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CONTRIBUIÇÕES VYGOTSKYANAS PARA A PSICOPEDAGOGIA

Lizete de Paula Ballerini


RESUMO

O desenvolvimento social está relacionado, entre outros fatores, à qualidade da


educação, considerada hodiernamente direito universal. A imposição natural da
ampliação do acesso à educação confere nova demanda relacionada à dificuldade de
assimilação de conteúdos, entre determinados grupos emergentes. Neste cenário, que se
apresenta desafiador pela crescente demanda citada, as intervenções psicopedagógicas
surgem como apoio; entretanto sua intervenção deve abarcar questões que vão além dos
aspectos cognitivos. Em síntese, a Psicopedagogia propõe-se a compreender o processo
de ensino-aprendizagem, buscando o desenvolvimento, em especial, daqueles grupos
menos favorecidos, possibilitando o êxito não apenas escolar, mas também na
convivência em sociedade. Neste sentido, as Teorias de Vygotsky constituem-se
alicerces para uma intervenção psicopedagógica, pois se relacionam com as ações e
intervenções do Psicopedagogo. Esta intervenção, em resposta às exigências sociais,
visa proporcionar aos atores da educação, presentes no contexto escolar, ferramentas
para reflexão e mobilização em atuação mediadora nos processos de ensino-
aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Vygotsky, Psicopedagogia, aprendizagem, contexto escolar.


Título em inglês???

ABSTRACT

Social development is related, among other factors, to the quality of education, which is
considered universal right nowadays. The natural imposition of the expansion of access
to education, confers new demand related to the difficulty of assimilation of content
among certain emerging groups. In this scenario, which presents itself challenging by
the growing demand cited, psychopedagogical interventions appear as support; however
its intervention must encompass issues that go beyond the cognitive aspects. In
summary, the Psychopedagogy aims to understand the teaching-learning process,
seeking the development, specially of those less favored groups, enabling not only
school success, but also in their own coexistence in society. In this sense, Vygotsky’s
theories constitute the basis for a psychopedagogical intervention so it’s related to the
actions and intervention of the Psychopedagogue. This intervention, in response to
social requirements, aims to provide educational actors, presente in the school context,
tools for reflection and mobilization in mediating action in the teaching-learning
processes.

KEYWORDS : Vygotsky, Psychology, learning, school context.

De forma preventiva e diagnóstica a Psicopedagogia propõe-se a compreender e


auxiliar na complexa esfera de atuação do ensino-aprendizagem, sugerindo estratégias
para facilitar a aprendizagem e superar dificuldades, não apenas relacionadas aos
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conteúdos que constam nos projetos curriculares, mas visando também a própria
convivência social.
Assim, diante deste desafio, pela crescente demanda relacionada às dificuldades
de assimilação e aprendizagem de conteúdos, apresentados entre determinados grupos,
este artigo tem como objetivo identificar os princípios sociointeracionistas presentes nos
postulados e Teorias Vygotskyanas e sua contribuição no campo da Psicopedagogia.
A importância da atuação do psicopedagogo como mediador no contexto escolar
e a influência que as interações sociais e culturais têm neste processo fornecem
elementos para identificar as teorias vygotskyanas inseridas no contexto da
Psicopedagogia, contribuindo para esclarecer o papel do psicopedagogo no contexto
escolar e sua relação de mediação e auxílio.
Portanto, faz-se mister uma breve contextualização da Teoria Sócio-Histórico-
Cultural (TSHC) de Vygotsky e de outros autores, com enfoque no contexto escolar,
além de alguns aspectos do desenvolvimento intelectual com base nas influências
sociais e culturais.
Lev Semenovich Vygotsky nasceu em Orsha, na Bielo-Rússia, em 1896.
Formou-se em Direito e foi um estudioso das áreas de Pedagogia, Psicologia, Filosofia,
Literatura e Deficiência física e mental. Segundo Salami & Sarmento (2011) sofreu
influência marxista em suas teorias, tendo como um dos pilares a interação social.

