dos pés, balançavam os braços em movimen- cipalmente essa confiança que o imortalizou.
tos pronunciados, elevando as mãos espal-
madas acima dos ombros. Mantinham o cor- Diaulo ou duplo estádio era outro tipo
po esticado, leve inclinação do tronco à frente de corrida, disputada nos Jogos da décima-
e acentuada elevação dos joelhos. quarta olimpíada, em 724 a.C. Media 384,50
O primeiro campeão olímpico da metros, pois a distância do estádio deveria
Grécia Antiga a ser mencionado nos regis- ser percorrida por duas vezes.
tros públicos foi Corebus, natural de Elis e A saída ocorria na linha terma e o atle-
vencedor do dromo. Era cozinheiro e pen- ta dispunha de duas raias para completar o
sou que, se tivesse boa alimentação e trei- percurso: uma para ir e outra para voltar ao
ponto de partida. Contornava o poste finca- braços junto ao corpo, na altura da cintura.
do à sua frente, mas não podia tomar apoio Durante a corrida apoiava todo o pé no solo
nem dar impulso para levar vantagem sobre e passava o apoio do calcanhar para a ponta
os demais competidores. Os chamados "jui- do pé. O movimento era contínuo e suave,
zes de virada" observavam atentamente e mas na reta de chegada era empregada a
desclassificavam o atleta que efetuasse o con- mesma técnica dos velocistas: movimentos
torno de maneira irregular. Hypnos de Pisa amplos e corrida na ponta dos pés.
foi o primeiro vencedor do diaulo. Akhantos de Esparta foi o primeiro
vencedor olímpico dessa prova. Os escritos
Dólico era uma prova que integrou o pro- da época mencionam que, nesse mesmo
grama a partir dos décimos-quintos Jogos evento, Orsippo enroscou um dos pés na fai-
Olímpicos e era a mais longa das corridas. Por xa que envolvia sua cintura e que se soltara.
causa do árduo treinamento e da grande resis- No esforço para terminar a corrida, desem-
tência física, os corredores do dólico eram de baraçou-se das roupas, cruzou a linha de
muita valia em tempo de guerra. chegada despido e a regra foi a partir daí
Apesar das divergências, a maioria dos adotada. Porém, a arqueologia romana re-
autores assegura que media vinte e quatro ve- gistra que tal fato ocorreu no diaulo.
zes a distância do estádio, ou seja, 4.614 metros. Os Jogos da décima-quinta olimpíada
Era uma prova difícil e deve ter surgi- marcaram também a primeira vitória dos
do por causa dos mensageiros que percor- espartanos. Alcançaram grande supremacia,
riam todo o território grego divulgando no- que só foi quebrada pelos crotonenses mui-
tícias, éditos, comunicando tratados, etc. Por tos anos depois.
não ser permitido o uso do cavalo nessa ati- Ladas de Esparta venceu o dólico em 436
vidade, compreende-se a promoção de uma a.C. Ao atingir o marco de chegada sofreu um
corrida de resistência. A saída e a chegada colapso e morreu. Foi, em atletismo, o único
ocorriam na extremidade oeste do estádio, e vencedor póstumo dos Jogos Olímpicos.
a maior dificuldade estava no contorno dos Autores antigos dizem que Ageu de
postes, que alterava o ritmo da corrida, re- Argos e Drymos de Epidauro, campeões do
tardando os competidores. dólico em épocas diferentes, no mesmo dia
O corredor do dólico associava veloci- em que venceram, percorreram mais de 100
dade a resistência. Mantinha a cabeça er- quilômetros para chegar às cidades de ori-
guida, torso para diante, mãos fechadas e gem. Eles próprios quiseram anunciar aos

78
conterrâneos que haviam conquistado o pri- dos Jogos, usavam pesados calçados e
meiro lugar nos Jogos Olímpicos. polainas de metal. Durante o percurso deve-
riam desembaraçar-se da vestimenta e atin-
Corrida hípica era uma prova de meio- gir nus a linha de chegada.
fundo, que correspondia aos 800 metros ra- A corrida armada era um evento mui-
sos de hoje. O atleta percorria quatro vezes o to árduo, por causa dos incômodos petre-
comprimento do estádio. Recebeu essa deno- chos, calor e peso dos escudos. Estes, todos
minação porque no hipódromo era disputada iguais, permaneciam guardados no templo
uma corrida eqüestre com essa distância. Não de Zeus e, no momento da prova, eram en-
existem muitas alusões a essa prova de vida tregues aos atletas. Embora fosse uma corri-
olímpica curta. da, não integrava o programa de atletismo,
porque se desenvolvia como evento bélico.
Havia ainda a corrida armada ou Para alguns autores, no tempo em que
hoplitodromia, nome este oriundo de hoplita, fez parte da programação, era a última dis-
dado ao soldado da infantaria grega. Segun- ciplina dos Jogos, para caracterizar o objeti-
do Júlio, o Africano, eólios e bárbaros trava- vo guerreiro dos helenos, que usavam o es-
ram uma batalha. De tão acirrada ela conti- porte seriamente, em complemento do
nuou, apesar da trégua sagrada. Quando os preparo militar. Filostrato mencionou que
eólios venceram, um dos guerreiros deixou essa colocação servia para advertir os cida-
o campo de luta e, completamente armado, dãos de que o tempo de paz terminava e era
correu para Olímpia, a fim de comunicar a necessário retomar as armas e defender a pá-
vitória. Por chegar ao estádio em roupas tria. Para o público, era mais um divertimen-
guerreiras, a prova passou a ser realizada to que uma prova esportiva e, apesar de ter
para comemorar o fato e festejar a derrota alcançado popularidade, foi suprimida pos-
dos bárbaros. teriormente.
Para Filostrato e Pausânias esse even- O primeiro vencedor da hoplitodromia
to surgiu a partir dos sexagésimos-quintos foi Demarate e, digno de destaque, Leônidas
Jogos Olímpicos, realizados em 520 a.C. A de Rodes, que obteve doze vitórias. Foi pro-
distância a ser percorrida era igual à do clamado tríplice campeão olímpico em qua-
diaulo e os concorrentes participavam com tro jornadas consecutivas — de 164 a 152 a.C.
uma leve roupa de linho, armadura, capace- — nas seguintes provas: dromo, diaulo e
te, lança e escudo. Até os octagésimos-segun- hoplitodromia.

79
jE-^ff! J

No treinamento dos corredores, os gre- Embora representasse uma única pro-


gos empregavam uma grande variedade de va, incluía cinco disciplinas. Não existe in-
exercícios. Antes das provas, os competido- formação exata sobre os regulamentos que a
res faziam uma ginástica preparatória que regiam, nem a ordem em que as modalida-
favorecia o aquecimento muscular e facilita- des se desenvolviam. A hipótese mais aceita
va o trabalho das articulações. é: lançamento do disco, salto em extensão,
Desenhos da fase inicial dos Jogos lançamento de dardo, corrida de velocidade
Olímpicos mostram corredores fortes e ro- e luta. Quem obtivesse mais vitórias nos qua-
bustos. Mais tarde, com a diversificação dos tro primeiros eventos participaria da prova
eventos, houve mais condição de escolha dos final. Dificilmente um lutador conseguia ven-
participantes conforme o biotipo. cer. Esse privilégio era, normalmente, de um
corredor ou saltador, daí concluir-se que a
luta deveria ser, com efeito, a última disci-
plina do pentatlo.
Pentatlo O lançamento do disco era muito apre-
ciado pelos gregos e praticado muito antes
de sua inclusão como disciplina olímpica.
Integrava, também, o programa de Era considerado exercício elegante, que pro-
atletismo um evento chamado de pentatlo porcionava o desenvolvimento harmonioso
(pente= cinco; azion- luta). Prova difícil que do corpo humano.
exigia excelentes qualidades físicas e muito Originariamente, os discos emprega-
treinamento. O participante deveria ser um dos como arma de guerra eram usados nas
atleta completo: esbelto, veloz, flexível, dono competições esportivas. Tratava-se de peças
de musculatura rígida, potente e bem desen- rústicas que, mais tarde, passaram a ser fa-
volvida. Para Aristóteles eram os mais belos bricadas em bronze. Em alguns deles estava
dentre todos os que competiam em Olímpia. gravada a figura de um pássaro, talvez pelo
Foram muito solicitados pelos artistas, que fato de o disco cortar os ares como uma ave.
os reproduziam, de preferência lançando dis- O peso e o diâmetro variavam conforme
co e dardo. a categoria do arremessador. Os atletas treina-
O pentatlo surgiu nos décimos-oitavos vam com seus próprios implementos, mas nas
Jogos Olímpicos, realizados em 708 a.C. O competições em Olímpia deviam usar discos
primeiro vencedor foi Lampis de Esparta. oficiais. Eram peças redondas, achatadas, mais
fcj
finas nas bordas que no centro. Permaneciam salto, após o balanceamento de braços. Ou
guardadas na sede dos Jogos, num dos erári- se era com impulso, sendo o salto executado
os. Em Olímpia foi encontrado um exemplar após uma corrida prévia.
de bronze, que tinha 32 centímetros de diâme- Com segurança sabe-se que o saltador
tro e pesava 6,63 quilos. atuava segurando dois halteres fartamente
Cada participante fazia três lançamen- mencionados nas narrativas e registrados
tos. A técnica não pode ser bem definida, em nos desenhos da época. Feitos em pedra ou
face da grande variedade de informações e ilus- chumbo, possuíam forma e peso que varia-
trações de atletas nas mais diversas posições... vam de acordo com a categoria e a complei-
Para alguns autores, havia um peque- ção física do atleta. Deveriam adaptar-se às
no espaço para o atleta tomar impülao. Con- èxigêndaslndividuais para permitir melho-
cluía o arremesso na linha Aphésis e lança- res resultados. Alguns eram peças achatadas
va o disco em direção ao santuário de Zeus. c0m formato de rim e possuíam um orifício
Quem pisasse a linha>-fronteiriça derhar- ;que permitia'uma empunhadura mais firme.
catória seria desclassificado. Pára o arremes- Outros eram-iguais aos halteres de hoje e
so ser válido, o disco deveria cair dentro de havia ainda exemplares com formato de um
um setor determinado. Trata-se,:portanto, de pequeno sabre ê maior peso na parte dian-
uma prova que associava força a precisão. O teira. Nas escavações de Corinto foram en-
próprio atleta fazia a marcação do lançamen- contrados implementos de 1,35 a 1,9 quilos,
to, cravando no terreno uma estaca ou um mas p peso poderia chegar até 2,5 quilos.
pino de metal. Aprova de salto em extensão decorria
O mais célebre arremessaddr da Anti- ao som da ária pítica, criada em homenagem
güidade tinha o nome de Phayllus e existem a Apoio e executada em flauta dupla. Segun-
referências de que ninguém conseguiu su- do as lendas, o deus da luz obteve diversas
perar sua marca. Lançou o disco a 30,44 vitórias nessa prova e os gregos acreditavam
metros. que, sendo homenageado, protegeria o atle-
ta e favoreceria o resultado. A música pro-
O salto em extensão era praticado nos porcionava, também, sincronização de mo-
Jogos Olímpicos apenas como integrante do vimentos.
pentatlo. Não se sabe ao certo se era uma A melhor marca olímpica dessa prova
prova sem impulso, na qual o atleta perma- manteve-se em poder de Quionis de Esparta,
necia parado numa plataforma e efetuava o que registrou 16,66 metros. Esse resultado

•81
nunca foi igualado em nenhum dos jogos çamento. Quem ultrapassasse a linha demar-
gregos e originou uma terceira corrente de catória era desclassificado. O dardo precisava
opinião, que defende a idéia de ter sido uma cair dentro de um terreno delimitado e vencia
espécie de salto triplo a variante que inte- quem o lançasse mais longe. Era, portanto, uma
grava o pentatlo nos Jogos Olímpicos. Por prova que, a exemplo do lançamento do disco,
sua elegância, o salto em extensão foi o even- associava alcance e precisão.
to mais representativo do pentatlo. A sincronização de movimentos, elegân-
cia na execução e a beleza do lançamento eram
O lançamento ao dardo, atividade bélica considerados. Nos octagésimos-segundos Jo-
e de caça, transformou-se em disciplina es- gos Olímpicos (436 a.C.) Eumines de Corinto
portiva. As lanças adotadas nas competições foi desclassificado, apesar de ter lançado o dar-
eram menores e mais leves do que as dos do muito mais longe do que os demais con-
soldados, embora confeccionadas da mesma correntes. Recorreu ao senado olímpico mas a
forma: corpo de madeira e aguda ponta de decisão inicial foi mantida por unanimidade.
metal. Possuíam 3 centímetros de espessura, Os juizes alegaram que Eumines concluíra o
mas existem divergências quanto ao compri- arremesso de maneira grotesca, pois perdera o
mento. Alguns autores afirmam que media equilíbrio e caíra ao solo.
cerca de 2 metros, outros que correspondia à
altura do atleta. Na corrida a prova disputada no pen-
Uma estreita tira de couro medindo tatlo era o dromo ou estádio.
cerca de 50 centímetros era enrolada no cen-
tro de gravidade do dardo. Possuía uma ar- A luta era um combate refinado e gra-
gola ou laçada na ponta, por onde o arre- cioso, mais parecido com um espetáculo
messador passava o dedo médio. Na hora do acrobático. As pinturas e esculturas represen-
lançamento essa correia era puxada brusca- tativas mostram certos detalhes técnicos que
mente, imprimindo ao dardo um movimen- figuram no esporte atual.
to de rotação, que dava estabilidade a sua tra- Para a maioria dos autores representa-
jetória. Para melhor compreensão, a técnica va apenas a última disciplina do pentatlo.
pode ser associada à do "rodar pião", brin- Para Plutarco era a mais artística das provas
quedo comum de crianças. olímpicas. Enquanto os lutadores propria-
Nos Jogos Olímpicos, o atleta efetuava mente ditos eram fortes e pesados, os
uma corrida para tomar impulso antes do lan- pentatletas que se defrontavam na luta eram,

82
geralmente, esguios, harmoniosos, hábeis e A técnica da luta era ensinada pelos
elásticos. agonistarcas das palestras das respectivas
Integrava o pentatlo a luta vertical. Os cidades e, antes dos Jogos, no estágio obriga-
lutadores participavam despidos e o corpo tório de Elis.
era untado com óleo. Para protegerem os ca- Sacos de couro com areia permaneciam
belos do contato com a areia, muitos deles suspensos no teto e auxiliavam nos treinamen-
cobriam a cabeça com uma espécie de touca tos. Impulsionados, atingiam os atletas no peito
de pele de cão. e isso contribuía para fortalecer o equilíbrio.
A luta era praticada a mãos limpas e a Um único lutador conseguiu vencer o
agilidade sobrepunha-se à força bruta. Ca- pentatlo. Foi o espartano Eutelides, nos tri-
racterizava-se por rápidos desvios, pois o gésimos-oitavos Jogos Olímpicos (628 a.C.).
importante era escapar do oponente. Agar- Vários outros pentatletas ficaram famosos
ravam-se pelos braços, com rasteiras e cabe- por terem sido campeões em Olímpia e em
çadas. Um dos golpes mais usados recebeu outros festivais esportivos.
o nome de "presa de Héracles", seu prová- Como integrante do pentatlo, a luta
vel criador. O lutador prendia o adversário estreou em 708 a.C. A partir daí alternavam-
pela cintura suspendendo-o e, a seguir, o pro- se as lutas vertical e horizontal. Finalmente,
jetava ao solo. ficou estabelecido em definitivo que apenas
A corrente mais aceita assegura que era a luta vertical integraria a prova atlética com-
declarado vencedor quem conseguisse der- binada. Com o pentatlo, o programa de atle-
rubar o oponente por três vezes. Mas alguns tismo dos Jogos Olímpicos estava completo.
autores mencionam que o combate acabava
quando "qualquer parte do corpo, exceto os
pés, entrasse em contato com o solo".
A prova desenvolvia-se num círculo Ataque e defesa
arenoso que era revolvido com uma espécie
de picareta, para amortecer as quedas. Ao lu-
tador que se sagrasse vencedor sem ser der- Luta, pugilato e pancrácio eram espor-
rubado pelo adversário era outorgada a vi- tes de ataque e defesa, despertando muito
tória sagrada. A coroa de ramos de oliveira interesse e alcançando grande prestígio. De-
não ficava em seu poder — era oferecida aos ram origem à luta greco-romana, ao boxe e à
deuses. luta livre disputados atualmente.

