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João de Almeida
João Luiz da Silva Almeida
Conselho Edilorial
s d s t ç~
II1II
I I I
Autores: Kees van Raad
Alberto Benshimol Leonardo Freitas de Moraes e Castro
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro Luna Salame Pantoja Schioser
Ana Luiza Martins Marcos André Vinhas Catão
Ana Paula Saunders Marcus Lívio Gomes
Andressa Pegoraro Maria Carolina Grecco
Bruno Fajersztajn Mariana Correia Pereira
Caio César Meirelles Casiraghi Mariane de Sousa Assis Resende
Camila Bacellar Soares Maurício Terciotti
Camila Chierighini Nazar Moreira Michel Siqueira Batista
Daniel N.R. Durão de Andrade Monica Tiuba
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro Nathalia Xavier da Silveira de Mello Brandão
Edgar Santos Gomes Paulo Ayres Barreto
Emmanuel Garcia Abrantes Paulo Arthur Cavalcante Koury
Felipe Thé Freire Paulo César Teixeira Duarte Filho
Felipe Toledo Soares de Almeida Thais T. Furtado
Fernando Daniel de Moura Fonseca Ramon Tomazela Santos
Fernando Souza de Man Roberto Duque Estrada
Flávia Cavalcanti Pepe Sergio André Rocha
Francisco Lisboa Moreira Suzana Bicalho Hoefle
Gustavo Brigagão
Verônica Melo de Souza
H. David Rosenbloom
PRODUÇÃO EDITORIAL
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
CDD - 341.39
Dedicamos este livro à memória de Alberto Xavier, cujos
pensamentos sempre contribuíram para o desenvolvimento
do direito tributário no Brasil e no mundo.
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Sobre os Coordenadores
Edgar Gomes
LLM. em Direito Tributário Internacional pela Universidade de Leiden, Holanda
Bacharel em Direito pela UFRJ
Professor de Direito Tributário Internacional nos cursos de especialização da
PUC-Rio e de verão da Universidade de Leiden no Brasil
Advogado e Palestrante no Rio de Janeiro e São Paulo
Francisco Moreira
LL.M. em Direito Tributário Internacional pela Universidade de Nova Iorque (NYU)
Mestrando em Direito Econômico, Financeiro e Tributário na Universidade de
São Paulo (USP)
Bacharel em Direito pela UFRJ
Advogado e Palestrante em São Paulo e no Rio de Janeiro
Janssen Murayama
Sócio do escritório Murayama Advogados
Bacharel em Direito pela UER}
Bacharel em Ciências Contábeis pela UERJ
Mestre em Direito pela UER]
Professor convidado do FGV Law Program e da Pós-Graduação em Direito Tri-
butário da UFF
Fundador e Diretor do Grupo de Debates Tributários - GDT
Prefácio
IX
dois dias teve como foco o debate de algumas das principais questões sobre
tributação de transações internacionais atualmente em estudo, no Brasil e no
exterior, e com grande sucesso acolheu mais de cem pessoas no auditório da
FUCAPE (Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Eco-
nomia e Finanças) no Rio de Janeiro.
O sucesso deste primeiro seminário apresentou o GETI ao público, colo-
cando-o instantaneamente entre os principais grupos dedicados ao estudo do
Direito Tributário Internacional no Rio de Janeiro.
A realização de cursos, workshops, seminários e congressos certamente será
uma das vocações do GETI. Contudo, o Grupo notou, acertadamente, que
além de criar fóruns para o debate da tributação internacional é também extre-
mamente relevante estimular a produção técnica e teórica sobre esta matéria,
provocando profissionais e acadêmicos a gerarem conhecimento sobre temas
de Direito Tributário Internacional, e abrindo espaço para jovens estudiosos
apresentarem o resultado de suas análises e pesquisas.
Desta vontade de contribuir para o desenvolvimento do estudo da tributa-
ção internacional no Brasil originou-se o presente volume, que temos a satisfa-
ção de prefaciar.
Ao passarmos os olhos na lista de autores, notamos de plano a qualidade daque-
les que contribuíram para este livro, assim como a presença de autores já consagra-
dos, juntamente com jovens promessas da tributação internacional brasileira.
Esta mescla de gerações é fundamental. Os autores mais experientes re-
forçam a qualidade do livro que ora apresentamos à comunidade jurídica. De
outro lado, a presença de autores mais jovens, cuja qualidade será facilmen-
te comprovada pelo leitor, é prova da renovação que vivemos no campo do
Direito Tributário Internacional, que permitirá que alcancemos em breve a
profundidade dos estudos desenvolvidos nos principais centros de pesquisa
sobre a matéria no mundo.
Se, de um lado, a qualidade dos autores é certamente um ponto positivo
deste livro, talvez chame ainda mais a atenção a atualidade dos temas exami-
nados. Vários artigos dedicaram-se a questões relacionadas ao Projeto BEPS da
OCDE/G-20. Outros focaram na análise de questões atinentes a alguns artigos
específicos das Convenções para Evitar a Dupla Tributação da Renda, conside-
rando a perspectiva brasileira. Houve, ainda, textos que focaram em alguns dos
temas mais controvertidos da prática internacional doméstica, como a tributa-
ção de serviços e royalties e o compartilhamento de custos e despesas.
x
Nota-se, portanto, que este livro possui uma temática atual. Considera ques-
tões que estão na ordem do dia na esfera internacional, sem perder de vista a
conexão com a realidade das discussões em andamento no BrasiL Dessa ma-
neira, sem dúvida alguma trata-se de obra que surge na literatura nacional já se
tornando leitura obrigatória para todos que se interessam pelo estudo do Direito
Tributário Internacional.
Saudamos todos os autores, que dedicaram seu tempo para contribuírem
para esta obra e, em especial, os coordenadores, Ana Paula Saunders, Edgar
Santos Gomes, Francisco Lisboa Moreira e Janssen Murayama, pela idealização
e implementação deste primeiro projeto editorial do GETI, a quem agradece-
mos a distinção de escrever este prefácio. Vida longa ao GETI, e que esta seja a
primeira, de muitas obras, individuais e coletivas, que seus membros venham a
produzir no futuro.
XI
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Sumário
Prefácio. ....... ....................... .... ........ ... ..... ... .... ... .... ..... ..... ..... ... ....... ... ... ....... IX
XIII
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento
Tributário Internacional pelos Acordos contra a Bitributação
Celebrados pelo Brasil ............................................................................... 175
Fernando Daniel de Moura Fonseca
FeliPe Toledo Soares de Almeida
XIV
Tributação dos Pagamentos pela Locação de Bens Móveis nos
Tratados Tributários Celebrados pelo Brasil........................................... 373
Sergio André Rocha
xv
As Regras Brasileiras e as Diretrizes Internacionais sobre
Sub capitalização: Diversidade de Perspectivas ..... ... ........ ......... .......... ..... 545
Paulo Ayres Barreto
Paulo Arthur Cavalcante Koury
XVI
Fundamentos do Direito
Tributário Internacional
1. Introdução
Estudar os fundamentos do Direito Tributário Internacional significa pes-
quisar e avaliar as suas bases, os seus alicerces, as suas razões e os seus motivos.
A lei tributária pode atingir fatos ocorridos fora do território que a legislou,
pode ser extraterritorial, desde que haja um elemento de conexão entre o país
legislador e o território além fronteiras, onde ocorre o fato tributável e é nesse
contexto que se desenvolve o Direito Tributário Internacional - em atividades
econômicas que envolvam mais de um país, mais de uma nação, seja porque o
contribuinte reside em um desses países e realiza atividade que produz riquezas
em outro país, seja porque uma empresa multinacional possui uma estrutura
organizacional mundial e produz riquezas nos mais variados países, sob os mais
diversos títulos e é preciso se definir a que país caberá a tributação de todas
essas atividades.
Trata-se, portanto, de um ramo do Direito Tributário dedicado a dirimir
conflitos de competência entre países distintos - repartir a carga tributária
mundial. Um de seus objetos é estabelecer limites ao poder de tributar de cada
soberania e ao mesmo tempo garantir o direito de arrecadação de cada país. Por
isso está intimamente ligado ao conceito de dupla tributação. Pode-se afirmar
que a origem do Direito Tributário Internacional está na viabilização de ativida-
des econômicas internacionais sem que isso implique no pagamento de tributos
em todas as localidades envolvidas na geração de riquezas, para assim estimular
o crescimento global e o desenvolvimento de atividades internacionais.
Mestre em Direito Tributário pela UFMG. Gerente Jurídica Tributária da ArcelorMittal Brasil.
1
Mariana Correia Pereira
2
Fundamentos do Direito Tributário Internacional
2 A esse respeito, vale conferir: ADIN 2.588; RESP 1.325.709, julgados do CARF - Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais, tais como os denominados casos Eagle 1 e 2 Acórdãos 101-
95.802 e 101-97.070, ambos da Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes.
3
Mariana Correia Pereira
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Fundamentos do Direito Tributário Internacional
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Mariana Correia Pereira
3 Conforme já afirmado aqui, a dupla tributação que deve ser evitada pela legislação tributária
internacional é a dupla tributação jurídica, conceituada pela OCDE na Introdução à Convenção
Modelo como sendo "a cobrança de tributos comparáveis em dois (ou mais) Estados do mesmo
contribuinte em relação à mesma operação e por idêntico período de tempo."
6
Fundamentos do Direito Tributário Internacional
4 Sobre outros modelos, vide XAVIER, Alberto, Direito tributário internacional do Brasil; Rio de
Janeiro; Forense; 2010 - p. 69 e 70.
5 O primeiro modelo da OCDE surgiu em julho de 1958, tendo sido atualizado nos anos de 1992, 1994,
1995, 1997, 2000, 2003, 2005, 2008 e 2014.
7
Mariana Correia Pereira
6 Lei n. 9.7 2 72 9/99 - Art. 720 Os rendimentos do trabalho, com ou sem vínculo empregatício, e os
da prestação de serviços, pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos a residentes ou
domiciliados no exterior, sujeitam-se à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de vinte e
cinco por cento.
Decreto n. 3000/99 - RIR/99
Art. 685. Os rendimentos, ganhos de capital e demais proventos pagos, creditados, entregues,
empregados ou remetidos, por fonte situada no País, a pessoa física ou jurídica residente no exterior,
estão sujeitos à incidência na fonte:
(...)
II - à alíquota de vinte e cinco por cento:
a) os rendimentos do trabalho, com ou sem vínculo empregatício, e os da prestação de serviços;
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4. Conclusão
Esse caso prático ilustra bem os conflitos possíveis no âmbito do Direito
Tributário Internacional, que se dão sempre dentro do direito interno, com a
possibilidade de aplicação de instrumentos internacionais, como os tratados e
as diretrizes estabelecidas por instituições como a OCDE que representam a
interação entre a comunidade internacional, em busca da construção de uma
ordem econômica mundial que propicie o desenvolvimento cooperativo entre
as nações, que garanta uma divisão justa e racional de receitas tributárias, sem
gerar excessos e dupHcidades que inviabilizem o crescimento internacional dos
contribuintes e sua geração de riqueza.
Essas são as linhas gerais que se pretendeu trazer à luz no presente artigo - es-
ses são os fundamentos do Direito Tributário que se pretende exaltar e destacar.
18
Planejamento Tributário Internacional
1. Introdução
Com o crescente processo de globalização e a internacionalização das em-
presas, o paradigma de que a tributação seria uma questão de interesse par-
ticular de cada país foi quebrado e questões envolvendo o direito tributário
internacional vêm sendo objeto de importantes debates que visam solucionar
conflitos que envolvem dois ou mais países.
A partir desse contexto, os Estados começam a disputar as rendas auferias
dentro e fora de seu território e alguns países iniciam políticas de redução de
carga tributária visando maiores investimentos. As empresas, do outro lado,
se aproveitam de tais oportunidades para diminuir seus custos de produção e
começam a se instalar em países que possuem carga fiscal reduzida.
Diante desse cenário surge a figura do planejamento tributário internacio-
naL Trata-se de mecanismos utilizados pelas multinacionais com o fim de re-
dução do impacto fiscal em suas operações, que, realizadas em escala mundial
têm sido alvo de movimentos contrários impulsionados pelos países membros da
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, ense-
jando as medidas impostas no âmbito do BEPS - Base Erosion and Profit Shifting.
O presente artigo tem como objetivo principal demonstrar que a prática de
utilização do sistema fiscal como mecanismo para atrair investimentos é lícita
e que o planejamento tributário deve ser aceito como forma de minimizar os
encargos fiscais e fomentar a economia mundial.
Mestre em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Membro da
Comissão de Direito Tributário da OAB/MG. Advogada Tributária na Vale S/A.
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Planejamento Tributário Internacional
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Mariane de Sousa Assis Resende
2 Estão no rolos países: Andorra, Anguilla, Antígua e Barbuda, Antilhas Holandesas, Aruba, Ilhas
Ascensão, Comunidade das Bahamas, Bahrein, Barbados, Belize, Ilhas Bermudas, Brunei, Campione
O' Italia, Ilhas do Canal (Alderney, Guernsey, Jersey e Sarkl, Ilhas Cayman, Chipre, Cingapura, Ilhas
Cook, República da Costa Rica, Ojibouti, Oominica, Emirados Árabes Unidos, Gibraltar, Granada,
Hong Kong, Kiribati, Lebuan, Líbano, Libéria, Liechtenstein, Macau, Ilha da Madeira, Maldivas,
Ilha de Man, Ilhas Marshall, Ilhas Maurício, Mônaco, Ilhas Montserrat; XXXIX - Nauru, Ilha Niue,
Ilha Norfolk, Panamá, Ilha Pitcairn, Polinésia Francesa, Ilha Queshm, Samoa Americana, Samoa
Ocidental, San Marino, Ilhas de Santa Helena, Santa Lúcia, Federação de São Cristóvão e Nevis,
Ilha de São Pedro e Miguelão, São Vicente e Granadinas, Seychelles, Ilhas Solomon, St. Kitts e
Nevis, Suazilândia, Sultanato de Omã, Tonga, Tristão da Cunha, Ilhas Turks e Caicos, Vanuatu, Ilhas
Virgens Americanas e Ilhas Virgens Britânicas.
3 Julgamento ocorrido no dia 10 de abril de 2013.
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Planejamento Tributário Internacional
4 Art. 24 (..)
§ 4º Considera-se também país ou dependência com tributação favorecida aquele cuja legislação não
permita acessoi a informações relativas à composição societária de pessoas jurídicas, à sua titularidade
ou à identificação do beneficiário efetivo de rendimentos atribuídos e não residentes.
Art. 24-A (...)
Parágrafo Único. Para os efeitos deste artigo, considera-se regime fiscal privilegiado aquela que
apresentar uma ou mais das seguintes características:
I - não tribute a renda ou a tribute à alíquota inferior de 20% (vinte por cento);
II - conceda vantagem de natureza fiscal a pessoa física ou jurídica não residente:
a) Sem exigência de realização de atividade econômica substantiva no país ou dependência;
b) condicionada ao não exercício de atividade econômica substantiva no país ou dependência;
UI - não tribute, ou o faça em alíquota máxima inferior a 20% (vinte por cento), os rendimentos
auferidos fora de seu território;
IV não permita acesso a informações relativas à composição societária, titularidade de bens ou
direitos ou às operações econômicas realizadas.
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Planejamento Tributário Internacional
5 Atualmente, o Brasil possui trinta acordos internacionais afim de se evitar a dupla tributação,
ratificados com os seguintes países: África do Sul; Alemanha, cujo acordo está sem efeito deste
01.01.2006; Argentina; Áustria; Bélgica; Canadá; Chile; China; Coreia; Dinamarca; Equador;
Espanha; Filipinas; Finlândia; França; Hungria; Índia; Israel; Itália; Japão; Luxemburgo; México,
Noruega; Países Baixos; Peru; Portugal; República Eslovaca; República Checa; Suécia; e Ucrânia
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Planejamento Tributário Internacional
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Mariane de Sousa Assis Resende
What is BEPS?
Base erosion and profit shifting (BEPS) refers to tax planning strategies that
exploit gaps and mismatches in tax rules to make profits 'disappear' for tax
purposes or to shift profits to locations where there is little or no real activity
but the taxes are low, resulting in little or no overall corporate tax being paid.
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Planejamento Tributário Internacional
Cabe avaliar se esse novo plano, cujos principais interessados são os países
desenvolvidos - em especial os Estados Unidos e países europeus, é plenamente
aplicado nos demais Estados, uma vez que cada país possui um sistema tributá-
rio próprio, com suas especificidades e interesses.
Novamente, há inúmeras perguntas que ainda se encontram em fase de de-
bate. As alterações propostas pelo BEPS são realmente necessárias? O que está
29
Mariane de Sousa Assis Resende
por trás disso tudo? Quais são os interesses dos países? Quem participa das
discussões? As medidas rigorosas são efetivas? Como os países cumprirão as
recomendações do Plano de Ações do BEPS? Todos os países farão sua parte no
combate à elisão fiscal internacional?
O certo é que a força e efetividade das medidas propostas pelo BEPS depen-
dem do consenso de todos os países do mundo, o que a princípio, podemos clas-
sificar a ideia como utópica. Difícil pensar e defender que as recomendações do
BEPS sejam implementadas no mesmo momento e da mesma forma em todos os
países, o que já impede de alcançar o objetivo almejado pela OCDE.
Isso não significa afirmar que a ideia do BEPS deve ser rechaçada. É de
interesse, tanto do Fisco, como dos contribuintes, de terem previsibilidade das
consequências das suas operações. Ou seja, é de grande importância que uma
empresa estruture sua operação com segurança jurídica.
Essa discussão exige transparência e participação efetiva de todos os pa-
íses, devendo cada país buscar entender a situação inferior que os outros
Estados estão, de forma a criar regrar que beneficiem inclusive os menos
favorecidos. Sendo assim, não basta os países que participam das discussões
concordarem com os relatórios e se comprometerem a implementarem as
recomendações. Todos devem participar e essa é justamente a dificuldade
em implementar medidas em nível internacional, diante das peculiaridades
e interesses de cada nação.
Outra fragilidade do BEPS é que as recomendações não são vinculantes
(soft law) , sendo que vários países podem optar por não implementar uma
ou mais ações, seja porque se sentem inseguros em instituir alguma ação,
seja pelo fato de escolherem apenas as medidas que e considerem benéficos
a seus interesses.
O trabalho do BEPS é importante para discutir em nível global os problemas
enfrentados pelos países e até mesmo para que se torne de conhecimento de
todos algumas especificidades, bem como as dificuldades locais de cada país.
Porém ainda é muito incipiente e temerária forçar a aplicação de regras que irão
prejudicar uns ou outros países menos favorecidos e fortalecer ainda mais as
grandes nações, podendo o BEPS não atingir os resultados esperados.
30
Planejamento Tributário Internacional
7 ACTION 12 - Require taxpayers to disclose their aggressive tax planning arrangements): Develop
recommendations regarding the design of mandatory disclosure mIes for aggressive or abusive
transactions, arrangements, or structures, taking into consideration the administrative costs for tax
administrations and businesses and drawing on experiences of the increasing number of countries
that have such mIes. The work will use a modular design allowing for maximum consistency but
allowing for country specific needs and risks. One focus will be international tax schemes, where the
work will explore using a wide definition of "tax benefit" in order to capture such transactions. The
work will be co-ordinated with the work on co-operative compliance. It will also involve designing
and putting in place enhanced models of information sharing for international tax schemes between
tax administrations. OECD. Public Discussion Draft. BEPS Action 12: Mandatory Disclosure Rules.
Paris: OECD Publishing, 2015, p. 13
31
Mariane de Sousa Assis Resende
8. Conclusão
As multinacionais acompanhando as grandes tendências internacionais co-
meçaram a buscar a otimização da carga tributária para se manterem compe-
titivas e aumentarem seus lucros. Nesse contexto, a comunidade internacional
começou a adotar medidas com o fim de eliminar as práticas do planejamento
tributário abusivo.
Esse tema tem sido objeto de destaque no cenário mundial, através das or-
ganizações internacionais, governos, grandes corporações, pesquisadores e es-
tudiosos de economia e direito. A fim de solucionar a falta de procedimenta-
lização de regras de combate ao planejamento tributário abusivo que os países
integrantes da OCDE se reuniram para criar planos de ação do Projeto BEPS.
Ocorre que os meios até hoje existentes para combater o planejamento tri-
butário e o não pagamento de tributos são desproporcionais e não se mostram
eficazes. Com eles não há como se harmonizar os interesses contrários envolvi-
dos no planejamento fiscal, sejam das grandes empresas, dos países que atraem
investidores ou dos que estão perdendo capital.
O planejamento tributário deve ser aceito por todos como forma de mi-
nimizar os encargos fiscais. O contribuinte, na execução do planejamento
tributário internacional, não é obrigado a optar pelo regime jurídico do país
que gera maior riqueza fiscal. É legítima a prática realizada conforme o or-
denamento jurídico, mesmo quando se aproveita de uma norma que implica
em redução fiscal.
Por outro lado, o planejamento tributário não é absoluto e possui limites que
devem ser respeitados. Resta saber se o tão esperado equilíbrio entre autorida-
des fiscais e contribuintes será alcançado algum dia.
32
O Artigo 1º da Convenção Modelo da
OCDE e os Tratados Internacionais
em Matéria Tributária no Brasil
º
1. Introdução: o artigo 1 da convenção modelo
33
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
estabelece que a convenção engloba apenas a renda recebida por pessoa resi-
dente de um Estado contratante de pessoa residente no outro Estado contratan-
te. Ele versa sobre as rendas auferidas por residente de um Estado contratante
sem qualquer ressalva acerca de quem aufere renda ou de onde a renda provém.
O Estado da Fonte é irrelevante para fins de aplicação do artigo inaugural da
Convenção Modelo.
º
Em suma, o artigo 1 abrange toda e qualquer renda de um residente do
Estado contratante, independentemente de o outro Estado contratante almejar
tributar a renda.
Nesse sentido, ainda que a renda seja auferida por residente de um Estado
contratante no próprio Estado em que reside, e não haja elemento de conexão
com o outro Estado contratante, ainda assim a convenção é aplicável, embora
sem nenhum efeito prático. Mas caso o outro Estado contratante pretenda
tributar a renda auferida no Estado de residência sem que haja elemento de
conexão, a convenção impedirá a dupla tributação.
Portanto, as convenções não se aplicam apenas caso o outro país queira tributar
a renda. Elas são sempre aplicáveis, independente de existirem elementos de cone-
xão nos termos da legislação interna do outro Estado contratante. O ponto é se a
sua aplicação trará efeito prático vis-à-vis à legislação interna dos demais países.
A questão atinente às pessoas acobertadas pela Convenção Modelo pas-
sa por diversas vertentes, tais como: a aplicação das regras convencionais às
partnerships; às empresas veículos; aos entes federados e empresas públicas; às
empresas canais; o uso impróprio da Convenção Modelo; o beneficiário efetivo;
regimes fiscais privilegiados; dentre outros que abordaremos a seguir.
Embora o artigo 10 da Convenção Modelo não estabeleça nenhuma exceção
à sua aplicação, alguns dispositivos o fazem. Exemplo disso é o artigo 24.1, o
34
o Artigo 1º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
35
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
Esse aspecto é aquele que Klaus Vogel denomina treaty subjed e que é necessa-
riamente complementado pelos artigos 3º e 4º da Convenção Modelo.
5 VOGEL, Klaus. Klaus Vogel on Double Tax Conventions: A commentary to the OECD, UN and
US Model Conventions for the avoidance of Double Taxation on Income and Capital with particular
reference to German treaty practice. 3. Ed. Londres: Kluwer Law International, 1997, p. 87.
6 O princípio da relatividade dos' tratados, resumidamente, consiste em Estados não poderem criar
obrigações e direitos para um terceiro Estado sem o consentimento deste último.
7 VOGEL, Klaus. Klaus Vogel on Double Tax Conventions: A commentary to the OECD, UN and
US Model Conventions for the avoidance of Double Taxation on Income and Capital with particular
reference to German treaty practice. 3. Ed. Londres: Kluwer Law International, 1997, pp. 86-87.
36
o Artigo 1º da Convenção Modelo da OCD E e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
8 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 112.
9 1. Com referência ao Artigo t
"Fica entendido que as Filipinas terão o direito de tributar de acordo com a legislação filipina, seus
cidadãos que não sejam residentes das Filipinas, mas o Brasil não estará obrigado a conceder crédito
por esse imposto.
N a hipótese de os rendimentos recebidos pelos seus cidadãos serem tributados de acordo com a
disposição precedente, as Filipinas permitirão que seja deduzido dos rendimentos tributáveis um
montante igual ao imposto sobre a renda pago no Brasil.
37
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
10 No original: "For the purposes of this Convention, unless the context otherwise requires:
a) the term "person" includes an individual, a company and any other body of persons;"
11 Ver estudo aprofundado da OCDE em: OECD Report: The application of the OECD Model Tax
Convention to partnerships. 1999.
12 VOGEL, Klaus. Klaus Vogel on Double Tax Conventions: A commentary to the OECD, UN and
US Model Conventions for the avoidance of Double Taxation on Income and Capital with particular
reference to German treaty practice. 3. Ed. Londres: Kluwer Law International, 1997, p. 90.
13 GRISI FILHO, Celso Cláudio de Hildebrand; e SILVEIRA, Rodrigo Maitto da. "o Uso das partnerships
no planejamento tributário internacional". RDTI 06/2007. Coord. PANZARINI FILHO, Cesar. Ed.
Quartier Latin, São Paulo, 2007, p. 12.
38
o Artigo 1º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
14 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 116.
39
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15 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 117.
16 "For example, a CIV that is not subject to any taxation in the State in which it is established may
presente more of a danger of treaty shopping than one in which the CIV itself is subject to an entity-
levei tax or where distributions to non-resident investors are subject to withholding tax."
17 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 119.
18 "ARTIGO 3
Definições Gerais
1. Para os fins da presente Convenção, a não ser que o contexto imponha interpretação diferente:
d) o termo "pessoa" compreende as pessoas físicas ou naturais, as sociedades, os fideicomissos
("trusts"), as associações ("partnerships") e qualquer outro agrupamento de pessoas;"
19 "1. Com referência ao Artigo 4_
a) Uma sociedade de pessoas, sucessão ou fideicomisso se considera residente de um Estado
Contratante somente na medida em que os rendimentos que obtenha sejam tributáveis nesse Estado
40
o Artigo 1º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
41
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
20 "O Ministro de Estado da Fazenda, no uso da competência que lhe foi deferida pelo Decreto-lei nº
1.215, de 4 de maio de 1972, resolve:
I - Ficam isentas do imposto de renda na fonte as remessas de juros, comissões, despesas, descontos e demais
encargos devidos a residentes ou domiciliados no exterior, decorrentes de operações de empréstimos,
quando o ônus tributário tenha sido assumido por pessoa jurídica de direito público interno.
II - O disposto no item anterior aplica-se aos depósitos em moeda estrangeira, constituídos no Banco
Central, ao amparo de normativos do Conselho Monetário Nacional."
42
o Artigo l Q
da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
21 Sobre o tema, Alberto Xavier esclarece com a clareza que lhe é habitual que "A expressão elisão fiscal
internacional (tax avoidance) não pode ser assimilada ao conceito de evasão fiscal (tax evasion), pois não
está em causa, necessariamente, um ato ilícito pelo qual o contribuinte viola a sua obrigação tributária
(conexa com mais do que uma ordem jurídica), prestando falsas declarações ou recusando-se ao seu
cumprimento, mas sim a prática de atos (em princíPio) lícitos, praticados no âmbito da esfera de liberdade
de organização mais racional dos interesses do contribuinte, em face de uma pluralidade de regimes fiscais
de ordenamentos distintos." Obra citada. p. 235 e seguintes.
22 Parte da doutrina brasileira adotou ainda a expressão elusão fiscal para designar a zona intermediária
entre a elisão e a evasão fiscal. A elusão estaria, portanto, situada na zona nebulosa entre a economia
lícita e ilícita de tributos, ultrapassando os limites da elisão fiscal e entrando no chamado planejamento
tributário abusivo. Contudo os Comentários à Convenção Modelo utilizam apenas os termos elisão e
evasão fiscal, razão pela qual faremos o mesmo.
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o Artigo lQ da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
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Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
31 Ver Alberto Xavier. Obra citada. p. 279. Ver Luís Eduardo Schoueri: Planejamento Fiscal Através de
Acordos de Bitributação - Treaty Shopping, São Paulo, 1995.
32 Vide parágrafo 21 dos comentários.
48
o Artigo 1º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
33 Vide parágrafo 21.3 dos comentários. Ver Alberto Xavier. Obra citada. p. 282.
49
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
34 Ver João Francisco Bianco: Transparência Fiscal Internacional. Dialética. São Paulo. 2007. Ver
também Alberto Xavier. Obra citada. p. 287 e seguintes.
50
o Artigo l Q
da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
35 "14. o propósito do parágrafo 1 é limitar o direito de um Estado Contratante de tributar os lucros das
empresas do outro Estado Contratante. O parágrafo não limita o direito de um Estado Contratante de
tributar seus próprios residentes segundo as disposições referentes a empresas estrangeiras controladas
contidas em sua legislação interna, embora o imposto incidente sobre esses residentes possa ser
calculado por referência à parcela dos lucros de empresa residente no outro Estado Contratante
atribuída à participação desses residentes na empresa. O imposto exigido dessa forma por um Estado
de seus próprios residentes não reduz os lucros da empresa do outro Estado e não se poderá, dizer que
está sendo exigido sobre tais lucros (vide também o parágrafo 23 do Comentário ao Artigo 1 e os
parágrafos 37 a 39 do Comentário ao Artigo 10)."
"37. Pode-se argumentar que, caso o país de residência do contribuinte, de acordo com sua legislação
de controladas estrangeiras ou outras normas com efeito similar, busque tributar lucros que não
foram distribuídos, estará agindo de forma contrária às disposições do parágrafo 5. Contudo, deve-se
observar que o parágrafo é limitado à tributação na fonte e, assim, não lhe cabe tributar na residência
nos termos dessa legislação ou normas. Além disso, o parágrafo diz respeito apenas a tributação da
sociedade e não do acionista .."
36 O Brasil faz referido esclarecimento na Convenção com México, por exemplo.
37 Vide parágrafo 23 dos comentários.
38 Ver João Francisco Bianco. Obra citada. p. 150 e seguintes.
51
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
52
o Artigo 1º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
3. Conclusão
53
Edgar Santos Gomes
Maurício Terciotti
54
o Artigo 6º da Convenção Modelo da
OCDE e os Tratados Internacionais
em Matéria Tributária no Brasil
1. Introdução
o presente artigo pretende, conforme o próprio título denuncia, examinar o
conteúdo do Artigo 6 das convenções para evitar a dupla tributação (e preve-
nir a evasão fiscaF), dispositivo que rege a disciplina aplicável aos rendimentos
provenientes da exploração de bens de natureza imobiliária}.