O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que


dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata,
acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente
independentes de desenvolvimento, convergem. (VYGOTSKY, 1991 p.20)

As funções cerebrais, segundo Vygotsky (referência aqui e final) não são fixas,
mas possuem plasticidade e se moldam ao longo da história, transformando o homem de
biológico em sócio-histórico, e nesse aspecto a cultura é essencial para o homem.
Exemplo é a utilização de signos (elementos externos para auxílio do intelecto) como
instrumentos de processos psicológicos internos do sujeito que, segundo Oliveira
(1997), são influenciados pela cultura do local de nascimento das crianças, como
ambiente estruturado, onde qualquer elemento possui um significado. Para
Vygotsky(referência aqui e final), a síntese das aprendizagens que são apropriadas ao
longo da vida não significa soma, mas algo novo, que não estava presente no início e
que surge com a interação entre os elementos num processo de transformação.

A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado


problema psicológico (lembrar, compara coisas, relatar, escolher, etc.) é análoga
à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo
age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel
de um instrumento no trabalho. (VYGOTSKY, 1991 p.59)

De acordo com Oliveira (1997), a linguagem, na teoria de Vygotsky, tem função


principal na comunicação com os pares, e o uso de palavras tem a função de promover o
pensamento generalizante, classificando objetos sob a mesma categoria conceitual.
Compreender a relação entre pensamento e linguagem é fundamental para
entender a aprendizagem na criança. Antes da associação entre pensamento e linguagem
ocorrer, a criança passa por algumas fases no desenvolvimento do pensamento, pré-
verbal e pré-intelectual, até a fala atingir a função simbólica, intelectual, generalizante.
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As crianças pequenas dão nome a seus desenhos somente após completá-los;


elas têm necessidade de vê-los antes de decidir o que eles são. À medida que as
crianças se tornam mais velhas, elas adquirem a capacidade de decidir
previamente o que vão desenhar. Esse deslocamento temporal do processo de
nomeação significa uma mudança na função da fala. (VYGOTSKY, 1991 p.22)

Em relação ao desenvolvimento da criança, Vygotsky define dois níveis, o


primeiro chamado de desenvolvimento real, que, segundo os estudos do
desenvolvimento mental, considera apenas aquilo que elas conseguem fazer por si
mesmas (Vygotsky, 1991 p.57). São funções já amadurecidas. O segundo nível,
chamado de desenvolvimento proximal, caracteriza-se por situações-problema que são
propostas às crianças e que, com alguma assistência, elas também conseguem
solucionar. A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) é a distância entre a solução
independente de problemas e aquelas que, com a orientação ou colaboração, a criança
consegue resolver. São funções que ainda estão em amadurecimento.
Vygotsky, de acordo com Ivic (2010), analisa as relações entre desenvolvimento
e aprendizagem, em um modelo em que a aprendizagem aparece como um reforço ao
processo natural de desenvolvimento, permeado pela cultura, o que amplia as
possibilidades naturais do indivíduo. Assim, com as orientações e assistências
recebidas, a aprendizagem da criança avança e atinge novos níveis.
A Psicopedagogia como ciência emerge de uma lacuna nos estudos da
Psicologia e da Pedagogia e tem o objetivo de complementar a formação desses
profissionais para enfrentar o problema do fracasso escolar e buscar compreender os
motivos e o porquê de um grande contingente de alunos não ser capaz de aprender e se
desenvolver no sistema formal educativo.
Entende-se que o papel central da escola na construção cultural na vida da
criança ou jovem que a frequenta é de construir o conhecimento formalizado, de
desenvolver as potencialidades e capacidades dos alunos de forma criativa e de buscar
conhecer as dificuldades, enfrentando-as na busca da qualidade da educação.
Coll(1989) apud Bossa(2008) destaca a necessidade de pesquisas nesta área
demandada pela multi e interdisciplinariedade da Psicopedagogia, na articulação dos
conhecimentos, em busca da compreensão do processo de ensino-aprendizagem de
crianças.
A teoria Vygotskyana oferece postulados para uma abordagem psicopedagógica
focada na aprendizagem e em suas dificuldades, em que a criança constrói seu
conhecimento, integrado ao contexto social, e a linguagem desempenha um papel
central no desenvolvimento.
Similar à teoria de Vygotsky, a proposta da Psicopedagogia aborda o problema
do processo de aprendizagem no contexto sócio cultural em que a criança está inserida,
com enfoque que pode ser de prevenção, intervenção ou de diagnóstico. Weiss (2007, p.
17) cita um exemplo em que a escola deixa de considerar as condições socioeconômicas
e culpa os alunos pela não aprendizagem.