83
l
A denominada luta horizontal era a ções, mas as chaves de perna e golpes baixos
mais divulgada. Sabe-se que representava eram proibidos. Vencia quem conseguisse
modalidade específica no programa olímpi- manter a espádua do oponente junto ao solo
co, embora não haja menção quanto à data por três vezes, ou o obrigasse a desistir por
de sua estréia como evento isolado, nem so- cansaço ou lesão. O tempo não era fixo, e, cons-
bre o nome do primeiro campeão. tantemente, os combates eram intermináveis.
Um sorteio definia os lutadores que Na arte cerâmica dos primeiros tem-
deveriam defrontar-se. Luciano de Samosate pos dos Jogos Olímpicos, os lutadores eram
descreveu a escolha das duplas: dentro de representados como atletas de físico harmo-
urna urna de prata consagrada a Zeus, eram nioso e musculatura flexível. Já no início da
colocadas fichas onde estavam gravadas le- era cristã, transformaram-se em montanhas
tras do alfabeto em duplicata. O atleta diri- de músculos e gordura, chegando mesmo à
gia uma prece a Zeus e a seguir retirava sua obesidade.
ficha. Mantinha a mão fechada. Depois que Leontisco de Micenas, bicampeão olím-
todos haviam feito o sorteio, os lutadores pico, punha os adversários fora de combate
formavam um círculo e um dos juizes divul- quebrando-lhes os dedos. Hipóstenes de
gava o resultado. Os que possuíam letras Esparta obteve seis vitórias olímpicas e foi
idênticas defrontavam-se. Quando havia nú- adorado como um deus por seus contempo-
mero ímpar de atletas era acrescentada uma râneos, que chegaram a erguer-lhe um tem-
ficha avulsa. Quem a sorteasse aguardava o plo. Seu filho também venceu em cinco jo-
momento da luta final e levava uma grande gos consecutivos. Amesinas, campeão nos
vantagem, porque combatia descansado. O octagésimos Jogos (460 a.C.) era pastor e tor-
sistema adotado era o de eliminatórias sim- nou-se conhecido pelo aspecto pitoresco que
ples. Os vencedores continuavam disputan- envolvia seu treinamento. Preparava-se lu-
do, enquanto os perdedores iam sendo eli- tando com os mais vigorosos touros do seu
minados. rebanho.
A maioria dos autores informa que os Mas nenhum lutador da Antigüidade
contendores iniciavam a luta em pé e, quando comparou-se a Milon. Era natural de Cro-
um deles perdesse o equilíbrio, o combate pros- tona, cidade da Magna Grécia famosa por
seguia no solo. Estudavam-se demoradamente seu clima saudável e pela escola pitagórica.
antes de tentar uma aproximação. Usavam Além de importante centro de descobertas
chaves de braço, de pescoço, de tronco e proje- científicas, a filosofia adotada por Pitágoras

.8,4:
A primeira vitória de um lutador de
Crotona ocorreu nos Jogos que consagraram
a vigésima-sétima olimpíada (672 a.C.). Du-
rante muitos anos foram tão superiores nas
corridas que, de oito finalistas classificados
em Olímpia, sete eram crotonenses. O pre-
paro físico e a saúde de seus atletas eram tão
evidentes que, na época, foi criado o adágio:
"sadio como um crotonense".
A cidade forneceu grande número de
campeões olímpicos e Milon foi um deles.
Autor de uma obra intitulada Physiká e alu-
no predileto do grande filósofo e matemáti-
co Pitágoras, ele alcançou a celebridade, não
por seus dotes culturais, mas por sua força
descomunal.
Fez sua estréia jovem, nos quinqua-
gésimos-sétimos Jogos Olímpicos (552 a.C.) e
tornou-se vencedor. Como adulto venceu seis
vezes em Olímpia, seis em Delfos, nove em
Neméia e dez em Corinto. Conservou durante
vinte e quatro anos o título de "homem mais
forte da Grécia" e o de "mais colossal que ja-
mais existiu". Era o protótipo de Héracles, e
das várias histórias que envolvem seu nome
Se/o comemorativo representando o lutador destacam-se as que se seguem.
Milon de Crotona Alimentava-se diariamente com 6,5
quilos de carne, 6,5 quilos de pão e três litros
e transmitida nesse estabelecimento entu- de vinho, sendo que essa quantidade foi au-
siasmou os jovens gregos. Um dos grandes mentando com o passar do tempo. Prepara-
méritos de Crotona foi ter quebrado a hege- va-se com longas caminhadas, levando um
monia esportiva de Esparta. pequeno bezerro nos ombros. Esse exercício

85
era diário e executado sempre com o mesmo bros. Reforça a afirmativa falando da atitu-
animal, durante os quatro anos que separa- de infantil que provocou sua morte.
vam os Jogos Olímpicos. O bezerro aumen- Num campo de Crotona, Milon encon-
tava de peso gradativamente e, dessa forma, trou uma árvore separada ao meio e manti-
Milon apurava sua força. Sendo real essa afir- da aberta por pranchas de cunhar moedas.
mativa, trata-se do primeiro treinamento com Colocando as mãos na fenda, reuniu forças
base científica de que se tem conhecimento. e, num impulso, afastou as duas partes da
Em Olímpia, após cada vitória, trans- árvore. As pranchas caíram, as metades se
portava nos ombros o touro de quatro anos. juntaram e Milon permaneceu com os bra-
Dava a volta ao estádio e, enquanto alguns ços presos. Apesar de seus esforços não con-
dizem que matava o animal com um soco na seguiu libertar-se. Vencido pelo cansaço, foi
testa, outros asseguram que o depositava devorado pelos lobos, abundantes na região.
diante do sacerdote para ser sacrificado em Esse foi o melancólico fim do mais famoso
homenagem ao seu sucesso. Depois de cozi- lutador da Grécia Antiga.
do, Milon comia-o sozinho.
Segundo Pausânias, Milon carregou até
o Altis a pesada estátua de bronze que o
crotonense Dameas esculpiu em sua honra.
Aos quarenta e cinco anos de idade, partici- Pugílato
pou pela sétima vez dos Jogos em Olímpia e
defrontou-se com o concorrente Timasiteos.
Forte e bem mais jovem que Milon, soube evi- Essa era uma luta mais violenta, ante-
tar com grande agilidade os golpes do cam- cedente do boxe. Embora sua prática fosse
peão que, esgotado, abandonou o combate. muito antiga, surgiu apenas a partir dos vi-
Anos mais tarde, Milon freqüentava as gésimos-oitavos Jogos Olímpicos (668 a.C.)
palestras e entristecia-se por sentir-se aban- e o primeiro vencedor foi Onomaste. Poste-
donado pelo vigor da juventude. Os fatos riormente, foi Onomaste quem ajudou a ela-
narrados sobre sua vida nunca foram des- borar os regulamentos desse evento.
mentidos ou confirmados, mas Galeno não Se de início era praticado a mãos lim-
nutria por Milon a mesma admiração que a pas, com o tempo foram utilizadas bandagens
maioria dos gregos. Julgava-o tão irracional que deram lugar a longas e estreitas tiras de
quanto o bovino que transportava nos om- couro. Com essas correias eram envolvidos os
11
suspensos no teto. Quando esmurrados, ser-
viam para aumentar a força e, quando lança-
dos contra o peito do atleta, aperfeiçoavam o
equilíbrio.
O pugilismo tinha lugar no centro do
estádio. Em lugar visível a todos os especta-
dores, era traçado um círculo, onde ocorria o
combate. Não havia separação por categoria
ou compleição física. Todos eram incluídos
numa só classe e o sorteio ocorria da mesma
Cestos utilizados no pugilato, precursor do Box
forma que na luta.
Os pugilistas não descuidavam da po-
sição de guarda. Não se sabe quais regras
pulsos, polegares e, unidos, os quatro dedos deviam ser obedecidas, mas parece que eram
das mãos, mantendo-se livre a parte superior permitidos vários golpes, inclusive o ataque
para garantir a liberdade de movimentos. com as pontas dos dedos, mantendo as mãos
Mais tarde, foram incrustadas nessas tensas e espalmadas. Por representar, ini-
tiras pequenas bolas de chumbo ou pontei- cialmente, um esporte que valorizava a arte
ras de metal, que tornaram os golpes muito da defesa, havia muita lentidão de movimen-
perigosos. Finalmente, tiras de couro cru pas- tos. Com freqüência o juiz encorajava os pu-
saram a ser trançadas e, a exemplo de luvas, gilistas à ação. Não havia limite de tempo e
protegiam mãos e antebraços. Recebiam o durante a luta ocorriam pausas para descan-
nome de cestos e alguns possuíam aros de so, anunciadas pelo som de flautas. Era con-
ferro e bronze. Os combatentes lutavam des- siderado vencedor aquele que pusesse o
pidos e cobriam a cabeça com uma calota de adversário fora de combate por nocaute, ou
couro reforçada com bronze, que protegia a o levasse a abandonar a luta em virtude de
nuca, o nariz e a testa. esgotamento ou lesão. Quando pretendia
Os primeiros pugilistas possuíam apu- declarar-se vencido, o atleta fazia um sinal
rada técnica e dedicavam-se a árduo treina- para o juiz.
mento. Entre os exercícios havia um seme- Com o passar do tempo, a elegância
lhante à "sombra pugilística". Numa sala de movimentos foi esquecida, e o pugilato
especial, sacos de areia eram mantidos transformou-se num evento brutal, altamente

87
agressivo. A maior preocupação era golpear
antes de ser atingido. Havia mais lesões cor-
porais do que luta propriamente dita. O pugi-
lista deixava o estádio com dentes quebrados,
orelhas inchadas, nariz fraturado. O pugilis-
mo tornou-se tão brutal que, muitas vezes, mes-
mo antes de se iniciar a contenda, participan-
tes, espectadores e juizes sabiam que o evento
se transformaria em combate mortal.
Foi encontrada uma composição gre-
ga que dizia: "Eu, Andreolos, lutei no pugi-
lato em todos os jogos da Grécia. Em Pisa,
perdi uma orelha; em Platéia, um olho; em
Delfos, fiquei sem sentidos. Mas Demosteles,
meu pai, estava preparado para retirar-me da
arena, morto ou ferido".
Parece que nesse evento ocorreu tam-
bém a única manifestação de covardia em toda A <
a história dos Jogos Olímpicos. Serapião, um
alexandrino, intimidado, fugiu de Olímpia na
véspera do combate. Selo comemorativo da Grécia representando
Foi no pugilato que surgiu a semente o Juramento Olímpico
do profissionalismo e onde, pela primeira
vez, os nobres ideais olímpicos foram deson- tória. Tudo ocorreu conforme combinado. No
rados. Além do treinamento intensivo, os momento de entregar o dinheiro, Eupolos re-
atletas estavam sujeitos a perigosas lesões e cusou-se, alegando que vencera graças a sua
não mais se contentavam em receber como superioridade. Diante disso, os lesados apre-
prêmio apenas uma coroa de folhas de oli- sentaram denúncia aos juizes e o senado
veira. Nos nonagésimos-oitavos Jogos Olím- olímpico multou todos os envolvidos. Com
picos (388 a.C.), Eupolos da Tessália subor- o produto das multas foram erigidos os seis
nou seus cinco adversários, prometendo primeiros zanes e afixados em local de pas-
recompensa financeira se facilitassem sua vi- sagem dos participantes. Numa das colunas
de sustentação estava escrito: "Não é com Três dos seus filhos também f oram cam-
dinheiro, mas com pernas velozes e um cor- peões em Olímpia. Consta que dois deles ven-
po vigoroso que se consegue a vitória em ceram no mesmo dia e, após sua vitória, foram
Olímpia". A partir desses Jogos também foi buscá-lo entre os espectadores, carregando-o
instituído o juramento olímpico. nos ombros pelo estádio enquanto a multidão
Glauco de Caristo, verdadeiro gigante, gritava: "Morre, Diágoras. Agora não tens mais
venceu duas vezes nos Jogos Olímpicos e nada para invejar aos deuses!". Embora uma
Píticos e obteve oito vitórias nos ístmicos e das versões assegure que, realmente, ele mor-
Nemeus. Glauco era lavrador. Certa vez, en- réu de alegria, a certeza de sua morte no exílio
quanto trabalhava no campo, a relha separou- contraria essa narrativa,
se do arado. Uniu as peças com a mão fecha- Diágoras já havia falecido quando ti-
da para golpear, em vez do martelo. Seu pai veram início os nonagésimos-sextos Jogos
presenciou a cena e o inscreveu no pugilato. Olímpicos (396 a.C.) com um esplendor nun-
Por falta de conhecimento técnico, ao parti- ca visto antes. Pela primeira vez foram pro-
cipar das eliminatórias, Glauco foi ferido, movidos concursos de arte e literatura, dos
Quando se preparava para abandonar o com- quais participaram os mais célebres nomes
bate, o pai gritou: "Filho, o golpe do arado!", da época.
Glauco socou a cabeça do adversário de cima Pisidoros, neto de Diágoras, era pugilis-
para baixo e, com esse método, sagrou-se tá e foi classificado para disputar o título com
bicampeão olímpico. Neomon, verdadeiro gigante. Para participar
O exilado Diágoras de Rodes tornou-se da jornada olímpica, Pisidoros foi treinado pela
pugilista famoso por ter conseguido duas vi- mãe, Calipátira. O combate foi árduo e demo-
tórias em Olímpia, duas em Neméia, quatro rado. Quando Neomon abandonou a conten-
em Corinto, além de várias outras em festivais da, vencido, um dos treinadores afastou-se do
menos expressivos. Caracterizou-se por lutar local a eles destinado e correu a abraçar o jo-
com muita coragem e lealdade. A VII ode olím- vem campeão. Soluçando, jogou ao chão a lon-
pica de Píndaro era dedicada a Diágoras, que ga túnica masculina que vestia. A multidão,
foi considerado o melhor lutador dos Jogos muda de espanto, reconheceu Calipátira, a fi-
Olímpicos celebrados em 464 a.C. Era filósofo lha predileta de Diágoras.
e cognominado "Diágoras, o ateu" por ter dês- Jamais, anteriormente, alguém ousara
truído estátuas de deuses pagãos. Essa atitude desobedecer à lei que impedia o acesso de
valeu-lhe a morte no exílio. mulheres casadas ao estádio, durante os Jogos
Olímpicos. A punição para esse crime era a A evolução histórica do esporte e os
pena de morte. Mas, compreendendo os mo- regulamentos são quase desconhecidos, mas
tivos que levaram Calipátira a cometer o sa- atraía grande público e os espectadores
crilégio, os magistrados complacentes apli- acompanhavam os movimentos dos atletas
caram-lhe a sanção destinada aos que blefa- com entusiasmo e histeria.
vam: guarnecer com uma nova estátua um A prova realizava-se num círculo de
dos erários. solo rígido, que era bastante regado. O piso,
A partir desse dia, também os treina- escorregadio, favorecia a queda dos lutado-
dores foram obrigados a apresentarem-se res, provocando hematomas e fraturas. À
despidos para as competições. Por volta de exceção de furar olhos, morder ou arranhar,
1980 um grupo de mulheres fundou na Grécia tudo era permitido: socos, golpes com os pés,
uma associação de atletismo. Trata-se de uma cabeçadas, torceduras e estrangulamentos.
organização olímpica e foi denominada Mesmo que um dos contendores caísse, con-
Calipateira, em homenagem à corajosa filha tinuava a ser golpeado. Dada a brutalidade,
de Diágoras. o pancrácio podia levar à morte e isso ate-
morizava os próprios atletas. Existem infor-
mações de que os pancratistas eram incul-
Pancrácío tos, brutais e vinham das regiões mais
atrasadas da Grécia.
Inicialmente, eram os próprios pugilis-
Chamava-se de pancrácio a mistura de tas que se inscreviam para os dois eventos.
luta e pugilato, mas não apresentava as ca- Era uma grande honra conseguir vitória du-
racterísticas elegantes desses eventos. A ra- pla numa única jornada olímpica e o primei-
pidez e movimentos de surpresa que caracte- ro a realizar essa façanha foi Kapros de Elis,
rizavam a luta, bem como a apurada técnica em 212 a.C.
do pugilato, desapareciam para ceder lugar Pulidamos foi um pancratista famoso
a golpes pesados e brutos. Por ser um espor- que obteve diversas vitórias em Olímpia. Al-
te perigoso, exigia dos participantes força guns dos seus feitos foram inscritos na coluna
intensa e as mais vigorosas qualidades físi- de sustentação de sua estátua e outros revela-
cas. Foi introduzido nos trigésimos-segun- dos por escritores antigos. Para mostrar sua
dos Jogos Olímpicos (652 a.C.) e o primeiro força e provar que era tão forte como Héracles,
vencedor foi Lygdamis. matou a mãos nuas um grande e feroz leão.