Este estudo a~ota, assim, como principal referência a redação padrão pro-
posta pela Convenção Modelo desenvolvida pelo Comitê de Assuntos Fiscais
da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), bem
como respectivos Comentários oficiais, pois, muito embora o Brasil não seja
membro daquela organização, a generalidade das convenções celebradas pelo
nosso país adota as bases deste modelo.
Graduado em Direito pela Faculdade de Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UER]).
Pós-Graduado em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET).
Advogado no Rio de Janeiro e em São Paulo.
2 Pois, conforme es~larecem os Comentários, o objetivo da Convenção Modelo é mais amplo do que
apenas lidar com a dupla tributação.
3 O Modelo da OCDE utiliza o termo "immovable property", em inglês, e "biens immobiliers", em francês.
Enquanto isso, as diferentes convenções celebradas pelo Brasil fazem referência aleatoriamente ora a
"propriedade imobiliária", ora a "bens imobiliários" e ainda a "bens imóveis". Apesar de entendermos
que o termo mais apropriado seja de fato "propriedade imobiliária", pois o dispositivo não se dirige
exclusivamente a i bens de natureza imóvel, mas também, como se verá, aos seus acessórios (por
exemplo, equipamentos utilizados nas explorações agrícolas e florestais, cujas características lhe
atribuem mobilidade, porém juridicamente são equiparados a bens imóveis), neste estudo, serão
empregadas com o mesmo sentido indistintamente todas essas expressões.
55
Michel Siqueira Batista
ARTICLE6 ARTIGO 6
INCOME FROM IMMOVABLE RENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS
PROPERTY
1. Os rendimentos que um residente de um
1. Income derived by a resident of a Con- Estado Contratante obtenha de bens imó-
tracting State from immovable property (in- veis, inclusive os rendimentos de explo-
cluding income from agriculture or forestry) rações agrícolas ou florestais, situados no
situated in the other Contracting State may outro Estado Contratante poderão ser tribu-
be taxed in that other State. tados nesse outro Estado.
4 Em francês, outra língua oficial da OCDE, o Artigo 6 da Convenção Modelo tem a seguinte redação:
"Article 6
REVENUS IMMOBILIERS
1. Les revenus qu'un résident d'un État contractant tire de biens immobiliers (y compris les revenus
des exploitations agricoles ou forestieres) situés dans l'autre État contractant, sont imposables dans
cet autre État.
2. Cexpression «biens immobiliers» a le sens que lui attribue le droit de l'État contractant ou les biens
considérés sont situés. Cexpression comprend en tous cas les accessoires, le cheptel mort ou vif des
exploitations agricoles et forestieres, les droits auxquels s'appliquent les dispositions du droit privé
concernant la propriété fondere, l'usufruit des biens immobiliers et les droits à des paiements variables
ou fixes pour l'exploitation ou la concession de l'exploitation de gisements minéraux, sources et autres
ressources naturelles; les navires, bateaux et aéronefs ne sont pas considérés comme des biens immobiliers.
3. Les dispositions du paragraphe 1 s'appliquent aux revenus provenant de l'exploitation directe, de la
location ou de l'affermage, ainsi que de toute autre forme d'exploitation des biens immobiliers.
4. Les dispositions des paragraphes 1 et 3 s'appliquent également aux revenus provenant des biens
immobiliers d'une entreprise."
56
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
2. The term "immovable property" shall 2. A expressão "bens imóveis" terá o signifi-
have the meaning which it has under the cado que lhe for atribuído pela legislação do
law of the Contracting State in which the Estado Contratante em que os bens em ques-
property in question is situated. The term tão estiverem situados. A expressão incluirá,
shall in any case include property accessory em qualquer caso, os acessórios da proprieda-
to immovable property, livestock and equip- de imobiliária, o gado e o equipamento utili-
ment used in agriculture and forestry, rights zados nas explorações agrícolas e florestais,
to which the provisions of general law re- os direitos a que se aplicam as disposições
specting landed property apply, usufruct of do direito privado relativas à propriedade de
immovable property and rights to variable bens imóveis, o usufruto de bens imobiliários
or fixed payments as consideration for the e os direitos a pagamentos variáveis ou fixos
working of, or the right to work, mineral de- pela exploração ou concessão da exploração
posits, sources and other natural resourceSj de jazidas minerais, fontes e outros recursos
ships, boats and aircraft shall not be regard- naturais. Navios e aeronaves não serão consi-
ed as immovable property. derados bens imóveis.
3. The provisions of paragraph 1 shall apply to 3. As disposições do parágrafo 1 aplicar-se-ão
income derived from the direct use, letting, or aos rendimentos oriundos do uso direto, da
use in any other form of immovable property. locação, ou do uso, sob qualquer outra forma,
de bens imóveis.
4. The provisions of paragraphs 1 and 3 shall
also apply to the income from immovable 4. As disposições dos parágrafos 1 e 3 aplicar-
property of an enterprise. -se-ão, igualmente, aos rendimentos provenien-
tes de bens imóveis de uma empresa e aos rendi-
mentos provenientes de bens imóveis usados na
prestação de serviços independentes.
57
Michel Siqueira Batista
58
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
6 "Article 6 contains the not-very-surprising rule that the income from immovable property situated
in a state may be taxed in that state." in BAKER, Philip, Double Taxation Conventions. London:
Thompson, 2005. p. 6-1.
7 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p 269.
8 Idem. p. 682.
59
Michel Siqueira Batista
mobile assets, a tax inspector can relatively easily assess both the value
of the land (for the purpose of Article 22(1) OECD MC) and of income
therefrom (for the purpose of Article 6).9
Não é por outro motivo que se tem notícia de que desde o tempo da Liga das
Nações (quando se iniciaram discussões multilaterais para a elaboração de con-
venções contra a dupla tributação) se aceita de forma pacífica a competência do
Estado da localização do bem imóvel do qual o rendimento decorrelO •
Conseqüentemente, é natural que a redação do Artigo 6 tenha sofrido
uma única e mínima alteração desde a elaboração da primeira versão da
Convenção Modelo da OCDE, em 1963, que consistiu mais precisamente na
simples exclusão (a partir da versão de 2000) da expressão "income from im-
movable property used for the performance of independent personal services", com
vistas tão somente a refletir a supressão do Artigo 14 do Modelo padrão da
OCDE, o qual tratava exatamente dos "Serviços Pessoais Independentes" ou
"Independent Personal Services"ll.
É de se ressaltar, no entanto, que o dispositivo tem um alcance estritamente
bilateral ('bilateral reach'), o que significa dizer que o mesmo se aplica somente aos
rendimentos pagos por uma fonte necessariamente residente no mesmo Estado
Contratante em que o bem imóvel estiver situado. Em outras palavras, é necessá-
rio que haja identidade entre (i) o Estado de localização do bem imóvel e (ii) o Es-
tado de residência da fonte pagadora do rendimento decorrente do bem imóvel12 •
Assim, na hipótese de (i) o beneficiário dos rendimentos for residente de um
Estado Contratante "R" (Estado da residência); (ii) a fonte pagadora for residente
de um Estado Contratante "F" (Estado da fonte); e (iii) o bem imóvel explorado
9 REIMER, Ekkehart, Income from immovable property (Article 6 OECD Model Convention) in LANG,
Michael (ed.) Source Versus Residence: Problems Arising From the Allocation ofTaxing Rights In Tax Treaty
Law And Possible Alternatives. (Austin, Tex.: Wolters Kluwer Law & Business, 2008). p. 2.
10 Idem.
11 Apesar deste dispositivo ter sido eliminado da Convenção Modelo, o Artigo 6 de grande parte
das convenções celebradas pelo Brasil (mesmo algumas assinadas após a edição da versão de
2000 da Convenção Modelo da OCDE) ainda faz referência a "rendimentos de serviços e pessoas
independentes".
12 Cfr. OCDE,Comentários, Art. 6º, parágrafo 1º:
"Article 6 deals only with income which a resident of a Contract State derives from an immovable
property situated in the other Contracting State. It does not, therefore, apply to income from immovable
property in the Contract State of which the recipient is a resident within the meaning of Article 4 OI
situated in a third State; the provisions of paragraph 1 of Article 21 shall apply to such income."
60
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
estiver situado em um Estado qualquer que não seja o Estado Contratante "F"
(por exemplo, um terceiro Estado "X"·ou até mesmo o próprio Estado Contratan-
te "R", onde o beneficiário for residente), o Artigo 6 não mais será aplicável para
fins de definição da competência tributária dos Estados envolvidos.
Nessa hipótese, os Comentários da OCDE à Convenção Modelo esclarecem
que ao rendimento recebido pelo beneficiário residente no Estado Contratante
"R" se aplicará o disposto no Parágrafo 1º do Artigo 21 ("Outros Rendimen-
tos"), dispositivo este que na redação padrão da Convenção Modelo atribui
competência exclusiva ao Estado da residência do beneficiário para tributar o
rendimento pago. Isto é, no caso analisado somente o Estado Contratante "R"
teria competência para tributar tal rendimentoP
Este resultado soa razoável, pois, se o imóvel está localizado em Estado
diferente do Estado em que a fonte do pagamento está situada, já não há mais
nesse contexto aquela conexão tão forte entre o local do bem imóvel (loeus
rei sitae) e o local de origem da riqueza tributável (Estado de localização da
fonte pagadora dos rendimentos), que foi atrás salientada como fundamento
essencial para justificar a atribuição da competência para o Estado do situs,
da localização do imóvel.
Sob essas circunstâncias, o Estado de localização do imóvel deixa de estar
sob o escopo da Convenção, que se aplica à relação entre a fonte e o beneficiá-
rio, e conseqüentemente não subsistem mais razões para atribuir-lhe competên-
cia alguma. Assim, o Artigo 21 (com a redação padrão da Convenção Modelo)
se afigura apropriado ao determinar a competência exclusiva do Estado de resi-
dência, onde o beneficiário do rendimento pago está localizado.
A orientação sugerida pelo comentário da OCDE, no entanto, requer uma
adaptação para sua aplicação no cenário brasileiro, conquanto o Artigo 21 (ou
o equivalente a este Artigo na Convenção Modelo) da generalidade das nossas
convenções tem conteúdo completamente distinto, pois reconhece a compe-
tência tributária cumulativa de ambos os Estados (da fonte e da residência) no
que diz respeito aos chamados "rendimentos não expressamente mencionados"
ou "outros rendimentos",
13 ''Article 21
OTHER INCOME
1. Items of income of a resident of a Contracting State, wherever arising, not dealt with in the
foregoing Articles of this Convention shall be taxable only in that State.
(...)"
61
Michel Siqueira Batista
Deste modo, resulta que no cenário brasileiro ao se aplicar o Artigo 21, o efeito
verificado seria o reconhecimento da competência cumulativa dos Estados da
residência do beneficiário e da fonte, restando ignorado o tratamento aplicável ao
Estado do situs, da localização do bem imóvel, ao qual restaria verificar eventual
tratado celebrado com os Estados da fonte do pagamento e do beneficiário.
Para fins ilustrativos sintetiza-se a seguir as situações atrás examinadas, à luz
da redação padrão do Artigo 21, conforme o Modelo da OCDE:
$
Fonte A
$
Fonte B
Estado R
Situação 1
Pagamento realizado pela Fonte A: Aplica-se o Artigo 6 da Convenção entre
Estado RxF (pois a Fonte A e o Imóvel A estão localizados no mesmo Estado)
Situação 2
Pagamento realizado pela Fonte B: Aplica-se o Artigo 21 da Convenção RxF
(pois a Fonte B e o Imóvel B estão localizados em Estados distintos)
4. Considerações adicionais
Para além dos assuntos atrás abordados relacionados à distribuição de com-
petência, que seguramente são de relevância central para definição do regime
fiscal aplicável aos rendimentos provenientes da exploração de bens imóveis,
suscitam-se ainda diversas outras questões periféricas tais quais as que serão
abordadas na seqüência.
62
o Artigo 6 Q
da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
63
Michel Siqueira Batista
Salvo exceções como essas, aos rendimentos com esta natureza, que po-
derão se qualificar como ganhos de capital, a Convenção Modelo (e assim as
celebradas pelo Brasil) dispõe sobre o tratamento aplicável em seu Artigo 13
("Ganhos de Capital").
O Parágrafo 3º do dispositivo esclarece que o mesmo se aplica a qualquer
forma de exploração da propriedade imobiliária, seja ela direta ou indireta,
abrangendo, portanto, quer o pagamento pelo exercício do direito de exploração
ou de uso diretamente pela fonte pagadora, quer os pagamentos em contrapar-
tida da locação, sublocação, etc. da propriedade.
16 "(...) foeus is therefOIe on ineome from exploiting land or from permitting the oeeupation of land,
and not from the sale ofland OI any interest in it." in BAKER, Philip, Double Taxation Conventions.
London: Thompson, 2005. p. 6-2.
17 "Canada reserves the right to include in paragraph 3 a referenee to ineome from the alienation of
immovable property.". OECD. Model Tax Convention on Income and on Capital.
64
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
65
Michel Siqueira Batista
66
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCVE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
A lógica é similar àquela atrás examinada adotada pelo Artigo 6 paraa atri-
buição da competência tributária ao Estado de Localização do bem imóvel, que
reconhece ser este o Estado mais adequado para classificar sua natureza, nos
termos de sua legislação interna (lex loei rei sitae).
O estabelecimento da lex loei rei sitae (legislação do Estado onde o imóvel
está localizado) como única competente para estabelecer o conceito de 'bem
imóvel' reduz (ao restringir a um único Estado o poder de definir o que se qua-
lifica como bem imóvel), como bem observa BAKER22 , o risco de conflitos de de-
finição que poderiam emergir caso se adotasse o critério previsto no Parágrafo 2
do Artigo 3, o qual determina que as expressões não definidas nas convenções
terão o significado atribuído pela legislação do Estado Contratante que a esti-
ver aplicando, o que significa que na prática cada Estado Contratante poderia
aplicar uma definição distinta.
O critério adotado não resolve, porém, todas as possibilidades de con-
flitos que podem surgir entre os Estados Contratantes nesta questão. Uma
delas diz respeito à hipótese de um Estado Contratante considerar que o
bem do qual decorre o rendimento se qualifica como imóvel e o outro Estado
Contratante como móvel.
A situação em referência pode ocorrer, por exemplo, em casos envolvendo
uma partnership land, nos quais um Estado Contratante pode considerá-la como
propriedade imobiliária situada onde os bens imóveis de sua titularidade esti-
verem localizados; enquanto o outro Estado Contratante pode entender que a
participação na partnership land qualifica-se como um bem móvel cuja localiza-
ção é onde seus administradores estiverem situados.
BAKER ilustra ainda outros exemplos de casos reais nos quais se suscitaram
dúvidas quanto à natureza (móvel ou imóvel) e respectiva localização do bem
gerador do rendimento objeto de tributação23 •
Estas situações se afiguram possíveis porque não há regras nas convenções
que estabeleçam onde está localizado o bem. Deste modo, é possível que os
Estados Contratantes adotem regras de localização distintas e conflitantes, que
permitam que ambos os Estados considerem o bem localizado em seus respec-
tivos territórios e, a partir daí, os classifiquem, de acordo com suas legislações
domésticas, como móvel ou imóvel.
67
Michel Siqueira Batista
24 Idem.
25 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. pág 683.
68
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
Por outro lado, os limites negativos dizem respeito à exclusão dos navios,
barcos e aeronaves do conceito de bem imóvel, mesmo se a legislação interna
do Estado Contratante, como é o caso do Brasil, qualificá-los como imóvel.
Em relação a esses bens, aplicam-se as regras especiais previstas no Artigo 8
("Navegação Marítima e Aérea"). Interessante notar que as convenções ce-
lebradas com o Chile e o Peru inovam ao incluir nesse hall os "veículos de
transporte terrestre".
Os Comentários esclarecem que nenhuma referência é feita aos rendimen-
tos decorrentes de dívidas (indebtedness) garantidas por bens imóveis, pois tais
rendimentos são abordados pelo Artigo 11 ("Juros").
26 OECD. OCDE Model Tax Convention: Revised Discussion Drait on Tax Treaty Issues Related to
Emissions Permits and Credits. Paris: OECD, 2012. págs 11 e ss.
27 Idem. págs 12 e ss.
69
Michel Siqueira Batista
28 "More fundamentally, the obstacles to trading that would be introduced by treating permits/credits
as immovable property rather than a fungible commodity-like instrument would be inconsistent with
the economic theory underlying emissions trading, which states that where trade in an externality is
possible and there are no transactions costs, bargaining willlead to an economically efficient outcome
(in this case, achievement of emissions reductions at the least overall cost to society)." in OECD.
OCDE Model Tax Convention: Revised Discussion Draft on Tax Treaty Issues Related to Emissions
Permits and Credits. Paris: OECD, 2012. pág 12.
29 "In the case of enterprises engaged in agriculture and forestry, therefore, one could consider that
Article 6 applies to income derived from the trading of emissions permitslcredits linked to their
activities as such, whether those permits/credits have been acquired by such enterprises directly
from an issuing authority or through market trading. This view would be based not on the treaty
characterisation of the permitslcredits as immovable property but rather on the treaty characterisation
of the activities of the enterprise and on the link between the permits and those activities (as is the
case for enterprises engaged in international shipping and air transport - see below). Under this view,
the income that an enterprise engaged in agriculture or forestry might derive from the trading of
emissions permitslcredits might be covered by paragraph 1 of Article 6 if an adequate link were found
to exist between those permits/credits and the agriculture or forestry activities of the enterprise.
Article 6 would not, however, apply to profits or gains from the subsequent resale of these permits/
credits by other enterprises as the necessary link would no longer exist." in OECD. OCDE Model
Tax Convention: Revised Discussion Draft on Tax Treaty Issues Related to Emissions Permits and Credits.
Paris: OECD, 2012. pág 13.
30 Nesse sentido, ver parágrafo 75.1 dos Comentários ao Artigo 7.
70
o Artigo 6º da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no 'Brasil
"Income fram agriculture ar farestry includes not only the income that
an enterprise engaged in agriculture ar forestry derives fram selling its
agricultural and forestry praduction but also income that is an integral
part of the carrying on of agriculture ar forestry activities - for instance,
income derived fram the acquisition ar trading of emission permits (the
nature of these permits is explained in paragraph 75.1 of the Commen-
tary on Article 7) where such acquisition or trading is an integral part of
the carrying on of agriculture or forestry activities, e.g. where the permits
are acquired for the purpose of carrying on these activities or where
permits acquired for that purpose are subsequently traded when it is
realized that they wiU not be needed."
71
Michel Siqueira Batista
5. Conclusão
Conforme atrás mencionado, o Artigo 6 das convenções para evitar a dupla
tributação consiste em uma norma de cumulação de competência dos Estados
da localização da propriedade imobiliária e do beneficiário dos rendimentos
dela decorrentes.
O dispositivo, que adota o critério da localização do bem imóvel (locus rei
sitae) para tributar os rendimentos decorrentes da exploração imobiliária, é ga-
rantir a competência do Estado da fonte, onde o bem imóvel estiver situado,
sem restringir o poder de tributar do Estado do beneficiário.
31 VOGEL, Klaus, on Double Taxation Conventions. London: Kluver Law InternationaI, 1997. pás. 376
72
o Artigo 6Q
da Convenção Modelo da OCDE e os Tratados
Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
73
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da
OCDE e sua Adoção pelo Brasil: os Critérios
para Evitar a Dupla Tributação da Renda
Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
Introdução
o presente estudo tem por objetivo analisar de que maneira o Brasil vem
adotando o artigo oitavo da convenção-modelo da OCDE2. O Brasil não é um
de seus países membros, no entanto, sempre se valeu do modelo proposto pela
OCDE ao negociar seus acordos para evitar a dupla tributação da renda, prin-
cipalmente no que diz respeito à repartição da competência para tributar os
rendimentos decorrentes do transporte aéreo e marítimo. Como explicaremos
a seguir, o artigo oitavo da convenção modelo, que aborda a tributação das
atividades de transporte, delega competência tributária exclusiva ao Estado da
Residência, em detrimento do Estado da Fonte.
Até 2016, o Brasil havia firmado acordos para evitar a dupla tributação com
32 países (entre parênteses, o início da vigência): África do Sul (2006); Ar-
gentina (1981); Áustria (1975); Bélgica (1972); Canadá (1985); Chile (2003);
China (1992); Coréia (1991); Dinamarca (1974); Equador (1986); Eslováquia
(1990); Espanha (1975); Filipinas (1991); Finlândia (1997); França (1971); Hun-
gria (1990); Índia (1991); Israel (2005); Itália (1979); Japão (1967); Luxemburgo
(1979); México (2006); Noruega (1981); Países Baixos (1990); Peru (2009); Por-
tugal (2001); República Tcheca (1990); Suécia (1975); Trinidad e Tobago (2014)
Advogado no Rio de Janeiro e em São Paulo. LLM em International Taxation pela New York University.
Sócio de Castro, Barros, Sobral, Gomes Advogados.
2 OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
75
Francisco Lisboa Moreira
3 A Convenção firmada com a Alemanha foi objeto de denúncia por este país em 2005, deixando de
vigorar a partir de Janeiro de 2006.s
4 TORRES, Helena Taveira. Regime Tributário do Transporte Marítimo no Brasil, in Revista Dialética
de Direito Tributário no. 81, p. 48.
76
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
Como se vê, existem países com os quais o Brasil não possui uma Convenção
para Evitar a Dupla Tributação da Renda (casos da Alemanha, Argélia, Bulgá-
ria, Catar. Colômbia, Emirados Árabes, Reino Unido, Romênia e Rússia), países
cujo acordo para eliminar a dupla-tributação da renda oriunda do transporte
marítimo, fluvial e terrestre foi firmado antes de qualquer Convenção para Evi-
tar a Dupla Tributação da Renda (China e Venezuela) e até o caso de Portugal,
da Bélgica e, antes da sua denúncia do acordo, da Alemanha, cujo acordo tem
(ou tinha) vigência concomitante à da Convenção.
Ao analisarmos os acordos de amplo escopo para evitar a dupla tributação
firmados pelo Brasil, podemos afirmar que princípios norteadores de sua apli-
cação são os mesmos utilizados para interpretação e aplicação do artigo oitavo
da Convenção-Modelo da OCDE. Diante disso, com relação ao seu conteúdo,
no que tange à adoção do artigo oitavo da Convenção Modelo, podemos traçar
a seguinte classificação:
77
Francisco Lisboa Moreira
Para alguns países, ainda que não exista nenhum acordo específico ou
convenção para evitar a dupla tributação da renda, o Brasil concederá tra-
tamento recíproco àqueles países ou localidades que não tributarem a renda
auferida pelas empresas brasileiras de transporte aéreo, marítimo ou terrestre.
Tal previsão está regulamentada no artigo 176 do Regulamento do Imposto
de Renda (Decreto nº 3.000/1999), que consolida a legislação sobre o tema (o
Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 30 e o Decreto-Lei nº 1.228, de 3 de julho
de 1972, art. 1º), a saber:
78
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
o Brasil ainda firmou diversos outros acordos que versam sobre aspectos
acessórios da atividade marítima e aérea, inclusive quanto à concessão de isen-
ções de tarifas, isenção tributária para combustíveis, dentre outros.?
7 África do Sul (aéreo) - Decreto nº 3.974, de 2001; Alemanha (aéreo) - Decreto nº 54.173, de 1964;
Alemanha (marítimo) - Decreto nº 88.947, de 1983 e 2º Protocolo Adicional - Decreto nº 1.610,
de 1995; Angola (aéreo) - 1977 - S/N; Argélia (marítimo) - Decreto Legislativo nº 86, de 1976;
Argentina (aéreo) - Decreto nº 60.908, de 1967; Argentina (marítimo) - Decreto nº 99.040, de 1990;
Austrália (aéreo) - Nota 226, de 2010 ; Áustria (aéreo) - Decreto nº 1.667, de 1995; Barbados (aéreo)
- 2010 - S/N; Bélgica (aéreo) - Decreto nº 6.650, de 2008; Bolívia (aéreo) - Decreto Legislativo nº 16,
de 1954 e Decreto n. 3.045, de 1999 (ato multilateral); Bulgária (marítimo) - Decreto nº 72, de 1991;
Cabo Verde (aéreo) - Decreto nº 6.395 de 2008; Canadá (aéreo) - Decreto nº 99.093 de 1990; Chile
(aéreo) - Decreto nº 5.242 de 2004; Chile (marítimo) - Decreto nº 75.246, de 1975; China (marítimo)
- Decreto nº 85.314, de 1980; China (aéreo) - Decreto nº 2.499 de 1998; Cingapura (aéreo) - Decreto
Legislativo nº 144, de 2011; Colômbia (aéreo) - Decreto nº 75.929, de 1975 ; Coréia (aéreo) - Decreto
nº 1.545, de 1995; Costa Rica (aéreo) - Decreto Legislativo nº 36 de 1999 e Acordo realizado em
2011; Cuba (aéreo) - Decreto nº 3.465 de 2000; Dinamarca (aéreo) - Decreto nº 66.237, de 1970;
Equador (aéreo) - Nota nº 134, de 2013; Espanha (aéreo) - Decreto nº 35.178 de 1954; Estados Unidos
(marítimo) - Decreto Legislativo nº 126, de 2011; Estados Unidos (aéreo) - Decreto nº 446, de 1992
e Nota nº 110, de 2011; França (aéreo) - Decreto nº 60.868 de 1967; França (marítimo) - Decreto
nº 84.326, de 1979; Gana (aéreo) - Decreto Legislativo nº 1, de 2008; Hong Kong (aéreo) - Decreto
nº 1.180 de 1994; Hungria (aéreo) - Decreto Legislativo nº 3.120 de 1999; Índia (aéreo) - Decreto
Legislativo nº 259 de 2008; Israel (aéreo) 2009 - S/N; Iraque (aéreo) - Decreto nº 84.301 de 1979;
Itália (aéreo) - Decreto nº 31.419 de 1952; Japão (aéreo) - Decreto nº 51.605, de 1962; Jordânia
(aéreo) - Decreto nº 78.229, de 1976; Líbano (aéreo) - Decreto nº 2.559, de 1998; Macau (aéreo) -
Decreto nº 1.810 de 1996; Malásia (aéreo) - Decreto nº 2.796, de 1998.; Marrocos (aéreo) - Decreto
nº 83.241, de 1979; México (aéreo) - Decreto nº 2.007 de 1996; Nigéria (aéreo) - Decreto nº 336,
de 1991.; Noruega (aéreo) - Decreto nº 66.238, de 1970; Nova Zelândia (aéreo) - Decreto nº 2.831,
de 1998 e Acordo adicional em 2013; Países Baixos (aéreo) - Decreto nº 80.977, de 1977; Panamá
(aéreo) - 2007 - S/N; Paraguai (aéreo) - Decreto nº 35.543 de 1954; Peru (aéreo) - Decreto nº 42.123,
de 1957.; Polônia (marítimo) - Decreto nº 80.106 de 1977; Portugal (marítimo) - Decreto nº 85.270, de
1980; Portugal (aéreo) - Decreto nº 1.179 de 1994 e Decreto nº 6.058 de 2007; Romênia (marítimo)
- Decreto nº 79.951, de 1977 ; Rússia (marítimo) - Decreto nº 72.676, de 1973; Senegal (aéreo) -
2007 - S/N; Suíça (aéreo) - 1998 - S/N; Suriname (aéreo) - Decreto nº 88.511, de 1983; Tailândia
(aéreo) - Decreto nº 1.161, de 1994; Ucrânia (aéreo) - 2009 - S/N; Uruguai (marítimo) - Decreto nº
78.621 de 1976; Uruguai (aéreo) - Projeto de Decreto Legislativo Senado Federal nº 637, de 2010;
Venezuela (aéreo) - Decreto nº 227, de 1991. O Brasil Também é co-signatário dos atos multilaterais
firmados através do Decreto n. 3.045, de 1999 - Acordo sobre Serviços Aéreos Sub-Regionais entre
os Governos da República Federativa do Brasil, da República Argentina, da República da Bolívia,
da República do Chile, da República do Paraguai e da República Oriental do Uruguai, celebrado em
Fortaleza, em 17 de dezembro de 1996 e do ato multilateral firmado através da Nota nº 445, de 2010-
Acordo entre a República Federativa do Brasil e a União Européia sobre certos aspectos dos serviços
aéreos e sobre a segurança da aviação.
79
Francisco Lisboa Moreira
8 O texto relativo aos parágrafos 1, 2 e 3 são os mesmos desde a adoção do primeiro draft da Convenção-
Modelo, em 1963. Já o parágrafo 40. foi adotado a partir de 1977.
9 O texto fala em "inland waterways transport", cuja tradução mais apropriada seria "navegação de
cabotagem interna", ou o que convencionamos denominar apenas de transporte fluvial.
10 VOGEL, Klaus. Double Tax Conventions. P. 484. 3rd. Edition. Os grifos são do autor.
80
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
11 A bandeira indica o país onde encontra-se o porto de registro do navio ou embarcação. Sobre o tema,
vide UNCLOS, 1982, Art. 94., e WISWALL ]R., Frank L., Flags of Convenience, in United States
Shipping Policies and the World Market (William A. Lovett ed., 1996), p. 117-118.
12 MAISTO, Guglielmo. Shipping, Inland Waterways Transport and Air Transport. In Source versus
Residence: Problems Arising from the Allocation ofTaxing Rights in Tax Treaty Law and Possible
81
Francisco Lisboa Moreira
Alternatives. Edited by Michael Lang, Pasquale Pistone, Josef Schuch and Claus Staringer, Ed. Kluver
Law International. P. 28
13 MAISTO, Op. Cit., p. 35.
82
D Artigo 8º da Convenção-Modelo da DCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
83
Francisco Lisboa Moreira
84
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
85
Francisco Lisboa Moreira
feitos por empresas, desde que tenham sido aprovados pelas autoridades com-
petentes, bem assim os pagamentos de aluguel de containers, sobrestadia e
outros relativos ao uso de serviços de instalações portuárias; (...) "
21 Para maiores detalhes, vide: RIQUE, Pedro. O conceito de embarcação e a alíquota zero do IRRF
incidente sobre as receitas de afretamento de plataformas marítimas. Texto publicado na edição
eletrônica do Guia Marítimo em 15 de julho de 2012 (http://www.comexblog.com.br/direito-em-foco/
o-conceito-de-embarcacao-e-a-aliquota-zero-do-irrf-incidente-sobre-as-receitas-de-afretamento-de-
plataformas-maritimas/) Consulta realizada em 09 de outubro de 2016.
22 Sobre o tema, vale mencionar o estudo feito por Ramon Tomazela Santos e Paulo Coviello Filho
sobre as situações em que a alíquota zero no pagamento de fretes ao exterior permanecerá. Vide
SANTOS, Ramon Tomazela e COVIELLO FILHO, Paulo. O Imposto de Renda e as Receitas de
Frete Internacional - Análise da Lei Doméstica e dos Acordos de Bitributação. In Revista Fórum de
Direito Tributário. Belo Horizonte, ano 14, n. 81, p. 151-171, maio/junho 2016.