Relembro o caso de três irmãos (9, 8 e 6 anos) que se matricularam juntos pela
primeira vez na vida, em classe de alfabetização de uma escola pública (março).
Já no mês de junho eram encaminhados para diagnóstico em clínica comunitária
porque não conseguiam caminhar na alfabetização. A escola nada questionou
em relação à profunda "carência social" dessa família de migrantes que chegava
ao Rio de Janeiro fugindo de outra miséria pior. De imediato "culpou" os três
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alunos alegando que deveriam ter um problema físico-familiar para não


aprender. Conseguimos provar, pelo diagnóstico, a absoluta normalidade dessas
crianças e a necessidade de a escola "rever-se".

Segundo Weiss (2007), o diagnóstico é uma pesquisa investigativa com o


sujeito, para compreender as possíveis causas da dificuldade de aprendizagem. Assim,
através de suas relações busca-se esclarecer um déficit. Este déficit pode ser próprio ou
originário da família ou mesmo da instituição de ensino.
Um diagnóstico psicopedagógico tem por objetivo identificar divergências entre
a aprendizagem e a atuação da criança em situações de aprendizagem baseado em um
modelo social padrão esperado.
Como parte de um processo construído pela própria criança, a aprendizagem é o
caminho que leva à descoberta do mundo e de suas características, encontrando sua
identidade e autoria na sociedade a que pertence e se apropriando da cultura nas
relações interpessoais que estabelece no ambiente escolar. A Psicopedagogia, segundo
Bossa (2008), estuda como se caracteriza a aprendizagem da criança através de diversos
fatores e as alterações nestas condições que ocasionam transtornos de aprendizagem.
A aprendizagem, segundo Fonseca (1999) é um comportamento modificado em
resposta a experiência interiorizada e consolidada no cérebro, herança sociocultural e
biológica da humanidade. Além do estímulo e da atividade, o fator motivacional é
condição interior necessária para aprendizagem. A memória associa as funções de
recepção e expressão, o esquecimento é resultado de não ter aprendido de forma
suficiente.
Neste processo de ensino e aprendizagem as dificuldades de alguns alunos
aparecem e podem ser a causa de exclusão e afastamento do convívio social, o que é
particularmente frustrante para o ser humano, que necessita do convívio social e da
interação para seu desenvolvimento. Diante de sua incapacidade em se adaptar ao
ensino formalizado, surge um sentimento de incompetência e culpa que, muitas vezes, é
provocado? por influência do professor que o abandona por serem causa de conflito
interno. (escrita confusa. Rever) A criança com dificuldades de aprendizagem é um
problema a ser solucionado, não um caso “perdido” como se a “falta de vontade” do
aluno fosse sua única causa. Reconhecer que os métodos e práticas educativas não se
adaptam, assim como uma reflexão sobre atitudes e comportamentos em sala de aula
por parte do professor. (escrita confusa. Rever)
A Psicopedagogia considera a dificuldade de aprendizagem como uma
manifestação de uma alteração que envolve toda a personalidade. A infância e seu
desenvolvimento são dinâmicos e interativos. Existe uma transferência entre o
Psicopedagogo e a criança que está sendo trabalhada, sua ação não é neutra. O objetivo
do Psicopedagogo é integrar a criança ao convívio, respeitando a individualidade e
oportunizando outros caminhos para o processo de aprendizagem e desenvolvimento.
A escola, espaço social formal da aprendizagem, em seu contexto, deve ser
respeitada como local onde a criança irá relacionar-se com seus pares e fará escolhas de
sua participação na sociedade a qual pertence. A falta de estrutura é significativa neste
processo. Segundo Weiss,

O aluno da escola pública necessita das duas coisas: do telhado, do quadro-de-


giz e dos vídeos e computadores, pois só assim o aluno "descamisado", de "pé
no chão" poderá estar no mundo, desejoso de aprender "coisas modernas" que
lhe darão melhores possibilidades no mercado de trabalho futuro, que lhe darão
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uma possível ascensão social pelo conhecimento que possuir. (WEISS, 2007
p.18)