90
De outra feita, escolheu o maior e mais selva- ra vitória olímpica (564 a.C.) e foi amplamen-
gem touro de um rebanho e segurou-o pelo te divulgado por Pausânias e Filostrato.
casco de uma das patas traseiras. O animal, Numa difícil luta, no solo, seu adversário
para libertar-se, pulou e debateu-se com vigor. agarrou-o pela cintura com as pernas em te-
Após muito esforço, conseguiu fugir, deixan- soura, enquanto lhe apertava a garganta.
do o casco nas mãos de Pulidamos. Em outra Quando Arrachion, em desespero, ia aban-
oportunidade, aceitando um desafio, lutou ao donar o combate, escutou seu treinador ex-
mesmo tempo contra três persas, que morre- clamar furioso: "É preferível morrer em
ram em virtude dos golpes. Olímpia do que abandonar a arena".
Pulidamos morreu tragicamente por- Num derradeiro esforço, Arrachion
que, a exemplo de Milon de Crotona, con- torceu o dedo grande do pé do seu adversá-
fiou demais em sua força. Num dia de muito rio. A dor foi tão forte que este efetuou sinal
calor refugiou-se com alguns companheiros de desistência. Os helanóicas declararam
em uma gruta. O teto começou a rachar e Arrachion vencedor. Momentos depois, dian-
todos fugiram apressados. Mas Pulidamos te de sua imobilidade, perceberam que ele
permaneceu no local de braços estendidos, ha via morrido.
apoiando as mãos no teto para impedir o Dizem as lendas que os espartanos não
desmoronamento. Morreu soterrado, por es- participavam do pancrácio. Para eles, acos-
tar convencido de que jamais seria vencido tumados a árduos treinamentos desde a in-
por uma montanha. fância, a incapacidade de prosseguir num
Mandrógenes possuía incrível resistên- combate ou ter de abandonar a arena por
cia. Seu treinador escreveu à mãe do atleta: "Se inferioridade diante do adversário represen-
ouvires que teu filho morreu, podes acreditar. taria humilhação difícil de suportar.
Mas não dês crédito quando alguém disser que
ele foi vencido nos Jogos Olímpicos".
Teagene foi outro célebre pancratista
que venceu, também, o dólico, a hoplito- Esportes eqüestres
dromia e o pugilato. Disse Pausânias que,
competindo nos diferentes jogos públicos,
Teagene obteve mais de duzentas vitórias. Grande prestígio era desfrutado pelos
O pancrácio teve um vencedor póstu- esportes eqüestres, pois o cavalo desempe-
mo: Arrachion. O fato ocorreu na sua tercei- nhou importante papel na Grécia clássica. Os

91
ll^Tã^Ct-l-t-Wü,-"."'l!/'-Si"i,L i.k,r'/fi 5(> "Jl ,t f?" "'ti' >M K

cavalos comuns eram denominados hippos e brir o percurso. Poucas referências foram fei-
os de corrida ce/es. tas ao hipódromo de Olímpia.
Segundo o mito, na disputa com Nos eventos eqüestres eram proclama-
Atena, Poseidon, para mostrar qual deveria dos campeões olímpicos os proprietários dos
ser o mais valioso presente dos deuses aos animais vencedores. Por isso, algumas mu-
mortais, feriu o solo com seu tridente e da lheres, especialmente da Macedônia, região
terra surgiu o cavalo. Deram-lhe a honra de famosa por seus cavalos, obtiveram prêmios
ser unido à figura humana, na forma de cen- nesse esporte.
tauro. Além disso, foi imortalizado nas pin-
turas da época e serviu de motivo para as O hábito da corrida de carros teria co-
esculturas decorativas dos grandes templos meçado com Erictomos, um dos reis mais
gregos. antigos da Ática que, seguindo instruções da
deusa Atena, foi a primeira pessoa a atrelar
Como a equitação deveria, obrigato- cavalos em um carro de guerra. Isso teria
riamente, completar a educação dos jovens acontecido em 1550 a.C. A prova foi instituí-
da nobreza grega, pouco a pouco adquiriu da em Olímpia para homenagear a lendária
popularidade entre as demais classes so- vitória de Pélope sobre Enomao e surgiu nos
ciais e foi incluída no programa olímpico. vigésimos-quintos Jogos (664 a.C.), sendo
Surgiram muitas atividades eqüestres que Pagondas o primeiro vencedor.
podem ser divididas em dois grupos fun- Fazia parte do programa a corrida de
damentais: corridas de carros e corridas de bigas — carros puxados por dois cavalos —
cavalos montados. e a de quadrigas — quatro cavalos. Nestas,
As provas eram realizadas no hipódro- só os animais do centro estavam presos à lan-
mo. De início era uma construção simples, uma ça do carro. Os outros não participavam do
grande reta medindo dois comprimentos do esforço de tração e serviam apenas para au-
estádio. Possuía linhas demarcatórias na saí- mentar a impressão estética. Com o tempo
da e na chegada. Na época áurea dos Jogos ocorreu o aumento do número de parelhas,
Olímpicos passou a ter formato oval. A pista mas a designação quadriga foi mantida.
era dividida em duas partes iguais, por uma Novos estilos apareceram e os carros eram
longa e estreita espinha, que tinha um marco atrelados, também, a mulas, éguas e potros.
em cada extremidade. O participante dava tan- Os carros eram leves, baixos e frágeis,
tas voltas quantas fossem necessárias para co- com duas rodas de grande mobilidade. A
considerada a mais sofisticada de todas as
usadas nos Jogos gregos.
Não se sabe ao certo se as distâncias a
serem cumpridas eqüivaliam a oito voltas na
pista (6.152 metros) ou 12 voltas (9.229
metros). Além da prova tradicional foi insti-
tuída uma variante. O auriga saltava do car-
ro, cumprindo o final do percurso em corri-
da pedestre, mas segurando as longas rédeas
e guiando os animais até a chegada.
Os aurigas submetiam-se a um minu-
representando a corrida de Quadriga
cioso treinamento e o segredo da vitória de-
pendia, principalmente, da habilidade do
traseira era aberta, mas as partes laterais e condutor. Ele deveria efetuar as voltas bem
frontal eram munidas de um pequeno para- próximas da coluna de virada, para conse-
peito. O condutor chamava-se auriga e man- guir vantagem sobre os demais. Se a aproxi-
tinha-se no centro da plataforma, seguran- mação fosse muito grande, o carro poderia
do numa das mãos as rédeas e na outra o chocar-se com o marco e ficar despedaçado.
chicote. Vestia urna túnica branca e não se Dos muitos carros que partiam, era co-
sabe se envolvia a fronte com uma faixa para mum que apenas dois ou três conseguissem
prender os cabelos ou usava uma espécie de terminar a corrida intactos. A pista ficava
capacete. repleta de destroços, aurigas feridos ou
O espetáculo era emocionante. Dele mesmo mortos. Enquanto alguns desafia-
participavam os mais famosos cavalariços do vam a morte, amarrando as rédeas aos pul-
mundo grego e houve época em que uma sos, outros prendiam à cintura um afiado
única prova reuniu quase cem carros. punhal, a fim de cortarem as correias em
Ô sistema de partida sofreu diversas caso de queda.
modificações. Finalmente, Cletas criou um O poste do lado leste do hipódromo era
mecanismo específico onde os carros ficavam muito perigoso. Os gregos acreditavam que
em formação pontiaguda. Ficou tão entu- o espírito de Taráxipo, que significa "aquele
siasmado com sua invenção que mandou que espanta os cavalos", aí se ocultava para
erigir uma estátua onde a registrou, sendo assustar os animais. Segundo outra versão,

93
nesse local estava o feitiço enterrado por Anaxilas, rei de Messênia, para come-
Pélope para espantar os cavalos de Enomao. morar seu triunfo na corrida de bigas, lan-
Disse Pausânias que, em Olímpia, antes das çou em 480 a.C. a primeira moeda olímpica
provas eqüestres era efetuada uma oferenda de que se tem notícia. Num tetradracma de
a Taráxipo, para conquistar sua proteção. prata foi registrado o evento. Ali surgia
Nas corridas, a rivalidade estava presa Anaxilas sobre o carro, segurando o laurel
também ao aspecto dos carros, que se torna- do triunfo e tendo ao seu lado Nike, a deusa
vam cada vez mais sofisticados, e aos cavalos, da vitória.
sempre da melhor raça. Os especialistas eram A corrida de carros era uma atividade
muito disputados e pagos generosamente. tão antiga entre os helenos que Homero, no
Se no pugilato surgiu a semente do canto XXIII da Ilíada, fez uma bela descrição
profissionalismo, este concretizou-se em defi- da perícia dos aurigas participantes dos Jo-
nitivo nas competições eqüestres. Por ser pro- gos Fúnebres.
va da aristocracia, esta preparava os escra-
vos para disputarem o evento e concedia-lhes A corrida de cavalos era muito valoriza-
a liberdade em caso de vitória. Isso empol- da, já que os gregos cultivavam o hipismo
gava os espectadores, que tinham oportuni- como uma arte. Xenofonte, em seu Tratado de
dade de ver um escravo competir e até mes- equitação, forneceu valiosas informações so-
mo vencer um rei ou tirano. De outro lado, bre a maneira correta de montar, a colocação
monarcas e elementos da nobreza podiam das pernas, extensões e flexões de tronco
conquistar o título de campeões olímpicos necessárias à manutenção do equilíbrio, de
sem esforço físico, pois eram proclamados acordo com a velocidade da montaria. O trei-
vencedores os donos dos cavalos e não os namento do cavaleiro baseava-se em exercí-
aurigas que arriscavam a vida na ânsia pela cios de flexibilidade, agilidade e força.
vitória. Em outros jogos gregos eram disputa-
O mais célebre dos campeões de das corridas de cavalos de guerra e lançamen-
quadriga foi Cynisca e, entre os grandes lau- to de dardo a cavalo. A ausência dessas pro-
reados, encontram-se os imperadores Filipe vas em Olímpia tornava os eventos hípicos
e Alexandre Magno da Macedônia, Tibério simples e sem atrativos para o público.
e Nero de Roma, Pausânias de Esparta, os A corrida de cavalos era realizada depois
generais Alcibíades, Cimon, Germânico, da corrida de carros. Era o menos prestigiado
Milcíades, etc. dos eventos esportivos e as referências são

94
escassas. Surgiu nos trigésimos-segundos Aura uma égua possuidora de valentia e in-
Jogos Olímpicos (652 a.C.) e o primeiro ven- teligência. Não existe menção sobre o ano em
cedor foi Crauxidas. que o fato ocorreu.
A saída era em formação ponteaguda No ano 268 da era cristã, um rei do
como na corrida de carros e o comprimento Egito inscreveu sua concubina favorita, ex-
do hipódromo devia ser percorrido por duas celente amazona, para montar um dos seus
vezes. O cavaleiro apresentava-se despido, cavalos na prova eqüestre dos Jogos Olím-
prendia os cabelos com uma faixa e, eventu- picos. Esta sagrou-se vitoriosa e o rei man-
almente, colocava esporas. Não usava sela, dou erigir santuários em sua honra, deter-
estribo ou freio. Cavalgava o animal em pelo minando que periodicamente recebesse
e cobria-o com uma leve manta. Guiava-o se- sacrifícios. Essa atitude foi criticada com
gurando uma tira ou correia presa ao foci- energia por grupos que consideravam a par-
nho. Se o cavaleiro caísse no percurso mas o ticipação feminina contrária aos regulamen-
animal cruzasse a linha de chegada em pri- tos olímpicos.
meiro lugar, seu proprietário era declarado Mas o fato não foi levado em conta
vencedor. porque, nessa época, os jogos instituídos para
Apesar de despertarem pouco interes- homenagear o grande Zeus já estavam em
se, dois fatos ocorridos nos Jogos Olímpicos completa decadência.
foram muito comentados pelos autores an-
tigos. Segundo Pausânias, Fidolos inscreveu
sua égua Aura para a corrida montada. O Provas juvenis e artísticas
cavaleiro caiu no momento da saída, mas
Aura estava treinada para continuar sozinha.
Efetuou corretamente o percurso e, incenti- As provas juvenis eram eventos espor-
vada pelo público, acelerou o galope, che- tivos para efebos, palavra grega que significa
gando em primeiro lugar. A seguir, conscien- "jovens". Surgiram nos trigésimos-sétimos
te de sua vitória, encaminhou-se para a tri- Jogos Olímpicos (632 a.C.), quando foram
buna de honra e apresentou-se aos juizes. disputadas luta e corrida, vencidas respecti-
Pausânias afirma ter visto no Altis a estátua vamente por Hipóstenes e Polynice.
que Fidolos mandou erguer em sua home- Nos jogos seguintes foi introduzido o
nagem. Em caráter excepcional os helanóicas pentatlo júnior, que teve como campeão
concederam a autorização, por considerarem Eutelides de Esparta. Segundo Pausânias, a
prova combinada foi disputada uma única Aristóteles recomendava para adoles-
vez, por ser tida como muito violenta para centes apenas exercícios leves, sem maiores
adolescentes. exageros. Filostrato, que viveu no último
Em 616 a.C, nos quadragésimos-primei- período dos Jogos Olímpicos, de certa forma
ros Jogos, foi disputado o pugilato, vencido por confirma a teoria dos seus antecessores. Es-
Filetas. Séculos mais tarde, na centésima-qua- creveu que, em sua época, apenas dois ou três
dragésima-quinta edição do evento olímpico, vencedores da categoria júnior obtiveram
surgiu o pancrácio, mas não há referência so- êxito na classe principal.
bre o campeão. Os regulamentos e a maneira como as
Com a inclusão das provas juvenis, os provas desenvolviam-se eram iguais para jo-
atletas eram agrupados em duas categorias. A vens e adultos. A única exceção era a corri-
primeira, de jovens até dezoito anos; a segun- da, cujo percurso era reduzido numa sexta
da, de adultos, para os que tivessem mais que parte e a distância percorrida era de 160,2
essa idade. A afluência aumentou de maneira metros. Há menção de que, nos centésirrios-
tão expressiva que os candidatos passaram a terceiros Jogos Olímpicos (364 a.C.) ela foi
ser divididos em três grupos: infantis (até de- vencida por um jovem de doze anos, fato
zoito anos); imberbes (de dezoito a vinte anos) considerado inédito em toda a história do
e adultos (acima de vinte anos). olimpismo antigo.
Os genitores e chefes das delegações Philinos de Cos venceu corridas para
apresentavam a prova de idade dos compe- jovens nos Jogos Olímpicos, ístmicos, Píticos e
tidores. Na falta desse comprovante e, em Nemeus. Os campeões das provas juvenis re-
caso de dúvida, cabia aos helanóicas a últi- cebiam, também, a coroa de ramos de oliveira
ma palavra sobre a questão. Todos os pro- e poderiam ter suas estátuas erigidas no Altis.
blemas deveriam ser levantados e decididos
no estágio de Elis. Os eventos artísticos, as provas para arau-
Os eventos juvenis revelaram poucos tos e trombeteiros, que se realizavam no pórti-
atletas e os mais célebres foram Hypóstenes co do Eco, foram introduzidas nos nonagési-
de Esparta e Milon de Crotona. Muitos auto- mos-terceiros Jogos Olímpicos (408 a.C.).
res criticavam a inclusão dessas provas no Heródoto de Mégara alcançou a vitória nesse
programa olímpico, por acreditarem que ali- evento durante dez Jogos consecutivos, fazen-
mentação forte e treinamento árduo fariam do soar simultaneamente duas trombetas. Esse
de jovens atletas, adultos apáticos. concurso deu origem aoseventos artísticos, pois

