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S Reatores le RLF. Alguns problemas de projeto e desempenho desses componentes “‘dificeis”. CESARIO T. RAMOS CO termo “reator", estritamente falando (e de acordo com os dicionarios de eletrénica), € um componente que se usa para introduzir reatancia — tanto indutiva, como capacitiva — num circuito, Engloba igualmente, portan- to, indutores e capacitores. O uso, porém, consagrou-o como designando especificamen- te determinado tipo de indutor, capaz, entre outras coisas, de epresentar uma impedéncia superior a um valor minimo (apropriado para © fim em vista), dentro de certa faixa de fre- qiéncias. Nesta oportunidade vamos nos_ocupar exclusivamente dos reatores de R.F., com- ponentes aos quais se costuma prestar pou- ca atengdo e que, pela caracteristica acima, nao podem ser confundidos com qualquer in- dutor de RF. Este segundo plano a que foram relega- dos vem, talvez, a par da escassez de infor- magdes técnicas a seu respeito, do nosso habito de raciocinar por inferéncias nem sem- pre justificadas: qualquer fabricante especi- fica que 0 componente tem, digamos, 2,5 mH, @ serve para a faixa de ondas médias, e pron- to, nao se fala mais nisso. Imaginamos logo um comportamento ideal do reator, com as freqléncias dentro dessa feixa barradas ve- lentemente, e as de fora enfrentando pouco menos que um curto franco. Infelizmente, a realidade dos fatos 6 bem diferente, no caso do reator de RF. Seu com- portamento é extremamente complexo, ofe- recendo uma boa dose de dores de cabeza ao projetista — e ao usuario desavisado. Por isso, julgamos util focalizar algumas de suas excentricidades, para que os nao iniciados JAN./FEVEREIRO, 1977 — Pag. 109 possam usé-lo com mais proveito e menos surpresas. IDEAL E REALIDADE © reator de R.F. ideal — e como muitos © imaginam na pratica — oferece & corrente continua a9 freqiiéncias de éudio um curto- circuito e, as freqiiéncias acima dessa faixa, ma impedancia infinita. Claro que 0 termo ideal" indica tratar-se de um desempenho fisicamente inelcangdvel; mas 0 que podera surpreender a quem observar a Fig. 1 6 a distancia entre esse comportamente ideali- zado e 0 desempenho real de um reator de RF. tipico, como o da figura em apreco. © reator considerado, usado em trans- miss&o, compde-se de um enrolamento de uma camada de 25,4 cm de comprimento, com 200 espiras de fio n? 18 AWG, sobre forma de 11,4cm de diametro, apresentando uma in- dutancia medida de 1.700 nH. O grafico da impedancia do componente em funcao da freqiiéncia, longe de apresen- tar a regularidade idealizada, exibe varios picos e vales acentuados. Por exemplo, lé pelas alturas dos 3 mil e poucos quilohertz, a impedancie oferecida pelo reator cai @ pou: co mais de 1,000, isto 6, cerca de 30 vores menos que a impedancia no pico anterior, correspondente & freqliéncia de 2.500 kHz. Evidentemente, para um sinal de.3 mil e poucos quilohertz, 0 reator simplesmente nao funcionaria como tal © reator da Fig. 1 € usado na faixa de 1,7 a 2,8 MHz, onde apresenta uma impedan- cia minima de 20 k®. Poderia ser empre: ELETRONICA POPULAR — 109 COQ-RADIOAMADORES [] CQ-RADIOAMADORES £4 CQ-RADIOAMADORES [J CO-RADIOAMADORES ‘Q-RADIOAMADORES EJ CO-RADIOAMADORES Eq CO-RADIOAMADORES E] CO-RADIOAMADORES 0 Impedancie (Ohms) Freqléncia (kHz) FIG. 1 — Curva de impedincia do um reator de R.F. para uso em transmisséo (de “Electronic Transformers and Circuits", de Reuben Lee). também, na altura dos 5 MHz, para essa mes- ma impedancia minima; entretanto, a faixa de freqiéncias seria mais estreita. Os reatores de RF. compostos de vérias segoes de enrolamentos tém curvas de im- pedancia semelhantes & da Fig. 1, mas os vales séo mais disfargados, Cabe agora @ pergunta: "E essas irregu- laridades de impedancia, donde provém?” Vamos procurar esclarecer a questéo por partes, CAPACITANCIA PROPRIA DAS BOBINAS Em primeiro lugar, vamos considerar a bobina isolada de quaisquer capacitancias externas. Mesmo assim, toda bobina tem uma pequena capacitncia associada a sua indutincia, e que 6 chamada capacitancia prépria. FIG, 2 — Representago esquematica des capacitan- cias entre espiras de um indutor que, reunidas, formam sua capacitancia propria. Gee 110 — ELETRONICA POPULAR FIG. 3 — Para muitos tins, a capacitincia propria