Inserido neste ambiente, o papel do Psicopedagogo é o de colaborar para que


esta construção não seja excludente, de forma que os padrões e regras estabelecidos
possam proporcionam a todos as condições para a aprendizagem de qualidade e
desenvolva a personalidade individual.
Segundo Luria (1992), a teoria de Vygotsky é instrumental, histórica e cultural.
Considera-se instrumental, pela utilização de instrumentos de mediação das funções
psicológicas superiores, o que nos difere dos animais, que estabelecem uma relação
direta com a natureza. A humanidade surge com o trabalho, que através da utilização de
signos, conforme já mencionado, e instrumentos que modificam a psique humana e sua
simbolização, através das relações com a natureza externa. (escrita confusa. Rever) Este
caminho de descobertas e conquistas da humanidade permitiu a modificação do cenário
da natureza e determinou mudanças nos papéis dos seres humanos. A cultura oferece
instrumentos e auxiliares, desde os primeiros nós no lenço (rever linguagem) até a alta
tecnologia informática atual, para o homem em seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento intelectual, ao lado da memória natural existe a inteligência exterior.
(escrita confusa. Rever)
A interação da história, cultura e sociedade nas teorias vygotskyanas completam-
se e propõem estudar o ser humano inserido em uma cultura. Seu desenvolvimento e
aprendizagem são fundamentais na atuação do Psicopedagogo, que intervém em um
momento em que conflitos e dificuldades de aprendizagem interferem no
desenvolvimento da criança no contexto escolar.
Para Candido (2010), o psicopedagogo deve considerar em sua análise
diagnóstica ou de intervenção “o interacionismo de Vygotsky” e sua influência no
desenvolvimento da criança. A partir daquilo que a criança já desenvolve com
autonomia, deve-se estimular sua participação e integração ao grupo, melhorando sua
autoestima e motivação, até que se tornem autônomas na aprendizagem. Vygotsky
escreveu:

É por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança se envolve em


suas atividades. Absolutamente, tudo no comportamento da criança está
fundido, enraizado no social. [E prossegue:] Assim, as relações da criança com
a realidade são, desde o início, relações sociais. Neste sentido, poder-se-ia dizer
que o bebê é um ser social no mais elevado grau. (Vygotsky,1932 apud IVIC,
2010 p.16)

A criança quando inicia sua participação em sociedade, de modo formal, fora do


ambiente familiar, no espaço escolar pela primeira vez(escrita confusa. Rever), deve
mostrar sua capacidade de aprender e atuar de acordo com um padrão “normal” aceito
por todos os membros dela participantes. Este novo espaço pode mostrar-se hostil e
agressivo, e provocar na criança uma retração, causando dificuldades já nas primeiras
aprendizagens. As causas nem sempre são facilmente identificadas.
A Instituição escolar cumpre a função de ensinar de acordo com os padrões que
são importantes para atender a uma sociedade de classe trabalhadora, e cabe a ela o 
papel reconhecido de formar novos cidadãos capazes e aptos a serem inseridos na
sociedade de trabalho.
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Segundo Bossa (2000, inserir referência na bibliografia), a Psicopedagogia


trabalha com a concepção de um sujeito biológico, afetivo e influenciado por suas
interações no meio sociocultural, e também pela atuação do professor em relação ao
aluno com o meio. A relação aluno/professor reflete valores transmitidos por este. Além
disso, ao iniciar o diagnóstico, o Psicopedagogo busca identificar quais as divergências
comparadas ao modelo de aprendizagem esperado pela criança e quais os possíveis
obstáculos que impedem seu desenvolvimento decorrente desta aprendizagem. Neste
âmbito, a atuação psicopedagógica pode acontecer tanto de forma preventiva, quanto
terapêutica.
Preventivamente, o psicopedagogo pode atuar em conjunto com o professor de
sala, na preparação de docentes, preparando-os para atuar dentro da própria escola. Em
sua função preventiva, o psicopedagogo identifica alterações no processo de
aprendizagem e na dinâmica que ocorre nas relações dentro do ambiente escolar,
favorecendo o processo de integração e promovendo orientações metodológicas de
acordo com a criança e o grupo. Segundo Weiss (2008), um diagnóstico bem elaborado
não é resultado da quantidade de instrumentos utilizados, mas da competência do
psicopedagogo para explorar os múltiplos aspectos que se revelam diante de cada
situação.
Vygotsky relaciona as interações sociais e o desenvolvimento cognitivo, assim
como contemporaneamente ocorre com a intersecção da psicologia e da pedagogia, com
vistas à aplicação prática nos processos de aprendizagem e em suas dificuldades. A
necessidade de atender as crianças que por diferentes motivos não se adaptam ao
modelo do sistema educacional permite o avanço da Psicopedagogia, preenchendo uma
lacuna. As dificuldades de aprendizagem que surgem em diversos conteúdos
relacionados à leitura, à escrita e à matemática, por exemplo, prejudicam a criança no
processo de aprendizagem educacional.