96
normalmente muitos literatos se reuniam em Dromo, diaulo, dólico, corrida hípica,
Olímpia por ocasião dos Jogos. Os mais céle- hoplitodromia, pentatlo, luta, pugilato,
bres iam como convidados de honra. Outros, pancrácio, corrida de quadrigas (com cavalos,
integravam as delegações de suas cidades. mulas, éguas e potros), provas juvenis — cor-
Havia, ainda, os que viajavam às próprias rida, luta, pentatlo, pugilato e pancrácio —,
expensas, procurando notoriedade provas para arautos e trombeteiros e eventos
Nos intervalos das provas, aproveita- artísticos eram disciplinas do programa olím-
vam para divulgar suas obras. Heródoto, pico. No entanto, nunca chegaram a ser reali-
com sucesso, lia para o público seus relatos zadas ao mesmo tempo. Quando uma prova
sobre^a vitória dos.- gregos na luta contra os era acrescentada, outras eram suprimidas e
persas. Píridaro passeava ;por Olímpia ofere- dessa forma havia uma alternância de even-
cendo seu lalento àqueles que, vencedores, tos. Somente permaneciam fixas no calendá-
desejavam ser-imortalizados em versos líri- rio esportivo modalidades consideradas bási-
cos. Além do festival ser fonte?de inspira- cas dos jogos.
ção, proporcionava-lhes a oportunidade de É de se notar que em Olímpia o caráter
proveitoso intercâmbio cultural. Daí surgir, da programação era exclusivamente indivi-
como conseqüência desse contato/um con- dual. Para alguns autores, entre os gregos,
curso literário que obteve êxito e despertou possivelmente o espírito de coletividade não
grande interesse.- ~ , -, existisse em provas esportivas, que apenas
Os eventos artísticos foram incluídos visavam fortalecer objetivos guerreiros.
no programa olímpico a partir dos Jogos da
nonagésima-sexta olimpíada (396 a.C.). De-
les constavam provas de poesia, declamação, Recompensas
música, narrações de viagens, leituras e can-
to. Existem divergências quanto à outorga,
aos vencedores, de coroas de ramos de oli- No início dos Jogos, o vencedor rece-
veira. Nero incentivou as competições artís- bia apenas um pedaço do animal sacrificado
ticas, mas elas decaíram muito na sua época. a Zeus. Com o tempo, os prêmios passaram
O imperador romano exigiu que os hela- a variar. A versão mais corrente informa que
nóicas incluíssem novos concursos para ato- a coroa de oliveira foi outorgada na sétima
res, cantores e músicos, fazendo-se procla- olimpíada e o primeiro laureado foi Daiclos
mar vencedor em todos eles. de Messênia, vencedor do dromo. Durante o
verdadeiro período esportivo dos Jogos, fase ter suas feições esculpidas com fidelidade. A
em que o festival alcançou seu máximo es- estátua deveria ter tamanho natural, pois as
plendor, o único prêmio era o ramo de fo- de maiores dimensões estavam reservadas às
lhas de oliveira. divindades. Ultrapassar o tamanho permiti-
Heródoto mencionou que esse vencer do era falta muito grave. A obra era destruída,
desinteressado surpreendeu os bárbaros. pois o homem não tinha o direito de querer
Tanto assim que Xerxes I, rei dos persas, ao igualar-se a um deus. O pentatleta era repro-
tomar conhecimento do fato, exclamou pu- duzido com dardo, halteres ou disco. O ven-
blicamente: "Pelos deuses, Mardônius, quem cedor da hoplitodromia, com escudo e capa-
são afinal esses homens contra os quais nos cete; o participante das provas eqüestres, di-
conduzem ao combate? São insensíveis ao rigindo seu carro ou montado a cavalo, etc.
interesse e só lutam pela glória?" Do pedestal constavam o nome do campeão,
A coroa de ramos de oliveira era um a prova que o celebrizou e vários dados com-
prêmio apenas simbólico, pois as outras re- plemen tares.
compensas é que representavam a maior ho- As estátuas podiam ser de madeira,
menagem que os campeões poderiam rece- pedra, bronze ou mármore. Embora Pau-
ber. Os mais famosos poetas imortalizavam- sânias fale sobre três mil peças, foram encon-
nos em versos líricos. Os autores, em cita- tradas no Altis somente colunas de susten-
ções históricas, além disso, gozavam do pri- tação. Em sua grande maioria as esculturas
vilégio de terem suas estátuas erigidas no eram de bronze e é provável que tenham sido
Al tis. Esse hábito foi introduzido nos quin- fundidas quando esse material se tornou es-
quagésimos-nonos Jogos (544 a.C.) e o pri- casso na Idade Média. Somente em Delfos
meiro campeão a receber essa honraria foi o foi encontrado um exemplar original, que
pentatleta Praxidamos de Egina, cuja está- reproduzia um auriga.
tua foi esculpida em madeira de cipreste. Plínio mencionou que a estátua era
A escultura obedecia a regulamentos encomendada pelos próprios campeões, mas
atentamente observados pelos juizes. O cam- outros autores informam que representava
peão não poderia ter seus traços fisionômicos dever sagrado de suas cidades, sendo a omis-
reproduzidos; a estátua deveria apenas re- são punida pelos deuses.
gistrar que a vitória significava um presente Dizem as lendas que uma das cida-
dos deuses. Somente após a terceira vitória des não imortalizou a façanha de um ven-
olímpica é que os homenageados poderiam cedor e durante onze olimpíadas (quarenta

98
e quatro anos) não teve a honra de fazer ne- indivíduos de características guerreiras, a
nhum "olimpiônico", embora classificasse maior homenagem era o direito de combate-
vários competidores para os Jogos. As mai- rem ao lado do rei.
ores autoridades locais prometeram aos Além disso, os "olimpiônicos" percor-
deuses que, se um dos seus jovens conse- riam os ginásios e palestras de suas cidades
guisse obter a vitória, a grave falta do pas- transmitindo conselhos, ministrando ensina-
sado seria reparada. Nos Jogos Olímpicos mentos técnicos, encorajando a prática das
seguintes tiveram a alegria de ver coroar um atividades esportivas e incentivando o esfor-
campeão, para quem foi erigida uma está- ço pessoal como condição básica para a pro-
tua em ouro e marfim. jeção do indivíduo na sociedade.
Os nomes dos campeões, além de per- Os campeões eram respeitados em
correrem todos os cantos da Grécia, repeti- todo o território grego. É citado o caso de um
dos por milhares de bocas, costumavam ser espartano, Dorieus, que durante uma bata-
gravados nos muros dos edifícios públicos. lha contra os atenienses foi feito prisioneiro.
Em placas de mármore, suas façanhas eram Sem resgate, foi libertado e reconduzido à
narradas em letras de ouro. tropa no momento em que ficou conhecida
Nos Jogos da quadragésima-sétima sua identidade. Havia triunfado em três jor-
olimpíada, Sólon, o grande legislador de Ate- nadas olímpicas.
nas, decretou a doação de 500 dracmas aos Felipe de Crotona foi morto durante
vencedores. Era uma recompensa valiosa, um ataque à Sicília. Por sua fama de grande
considerando que, na época, os atenienses campeão, os inimigos erigiram-lhe um mau-
recebiam apenas l dracma por dia de traba- soléu. Alexandre Magno também libertou o
lho. Além desse prêmio financeiro, eram chefe de uma legião tebana assim que foi
isentos do pagamento de impostos e passa- descoberto que se tratava de um vencedor
vam a ter lugares especiais reservados nos em Olímpia.
teatros e cerimônias públicas. Nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga
Em outras cidades recebiam uma casa, o homem chegava como atleta e voltava para
terras e títulos de nobreza. Segundo Dion sua cidade como um semideus. Píndaro es-
Crisóstomo, escritor grego do século I da era creveu: "Quem vencer em Olímpia gozará,
cristã, em alguns lugares eram agraciados pelo resto da vida, de uma calmaria doce
com 5 talentos de prata. Para os espartanos, como o mel".

99
O FIM DOS JOGOS DA A N T I G Ü I D A D E

j\ rivalidade entre as várias cidades fez As classes cultas iniciaram campanha


|y\ a Grécia entrar em decadência e, com maciça contra os esportes. No século V a.C.
fc£^ ela, seus jogos esportivos. Os nobres Hipócrates já dizia que o atleta super-
 =.L>_ conceitos morais e religiosos que os treinado era uma figura absurda e anti-
sustentavam desvirtuaram-se e o idealismo natural, pois acima de tudo desprezava a
enfraqueceu à medida que o profissiona- busca da saúde. Para Galeno, médico do II
lismo se fortalecia. O sentido de honra de- século da era cristã, enquanto os montes de
caiu para ceder lugar ao espírito de lucro. Os carne e sangue se acumulavam, o espírito
melhores atletas eram comprados pelas ci- chafurdava na lama.
dades e, dessa forma, cabia aos habitantes a
honra de aclamarem um vencedor. Os
aurigas aumentaram seus preços e os escra- A Macedônia
vos trapaceavam nas corridas de carros,
quando seus donos lhes prometiam liberda-
de em caso de vitória. À medida que a Hélade enfraquecia, um
Os olimpiônicos já não eram mais o território situado ao nordeste da Tessália co-
protótipo do atleta equilibrado e perfeito. meçava a transformar-se e a adquirir força.
Submetiam-se a um árduo treinamento, exa- Era a Macedônia, cujo povo, também ariano,
geravam na alimentação para aumentar a possuía muitas afinidades com os gregos,
capacidade gástrica e transformaram-se em embora estes não os reconhecessem como
montanhas de músculos. helenos puros.
No século V a.C. os reis macedônios pas- paz e, nesse mesmo ano, Filipe II obteve a pre-
saram a helerúzar seus estados e a receber na sidência dos Jogos Píticos. Em 338 a.C. impôs
corte escritores, artistas e filósofos. Ambicio- a supremacia da Macedônia à Grécia e, com
sos e fortes, apaixonados pela caça, pela guer- isso, os macedônios adquiriram o direito de
ra, pelas fartas refeições, ruidosas festas e ban- enviar delegação oficial e atletas aos Jogos
quetes, copiaram muitos costumes gregos. Olímpicos. Até então esse privilégio não era
Em 359 a.C. Filipe II subiu ao trono da concedido a estrangeiros.
Macedônia. Colocou em ordem as finanças, Filipe II tornou-se comandante supre-
reorganizou e disciplinou o exército, formou mo das forças gregas e, quando se preparava
tropas de infantaria, de cavalaria e construiu para atacar os persas, foi assassinado em
máquinas de guerra, para arremesso de se- Pela, capital macedônia, em 336 a.C. Seu país,
tas. A fim de cobrir todas as despesas, explo- porém, associado à Grécia, já antecipava uma
rou minas de ouro, cunhou moedas e criou ampla e forte união de povos.
impostos alfandegários. Seu filho Alexandre Magno, de apenas
Filipe II possuía marcantes traços de vinte anos, tornou-se imperador da Mace-
personalidade. Era ótimo cavaleiro e espor- dônia. De temperamento ora violento, ora
tista, culto e diplomata, com extraordinário magnânimo, deu continuidade ao grandio-
senso de oportunidade, pronta decisão, ca- so plano traçado pelo pai. Atropelou o mun-
pacidade de organizar e administrar. Antes do antigo e, quando conquistou o Império
de tornar-se rei passara três anos em Tebas Persa, tornou-se senhor de um vasto domí-
como fiador da aliança firmada por seu pai nio que abrangia Macedônia, Grécia e Orien-
com aquela cidade. Por sua ampla visão e in- te do Egito até o Indo.
teligência superior, foi amigo de grandes Numa das embocaduras do rio Nilo,
pensadores como Aristóteles, Isócrates e as- no Egito, fundou Alexandria. Totalmente
similou o melhor da cultura helênica. Todas administrada no estilo grego, chegou a ser
essas qualidades transformaram Filipe II em considerada "capital do mundo". Nessa ci-
excelente chefe e grande líder. dade a civilização do antigo Egito fundiu-se
Fortalecido em seu país, percebeu o en- à cultura grega. As letras, artes e medicina
fraquecimento político-social dos helenos, irradiaram-se para todos os lados e influen-
caminhou para o território grego, conquistou ciaram grandes escolas.
cidades e estendeu seus limites. Em 346 a.C. Por onde os macedônios passavam es-
Atenas, último ponto de resistência, pediu a palharam o pensamento grego. O fenômeno,