23 Neste caso, a aplicação da alíquota majorada ocorrerá apenas para os beneficiários localizados em
países de tributação favorecida, não alcançando aqueles situados ou gozando de regimes fiscais
privilegiados. Sobre o tema, valemo-nos das lições do Professor Alberto Xavier, em XAVIER, Alberto.
Direito Tributário Internacional do Brasil. Ed. Saraiva. 8ª. Ed. Págs. 307-309.
86
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
87
-
Francisco Lisboa Moreira
entre os Estados Unidos e o Canadá traz disposição mais abrangente e que joga
uma luz sobre tal limitação de escopo do artigo oitavo:
"Não obstante as previsões do artigo VII (Lucros das Empresas), lucros obti-
dos por um residente de um Estado Contratante decorrentes de uma viagem
de um navio onde o principal objetivo da viagem é o de transportar passagei-
ros ou propriedade entre locais naquele outro Estado Contratante podem ser
tributados naquele outro Estado."29
29 "Notwithstanding the provisions of Artic1e VII (Business Profits), profits derived by a resident of a
Contracting State from a voyage of a ship where the principal purpose of the voyage is to transport
passengers or property between places in the other Contracting State may be taxed in that other
State." Conforme análise contida no BNA Tax Management Portfolio (945-1" T.M. V-D), o propósito
deste artigo parece ser o de sobrepor o requerimento do estabelecimento permanente contido no
artigo de lucros das empresas, fazendo com que, dentro da Convenção firmada entre Estados Unidos
e Canadá, o Estado da Fonte possa tributary o lucro decorrente de tal atividade de transporte
independente de que tal lucro possa ser atribuído a um estabelecimento permanente.
30 Comentários ao art. 30., parágrafo 10., item 6.1, em tradução livre.
88
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
89
Francisco Lisboa Moreira
90
o Artigo 8º da Convenção-Modelo da OCDE e sua Adoção Pelo Brasil: os Critérios para
Evitar a Dupla Tributação da Renda Proveniente do Transporte Aéreo e Marítimo
36 Mais recentemente, o Brasil promulgou a Lei 13.202/2015 que, no seu artigo 11, confirmou que para
fins de interpretação, os acordos para evitar a dupla tributação firmados pelo Brasil incluem a CSL em
seu escopo.
91
o Artigo 15º da Convenção Modelo
da OCDE e os Tratados Internacionais
em Matéria Tributária no Brasil
1. Introdução
Com a intensificação das transações internacionais ao longo da segunda me-
tade do século passado, surgiu, como condição necessária, a figura das relações
de emprego internacionais, onde um residente de um Estado desempenha suas
atividades em outro território. Estas, por sua vez, como característica intrínseca
da relação de emprego, são remuneradas e, com isso, como ensina o professor
Alberto Xavie~, surge o problema da repartição internacional da competência
para tributar tal rendimento.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
já em sua primeira Convenção Modelo (CM-OCDE), publicada em 1963 4,
buscou disciplinar tal repartição de competência na redação de seu artigo 15,
abaixo transcrito:
Advogada da Vale S.A. Pós-graduada em Direito Financeiro e Tributário pela Universidade Federal
Fluminense. Advanced LL.M in International Tax Law pela Universidade de Leiden na Holanda.
2 Advogado no Castro, Barros, Sobral, Gomes Advogados. Advanced LL.M in International Tax Law
pela Universidade de Leiden na Holanda.
3 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 575.
4 RAAD, Kees van. Materiais on International and EU Tax Law. vaI. L 13. ed. pp. 609. Leiden:
International Tax Center, 2013. ISBN 978-90-815833-3-6.
93
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
"Article 15
DEPENDENT PERSONAL SERVrCES
1. Subject to the provisions of Articles 16, 18 and 19, salaries, wages and
other similar remuneration derived by a resident of a Contracting State in
respect of an employment shall be taxable only in that State unless the em-
ployment is exercised in the other Contracting State. rf the employment is so
exercised, such remuneration as is derived therefrom may be taxed in that
other State.
2. Notwithstanding the provision of paragraph 1, remuneration derived by a
resident of a Contracting State in respect of an employment exercised in the
other Contracting State shall be taxable only in the first-mentioned State if:
a. the recipient is present in the other State for a period or periods not
exceeding in aggregate 183 days in the fiscal year concerned, and
b. the remuneration is paid by, or on behalf of, an employer who is not a
resident of the other State, and
c. the remuneration is not borne by a permanent establishment or a fixed
base which the employer has in the other State.
3. Notwithstanding the preceding provisions of this Article, remuneration in
respect of an employment exercised aboard a ship or aircraft in international
traffic, or aboard a boat engaged in inland waterways transport, may be taxed
in the Contracting State in which the place of effective management of the
enterprise is situated."
"ARTICLE 15
INCOME FROM EMPLOYMENT
1. Subject to the provisions of Articles 16, 18 and 19, salaries, wages and
other similar remuneration derived by a resident of a Contracting State in
respect of an employment shall be taxable only in that State unless the em-
ployment is exercised in the other Contracting State. rf the employment is so
exercised, such remuneration as is derived therefrom may be taxed in that
other State.
94
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
o Brasil, apesar de não ser país membro da OCDE e ter relativamente pou-
cos tratados contra dupla tributaçã0 6, optou por seguir (ainda que em algu-
mas vezes apenas parcialmente) o modelo proposto pela referida organização
internacional para negociar seus tratados e, salvo poucas exceções, reproduz
integralmente o texto do artigo 15 nos acordos que celebra.
Nesse contexto insere-se o presente estudo, cujo objetivo é analisar o arti-
go em referência, os comentários da OCDE em relação ao mesmo, bem como
eventuais posições do Brasil. Ademais, esse artigo visa a dar um panorama so-
bre a redação do artigo nas convenções celebradas pelo Brasil e, na medida do
possível, jurisprudência pátria sobre o assunto.
5 RAAD, Kees Van. Op. cito pp. 25. Também disponível em: http://www.oecd.org!ctp/treaties/47213736.pdf
6 Até a presente data o Brasil possui 32 tratados contra dupla tributação em vigor. Países de tradição
na prática do direito tributário internacional normalmente possuem um número mais elevado de
tratados. O Reino Unido, por exemplo, possui tratados cobrindo um total de mais de 100 países.
Informação disponível em http://www.hmrc.gov.uk/taxtreaties/dta.htm para os tratados do Reino
Unido e http:// http://idg.receita.fazenda.gov.br/acesso-rapido!1egislacao/acordos-internacionais/
acordos-para-evitar-a-dupla-tributacao/acordos-para-evitar-a-dupla-tributacao para os tratados
Brasileiros. Consultas em 03/08/2016.
95
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
96
o Artigo 15 da Convenção Modelo da OCDE e os
Q
10 Para uma melhor análise do debate em questão e citação de artigos de juristas que adotaram as
mencionadas posições ver: VOGEL, Klaus. Klaus Vogel on Double Tax Conventions: A Commentary
to the OECD-, UN- and US Model Conventions for the Avoidance of Double Taxation on Income
and CaPital with particular reference to German treaty practice. 3. ed. pp. 44. Londres: Kluwer Law
International, 1997. ISBN 90-411-0892-0
11 Na introdução dos Comentários à CM-OCDE, em especial no parágrafo 29 e seguintes, é
mencionado que, embora não sejam legalmente vinculantes, os comentários são de grande
assistência na interpretação e aplicação de tratados contra dupla tributação. Ver em: RAAD, Kees
van. op. cito pp. 58 e 59.
97
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
12 Nesse sentido ver o comentário número 35 da introdução aos comentários à CM-OCDE. RAAD,
Kees van. op. cito pp. 61-62.
13 Nesse sentido ver: JONES, John Avery. The Effect of Changes in the OECD Commentary after a Treaty
is concluded. in Bulletin for International Taxation, IBFD. Março 2002. p. 102-109.
14 RAAD, Kees van. op. cito pp. 350 e 353.
98
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
15 Nesse sentido ver: ROCHA, Sérgio André. et. aI. Manual de Direito Tributdrio Internacional. São
Paulo: Dialética, 2012. p. 141.
16 Nesse sentido ver PÓTGENS, Frank P. G. The 'Closed System' of the Provisions on Income from
Employment in the OECD Model. in European Taxation, IBFD, 2001-718, pp. 252.
17 Ibidem. pp. 254
99
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
artista ou desportista receba rendimentos por sua atividade, ainda que sob uma
relação de emprego, a matéria será disciplinada pelo artigo 17, e não pelo 15.
Ainda sobre o primeiro parágrafo do artigo, é importante destacar que o ter-
mo "salaries, wages and other similar remuneration"!8 não é definido na CM-OC-
DE nem em seus comentários, embora estes contenham uma observação de que
o termo deve ser interpretado de maneira ampla, de forma a alcançar qualquer
tipo de benefício recebido como contrapartida na relação de trabalhd 9• Dessa
forma, como detalhadamente explicado por Bellan20, através do parágrafo 2, do
artigo 3 da CM-OCDE (normalmente reproduzido nos tratados firmados pelo
Brasil) deve ser verificada a legislação doméstica do Estado Contratante em que
estiver sendo aplicado o tratado para definição do termo.
A redação do parágrafo 2, do artigo 3 expressamente demonstra a ne-
cessidade de observância da legislação doméstica aplicável ao tributo que se
deseja cobrar para definir os termos não definidos nos tratados (preferência
essa reforçada pelos comentários ao referido artigo)2!. Em se tratando de remu-
neração de emprego no Brasil, essa legislação seria a que regula o Imposto de
Renda. No entanto, o referido termo não está definido neste dispositivo, mas
sim, na legislação trabalhista. Não obstante a preferência acima mencionada,
não havendo legislação tributária que defina o termo, a definição da lei traba-
lhista seria a aplicada22 .
Após a definição da regra geral, o artigo traz, em seu segundo parágrafo,
exceção à regra geral de tributação, abaixo esclarecida.
18 Normalmente traduzido como "salários, ordenados e remunerações similares" nos tratados celebrados
pelo Brasil.
19 O comentário 2.1 ao artigo 15 cita alguns exemplos como plano de saúde, moradia ou veículo
funcional, stock-options, bem como qualquer outro benefício em espécie decorrente da relação
empregatícia. Ver em RAAD, Kees van. op. dt. pp. 353.
20 BELLAN, Daniel Vitor. Individuais' Income Under Double Taxation Conventions: A Brazilian Approach.
Kluwer Law International. pp. 149-151.
21 RAAD, Kees van. op. cito pp. 111, comentário número 13.1 ao artigo 3.
22 Nesse sentido ver a mais uma vez detalhada explicação de Bellan sobre a definição do termo em:
BELLAN, Daniel Vitor. Op. cito pp. 151 e ss.
100
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
101
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
23 Para uma análise detalhada da forma de contagem dos dias no teste dos 183 dias ver: VOGEL, Klaus.
op. cito pp. 895-898. Ver também os comentários 5 e 5.1 da OCDE ao artigo 15.
24 RAAD, Kees van. op. cit. pp. 354.
102
o Artigo 15Q da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
25 Ibidem. O exemplo ora utilizado é baseado no comentário número 4 dos comentários ao artigo 15, com
tradução livre pelos autores. Importante destacar, ainda, que somente a remuneração atribuível aos
dias em que a atividade foi desenvolvida no Estado A poderia ser por este tributada.
26 Nesse sentido ver: DE BROE, Luc. et. ai. Interpretation of Article 15 (2)(b) of the OECD Model
Convention: 'Remuneration paid by or on Behalf of, an Empioyer who is not a Resident of the Other State'
in Bulletin for International Taxation, IBFD. Outubro 2000. p. 503-521.
103
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Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
27 Como já mencionado, nesse sentido ver a detalhada análise de Bellan em: BELLAN, Daniel Vitor.
Op. cit. pp. 152.
28 Brasil, Decreto-Lei nº5,452/1943.
29 Sobre tais formas de definição do termo ver os comentários 8.1 a 8.15 ao artigo 15. RAAD, Kees van.
op. cito pp. 359-362
30 RAAD, Kees van. Op. cito pp. 361
104
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
31 Nesse sentido ver os comentários 8.11 a 8.14 da OCDE ao artigo 15 da Convenção Modelo.
32 Nesse sentido ver os parágrafos 8.24 e 8.25 dos comentários onde a OCDE apresenta dois exemplos e
sugere que ambos os testes devem ser aplicados.
33 Nesse sentido ver os parágrafos 8.20 e 8.23 onde outros dois exemplos são apresentados e o foco é no
teste da integração, sugerindo, assim, que apenas um teste seria suficiente.
105
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Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
34 Para uma definição mais completa, inclusive ilustrada, sobre "international hiring-out of labor" ver o
research paper publicado pela International Fiscal Association - IFA, denominado: Tax Implications on
International Hiring-Out ofLabour/ Hiring-Out ofLabour -still the poor relation in double tax conventions?!,
disponível em: https://www.ifa.nl/Document/Research%20Papers/IFA%20Research%20Project%20
on%20International%20Hiring-Out%20of%20Labour%20(2).pdf.
35 Cabe ressaltar, no entanto, que a definição de empregador no Brasi~ como demonstrado com a
transcrição do Art. 2º da CLT se aproxima de um substance-over-form approach, sendo, portanto,
possível que o contrato formal seja desconsiderado na definição do verdadeiro empregador.
106
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
DE, o domicílio de tal pessoa, para fins do tratado, será definido pelas regras
dispostas no artigo 4 da Convenção. Em especial, são aplicados os parágrafos
2 (para indivíduos) e 3 (para empresas), que normalmente são chamados de
"tie-breaker rules".36
O artigo 15 (2) (b) faz referência a um resident employer e surge, então, a
questão se devem ou não ser aplicadas tais regras para definir o termo resident
no contexto do referido dispositivo. Como já mencionado acima, não há con-
senso na doutrina sobre a resposta para tal questão.
Klaus Vogel, por exemplo, defende que a definição do termo "residente" no
contexto do artigo 15 (2) (b) deve ser feita exclusivamente com base no artigo 4
(1) que, por sua vez, remete à legislação doméstica do Estado em que o tratado
está sendo aplicado. Na opinião do mencionado doutrinador, as regras dos pa-
rágrafos 2 e 3 ("tie-breaker rules") do artigo 4 não deveriam ser aplicadas à defi-
nição do referido termo nesse contexto. A única possibilidade de aplicação das
referidas regras seria no caso de o empregador ser residente, simultaneamente,
no Estado da atividade e no Estado de residência do empregad037 • No cenário
nacional, Bellan se filia a essa corrente38 •
Schoueri, por outro lado, defende a posição de que tais regras não são apli-
cáveis em nenhuma hipótese. Para ele as "tie-breaker rules" dos parágrafos 2 e 3
têm como objetivo identificar a residência do contribuinte para, então, possibi-
litar a aplicação das regras de repartição de competência tributária dos tratados
celebrados com base na CM-OCDE. Como no artigo 15 (2) (b) o empregador
não é o contribuinte, tais regras não deveriam ser, em hipótese alguma, aplica-
das para definir a sua residência 39 •
Questão ainda mais complexa relacionada ao debate acima pode ser obser-
vada quando a dupla residência ocorre envolvendo um terceiro Estado, isto é,
além de ser residente no Estado da atividade, o empregador é, também, residen-
te de um terceiro. Nesse caso, a discussão tem como foco o possível efeito da
36 Para análise mais profunda do critério de residência e das tie-breaker rules ver os comentários da
OCDE ao artigo 4 que, por não ser objeto do presente estudo, não serão analisados detalhadamente.
RAAD, Kees van. op. cito pp. 114-128.
37 VOGEL, Klaus. Op. cito pp. 900
38 BELLAN, Daniel Vitor. Op. cito pp. 137.
39 SCHOUERI, Luís Eduardo. The residence of employer in the 183-day clause. Intertax, Amsterdam, V. 1,
p. 20-29, 1993.
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40 Sobre essa discussão ver: DE BROE, Luc. et. a/. op. cit. pp. 515. e PEETERS, Bernard. Article 15 of
the OECD Model Convention on "Income fTOm Employment" and its Undefined Terms. in EUTOPean
Taxation, IBFD, 2004-2/3, pp. 72-82.
41 Ver em RAAD, Kees van. Op. cito pp. 1049-1257.
42 Ibidem. pp. 357.
108
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
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44 Ver o comentário número 9 ao artigo 15 que, diga-se de passagem, é o único que aborda o terceiro
parágrafo do artigo.
45 RAAD, Kees van. op. cito pp. 353
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o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
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íses membros expressam suas posições através das observações e reservas aos
comentários e artigos.
Com a alteração do cenário econômico internacional e o crescimento de
novos países (dentre eles o Brasil), a OCDE passou a inserir, além das observa-
ções e reservas de seus membros, as posições de não-membros sobre os artigos
e seus comentários. Em relação ao artigo objeto do presente estudo o Brasil não
expressou qualquer posição, não havendo, portanto, necessidade de qualquer
comentário sobre o tema.
Nos tratados que celebra, como mencionado na introdução deste artigo, em
regra o Brasil reproduz integralmente o texto e a numeração do artigo que trata
sobre a tributação dos rendimentos de emprego. Há, contudo, algumas diferen-
ças que devem ser destacadas, de modo a cumprir a função proposta pelo estudo
de prover um panorama geral do referido artigo dentro do sistema brasileiro49 •
Inicialmente deve ser ressaltada a variedade de nomenclaturas dadas ao ar-
tigo nos acordos firmados pelo Brasil. Embora nas versões da CM-OCDE (e
também da Convenção Modelo da ONU e dos Estados Unidos 50) só se tenha
registro de duas nomenclaturas diferentes (Dependent Personal Services e Income
from Employment), nos tratados brasileiros há seis diferentes nomenclaturas e
até mesmo um tratado onde não há qualquer título para o artig05!.
Estranhamente, mesmo nos tratados mais recentes (leia-se, pós ano 2000)
como com a Turquia, México e Peru, o Brasil continua a atribuir o título "Servi-
ços Profissionais Dependentes" ao artigo que trata da tributação dos rendimen-
tos de emprego. Tal título se deve ao fato de que o Brasil continua a inserir um
artigo equivalente ao artigo 14 da CM-OCDE em seus tratados, mesmo após o
mesmo ter sido deletado do referido modelo. No tratado com a África do Sul,
entretanto, o artigo 15 é denominado "Rendimentos de Emprego"52, mesmo
contendo um artigo 14 denominado "Serviços Independentes".
49 Todas as informações sobre os tratados brasileiros mencionados nesse tópico estão disponíveis em:
http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/acordosinternacionais/AcordosDuplaTrib.htm. sendo
necessário, apenas, selecionar o país sobre o qual se deseje consultar a informação.
50 RAAD, Kees van. op. cito pp. 608-609.
51 Tratado com o Japão, onde, além de não possuir qualquer título, o artigo é numerado como 14.
52 O tratado com a África do Sul é o único no qual a nomenclatura do artigo 15 está em linha com a
atual denominação do mesmo na CM-OCDE.
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Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
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o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
nacionais terão sua definição de acordo com a legislação doméstica dos Esta-
dos Contratantes. Ora, é certamente possível que os países tenham definições/
interpretações domésticas distintas, o que gerará, por conseguinte, um conflito
na questão tributária.
Apenas a título exemplificativo, a Bélgica, assim como o Brasil, possui in-
terpretação no sentido de que o termo "salaries, wages and other similar remune-
ration" deve ser definido sobre a ótica do Direito do Trabalho e tais conceitos
são bastante similares. Mas o que aconteceria caso houvesse um conflito entre
as 2 (duas) leis?
Essa questão torna-se ainda mais intensa principalmente nos casos de pa-
gamento excepcionais como indenizações e auxílio-doença. As principais de-
cisões afirmam que esses pagamentos estão contidos no termo "other similar re-
muneration", mas as legislações dos países divergem no que tange à sua conexão
com o exercício do trabalho. É certo que nenhuma atividade é exercida pelo
profissional no caso de pagamentos indenizatórios como auxílio-acidente, terço
constitucional de férias, dentre outros, pois há um afastamento do trabalhador/
profissional de seu cargo. Todavia, não há que se falar no afastamento do art.
15, tendo em vista que este se refere a pagamentos decorrentes do emprego,
ainda que não haja atividade em exercício.
A dúvida que surge, no entanto, é que a realização do emprego em um outro
Estado (presença física) é condição fundamental para que este possa tributar e,
assim, como fazer no caso de pagamentos indenizatórios?
Essa questão ainda não foi analisada pelos tribunais brasileiros. Todavia, em
decisão proferida pela "Brussel Court of Appeal"55 restou estabelecido que além
de esses pagamentos serem considerados como "other similar remuneration" são
também conexos ao trabalho previamente exercido em determinado Estado.
Assim, ainda que na prática o pagamento ocorra sem contraprestação, há uma
nítida e inseparável conexão ao trabalho exercido previamente.
Isso parece evidente, de modo que se mostra correta a decisão da Corte
Belga. No entanto, algumas jurisdições diferem do conceito de "other similar
remuneration", fazendo uma análise mais profunda sobre o tema. É o caso da
Suprema Corte da Holanda (Hoge Raad) que afirmou que é extremamente im-
portante verificar o objetivo do pagamento indenizatório que está sendo feito.
Caso seja observado que há, como função primordial cobrir as necessidades
115
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
56 Supreme Court, 26 August 1981, BNB 1981/307; Supreme Court, 22 July 1988, BNB 1989/2; Supreme
Court, 10 February 1999, BNB 1999/153; Supreme Court, 20 December 2000, BNB 2001/124.
57 BFH, 18 July 1973, BFHE 110,43.
58 PÓTGENS, Frank. op. cit. p. 252.
59 Apenas a título exemplificativo: Supreme Court, 3 May 2000, BNB 2000/296; Supreme Court, 20
December 2000, BNB 2000/124, Supreme Court, 10 August 2001, BNB 2001/124.
60 BFH, 10 July 1996, IR 83/95, BFHE 181,155.
61 BFH, 18 July 1973, IR 52/69, BFHE 110,43
116
o Artigo 15Q da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
62 Brussels, 8 May 1992, Koerier, 1992, 512; Brussels, 24 September 1993, FJF 94/180; Brussels, 12
January 1993, Koerier, 1992, 489; Liege, 24 June 1992, Koerier, 1992, 489.
63 Brussels, 14 June 2000, TFR, 2001/22.
117
Ana Paula Saunders
Daniel Vieira de Biasi Cordeiro
Outra questão relevante e que gera inúmeras lacunas é o que deve ser con-
siderado por "dia", Por exemplo, nos Estados Unidos qualquer dia em que o
empregado permaneça no Estado de atividade deve ser levado em consideração
e computado para a regra da contagem. Já na Inglaterra, para que se possa
considerar para fins de cálculo, o empregado deve permanecer até o fim do dia
em território inglês. Caso o cidadão tenha partido antes disso, ainda que tenha
permanecido grande parte do dia no país, não há que se falar em seu cômputo
para fins de tributação.
Todos os casos aqui citados demonstram que, embora a questão ainda
não tenha sido analisada pelas cortes brasileiras, sua relevância é inegável
para os contribuintes. Com a crescente internacionalização das empresas do
Brasil e com a globalização possivelmente tal discussão virá a ser objeto de
controle jurisdicional.
Com efeito, a doutrina nacional deve, diante desses fatos, promover o debate
sobre o assunto visando mitigar a possibilidade de decisões contrárias ao enten-
dimento já pacificado na doutrina e jurisprudência internacional (e potencial-
mente prejudiciais à economia brasileira).
5. Conclusão
Ainda que não haja discussões brasileiras relevantes acerca do art. 15, o
presente estudo houve por bem demonstrar a sua importância no cenário in-
ternacional e as lacunas que ainda existem na CM-OCDE o que acaba, por
conseguinte, gerando decisões judiciais internacionais conflitantes.
Nada obstante os comentários ao artigo definirem regras e conceitos, pela
especificidade da questão, há ainda muita incerteza por grande parte dos con-
tribuintes, bem como das autoridades fiscais.
Inúmeras discussões e propostas já foram feitas no sentido de amenizar as
disparidades existentes64 , mas ainda não há atualmente evolução do assunto e o
já mencionado artigo, apesar da sua importância, tem sido superado por outras
questões cruciais no cenário internacional, como, por exemplo, a necessidade
64 Nessa linha vale citar por exemplo o Revised Draft Changes to the Commentary on Paragraph 2 of Artide
15 (2007 Discussion Draf) e o artigo escrito pelo Prof. Frank P. G. Péitgens "Proposed Changes to the
Commentary on Art. 15 (2) of the OECD Model and their Effect on the Interpretation of "Employer"for
Treaty Purposes.
118
o Artigo 15º da Convenção Modelo da OCDE e os
Tratados Internacionais em Matéria Tributária no Brasil
119
Selected Comments on the New 2016
U.S. Model Income Tax Convention
1. Introduction
Forty years have passed since the first US. Model Income Tax Convention
was issued in 1976. Following two other models released ten years apart (the
"1996 US. Model," and the "2006 US. Model"), the United States Treasury
Department has now published an entire new version on February 17, 2016 (the
"2016 US. Model").
This essay provides a general overview of the main innovations introduced
by the 2016 US. Model with the goaI of shedding light on recent refinements
and developments in US. tax treaty policy.3 To achieve this objective, it is
necessary to go back to the earlier Models, and examine how US. policy ob-
jectives were expressed through them. Section II will provide the necessary
historical background, and Section III will advance into the relevant aspects
of the new Model.
Flavia Cavalcanti Pepe is an attorney at Ulhôa Canto, Rezende e Guerra in Rio de Janeiro.
2 H. David Rosenbloom is an attorney at Caplin & Drysdale, Chartered in Washington, DC.
3 The 2016 U.S. Model contains numerous word changes and smaller amendments to prior Models.
Some of these are potentially consequential, but they will not be described or discussed here.
4 Narrower treaties with France and Canada were concluded in 1932 and 1936, respectively.
121
Flavia Cavalcanti Fepe
H. David Rosenbloom
right to tax its eitizens and residents generally unaffected by treaty provisionsj
and (ii) the significance accorded to administrative cooperation, particularly in
regard to exchange of information.
Still prior to the end ofWorld War lI, the United States signed general trea-
ties with Canada in 1942 and the United Kingdom in 1945, the latter serving as
a standard for U.S. post-war negotiations. The 1950s saw an expansion of the
US. treaty network, first with a few former allies (Australia and South Africa)
and some Axis powers, and then with a few African and Caribbean countries.5
By the 1960s, there were more than twenty US. tax treaties in force.
US. treaty practice remained unchanged until commencement of the work
by the Organisation for European Economic Co-operation ("OEEC") aimed
at developing an international model convention and, from 1961 onwards, by
the Organisation for Economic CoOperation and Development ("OECD"). In
1963, the OECD published its first model treaty (the "OECD Model"),6 reflect-
ing the views of developed countries and granting prevalence to residence-based
taxation over taxation at source. This archetype was used by the United States
as one if its main guides for negotiating tax treaties prior to 1977.7
Despite the recognized relevance of the OECD, and the important role
played by U.S. delegates in its work, the United States has never adopted the
OECD Model as an offieial benchmark. 8 In 1976 the US. Treasury Depart-
ment issued its own Model treaty,9 which was reissued with relatively minor
amendments in 1977 (the "1977 US. Model").lO
5 Cf. Yariv Brauner, Omri Marian, United States. In G. Maisto, et al., Departures from the OECD
Model and Commentaries, Amsterdam, IBFD, 2014.
6 The OECD Model was reformulated into a new version in 1977, and later in 1992, when a loose-leaf
approach was adopted, with periodical updates occurring in 1994, 1995, 1997, 2000, 2003, 2005,
2008,2010 and 2014.
7 "I believe that [the U.S. representatives] usually start out with a model which the representatives on
the part of the United States would prefer, and then negotiate from this. These ideas are largely drawn
from the OECD draft, although not entirely." Statement of Laurence N. Woodworth, Chief of Staff,
Joint Committee on InternaI Revenue Taxation. Tax Convention With Thailand: Hearings Before
the Subcomm. of the Senate Comm. on Foreign Relations, 89th Cong., 1st Sess.8 (1965), at 69.
8 The first reference to the OECD Model in a U.S. court decision came in United States v. Burbank &
Co" Ltd., 525 F.2d 9 (2d Ciro 1975).
9 U.S. Treasury, Treasury Department's Model Income Tax Treaty, U.S. Treas. Press Release, May 18, 1976.
10 U.S. Treasury, Treasury Department's Model Income Tax Treaty ofMay 17, 1977. According to the
Assistant Secretary for Tax Policy, Donald C. Lubick, "following the 1977 publication of the revised
122
Selected Camments an the New 2016 U.S. Madel Incame Tax Canventian
For the sake of facilitating negotiations, the United States adopted a pol-
icy of bringing its model as dose as possible to the OECn This approach
was justified on the ground that the OECD Model represented an acceptable
theoretical framework for treaty negotiations, and was perceived as "the best
chance of achieving the maximum degree of international tax harmonization,
the reduction of tax-based barriers to the free movement of goods, persons, and
capital across borders, with appropriate protections against international tax
evasion."ll Differences in language between the US. Model and US. domestic
law were recognized as a problem, but a tolerable one.
Notwithstanding the general US. approach, there were significant differ-
ences between the OECD and US. Models. Some were merely matters of styIe
(aIthough an effort was made to minimize differences without perceived sub-
stance), but others were important deviations to account for particular US.
policy concerns. High on the list of important differences was the saving
dausep the relief from double taxation for non-resident US. citizens,B the
tie-breaker mIe for corporate residence based on place of incorporation,14 spe-
cific mIes ascribing residence to tmsts and partnerships, and the reciprocal zero
rate of tax on interest.IS Also noteworthy was a provision limiting benefits for
certain holding companies based on a two-part "special measures" and "foreign
ownership" testo
OECD Model Convention, the Treasury revised its mode! to conform it to the OECD Model, where
possible, and the revised [U.S.] model was published on May of 1977." (Hearing Before the Senate
Foreign Relations Committee on International Tax Treaties, 96th Cong., 1st Sess. (1979), p. 103)
11 H. David Rosenbloom's statement in Hearing before the Subcommittee on Oversight of the
Committee on Ways and Means on Income Tax Treaties, House of Representatives,96 th Con., 2nd
Sess., April 29, 1980, p. 77.
12 The principIe that treaties should not generally affect the taxation of U.S. persons was embodied in
a clause providing that, subject to specified exceptions, a U.S. treaty would have no impact on the
taxation imposed by the United States on U.S. persons.
13 The United States imposes worldwide taxation on a citizenship basis in addition to the typical
residence-based taxation. Hence, it was deemed appropriate to include provisions aiming at relieving
double taxation in reIation to non-resident U.S. citizens.
