Resgatar o conceito de alfabetização é essencial visto que, esta conceituação tem sido
pontuada por diferentes julgamentos e enfoques, sendo que alguns autores privilegiam a
perspectiva mecânica do processo de aquisição da leitura e da escrita, enquanto outros
destacam o caráter processual e a articulação entre leitura e escrita, à medida que, entendem
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que a inserção da criança na cultura letrada se dá por meio da interação com o meio social
através do processo histórico da humanização.
Atualmente, o entendimento da relação entre a aquisição das capacidades de redigir e
grafar rompe com a crença arraigada de que o domínio do bê-á-bá seja pré-requisito para o
início do ensino de língua e nos indicam que esses dois processos de aprendizagem podem e
devem ocorrer de forma simultânea. Um diz respeito à aprendizagem de um conhecimento de
natureza notacional: a escrita alfabética; o outro se refere à aprendizagem da linguagem que se
usa para escrever como evidenciamos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997).
Nesse sentido, as experiências de aprendizagem que valorizam as situações reais de
leitura e escrita em circunstâncias do cotidiano, tais como: a elaboração de bilhetes, convites,
listas, o trabalho com rótulos, placas, anúncios, além do uso de bons textos, revelam à criança
a importância e a função da leitura e da escrita em nossa sociedade.
De acordo com Vygotsky (1995, p.198),
As crianças devem sentir a necessidade de ler e escrever. [...] Isso significa que a
escrita deve ter sentido para a criança, que deve ser provocada por necessidade
natural, como uma tarefa vital que lhe seja imprescindível. Unicamente então
estaremos seguros de que se desenvolverá na criança não como um hábito de suas
mãos e dedos, mas como um tipo realmente novo e complexo de linguagem.
Para sentir a necessidade de ler e escrever é fundamental, antes, que a criança sinta a
necessidade de se expressar e saiba que a palavra escrita é uma das formas pelas quais isso é
possível; não a única. Afinal, buscamos formar pessoas integrais, capazes de utilizar as mais
variadas formas de conhecer e de produzir saberes, acumuladas historicamente pela
humanidade.
Além disso, quando falamos sobre a inserção de crianças de 6 anos na cultura letrada,
devemos ressaltar a importância e a necessidade do trabalho pedagógico atrelado ao lúdico,
especialmente, apresentando a escrita com sentido e significado, em outras palavras,
mostrando para as crianças o porquê da sua utilização.
Nesse sentido, consideramos a perspectiva da criança que aprende, o sujeito ativo que
constrói conhecimentos e por meio da mediação do outro se apropria dos elementos da
cultura, dentre eles, a leitura e a escrita. Sendo assim, a criança de forma processual, aprende a
comunicar ideias, pensamentos e intenções de variadas naturezas, percebe que pode
influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais.
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Criar necessidade de ler e escrever em crianças pequenas é o desafio da escola que, a partir
do momento em que desperta a curiosidade e o desejo das crianças pela cultura letrada, pode
utilizar ferramentas diversas para que o aprendiz concentre-se além da mensagem, também,
para o significado, para sua forma e estrutura. De acordo com Leber (2006, p.19),
Ao passo que, ler para descobrir algo, escrever para dizer algo a alguém, são práticas
que certamente levam a criança a desejar aprender a ler e a escrever. É o que autores,
como Jolibert (1994), por exemplo, denominam “ler e escrever em situação”, “ler e
escrever para valer”. Lembrando que as crianças são portadoras de um conjunto
expressivo de saberes acerca da leitura e da escrita muito antes de chegarem à escola,
não se pode desconsiderar tudo o que elas sabem, ainda que de maneira não
convencional, sobre a escrita. Antes, deve-se aproveitar esse saber e, somando-
outros, possibilitar que avancem em direção ao conhecimento sistematizado, à
escrita convencional.
Saber ler e escrever é, antes de tudo, ter a possibilidade de ler o mundo, rodeado de
significados, é transmitir ideias, pensamentos, registrar acontecimentos. Nesse sentido, é
imprescindível trabalhar com as crianças, em processo de alfabetização, a leitura de imagens,
códigos, símbolos e favorecer o entendimento do mundo das letras. Colocar a criança em
contato com a leitura é oportunizar a decodificação de uma nova linguagem, repleta de
sentidos e com uma função social de grande importância para todos.
Assim, a inserção da criança na cultura letrada deve superar a orientação da criança
para o domínio da tecnologia da escrita, mas sim levá-la ao exercício das práticas sociais de
leitura e de escrita. Entendemos que, uma criança está alfabetizada quando, para além de ler e
escrever, ela se apropria do hábito, das habilidades e até mesmo do prazer da leitura e da
escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes
contextos e situações.