102'
que recebeu o nome de helenismo, foi pre- ao rio Tibre, que deságua no mar Tirreno,
parado por Filipe II, provocado por Alexan- havia sete colinas. Uma delas formava um
dre Magno e facilitado pelo fato de haver território chamado Lácio e foi denominada,
gregos em toda parte. depois, de monte Palatino. Abrigava peque-
O reinado de Alexandre Magno mar- na tribo de agricultores, os latinos, que vivi-
cou uma época brilhante, mudou o curso da am instalados em cabanas de barro com te-
história da humanidade, transformou a fei- tos de palha. Isso deve ter ocorrido no século
ção do mundo antigo e exerceu uma influên- VII a.C. O passar do tempo e o aumento da
cia que se estendeu por muito tempo. população provocaram a expansão dos nú-
Em 323 a.C., com a morte do poderoso cleos adjacentes e as colinas deram origem a
rei o Império do Mundo idealizado por Fili- uma cidade que se projetou no mundo in-
pe II e sustentado por Alexandre Magno com teiro: Roma.
tanto vigor foi dividido entre seus generais. De início, os romanos empenhavam-se
Alguns conseguiram estabelecer dinastias em proteger suas fronteiras, mas no século
longas e bem-sucedidas. Sob o domínio II a.C. já eram considerados símbolo de au-
macedônio, surgia na península Itálica um toridade. Ampliaram seus domínios, con-
povo que aos poucos se fortalecia. quistaram novos espaços e submeteram ao
seu poder os povos que viviam na penínsu-
la Itálica.
O Império Romano Chegaram à região balcânica. Em 197
a.C., na Tessália, enfrentaram e venceram os
macedônios. Em 196 a.C., durante a realiza-
No meio da bacia do Mediterrâneo, ção dos Jogos ístmicos, Quíncio Flamínio
banhada pelos mares Tirreno, Jônico e declara as cidades da Hélade livres do do-
Adriático, está localizada a península Itálica, mínio dos macedônios. Com isso, estava pro-
que possui, ao norte, a região continental; ao clamada a liberdade da Grécia.
sul, a peninsular; e várias ilhas espalhadas As batalhas pela independência pros-
pelos mares que a circundam. seguiram até 148 a.C. e a Macedônia foi
Foi povoada, entre outros, por gau- transformada nesse ano em província roma-
leses, etruscos, gregos e na parte média da na. Dois anos mais tarde a Grécia teve o mes-
península viviam os italiotas, considerados mo destino. As conquistas sucederam-se. Em
os mais antigos moradores da região. Junto 64 a.C. foi a vez do Império Selêucida, na

103'
:
i (Mi l

Pérsia e, em 30 a.C., do Egito, último reino ber "todos os deuses do universo". Ali foi
helenístico. Assim, o Império Romano tor- abrigada uma infinidade de deuses, divin-
nou-se maior do que os anteriores. dades ou gênios. Entre os romanos, os gê-
Suas colônias, espalhadas pela Europa, nios simbolizavam o aspecto espiritual de
Ásia e África, obedeciam a Roma e pagavam- cada deus, lugar, grupo social ou indivíduo.
lhe impostos. Porém, podiam conservar usos, Nasciam ao mesmo tempo que o ser ao qual
costumes e tradições. Para administrar esses estavam ligadas e eram responsáveis pela
domínios, os romanos criaram códigos, leis, proteção de todas as formas de atividade. Al-
regulamentos que foram as bases do direito guns acreditavam que o homem possuía dois
público e privado. Esses fundamentos lega- gênios: o bom, que o incentivava para a práti-
dos ao Ocidente civilizado norteiam povos e ca do bem, e o mau, que o conduzia a com-
instituições da atualidade. portamentos condenáveis.
Com as conquistas e conseqüentes in- Se as práticas religiosas dividiam a con-
fluências recebidas dos vencidos, muita coi- vicção dos romanos, o mesmo não ocorria em
sa mudou na maneira de ser, viver e sentir relação aos esportes, cujas preferências con-
dos romanos. Os imperadores incentivaram vergiam para a mesma direção. Entre eles,
o aprimoramento da arquitetura, deram os jogos públicos eram promovidos princi-
grande impulso às construções, com novos palmente nos circos e anfiteatros, que exis-
estilos, embelezando ruas e praças com tiam em todas as cidades.
majestosos monumentos. O trabalho come- As corridas de carros em bigas e qua-
çou tímido, ao acaso, e acabou objeto de drigas, que agradavam aos nobres e à plebe,
grande atenção por parte de governantes, realizavam-se nos circos. A pista era oval e
arquitetos, artistas e artesãos. As maiores deveria ser percorrida sete vezes pelos aurigas
construções eram planejadas com base na que, para escaparem da morte, precisavam de-
utilidade que teriam e no atendimento da monstrar habilidade, audácia e coragem.
preferência popular. Graças a isso, surgiram Os circos eram luxuosos, possuíam
os teatros, circos, anfiteatros, palácios de grandes arquibancadas e o mais importante
justiça, arcos de triunfo, aquedutos, pórti- foi o Circo Flamínio ou Circus Maximum.
cos, termas etc. Media 635 metros de comprimento, 100 de
Para abrigar as divindades cultuadas largura e tinha lugar para cento e oitenta mil
pelos povos subjugados, os romanos cons- pessoas aproximadamente. O programa ofi-
truíram o panteon, templo destinado a rece- cial da corrida de carros era desenvolvido em
dois dias e o grande vulto de apostas gerou Uma das maiores foi a Escola de Cápua, onde
fraudes e corrupção. se originou a rebelião de escravos chefiada
As distrações mais empolgantes esta- por Espártaco. Este foi aplaudido como um
vam no anfiteatro. Lá eram realizados os dos maiores gladiadores de sua época. Era
combates de gladiadores e lutas contra feras. considerado atleta modelo. Além de associar
Indivíduos de todas as origens comprimiam- cultura a uma inteligência privilegiada, ca-
se para ver, em grande delírio, confrontos de racterizava-se por possuir força física e cora-
vida ou morte. A arma usada com mais fre- gem inabaláveis.
qüência era de lâmina curta e larga. Chama- Muitos escravos escolhiam a carreira de
va-se gládio, daí os lutadores serem os gladiadores, almejando a liberdade. Se conse-
gladiadores. Freqüentavam escolas especiais guissem sobreviver após três anos de arena,
de treinamento chamadas deludusgladiatores. passavam a integrar a equipe administrativa

Grécia Roma

Através das progressistas Zeus Júpiter


cidades da Magna Grécia, a ci- Hades Plutão
vilização helênica já desde al- Poseidon Netuno
gum tempo exercia influência Hefestos Vulcano
sobre os povos da península Apoio Apoio
Itálica. Graças a isso, foi fácil Hermes Mercúrio
para os deuses gregos chega- Ares Marte
rem a Roma. Receberam no- Dioniso Baco
mes latinos, uns foram mais Hera Juno
cultuados que outros e os Atena Minerva
olímpicos, deuses comuns a Deméter Ceres
todos os gregos, tornaram-se Afrodite Vênus
também romanos e receberam Artémis Diana
as seguintes denominações: Héstia Vesta

,05
da escola. Depois de dois anos de serviços Passada a turbulência das grandes
satisfatórios, podiam tornar-se homens livres. conquistas, o mundo romano vivia um perí-
A disciplina era rígida e quem a infringisse era odo de paz e prosperidade. Os homens, des-
açoitado, acorrentado ou marcado com ferro ligados da eterna preocupação com guerra e
em brasa. Antes do espetáculo, os gladiadores política, buscavam satisfazer outras necessi-
colocavam-se solenemente diante da tribuna dades. Era importante que fossem de ordem
de honra e bradavam: "Ave, imperator, morituri moral, para o indivíduo sentir-se fortaleci-
te salutant". (Salve, imperador, os que vão mor- do e esperançoso. As teorias de filósofos gre-
rer te saúdam) gos como Pitágoras, Sócrates e Platão, rela-
Os combates podiam ser a pé ou a ca- cionadas às leis da consciência, à diferença
valo. Os contendores, além dos gládios, tam- entre o bem e o mal e à existência de um deus
bém apresentavam-se armados com espadas, superior, foram revistas e estudadas. Mas a
facas e lanças. Com o tempo surgiram nas elas só tinham acesso as classes mais cultas.
competições pesadas redes, tridentes, bolas O povo continuava carente de conforto es-
de metal presas em tiras de couro e maneja- piritual, e ficava cada dia mais pobre, mais
das com habilidade pelos combatentes. faminto, enquanto os ricos enriqueciam cada
Quem tentasse fugir à luta era impelido a vez mais.
retornar, com golpes de ferro em brasa. Em- Em meio a essa situação, certos homens
bora os vitoriosos recebessem elevadas so- que vinham da Judéia, parte da Palestina
mas em dinheiro, o prêmio mais ambiciona- entre o mar Morto e o Mediterrâneo, falavam
do era a liberdade. O destino dos perdedores aos humildes sobre a necessidade de fortale-
dependia da decisão do público. Polegares cer o espírito, acreditar na vida futura, amar
para cima eram o sinal de misericórdia. Para o próximo e a Deus. Um novo alento domi-
baixo, representavam morte imediata, na nou as pessoas, e esse amor, que aqueceu o
própria arena, porque um lutador vencido coração dos pobres, oprimidos e desespera-
não tinha nenhum valor. dos, recebeu o nome de cristianismo.
O principal objetivo dos governantes Os romanos, que demonstraram tole-
era distrair o povo com espetáculos grandio- rância com todos os cultos religiosos, foram
sos, que se iniciavam pela manhã, estenden- severos com os cristãos, que insistiam em não
do-se por todo o dia. O imperador sempre reconhecer as divindades pagas, nem ado-
estava presente e mandava distribuir aos es- rar os imperadores. Enquanto isso, os nobres
pectadores guloseimas, vinho e surpresas. romanos tornavam-se escravos, cada vez

106
mais, do luxo, da ostentação, dos prazeres que participaria da prova. Ficaram receosos
desenfreados e dos esportes violentos. O de uma violenta represália caso batessem no
povo acompanhava as preferências esporti- seu carro durante a corrida. A presença dos
vas de seus líderes. romanos foi marcada em Olímpia, principal-
Após dominarem a Grécia em 146 a .C., a mente, por construções que embelezaram a
exemplo do que ocorrera com os macedônios, sede dos Jogos Olímpicos antigos.
os romanos adquiriram o direito de disputar A cada dia, os espetáculos sangrentos
os Jogos Olímpicos. Além do tempo ter-se en- e as lutas tornavam-se mais violentos e cau-
carregado de provocar muitas modificações no savam maior sensação. O povo lotava os an-
festival sagrado de Olímpia, da Grécia para fiteatros, que possuíam construção oval, com
Roma ocorreu uma mudança de ideologia e arquibancadas e muitos degraus, circundan-
de comportamento dos participantes. A prin- do uma arena cujas dimensões variavam de
cipal condição para vencer uma prova não es- cidade para cidade.
tava mais ligada às qualidades físicas superio- O primeiro anfiteatro de pedra a ser
res, nem à técnica apurada. Qualquer nobre construído tornou-se o mais famoso de todos
desprovido de força e agilidade, mas possui- e recebeu o nome de Anfiteatro Flaviano. Situ-
dor de prestígio social, intimidava seus com- ado perto do Colosso de Nero, grande estátua
petidores e podia tornar-se campeão. daquele imperador, ficou conhecido como
O melhor exemplo disso é fornecido Coliseu, nome derivado de colosseum. Edifiçado
pelo imperador Nero. Mudou o período dos em 80 d.C., foi inaugurado com cem dias de
Jogos da duocentésima-décima-primeira festas, durante as quais cinco mil animais fo-
olimpíada, a fim de que coincidissem com ram sacrificados. Como os romanos admira-
uma viagem que faria à Grécia. Competiu na vam, também, os espetáculos de batalhas na-
corrida de carros, dirigindo uma quadriga vais, a arena do Coliseu era transformada em
puxada por dez cavalos. Apesar de ter caído lago para que esses eventos pudessem ser aí
várias vezes durante o percurso e não alcan- realizados. No Coliseu podiam ser acomoda-
çar a linha de chegada, foi proclamado das, aproximadamente, cinqüenta e cinco mil
olimpiônico. Não havia outro concorrente. pessoas, e as grandes escadarias de saída per-
Autores registram que Nero decretou a proi- mitiam que os espectadores esvaziassem o lo-
bição de qualquer inscrição além da sua. cal em cerca de três minutos.
Outros asseguram que os demais aurigas Durante o império de Trajano (98-117
desistiram quando o imperador anunciou d.C.) foi promovido um festival que, em

107
mm
00
poucos dias, colocou em ação dez mil gladia-
dores. Metade deles morreu.
Em geral, os gladiadores lutavam en-
tre si, aos grupos e, com freqüência, enfren-
tavam animais ferozes. Muitas vezes, as are-
nas dos anfiteatros eram transformadas em
selva e serviam de palco para caçadas. Para
atenderem ao extravagante gosto do povo,
os imperadores não mediam esforços e lan-
çavam mão de todos os recursos. Quando a
perseguição aos cristãos tornou-se mais vio-
lenta, os governantes de Roma levaram os
fiéis para os anfiteatros. Abandonados na pis-
ta, os seguidores da doutrina de Jesus eram
devorados por tigres e leões que haviam per-
manecido vários dias sem receber alimento.
No século II da era cristã, o Império
Romano atingiu o ponto máximo de sua ex-
pansão. Nessa época havia muitas agremia-
ções sociais e recreativas, de âmbito apenas
local. No reinado do imperador Adriano, que
durou de 117 a 138 d.C., foram criadas duas
organizações que desempenharam impor-
tante papel, pois abrangiam todo o territó-
rio imperial. A que abrigava músicos e artis-
tas recebeu o nome de Sindicato de Dioniso.
A outra, destinada a atletas profissionais, era
denominada Sindicato de Hércules. Os cam-
peões dos Jogos Olímpicos filiavam-se a ele
e assim percorriam diversas cidades, exibin-
do-se em festas locais, mediante boa remu-
Coliseu, em Roma neração.

109
Juvenal, poeta satírico desse período,
apresentou em suas obras enérgica indigna-
ção contra os vícios do Império Romano e,
em meio a um discurso, mencionou a máxi-
ma que o imortalizou: mens sana in corpore
sano. Dadas as circunstâncias em que o es-
porte vinha sendo praticado e a personali-
dade profundamente irônica de Juvenal, al-
guns autores mencionam que nunca se
soube, realmente, qual sentido ele pretendeu
dar a essas palavras.
Nos momentos áureos dos Jogos Olím-
picos, os gregos costumavam dizer: "Não há
maior glória para um homem do que mos-
trar a ligeireza dos seus pés e a força dos seus
braços". Para os romanos, o maior interesse
estava dirigido para os banhos e a natação.
Essa prática generalizou-se e as instalações
aquáticas multiplicaram-se. Suas termas
Adriano, imperador de Roma eram monumentos luxuosos que recebiam
grande público e proporcionavam diversos
tipos de entretenimento. Construídas, geral-
O Sindicato de Hércules atingiu o pon- mente, perto de bosques, as mais sofistica-
to mais alto de sua força e poder no século II das possuíam ginásio, jardins, lojas, salas de
da era cristã, oportunidade em que as corri- esgrima, de leitura, local para conferências
das rasas e os lançamentos de dardo ou dis- e apresentação de cantores. No setor aquáti-
co provocavam zombaria dos espectadores. co havia piscinas, instalações para banhos
À medida que aumentava o desinteresse pe- com água em diferentes temperaturas, ba-
las provas puramente atléticas, o hipódro- nhos a vapor, salas de fricções, duchas e mas-
mo transformava-se em palco de empolgan- sagens.
tes lutas entre escravos e os esportes de ata- As mais famosas foram as termas de
que e defesa viram-se prestigiados. Caracala, mandadas construir pelo imperador
' <1 jl
Caracala, que reinou de 211 a 217 d.C. Situadas lizado pela criatividade, talento e grande
em Roma, ocupavam 13 hectares e somente as perícia dos arquitetos. O traçado que carac-
piscinas tinham condições para abrigar mais terizou as edificações inspirou o formato
de três mil banhistas. Os romanos admiravam oval ou redondo dos atuais estádios.
tanto a natação que, ao fazerem referência a No século III da era cristã, as provínci-
alguém mal-educado, costumavam dizer: "É as romanas foram invadidas em vários pon-
um indivíduo que não sabe ler nem nadar". tos, o poderio militar enfraqueceu e o impé-
rio foi dividido em Ocidental (Itália e Áfri-
ca) e Oriental (Egito e Oriente Médio).
A perseguição aos discípulos de Cris-
to prosseguia em moldes mais violentos: os
O fim da era grega cristãos tornaram-se protagonistas de espe-
táculos deprimentes. Além de atirados às
feras, eram queimados vivos, torturados ou
Para os antigos gregos, a saúde cami- crucificados. O povo assistia a essas mani-
nhava lado a lado com o esporte, da mesma festações com alegria e entusiasmo, mas os
forma que a prática esportiva estava asso- corajosos cristãos enfrentavam a morte com
ciada ao enobrecimento espiritual. A supe- serenidade. Não se retratavam perante os
rioridade física era fundamental. poderosos nem repudiavam a crença.
Com a popularização das modalidades O imperador Constantino I, "O Gran-
mais agressivas, essa honra passou a ser de", em 313, percebendo a força que os cris-
conferida ao pugilista, pancratista ou vito- tãos representavam, através do Édito de Mi-
rioso na corrida de carros. Os gregos davam lão garantiu-lhes liberdade de culto. O reco-
aos festivais esportivos um caráter sagrado, nhecimento oficial do cristianismo foi uma
onde os atletas eram respeitados e os deuses das decisões de Constantino I que ajudou a
temidos. Para os romanos, os Jogos Olímpi- mudar a feição do Império Romano e do
cos representaram inicialmente uma ativida- mundo. Graças ao Édito, pagãos e cristãos
de ociosa e acabaram por transformar-se em passaram a ter os mesmos direitos e privilé-
espetáculo violento. gios, inclusive no concernente à admissão
Se os gregos gostavam de participar, os em cargos públicos.
romanos preferiam assistir, e o esporte, nos Esse foi um período em que esportistas
tempos da supremacia de Roma, foi imorta- e guerreiros trocaram a dedicação aos árduos