14 This reflected the statutory ruIe under which the U.S. bases corporate residence or pIace of
incorporation.
15 For a comprehensive anaIysis of the re!evant deviations, pIease refer to, H. David Rosenbloom,
StanIey Langbein, United States Tax Treaty Policy: An Overview, 19 Colum. J. Transnat'1 L. 359
1981, p. 383 et seq.; Harry A. Shannon, III, Comparison of the OECD and U.S. Model Treaties for the
Avoidance ofDouble Taxation, 12 Int'1 TaxJ. 265 1986, p. 265 et seq.
123
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
By the 1980s, the United States had expanded its treaty pragram, with more
than thirty treaties in place. The already well-established US. treaty policy
rested on three fundamental pillars, ali related in some way to privíleging resi-
dence-based taxation:
Although the United States accommodated to the views of the internatíon-
aI community to some extent, for the sake of achieving a network of treatíes,
US. polícy stood out fram the rest in three fundamental respects .. " Fírst,
the United States attempted to secure reductíons in taxation at source to an
even greater extent than other developed countries. Second, the United States
regarded each treaty as a separate contract, and therefore was not especialiy
concerned when the terms arrived at in one negotíatíon differed substantíally
fram the next. Fínally, the United States was generally unwílling to use tax
treatíes to grant substantíve tax benefits to US. persons.16
This orientation was not exempt from critiques and there were voíces ques-
tíoning whether another appraach should be found in regard to source-based
taxatíon. There were suggestíons even then that the United States should
come to terms with the fact that it is itself a source country of importance, with
a signifícant inbound tax baseY
In 1981, theTreasury Department released for publíc comment a new Model
draft.18 Although most of the changes in this draft were technícal imprave-
ments over the 1977 US. Model, one innovatíon evidenced what would be-
come a major feature of US. treaty policy -the ever intensifying US. effort to
curb the abilíty of third-country residents to "borrow" US. income tax treatíes
thraugh treaty shopping structures.
The 1981 US. Model intraduced a stringent clause intended to prevent res-
idents of third countries fram inapprapriately obtaining treaty benefits. This
clause, titled "Limitation on Benefits" ("LOB"),t9 represented the most prami-
16 H. David Rosenbloom, Toward a New Tax Treaty Policy for a New Decade, 9 Am. J. Tax Pol'y 77
1991, at 77.
17 H. David Rosenbloom, Toward a New Tax Treaty Policy for a New Decade, 9 Am. J. Tax Pol'y 77
1991, at 83.
18 1981 U.S. Draft Model Income Tax Treaty.
19 A discussion draft of a modified LOB article was released by the Treasury Department later in 1981,
annexed to an announcement of a public meeting on the 1981 Draft US. Model Income Tax Treaty.
124
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
nent treaty provision of its kind, and its development put the United States at
the forefrant of worldwide "treaty shopping" discussions.
The importance of the LOB provision can be inferred from the contempo-
raneous statement by the Assistant Secretary of the Treasury for Tax Policy in
a hearing before the Committee on Foreign Relations of the Senate on Septem-
ber 24, 1981: 20
US. tax treaties also include anti-abuse provisions designed to prevent res-
idents of third countries fram channeling investments into the United States
through the treaty country, thereby deriving treaty benefits to which they are
not justifiably entitled. These provisions act to deny treaty benefits (i.e., exemp-
tion ar reduction of source basis tax in the United States) in such circumstances
It is established US. tax treaty policy to include such anti-abuse provisions in
tax treaties. The present Model and the draft proposed Model reflect experi-
ence gained in negotiating from the 1977 Model. The proposed provision is
tighter than that in 1977 Modelp.
I wish the Committee to understand that this Administration views a tax
treaty, in essence, as a contract between two countries designed to benefit di-
rectly the residents of those two countries, and not indirectly residents of third
countries. Anti-abuse pravisions, therefare, will be employed whenever nec-
essary, and in the form appropriate to the circumstances, to assure that US.
treaties extent US. tax benefits consistent with this overàl1 policy.
The strang residence orientation of US. treaty policy led to a negotiating
stance whereby each treaty would represent the closest approximation the Trea-
sury Department could obtain to its stated goals. This approach implied that
US. treaties would be substantially different fram each other, and that it would
be paramount for the US. treaty program to protect the integrity of each of
them. Although other tools may exist in the US. negotiating arsenal,21 it was
20 Tax treaties: Hearing Before the Committee on Foreign Relations, United States Senate, 97 th Cong.,
1" Sess. (1981), at 9.
21 As we already have the opportunity to analyze: "the willingness of countries to reduce taxation at
source is influenced by many factors, and the United States, with its well developed treaty negotiation
process, has several means to encourage countries in that direction. Moreover, it lies within the
tax policy options of State A to mitigate potential loss of revenue, for instance through adoption
of Subpart F-type, anti-conduit, and other anti-abuse rules. Finally, the competitive and complex
environment in which multinational companies operate can make the strict and traditional LOB
standards toa difficult to meet, and adoption of a more sensitive rule, such as the Derivative Benefits
Clause, demonstrates a policy of tolerating optimized structures when there is in fact no abusive treaty
125
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
generally understood that defending the integrity of each treaty was essential
for the United States to advance its objectives in subsequent negotiations. 22
The development of anti-abusive provisions was necessary to the overall suc-
cess of the treaty programo
However, "on the usual US. principIe that anything worth doing is worth
overdoing, recent formulations of these provisions have taken the limitation on
benefits article to new heights, or depths, of detail and complication."23 From a
relatively simple beginning, in a single-paragraph provision, the LOB article has
grown to numerous paragraphs and subparagraphs, quite often occupying more
pages than any other treaty provisiono
The 1981 US. Model was withdrawn by the Treasury Department on JuIy
17, 1992, as part of a project to review the documento Revision was necessary
in view of important changes in US. statutory tax rules, as well as changes in
treaty policy. The Treasury Department stated its intention to examine specific
policy issues, including treaty shopping concerns. 24
Although it was not specifically articulated at the time, the OECD Model
was subject to increasingIy frequent revisions,25 and since the US. plan was
generally to adhere to that Model, there was also a need to conform the US.
Model to the OECD.
On September 20, 1996, the Treasury Department released a Iong awaited
new Model accompanied, for the first time, by a Model Technical Explana-
shopping." Flavia Cavalcanti Pepe and H. David Rosenbloom, Derivative Benefits and Eq,uivalent
Beneficiaries - What Are We Talking About? Part l, lnternational Tax Report, October 2015.
22 "As a policy matter, tax treaties are intended to provide benefits to residents of the United States and
residents of the particular treaty partner on a reciprocal basis. The reductions in source country taxes
in a particular treaty mean that U.S. persons pay less tax to the other country on income from their
investments there and residents of that country pay less U.S. tax on income from their investments
in the United States. Those reductions and benefits are not intended to flow to residents of a third
country.... Preventing this exploitation [by third countries] ofU.S. tax treaties is critical to ensuring
that the third country will negotiate with the United States on a reciprocal basis, so that U.S. persons
can receive the benefits of reductions in source-country tax on their investments in that country."
U.S. Dep't of the Treasury, Report to the Congress on Earnings Stripping, Transfer Pricing and U.S.
lncome Tax Treaties 73 (2007).
23 H David Rosenbloom, Toward a New Tax treaty Policy for a New Decade, 9 Am. J. Tax Pol'y 77
1991, at 92.
24 Treasury Department News Release NB-1900, July 17,1992
25 See footnote 3, above.
126
SeIected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
tion. 26 The 1996 U.S. Model introduced several modifications when compared
to the prior version. For exampIe, it· clarified ruIes affecting partnerships and
other fiscally transparent entities, eliminated certain procedural barriers to
competent authority relief, and included new provisions regarding pensions.
The LOB article was completely rewritten to reflect existing U.S. treaty prac-
tice. This article, in conjunction with the residence article, established more
rigorous "gateway" ruIes for obtaining treaty benefits. AIso with the purpose
of refining tools to prevent abusive arrangements, the exchange of information
provision was amended, allowing competent authorities to obtain and provide
bank information regardless of domestic laws that might impede access.
Ten more years passed. The United States expanded its tax treaty network
to more than fifty treaties, the OECD Model was reviewed four more times, and
major changes in the economic environment occurred. U.S. tax treaties were
drifting away from the provisions of the 1996 U.S. Model, and a new version
was required to incorporate the developmentsY The Treasury Department
released a new version of the Model on November 15, 2006.
In general, changes implemented by the 2006 U.S. Model were less drastic
than might have been expected. 28 Nonetheless, the aim of protecting the treaty
program with strong anti-abusive provisions remained present. The 2006 U.S.
Model included amendments to the LOB provisions intended to make it even
more difficult for third country residents to benefit inappropriately from bilat-
eral U.S. treaties. A new provision to deal with fiscally transparent entities was
added. The tie-breaker ruIe to determine company residence was amended to
circumvent certain arrangements involving the use of dual resident companies.
Though maintaining the general corporate tie-breaker rule based on pIace of
incorporation, the 2006 U.S. Model provided that alI other cases involving dual
resident companies should be dealt with through common agreement between
the competent authorities, and without such agreement treaty benefits would
be completely foreclosed.
26 Although the technical explanation is a unilateral document, it is widely seen as having some
significance in the interpretation ofU.S. treaties by U.S. courts.
27 Treaties: Hearing Before the Committee on Foreign Relations, United States Senate, 110th Cong., 1"
Sess. 4.F 76/2:S.HRG.110-305. p. 9.
28 Reuven S. Avi-Yonah, Martin B. Tittle, Bulletin for International Taxation, IBFD, June (2007). p. 233.
127
Flavia Cavalcanti Fepe
H. David Rosenbloom
There were at least two important evolutions in U.S. treaty policy that were
being discussed and implemented in actual negotiations but that were not re-
flected in the 2006 U.S. Model. One of these referred to the treatment of divi-
dends,29 and the second to mechanisms relating to dispute resolution. 3o
The following decade was marked by important debates and developments
in the international tax arena. The United States became party to more
than sixty income tax treaties in force, signed a handful more (still awaiting
Senate approval at this writing), and was actively engaged in negotiating new
treaties, revisions, and protocols. The OECD published three more revisions
to its Model and, more importantly, in response to the 2008 crisis, launched
an ambitious program in 2013 to deal with base erosion and profit shifting -
the "BEPS project."
This was the context in which the Treasury Department, on May 20, 2015,
released for public comment five proposed changes to the 2006 U.S. Model
(the "2015 Draft"). It was asserted that revisions to the U.S. Model were in-
tended "to ensure that the United States is able to maintain the balance of
benefits negotiated under its treaty network as the tax laws of our treaty part-
ners change over time, and to deny treaty benefits to companies that change
their tax residence in an inversion transaction." Deputy Assistant Secretary for
International Tax Affairs Robert Stack further contended that the draft pro-
visions reflected "the fact that the tax regimes of our treaty partners are more
likely to change over time than they have in the past, and that they sometimes
29 In this sense: "Until2003, no U.S. income tax treaty provided for a complete exemption from dividend
withholding tax and the 2006U.S. model treaty and the 2005 Model Convention on Income and
Capital of the [OECD] do not provide an exemption. By contrast, ... recent U.S. income tax treaties
and protocols with Australia, Japan, Mexico, the Netherlands, Sweden and the United Kingdom
include a zero-rate provision." Treaties: Hearing Before the Committee on Foreign Relations, United
States Senate, 1l0,h Cong., 1" Sess., July 17, 2007. 4.F 76/2:S.HRG.llO-305. p. 20.
30 In this sense: "A high priority for improving our overall treaty network is continued focus on
prevention of 'treaty shopping'. The U.S. commitment to including comprehensive limitation on
benefits provisions is one of the keys to improving our overall treaty network. Tax treaties cannot
facilitate cross-border investment and provide a more stable investment environment unless the
agreement is effectively implemented by tax administrations of the two countries as the number
and complexity of cross-border transactions increases, so does the number and complexity of cross-
border tax disputes. Accordingly, we have considered ways to equip the U.S. competent authority
with additional tools to resolve disputes promptly, including the possible use of arbitration in the
competent authority process." Treaties: hearing before the Committee on Foreign Relations, United
States Senate, 11O'h Cong., 1" Sess., July 17, 2007. 4.F 76!2:S.HRG.llO-305. p. 9.
128
SeZected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
change in ways that encourage base erosion and profit shifting ar BEPS, by
multinational firms. Treaties exist to eliminate double taxation, not to create
opportunities for BEPS, and today's updates fully take account of the new in-
ternational tax environment."31
Less than a year later, on February 17, 2016, the Treasury Department re-
leased the final version of the 2016 US. Model.
31 Press Release, U.S. Department af the Treasury, Treasury Releases Select Draft Provísíans for Next
U.S. Madel Incame Tax Treaty (May 20, 2015), http:// www.treasury.gav/press-center/press-releases/
Pages/ j110057.aspx.
32 Press Release, U.S. Department af the Treasury, Treasury Annaunces Release af 2016 O.S. Madel
Incame Tax Treaty, (February 17, 2016), https://www.treasury.gav/ press-center/press-releases/Pages/
j10356.aspx.
129
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
To facilitate the proposed analysis of the 2016 US. Model, the following
discussion is divided into two parts: the first addresses adjustments aimed at
preserving treaty integrity by circumscribing possibilities for treaty abuse; the
second addresses other relevant issues.
130
SeZected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
to such arrangements as one example of tax avoidance that should not result
from tax treaties. 33
Commentaries to Artic1e 1 of the OECD Model already contained language
to the effect that tax treaties are not intended to encourage tax avoidance ar
evasion (cf. paragraph 7). Considering, however, the limited reach of the Com-
mentaries for purposes of treaty interpretation, it was conc1uded in the BEPS
deliberations that said intention should be strengthened by an express reference
in the preamble of the treaty itself. The proposed change is, therefare, note-
worthy because the preamble of a treaty is an agreed part of its context, and
International Law dictates that a treaty must be interpreted in its context and
in light of its object and purposes. 34
The United States has always been a herald in the battle against tax
avoidance and tax evasion, and the new preamble to the 2016 U.S. Model
is consistent with this tradition. It is yet to be seen whether this change
will have the intended effect on the interpretation of new treaties when
analyzed by U.S. courts.
B. Transparent Entities
The 2016 U.S. Model modifies Artic1e 1(6), which addresses special issues
presented by fiscally transparent entities - that is, entities not subject to tax
at the entity level in one treaty partner or the other (such as partnerships and
certain estates and trusts).
Under the 2006 U.S. Model, an item of income, profit, or gain derived by
a fiscally transparent entity would be considered to be derived by a resident of
a Contracting State only to the extent that the relevant item was treated as
derived by a resident under the tax laws of such State.35 According to the tech-
nical improvement contained in the 2016 U.S. Model, reference is now made
33 OECD (2015), Preventing the Granting ofTreaty Benefits in Inappropriate Circumstances, Action 6-
2015 Final Report, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris, at 91.
34 Cf. Article 31(1) and 31(2) of the Vienna Convention on the Law ofTreaties.
35 For example, if interest arising in State S is paid to an entity that is treated as fiscally transparent
under the tax laws of State R, the interest will be considered as derived by a resident of State R to the
extent that its tax laws treat one ar more residents in State R as deriving the income.
131
Flavia Cavalcanti Fepe
H. David Rosenbloom
36 Committee of Experts on International Cooperation in Tax Matters. Ninth session, Geneva, October
2125, 2013. E/C.l8/2013/CRP.1. http://www.un.org/esa/ffd/tax/ninthsession/CRP1_HybridEntities.pdf
37 Committee of Experts on International Cooperation in Tax Matters. Tenth Session. Geneva, October
2731, 2014. E/C.18/2014/CRP.14. http://www. un.org/esa/ffd/tax/tenthsession/CRP14_HybridEntities.pdf
See also: Committee of Experts on International Cooperation in Tax Matters Report,
Eleventh Session, October 1923, 2015. http://www.un.org/esa/ffd/wp-content/uploads/2016/0l/
TaxCommitteeRpt_llsession_ AUV.pdf.
132
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
C. Remittance Basis
Specific rules to deal with persons that are unlikely to be susceptible to
double taxation are not new in U.S. treaty practice. In some older treaties,
for instance, a specific "subject to tax" provision was employed to refer to
residents subject to taxation only on a remittance basis. This was ineluded
in the artiele on "General Rules of T axation."38 Some other treaties 39 have
a similar provision in the LOB artiele, while others place it in the artiele
dealing with methods to avoid double taxation. 40 The 2001 treaty with the
United Kingdom has a "subject to tax" provision in Artiele 1. This may seem
most appropriate, in light of the broad application of Artiele 1, which deals
with the general scope of the convention.
The 2016 U.S. Model followed this latter approach in a new Artiele 1(7),
addressing residents of a Contracting State that are taxed only on a remit-
tance basis and not by reference to the full amount of income realized. Arti-
ele 1(7) limits applicability of the treaty to income that is subject to taxation
in the residence State.
This is in line with the proposal contained in the Commentaries to Artiele
1 of the OECD Model. The OECD explains that "under the domestic law
of some States, persons who qualify as residents but who do not have what
is considered to be a permanent link with the State (sometimes referred to
as domicile) are only taxed on income derived from sources outside the State
to the extent that this income is effectively repatriated, or remitted, thereto.
Such persons are not, therefore, subject to potential double taxation to the
extent that foreign income is not remitted to their State of residence and it may
be considered inappropriate to give them the benefit of the provisions of the
Convention on such income." OECD Commentaries suggest that Contracting
States that agree to restrict the application of a treaty to income that is effec-
tively taxed in the hands of residents may do so by adding a specific "subject to
tax" type of provisiono It is noted, however, that in some countries the applica-
38 See, for instance, Article 6(6) of the 1975 U.S.-Israel Treaty, Article 20(7) of the U.s.-Morocco
Treaty, Article 4(5) of the 1984 US.-Cyprus Treaty)
39 See, for instance, Article 18(6) of the 1996 US.- Thailand Treaty, and Article 22(7) of the 2008 US.-
Malta Treaty.
40 See Article 24(6) of the 1997 US.-Ireland Treaty.
133
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
D. Triangular Provision
Another issue not unfamiliar in US. treaty practice, and that is now reflect-
ed in the 2016 US. Model, involves triangular permanent establishment cases.
In general, existing provisions dealing with this matter in the US. treaty
network are found within the LOB article, and serve to limit treaty benefits
for items of income attributed to a permanent establishment located in a third
country when such items are subject to little or no tax in that jurisdiction or
in the residence country. Such provisions commonly provide for carve-outs for
items of income arising from the active conduct of a trade or business by the
permanent establishment. Some treaties apply the LOB "triangular provision"
only in relation to certain items of income (such as interest, royalties, and insur-
ance premiums),41 but others establish the limitation on a general basis.42
Following the 2015 Draft, the 2016 US. Model includes an updated and
more draconian "triangular provision" in Article 1(8). Under this provision,
treaty benefits that would be otherwise available to a resident of a Contacting
State are denied if either of the following situations occur:
41 See, for instance, Article 16(5) contained in the 2006 Protocol with Finland, Article 22(6) contained
in the 2006 Protocol with Denmark, and Article 21(6) of the 2009 Treaty with Belgium.
42 See, for instance, Article 28(5) contained in the 2006 Protocol with Germany, Article 21(5) of the
2007 Treaty with Iceland, and Article 30(5) contained in the 2009 Protocol with France.
134
SeZected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
Unlike existing treaty provisions, the 2016 US. Model does not provide for
an active trade or business exception. Nonetheless, the 2016 US. Model allows
135
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
the competent authority of the source country to grant treaty benefits even
when the limitation of Article 1(8) would be applicable, ifbenefits are justified
in light of the reasons why the resident did not satisfied the requirements of the
provision (for example, if losses reduced the effective tax rate). Furthermore,
the 2016 US. Model requires the competent authorities to consult each other
before either denying or granting a request for discretionary relief.
The 2016 US. Model incorporates the concept of "Special Tax Regime"
("STR"), a concept originally introduced in the 2015 Draft. In response to
strong critiques about the breadth of the proposal, however, this concept was
significant1y modified in the 2016 US. Model.
The definition of STR appears in Article 3(1)(1), among the general defini-
tions of various terms used in the Model. It operates in conjunction with revi-
sions to Articles 11, 12, and 21 to deny treaty benefits when a claimant person,
which benefits from an STR, derives interest, roya1ties, or guarantee fees from
connected persons.43 The focus of the STR provision is, therefore, items of mo-
bile income perceived as being easi1y shifted from one jurisdiction to another to
achieve lower tax burdens.
For a statute, regulation, or administrative practice to be characterized as
an STR, it must provide for preferentia1 tax treatment for interest, roya1ties, or
guarantee fees, as compared to the taxation applicab1e to income from the sa1e
of goods or the rendering of services. Such preferential treatment must be in
the form of either (i) a reduced tax rate or (ii) a permanent reduction in the tax
base.44 Additionally, in the case of a company not engaged in active business in
the residence country, an STR will be considered to exist if the country affords
43 The concept of connected person is pravided Article 3(1)(m), which establishes that two persons
shall be "connected persons" if one owns, directly or indirectly, at least 50 percent of the beneficiaI
interest in the other (or, in the case of a company, at least 50 percent of the aggregate vote and value
of the company's shares) or another person owns, directly or indirectly, at least 50 percent of the
beneficiaI interest (or, in the case of a company, at least 50 percent of the aggregate vote and value of
the company's shares) in each person. In any case, a person shall be connected to another if, based on
all the relevant facts and circumstances, one has contraI of the other or both are under the contraI of
the same person or persons.
44 This permanent deduction in the tax base will occur if the residence State allows either: (i) an
exclusion fram grass receipts; (ii) a deduction without regard to any corresponding payment or
136
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
a reduced tax rate or base for either "substantially all of the company's income"
or "substantial1y all of its foreign source income."
The 2016 US. Model provides for three safe harbors that preclude charac-
terization of an STR, notwithstanding the existence of a preferential tax rate or
a permanent reduction in the tax base. The first appears in Article 3(1)(m)(ii),
and excludes royalties derived in connection with research and development
activities taking place in the residence country. Hence, the common policy ad-
opted by many countries to incentivize companies to engage in local R&D will
not jeopardize the ability of these companies to enjoy treaty entitlement in re-
lation to royalties they receive with respect to intangible property they develop.
The second carve-out is established by Article 3(1)(1)(iii) and is more
general. It applies to any of the specified categories of income (interest,
royalties, or guarantee fees) if the resulting effective rate of taxation is not
less than (i) 15 percent, or (ii) 60 percent of the generally applicable rate in
the residence country.
The third safe harbor is in Article 3(1)(1)(iv) and refers to pension funds,
charitable, religious, scientific, artistic, cultural, or educational organizations,
and certain collective investment entities and REIT-like entities, which are
completely excluded from the STR provisions.
Finally, the 2016 US. Model requires, in Article 3(1)(1)(v), that the Con-
tracting States consult with each other before asserting ihat a statute or an
administrative practice is an STR. For that purpose, no STR characterization
is to be made by the invoking country prior to notification to the other country
through diplomatic channels, and issuance of a written public notification.
F. Definition of Resident
In redesigning the definition of the term "resident of a Contracting State,"
the 2016 US. Model modified Article 4(1) to expressly exclude persons liable to
tax on a fixed-fee, "forfait," or similar basis.
The intention to deny treaty entitlement to persons subject to such tax re-
gimes is not new. In fact, the Technical Explanation to the 1996 Treaty with
Switzerland already took the position that persons who elect to pay a "forfait"
obligation to make a payment; (iii) a deduction for dividends paid or accrued; ar (iv) taxation that is
inconsistent with the principIes of Article 7 (Business profits) or Article 9 (Associated Enterprises).
137
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
tax are not liable to tax within the meaning of Artide 4, and therefore do not
qualify as residents for treaty purposes.
Technical Explanations generally reflect the unilateral view of US. au-
thorities on the interpretation of treaty provisions. Arguably, inclusion of
the new language in Artide 4(1) can be considered a recognition of the lim-
ited effect that will be given to such interpretations when there is no express
wording in a treaty.
H. Permanent Establishment
T ax treaties generally provide that business profits of a foreign enterprise are
taxabIe in a source country only to the extent that the enterprise has a per-
manent establishment situated in that country to which the profits are attrib-
utabIe. Such approach "has a long history and reflects the international con-
sensus that, as a general ruIe, until an enterprise of one State has a permanent
establishment in another State, it should not properly be regarded as partici-
pating in the economic life of that other State to such an extent that the other
45 See, for instance, the 2001 Treaty with the United Kingdom, the 2007 Treaty with Iceland, and the
2009 Treaty with Belgium.
138
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Conventíon
State should have taxing rights on its profits."46 The definition of permanent
establishment is therefore decisive in determining whether a foreign enterprise
must pay income tax in another country. Action 7 of the BEPS project calls for
a review of that definition to prevent the use of certain common tax avoidance
strategies to circumvent existing thresholds for permanent establishment status.
The 2016 US. Model reflects one of the recommendations contained in
the final Report of BEPS Action 7, titled "Preventing the Artificial Avoidance
of Permanent Establishment Status."47 This recommendation involves con-
tract-splitting arrangements, typically used to avoid meeting the twelve-month
period necessary to qualify building sites or construction or installation projects
as permanent establishments.
Under Article 5(3) of the 2016 US. Model, for purposes determining wheth-
er the twelve-month test has been met, time spent in the conduct of the follow-
ing activities must be accounted for:
The 2016 US. Model has not adopted the other BEPS recommendations
regarding: (i) revised ruIes relating to dependent and independent agents,
intended to prevent the artificial avoidance of permanent establishment sta-
tus through commissionaire arrangements and similar strategies, and (ii) re-
vised ruIes intended to prevent avoidance of permanent establishment status
through specific exceptions relating to preparatory and auxiliary activities.
As explained by the Treasury Department in the preamble to the 2016 US.
Model, "it is important to ensure that the implications from any modifica-
tions to these treaty provisions are commonly understood and consistently
administered by treaty partners. Accordingly, the Treasury Department is
139
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
working with OECD and 020 member countries to create a common glob-
al understanding regarding prafit attribution that will address the concerns
raised by these BEPS permanent establishment recommendations. Further-
more, the Treasury Department is interested in deve10ping ways to mitigate
the compliance burdens on businesses and tax administrations that the new
permanent establishment ruIes could create."
48 For this purpose, shares held through fiscally transparent entities that are not resident of the source
State are considered to be directly owned.
140
Se/ected Comments on the New 2016 U.S. Mode/ Income Tax Convention
]. Expatriated Entities
The 2016 US. Model contains new provisions aimed at corporate inver-
sions. These provisions reduce the positive tax resuIt that may arise from such
arrangements by denying treaty benefits in relation to US. taxes on dividends,
interest, royaIties, and certain guarantee fees paid by "expatriated entities."
The approach adopted in the 2016 US. Model is not as harsh as the pro-
posaI in the 2015 Draft,49 as it applies only when the beneficiaI owner of the
income in question is a connected person50 with respect to the expatriated en-
tity. Thus, Artic1e 10(5), Artic1e 11 (2)(d) , Artic1e 12(2) (b), and Artic1e 21(2)
(b) provide, respectively, that dividends, interest, royaIties, and guarantee fees
paid by an expatriated entity and beneficially owned by a company that is a
resident of the other country, and that is a connected person with respect to
the pavor, will be taxed in accordance with the domestic laws of the United
States (without treaty benefits) for a period of ten years, counted from the date
of acquisition of the US. entity.
The Preamble to the 2016 U.S. Model indicates that the term "expatriated
entity" should be defined by reference to the domestic Iaw of the United States.
lndeed, the 2016 US. Model establishes that it shall be given effect in accor-
dance with the terms of section 7874 of the InternaI Revenue Code as of the
moment a treaty is signed.
The 2016 US. Model provides, however, for one exception to the current
statutory definition, by exc1uding from expatriated entity status any U.S. entity
that was not a connected person with respect to the inverted entity before the
acquisition, but only if that US. entity does not join a consolidated US. tax
return with the inverted entity or another entity that was a connected person
with respect to it. Under this exception, any US. subsidiary owned by a foreign
acquirer that, prior to the inversion, had never been a connected person to the
US. entity being acquired may avoid being treated as an expatriated entity if it
complies with the prohibition on joining in a consolidated returno
49 The 2015 Draft extended the denial of treaty benefits more broadly to payments made by an
expatriated entity to any persons (not only connected persons) and included all items qualifying as
"other income" (not only guarantee fees).
50 See footnote 42, above.
141
Flavia Cavalcanti Fepe
H. David Rosenbloom
142
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
The 2016 U.S. Model altered Article 22(3), so that it now requires
a "factual connection" between the item of income for wruch
treaty benefits are sought and an active trade or business in the
country of residence. The relevant item of income must "ema-
nate from," or be "incidental to," the active conduct of a trade or
business (instead ofbeing "derived in connection with," as in the
2006 U.S. Model).
It is expected that the Technical Explanation will provide guid-
ance on the criteria to be adopted to determine whether an
item of income can be considered to "emanate from" the active
conduct of a trade or business - in particular, in relation to in-
Active Trade or tra-group payments of dividends and interest.l
Business Test A second important innovation in Article 22(3)(b) refers to the
lísting of certain activities that are expressly excluded from the
concept of an "active trade or business." The excluded activities
are: (i) operating as a holding companYi (ii) providing overall
supervision or administration of a group of companies; (iii) pro-
viding group financing (including cash pooling)j or (iv) making
or managing investments in general. 2
In contrast with the 2015 Draft, which established limitations on
the ability of connected companies to aggregate their activities
for purposes af satisfying the active trade or business test, the
2016 U.S. Model allows attribution of activities conducted by per-
sons connected to the claimant (cf. Article 22(3)(c)).3
Clearly, these new provisions embody some restrictive new concepts. For
example, Article 22(7)(f) of the 2016 U.S. Model grants "qualifying intermedi-
ate owner" status only to a person that is a resident of either (i) a country that
has a comprehensive income tax convention with the United States that in-
cludes certain anti-avoidance provisions; or (ii) the country of residence of the
company claiming benefits. Unlike the 2015 Draft, there is no rate comparison
test for intermediate owners.
Another important concept introduced by the 2016 U.S. Model is that of
"tested group," defined in Article 22(7)(g). The base erosion prong in several
LOB tests now requires that the limitation on deductible payments must be
calculated not only in relation to the claimant company's gross income but also
in relation to the gross income of the tested group.
The STR concept becomes relevant in the context of the base erosion test
as well, as payments to connected persons that are subject to a special tax re-
gime must be considered for purpose of applying the 50 percent threshold.
143
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
Besides the revisions to the core LOB tests, the 2016 U.S. Model includes
two important liberalizing tests, both of which are analogous to tests found in
some existing U.S. treaties, but with some important adjustments.
The first of these new tests is the Derivative Benefits clause in Article 22(4).