da bobina pode ser considerada como uma capacitancia concentrada, em paralelo com a indutanci Essa capacitancia residual é devida as diferencas de potencial entre as diversas partes do indutor, principalmente entre espi- "ap adjacentes, como ilustrado na Fig. 2, @, péra muitos fins, atua como se a resultante de todas as capacitancias elementares da fi- gura estivesse concentrada e em _paralelo com a bobina, tal como na Fig. 3. Vemos entéo que todas as bobinas, na verdade, podem ser consideradas como cir- cuitos sintonizados em paralelo. Ora, todo circuito deste tipo tem a sua freqiéncia de ressonancia, como € piiblico e notorio. No caso do indutor, ela representa a sua fre- qiiéncia de ressonancia propria, ou natu- ral (f,). JAN./FEVEREIRO, 1977 — Pag. 110 E qual é ela? E a freqiiéncia @ qual a rea- tancia Capacitiva da capacitancia propria tem mesmo valor absoluto da reatancia indutiva da indutincia pura da bobina, mas 6 de fase oposta, de maneira 2 anulé-la. Nesse ponto, a impedancia oferecida pela bobina é uma resisténcia pura, j4 que as rea- tancias se neutralizam mutuamente. As de- mais freqiéncias, a impedancia compée-se de uma reatancia indutiva em paralelo com uma reatancia capacitiva. Nas freqiéncias inferiores a f,, a rea- tancia indutiva 2 fL 6 menor que a reatancia capacitiva 1/2 r{C, @ portanto € predominante (nado nos esquecamos de que elas estao em Paralelo); nas frequéncies superiores a f,, prevalece a reatancia capacitiva. Nestas condigdes, a bobina, acima de f,, comporta-se como se fosse um capacitor. Para as freqiéncias bem superiores a f,, a influéncla da reatancla Indutiva € desprezi- vel, € a bobina tende a equivaler a um capa- citor de valor igual & sua capacitancia propria. Al J temos uma “receita” para fazer reatores: 1) eles devem ter a menor capaci- tincia propria possivel, porque quanto menor ela for, maior sera a reatancia oferecida as freqliéncias superiores a f,, que entéo cons- tituiréo a nossa faixa de operacao; 2) sua in- dutancia deveré ser téo grande que, asso- ciada & pequena capacitancia propria indis- pensdvel, faga com que tenham uma f, bem abaixo da faixa de operagéo desejada. Nem todos os reatores de R.F., todavia, tém a faixa de operacao acima de f,, como iremos ver mais adiante. De qualquer forma, estamos também em condigdes de estabelecer uma distingao en- tre os reatores de RF. e os indutores utiliza- dos em circuitos sintonizados: requeles, a f € geralmente inferior A faixa de operagdo; nestes, ela é superior & faixa de operagdo, porque sao usados sempre com um capacitor de sintonia (varidvel ou ndo) de capacitancia superior @ capacitancia propria do indutor. A bem da verdade, nessa explanagao simplificada, passemos por alto em questoes como perdas de R-F. (introduzidas pela capa- citancia propria) e@ a resisténcia a R.F. do FIG. 4 — Reator de R.F. divi- dido om segdes. Nole-se 0 di metro decrescente das sede em direeSo a0 centro da forma, para igualar as freqiéncias de ressonancia. SAN./FEVEREIRO, 1977 — Pég. 114 Enrolamento Forma ranhurada....) FIG. § — Roator do R.F. dividido om sogdes compos tas de enrolamentos encaixados em ranhuras da tOrma. reator; mas sio detalhes de segunda ordem, que no invalidam as conclusées. Entretanto, na fixagio de f, de nossa “reeeita", serd preciso acrescentar a capa- citancia propria do reator as capacitancias do circuito em que este teré de operar COMO REDUZIR A CAPACITANCIA PROPRIA Vimos no tépico anterior as razbes do requisito de baixa capaciténcia prépria pera 08 reatores de RF. A fim de satisfazé-lo, no caso de reatores para freqiiéncias nao muito altas, adotam-se freqiientemente bobinas de tipo universal, subdivididas em duas ou mais segdes separadas (Fig. 4), sendo cada segao tao estreita quanto possivel. As vezes, as segdes sio enroladas den- tro de ranhuras estreitas da forma, como na Fig. 5. Nos reatores para freqiéncias mais altas (acima de 10 MHz), costuma-se empregar uma bobina cilindrica relativamente longa, com es- piras afastadas (Fig. 6). FIG. 6 — Reator de R.F. para freqi Espiras 1s mais altas (acima espacadas . de 10 MHz). ° woo oT Forma Para manter @ impedancia elevada dentro da faixa de operagao de um reator dividido em segoes, 6 preciso evitar a “sintonia” de uma ou mais seg6es por outras. Por exemplo, num reator