lUl
treinamentos pelos fáceis prazeres. Entrega-
vam-se a opulentos banquetes, onde havia
fartura de comida, de vinhos, e que, graças
às danças sensuais, acabavam por transfor-
mar-se em bacanais.
Enquanto ocorriam essas mudanças na
maneira de ser dos povos, em Olímpia, a
cada quatro anos, reuniam-se os mais famo-
sos atletas da África, Sicília, Ásia etc., para
disputarem os Jogos Olímpicos. Depois de
um longo período as competições deteriora-
ram-se de tal forma que a extinção ocorreria
inevitavelmente.
Em 369 da era cristã, durante a reali-
zação dos últimos Jogos Olímpicos da Anti-
güidade, aconteceu a maior afronta aos ide-
ais gregos. No pugilato, a vitória coube a um
bárbaro, o príncipe herdeiro Varasdaskis,
depois rei da Armênia.
Foi somente vinte e quatro anos mais
tarde, após doze séculos de realização, que
as competições sagradas foram abolidas em
definitivo. E, por incrível que possa parecer,
o motivo da extinção foi o drama de cons-
ciência de um rei.
Em 390, em Tessalônica, dez mil gre-
gos queriam a liberdade. Teodósio, impera-
dor de Roma, mandou que seu exército ex-
terminasse todos. Depois desse assassinato
em massa, ele foi acometido de grave en-
fermidade. Em desespero, recorreu a
As ruínas de Olímpia,
Ambrósio, bispo de Milão, pedindo-lhe boa descobertas em 1776

"'
saúde e paz. Recebeu a sugestão de se con- os conceitos médicos, as figuras criadas pe-
verter ao cristianismo. Teodósio assim fez los grandes mestres da escultura grega eram
e sarou. Em reconhecimento, afirmou que fascinantes, mas não suficientes. Era neces-
atenderia a todas as solicitações do bispo e sário mais que isso.
este pediu-lhe o fim das festas pagas. Na- Talvez, a mais valiosa peça do fantás-
quela época, os Jogos Olímpicos nada mais tico quebra-cabeça estivesse oculta. Preci-
eram que manifestações dessa espécie, sem sava ser encontrada para promover o coroa-
as características ideológicas que os leva- mento de uma ampla, diversificada e
ram ao apogeu. paciente pesquisa, que estudiosos de dife-
Em 393 da era cristã, Teodósio I, "O rentes áreas vinham desenvolvendo há mui-
Grande", aboliu oficialmente o festival que to tempo.
representou uma das mais extraordinárias Por certo, um trabalho meticuloso, fir-
contribuições da Grécia para a História. me e bem estruturado, teria êxito e poderia
Com a invasão dos bárbaros os com- mostrar ao mundo o brilho de uma das maio-
bates sucederam-se. Olímpia foi saqueada e res civilizações de todas as épocas.
suas edificações destruídas. Retiradas dos O arqueólogo Richard Chandler e sua
pedestais, as estátuas eram fundidas para equipe, em 1776, descobriu as primeiras ruí-
reaproveitamento do bronze. nas de Olímpia. A partir de 1875, o governo
Em 426, Teodósio II mandou incen- alemão financiou profundos trabalhos de
diar os templos dos deuses pagãos. Depois escavação dirigidos por Ernest Curtius. Após
disso, Olímpia foi abandonada. Cem anos seis anos de pesquisas contínuas, os majes-
mais tarde, terremotos fizeram desmoronar tosos templos foram desvelados.
suas ruínas. As enchentes dos rios Alfeu e Sem o denso véu com o qual o univer-
Cladeu enterraram os últimos vestígios da so cobrira Olímpia, foi possível construir
sede de todos os Jogos Olímpicos da Anti- uma completa maquete do local. Os especi-
güidade. Durante mais de mil anos o local alistas, então, fizeram ressurgir a beleza do
ficou envolto em mistério e guardado pelo vale sagrado e assim pôde ser apreciado o
silêncio. cenário onde foram apresentados, durante
A magia da Grécia, sem dúvida, sem- doze séculos, espetáculos de fé, coragem,
pre fascinou os arqueólogos. A prosa ou ver- agilidade e sabedoria.
so dos escritores e poetas, as máximas dos Olímpia não é mais uma cidade gre-
filósofos, as informações dos historiadores, ga semelhante a outras na atualidade. Vol-

114
tou a ser o lugar mágico onde, há quase três o mundo mítico por meio da criatividade
mil anos, na busca da fraternidade e da paz, dos grandes artistas.
homens e deuses encontravam-se para re- Graças à religiosidade e à sabedoria,
verenciarem-se mutuamente, promoverem os gregos instituíram os Jogos Olímpicos e
a beleza física através do esporte, buscarem com eles escreveram o mais belo capítulo es-
o engrandecimento espiritual e divulgarem portivo da Antigüidade.

115-
r
A REDESCOBERTA DOS JOGOS

//^ om a decadência de Roma e a invasão As grandes descobertas, as conquistas


• •' dos bárbaros teve início a Idade Média. marítimas e a evolução cultural modificaram
O Pelas tendências belicosas dos vence- completamente o aspecto da civilização me-
\.:-a^ dores, os exercícios físicos mais incen- dieval.
tivados eram aqueles que visavam a preparar A renovação artística, científica e literária
o indivíduo para a caça e a guerra. As demais que ocorreu na Europa entre os séculos XV e XVI
modalidades esportivas estavam proibidas, recebeu o nome de Renascimentoou Renascen-
também, por força do ascetismo religioso da ça. O humanismo, uma das causas desse movi-
época. Na Idade Média, os esportes que tive- mento, propunha a valorização da Antigüidade.
ram maior destaque foram o arco-e-flecha, a Os humanistas redescobriram a civilização greco-
cavalaria e a esgrima. romana e ficaram extasiados com suas manifes-
No século XIII começaram a ressurgir al- tações culturais.
guns valores do classicismo. São Tomás de Na França, o exemplo mais expressivo
Aquino, teólogo católico e chamado de "dou- da literatura renascentista foi François Rabelais.
tor da Igreja", harmonizou algumas idéias de Beneditino, médico, professor de anatomia e
Aristóteles com as concepções religiosas do seu escritor, possuía espírito erudito e curioso. In-
tempo. Apresentou sugestões relacionadas à ne- terpretou os ideais filosóficos e morais de sua
cessidade de cuidados com a formação física época, de acordo com o pensamento antigo.
da criança. Com Rabelais, a cultura grega voltou à moda.

[H7]
Era salutar e elegante dedicar-se a exercícios dificuldades iniciais, Arnold obteve a reforma
físicos. A partir daí, em processo lento, o es- educacional que desejava. Em 1842, ao falecer,
porte passou a ser praticado de maneira mais o triunfo de suas idéias era evidente. Seu sistema
organizada. de ensino baseado na liberdade passou a ser ado-
Em 1750 iniciou-se a Revolução Indus- tado em todo o Reino Unido e expandiu-se para
trial na Inglaterra, primeira nação européia a outros países.
sofrer sérias modificações sociais. Esses fatos Os educadores encontraram na prática re-
geraram conflitos que se estenderam através gular das atividades físicas a melhor maneira de
dos anos e precisavam ser solucionados. O motivar os estudantes, preparando-os para a vida
maior contato entre aristocratas e filhos de adulta. Já havia conscientização de que o espor-
operários proporcionava trocas de experiên- te era excelente meio educativo, atuando bene-
cia que aos poucos iam fortalecendo-se e pas- ficamente no complexo biopsicossocial. Mas
saram a preocupar os mestres conservadores. houve necessidade de um intenso trabalho para
Era necessária uma reforma para desviar os que os Jogos Olímpicos fossem reinstituídos. Esse
jovens dos problemas políticos que deveriam mérito coube ao francês Pierre de Fredy, poste-
ser da alçada exclusiva dos governantes. riormente barão de Coubertin.
Um mundo diferente exigia homens dife- Historiador e pedagogo, humanista e ci-
rentes. O clérigo e educador inglês Thomas dadão do mundo, pertencia a uma família de
Arnold era diretor da Escola Inglesa da cidade militares e nasceu em Paris, e 1 S de janeiro de
de Rugby, instituição respeitada, cujos métodos I863. Na Academia Militar de Saint-Cyr seu
eram adotados por outros colégios. Acreditando mestre favorito foi o padre Caron, professor de
que o esporte, além de esfriar tendências revolu- retórica e humanismo, que lhe transmitiu o
cionárias, desenvolveria nos alunos auto- amor pela civilização helênica. O desejo de
confiança e senso de responsabilidade, Arnold liberdade impediu Coubertin de abraçar a car-
introduziu uma reforma educacional que previa reira das armas. Abandonou a Academia Mili-
a prática regular de atividades físicas. Para Arnold, tar para matricular-se na Escola Politécnica,
o adolescente freqüentava a escola não para ser onde se graduou em pedagogia.
disciplinado, mas para emancipar-se. Deveria Desde a infância Pierre foi apaixonado pe-
exercitar a individualidade enquanto aprendia a los exercícios físicos. No entanto, seu entusias-
respeitar leis e valores da sociedade. Apesar das mo pelo atletismo e esportes coletivos surgiu anos

18-
•.. "'- m -A
í
mais tarde, quando efetuou viagens a vários
países para estudar os sistemas de ensino vi-
gentes. Na Inglaterra, entusiasmou-se pela re-
forma educacional de Thomas Arnold. Obser-
vou nos lugares visitados que os encontros
esportivos mantidos regularmente tinham gran-
de sucesso. Alguns países promoviam tornei-
os nacionais e, com o tempo, passaram a con-
vidar atletas estrangeiros para disputá-los. Com
esse intercâmbio já começava a se processar a
internacionalização dos esportes.
Quando retornou à França, Coubertin
publicou sua descoberta e propôs uma refor-
ma pedagógica, social e humanitária. Num tra-
balho posterior, aprofundou-se no estudo da
cultura grega. Em 1889, em missão oficial, visi-
tou os estabelecimentos de instrução pública
dos Estados Unidos.
De todas as viagens efetuadas, Coubertin Barão de Coubertin

concluiu também que o profissionalismo ame-


açava o progresso dos esportes. Havia rivali- vários países. Caso isso se tornasse realidade,
dade entre os praticantes das várias modalida- os momentos gloriosos de Olímpia seriam
des e, além disso, outros obstáculos existiam e revividos e o evento só poderia receber o nome
precisavam ser combatidos. Era necessário to- de Jogos Olímpicos, pois nenhuma outra de-
mar rápidas providências para que os esportes nominação corresponderia à sua grandio-
não degenerassem uma vez mais. Pierre acre- sidade.
ditou que isso não aconteceria se, a exemplo Em 25 de novembro de 1892, na Sorbon-
do que ocorrera na Antigüidade Clássica, fos- ne, Coubertin participou de um encontro co-
sem promovidas competições periódicas de di- memorativo do aniversário da fundação da
versos esportes, reunindo representantes de "União das Sociedades Francesas de Esportes

19
Atléticos". Nessa oportunidade manifestou-se nar o cargo recebeu o título de presidente de
pela primeira vez sobre sua intenção de honra dos Jogos Olímpicos. Essa honraria não
reinstituiros Jogos Olímpicos. Declarou: "Atle- pode ser conferida a mais ninguém.
tas amadores de todas as partes do mundo de- Faleceu em Genebra, Suíça, em 2 de se-
verão, uma vez mais, competir de quatro em tembro de 1937, quando o movimento olímpico
quatro anos, sem nenhuma restrição de raça, já havia conquistado o mundo. Os restos mor-
religião, classe social e riqueza. Todo o futuro tais de Pierre de Coubertin estão em Lausanne,
do esporte repousa no renascimento dos Jogos sede do COI e localidade da qual era cidadão
Olímpicos. Devemos, unidos, lutar para que isso honorário. Como desejava, seu coração foi co-
se concretize". locado numa urna de bronze e depositado em
A idéia foi bem recebida e a seguir foi mar- Olímpia, no antigo bosque sagrado onde, dez
cado um congresso na mesma Sorbonne. No dia anos antes, o governo grego mandara erigir um
23 de junho de 1894, após terem assistido a com- monumento comemorativo do restabelecimento
petições esportivas durante uma semana, repre- dos Jogos Olímpicos.
sentantes de treze países aprovaram por unani- Embora Coubertin fosse, basicamente,
midade a constituição do Comitê Olímpico pedagogo, consta que, de todos os títulos que
Internacional — COI; o restabelecimento dos Jo- lhe conferiam, apenas um fazia com que sorrise
gos Olímpicos; a escolha de Atenas para sediar, satisfeito. Era o de humanista.
em 1896, os primeiros Jogos Olímpicos da era Nos primeiros anos, o movimento olím-
moderna; a celebração sucessiva do festival es- pico foi encarado com desconfiança, mas
portivo nas grandes cidades do mundo, a cada conseguiu sobreviver enfrentando obstáculos,
quatro anos. descréditos e duas guerras mundiais. E, a
Apesar de todo o empenho, Pierre de exemplo do que ocorrera na Antigüidade Clás-
Coubertin não recebeu apenas aplausos pelo tra- sica, com o passar dos anos os Jogos Olímpi-
balho. Houve quem o criticasse com severida- cos transformaram-se em espetáculo de gran-
de. Para alguns, o esporte representava mero pas- de esplendor.
satempo das classes privilegiadas. A primeira olimpíada da era moderna foi
Coubertin exerceu a presidência do COI realizada em 1896, reunindo em Atenas duzen-
de 1896 a 1925. Trata-se do mais longo mandato tos e oitenta e cinco atletas representando treze
de um presidente dessa entidade. Ao abando- nações. A cerimônia de abertura foi assistida,