It focuses on companies that fail to meet the core LOB tests, but that do com-
ply with certain ownership and base erosion requirements. In very broad and
simplified terms, to satisfy the Derivative Benefits clause a claimant company
must be substantial1y owned by a limited number of "equivalent beneficiaries"
- persons whose status is effectively "borrowed" by the claimant provided its
tax base is not eroded by deductible payments to non-qualifying parties.
We recently had the opportunity to analyze this subject in detail: 51 For
present purposes the equivalent beneficiary concept can be boiled down to
three sub-mIes.
First, a person will be an equivalent beneficiary if the person is:
51 Cf. Flavia Cavalcanti Pepe , H. David Rosenbloom, Derivative Benefits and Eqliivalent Beneficiaries - What
Are We Talking Abolit? Part I, lnt'l Tax Rep., Oct. 2015. Flavia Cavalcanti Pepe , H. David Rosenbloom,
Derivative Benefits and Eqliivalent Beneficiaries - What Are We Talking Abolit? Part lI, lnt'l Tax Rep.,
Nov.2015. Flavia Cavalcanti Pepe, H. David Rosenbloom, Derivative Benefits and Eqliivalent Beneficiaries:
Reflecting on the 2016 U.S. Model lncome Tax Convention. lnt'l Tax Rep., March 2016.
144
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
Even when these conditions are satisfied, if the income in question is de-
rived through an entity that the country of residence of the company c1aiming
benefits views as transparent but the country of the putative equivaIent bene-
ficiary does not, equivalent beneficiary status is denied (cf. Artic1e 22(7) (e) (i)).
For purposes of quaIifying a person as an equivalent beneficiary under the
second sub-mIe, the person must be situated in the same country as the com-
pany c1aiming benefits (cf. Artic1e 22 (7)(e) (ii)). In this case, equivalent bene-
ficiary status will be recognized if the person is entitled to all the benefits of
the treaty by reason of being (i) an individual; (ii) a government entity; (iii) a
public1y traded entitYi (iv) a pension fund or other tax exempt organization,
or (v) in the case of interest or dividends paid by a member of a multinational
corporate group, entitled to benefits under the headquarters mIe and meeting
the rate comparison test described above.
The third type of equivalent beneficiary sub-mIe refers to qualifying
persons resident in the source country, as long as such qualifying persons
do not own in the aggregate more than 25 percent of the claimant company
(cf. Article 22(7)(e)(iii)).52
Besides the Derivative Benefits clause, the 2016 US. Model incorporates
another LOB test applicable only to certain items of income. This test ap-
pears in Artic1e 22(5), and provides for entitlement to certain treaty benefits for
companies that serve as headquarters for multinational corporate groups. An
important feature of this new provisions, which is different from those found in
US. treaty practice, is that it requires the company to exercise primary man-
agement and control functions (and not only supervision and administration)
in its residence country with respect to itself and geographically diverse subsid-
iaries. Another distinguishing feature is a base erosion test for such a company.
As explained in the preamble to the 2016 US. Model, the Treasury De-
partment concluded that the exercise by a headquarters company of the stra-
52 "The maximum 25 percent ownership requirement may reflect the Treasury's ambivalence about
allowing US. persons to take advantage ofUS. treaties with other countries insofar as US. taxation
at source is concerned. On the other hand, given that the core ownershiplbase erosion test of the
LOB article allows up to 50 percent ownership by source country residents, and that the Derivative
Benefits provision depends on ownershiplbase erosion concepts, a rule allowing up to 50 percent
ownership in the country of source for equivalent beneficiary status would se em more coherent than
the 25 percent requirement adopted in the 2016 US. Model." Flavia Cavalcanti Pepe , H. David
Rosenbloom, Derivative Benefits and Equivalent Beneficiaries: Reflecting on the 2016 US. Model
Income Tax Convention. Int'1 Tax Rep., March 2016.
145
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
L. Exchange of Information
The language of Artícle 26(1) of the 2016 U.S. model was adapted to reflect
the OECD standard of an exchange of information that is "foreseeabIy" rele-
vant for purposes of carrying out the provisions of the treaty or of the domestic
tax laws of the treaty partners. Besides this adjustment of terminology, Artícle
26(2) was modified to allow that, subject to written consent, the competent au-
thorities make exchanged information available for purposes permitted under
the provisions of a mutuallegal assistance treaty in force between the countries.
ii. changes in the domestic law of a country that resuIt in the creation of
a regime that exempts resident companies from taxation on substan-
tial1y all foreign source income (including interest and royalties).
In the event consultation and efforts to amend the treaty fail, a treaty part-
ner may issue a written notification through diplomatic channels to the effect
146
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Conventíon
53 OECD, Report on the Attribution ofProfits to Permanent Establishments, July 17, 2008. http://www.
oecd.org/tax/transfer -pricing/41031455 .pdf.
54 OECD. 2010 Report on the Attribution of Profits to Permanent Establishments, July 22, 2010. http://
www.oecd.org/ctp/transfer-pricing/45689524.pdf.
147
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
its inception,55 and even included language compatible with such approach in
the 2006 US. Model. The language in the 2006 US. Model did not, however,
completely reflect the wording in the OECD Model.
The 2016 US. Model brings Artiele 7(2) eloser to the OECD wording, thus
addíng an important measure of technical consistency. Nevertheless, one rel-
evant deviation remains. The OECD Model expressly applies the AOA both
for purposes of determining business profits under Article 7 and for purpos-
es of granting double tax relief under Artiele 23, while the 2016 US. Model
maintains only the former reference. This deviation is significant because it
evidences the general intention of the United States to grant double tax relief
to US. persons based on its domestic rules regarding the foreign tax credit,
regardless of the AOA. This intention is elearly expressed in the proposed
explanation to the new treaty entered into with Poland in 2013 (still awaiting
Senate approval) :56
The proposed treaty Artiele 7 principIes appIy only for purposes of attrib-
uting profits to a permanent establishment and do not affect the application of
other artieles. However, the OECD ModeI treaty applies the Artiele 7 princi-
pIes to attributing profits to a permanent establishment and for purposes of Ar-
tiele 23 (Elimination of Double Taxation). The OECD Model treaty requires
that where an enterprise of one treaty country carries on business through a
permanent establishment located in the other treaty country, the first country
must either exempt the profits that are attributable to the permanent establish-
ment (exemption system) or gíve a credit for the tax levied by the other country
on the profits (foreign tax credit system).
The significance of this difference relates to the computation of the foreign
tax credit limitation. The United States does not appIy the principies of Arti-
55 The Treasury Department issued an statement on June 7, 2007 explaining that "while we fully support
the Authorized OECD Approach (AOA) for attributing profits to a PE ("PE"), it will not apply to
most existing U.S. tax treaties. We generally provide in Article 7(3) for a 'reasonable allocation" of
certain expenses, which is not consistent with the arm's length approach of the AOA. We have,
however, specifically incorporated the AOA in a few (e.g. U.K. and Japan) recent treaties, and it is
now in the 2006 U.S. Model Income Tax Convention. The draft Revised Commentary on Article
7 of the OECD Model (released on AprillO, 2007), incorporating only so much of the AOA as does
not conflict with the existing Commentary, will not apply to any U.S. treaties. We cannot apply the
AOA to most existing treaties. Where we do apply the AOA, it will apply in its entirety." (Treasury
Releases Statement on PE Attribution ofProfits, 2007 - Treasury Notice (TNT) at 11253).
56 Cf. http://www.state.gov/s/l/treaty/pending.
148
SeZected Comments on the New 2016 U.S. ModeZ Income Tax Convention
ele 7 to the computation of the foreign tax credit limitation: rather, it applies
the principIes set forth by the Code. A taxpayer seeking to obtain additional
foreign tax credit limitation to prevent double taxation must do so through the
mutuaI agreement procedures. The taxpayer would have to prove that double
taxation of the permanent establishment profits which resulted from the con-
flicting domestic law has been left unrelieved after appIying mechanisms under
domestic Iaw. The Committee may ask the Treasury Department about this
difference as well as about the standard to be applied in determining whether a
taxpayer meets the level of proof to show that double taxation was not relieved
under the mechanisms of locallaw. 57
Consistent with the alternative proposal in the Commentaries to the OECD
Model,58 and similar to recent1y negotiated U.S. treaties (such as the one with
Poland), the 2016 U.S. Model has amended Artiele 7(3) to inelude a provision
aimed at reducing possible double taxation in situations where one country ad-
justs profits attributable to a permanent establishment. When such an adjust-
ment occurs, Artiele 7(3) provides that the other country must proceed with a
corresponding adjustment to the taxable income of the permanent establish-
ment to the extent it agrees with the adjustment made by the first country. If
no agreement is reached, the countries are to solve the issue through Mutual
Agreement Procedure.
57 Explanation of Proposed Income Tax treaty between the United States and Poland. ]une 17, 2014.
]CX-68-14 at 84.
58 See paragraph 68 of the Commentaries to Article 7 of the OECD Model.
59 This can be considered not to be truth any longer in relation to dual resident companies under the
2016U.S. Model, considering the amendments to the Article 4(4) 'discusses above.
60 They generally do deal with assertions of source jurisdiction by both countries because, in the wards
of Article 1(1), the "convention shall apply only to persons who are residents of one ar both of the
Contracting States, except as otherwise provided in the Convention."
149
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
the source of specific items of income. For exampIe, Article 10(1) defines the
source country by reference to the residence of the company paying dividends.
The 2016 U.S. Model enIarges the list of treaty source ruIes by introduc-
ing provisions dealing with interest and royalties. In relation to the former,
paragraph 6 of Article 11 provides that interest shall be generally deemed to
arise in the country of which the pavor is a resident, or where the permanent
establishment bearing the burden is located. Article 12(6) mirrors the source
ruIes in the Internai Revenue Code (sections 861(a)(4) and 862(a)(4)), by es-
tablishing that royalties paid in consideration for the use, or the right to use,
property, information, or experience, are deemed to arise in the place of use of
the intangibIe property.
Since countries may adopt different source ruIes within their domestic Ieg-
isIation (especially in regard to royaIties), the new provisions of the 2016 U.S.
Model may present difficulties in negotiations. Furthermore, the new source
rules may Iead to increased use of Article 21, referring to other income,61 since
royaIties not arising in the country of use may not fall within Article 12 at aU,
and there could be secondary implications that would need to be addressed in
particular treaty negotiations. 62
C. Elective Dispositions
A key element for attributing unlimited tax liability to individuaIs in most
jurisdictions is the connecting factor of residence. Given the mobility of the
modem worId, with an increasing number of persons transferring residence
from their birth place to other countries several times over their lives, there
are important issues regarding allocation of taxing powers between emigration
countries and immigration countries.
With the purpose of protecting their tax claims, a growing number of coun-
tries have adopted some kind of "exit tax" in domestic legisIation. Typically
under such laws, when a person ceases to be a resident, the person is deemed to
61 Items of income taxed by the other Contracting State that are not considered to be sourced under
Articles 11 and 12, are likely to fali within the catch-all provision of Article 21.
62 For instance, the applicability of limited source taxation in relation to certain contingent interest,
or the applicability of STR rules in certain circumstances, ar even the applicability of the rate
comparison test for purposes of the Derivative Benefit Clause.
150
Selected Comments on the New 2016 U.S. Model Income Tax Convention
dispose of all property at fair market value and the resulting gain is subject to
taxation. Several countries do "treat the act of emigration as a taxable event
resulting in the deemed alienation of all (or some) items of property. Upon
emigration all (or part of) accrued income is deemed to be realized for tax
purposes and accrued but not yet realized capital gains on all (or some) items of
appreciated property are to be valued an inc1uded in the taxable basis. For that
purpose, exit taxes are levied upon emigration. They affect the latent income
tax liability that exists at the time of emigration." 63
US. internallaw contains such a provision calling for a mark-to-market exit
tax for individuaIs who expatriate on or after June 17, 2008. In general, such
individuaIs are treated under section 877A(a) as having sold all of their proper-
ty on the day before the expatriation date for its fair market value.
Artic1e 13(7) of the 2016 US. Model allows an individual to elect, for pur-
poses of taxation, to be treated as having alienated and reacquired the property
at the same fair market value. The idea is to allow the individual to match the
taxation resulting from a deemed sale to a taxable event that may not be real-
ized in the other country.
This provision will most frequent1y apply to ~.S. citizens resident in a for-
eign country when such persons abandon resident ,status and wish to have their
gain taxed contemporaneously in the United States. Artic1e 13(7) is an ex-
ception to the saving clause in Article 1(5), so th,ere is no impediment to this
application. On the other hand there would seem to be no technical probIem
in seeking taxation in a source country having a treaty with the United States
at a time when a US. person Ieaves the United States and is subject to US. tax
under section 877A.
D. Arbitration
63 Luc de Broe, The Tax treatment of Transfer of residence by IndividuaIs. General Report, Cahier de
Droit Fiscal International87b (2002) at 29.
151
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
64 E.g. see O.S. Turner, Canada-U.S. Competent Authority MOU: First Steps to Mandatory Arbitration?,
39 Tax Notes Int'11223, note 54 (Sept. 27, 2005) ("the U.S. competent authority has acknowledged
that tax dispute arbitration would be a 'hard sell' within government, including Congress, whose
members have been concerned about giving up sovereignty to arbitrators."); M. Durst & R.E.
Culbertson, Arbitration To Resolve Difficult Double Taxation Disputes: The U.S. and Its Trading
Partners Should Seize the Moment, 9 Tax Mgmt. Transfer Pricing Rep. 7, pp. 211213.
65 Hugh Ault, Jacques Sasseville, 2008 OECD Model: The New Arbitration Provisiono Bulletin for
International Taxation, May/June 2009 at 209.
152
SeZected Comments on the New 2016 U.S. ModeZ Income Tax Convention
the strong support expressed by the business community.66 Since 2007, U.S.
treaty practice is firmIy committed to adopting mandatory arbitration within
the existing MAP system. 67
Consistent with this policy, several U.S. treaties and protocols negotiated in
the past twelve years 68 have incorporated a mandatory arbitration clause in the
Mutual Agreement Procedure of Article 25. The 2016 U.S. Model also con-
taihs such a clause. Under Article 25(6), (7), (8), (9) and (10), certain disputes
between tax authorities are now subject to a binding arbitration processo
This innovation is in line with the recommendation in the final Report on
Action 14 of the BEPS project, titled "Making Dispute Resolution Mechanisms
More Effective,"69 but the U.S. initiative is even more precise.7° The 2016 U.S.
Model provisions contain specific instructions and detailed ruIes for adoption
and implementation of mandatory arbitration procedures.
The arbitration standard developed by the United States grants limited
room for the exercise of decision-making power by the arbitrators, as it follows
the so-called "baseball arbitration" modeFl (also referred to as "high-low ar-
66 Testimony ofTreasury International Tax Counsel John Harrington Before the Senate Committee on
Foreign Relations on Pending Income Tax Agreements (July 17, 2007).
67 Refer to the interview of Benedetta Kissel, Deputy International Tax Counsel for Strategic Programs,
Available at: http://www.internationaltaxreview.com/Article/2608051/US-to-arbitrate-tax-disputes.html.
68 There are four U.S. income tax treaties in force that have mandatory arbitration provisions. These
are the treaties with Belgium, Germany, France and Canada. The first of these provisions - in
protocols amending the treaties with Belgium and Germany - were negotiated in 2006 and became
effective in December 2007. Protocols with France and Canada followed shortly thereafter and
became effective in 2008 and 2009, respectively.
69 OECD (2015), Making Dispute Resolution Mechanisms More Effective, Action 14 - 2015 Final
Report, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris.
70 In its final report on Action 14, the OECD did not manage to reach full agreement on including
mandatory and binding dispute resolution as a standard. According to the report, countries will
commit to develop a minimum standard in the context of treaty-related tax disputes and will ensure
its effective implementation. Thus far around 20 countries have committed to set up a binding
mechanism in their bilateral treaties.
71 This model "was developed as a result of salary disputes involving U.S. Major League Baseball
("MLB") players. In 1954, the players founded a union, the Major League Baseball Players Association
("MLBPA"), in order to fight back against the owners of the teams, who exerted almost complete
control over the movement and salaries of players by means of so-called "reserve clauses" inserted
into their employment contracts. Salary arbitration was adopted in a 1973 agreement between the
owners and the MLBPA, as a result of a proposal made by the owners in the hope of salvaging the
reserve system. It has remained largely unchanged since then. In the MLB salary arbitration format,
153
Flavia Cavalcanti Pepe
H. David Rosenbloom
bitration" or "final offer arbitration"). The main feature of this model is that
the authority of the arbitrators is severely circumscribed, because they are not
empowered to reach an independent decision. They are required to choose
between the two options for resolution presented by the treaty partners.n This
baseball arbitration model addresses to a large extent the concern regarding
fiscal sovereignty and is less intrusive upon domestic tax policy than other op-
tions, since the arbitration panel cannot act as a judicial body, express its own
views, or teU either country how to apply its tax laws.
The inclusion of a mandatory arbitration provision in the 2016 Model is
highIy significant because it expresses the willingness of the United States to
pursue this course with any country, and not only countries with which there
is a MAP history.
4. Condusion
The 2016 US. Model is a robust documento It is not simply an incrementaI
change from its predecessors. The number and extent of innovative provi-
sions found here make the 2016 US. Model a major reflection of current US.
treaty policy. Whether it will serve as a useful starting point for negotiations
with other countries, given the number and complexity of its new provisions,
remains to be seen.
the player and the team each submit a single number to an arbitrator. This is followed by a hearing,
during which both the player and the team have the opportunity to make a presentation. The
arbitrator then chooses one of the two numbers as the player's salary for the upcoming season ...."
Raffaele Petruzzi, Petra Koch, Laura Turcan, Baseball Arbitration in Comparison to Other Tvpes of
Arbitration. In: Michael Lang, Jeffrey Owens, International Arbitration in Tax Matters, IBFD, 2015.
72 For a detail analysis on the matter, please refer to H. David Rosenbloom, Mandatory Arbitration
Disputes Pursuant to tax Treaties: The Experience of the United States, In: Michael Lang, Jeffrey
Owens, International Arbitration in Tax Matters, IBFD, 2015.
154
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação -
Considerações sobre as Políticas Brasileiras
1. Considerações Iniciais
155
Paulo César Teixeira Duarte Filho
2 Como cláusulas matching credit e tax sparing, aumento dos limites de tributação na fonte, possibilidade
de tributação dos royalties pelo país da fonte, inclusão da remuneração por serviços técnicos no
conceito de royalties, dentre outros.
3 Vide todos os pontos em nossa tese de doutoramento, que será disponibilizada em breve.
156
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
157
Paulo César Teixeira Duarte Filho
4 Mais detalhes em BORGES, Antônio de Moura Borges. Convenções sobre Dupla Tributaçdo
Internacional. Teresina: EDUFPI, São Paulo: IBDT, 1992. p. 146-148.
158
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
5 Cf. Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. O Modelo da ONU para Eliminar a Dupla Tributação da
Renda, e os Países em Desenvolvimento. In TAVOLARO, Agostinho Toffo!i; MACHADO, Brandão;
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). PrincíPios Tributários no Direito Brasileiro e Comparado;
Estudos em Homenagem a Gilberto de Ulhôa Canto. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 204.
6 Para Antonio Hugo Figueroa, quando os países em desenvolvimento negociam um acordo para evitar a
dupla tributação, eles objetivam o aumento de investimentos em seus territórios. Por outro lado, como
afirma o autor, "developed countries are generally the ones that demand to negotiate under pressure
from one or more enterprises resident in their national territory." (em: FIGUEROA, Antonio Hugo.
Intemational Double Taxation: General Reflections onJurisdictional Principies, Model Tax Conventions and
Argentina's Experience. 59 Bulletin for International Fiscal Documentation. Ago/Set 2005. p. 388.
7 Cf. Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. O Modelo da ONU para Eliminar a Dupla Tributação da
Renda, e os Países em Desenvolvimento. In TAVOLARO, Agostinho Toffo!i; MACHADO, Brandão;
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). PrincíPios Tributários no Direito Brasileiro e Comparado;
Estudos em Homenagem a Gilberto de Ulhôa Canto. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 198.
8 Cf. Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. O Modelo da ONU para Eliminar a Dupla Tributação da
Renda, e os Países em Desenvolvimento. in TAVOLARO, Agostinho Toffo!i; MACHADO, Brandão;
159
Paulo César Teixeira Duarte Filho
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). PrincíPios Tributários no Direito Brasileiro e Comparado;
Estudos em Homenagem a Gilberto de Ulhôa Canto. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 198.
9 Exposição de Motivos n. DPF/DAI/DCS/158/651, 31 (B46), de 6.7.1984 (Acordo Brasil-Canadá);
Relatório da Comissão de Relações Internacionais, PDL n. 42/1967 e PDL 54-A!1976; Exposição de
Motivos DPF/DAI/DAOC/ARC/138/651.31 (B46)(ElO) (Acordo Brasil-Japão e Aditivo ao Acordo);
Relatório da Comissão de Finanças (Relatório Vencedor), no PDL n. 51/1971, e Exposição de Motivos
do Ministério das Relações Exteriores n. 1526/SAP/71 (Acordo Brasil-França).
10 Em linha com Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. O Modelo da ONU para Eliminar a Dupla Tributação
da Renda, e os Países em Desenvolvimento. In TAVOLARO, Agostinho Toffoli; MACHADO, Brandão;
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). PrincíPios Tributários no Direito Brasileiro e Comparado;
Estudos em Homenagem a Gilberto de Ulh8a Canto. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 198-200.
11 Os artigos do Modelo da OCDE, que foram modificados pelo UN Group of Experts para adaptação
ao Modelo da ONU, são os seguintes: Artigo 5 (Estabelecimento Permanente); Artigo 7 (Lucros
160
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
das Empresas); Artigo 8 (Transporte Marítimo, Fluvial e Aéreo); Artigo 10 (Dividendos); Artigo
11 (Juros); Artigo 12 (Royalties); Artigo 13 (Ganhos de Capital); Artigo 14 (Serviços Profissionais
Independentes); Artigo 16 (Remuneração de Direção); Artigo 18 (Pensões); Artigo 19 (Funções
Públicas); Artigo 21 (Outros Rendimentos).
12 Vide Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. O Modelo da ONU para Eliminar a Dupla Tributação da
Renda, e os Países em Desenvolvimento. in TAVOLARO, Agostinho Toffoli; MACHADO, Brandão;
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Princípios Tributários no Direito Brasileiro e Comparado;
Estudos em Homenagem a Gilberto de Ulhôa Canto. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 202.
13 Vide Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. Acordos para Eliminar a Dupla Tributação da Renda.
Revista de Direito Tributário, n. 3, ano lI. São Paulo: Malheiros, 1978. p. 253.
161
Paulo César Teixeira Duarte Filho
14 Cf. Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. Acordos para Eliminar a Dupla Tributação da Renda. Revista
de Direito Tributário, n. 3, ano lI. São Paulo: Malheiros, 1978. p. 253.
15 Vide OCDE, Comitê Fiscal. Corrigendum to Preliminary Analysis of Conventions recently signed between
OECD and Developing Countries. TFD/FC/231, Paris, 18.6.1968. Disponível em OECD History
Database (History of the Tax Treaty - http://www.taxtreatieshistory.orgl), of the Institute for Austrian
and International Tax Law Vienna (WU), in conjunction with the OECD, IBFD, Università Cattolica
deI Sacro Cuore, IFA Canadian Branch and the Canadian Tax Foundation. Último acesso em 1.2.2014.
162
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
16 Apud Dornelles, Francisco Oswaldo Neves. A dupla tributação internacional da renda. Rio de Janeiro;
FGV, 1979. p. 22-28.
163
Paulo César Teixeira Duarte Filho
164
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
165
Paulo César Teixeira Duarte Filho
7. China 1991
8. Coréia do Sul 1989
9. República Tcheca 1986
10. Dinamarca 1974
lI. Equador 1983
12. Eslováquia 1986
13. Espanha 1974
14. Filipinas 1983
15. Finlândia 1996
16. França 1971
17. Hungria 1986
18. Índia 1988
19. Israel 2002
20. Itália 1978
2I. Japão 1967
22. Luxemburgo 1978
23. México 2003
24. Noruega 1980
25. Países Baixos 1990
26. Peru 2006
27. Portugal 2000
28. Suécia 1975
29. Trinidad e Tobago 2008
30. Turquia 2010
3I. Ucrânia 2002
32. Venezuela 2005
Acordos Pendentes de Ratificação
33. Paraguai4 2000
34. Rússia 2004
Além dos acordos gerais para evitar a dupla tributação, o Brasil também as-
sinou inúmeros acordos específicos em matéria tributária, como os de coopera-
ção em matéria aduaneira, aqueles para evitar a dupla tributação em serviços de
transporte marítimo e aéreo, etc., os quais não serão objeto do presente artigo.
166
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
Até então, o país ainda não assinou qualquer acordo relativo a tributação de
sucessões e doações.
Abaixo, trazemos uma visão geral dos acordos assinados pelo Brasil, dividi-
dos por período e região do globo:
12
10
o
1960's 1970's 1980's 1990's 2000's 2010's
Li Nr. de Acordos 8 10 3 11
Gráfico 02: Número de acordos assinados com países distribuídos por regiões do globo
12
12
10
8
6 6
6 5
4
2
2
o
América do América do América Europa Europa Oriente Ásia África
Sul Norte Central Ocidental e Orit'ntal Médio
Central
167
Paulo César Teixeira Duarte Filho
Ponto 1: o Brasil faz uso de seu sistema tributário também com intuitos
extrafiscais, promovendo o controle de fluxo de capitais, investi-
mentos e de políticas econômicas e sociais específicas;
168
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
169
Paulo César Teixeira Duarte Filho
país de cláusulas tax sparing, mas, quando as incluiu, foram com mecanismos
bilaterais, recíprocos.
Os anos 1990 foram praticamente nulos em matéria de assinatura de acor-
dos. Contudo, os poucos acordos assinados e em vigor foram com países que
representam grande importância para a economia brasileira. Destaque mere-
cem os acordos com os Países Baixos de 1990 e com a China de 1991, como já
mencionado no tópico anterior.
N a última década, algumas importantes empresas de capital brasileiro pas-
saram a investir no exterior ou a aumentar investimentos lá existentes, trans-
formando-se em multinacionais.
Por meio da pesquisa de doutorado, foi identificado que as políticas brasi-
leiras variam de acordo com a legislação doméstica, historicamente, a situação
econômica do país no momento da assinatura, a situação econômica do outro
país contratante, a localização desse país (e.g. Mercosul) etc.
Considerando a estrutura, como já visto, os acordos brasileiros partiram da
base da primeira versão do Modelo da OCDE de 1963. Contudo, o texto brasi-
leiro modificou esse modelo em diversos pontos e introduziu novos mecanismos
e institutos para tentar adequá-lo à realidade brasileira, suas políticas econômi-
cas e à sua lei interna. Boa parte do Modelo brasileiro que diverge do Modelo
da OCDE está em linha com o Modelo da ONU.
Algumas das mais relevantes alterações ao Modelo da OCDE promovidas
pelas políticas brasileiras estão em linha com o Modelo da ONU22 , cuja primei-
ra versão foi elaborada alguns anos depois da primeira do Modelo da OCDE e
teve como base de trabalho sua última versão. Isso trouxe o "Modelo Brasileiro"
a se aproximar do Modelo da ONU. Algumas poucas alterações foram inspi-
radas pelo Modelo dos Estados Unidosz 3 • As grandes diferenças apresentadas
no Modelo Brasileiro em relação ao Modelo da OCDE referem-se às políticas
tributárias internas brasileiras, principalmente o ponto relativo ao seu status de
país em desenvolvimento e sua busca incessante por aumento de receita tribu-
170
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
24 OECD. Declaration on Base Erosion and Profit Shifting. 2013. Disponível em http://www.oecd.org/
tax/C-MIN(2013)22-FINAL-ENG.pdf - último acesso em 21.5.2015.
171
Paulo César Teixeira Duarte Filho
dispõe de diversas medidas internas, de produção própria, para evitar base ero-
sion and profit shifting, que, muitas vezes, são mais rigorosas e severas do que as
ações propostas.
Outro ponto é a busca por maior transparência nas operações internacio-
nais, fato não descartado pelo BrasiL
Diante de problemas sérios de transparência nos fluxos de capitais, que po-
deriam estar sendo usados para o financiamento de terrorismo, tráfico de dro-
gas e outros ilícitos, além de terem possivelmente contribuído para a grave crise
financeira a partir de 2007, as maiores economias do mundo se encontraram
em Londres para o Encontro do G-20 para discutir a situação, o que incluiu a
troca de informações em assuntos tributários.
Daí surgiu o Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações
para Fins Fiscais 25 , do qual o Brasil faz parte como membro do Steering and Peer
Review Groups26, os quais indicam as políticas atuais de integração global para
mais transparência nas relações econômicas entre as nações.
O país tem assinado diversos acordos específicos de troca de informações
(TIEAs) e alterado seus acordos para evitar dupla tributação para ajustar as
cláusulas de troca de informações para modelos mais modernos e abrangentes 27 •
O Brasil tem a política de, quando a relação econômica com um determina-
do país é forte, preferir negociar a alteração de um eventual acordo para evitar
a dupla tributação já assinado ou iniciar negociações de um novo, no lugar de
25 Com o encontro no México, os membros do Fórum começaram a participar em mesmo nível, com
direito de voz e voto, até mesmo para os países não membros da OCDE. Os países foram divididos
em dois grupos: Steering Group e Peer Review Group. O último, engajado na revisão das legislações e
redes de acordos para evitar a dupla tributação, cujos dispositivos permitissem troca de informações
em matéria tributária, com o intuito de verificar se esses dispositivos estão em conformidade com os
padrões das chamadas "jurisdições cooperativas". Vide: VALADÃO, Marcos Aurélio. Transparência
fiscal internacional: situação atual e a posição do Brasil. In TÔRRES, Heleno Taveira (Coord.). Direito
Tributário Internacional Aplicado v. VI. São Paulo, Quartier Latin, 2012. p. 205.
26 Mais detalhes sobre a participação brasileira em VALADÃO, Marcos Aurélio. Transparência fiscal
internacional: situação atual e a posição do Brasil. In TÔRRES, Heleno Taveira (Coord.). Direito
Tributário Internacional Aplicado v. VI. São Paulo, Quartier Latin, 2012. p. 207 et seq.
27 Cf. VALADÃO, Marcos Aurélio; SILVA, Lauriana de Magalhães. Concorrência Tributária
Internacional e Soberania. Revista de Direito Internacional Econômico e Tributário, v. 3, n. 1. Brasília:
Universidade Católica de Brasília, Jan-Jun/2008. p. 45.
172
Os Acordos para Evitar a Dupla Tributação
- Considerações sobre as Políticas Brasileiras
assinar um TIEA. Isso, em razão das vantagens que um acordo para evitar a du-
pla tributação representam no fluxo econômico e comercial entre dois países28 •
Contudo, por conta da estrutura mais complexa de um acordo para evitar a
dupla tributação e pelos procedimentos de negociação serem mais complicados,
o Brasil vem assinando mais TIEAs nos últimos anos, como já informado.