de duas secdes diferentes, @ curva de impedancia apresen- tar dois maximos correspondentes as fre- qUéncias de ressonancia naturais das segoes, mes entre esses dois picos havera um vale pronunciado @ freqdéncia de ressonancia do Circuito sintonizado em série, formado pela reatancia indutiva de uma secao © a reatan- cia capacitiva da outra, circuito esse cuja ELETRONICA POPULAF — 111 oe 5 : g 3 8 a i 8 3 8 Gg q 4 CQ-RADIOAMADORES [3 CO-RADIOAMADORES E] CO-RADIOAMADORES [J CO-RADIOAMADORES Woe EST «A aL» hie Se vocé é ou pre- tende ser operador dos 2 metros e de outras faixas de VHF, oste manual 6 indispensdvell Nele estio a teoria 2 a operacdo, os equi- pamentos, as ante- nas @ 0s mals MO- per dernos circultos de VHF. 1389 -- VHF Handbook for Radio Amateurs — (ing!) wore 45,00 UMA EDIGAO RADIO PUBLICATIONS INC. DISTRIBUIDORES LOJAS DO LIVRO ELETRONICO (Jae Ty hy Marechal Flonana, a0 — Ts Me SP: R. Vitoria, 378/383 — S, Paulo Reembolso: C, Postal 1131 — 20000 — flo, Ru impedancia, como sabemos, € minima em tais condigées. Para eliminar esse efeito nocivo, nao adianta as seges terem 0 mesmo numero de espiras ¢ as mesmas caracteristicas fisi- cas, porque os cfeitos de indutancia mitua entre segées encarregam-se de modificar as freqliéncias de ressonancia das secdes adje- centes. Costuma-se, para isso, fazer as se- Goes progressivamente menores, das extremi- dades para o centro do reator, como vemos na Fig. 4. MAIS COMPLICAGGES Um leitor que se dispusesse a atender a todas as exigéncias de projeto de um rea tor de R.F. até aqui arroladas, e se lancasse a_confeccioné-lo confiantemente, ainda nao estaria livre de surpresas. Isso porque consideramos a capacitancia prépria do reator como parametro concentra- do (por causa da tal explicacéo por partes que anunclamos logo de inicio), quando, na verdade, ela é distribuida, isto 6, esta “es- palhada’ pelo reator todo. Vimos anterlormente os efeitos desas- trosos na curva de impedancia dos reatores de R.F. provocados pela formagao de circul- tos sintonizados em série por duas segées do enrolamento. Basta, agora, observar bem 112 — ELETRONICA POPULAR a Fig. 2, com os diferentes elementos capa- citivos da bobina representados em seus lu- gares, embora esquematicamente. Ali hé varios circuitos sintonizados dife- rentes, formados pelos elementos ‘capacitivos e partes da bobina e, portanto, mesmo dentro de cada secéo do enrolamento, podem ser formados circuitos sintonizedos em série, em varias freqlénclas, com os correspondentes “mergulhos" na curva de impedancia do reator. Para completar a desgraga, e ainda pelo fato de ser distribuida a capacitancia propria do reator, podem aparecer ondas estacioné- rias, As freqiiéncias mais elevadas. Aqui se encerra o “prontuario" desse ser caprichoso chamado reator de R.F., onde estéo enumerados os seus delitos costumei- ros, para conhecimento dos interessados. Entretanto, muito embora os problemas relacionados com o seu projeto sejam arduos © até conflitantes, alguns fabricantes chegam @ produzir reatores que realmente tém um desempenho & altura das especificagdes. Portanto, 20 comprar um reator de R.F., exija-o de boa marca, ainda que custe um pouco mais caro. © (OR 1206) NOVIDADES DA ELETRONICA COMUTADOR OPTOELETRONICO * Um importante passo no campo das tele- comunicagées épticas foi dado pola Thomson — CSF ao realizar um “Comutador Optico Bindrio RApido”, denominado “COBRA”. que pode operar com velocidades da ordem do nanossegundo, comandado por uma tensao det. : O dispositivo é constituido, basicamente, de um acoplador direcional feito de material eletro-optico, Este novo componente, somente possivel em forma integrada, 6 formado por duas guias de onda ressonantes situadas muito préximas uma da outra (aproximada- dmente 3 um). A passagem da luz, do uma guia para a outra, é obtida através das ondas evanescentes existentes nos intervalos que as sepera. Este material eletro-dptico 6 obtido pela difusao do titanio em niobato de litio. O sur- gimento de uma tensao polarizadora em um determinado ponto do acoplador altera o in- dice de refragéo do material e, em vista disso, 0 grau de acoplamento livre entre as duas ‘guias. ® (*) Revista Espafole do Electronica, n? 260 YAN./FEVEREIRO, 1977 — Pag, 112

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