Entender e agir de forma positiva sobre as dificuldades, de forma a fazer


acontecer a aprendizagem, e conduzir o aluno a sua ultrapassagem de limites,
que muitas vezes é imposta por déficits cognitivos, físicos e, ou afetivo,
representa a busca, a meta, de muitos dos profissionais que acredital no
construir, nas superações que o processo educativo pode promover. (KAUARK
& SILVA, 2008 p.265)

A sala de aula compõe-se por uma diversidade de níveis de desenvolvimento


apresentados pelos alunos, tanto real quanto potencial, e nas situações interativas entre
os pares surge a oportunidade de que cada um seja agente de aprendizagem do outro. As
vezes, um aluno aprende, em outra oportunidade pode ensinar, e professor mediador, a
possibilidade de oportunizar que todos se apropriem do conhecimento, através de
atividades que possibilitem atuar na zona de desenvolvimento proximal dos alunos   com
o objetivo de desenvolver as funções psicológicas superiores. (escrita confusa. Rever) A
zona de desenvolvimento proximal conceituada em Vygotsky é uma forma de
compreender a aprendizagem cooperativa e a construção de conhecimentos a partir da
interação e auxílio mútuo visando à superação de dificuldades de aprendizagem nos
moldes padrão esperados.
Leontiev demonstrou, em laboratório, o papel dos signos na atenção voluntária e
na memória.
Pedia-se a crianças que participassem de um jogo, no qual elas tinham que
responder a um conjunto de questões, sem usar determinadas palavras. Via de
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regra cada criança recebia três ou quatro tarefas que diferiam quanto às
restrições impostas a suas respostas e quanto aos tipos de estímulos auxiliares
em potencial que poderiam usar. Cada tarefa consistia de dezoito questões, sete
delas referentes a cores (por exemplo, "Qual a cor...?") A criança deveria
responder prontamente a cada questão, usando uma única palavra. A tarefa
inicial foi conduzida exatamente dessa maneira. A partir da segunda tarefa,
introduzimos regras adicionais que deviam ser obedecidas para que a criança
acertasse a resposta. Por exemplo, a criança estava proibida de usar o nome de
duas cores e nenhuma cor poderia ser usada duas vezes. A terceira tarefa tinha
as mesmas regras que a segunda, e forneciam-se às crianças nove cartões
coloridos como auxiliares para o jogo ("estes cartões podem ajudar você a
ganhar o jogo"). (VYGOTSKY, 1991 p.30)