O desenvolvimento das atividades do Brasil neste sentido é atestado pelo
Peer Review Report do Fórum Global, que afirma ter o país atendido as normas
básicas gerais internacionais e que a base legislativa e regulatória para a dispo-
sição de informações está presente no país29•
Se transparência é algo perseguido pelo Brasil em se tratando de seus con-
tribuintes, transparência também é de se esperar do Governo Brasileiro no que
tange à interpretação e à aplicação dos acordos brasileiros.
Fazemos, então, nessas considerações finais, uma crítica à postura que vem
sendo adotada pelo Governo Brasileiro, em especial pela Receita Federal e pela
Procuradoria da Fazenda Nacional, quando qualifica a remuneração pela pres-
tação de serviços técnicos e assistência técnica nos acordos que, via protocolo,
os incluem no conceito de royalties do Artigo 12. Para o Fisco, essa qualificação
ocorre independentemente da presença de transferência de tecnologia, o que,
na nossa opinião, é um claro exemplo de treaty override30 •
Mesmo com todo o portfólio de mecanismos nos acordos brasileiros para
proteger o Estado da Fonte, o Brasil tenta maliciosamente alargá-lo, mas sem
qualquer fundamento aceitável, contrariando e ofendendo bases negociadas.
Essa política artificiosa gera graves problemas aos investidores estrangeiros
e aos seus parceiros brasileiros, encarecendo a relação entre países, como os
custos de produtos, serviços e direitos no Brasil como um todo, além de com-
prometer relações internacionais existentes.
28 OCDE. Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer Reviews:
Brazil2013, Phase 2: Implementation of the Standard in Practice. OECD Publishing, 2003. p. 90. M.n.
272. Disponível em http://dx.doi.org/1O.1787/9789264202610-en- último acesso em 14.5.2015.
29 OCDE. Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer Reviews: Brazil
2013, Phase 2: Implementation of the Standard in Practice. OECD Publishing, 2003. p. 70 - Disponível
em http://dx.doi.org/1O.1787/978926420261O-en - último acesso em 14.5.2015.
30 Vide nosso artigo a respeito do assunto: DUARTE FILHO, Paulo César Teixeira. Os Royalties nos
Acordos Brasileiros para Evitar a Dupla Tributação. In SCHOUERI, Luís Eduardo; BIANCO, João
Francisco (Coord.); DUARTE FILHO, Paulo César Teixeira; CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes
(Org.). Estudos de Direito Tributário em Homenagem ao Professor Gerd Willi Rothmann. São Paulo:
Quartier Latin, 2016.
173
Paulo César Teixeira Duarte Filho
174
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites
Impostos ao Planejamento Tributário
Internacional pelos Acordos contra a
Bitributação Celebrados pelo Brasil
1. Introdução
A temática do planejamento tributário internacional é matéria de ampla
discussão na atualidade, principalmente em função do lançamento, em julho
de 2013, do Projeto BEPS (Base Erosion Profit Shifting) pela OCDE (Organi-
zação para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), sob solicitação do
0-20. O projeto é fruto da preocupação do grupo em combater a erosão das
bases tributárias e a transferência de lucros para jurisdições de tratamento
fiscal favorecido, congregando um abrangente conjunto de estudos e medidas
acerca do tema, a serem adotadas domesticamente ou por meio de tratados,
de maneira coordenada, com base em monitoramento específico e fortaleci-
mento da transparência.
O planejamento tributário internacional é estratégia que surge em razão
da existência de cenários em que contribuintes estabelecem relações jurídicas
tributárias em diferentes jurisdições e estruturam a sua atuação de modo a oti-
mizar a carga fiscal global à qual estão submetidos. XAVIER, ao discorrer sobre
a elisão fiscal internacional, cuida de esclarecer que o conceito se reporta a uma
escolha voluntária do contribuinte sobre o ordenamento jurídico mais favorável
Doutorando e Mestre em Direito Tributário pela USP; Master of Laws (LL.M) pela New York
University; Ex-Conselheiro do CARF; Advogado.
2 Graduado em Direito pela UFMG; Advogado.
175
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
3 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
2015,p.272.
4 "O relatório Addressing Base Erosion and Profit Shifting (OCDE, 2013) concluiu que nenhuma norma
tributária, por si só, possibilita o BEPS; ao invés, é a combinação entre diferentes matérias que permitem que
ele seja possível." (tradução livre). No original: "The report Addressing Base Erosion and Profit Shifting
(OECD, 2013) concluded that no single tax rule on its own enables BEPS; it is rather the interplay among
different issues that makes it possible." (OECD (2015), Explanatory Statement, OECD/G20 Base Erosion
and Profit Shifting Project, OECD, p. 5. Disponível em: <www.oecd.org/tax/beps-explanatory-
statement-2015.pdf>. Acesso em: 16 de julho de 2016.)
5 Como é afirmado no Explanatory Statement do Projeto BEPS: "[al implementação do pacote do BEPS
irá melhor alinhar o local dos lucros tributáveis com o local das atividades econômicas e de geração de valor,
e incrementar as informações disponíveis às autoridades fazendárias para aplicar suas leis tributárias de
maneira eficaz." (tradução livre). No original: "[tlhe implementation of the BEPS package will better align
the location of taxable profits with the location of economic activities and value creation, and improve the
information available to tax authorities to apply their tax laws effectively". (OECD (2015), Explanatory
Statement, CD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD, p. 5. Disponível em: <www.
oecd.org/tax!beps-explanatory-statement-2015.pdf>. Acesso em: 16 de julho de 2016.)
6 "Na era de BEPS, o planejamento tributário internacional, antes uma alternativa ao regime de opressão
fiscal imposta pelos demais países e como sendo um fator indispensável ao fluxo internacional de capitais,
começa a ganhar conotação pejorativa e preconceituosa, passando a ser presumidamente uma forma de
"sonegação" ou "evasão fiscal", após as célebres audiências públicas envolvendo a Starbucks, Apple e outras
multinacionais que utilizaram-se de mecanismos internacionais que reduziram sensivelmente sua carga
176
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
177
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
2. A Ação n° 6 do BEPS
o Plano de Ação n° 6 é resultado da identificação do treaty abuse, e em es-
pecial do treaty shopping, como um dos fatores que mais contribuem para a ero-
são das bases tributáveis. Quando do lançamento do Projeto BEPS, o resultado
esperado para este plano era a proposição de mudanças na Convenção Modelo
da OCDE (CM-OCDE) e de recomendações acerca do desenvolvimento de
regramento doméstico pertinente à matéria. Em julho de 2013, o seu objetivo
foi assim definido:
178
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
10 No original:' "Develop model treaty provisions and recommendations regarding the design of domestic
rules to prevent the granting of treaty benefits in inappropriate circumstances. Work wiU also be done to
darify that tax treaties arenot intended to be used to generate double non-taxation and to identify the
tax policy considerations that, in general, countries should consider before deciding to enter into a tax
treaty with another country. The work wiU be co-ordinated with the work on hybrids." (OECD (2013),
Action Plan on Base Erosion Profit Shifting, OECD Publishing, p. 19. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.l787/9789264202719-en>. Acesso em: 23 de julho de 2016.)
11 OECD (2014), Model Tax Convention on Income and on CaPital: Condensed Version 2014, OECD
Publishing, p. 8. Disponível em: <http://www.keepeek.com/Digital-Asset-Management/oecd/
taxation/model-tax-convention-on-income-and-on-capital-2015-full-version_9789264239081-en#.
V59jCtIrLIU#page1>. Acesso em: 9 de julho de 2016.
12 Ibid., p. 8.
13 Ibid., pp. 8-9.
179
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
14 Ibid., p. 9.
15 Como esclarece PICONEZ: "Em resumo, por meio dos tratados, o país de fonte renuncia (ou compartilha)
com o país de residência, os poderes tributários sobre tiPos específicos de renda. Em outras palavras, o
tratado reduz ou elimina o imposto do país A em certos tiPos de renda auferidos pelos residentes do outro
país signatário (país B), e reduz ou elimina os impostos cobrados pelo outro país (B) em determinados tiPos
de renda auferidos pelo país (A), de fontes nesse país (B). Adicionalmente, o tratado aloca a jurisdição
tributária sobre determinados tipos de renda auferidos exclusivamente pelo país de residência, como ganhos
de caPital por exemplo." (PICONEZ, Matheus Bertholo. Lucros no Exterior, Equivalência e Tributação
da "Parcela do Ajuste do Valor do Investimento" à Luz dos Acordos de Bitributação Brasileiros. In:
Controvérsias Jurídico-Contábeis (Aproximações e Distanciamentos). MOSQUERA, Roberto Quiroga;
LOPES, Alexsandro BROEDEL. 6º vol. São Paulo: Dialética, 2015, pp. 394-429 (415).
16 Comentários à Convenção Modelo da OCDE 2014. No original: "7. The principal purpose of
Double taxation conventions is to promote, by eliminating international Double taxation, exchanges of
goods and services, and the movement of caPital and persons. It is also a purpose of tax conventions to
prevent tax avoidance and evasion." (OECD (2014), Model Tax Convention on Income and on Capital:
Condensed Version 2014, OECD Publishing, p. 61. Disponível em: <http://www.keepeek.com/Digital-
Asset-Management/oecd/taxation/model-tax-convention-on-income-and-on-capital-2015-full-
version_9789264239081-en#.v59jCtIrLIU#pagel>. Acesso em: 9 de julho de 2016.)
17 OECD (2015), Preventing the Granting of Treaty Benefits in Inappropriate Circumstances, Action 6-
2015 Final Report, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris, p.
91. Disponível em: <http://dx.doLorg/1O.1787/9789264241695-en>. Acesso em: 11 de julho de 2016.
180
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
parte dizia que "eles [os tratados] não deveriam, contudo, auxiliar a elisão e a
evasão fiscal." A alteração introduzida serviu para endurecer o tom da OCDE
contra tais práticas. A inclusão expressa de tais objetivos é uma resposta ao
cenário de utilização indevida dos tratados por parte dos contribuintes, sob a
perspectiva do órgão.
É que ante à existência de benefícios concedidos no âmbito dos tratados,
determinados contribuintes que realizam operações internacionais estruturam
seus negócios de modo a fazer uso de tais benefícios sem que sejam residentes
de algum dos Estados Contratantes, extrapolando o escopo de pessoas visadas
previsto pelos tratados (residentes de um ou de ambos os estados contratantes).
A prática é conhecida como treaty shopPing.
A própria OCDE possui um glossário de termos relacionados ao direito
tributário que, embora esteja longe de esgotar o conteúdo das definições, dá,
ao menos, um direcionamento inicial do conceito. Treaty shopPing é assim
definido no glossário:
181
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
20 Ibid., p. 38.
21 Ibid., p. 173.
22 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
2015, pp. 329-330/418.
23 Ibid., p. 311.
24 YONAH, Reuven; PANAYI, Christiana HJI. Rethinking treaty shopPing: lessons for the European Union
2. Public Law and Lega! Theory Working Paper Series n. 182, 2010, p. 5.
182
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
25 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
2015,p.271.
26 ROSENBLOOM, H. David. Tax Treaty Abuse: Problems and Issues. Law and Policy in International
Business n° 15. 1983. Disponível em: <http://heinonline.org/HOLlLandingPage?handle=hein.
journals/geojintlI5&div=31&id=&page=>. Acesso em: 20 de julho de 2016.
27 SCHOUERI, Luís Eduardo. Planejamento Fiscal através dos acordos de bitributação: Treaty ShopPing.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.
28 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado, 2008. In: ASSEIS, Pedro A. A. Abujamra. As
Cláusulas de L.O.E. e o Combate ao Treaty Shopping. Direito Tributário Atual, v. 33, 2015, p. 239.
183
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
Estado Z
Pagamento de
dividendos, juros
e royalties
Estado Y
Pagamento de
dividendos, juros
e royalties
Estado X
Estado Z
Estado Y Estado W
juros, royalties,
comissões, etc.
Pagamento de
Estado X dividendos, juros
e royalties
184
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
30 OECD (2015), Executive Summaries 2015 Final Reports, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting
Project, OECD, p. 21. Disponível em: http://www.oecd.org!ctp!beps-reports-2015-executive-
summaries.pdf. Acesso em: 16 de julho de 2016.
31 OECD (2014), Model Tax Convention on 1ncome and on CaPital: Condensed Version 2014, OECD
Publishing, p. 62. Disponível em: http://www.keepeek.com/Digital-Asset-Management/oecd/
taxation/model-tax-convention-on-income-and-on-capital-2015-full-version_9789264239081-en#.
V59jCtIrLIU#page1. Acesso em: 9 de julho de 2016.
32 Ibid., p. 63.
185
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
186
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
37 Ibid., p. 19.
38 Ibid., pp. 65-67.
39 Ibid., pp. 24-25.
187
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
188
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
41 "9.5 [...] Um princíPio norteador é o de que os benefícios de uma convenção contra a dupla tributação não
deveriam estar disponíveis quando o principal propósito para celebrar determinadas transações ou arranjos
era o de assegurar uma carga fiscal mais favorável e obter dito tratamento favorável em tais circunstâncias
seja contrário ao objeto e propósito das disposições relevantes." (tradução livre). No original: "9.5 [...]
A guiding principie is that the benefits of a double taxation convention should not be available where a
main purpose for entering into certain transactions ar arrangements was to secure a more favourable tax
position and obtaining that more favourable treatment in these circumstances would be contrary to the
object and purpose of the relevant provisions." (OECD (2014), Model Tax Convention on Income and on
CaPital: Condensed Version 2014, OECD Publishing, p. 61. Disponível em: <http://www.keepeek.com/
Digital-Asset-Management/oecd/taxation/model-tax-convention-on-income-and-on-capital-2015-
full-version_9789264239081-en#.V59jCtIrLIU#pagel>. Acesso em: 9 de julho de 2016.)
42 No original: "7. Notwithstanding the other provisions of this Convention, a benefit under this Convention
shall not be granted in respect of an item of income ar caPital if it is reasonable to conclude, having regard
to ali relevant facts and circumstances, that obtaining that benefit was one of the princiPal purposes of any
arrangement ar transaction that resulted directly ar indirectly in that benefit, unless it is established that
granting that benefit in these circumstances would be in accordance with the object and purpose of the
relevant provisions of this Convention." (OECD (2015), Preventing the Granting of Treaty Benefits in
Inappropriate Circumstances, Action 6 - 2015 Final Report, OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting
Project, OECD Publishing, Paris, p. 55. Disponível em: <http://dx.doi.org/l0.l787/9789264241695-
en>. Acesso em: 11 de julho de 2016)
189
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
43 Ibid., p. 99.
190
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
44 Ibid., p. 102.
45 ASSEIS, Pedro A. A. Abujamra. As Cláusulas de L.O.B. e o Combate ao Treaty Shopping. Direito
Tributário Atual, v. 33, 2015, p. 250.
46 Ibid., p. 250.
47 PEGORARO, Andressa. O Combate ao Treaty ShopPing nos Acordos de Bitributação Celebrados pelo
Brasil e a Influência do Projeto Beps (Base Erosion and Profit Shifting) - o Futuro das Cláusulas de
191
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
Limitação de Benefícios (LOB). Revista Dialética de Direito Tributário, n. 237. São Paulo: Dialética,
2015, p. 24.
48 Ibid., p. 24.
49 CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e. Planejamento Tributário Internacional: conceito de beneficiário
efetivo nos acordos contra a bitributação. São Paulo: Quartier Latin, 2015, pp. 40-41.
192
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
50 LANG, Michael. BEPS Action 6: Introducing anAntiabuse Rule in Tax Treaties. Tax Notes International,
v. 74, n. 7. Washington DC: Tax Analysts. 2014, p. 663.
51 Ibid., p. 664.
52 Art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções
internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre
tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.
53 Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária
interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha.
54 Não podemos deixar de expressar nosso posicionamento segundo o qual o art. 98 do CTN incorreu
em atecnia ao consignar que os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a
legislação tributária interna. Com efeito, não há revogação, mas afastamento da legislação interna em
relação às situações abarcadas pelo tratado, de modo que continua em vigor em relação às situações
que estão fora do seu âmbito de incidência. O STJ, nos autos do REsp 1325709!RJ, caso paradigmático
acerca do tema, declarou que o tratado afasta a aplicação da legislação interna em função do critério
da especialidade, entendimento contra o qual apresentamos ressalvas; contudo, tal discussão não será
objeto deste trabalho.
193
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
55 "a) o método da colmatação legislativa, comum nos países cuja Constituição ou legislação proíbem a
analogia. São as special mies do Direito inglês. Caso por caso, o legislador vai fechando as brechas. É o
caso, ainda, do art. 109 do Código Tributário Nacional, que permite ao legislador estender ao negócio ou
ato extratípico o regime tributário do regime tíPico alcançado pela tributação.
b) o método da desqualificação administrativa, a partir de uma permissão genérica (norma geral
antielisiva ou general rules). Neste método, o uso da analogia e a prevalência do Estado-Administração
são imprescindíveis. A partir de teses como a do Teste de Finalidade Negociai (Business Purpose Test), a
do Disregard (desconsideração da Pessoa Jurídica), a da fraude à lei ou de abuso de direito, confere-se aos
fiscais o poder, independentemente de ser lícita a forma determinativa adotada, de DESQUALIFICAR E
REQUALIFICAR o negócio extratípico, aplicar-lhe a tributação do negócio tíPico que ele, subjetivamente,
entende ser devido. Entre nós, os princíPios da legalidade, tipicidade e proibição da analogia impedem a
norma geral antielisiva.". (COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 13ª
Ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2014.)
194
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
constitucional vigente. Essa é a linha seguida por HUCK, que postula o direito
do particular de organizar o seu negócio em função dos seus próprios interesses,
o que leva à busca, no contexto empresarial, pelo desenvolvimento e aumento
da eficiência das suas atividades. 56
Daí se extrai a conclusão lógica de que o contribuinte, no momento de
planejar a execução de uma operação que tenha o potencial de se subsumir
ao fato gerador de um determinado tributo, possui o direito de optar pelo
caminho menos onerosoY Em outras palavras, ao contribuinte não é im-
posta a obrigação de maximizar a incidência tributária sobre as atividades
por ele exercidas, podendo lançar mão de estruturas jurídicas que tenham
o condão de minorar, ou até mesmo de suprimir, a incidência do tributo,
desde que por meio lícitos.
Sob um ângulo internacional, a mesma conclusão deve se manter: em
virtude da assimetria de cargas tributárias, o contribuinte organiza os seus
negócios de maneira a se submeter a um regime de tributação menos oneroso
- do ponto de vista global- dentro da sua esfera de liberdade de ação. 58 Se a
estruturação de suas operações não corresponde a qualquer hipótese de simu-
lação, fraude ou sonegação, o negócio jurídico não pode ser desconsiderado
pela autoridade administrativa.
Tome-se como exemplo o contribuinte, residente no Brasil, que pretende
estender suas operações para o Reino Unido; a ausência de acordo para evi-
tar a dupla tributação entre os dois países faria com que o lucro lá auferido
fosse tributado pelo imposto de renda britânico e pelo brasileiro, o que po-
56 HUCK, Hermes Marcelo. Evasão e elisão: rotas nacionais e internacionais. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 149.
57 "Economizar salários ou impostos dá no mesmo. É uma economia de custos desde que não haja divergência
entre a 'intentio facti' e a 'intentio juris', quando ocorre a dissimulação (ocultamento do negócio real).
Aos particulares deve-se resguardar o direito de competir. O resto é moralismo hipócrita, com laivos de
idealismo insustentável diante de um Estado que desiguala as pessoas jurídicas e físicas com legislação
casuística ou extrafiscal e que, ao invés de ser neutro, desorganiza a economia, em prol de interesses
puramente arrecadat6rios". (COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. In: O Planejamento tributário e a Lei
Complementar 104. ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). São Paulo: Dialética. 2001, p. 283.)
58 XAVIER resume com excelência o fenômeno do planejamento tributário do ponto de vista
internacional: "O fenômeno da elisão fiscal internacional assenta, assim, num duplo pressuposto: a
existência de dois ou mais ordenamentos tributários, dos quais um ou mais se apresentam, face a uma
dada situação concreta, como mais favoráveis que o outro ou outros; a faculdade de oPção ou escolha
voluntária pelo contribuinte do ordenamento tributário aplicável, pela influência voluntária na produção do
fato ou fatos geradores em termos de atrair a respectiva aplicação." (XAVIER, Alberto. Direito Tributário
Internacional do Brasil. 8ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 272.)
195
Fernando Daniel de Moura Fonseca
Felipe Toledo Soares de Almeida
4. Conclusão.
A Ação n° 6 do BEPS expressa a visão da OCDE de que o treaty shopPing é
prática indesejada, que contribui para a erosão das bases tributárias. O conjun-
to de alterações propostas busca impedir que os benefícios convencionais sejam
conferidos em circunstâncias inapropriadas por meio de uma combinação de
uma regra de LOB com uma regra de PPT.
É muito cedo para se avaliar a influência das recomendações sobre a ne-
gociação e celebração de contratos pelo Brasil, mas é possível verificar que
o país já possui convenções que contêm algum tipo de regra de limitação
de benefícios, seja de cunho apenas subjetivo, objetivo, ou a combinação de
ambos. O que o ordenamento jurídico brasileiro não apresenta, contudo, é
a possibilidade de aplicação do teste de propósito negociaI para requalificar
196
A Ação N° 6 do BEPS e os Limites Impostos ao Planejamento Tributário Internacional
pelos Acordos contra a Bitributação Celebrados pelo Brasil
197
A Tributação do Lucro das Controladas
e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º dos
Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil:
uma Análise Evolutiva da Jurisprudência
Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
199
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
200
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
6 Confira-se: "(...) a total inexistência de um elemento abusivo relacionado com o território de domicílio ou
com a natureza do rendimento leva mesmo a afirmar que não se trata de uma lei CFC". Cf. XAVIER,
Alberto. Direito tributário internacional do Brasil. 8ª edição. São Paulo: Forense, 2015, p. 288.
7 Por acordos de bitributação, nos referimos aos acordos internacionais celebrados pelo Brasil para evitar
a dupla tributação jurídica dos rendimentos entre os países da fonte (ou origem) dos rendimentos e de
residência do contribuinte.
8 NETO, Luís Flávio. A tributação brasileira dos lucros de empresas controladas residentes em países
com acordos de bitributação. In: SCHOUERI, Luís Eduardo; BrANCO, João Francisco (coord.);
CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e; DUARTE FILHO, Paulo César Teixeira (orgs.). Estudos de
Direito Tributário: em homenagem ao Professor Gerd Willi Rothmann. São Paulo: Quartier Latin,
2016,pp.235-236.
201
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
202
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
203
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
14 Cf. OECD. Model Tax Convention on Income and on Capital. 9. ed. Paris: Oecd, 2015. Disponível
em: <http://www.oecd.org/tax/treaties/model-tax-convention-on-income-and-on-capital-2015-full-
version-9789264239081-en.htm>. Acesso em: 28 jul. 2016.
15 Tradução livre. Idem, parágrafo 23 dos Comentários ao Art. 1º da CMOCDE.
204
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bifribufação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
205
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
17 FRANÇA. Conseil D'État. Recours nº 232276. Recorrente: Ministre de l'Économie, des Finances et
de l'Industrie. Recorrido: Scheneider Electric. Relator: Mlle A. Robineau. Recuei! Lebon. Paris, 28
jun. 2008. Disponível em: <https://www.legifrance.gouv.fr/affichJuriAdmin.do?idTexte=CETATE
XT000008092462>. Acesso em: 29 jul. 2016.
18 Art. 209-B do Code Général dês Impôts em sua redação original, como vigente à época dos fatos
discutidos: "Lorsqu'une entreprise passible de l'impôt sur les sociétés détient directement ou indirectement 25
% au moins des actions ou parts d'une société établie dans un Etat étranger ou un territoire situé hors de France
dont le régime fiscal est privilégié au sens mentionné à l'article 238 A, cette entreprise est soumise à l'impôt sur
les sociétés sur les résultats bénéficiaires de la société étrangere dans la proportion des droits sociaux qu'elle y
détient./ Ces bénéfices font l'objet d'une imposition séparée. Ils sont réputés acquis le premier jour du mois qui
suit la clôture de l'exercice de la société étrangere et sont déterminés selon les rêgles fixées par le présent code./
1: impôt acquitté localement par la société étrangêre est imputable dans la proportion mentionnée au premier
alinéa sur l'impôt établi en France à condition d'être comparable à l'impôt sur les sociétés".
206
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
207
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
208
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
21 Confira-se, no original: "En relación con lo anterior, se aprecia que lo que la legislación nacional grava
no son directamente las utilidades de las empresas residentes en el extranjero, sino los beneficios que los
residentes en México (y los no residentes con establecimientos permanentes en el país) obtienen de su
particiPación en la generación de ingresos en aquellas jurisdicciones, lo que no se contrapone con los tratados
mencionados." (MÉXICO. Suprema Corte de Justicia. Amparo En Revisión nº 264/2007. Cidade do
México, DF, 20 de maio de 2009.Novena Época. Cidade do México, Disponível em: http://sjf.scjn.gob.
mx/sjfsist/Documentos/Tesis/166/166820.pdf. Acesso em: 27 jul. 2016)
209
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
210
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
211
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
a tributação automática, como existente nos tratados firmados pelo Brasil com
a México e com o Peru28 , obstaria o bloqueio imposto pelo artigo.
O entendimento do Conselho, todavia, como adiantado, não tem sido uni-
forme ao longo do tempo.
Diferentemente dos julgados trazidos à baila, alguns casos foram julgados em
sentido contrário à pretensão do contribuinte, a exemplo dos casos Eagle 229, de
17.12.2008, o Caso Normus 30 , de 27.07.2011 e, mais recentemente, de novo caso
envolvendo a Petrobrás 3!, em 04.05.2016.
Com relação ao caso envolvendo a Petrobrás (Caso Petrobrás 2), mais recen-
temente julgado pela nova composição e desta vez pela Câmara Superior de Re-
cursos Fiscais32 , cumpre notar que, aparentemente, representa uma guinada no
entendimento deste órgão administrativo, em especial por se tratar de julgado
proferido pelo órgão máximo na estrutura do CARF.
É curioso perceber que, apesar de seu objeto (lucros no exterior auferidos
por intermédio de controlada holandesa) e pala passivo da autuação (Petrobrás)
serem idênticos àqueles analisados em acórdão proferido logo antes da Opera-
ção Zelotes, no início de 2015, o resultado alcançado pela Câmara Superior de
Recursos Fiscais, pouco mais de um ano depois, foi diametralmente oposto.
28 Confira-se, nesse sentido, os termos do Art. 28 do acordo de bitributação firmado com o México:
''Art. 28 (.. .)3. As disposições da presente Convenção não impedirão que um Estado Contratante aplique as
disposições de sua legislação nacional relativa a capitalização insuficiente ou para combater o diferimento,
incluída a legislação de sociedades controladas estrangeiras (legislação CFC) ou outra legislação similar."
29 1º Conselho de Contribuintes, 1ª Câmara, Acórdão 101-97.070, relatora Sandra Faroni, j. em
17.12.2008. A respeito, vide: SILVEIRA, Rodrigo Maito da. Caso Eagle 2: Tributação de Lucros
Auferidos no Exterior em Virtude de Participações Societárias. In: CASTRO, Leonardo Freitas de
Moraes e (Org.). Tributação Internacional: Análise de Casos. São Paulo: Mp Editora, 2010. p. 279-303.
30 CARF, 1ª Seção, 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara, Acórdão 1402-00-391, relator Carlos Pelá, j. em
27.01.2011. A respeito, confira-se: BOLAN, Ricardo Ferreira; PAES, Gustavo Duarte; COUTO, Ana
Claudia. Caso Normus: Tributação de Lucros no Exterior Auferidos por Controladas ou Coligadas
Estrangeiras de Sociedade Brasileira - Aplicação do Tratado Brasil-Hungria. In: CASTRO, Leonardo
Freitas de Moraes e (Org.). Tributação Internacional: Análise de Casos 3. São Paulo: Mp Editora, 2015.
p.325-348.
31 Câmara Superior de Recursos Fiscais, 1ª Turma, Acórdão 9101-002.330, relator Luís Flávio Neto, j.
em 04.05.2016.
32 A composição do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais mudou substancialmente desde
meados de 2015, após a deflagração da "Operação Zelotes".
212
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
iii. O artigo 7° não teria sido pensado para bloquear regras CFC, mas sim
para impedir a tributação na fonte de receitas oriundas de um Estado
contratante para pessoa jurídica de outro Estado contratante, nas hi-
póteses em que esta não tivesse presença física naquele; e
33 TRF2, 3ª Turma, Processo n.º 2006.50.01.000898-4, relator Juiz Convocado Fernando Cesar Baptista
de Mattos, j. em 29.03.201I.
34 TRF4, 1ª Turma, relator Joel Ilan Parcionik, Processo nº 2003.72.0I.000014-4/SC, j. em 16.09.2015.
35 STJ, 1ª Turma, REsp 1325709/RJ, reI. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, j. em 24/04/2014.
213
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
A este respeito, tanto no Caso Cisa Trading, julgado pelo TRF da 2º Re-
gião (29.03.2011), quanto no Caso Embraco, julgado pelo TRF da 4 a Região
(16.09.2015), os respectivos colegiados entenderam pela procedência das alega-
ções dos contribuintes, de modo a afastar a tributação sobre lucros auferidos por
intermédio de subsidiárias no exterior em países com os quais o Brasil mantém
acordos de bitributação, por se tratar de norma que conflita com o escopo do
Art. 7º da CMOCDE.
No caso envolvendo a Embraco, o mais recente dos três, os julgadores
apontam o que chamam de "evidente conflito" entre o artigo 7° dos acor-
dos firmados pelo Brasil com a China e a Itália e a regra de tributação
automática dos lucros prevista pelo artigo 74 da MP n.º 2.158-35/2001. Os
principais argumentos foram os de que (i) os tratados seriam, de acordo com
precedentes do STF, superiores à lei interna, bem como (ii) a regra CFC
brasileira, então vigente, tributava o acréscimo patrimonial decorrente do
método de equivalência patrimonial, o que seria vedado pelo artigo 23 do
DL n. 1.598/1977.
Em sua única análise específica sobre o tema ora debatido (20.04.2014),
o Superior Tribunal de Justiça, ao enfrentar caso envolvendo a tributação do
lucro das subsidiárias da Vale na Bélgica, Dinamarca e Luxemburgo, países
com os quais o Brasil mantém um acordo de bitributação cujo Art. 7º se ba-
seia na CMOCDE, restou vencida a União, afastando-se a tributação então
exigida do contribuinte.