120
aproximadamente, por setenta mil espectadores A inteligência foi colocada a serviço da
que compareceram ao estádio Panatenaico. produtividade. A expressão "energia" adqui-
A vigésima-quinta olimpíada da era mo- riu sentido abrangente, foi estudada sob di-
derna, realizada em 1992, levou a Barcelona tre- versos ângulos e de diferentes formas. A "ener-
ze mil, oitocentos e noventa e oito participantes. gia em ação" transformou-se em força,
Destes, oito mil, quinhentos e noventa e seis eram agilidade, destreza, velocidade ou resistência.
atletas e representavam cento e setenta e dois Ela está presente no esforço do atleta que
comitês olímpicos nacionais. Segundo as estima- busca ampliar seus limites orgânicos; na cri-
tivas, os eventos olímpicos foram vistos por mais atividade do dirigente que elabora estratégi-
de três bilhões de espectadores em todos os con- as para economizar de um lado e ganhar do
tinentes. outro; na coragem dos empresários que pro-
Durante esses noventa e seis anos os Jo- movem megaeventos esportivos e investem
gos viram surgir a radiodifusão, o cinema e a maciçamente em merchandisingpara levar o
televisão. Assistiram à transformação do bran- público a prestar atenção nos produtos que
co-e-preto em colorido e deliciaram-se com a desejam vender; nos especialistas que lançam
transmissão direta dos eventos esportivos via mão da robótica e administram recursos hu-
satélite. Presenciaram o nascimento do tenta- manos e materiais, objetivando conseguir me-
dor "mercado de músculos", que se aperfei- lhores resultados e maiores lucros.
çoou com o passar do tempo. A explosão de Expressões como "marketing", "patrocí-
idéias e criatividade contribuiu para o expres- nio" e "mídia" são observadas com carinho e
sivo aperfeiçoamento tecnológico, que fez modificaram o cenário romântico, idealista e
emergir uma sociedade fascinada por compu- puramente amador do festival esportivo idea-
tadores e sistemas. lizado por Pierre de Coubertin.
Dados e informações técnicas passaram Embora os Jogos sejam promovidos a
a ser armazenados e confrontados; métodos fo- cada quatro anos, o movimento olímpico é am-
ram reformulados, testados e avaliados; trei- plo, ininterrupto, emocionante e infiltra-se em
namentos programados e eficazes geraram in- todos os setores de atividades.
teresse e expectativa pela superação constante Do misticismo e fantasias da Antigüidade
dos recordes, além de drogas utilizadas para ao realismo científico da era moderna, um traço
melhorar performances. é comum e inquestionável: a consagração do

121
herói. No movimento olímpico, a derrota é São vários os fatores responsáveis pelo
amarga enquanto o heroísmo sempre foi êxito sempre crescente das olimpíadas da era
enaltecido e premiado. Entre o primeiro e o moderna e o motivo que levou muitos atletas a
último vencedor, sentimos a evolução do ho- passarem para a história, alcançando a imor-
mem e dos esportes. talidade. O esforço despendido, a energia soli-
Os Jogos Olímpicos representam um de- citada, a disciplina, a dedicação e a competi-
safio permanente à criatividade e à resistência ção estão direcionados para a busca do melhor,
físico-emocional dos indivíduos. Porque os num movimento que deverá primar pela ale-
eventos esportivos e as cerimônias protocola- gria, paz e, principalmente, fraternidade.
res tocam sensíveis fibras do ser humano, não Da mesma forma como aconteceu na
importando qual seja a raça, a nacionalidade Grécia Antiga. No outro lado do mundo, do
ou a cultura. outro lado do tempo.

122
Os Jogos Olímpicos modernos

I Jogos Olímpicos
Atenas, 1896
As reminiscências históricas exigiam que o movimento olímpico ressurgisse na Grécia. Enquanto os gregos se
orgulhavam da escolha de Atenas, membros do governo opunham-se à realização do evento. Finalmente, os
problemas foram resolvidos de maneira satisfatória e os anfitriões viveram a alegria de aplaudir o primeiro herói
olímpico da era moderna. O vencedor da corrida da maratona foi o grego Spyridon Louis, pastor de ovelhas da
cidade de Marousi.

II Jogos Olímpicos
Paris, I900
Para solucionar problemas financeiros, os organizadores associaram os Jogos Olímpicos à Exposição Univer-
sal, que seria realizada em Paris no ano de 1900. Essa data marcaria o final do século XIX e a festa precisava
transformar-se no maior acontecimento internacional de todos os tempos. E foi. Mas os jogos esportivos a ela
associados foram um desastre.

III Jogos Olímpicos


Saint Louis, I904
O evento foi ligado à Feira Internacional realizada em Saint Louis para comemorar o centenário da compra do
Estado da Louisiana a França pelos EUA. Os organizadores promoveram torneios para os "não-brancos". Essa
discriminatória iniciativa transformou o evento em "Jogos da Segregação" e feriu os princípios olímpicos.

123
Olimpíada Intermediária
Atenas, 1906
Realizada em comemoração ao décimo aniversário de renovação dos Jogos Olímpicos. Em termos técnicos e
de organização superou as três primeiras olimpíadas. Se os membros do Comitê Olímpico Internacional fica-
ram satisfeitos, o rei Jorge l arrependeu-se amargamente da realização: os Jogos Extra-Olímpicos de 1906
deram grandes prejuízos financeiros.

IV Jogos Olímpicos
Londres, 1908
Por desistência de Roma, Londres aceitou a incumbência e construiu o primeiro estádio olímpico da era moder-
na. Foi nessa cidade que os Jogos quadrienais se firmaram de maneira definitiva, transformando-se numa festa
verdadeiramente internacional.

V Jogos Olímpicos
Estocolmo, 1912
As mulheres disputaram provas de natação, conquistando, assim, o direito de estrear oficialmente nos Jogos
Olímpicos. Os suecos foram muito elogiados pela organização do evento. A olimpíada de Estocolmo provou que,
nos esportes, muitas coisas haviam mudado para melhor.

VI Jogos Olímpicos
Berlim, 1916
Não foram realizados em virtude da Primeira Guerra Mundial. Por iniciativa de Pierre de Coubertin, ficou deci-
dido que todos os Jogos Olímpicos deveriam ser numerados, mesmo aqueles suspensos por força de guerra ou
por qualquer outro motivo.

VII Jogos Olímpicos


Antuérpia, 1920
Finda a guerra, Antuérpia era uma cidade repleta de ruínas. Os Jogos Olímpicos deram-lhe nova e alegre feição.
A bandeira olímpica, simbolizando a união de todos os povos, foi hasteada pela primeira vez na cerimônia de
abertura. Os brasileiros estrearam com brilhantismo, conquistando medalhas de ouro, prata e bronze no tiro-ao-
alvo. Graças ao constante aperfeiçoamento da radiodifusão, houve maior divulgação do movimento olímpico.

124
Jogos Olímpicos
Paris, 1924
Serviu para comemorar o trigésimo aniversário da renovação do olimpismo, que foi levada a cabo na Sorbonne,
em 1894. Na VIII olimpíada ocorreu a quebra de muitos recordes e isso marcou a história do esporte interna-
cional. Com o sucesso da organização, os franceses redimiram-se do fracasso de 1900.

IX Jogos Olímpicos
Amsterdã, 1928
As mulheres conquistaram o direito de disputar as provas de atletismo. Contrariado com essa concessão, Pierre de
Coubertin assistiu pela última vez à festa que tanto se empenhara em renovar.Também pela última vez os prêmios
dos vencedores foram entregues na cerimônia de encerramento dos Jogos.

X Jogos Olímpicos
Los Angeles, 1932
Em face da depressão econômica mundial e da grande instabilidade internacional, que marcaram o início de
uma época difícil, chegou a propor-se o cancelamento dos Jogos de 1932. No entanto, eles foram realizados e
com absoluto sucesso. Pela primeira vez foi construída uma autêntica Vila Olímpica e isso permitiu maior
intercâmbio entre atletas de vários países.

XI Jogos Olímpicos
Berlim, 1936
A concessão da sede a Berlim gerou problemas por causa da controvertida figura do chanceler Adolf Hitler.
Durante os Jogos a palavra "política" virou tabu e não era pronunciada em congressos, jantares ou praças de
esporte. Mas ocorreu incontestável propaganda nazista e permanente demonstração de ordem, disciplina e
poder. Em termos gerais, os germânicos foram insuperáveis e os Jogos de Berlim ultrapassaram toda e qual-
quer expectativa. A televisão passou por sua prova de fogo e foi bem-sucedida.

XII Jogos Olímpicos


1940
Não foram realizados em virtude da Segunda Guerra Mundial.

125
XIII Jogos Olímpicos
1944
Não foram igualmente realizados em virtude da guerra.

XIV Jogos Olímpicos


Londres, 1948
Os doze anos que se passaram desde a realização dos Jogos de Berlim foram os mais difíceis no meio século de
vida do olimpismo moderno. O mundo passou pela pior guerra da sua história. Muitos esportistas morreram na
frente de batalha. O Comitê Olímpico Internacional perdeu seu fundador, Pierre de Coubertin, e o homem que o
substituiu. Londres foi martirizada pela guerra, mas dentro das limitações a cidade transformou-se em excelente
sede olímpica. Os problemas foram contornados com otimismo. Todos sabiam que os erros não eram dos anfi-
triões e sim provocados pela guerra numa época de crise e necessidades. A "olimpíada da boa-vontade" marcou
o início de uma fase de grande desenvolvimento dos Jogos Olímpicos.

XV Jogos Olímpicos
Helsinque, 1952
Após uma ausência de quarenta anos, a União Soviética retornou ao movimento olímpico. O que deveria represen-
tar um fato de rotina assumiu incríveis proporções e convulsionou o mundo esportivo. A chamada guerra fria
contagiou a opinião pública internacional. A partir daí, os Jogos Olímpicos transformaram-se em acirrada disputa
entre as grandes potências mundiais.

XVI Jogos Olímpicos


Melbourne, 1956
O período que antecedeu os Jogos de Melbourne foi muito conturbado no plano internacional, mas os Jogos
conseguiram ser realizados sem maiores problemas. A competição apresentou elevado índice técnico e tor-
nou-se mais amistoso o relacionamento entre norte-americanos e soviéticos. O brasileiro Adhemar Ferreira
da Silva tornou-se bicampeão olímpico do salto triplo.

126
XVII Jogos Olímpicos
Roma, 1960
Em Roma surgiu o gigantismo que, a partir de 1960, passou a caracterizar os Jogos Olímpicos. Os italianos
foram os primeiros a utilizar maciçamente elementos das forças armadas na organização e na administração
dos Jogos. Apesar de alguns problemas que provocaram críticas dos jornalistas, a festa foi muito bonita, e a
confraternização entre os jovens atletas de várias partes do mundo um fato incontestável.

XVIII Jogos Olímpicos


Tóquio, 1964
A olimpíada de Tóquio transcorreu em clima de alegria e cordialidade. O equipamento eletrônico de
cronometragem retratou o avanço científico do mundo. Os japoneses foram ótimos anfitriões, primaram pela
meticulosidade e mostraram ao mundo que, em menos de vinte anos, haviam conseguido reerguer-se após a
tragédia da Segunda Guerra Mundial.

XIX Jogos Olímpicos


México, 1968
Os 2.260 metros de altitude da cidade do México, embora tenham provocado inicialmente especulação da
imprensa internacional, acabaram por revolucionar todos os métodos de treinamento existentes até então. Nos
Jogos do México, pela primeira vez, foram efetuados testes de verificação de dopagem e comprovação de
feminilidade. A olimpíada de 1968 esteve perfeita e, apesar de incidentes desagradáveis antes do início dos
Jogos, converteu-se em importante acontecimento da história do esporte mundial.

XX Jogos Olímpicos
Munique, 1972
Os alemães prepararam uma bonita festa e empenharam-se em eliminar qualquer fato que recordasse a
atmosfera dos Jogos de 1936. Não tiveram sucesso. Onze israelenses foram mortos por membros de uma
organização palestina e, pela primeira vez, a bandeira olímpica foi hasteada a meio mastro, em sinal de luto. O
medo da repetição dessa tragédia provocou, a partir daí, a montagem de fortes esquemas de segurança.
XXI Jogos Olímpicos
Montreal, 1976
Em protesto contra a participação dos neozelandeses nos Jogos Olímpicos, os países africanos retiraram-se da
competição. Os organizadores sofreram grandes prejuízos e, além disso, as construções sofisticadas provocaram
gastos excessivos que desencadearam manifestações contrárias dos canadenses. O primeiro grande recorde da
olimpíada de Montreal ocorreu fora dos campos esportivos. Através de um avançado processo, que envolvia
sensores eletrônicos, corrente elétrica, sinais telefônicos e raio laser, a chama olímpica saiu da Grécia e chegou ao
Canadá em poucos segundos. Nessa olimpíada, os maiores problemas foram gerados pela política. Mas nem eles
impediram que todos se rendessem à graça e genialidade de uma pequena ginasta romena. Com quinze anos de
idade incompletos, Nadia Comaneci precisou de apenas oito horas para conquistar o mundo e ser chamada de
"rainha de Montreal".

XXII Jogos Olímpicos


Moscou, 1980
Moscou passou por completa remodelação, pois pela primeira vez em várias décadas os soviéticos abriram
suas fronteiras para turistas ocidentais. Os norte-americanos comandaram um movimento de boicote aos Jo-
gos de Moscou como protesto contra a invasão do Afeganistão. Muitos participantes e turistas deixaram de
comparecer e isso representou grande perda para os organizadores. Provavelmente, quem perdeu foram os
ausentes. A cerimônia de abertura dos Jogos foi definida como "o maior espetáculo da Terra". E a mascote
olímpica, representada pelo ursinho Misha, foi a figura mais alegre e popular dos Jogos de Moscou.

XXIII Jogos Olímpicos


Los Angeles, 1984
Para preocupação dos membros do COI, apenas duas cidades candidataram-se para sediar a XXIII olimpíada.
Após a escolha, Peter Ueberroth, empresário empreendedor, assumiu a presidência do comitê organizador dos
Jogos Olímpicos. Apesar do boicote dos soviéticos e de vários países do bloco socialista, o êxito foi absoluto.
A divulgação do lucro financeiro mudou os rumos do movimento olímpico e atraiu muitos candidatos a sede dos
Jogos de 1992. Superando personalidades internacionais, no último dia de 1984,'Peter Ueberroth foi eleito "Ho-
mem do Ano" pela revista Time. Afinal, além de fazer dos Jogos de Los Angeles um grande espetáculo, obteve
lucro num evento até então deficitário e deu início à nova fase do olimpismo moderno.

128
XIV Jogos Olímpicos
Seul, 1988
Após três olimpíadas com boicotes, em 1988 foi possível assistir novamente ao confronto entre todos os espor-
tistas do mundo. Representantes de cento e sessenta países reuniram-se em Seul, batendo recorde de partici-
pação. A organização esteve excelente e o controle de utilização de drogas, rigoroso. A comissão médica
adotou o processo criado por um professor alemão, através do qual era possível detectar esteróides anabolizantes
ingeridos seis meses antes da prova. O escândalo provocado por vários casos de dopagem fez muitos atletas
perderem medalhas e levou dirigentes internacionais a iniciarem movimentos e estudos para acabar com o uso
de drogas no esporte.