Os experimentos permitiram a Leontiev identificar que crianças em idade pré-


escolar não eram capazes de descobrir como usar os cartões e tiveram dificuldades em
ambas as tarefas. Através do diagnóstico, o psicopedagogo utiliza-se de técnicas
semelhantes e pode atuar para preencher lacunas neste processo de desenvolvimento da
aprendizagem. Deve atuar também na orientação de pais e professores, em conjunto
com outros profissionais em uma equipe multidisciplinar das áreas psicomotora,
fonoaudiologia e educação, pois as dificuldades de aprendizagem são resultado de
diversos fatores e origem e consequentemente necessita de diversas abordagens. O
papel mediador do psicopedagogo nesse processo vai além da união de conhecimentos
da psicologia e da pedagogia, para uma integração entre os diversos campos.
O psicopedagogo atua, conforme o Código de Ética do Psicopedagogo
(BRASIL, 2011), em área multidisciplinar de Saúde ou Educação, já que seu objetivo é
compreender a variedade de dimensões da aprendizagem humana.
As ideias de Vygotsky e seus estudos sobre o sujeito social e a Psicopedagogia,
de acordo com Bossa (2000), justificam que o sujeito social pode se tornar um sujeito
autor, através da mediação e interação com o outro. Assim, surge um novo sujeito em
um todo integrado.
As teorias postuladas por Vygotsky muito têm contribuído e influenciado a
Psicopedagogia que atua de forma interdisciplinar no contexto escolar, sendo
fundamental seu apoio para os diversos atores presentes na escola: professores, equipe
pedagógica, alunos e família. O papel do Psicopedagogo na escola, com a compreensão
de que fatores sociais e culturais interferem na aprendizagem e influenciam nas
dificuldades apresentadas por diversos alunos, tem produzido uma preocupação na
contratação destes profissionais (escrita confusa. Rever) com a finalidade de
intervenção e mediação destes fatores.
Em muitos casos, o fracasso escolar não é causado por problemas neurológicos.
Em sua maioria, o ambiente familiar desestruturado é o principal fator desse fracasso. A
desmotivação, a desordem emocional, traumas e a baixa autoestima causam diversos
problemas como a lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse.
A escola é um meio social que provoca, em alguns casos, esse fracasso escolar,
causado pela rejeição e pela agressividade de outras crianças em relação a preconceitos
e tabus. (escrita confusa. Rever)
A família e a escola devem atuar de forma positiva, através de ações afirmativas,
num primeiro momento, reconhecendo as dificuldades da criança e buscando atender ao
seu pedido de ajuda. O vínculo afetivo familiar e a influência do professor em sua
atuação em relação à criança são fundamentais para o seu bom desenvolvimento.
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Trabalhar a família e resgatar a autoestima é o primeiro aspecto. A simples ação


de ser levada a um psicopedagogo, muitas vezes, já é considerada pela criança como
uma atenção, um cuidado que pode provocar melhora em sua aprendizagem.

REFERÊNCIAS
BOSSA, Nadia Aparecida. A emergência da Psicopedagogia como ciência. Rev.
psicopedag.,  São Paulo ,  v. 25, n. 76, p. 43-48,   2008 .   Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862008000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  18  out.  2016.

BRASIL. Código de ética do psicopedagogo. Reformulado pelo Conselho da ABPp,


gestão 2011/2013 e aprovado em Assembleia Geral em 5/11/2011. Disponível em:
http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html Acesso em: 07
nov. 2016.

CANDIDO, Francisca Francineide. Práticas pedagógicas e inovação na instituição de


ensino: uma abordagem psicopedagógica com foco na aprendizagem. Rev.
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<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862010000200011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  11  out.  2016.

FONSECA, Vitor da Abordagem Psicopedagógica das Dificuldades de


Aprendizagem- Insucesso Escolar. 2ª ed., Lisboa: Âncora Editora, 1999.

IVIC, Ivan. Lev Semionovich Vygotsky esse é o nome do artigo? Qual o nome do
livro? Ivan Ivic; Edgar Pereira Coelho (org.) – Recife: Fundação Joaquim Nabuco,
Editora Massangana, 2010. 140 p. corrigir inteira a referência

LURIA, A. R. A construção da mente. São Paulo: Ícone, 1992.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento um processo


sócio-histórico. 4ª ed. São Paulo: Editora Scipione, 1997.

SALAMI, Marcelo; SARMENTO, Dirléia Fanfa. Interfaces conceituais entre os


pressupostos de L. S. Vygotsky e de R. Feuerstein e suas implicações para o fazer
psicopedagógico no âmbito escolar. Rev. psicopedag.,  São Paulo ,  v. 28, n. 85, p. 76-
84,   2011 .Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 
11  out.  2016.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes,


1991.

WEISS, Maria Lúcia Lemme Psicopedagogia Clínica - uma visão diagnostica dos
problemas de aprendizagem escolar. 12.ed. rev. e ampl. - Rio de Janeiro: Lamparina,
2007.
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