A exemplo do que ocorreu nos demais precedentes judiciais citados, o ST]
entendeu assistir razão ao contribuinte por ser orientado no sentido de que
"as disposições dos Tratados Internacionais Tributários prevalecem sobre as nor-
mas de Direito Interno, em razão de sua especialidade (inteligência do artigo 98
do CTN)", afirmando que "a sistemática adotada pela legislação fiscal nacional
de adicioná-los [os lucros no exterior] ao lucro da empresa controladora brasileira
termina por ferir os Pactos Internacionais Tributários e infringir o princíPio da
boa-fé nas relações exteriores".
No chamado Caso Vale, cumpre sublinhar que restou vencido o ministro
Sérgio Kukina, que adotou o entendimento de que o que a regra brasileira pre-
tende tributar os lucros da companhia brasileira auferidos por intermédio de sua
controlada no exterior, e não os lucros da pessoa jurídica estrangeira propria-
mente, afastando, assim, eventual incompatibilidade entre as regras e o escopo
do Art. 7º dos acordos de bitributação.
214
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
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Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
216
A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7 Q
37 BARRETO, Paulo Ayres; TAKANO, Caio Augusto. Regime Tributário dos Resultados de
Controladas e Coligadas no Exterior. In: TRIBUTÁRIO, Instituto Brasileiro de Direito (Org.).
Programa de atualizaçào em Direito Tributário. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2015. p. 36-38.
217
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
38 Lucro Real das subsidiárias no exterior = Lucro contábil- Impostos sobre a renda - variação cambial.
39 Apesar de não fazer parte da OCDE, o Brasil utiliza, em grande medida, a sua convenção-modelo
como base para negociação de acordos de bitributação, bem como também apresenta posicionamentos
e ressalvas no texto dos próprios Comentários. Desta maneira, apesar de não serem vinculantes, já
tivemos a ocasião de considerar os Comentários como soft law na interpretação do texto dos acordos
de bitributação, nas hipóteses em que o texto do acordo brasileiro seja idêntico àquele previsto
na CMOCDE. A este respeito, para um maior detalhamento do tema, e por fugir ao escopo deste
trabalho, remetemos o leitor ao nosso: MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo. Caso Volvo 2... ,
op. cit., p. 378.
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A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
"Estados que adotam as regras CPC ou anti abuso referidas em sua legis-
lação tributária interna pretendem manter a neutralidade do caPital e de
suas leis em um ambiente internacional caracterizado por cargas tributárias
distintas, mas essas medidas devem ser usadas com esse objetivo. Como regra
geral. essas medidas não devem ser aplicadas a situações em que parte rele-
vante da renda foi submetida à tributação a alíquotas comparáveis à do país
de residência do contribuinte.''1Q
Como bem aponta SCHOUERI (et. a!.) 41, "não há dúvidas de que regras
CFC são aceitas pelos comentários em razão de seu papel particular na prevenção
do abuso de tratados".42 Esse, contudo, certamente não é o escopo das regras
brasileiras, como se viu.
Desta maneira, parece-nos que, apesar dos Comentários da OCDE se referi-
rem à compatibilidade entre as regras CFC e o disposto pelos acordos de bitri-
butação, fato é que a ressalva feita por esta organização, como reconhecido no
próprio texto mencionado, se aplica às regras CFC que visam coibir situações
abusivas, o que não seria o caso da regra estabelecida pela Lei n.º 12.973/14.
40 No original: "States that adopt controlled foreign companies provisions or the anti-abuse rules referred to
above in their domestic tax laws seek to maintain the equity and neutrality of these laws in an international
environment characterised by very different tax burdens, but such measures should be used only for this
purpose. As a general rule, these measures should not be applied where the relevant income has been
subjected to taxation that is comparable to that in the country of residence of the taxpayer."
41 SCHOUERI, Luís Eduardo; BARBOS, Mateus Calicchio. Brazil: CFC Rules and Tax Treaties in
Brazil: A Case for Article 7.. In: LANG, Michael et aI. Tax Treaty Case Law Around the Globe. Viena:
IBFD, 2016. p. 69-85.
42 Confira-se, no original: "There is no doubt that CFC rules are accepted by the commentaries due to their
particular role in preventing the abuse of tax treaties (.. .)"
219
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
ii. Criação de exceções e triggers para aplicação das regras CFC, de modo
que se voltem a hipóteses efetivamente abusivas, em que a jurisdição
da controlada submeta a carga tributária efetiva do grupo a uma
redução substancial;
iii. Definição do que seria renda, para fins de aplicação das regras CFC, isto
é, se se aplicaria a todos os tipos de renda, ou às chamadas rendas
passivas. Nesta definição, também seria apontado para à aferição de
eventual caráter passivo da renda, seja por meio da análise em cada
operação (transactional approach), seja a partir de uma aferição da sub-
sidiária como um todo (entity approach);
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A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
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43 Lei n.º 12.973/14, art. 84: " Para fins do disposto nesta Lei, considera-se: I - renda ativa própria - aquela
obtida diretamente pela pessoa jurídica mediante a exploração de atividade econômica própria, excluídas
as receitas decorrentes de: a) royalties; b) juros; c) dividendos; d) participações societárias; e) aluguéis; f)
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A Tributação do Lucro das Controladas e Coligadas no Exterior e o Artigo 7º
dos Acordos de Bitributação Assinados pelo Brasil: uma Análise Evolutiva
da Jurisprudência Internacional e Doméstica à Luz da Lei 12.973/14
7. Síntese Conclusiva
A partir de todo o exposto, em especial interpretando-se os Comentários da
OCDE em conjunto com os precedentes internacionais, procurou-se demons-
trar que as regras CFC, tal como formuladas nas mais diversas jurisdições, não
seria considerada conflitante com o texto do Art. 7Q da CMOCDE nas hipóte-
ses em que as citadas regras possuíssem natureza antielisiva, buscando evitar a
erosão da base tributável do país de residência da controladora.
Em alguns julgados importantes, tais como no Caso Schneider, francês, con-
siderou-se que regras CFC abrangentes, como a regra brasileira, seriam confli-
tantes com o texto dos acordos de bitributação, na medida em que pretendem
tributar diretamente o lucro apurado pelas subsidiárias no exterior, o que é ve-
dado pelo citado Art. 7Q da CMOCDE.
Nesse esteio, em que pese ao recente entendimento adotado pelo CARF
no Caso Petrobrás 2, em sentido contrário à pretensão do contribuinte, pare-
ganhos de caPital, salvo na alienação de participações societárias ou ativos de caráter permanente adquiridos
há mais de 2 (dois) anos; g) aplicações financeiras; e h) intermediação financeira. (...)"
223
Alexandre Luiz Moraes do Rêgo Monteiro
Felipe Thé Freire
ce-nos que as regras CFC brasileiras, à exceção dos tratados celebrados com
Peru e México, não permitiriam a aplicação da regra brasileira contida na
Lei n.º 12.973/14, na medida em que esta busca tributar diretamente o lucro
das controladas ou coligadas no exterior, e não a parcela a que fariam jus as
controladoras brasileiras (ie. após a apuração e cômputo do correspondente
imposto de renda).
Além disso, como restou verificado, a legislação brasileira é bastante abran-
gente, não se circunscrevendo apenas a hipóteses de abusividade, ou em que
reste demonstrado o interesse de se deslocar a renda para países com tributação
menos gravosa. Na realidade, cotejando-se os critérios estabelecidos pela Lei n.º
12.973/14 com aqueles apontados pelo Plano 3 do BEPS, nota-se que diversos
dos chamados building blocks das regras CFC foram sequer considerados em
nossa lei doméstica.
Assim, verificando-se a patente incompatibilidade entre as regras CFC
domésticas e o escopo do Art. 7º da CMOCDE, entendemos que aquelas de-
veriam ser alteradas, na forma como delineado no âmbito do BEPS, de modo
a se qualificar como autêntica norma antielisiva. Alguns aspectos, nesse sen-
tido, apontados de lege ferenda, poderiam ser (i) a delimitação do conceito de
CFC (ie. a partir do controle), (ii) criação de exceções a hipóteses em que não
haja abuso, e mesmo às subsidiárias que aufiram, em boa medida, renda pas-
siva (entity approach), bem como (iH) a própria restrição de sua aplicabilidade
às controladas estabelecidas em jurisdições com tributação efetiva inferior
àquela prevista no Brasil.
À guisa de tudo quanto se expôs, entendemos que, enquanto não forem
feitas alterações nas regras brasileiras de tributação de controladas e coligadas
no exterior, os acordos de bitributação teriam o chamado efeito bloqueador,
inibindo a possibilidade de imposição da exação nas hipóteses submetidas à
aplicação dos tratados.
224
A Tributação dos Lucros do Exterior
na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos
de Bitributação - A Questão da
Classificação dos Rendimentos Fictos
1. Introdução
o presente artigo pretende examinar a compatibilidade das regras de tri-
butação dos lucros auferidos por sociedades controladas e coligadas no exte-
rior, previstas na Lei nº 12.973/2014, com os acordos de bitributação celebra-
dos pelo BrasiL
Para tanto, será feita uma breve análise da sistemática de tributação dos lu-
cros do exterior adotada pela Lei nº 12.973/2014, com o objetivo de demonstrar
que, apesar do subterfugio de pretender tributar a parcela do ajuste do valor do
investimento equivalente aos lucros, refletida com base no Método da Equiva-
lência Patrimonial ("MEP"), não houve efetiva alteração na materialidade a ser
submetida à tributação pelo IRPJ e a CSLL no BrasiL
Em seguida, passa-se a examinar a questão da compatibilidade das regras de
tributação dos lucros do exterior previstas na Lei nº 12.973/2014 com os acordos
Mestre em Direito Tributário pela Universidade de São Paulo - uSP ("Summa Cum Laude"). Master
ofLaws (LL.M.) em tributação internacional na Universidade de Viena (Wirtschaftsuniversitãt Wien
- WU), Áustria ("Passed with Honours"). Pós-Graduado em Direito Tributário pela Universidade de
São Paulo - USP. Membro do Comitê Acadêmico do Curso de Especialização em Direito Tributário
Internacional do Instituto Brasileiro de Direito Tributário (IBDT). Professor convidado em cursos de>
pós-graduação. Advogado em São Paulo.
2 Master ofLaws (LL.M.) em tributação internacional na Universidade de Viena (Wirtschaftsuniversitãt
Wien - WU), Áustria. Pós-graduação em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP). Pós-graduação em Gestão Tributária pela Fundação Escola de Comércio
Álvares Penteado (FECAP). Graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP). Advogada em São Paulo.
225
Ramon Tomazela Santos
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
4 ROCHA, Sergio Andre. Tributação de Lucros Auferidos no Exterior (Lei nº 12.973/14). São Paulo:
Dialética, 2014, p. 94.
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- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
mesmo que se considere apenas a parcela relativa aos lucros auferidos, sem a
variação cambial e os demais valores eventualmente refletidos no patrimônio
líquido da sociedade controlada7•
Tanto é assim que a Instrução Normativa RFB nº 1520/2014 prevê ex-
pressamente que o resultado auferido no exterior deve ser apurado segundo
as normas da legislação comercial do país de domicílio e antes da tributação
no exterior sobre o lucro. Entretanto, nos casos de inexistência de normas
expressas que regulem a elaboração de demonstrações financeiras no país de
domicílio da filial, sucursal, controlada ou coligada, estas deverão ser elabo-
radas com observância dos princípios contábeis geralmente aceitos, segundo
as normas da legislação brasileira. Note-se que a parte final da regra apenas
determina a elaboração das demonstrações financeiras segundo os critérios
contábeis brasileiros, sem exigir a realização de ajustes fiscais (adições e ex-
clusões) prescritos na lei tributária brasileira.
Outra diferença reside no fato de que o lucro do exterior, a ser computado
na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, será considerado
com base no valor apurado antes do desconto do imposto de renda recolhido no
país de origem. Diversamente, o lucro refletido na investidora por meio do MEP,
na parcela correspondente ao lucro, corresponde ao lucro líquido da sociedade
estrangeira, após o imposto de renda devido no país de origem.
Como se não bastasse, acrescente-se que o MEP não reflete diretamente os
resultados das controladas indiretas, como pretendido pela Lei nº 12.973/2014.
Assim, caso a materialidade tributada realmente fosse o acréscimo patrimonial
refletido na sociedade controladora no Brasil em razão da avaliação de investi-
mentos pelo MEP, é certo que a Lei nº 12.973/2014 não poderia alcançar dire-
tamente ("per saltum") os lucros das controladas indiretas.
Essas considerações mostram que não houve alteração na materialidade a
ser submetida à tributação pelo IRPJ e pela CSLL no BrasiL Os efeitos fiscais
das considerações acima serão retomados na análise dos acordos de bitributa-
ção celebrados pelo Brasil.
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- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
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Ramon Tomazela Santos
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the enterprise carries on business as aforesaid, the profits that are attrib-
utable to the permanent establishment in accordance with the provi-
sions of paragraph 2 may be taxed in that other State.
8 Para uma análise mais detalhada, conferir: BIANCO, João Francisco. "Os lucros das empresas e o art.
7º dos tratados contra a dupla tributação". Estudos Avançados de Direito Trihutdrio. Coord. Roberto
Vasconcellos et a!. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, pp. 129-143.
9 RAAD, Kees van. Cinco regras fundamentais para a aplicação de tratados para evitar a dupla-
tributação. Revista de Direito Tributário Internacional nº 1. São Paulo: Quartier Latin, 2005 p. 204.
10 XAVIER, Alberto. Direito Trihutário Internacional do Brasil. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 567.
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
11 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 380.
12 SCHOUERI, Luís Eduardo. "The Objective Scope of Article 7 and the Treaty Protection to Deemed
Distributed Dividends". Kluwer International Tax Blog.
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Ricardo Lobo Torres13 , Heleno Tôrres14 , João Francisco Biancd 5 , Paulo Ayres
Barretd6, João Dácio Rolim17 , Sergio Andre Rocha1s , André Martins de An-
drade19 , entre inúmeros outros, consideram que o artigo 74 da Medida Pro-
visória nº 2.158-35/2001 era incompatível com o artigo 7º dos acordos de
bitributação celebrados pelo BrasiL Sem dúvida, o mesmo raciocínio pode ser
estendido à Lei nº 12.973/2014, pois, como visto acima, apesar da técnica de
redação utilizada, não houve alteração da materialidade submetida à tributa-
ção, que continua a recair sobre o lucro auferido pela sociedade controlada ou
coligada no exterior.
A maior prova da afirmação acima, relativa à incompatibilidade das regras
brasileiras de tributação dos lucros do exterior, com os acordos de bitributação
celebrados pelo Brasil decorre da análise de sua estrutura lógica.
Os acordos de bitributação seguem uma estrutura lógica, que confirma
a incompatibilidade de regras de tributação automática de lucros não dis-
tribuídos com as disposições convencionais. Essa estrutura lógica pode ser
assim explicada:
13 TORRES, Ricardo Lobo. "IR. A incidência tributária sobre as controladas no estrangeiro (art. 74 da
MP n. 2.158-35/2001) e os tratados internacionais contra a dupla tributação". Estudos & Pareceres de
Direito Tributário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, pp. 29-43.
14 TÔRRES, Heleno Taveira. "Tributação de Controladas e Coligadas no Exterior e seus Desafios
Concretos". Direito Tributário Internacional Aplicado. Volume VI. Coord. Heleno Taveira Tôrres. São
Paulo: Quartier Latin, 2012, pp. 435-436.
15 BIANCO, João Francisco. Transparência Fiscal Internacional. São Paulo: Dialética, 2007, p. 149.
16 BARRETO, Paulo Ayres. "A Tributação, por Empresas Brasileiras, dos Lucros Auferidos no Exterior
por suas Controladas e Coligadas". Grandes Questões Atuais do Direito Tributário. 17º Volume. Coord.
Valdir de Oliveira Rocha. São Paulo: Dialética, 2013, pp. 231-233.
17 ROLIM, João Dácio; MOREIRA, Gilberto Ayres. "Tributação de Lucros Auferidos no Exterior e
Limites Relativos de Normas Antielisivas". Revista de Direito Tributário Internacional n. 3. São Paulo:
Quartier Latin, 2006, pp. 121-122).
18 ROCHA, Sergio Andre. Tributação de Lucros Auferidos no Exterior (Lei nº 12.973/14). São Paulo:
Dialética, 2014, pp. 50-56.
19 ANDRADE, André Martins de. "Por uma Interpretação em Bases Universais conforme a
Constituição". Direito Tributário e Ordem Econômica: Homenagem aos 60 Anos da ABDF. São Paulo:
Quartier Latin, 2010, p. 688.
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
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Andressa Pegoraro
permite a tributação dos dividendos pagos, e com o artigo 23, que não contém
regras de crédito indireto do imposto de renda corporativo. E isso acontece
justamente porque a tributação de lucros não disponibilizados é incompatível
com a estrutura lógica do acordo de bitributação, que pode ser assim resumida:
Artigo Conteúdo
Os lucros auferidos por controladas ou coligadas de empresas
Artigo 7º
brasileiras somente serão tributáveis no seu Estado de residência.
Os dividendos pagos podem sofrer retenção na fonte e ser
Artigo lOº tributados no Brasil quando efetivamente pagos, salvo se
houver cláusula de isenção.
O Estado do beneficiário dos dividendos deve conceder isen-
Artigo 23 ção ou crédito em relação ao IRRF recolhido no Estado da
fonte, de acordo com o método adotado.
21 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 489.
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- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
The paragraph does not limit the right of a Contracting State to tax its
own residents under controlled foreign companies provisions found in
its domestic law even though such tax imposed on these residents may
be computed by reference to the part of the profits of an enterprise that
is resident of the other Contracting State that is attributable to these
resident's participation in that enterprise. (...).
22 SCHOUERI, Luís Eduardo. "Lucros no Exterior e Acordos de Bitributação: Reflexões sobre a Solução
de Consulta Interna nº 18/2013". Revista Dialética de Direito Tributário nº 219. São Paulo: Dialética,
2013, pp. 73-76.
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Andressa Pegoraro
butação não foi concebido para limitar o poder de tributar a ser exercido pelo
Estado da residência em relação aos lucros auferidos por seus próprios residen-
tes, mas, sim, para evitar que o Estado da fonte tribute os lucros auferidos por
empresas localizadas no Estado da residência. A despeito disso, cabe pontuar
que os tratados internacionais valem pelo conteúdo das suas cláusulas conven-
cionais (i.e. vontade refletida objetivamente no texto), independentemente da
intenção original dos redatores da Convenção Modelo da OCDE ou, ainda, dos
membros da Liga das Nações. Assim, mesmo que o ato interpretativo possua,
entre os seus elementos estruturais, um aspecto de natureza histórico-concreta,
o intérprete não pode se arvorar na possibilidade de aplicar o acordo de bitri-
butação buscando apenas o seu conteúdo primitivo, desprezando a evolução da
sociedade e das atividades econômicas. Tanto é assim que o princíPio da máxima
efetividade do acordo de bitributação ("ut res magis valeat quam pereat"), consa-
grado na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados23 , recomenda que
as disposições convencionais sejam interpretadas de maneira concreta ao longo
do tempo, de forma a permitir que novos fenômenos da realidade social sejam
abrangidos pelo pacto convencional na medida de sua compatibilidade com a
redação da respectiva cláusula24 •
Em segundo lugar, deve-se ressaltar que a OCDE discorre, no parágrafo
23 dos Comentários ao artigo 1Q da Convenção Modelo, a respeito das re-
gras de CFC utilizadas como instrumento para proteger as bases tributáveis
e evitar o uso de sociedades base ("base companies"), como se pode verificar
da seguinte passagem:
23 ENGELEN, Frank. Interpretation of Tax Treaties under International Law. Doetoral Series. Volume 7.
Amsterdam: IBFD, 2004, pp. 503-505.
24 DE BROE, Lue. International Tax Planning and Prevention of Abuse. Doetoral Series. Volume 14.
Amsterdam: IBFD, 2008, pp. 505-506.
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- A Questão da Classificação dos Rendimentos fictos
25 Foi o que decidiu a Corte Europeia de Justiça no julgamento do caso Cadbury Schweppes case (C-
196/04): "It follows that, in order to a restriction on the freedom of establishment to be justified on the
ground of prevention of abusive practices, the specific objective of such a restriction must be to prevent
conduct involving the creation of wholly artificial arrangements which do not reflect economic reality (...l".
(Cadbury Schweppes, C-196/04, EU:C:2006:544, para. 51).
26 SANDLER, Daniel. Tax Treaties and Controlled Foreign Company Legislation. The Netherlands:
Kluwer, 1998. p. 220.
239
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27 Em caráter geral, pode-se dizer que o regime de consolidação foi concebido para atenuar os efeitos da
tributação individualizada e direta dos lucros auferidos por controladas diretas e indiretas no exterior.
Isso porque, ao prever a tributação direta ("per saltum") das controladas indiretas, a Lei nº 12.973/2014
passou a permitir que uma sociedade brasileira, que não auferiu resultado positivo em suas operações
internacionais, seja obrigada a pagar IRPJ e CSLL sobre resultados isolados de sociedades controladas
indiretas lucrativas. No regime anterior, os lucros das controladas indiretas seriam consolidados na
controlada direta e absorvidos por eventuais prejuízos apurados no exterior. No novo regime, como
as controladas indiretas passaram a ser alcançadas diretamente, a pessoa jurídica no Brasil passa a ser
obrigada a recolher IRPJ e CSLL sobre lucros que, economicamente, foram absorvidos por resultados
negativos apurados em degraus superiores da cadeia vertical de investimento.
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
nos itens II e III acima; (v) tenham renda ativa própria inferior a 80% (oitenta
por cento) da renda total.
Assim, a sociedade controladora no Brasil poderá consolidar os resul-
tados auferidos pelas controladas diretas e indiretas no exterior, salvo em
relação às sociedades investidas que se encontrem em uma das situações
examinadas acima.
Note-se que os mesmos critérios mencionados são utilizados para o regime
de postergação de pagamento previsto no artigo 90 da Lei nº 12.973/2014. Além
disso, os critérios listados nos itens (ii), (iii) e (iv) acima são utilizados no artigo
81 da Lei nº 12.973/2014 como condição para que os lucros auferidos por inter-
médio de coligada domiciliada no exterior sejam computados na determinação
do lucro real e da base de cálculo da CSLL no balanço de dia 31 de dezembro
do ano-calendário em que tiverem sido disponibilizados para a pessoa jurídica
domiciliada no Brasil.
Apesar disso, é oportuno esclarecer que o regime de consolidação, de pos-
tergação de pagamento e de tributação das sociedades coligadas no momento
da disponibilização do lucro introduzidos pela Lei nº 12.973/2014, com base
em critérios típicos de regras de CFC, não alinharam o regime brasileiro de
tributação dos lucros do exterior com as regras internacionais. Na verdade,
tais critérios foram utilizados pelo legislador apenas para excluir determina-
das entidades no exterior de regimes especiais de tributação, mas não como
requisitos para identificar as sociedades no exterior sujeitas, ou não, à tribu-
tação em bases universais. Logo, não se pode dizer que, após a edição da Lei
nº 12.973/2014, as regras brasileiras de tributação dos lucros do exterior estão
alinhadas à pratica internaciona1 28 •
Não se quer, com isso, dizer que a Lei nº 12.973/2014 não é considerada
uma autêntica regra de CFC para todos os fins, pois a própria OCDE, na Ação
3 do Projeto BEPS, menciona que os Estados também podem aplicar regras de
28 No mesmo sentido, confira-se o entendimento de Alberto Xavier: "A expressão 'regras CFC' faz alusão a
um tiPo específico de normas antiabuso que pressupõe para a sua aplicação que a controlada estrangeira esteja
domiciliada em país de tributação favorecida e/ou aufira apenas rendas passivas. A lei brasileira, contudo,
não se enquadra no conceito de regras CFC justamente porque se aplica a toda e qualquer controlada e
coligada estrangeira, independentemente do país de seu domicílio ou da origem de seus rendimentos. A Lei
n. 12.973/2014 (tal como as leis anteriormente vigentes) também se aplica a toda e qualquer controlada ou
coligada, sujeitas a tributação automática, utilizando critérios de localização da empresa ou da natureza de
atividade apenas para efetuar restrições à concessão de regimes mais favoráveis. (XAVIER, Alberto. Direito
Tributário Internacional do Brasil. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 494).
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Ramon Tomazela Santos
Andressa Pegoraro
29 Veja-se: "Jurisdictions could also apply a full inclusion system, which would target income raising BEPS
concerns by treating ali income earned by a CFC as CFC income regardless of its character. Full-inclusion
systems also aim to prevent long-term deferral of taxation, which is relevant in the context of worldwide tax
systems". (OECD. Designing Effective Controlled Foreign Company Rules, Action 3 - 2015 Final Report.
OECD: Paris, 2015. p. 11).
30 AVI-YONAH, Reuven S. "Back to the Future? The Potential Revival of Territoriality". Bulletin for
International Taxation. Volume 62. No. 10. Amsterdam: IBFD, 2008, pp. 471-474.
242
A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
Por fim, ressalte-se que a própria OCDE propôs, na Ação 6 do Projeto BEPS,
a inclusão de um parágrafo 3º no artigo lº dos acordos de tributação, para per-
mitir a aplicação de regras de CFC e de tributação em caso de mudança de resi-
dência ("exit taxes"). A regra proposta pela OCDE tem a seguinte redação: "This
Convention shall not affect the taxation, by a Contracting State, of its residents
except with respect to the benefits granted under paragraph 3 of Article 7, paragraph
2 of Article 9 and Articles 19, 20, 23, 24, 25 and 28" 31. A cláusula de salvaguar-
da proposta pela OCDE poderá vir a ser incluída nos acordos de bitributação
celebrados pelo Brasil por meio do tratado multilateral a ser desenvolvimento
no âmbito da ação 15 do Projeto BEPS. Porém, enquanto não houver cláusula
convencional expressa, essa disposição não pode ser incluída nos acordos de bi-
tributação celebrados pelo Brasil via interpretação, pois, do contrário, não seria
necessário incluir previsão expressa.
Isso é assim porque o que importa, para efeito de interpretação, não é a
intenção subjetiva dos Estados contratantes, mas, sim, a vontade refletida obje-
tivamente no texto das cláusulas convencionais, que passa a ser absolutamente
relevante para a sua interpretação.
Neste sentido, vale relembrar a lição da Corte Federal da Austrália no caso
Commissioner of Taxation v. Lamesa Holdings B\1, julgado em 20 de agosto de
1997, no qual se afirmou que o texto do acordo de bitributação sempre deve ter
primazia, sendo ele o ponto de partida para o processo de interpretação, não a
intenção dos Estados contratantes. Veja-se:
The text of the treaty, being the starting point in any investigation as
to the meaning of the text, necessarily has primacy in the interpreta-
tion process (... ). The starting point of interpretation is the elucidation
of the meaning of the text, not an investigation ab initio into the intentions
of the parties.
31 OECD. Preventing the Granting ofTreaty Benefits in Inappropriate Circumstances. Action 14: 2015 Final
Report. Paris: OECD, 2015, p. 86.
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Andressa Pegoraro
32 COELHO, Inocêncio Mártires Coelho. Interpretação Constitucional. 4ª Edição. São Paulo: Saraiva,
2011, pp. 89; 103.
33 Confira-se: "23 (5) Os lucros não distribuídos de uma sociedade anônima de um Estado Contratante
cujo capital pertencer ou for controlado, total ou parcialmente, direta ou indiretamente, por um ou mais
residentes de outro Estado Contratante não são tributáveis no último Estado".
34 Veja-se: "23 (5) Os lucros não distribuídos de uma sociedade de um Estado Contratante, cujo caPital
pertencer ou for controlado total ou parcialmente, direta ou indiretamente, por um ou mais residentes do
outro Estado Contratante, não serão tributáveis nesse último Estado".
35 Vide item 32 da Solução de Consulta Interna: "É importante destacar contudo que, quando um Estado
Contratante opta por abrir mão de tributar o seu próprio residente, ele o faz expressamente nos acordos,
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bifributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
Por tais razões, o uso de acordos de bitributação paralelos ("parallel tax tre-
aties") como elemento de interpretação para a discussão relativa à compatibi-
como se verifica em algumas convenções internacionais assinadas pelo Brasil, a exemplo dos tratados
celebrados com a Dinamarca (Decreto nº 75.106, de 20 de dezembro de 1974.) e com as Repúblicas Tcheca
e Eslovaca (Decreto nº 43, de 25 de fevereiro de 1991), em que foi estabelecida cláusula mediante a qual não
são tributáveis os lucros não distribuídos".
36 Especificamente o trecho: "The paragraph does not limit the right of a Contracting State to tax its own
residents under controlled foreign companies provisions found in its domestic law (.. .)".
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Ramon Tomazela Santos
Andressa Pegoraro
lidade das regras de CFC deve ser feito com extrema cautela, pois contraria o
efeito relativo dos tratados internacionais, que representam as longas tratativas
entre dois Estados.
Como o acordo de bitributação é fruto de um processo de negociação duro
e prolongado, que envolve concessões recíprocas, cujo resultado circunscreve
o exercício da jurisdição tributária pelos países contratantes37 , Philip Baker
aponta que a alteração da redação de uma cláusula convencional específica
ou mesmo a ausência de determinada cláusula convencional em um tratado
internacional posterior, não necessariamente explica o conteúdo ou a intenção
dos Estados contratantes em outros acordos de bitributação. Eventualmente, a
sucessão de cláusulas convencionais em diversos acordos de bitributação pode
evidenciar a evolução da posição dos negociadores de determinado Estado, mas,
em caráter geral, não se pode atribuir um grande valor interpretativo para os
acordos de bitributação paralelos38 •
Ademais, cabe destacar que as "cláusulas de incompatibilidade" não se limi-
tam a esclarecer ou elucidar o mesmo núcleo material protegido pelo artigo 7º
dos acordos de bitributação. Na verdade, a grande inovação trazida pelas "cláu-
sulas de incompatibilidade" reside na proteção das controladas indiretas, que não
estão cobertas pelo artigo 7º dos acordos de bitributaçã039• É o que se depreende
da simples leitura do texto convencional em questão: "Os lucros não distribuídos
de uma sociedade anônima de um Estado Contratante cujo capital pertencer ou for
controlado, total ou parcialmente, direta ou indiretamente, por um ou mais residen-
tes de outro Estado Contratante não são tributáveis no último Estado".
Em reforço às considerações acima, acrescente-se que, se for para fazer uso
dos acordos de bitributação paralelos, também existe a chamada "cláusula de
37 VOGEL, Klaus; RUST, Alexander. "Introduction". in: VOGEL, Klaus. Klaus Vogel on Double Taxation
Conventions. Coord. Ekkehart Reimer e Alexander Rust. 4ª Edição. Alphen aan den Rijn: Kluwer
Law International, 2015, p. 52, m.no. 114.
