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Isaak Lurja foi filho de imigrantes alemães que se radicaram em Jerusalém. Foi educado no Cairo onde
atuou como místico desde 1569.
da vida intra-trinitária. Primeiro Deus se auto-recolhe. Num segundo momento,
sim, o Deus Trino Se abre para fora de Si mesmo fazendo existir todo o mundo.
Deus dá vida ao mundo não existente. Isaak Lurja impediu, com seu princípio do
Zim-zum, que se abrisse porta alternativa a uma forma panteísta de ver a ação
criadora de Deus. Ele via o entrelaçar-se de Deus e do o mundo criado de forma
misteriosa, mas sempre como duas realidades distintas. Entre Deus e o mundo
não há qualquer confusão. O Deus Trino criou a vida e nisso revelou sua paixão
eterna por cada um de nós, pelos animais e por tudo que nos rodeia. Seu amor
pela vida extra-trinitária se traduziu num ato concreto de auto-entrega.
Ver o mundo (sua criação e sua preservação) como um ato de paixão
divina de auto entrega tem profundas implicações no ser e no existir dos cristãos
e cristãs hoje. Lhes dá, sim, um futuro. Não que não se possa ver o amor criador
de Deus em pura contemplação, mesmo que esta seja agradecida. Não cabe
aqui nem a inércia nem a omissão. A criação nos inspira a responder também
de modo apaixonado. Paixão pela vida em todas as suas facetas é a maneira de
ser daqueles e daquelas que podem ver na criação muito mais do que mero
acaso. Esta forma de ver a criação Divina adquire um caráter marcadamente
performativo na vida dos filhos e filhas de Deus, pois uma vez que Ele saiu de Si
num gesto de despojamento visando a criar a vida, não pode ser diferente na
existência de Seus filhos e filhas. Na criação, ainda que embrionariamente, se
delineou o projeto de Deus manifesto plenamente na cruz de Cristo. Na criação,
foi revelado o Deus que se fez vulnerável e padecente em favor da redenção de
todo o mundo.
A tradição cristã tem nos ensinado o princípio da asseidade (aseitas) de
Deus. Ele é o auto-existente. Não tem, em nada, fora de Si, a motivação para a
Sua existência. Deus basta-se a Si mesmo (Jo. 5,26). Ele não seria sido menos
Deus se não tivesse criado a vida do mundo. Se houvesse sido preservada
apenas a vida intra-Trinitária Sua glória não perderia nenhum grau em perfeição.
Mas Deus não quis que as coisas fossem assim. Decidiu em Sua graça livre, ter
a companhia de cada um de nós. Preferiu a companhia com aqueles que lhe
eram diferentes. Optou pela comunhão, em vez do isolamento. O Uno desejou a
multiplicidade. É por isso mesmo que Sua sabedoria só poderia ser multiforme
(Ef. 3,10). Essa realidade não se deve dissociar de outra verdade da fé, que diz
que a criação é também uma realidade contingente. Está aí porque Deus assim
quis, mas poderia não estar, poderia não existir. Deus não se conteve em Sua
graça invencível. Ele quis que viesse à existência algo e alguém distinto dele,
mas a Ele vinculado e a Ele correlato. Crer desta forma deve nos encher de um
misto de sentimentos: por um lado uma profunda alegria e confiada gratidão,
pois não existimos por puro acaso. Estamos vinculados a um desígnio eterno.
Nosso presente e nosso futuro estão sendo conduzidos por Deus, por Sua
providência. Ele nos toma pela mão e procura caminhar conosco, guiando-nos
pelos caminhos de vida.
A história de Deus conosco tem amplitude cósmica, posto que a mesma
abarca também o universo material. Mas a criação de Deus por conta de sua
contingencialidade não pode ser bem percebida sem sua correspondente atitude
de espanto e humildade. Estamos aqui por conta de uma força estranha a nós,
que nos amou antes mesmo que pudéssemos sinalizar amor responsivo. Deus
é o garantidor desta parceria. Ele amou-nos ontem, nos ama hoje e nos amará
eternamente. Entretanto, Ele é um mistério abscondituos et revelatos. Esconde-
se de nós e se apresenta diante de nós em liberdade permanente. Nunca estará
condicionado por nada nem por ninguém, exceto por Seu amor, o qual não tem
limites. Criou tudo o que há fundamentalmente desde uma vontade
absolutamente liberta de condicionamentos. Estamos falando, portanto de um
tipo de amor sem paralelo. De um amor “apaixonado” (que sofre e se condói
solidariamente com o mundo), pelos seres humanos. Inspirar-se e se deixar
plasmar por esse amor pode, por certo, garantir o futuro da Igreja.