Durante o processo de aquisição da leitura e da escrita, quando se aprende e ensina o código
alfabético, a primeira forma de explorar os materiais escritos é deixar os alunos entrarem em
contato com o material – folhear, manusear, olhar as ilustrações. Sem pressão, sem censura,
sem cobrança, as crianças conhecem o toque, o peso, a cor e o cheiro de livros, revistas e
jornais. É um primeiro conhecimento que se faz pelos sentidos, pela afetividade e pelo
intelecto (CARVALHO, 2005). .
As crianças devem ser encorajadas a experimentar a leitura e a escrita como construção
social complexa e deve ser estimuladas a priorizando a compreensão da sua finalidade. Esta,
substancialmente deve ser expressa à criança desde o início que é uma forma de expressão,
assim como a fala, o desenho, o gesto, destacando que, ao escrever, a ideia ou um sentimento
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ficará registrado, para uma eventual consulta posterior. Sendo assim, a inserção da criança na
cultura letrada, perpassa, necessariamente, a compreensão de um sistema de representação e
não apenas a aquisição de um código de transcrição da fala.
Devemos, portanto, superar as técnicas que enfatizam a repetição, para além da
aprendizagem mecânica e fragmentada, mas sim recorrer àquela que coloca diversas questões
de ordem conceitual, e não somente perceptivo-motoras, vai além, focaliza um processo de
construção de conhecimento pelas crianças por meio de práticas que têm como ponto de
partida e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas práticas sociais de
leitura e escrita. Técnicas Freinet: subsidiando as práticas pedagógicas até os dias atuais Para
dar concretude a um trabalho voltado para as máximas qualidades humanas, com respeito à
criança e a diversidade de ações que tenham sentido e possibilitem a compreensão da escrita
como instrumento cultural, buscamos respaldo nas técnicas do educador francês, Freinet, que
frente a seu tempo utilizou diferentes formas de desenvolver um trabalho que privilegiasse a
participação das crianças. A pedagogia de Freinet traz em seu bojo a importância de formar o
sujeito autônomo e cooperativo, o qual aprende e se desenvolve pela atividade, ou seja, a
criança é sujeito das suas aprendizagens e o professor se destaca nesse processo como
mediador do conhecimento. O olhar de Freinet sobre a pedagogia, fez com que sua
participação em congressos se tornasse frequente, nos anos de 1925 a 1927, tornando-se
referência internacional. Nesse período (1925), casou-se com Élise, a qual o ajudou a
aprimorar suas técnicas.
A Pedagogia Freinet, por meio da troca das experiências entre os docentes, se atualiza
constantemente. É praticada há mais de cinquenta anos em muitos países da Europa e, se
renova a cada dia, pois se trata de um movimento pedagógico de professores.
Freinet valoriza o processo educativo que atribui significação social ao trabalho
desenvolvido, entende a escola como uma instituição que deve estar vinculada à vida, por isso,
há dois conceitos-chave em sua proposta pedagógica: o trabalho e a livre expressão. De
acordo com Costa (2006, p.28),
adaptar-se ao meio social das crianças, ser totalmente ativa e dinâmica, permitindo
assim, que elas alcancem com a máxima exuberância seu destino de homem.
Freinet acredita que o interesse dos alunos estava mais voltado para o que ocorria
fora do que dentro da escola. Dessa forma, o autor utilizava como uma de suas
técnicas pedagógica a “aula-passeio” que tem o objetivo de buscar motivações extra
escolares no processo de ensino-aprendizagem. Durante essas “aulas-passeio” os
alunos podiam se expressar livremente, utilizar o tatear experimental para realizarem
descobertas, colocar em prática o seu senso de cooperação e refletir sobre suas
atividades individuais e coletivas. Tal liberdade irá facilitar o processo de ascensão
intelectual dos alunos, além de possibilitar que eles se tornem homens livres,
autônomos, mais responsáveis e que tenham condições de contribuir na
transformação da sociedade.
Por fim entende-se que a criança para se desenvolver no meio social Ela deve ter o
apoio total do grupo escolar e familiar trabalhando sempre em prol do seu desenvolvimento e
aprendizado tanto em sala de aula como na escola sendo eles um mediador para futuros por
quê crianças que não tem um mediador para te passar a informação ela crescerá sem ter
médica educação e o principal amor pela vida própria.
Por isso a escola medeia a relação da criança com o mundo, ampliando suas
possibilidades de acesso a cultura letrada, não somente como aquele que lê, mas como aquele
que interpreta, que vê sentido naquilo que realiza, que participa integralmente da sociedade, a
escola cumpre de fato o seu trabalho social e seu papel na humanização - via - processo de
educação.