XXV Jogos Olímpicos


Barcelona, 1992
O interesse em sediar os Jogos de 1992 foi um dos maiores de toda a história do olimpismo. Sete cidades
candidatas gastaram milhões de dólares nos preparativos preliminares. Para alegria dos catalães, Barcelona
foi escolhida. Antigas edificações foram demolidas, surgindo à beira-mar um ousado projeto arquitetônico.
Alguns países, livres do domínio soviético, retornaram ao movimento olímpico defendendo as próprias cores.
Os Jogos de Barcelona foram os de maior desenvolvimento tecnológico. Próxima ao porto, do alto de uma
coluna, a estátua de Cristóvão Colombo a tudo assistiu. Ela aponta para o mar, reproduzindo o gesto que o
navegador fizera quando, em I492, fora recebido pelos reis da Espanha. Mostrava aos soberanos que, naquela
direção, havia novas terras. Ao sediar os XXV Jogos Olímpicos, Barcelona pôde comemorar, em grande estilo,
os quinhentos anos do descobrimento da América.

XXVI Jogos Olímpicos


Atlanta, 1996
Atenas empenhou-se em sediar o evento. Seria justo que o centenário dos Jogos Olímpicos modernos fosse
festejado no berço do olimpismo, mas o privilégio foi obtido pela cidade de Atlanta. Modernas e sofisticadas
instalações foram construídas para que o mundo pudesse assistir, uma vez mais, à grande festa quadrienal. A
"guerra fria" entre soviéticos e norte-americanos, que tanto alimentou os noticiários internacionais desde I952,
não foi incluída na programação de Atlanta. Após os Jogos de Barcelona, a desmembrada União Soviética viu
cada uma das suas repúblicas seguir o próprio caminho esportivo.

íl29
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS E NECESSÁRIOS

Aos Clubes de Regatas Saldanha da Gama e Internacional de Regatas, ambos de San-


tos, e Club Athletico Paulistano, pois na defesa de suas cores recebi, pela prática esportiva,
expressivas lições de vida.
Aos muito queridos: jornalista Lydia Frederici e aos pacientes treinadores Laerte Gon-
çalves, Fausto de Souza e Jarbas Gonçalves, que me ensinaram o caminho da vitória.
Ao nobre deputado Ruy Silva, grande responsável pela elaboração deste livro. Na
qualidade de secretário de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo designou-me para
assistir aos Jogos Olímpicos de Montreal, onde descobri e me apaixonei pelo maravilhoso
mundo olímpico.
A Paulo Celso Fortes, pela confiança e permanente incentivo no início das minhas
pesquisas.
Ao major Sylvio de Magalhães Padilha, figura maior do olimpismo brasileiro e carro-
mestre do esporte amador no Brasil, por seu reconhecimento, ensinamentos, paciência e
ajuda.
À especial amiga Jussara Zanchetta Pinhal, pelo arregaçar de mangas e intensa cola-
boração. Lado a lado avançamos, com difíceis passos, o primeiro trecho desta longa e árdua
caminhada.
Para Maria Ângela Jordão Carneiro Monteiro, Maria Fernanda Jordão de Arruda
Camargo, Beatriz Alexandrina de Moura e Lia de Almeida Prado, pela gentileza na tradu-
ção dos primeiros e fundamentais textos.
Para a amiga-irmã Maria Alice Fernandes Carreira, juiz sério e imparcial que, com sua
capacidade de análise, por várias vezes cerceou o vôo romântico desta gaivota.
Aos muito queridos e amigos maiores, filatelista Geraldo de Andrade Ribeiro Júnior e
estatístico José Clemente Gonçalves, pesquisadores e grandes conhecedores do mundo olím-
pico, pela assistência zelosa e constante troca de informações.
Ao prezado Pedro Barros Silva, medalha de prata da Ordem Olímpica, um dos maio-
res nomes da Educação Física e da administração esportiva brasileiras, pela atenção, paciên-
cia e enriquecimento do texto.
A Elizabeth Clara Muller, João Podboy Júnior, Marisa Soares, Moacir Brondi Daiuto,
Loyde dei Nero Daiuto, Neide Paixão Mattos, Osvaldo V. Pizani e Ilze Ozom, sempre pron-
tos a me ajudar nos momentos em que foram solicitados.
Ao nobre deputado e Ministro de Estado Luiz Carlos Santos, pela confiança e apoio.
À Ângela Zoppi, alma de artista e coração de amiga, pelo trabalho zeloso que desen-
volveu.
Com especial carinho ao professor doutor Minoru Koda, pela assistência médica e
amizade que muito me honra.
Ao reverendíssimo padre Miguel Pedroso, pela sábia orientação.
A Azaléa Augusta Ribeiro Ramon, Doraci Ernesto, Dulcemar Augusta de Rezende,
Heigorina Cunha e José Mendes Ferreira, pela permanente assistência.
À Leila Borges de Araújo, pela valorização do meu trabalho e empenho para divulgá-
lo. Aos muito queridos amigos de há longos anos, que foram abandonados durante o exten-
so período em que estive mergulhada nesta pesquisa.
A todos os personagens deste livro, sem os quais não teria sido possível descobrir a
magia da Grécia.
NOVâLEXANDRIA

Os joqos Olímpicos
PA

£auret (jodoy
Referências Bibliográficas
1. AZEVEDO, F. de. Antinous: estudo de cultura athletica. São Paulo, Weiszflog, 1920.95 p.
2. BERLIOUX, Monique. Olympia. In: . Olympica. Paris, Flammarion, 1964. p.5- 22.
3. BETETO. H. Atenas. In: . História antiga e medieval. São Paulo, Equipe
Vestibulares, 1969. Caderno 6, p. 101-120. Apostila.
4. BETETO, H. Atenas - Esparta. In: . História antiga e medieval. São Paulo. Equipe
Vestibulares, 1969. Caderno 4, p. 61-80. Apostila.
5. BETETO, H. Esparta. A diarquia. A gerusia. O eforado. A assembléia ou apella. Atenas
no século Vá. C.. In: . História antiga e medieval. São Paulo, Equipe Vestibulares,
1969. Caderno 5, p. 81-100. Apostila.
6. BETETO, H. Evolução da cidade-estado grega. São Paulo. Vestibulares Santa Inês, s. d. 44
p. (Humanística). Apostila.
7. BETETO, H. A evolução da cidade-estado grega. In: . História antiga e medieval. São
Paulo. Equipe Vestibulares, 1969. Caderno 3. Apostila.
8. BOUTROS, Labib. Precisiones sobre ei origen de los juegos antiguos. Revista Olímpica.
Lausanne, n. 162, p. 243-244, abr. 198Í.
9. CHAVAN, Pierre. Pierre de Coubertm y su família. Revista Olímpica. Lausanne, n. 184/
185. p. 115-118, feb./mar. 1983.
10. CHTEINBAKH, Valéri. De Olímpia a Moscovo. Moscovo, Ed. Progresso, 1981. p. 1-17.
11. CIVITA, Victor, ed. Dicionário de mitologiagreco-romana. 2. ed. São Paulo, Abril
Cultural, 1976, 196 p.
12. Lê COMITÊ International Olympique. In: COMITÊ INTERNATIONAL
OLYMPIQUE. Charte olympique. Edition provisoire. Lausanne, 1978. P. 1-125.
13. COMMELIN, P. Nova mitologia grega e romana. 9. ed. Rio de Janeiro, Briguiet,
1955.415p.
14. COSTELLE, Daniel. & BERLIOUX, Monique. Histoirg_des jeux olvmpiques. Paris,
Larousse, 1980. P. 1-15.
15. DURANTEZ CORRAL, Conrado. Los juegos olímpicos antiguos. Madrid, Ibarra, 1965. 223p.
(Publicaciones dei Comitê Olímpico Espanol).
.16. DURANTEZ CORRAL. C. Olimpia y los juegos olímpicos antiguos. Madrid, Comitê Olimpico
Espanol, 1975.1.1, 249p.
17. ENCYCLOPEDIA e diccionario internacional. Lisboa, Jackson, s.d. v.8 p. 4424.
18. EVOLUTION of the games. Montreal, Publinova, 1974. 96 p. (The Olympians).
19. FALLU, Élie; GUIMOND, Lucien; GAZEILLE, Madeleine; CLOUTIER-TROCHU, Lise.
Lês jeux olympiques dans TAntiquité. Montreal, Ed. Paulines, 1976. 141p.
20. GACARIANNOGÓULOÜ-GALAIOÜ, A.A. Olímpia. Athens, Ed. Promote;
International Arts, 1968. 47p.
21. GAMES OF THE OLYMPIAD, 21, Montreal, 1976.1 know. S.n.t. Folheto.
22. GODOY, Laurete A. de. Jogos olímpicos da Grécia: o mais belo capítulo esportivo
da Antigüidade. Rio de Janeiro, COB, 1983, 32p.
23.GOÓCK, Roland. O apogeu da cultura européia: Acrópole. In: Maravilhas do mundo. São
Paulo, Círculo do Livro, 1975. p. 132-135.
24. GOÒCK, Roland. As maravilhas da Antigüidade. In: . Maravilhas do mundo.
São Paulo, Círculo do Livro, 1975. p. 17.
25. HENRY, Bill. Los juegos olímpicos de laAntiguedad. In: . História de los juegos olímpicos.
Barcelona,Ed. Hispano-Europa, 1955. cap. 2,p. 12-23. (ColecciónHerakles, SérieII: Historia
de los Deportes).
26. IMITANDO os deuses. Veja. São Paulo, 31 de jul. 1976. Esportes, p. 83-85.
27. JEUX DE LA OLYMPIADE, 21, Montreal, 1976. Guide officiel. Montreal,
Pubhcations Ecair, 1976. 328p.
28. Os JOGOS em ruínas. Placar, São Paulo, n° 507, 18 jan. 1980.As Olimpíadas e seus
heróis, p.7.
29 JOGOS olímpicos: Atenas, 776 a.C. - Montreal, 1976. Folha da Manhã. Porto
Alegre, 16 jul. 1976. Suplemento Especial, 16p.
30. JOGOS olímpicos. Desportos: noticiário especializado. Rio de Janeiro, v.l, n.l, p. l,
jun./jul. 1975.
31. JUEGOS olímpicos. In: ENCYCLOPEDIA Internacional focus. Barcelona, Argos, 1968. Volume
de extensión: El Deporte, p.9-12.
32. KELLY, Sílvio. História dos jogos olímpicos. Rio de Janeiro, Ed. Gol; INL-MEC,
1972. p.1-41.
33. KIKNADZE, Alexandr. Viento dei Olimpo. Moscú, Ed. Novosti, 1980. p. 1-25
34. KOLOS, Mathias. Lês jeux olympiques. Ottawa, La Presse, 1974. 237p.
35. KRAUSE, Gerhard; MINDT, Erich. Olympia 1936: eine national aufgabe». Berlin,
Reichssopostverlag, 1935. P. l-43.
36. LÁ vai o Barão. Placar, São Paulo, n°508, 26 jan.1980. As Olimpíadas e seus heróis, p.11.
37. LOPES, Luciano. Pestalozzi: o grande educador. Rio de Janeiro. 1943. 205p.
38. MALET, A. Roma. Buenos Aires, Hachette, 1942.
39. MATTOSO, A.G. Antigüidade. In: . História da civilização. 5. ed. Lisboa, Livr. Sá da
Costa, 1956. P.215-563.
40. MAYER, Otto. A través de los aros olímpicos: historia dei Comitê Olímpico Internacional y de
sus sesiones desde 1894 a 1960. Madrid. Comitê Olímpico Espanol, 1962, 311p.
41. MENDES, Marco Antônio. Jogos olímpicos. Status. São Paulo, p.62-66.
42. MEUNIER, M. A legenda dourada: a nova mitologia clássica. São Paulo, IBRASA, 1945.
43. MITOLOGIA. São Paulo, Abril Cultural, s.d. v.l, 272;.; v.2, p.273-544; v.3, p.545-800.
44. MOREIL, André. Vida e obra de Allan Kardec. São Paulo, Edicel, 1977. 241p. (Coleção Vidas
Missionárias, 1).
45. OLÍMPIA: ei hogar dei nacimiento y de Ia celebración de los juegos olímpicos, 776 a.C. - 393
d.C. Athens, Promete, 1968. 47 p.
46. The OLIVE crown. In: OLYMPIC GAMES, London, 1948. Official souvenir. London. Futura,
1948. P.10-11, 14, 16, 28.
47. PEQUENO dicionário enciclopédico Koogan Larousse. Rio de Janeiro, Ed. Larousse do Brasil.
1979.1635p.
48. PETIT LAROUSSE: dictionnaire encyclopédique pour tous. Paris, Larousse, 1961. 1795p.
49. PHILINOS: o caminho do sucesso. Desportos: noticiário especializado. Rio de Janeiro, v. l, n. l,
p.l5,jun./jul. 1975.
50. PHOTINOS, Spytos. Olympie: abrégé historique et guide complet. Athènes, Ed.
Flamme Olympique, 1972. 112p.
51. PROMACHOS: o lutador. Desportos: noticiário especializado. Rio de Janeiro, v. l, n.2, p. 15,
set/out. 1975.
52. R. NETO. Américo. Jogos olímpicos de ontem, de hoje e de amanhan: estudo histórico, techinco
e social. São Paulo, Spes, 1937. 180p.
53. RAMOS J. J. Os exercícios físicos na história e na arte: do homem primitivo aos nossos dias. São
Paulo, IBRASA 1983. 348p.
54. RODRIGUES ODRIOZOLA, Ignacio. Montreal: agonia de una era olímpica. Bilbao, Ed.
Mensajero, 1976. 264p.
55. SCHAAP, D. An illustrated history of the olympics. New York, Ballantme Books, 1976. 399 p.
56. SCHERMANN, Adolfo. Evolução dos desportos através dos tempos. 2. ed. Rio de Janeiro.
Porgett, 1958. 127p.
57. SILVA,M.L.Etruscoseromanos. In: Historiadas civilizações: da pré-história àera espacial.
Lisboa, Presença, s.d. v.4, 78p.
58. SOUTO MAIOR, A. História geral. 6. ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1968. p.86-285.
Folheto.
60. UMMINGER, Walter. Heróis, deuses, super-homens: as grandes proezas físicas do homem num
apanhado histórico-cultural. São Paulo, Melhoramentos, 1968. p. l-142
61. VANKER, Raymond. Lês cahiers de rhistoire special olimpíades: de Ia Mythologie à nos jours...
Paris, SEDIP, s. d. 122p.

* Conceitos emitidos em curso de MITOLOGIA GREGA ministrado no Instituto


Educacional Ateniense - Professor Viktor Salis - 1992.
Vencer e honrar a vitória em nome
da paz. Obedecendo esse ideal, atletas de
toda a Grécia encontraram-se por doze
séculos na cidade de Olímpia, para dis-
putar as provas do maior evento esporti-
vo do mundo antigo.
Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga
traz a história dos acontecimentos signi-
ficativos que envolveram os célebres jo-
gos em homenagem a Zeus e aos deuses
1 ^~xi • y-^v « • •
u u wimipu. ^jís piepcucuivu», ub u eu la-
mentos, as modalidades esportivas, os
rituais sagrados, os atletas vitoriosos e
sua consagração formam um amplo pa-
norama que representa, em toda sua
grandiosidade, a celebração da paz e a
busca da perfeita expressão do corpo e
da alma.
Lauret Godoy, integrante de delega-
ções olímpicas e campeã sulamericana e
brasileira de atletismo, uniu seus profun-
dos conhecimentos a uma pesquisa am-
pla e rigorosa, para oferecer ao leitor este
retrato vivido de uma época em que ho-
mens e deuses tornaram-se semelhantes
em sua glória.

Você também pode gostar