38 Nas palavras de Philip Baker: "(. ..) it is doubtful, however, if parallel treaties prove very much. If a
provision appears in a revised form in a later treaty, or is left out of a later treaty, for example, this does not
necessarily explain much about the provision in the earlier treaty. Occasionally, a succession of provisions
in consecutive treaties may display the development of an approach by the negotiators of one country. There
is no reason why parallel treaties should not be referred to, but their value as aids to interpretation will
generally be low". (BAKER, Philip. Double Taxation Conventions - A Manual on the OECD Model Tax
Convention on Income and on CaPital. London: Sweet & Maxwell, 2007, p. E-32),
39 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
p.485.
246
A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
Como se pode notar, essa cláusula convencional permite que o Brasil tri-
bute o lucro auferido no México mediante a aplicação da legislação interna de
CPC, independentemente das disposições do acordo de bitributação entre os
Estados 40 • Assim, a "saving clause" assegura aos países o direito de tributar seus
próprios residentes, ainda que em relação a lucros auferidos por meio de socie-
dades controladas no exterior.
Com tais anotações, percebe-se que, se for para recorrer aos "parallel tax
treaties" como elemento de interpretação, como parece ter pretendido a COSIT,
o acordo de bitributação celebrado entre o Brasil e o México pode ser utilizado
para rebater o argumento do Fisco no sentido de que, nos acordos de bitribu-
tação sem "cláusula de incompatibilidade", há permissão para a tributação dos
lucros não distribuídos.
Pelo exposto, conclui-se que, embora o recurso aos "parallel tax treaties"
não possa ser descartado, o seu valor como elemento de interpretação é bastante
baixo para a discussão relativa à compatibilidade das regras de CPC com os
acordos de bitributação.
40 Vale relembrar que há discussão sobre a caracterização do artigo 74 da Medida Provisória no. 2.158-
01/2001 como uma autêntica regra anti-diferimento para efeito de seu enquadramento na "cláusula de
salvaguarda" ("saving clause") do acordo de bitributação celebrado entre o Brasil e o México, sobretudo
em razão da sua hipótese normativa ampla, que não alcançava apenas a renda passiva diferida por
meio de sociedades controladas localizadas em jurisdições de baixa tributação. O mesmo problema
pode surgir em relação à Lei nº 12.973/2014, como apontado nas linhas acima.
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Ramon Tomazela Santos
Andressa Pegoraro
41 Veja-se: "23 (2), Os dividendos pagos por uma sociedade residente da Áustria a uma sociedade residente do
Brasil que possua no mínimo 25% das ações do capital da sociedade que paga os dividendos serão isentos do
imposto de sociedade no Brasil",
42 Veja-se: "23 (2), Os dividendos pagos por uma sociedade residente da Argentina a uma sociedade residente
do Brasil detentora de mais de 10 por cento do caPital da sociedade pagadora, que sejam tributáveis na
Argentina de acordo com as disposições da presente Convenção, estarão isentos do imposto no Brasil",
43 Veja-se: "23 (2), Os dividendos pagos por sociedade residente de um Estado Contratante a uma sociedade
residente do outro Estado Contratante detentora de mais de 10 por cento do capital da sociedade pagadora,
que são tributáveis no primeiro Estado Contratante de acordo com as disposições da presente Convenção,
serão isentos de imposto no outro Estado Contratante",
44 Veja-se: "23 (4), Quando um residente do Brasil receber dividendos que de acordo com as disposições da
presente Convenção sejam tributáveis na Espanha, o Brasil isentará de imposto esses dividendos",
45 Veja-se: "23 (3), Quando uma sociedade residente de um Estado Contratante receber dividendos que, de
acordo com o disposto no parágrafo 2 do Artigo 10, são tributáveis no outro Estado contratante, o primeiro
Estado mencionado isentará de imposto esses dividendos",
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.97312014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
46 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Forense,
2015. p. 483.
47 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Forense,
2015. p. 484.
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48 SHELTON, Ned. Interpretation andApplication ofTax Treaties. London: LexisNexis, 2004, p. 374.
49 SHELTON, Ned. Interpretation and Application ofTax Treaties. London: LexisNexis, 2004, p. 374.
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
50 SHELTON, Ned. Interpretation and Application ofTax Treaties. London: LexisNexis, 2004, p. 374.
51 WATTEL, Peter; MARRES, Otto. "Characterization of fictitious income under OECD-patterned
tax treaties". European Taxation. Volume 43. No. 3. Amsterdam: IBFD, 2003, pp. 66-79.
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
optaram pela classificação dos rendimentos fictícios nas regras distributivas dos
artigos 6º a 20 ou no campo residual do artigo 21, de modo que os métodos
usuais de interpretação deverão ser usados para a determinação da cláusula
convencional aplicável, sem a adoção de qualquer solução apriorística; (ii) ain-
da que as leis domésticas dos dois Estados contratantes apresentem regras simi-
lares de tributação de rendimentos fictícios no exercício fiscal em questão, não
se pode assumir que as alterações legislativas, ainda que recíprocas, tiveram o
objetivo de influenciar na alocação de rendimentos no acordo de bitributação
celebrado entre os dois Estados contratantes; (iii) por fim, a decisão em proce-
dimento amigável geralmente resulta de negociação entre as autoridades fiscais
dos dois Estados contratantes, sem possuir legitimidade democrática para al-
terar a classificação de rendimentos no acordo de bitributação, ao passo que o
documento conjunto redigido pelo dois Estados contratantes, para que tenha
validade jurídica, deverá ser submetido à aprovação pelo Congresso Nacional,
como ocorre com qualquer alteração do texto convencionaps.
Sem dúvida, assiste razão ao professor Michael Lang. O conceito de ren-
da adotado pela lei interna por cada Estado constitui uma criação jurídica, de
modo que não faz sentido pretender distinguir a renda real da renda ficta.
O conceito de renda não engloba apenas valores que representam um autên-
tico fluxo financeiro ou monetário. Ao contrário, a evolução histórica mostra
que, sob o ponto de vista teórico, o bem-estar do contribuinte é considerado
o parâmetro mais adequado para a tributação da renda. Kevin Holmes relata
que o conceito de renda psíquica parte de noções abstratas e subjetivas como
satisfação e utilidade. No plano teórico, a renda psíquica representa o fluxo de
satisfações que os indivíduos obtêm do consumo de bens e serviços na socie-
dade s6 . Entretanto, é extremamente difícil mensurar com precisão o grau de
bem estar individual, uma vez que essa avaliação depende de fatores que não
comportam uma exata quantificação, como a felicidade e a própria concepção
individual de bem-estar. Não há uma escala numérica que permita a quantifi-
cação da sensação de bem-estar, bem como a sua comparação com a satisfação
55 LANG, Michael. "Fictitious Income and Tax Treaties". A Tax Globalist - The Search for the Borders of
International Taxation - Essays in Honour ofMaarten]. Ellis. Amsterdam: IBFD, 2005, pp. 37-43.
56 HOLMES, Kevin. The concept of income. A MuIti-disciplinary analysis. Netherlands: IBFD, 2000, p. 36-37.
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Andressa Pegoraro
57 CHANCELLOR, Thomas. "Imputed Income and the Ideal Income Tax". Federal Income Tax
Anthology. Coord. Paul L. Caron et al. Cincinnati, Ohio: Anderson Publishing Co., 2003, pp. 142-149.
58 CHANCELLOR, Thomas. "Imputed Income and the Ideal Income Tax". Federal Income Tax
Anthology. Coord. Paul L. Caron et al. Cincinnati, Ohio: Anderson Publishing Co., 2003, pp. 142-149.
59 Veja-se: ''Art. 23. Serão classificados como aluguéis ou "royalties" todas as esPécies de rendimentos
percebidos pela ocupação, uso, fruição ou exploração dos bens e direitos referidos nos artigos 21 e 22, tais
como: (.. .) VI - o valor locativo do prédio urbano construido, quando cedido seu uso gratuitamente".
60 GUTIERREZ, Miguel Delgado. "Da Renda Imputada". Revista Direito Tributário Atual n. 23. São
Paulo: IBDT / Dialética, 2009, pp. 356 e 365.
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A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
61 Esse entendimento foi manifestado pelo CARF nos Acórdãos nº 1302-001.630, de 04 de fevereiro de
2015; nº 1302-001.629, de 04 de fevereiro de 2015; nº 1102-001.247, de 25 de novembro de 2014; nº
1103-001-122, de 23 de setembro de 2014; nº 1402-001.713, de 03 de junho de 2014; nº 1402-001.024,
de 06 de maio de 2014; nº 1402-00.391, de 27 de janeiro de 2011; nº 1101-00.365, de 10 de novembro
de 2010; nº 1102-00.059 de 29 de setembro de 2009; nº 101-97.020, de 13 de novembro de 2008; nº
105- 17.382, de 04 de fevereiro de 2009; nº 101-95.497, de 27 de abril de 2006; nº 101-95.500, de 27
de abril de 2006; nº 101-95.476, de 26 de abril de 2006; nº 108-08.765, de 23 de março de 2006; nº
107-07532, de 18 de fevereiro de 2004, entre tantos outros.
62 Sobre o tema, conferir: TAKATA, Marcos Shigueo. "Lucros no Exterior, Equivalência e Tributação
da 'Parcela do Ajuste do Valor do Investimento' à luz dos Acordos de Bitributação Brasileiros".
Controvérsias Jurídico-Contábeis (Aproximações e Distanciamentos). 6º Volume. Coord. Roberto
Quiroga Mosquera e Alexsandro Broedel Lopes. São Paulo: Dialética, 2015, pp. 334-374.
255
Ramon Tomazela Santos
Andressa Pegoraro
7. Conclusões
Diante das considerações feitas no presente estudo, é possível firmar as se-
guintes conclusões:
.. não houve qualquer alteração na materialidade do fato econômico sub-
metido à tributação pelo IRPJ e pela CSLL no novo regime de tributação
em base universais. A "parcela do ajuste do valor do investimento equi-
valente aos lucros" nada mais é do que os próprios lucros auferidos pelas
sociedades controladas no exterior (diretas ou indiretas);
lO os acordos de bitributação seguem uma estrutura lógica, que confirma
a incompatibilidade de regras de tributação automática de lucros não
distribuídos com as disposições convencionais. A tributação automática
dos lucros do exterior inverte e viola essa estrutura lógica porque a tribu-
tação automática de lucros não distribuídos e a tributação posterior dos
dividendos distribuídos acarretaria uma dupla tributação não protegida
pelo acordo de bitributação, pois não há nenhuma disposição conven-
cional que impeça a tributação dos lucros distribuídos, que tenham sido
previamente tributados via ficção jurídica;
" o uso de acordos de bitributação paralelos, como elemento de interpreta-
ção para a discussão relativa à compatibilidade das regras de CFC, deve
ser feito com extrema cautela, pois contraria o efeito relativo dos tratados
internacionais, que representam as longas tratativas entre dois Estados;
256
A Tributação dos Lucros do Exterior na Lei Nº 12.973/2014 e os Acordos de Bitributação
- A Questão da Classificação dos Rendimentos Fictos
.. o conceito de renda adotado pela lei interna por cada Estado constitui
uma criação jurídica, de modo que não faz sentido pretender distinguir a
renda real da renda ficta para efeito de classificação dos rendimentos nas
regras distributivas dos acordos de bitributaçãoj
.. independentemente da discussão acerca da compatibilidade da tributa-
ção automática de lucros do exterior com o artigo 7º dos acordos de
bitributação, não há como pretender tributar os lucros de sociedades do-
miciliadas na Áustria, Argentina, Equador, Espanha e Índia, pois o Bra-
sil assumiu o compromisso de não tributar os dividendos distribuídos, o
que afasta a possibilidade de cobrança de imposto de renda sobre o lucro
auferido pela sociedade antes da sua distribuição aos sócios, bem como
sobre os dividendos efetivamente distribuídos.
257
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no
Exterior. Diferentes Perspectivas, uma Conclusão:
Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
Bruno Fajersztajn1
1. Introdução
Em 1995, quando o Brasil passou a adotar a universalidade como critério
para a tributação da renda das pessoas jurídicas2 , o art. 25, parágrafo 5º, da Lei
n. 9249, de 26.12.1995, passou a prever que os prejuízos e as perdas apuradas no
exterior não podem ser deduzidos dos lucros apurados no BrasiP.
Uma análise superficial da validade de norma em questão poderia levar à
conclusão de que esta teria sido uma opção do legislador nacional, adotada no
âmbito de sua liberdade para regular a incidência do imposto de renda no Brasil.
Tratar-se-ia de mais uma norma regulando a base de cálculo desse imposto.
Contudo, uma análise mais detida do dispositivo revela não haver qualquer
fundamento para uma disposição nesse sentido. É justamente o que se pretende
comprovar no presente estudo.
O tema da limitação à dedução de perdas e prejuízos apurados no exterior,
para fins de apuração do lucro real tributável no Brasil, tem como pano de fun-
do os limites que possui o legislador para regular a base de cálculo do imposto
sobre renda. No presente estudo, propõe-se a analisar se a vedação em questão
possui fundamento na Constituição Federal, notadamente, se ela está em sinto-
nia com: (i) o conceito de renda; (ii) o princípio da universalidade; e (iii) os de-
mais princípios constitucionais que vinculam a atuação do legislador ordinário.
259
Bruno Fajersztajn
260
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
4 Os lucros auferidos por no exterior, na sistemática legal em vigor, são apenas mais um elemento na
apuração da base de cálculo do imposto. Se a base de cálculo estiver negativa no período (prejuízo
no Brasil), os lucros no exterior reduzem o saldo de prejuízos existentes. Se houver lucro no Brasil,
aumenta-se a base de cálculo do imposto por meio da adição dos lucros no exterior, sendo possível,
inclusive, a compensação de prejuízos fiscais apurados em períodos anteriores, com a limitação de
30%, prevista na legislação.
5 A Instrução Normativa SRF n. 213, de 8.10.2002, reconheceu tal fato no seu art. 4Q, parágrafo 2Q, ao
permitir que os prejuízos apurados por filiais, sucursais, controladas ou coligadas, sejam compensados
com os lucros posteriores apurados pelas mesmas entidades. A referida instrução normativa limitou
essa compensação aos lucros apurados pela própria entidade ou por outras, desde que filiais ou
sucursais e situadas em um mesmo país. Essa questão merece estudo específico, que não cabe neste
trabalho, bastando no presente momento pontuar que a Receita Federal sempre reconheceu que os
prejuízos apurados no exterior podem ser compensados com lucros também apurados fora do país,
confirmando, ao menos em parte, a interpretação por nós assumida.
6 OB. cito p. 67.
261
Bruno Fajersztajn
262
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
7 Vale destacar que o presente estudo não abordará a questão da compensação de prejuízos apurados
em períodos anteriores, ou a limitação de 30% prevista na legislação, pois não se pretende discutir a
questão da periodicidade do imposto de renda, tema este que comporta outro ensaio, específico. No
presente trabalho, serão levadas em consideração questões afetas ao parágrafo 5º do art. 25, que veda
a dedução de prejuízos e perdas no exterior apurados inclusive no próprio período de apuração.
263
Bruno Fajersztajn
264
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
12 Como por exemplo no caso de despesas totalmente contrárias ao interesse da empresa, como os juros
de financiamento de um automóvel utilizado pela esposa do dono da empresa (exemplo nosso), ou no
caso das provisões, que são despesas ainda não definitivamente incorridas. Vide, na obra citada do
autor, comentários a esse respeito na p. 410.
265
Bruno Fajersztajn
13 Isso não significa que o autor também não admita que algumas despesas devam ser sempre
deduzidas, a fim de se respeitar o mínimo existencial, além de outras que estejam vinculadas com o
tipo renda, previsto na Constituição Federal. Por outro lado, como Schoueri admite o efeito indutor
das normas tributárias, nada impediria que algumas despesas fossem consideradas indedutíveis com
o objetivo de incentivar ou coibir determinadas condutas, desde que a norma com tal viés encontre
fundamento nos demais princípios constitucionais, como a igualdade, e outros que permeiam a
ordem social ou econômica.
266
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
267
Bruno Fajersztajn
"Para o exame das questões postas neste recurso, creio ser suficiente
considerar quatro aspectos para a definição da base de cálculo possível
do imposto sobre a renda: (i) acréscimo patrimonial resultante do côm-
puto de certos (ii) ingressos e de certas (iii) saídas, ao longo de um dado
(iv) período de tempo".
268
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
se pretende discutir neste tudo. De toda sorte, o STF reconheceu ter havido
ofensa aos limites constitucionais à competência para a tributação da renda.
Em suma, a evolução dos precedentes do STF, embora não permita definir
com precisão um conceito de renda, permite inferir que a jurisprudência da
referida Corte encaminha-se no sentido de entender que não há um conceito
ontológico na Constituição, mas que, por outro lado, existem parâmetros que
traçam o perfil do imposto de renda na Constituição e que tais parâmetros de-
vem ser seguidos pelo legislador.
Feitas essas considerações sobre a posição doutrinária e jurisprudência, cabe
destacar que, em nossa opinião, a posição que se afigura mais consentânea com
o sistema tributário nacional é aquela que vê na Constituição os principais tra-
ços do fato gerador do imposto de renda.
Mesmo que se discuta, pelo aspecto doutrinário, se há um conceito de ren-
da na Constituição, dado que, de fato, existe alguma indeterminação no texto
constitucional, é certo que o art. 153 e seus parágrafos conduzem à ideia de
acréscimo patrimonial.
Ademais, não se deve perder de vista que, em nosso sistema, por questões
históricas e políticas, o constituinte optou por um regime analítico de nor-
mas, que pode ser visto como protecionista dos direitos do contribuinte, o que
resultou em uma rígida distribuição de competências tributárias. Essa rígida
distribuição de competências indica ter nosso constituinte buscado delimitar o
exercício da competência pelos entes da federação, estabelecendo uma série de
diretrizes e limites para fins de tributação.
Ainda que o art. 153 da Constituição Federal não tenha traçado esse con-
ceito de forma precisa, o fato é que, a partir do trabalho arguto de interpretação
desenvolvido pela doutrina acima citada, os principais contornos da materiali-
dade do imposto de renda estão na Constituição.
Seja ou não um conceito, o fato é que o art. 153 somente permite a tribu-
tação daquilo que corresponder a acréscimo patrimonial, apurado a partir de
todos os fatores positivos e negativos que nele possam repercutir em um deter-
minado período de tempo.
Tal conclusão conduz à assertiva de que a negativa à dedutibilidade de perdas e
prejuízos incorridos no exterior contraria a Constituição Federal.
Mas, considerando que é visão não é unânime na doutrina, é válido tecer
considerações adicionais, a fim de se mostrar que a regra do art. 25, parágrafo
269
Bruno Fajersztajn
5º, não se sustenta, ainda que se supere a questão do conceito de renda como
acréscimo patrimonial.
270
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uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
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Bruno Fajersztajn
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Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
16 Com a introdução do padrão IFRS, a partir da Lei n. 11638/07, as diferenças de critérios contábeis
foi sensivelmente reduzida, mas ainda há diferenças que poderiam causar dificuldade para o controle.
Nos Estados Unidos, por exemplo, não se adota o padrão IFRS.
273
Bruno Fajersztajn
17 Tais medidas burocráticas não são defendidas no presente estudo, eis que, na realidade, elas apenas
tornam mais complicado e custoso o sistema tributário. Medidas mais eficientes certamente existem
para facilitar o controle, embora não seja esse o espaço para a discussão do tema. O exemplo da
consularização e tradução apenas se presta a evidenciar que existem meios de controle, sendo
despropositada a simples vedação à dedutibilidade dos prejuízos e perdas.
274
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
18 Vide excelente resumo das visões a respeito do tema em ROCHA, Paulo Vitor Vieira da. Substituição
Tributária e Proporcionalidade. São Paulo: Dialética, 2012. p. 112-156. Confiram-se também
considerações claras e objetivas a respeito do princípio da proporcionalidade em BIANCO, João
Francisco. Transparência Fiscal Internacional. São Paulo: Dialética, 2005, p. 81.
275
Bruno Fajersztajn
19 Vide www.bndes.gov.br
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Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
20 O princípio da territorialidade, na verdade, tem uma acepção mais ampla, contemplando a ideia de
que a tributação de um fato ocorrido fora do território de um Estado somente pode ocorrer se estiver
presente algum elemento de conexão.
277
Bruno Fajersztajn
1997, pela Lei n. 9532, em 2001, pela Medida Provisória n. 2158, e em 2014, pela
Lei n. 1297321, essa peculiaridade, segundo a qual os resultados positivos estão
sujeitos à universalidade, mas os resultados negativos estão sujeitos à territoria-
lidade, permanece no sistema brasileiro.
Ora, por uma simples questão de coerência com a sistemática de tributação
escolhida pelo legislador, que adotou o princípio da universalidade, já seria de
rigor a permissão da compensação de prejuízos ou perdas.
Não parece haver sentido em se adotar a universalidade para fins de tributar os
lucros, rendimentos e ganhos e, por outro lado, se adotar a territorialidade para os
prejuízos e perdas. É incoerente.
Nesse contexto, se adotou a universalidade como critério para a tributação
das rendas auferidas por empresas brasileiras, deveria o legislador ter adotado
tal critério de forma consistente, "até o fim", permitindo a compensação dos
prejuízos e perdas apurados no exterior.
Esse aspecto, ainda que teórico, é de extrema relevância e não pode ser
desconsiderado. Em um Estado de Direito, como é o brasileiro, o legislador
não é totalmente livre, devendo prestigiar a igualdade e os demais princípios
constitucionais.
A necessidade de coerência do legislador não é questão de moral, apenas. É um
preceito decorrente do Estado de Direito, como sustentaram Luís Eduardo Schoueri
(SCHOUERI, 2005, p. 373-374). e Humberto Ávila (ÁVILA, 2007, p. 175-183),
citando, respectivamente, Claus Tipke e Paul Kirchhof
A partir do princípio da igualdade, a doutrina alemã constrói a necessidade
de o legislador tributário ser coerente, de tal sorte que, uma vez adotando cer-
tas decisões valorativas, ele deve mantê-las para todos os efeitos, sob pena de
cometer abuso de seu poder discricionário de legislar.
Ávila aplicou o postulado do legislador coerente ao defender a não cumu-
latividade plena das contribuições ao PIS e COFINS. Segundo o autor, sem
entrar no mérito da existência ou não de um mandamento constitucional que
21 A lei de 2014 autorizou com prazo até 2022, a consolidação de resultados de controladas, o que
representa uma autorização parcial de compensação de prejuízos e perdas. Mas a consolidação não
permitida em muitas situações e além disso o resultado negativo decorrente da consolidação não
reduz o valor do imposto a pagar no Brasil, pois não está previsto, no texto da lei, a possibilidade de
exclusão do lucro líquido, para efeito de apuração do lucro real, do resultado negativo decorrente da
consolidação. Trata-se então de solução parcial, além de temporária.
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Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
determine a não cumulatividade das contribuições, o fato é que, uma vez sendo
ela adotada pelo legislador ordinário, esta deve ser plena, sendo permitida a de-
dução de todo e qualquer gasto necessário à obtenção de receitas. Nas palavras
do próprio Humbeto Ávila, manifestadas de forma didática e bem humorada
que lhe são peculiares, em palestra de abertura do 38ª Simpósio Nacional de
Direito Tributário, ministrada em 29.11.2013, no CEU-I1CS, Escola de Direito,
o legislador deve seguir a máxima do "ajoelhou tem que rezar".
Schoueri valeu-se do postulado do le-gislador coerente ao criticar justamente
a tributação de lucros apurados no exterior, destacando que é mandatório o
reconhecimento da dedutibilidade das perdas incorridas no exterior por uma
questão de coerência com a escolha, feita pelo legislador brasileiro, de adotar o
princípio da universalidade.
De fato, no caso dos prejuízos, a incoerência está em admitir que os lu-
cros auferidos por intermédio de filiais, sucursais, controladas e coligadas
são tributados, antes mesmo de disponibilizados, como se fossem resultados
próprios da investidora e não fazer o mesmo com os prejuízos, isto é, não
considerá-los despesas próprias e dedutíveis. Pessoas jurídicas que investem
no exterior estão sendo desprestigiadas em detrimento de outras, que pos-
suem suas perdas dedutíveis.
Inconstitucional, portanto, a regra do art. 25, parágrafo 5º, da Lei n. 9249.
A incoerência do legislador, tratada neste tópico, também foi notada por Ri-
cardo Mariz de Oliveira (OLIVEIRA, 2003, p. 26). O autor analisou a questão
da vedação à compensação de prejuízos na perspectiva da tributação ficta de
lucros, prevista no art. 74 da MP n. 2158, destacando haver violação ao prin-
cípio da razoabilidade. Segundo seus apontamentos, o legislador, de um lado,
prevê a tributação de lucros de controladas antes de qualquer ato que implique
a sua disponibilização, desconsiderando a personalidade jurídica das controla-
das, para tributar os respectivos lucros como se da controladora fossem, mas,
de outra parte, o mesmo legislador mantém a segregação de patrimônios ao
vedar compensação dos prejuízos quando apurados em balanços de empresas
investidas no exterior.
Embora sob o viés do princípio da razoabilidade, a manifestação do referido
autor converge com os apontamentos do presente estudo, na medida em que
se reconhece que a legislação adotou dois pesos e duas medidas ao tratar dos
lucros e prejuízos apurados no exterior.
279
Bruno Fajersztajn
7. Conclusão
A questão da vedação à dedução de prejuízos e perdas no exterior pode ser
analisada sob diversos ângulos e perspectivas.
Admitindo-se a existência de um conceito constitucional de renda,
e que dele resulta a obrigatoriedade de se autorizar a dedução de toda e
qualquer despesa necessária à manutenção da fonte produtora, conclui-se
que a norma do art. 25, parágrafo 5º, da Lei n. 9249, não possui funda-
mento de validade.
Por outro lado, a mesma conclusão pode ser obtida quando se adota o
entendimento de que o princípio da universalidade, previsto no parágrafo
2º, inciso I, do art. 153, da Constituição, impõe (ou pelo menos induz)
a necessidade de que todos os fatores que reduzem o patrimônio sejam
levados em consideração na apuração da base de cálculo do imposto de
renda. Ainda que se admita ser o dispositivo um vetor a ser seguido pelo
legislador, somente caberia excepcioná-Io se houvesse algum fundamento
constitucional para tanto.
Ademais, mesmo que não se admita a existência de um conceito de renda na
Constituição, a limitação à dedução de prejuízos no exterior comente poderia
ser considerada válida se devidamente justificada e fundamentada em outro
valor constitucional a ser prestigiado.
Não se vislumbra, na vedação à compensação de prejuízos e perdas apurados
no exterior, prevista no art. 25 parágrafo 5º, da Lei n. 9249, alguma finalidade
indutora que justifique a norma.
Também não serve como justificativa para tal vedação a dificuldade que
o fisco possa encontrar para aferir a validade e efetividade dessas perdas
(controle), pois existiriam muito outros caminhos válidos para se atingir
esse objetivo.
Nesse contexto, é possível concluir que a regra de vedação também se mos-
tra arbitrária no exame de proporcionalidade, uma vez que se poderia alcançar
o objetivo por ela buscado (controle) por meio de medidas menos lesivas ao
universo de contribuintes.
Por fim, pode-se concluir que o art. 25, parágrafo 5º, da Lei n. 9249, viola
o postulado do legislador coerente, revelando-se arbitrário também nessa pers-
pectiva, pois adota o princípio da universalidade da tributação das rendas para
280
Dedução de Prejuízos e Perdas Apurados no Exterior. Diferentes Perspectivas,
uma Conclusão: Invalidade do Art. 25, Parágrafo 5º, da Lei N. 9249
281
A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço
Técnico" por Atos Administrativos e a Violação
das Normas de Competência Exclusiva Fixadas
nos Tratados Contra Dupla Tributação
1. Introdução
Os acordos contra dupla tributação celebrados entre os Estados ("Trata-
dos") têm força de lei entre as partes e devem ser interpretados de acordo com
as regras constantes do próprio tratado, bem como com as normas de Direito
Tributário Internacional.
As normas do tratado devem prevalecer sobre as normas de direito inter-
no de cada Estado contratante a fim de que haja harmonia na interpretação
das disposições das convenções, garantindo-se seu fiel cumprimento pelos
Estados signatários.
Nesse sentido, os Estado contratantes não podem alterar as normas de seu di-
reito interno com a finalidade de evitar a aplicação de disposições do tratado. Essa
regra está expressamente prevista no artigo 27 da Convenção de Viena de 1969.
No presente artigo examinaremos a mais recente tentativa do fisco brasi-
leiro de evitar a aplicação de norma limitadora da competência tributária bra-
sileira em sede de imposto de renda na fonte sobre pagamentos de serviços.
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1994). Professor assistente
de Direito Tributário na Faculdade de Administração de Empresas da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (1997-1999). Professor de Direito Tributário Internacional na Faculdade
de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1999). Advogado no Rio de Janeiro,
São Paulo e Brasília, sócio de Xavier, Duque Estrada, Emery, Denardi Advogados.
2 Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo (2010). Pós-graduada em
Direito Tributário Internacional pelo Instituto Brasileiro de Direito Tributário (2012). Advogada em
São Paulo e no Rio de Janeiro.
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Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schíoser
3 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 8ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2015, p. 23.
4 Ataliba, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. São Paulo: Malheiros, 1973, p. 106 e ss.
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A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
Como ensina KLAUS VOGEL, a expressão dupla tributação econômica "is used
to describe the same economic transaction, item of income ar capital is taxed in two
ar more States during the same period, but in the hands of different taxpayers"5.
As convenções contra dupla tributação destinam-se a eliminar ou mitigar os
efeitos da dupla tributação jurídica.
5 VOGEL, Klaus. On Double Taxation Conventions - a commentary to the OECD, UN and US Model
Conventions for the avoidance of double taxation of income and caPital (with particular reference to
German Treaty Practice). Boston: Kluwer, 1991, p. 20.
6 O Modelo OCDE sofreu doze revisões desde a sua criação em 1963. Tais revisões são necessárias para
adequar as normas às novas questões tributárias que surgem com a evolução da economia globalizada.
A primeira revisão ocorreu em 1977 e a mais recente foi publicada em 2014, sendo que nesse ínterim
houve publicações nos anos de 1994, 1995, 1997, 2000, 2003, 2005, 2008 e 2010.
285
Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
7 Convenção Modelo OCDE, Article 1: "This Convention shall apply to persons who are residents of one
ar both of the Contracting States".
8 XAVIER, Op. Cit., p. 170.
9 Idem Ibidem, p. In.
286
A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
287
Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
(i) Artigo 7º, que prevê que a tributação dos "lucros das empresas" ("bu-
siness profits") é de competência exclusiva do Estado de residência do
beneficiário dos rendimentos que o irão compor12 j
(ii) Artigo 22 (correspondente ao artigo 21 - "Other lncome" no Mode-
lo OCDE), que abarca os "Rendimentos não Expressamente Mencio-
nados" nos demais artigos do tratado, e que, nas convenções brasilei-
ras, prevê a possibilidade de tributação em ambos os Estados ("compe-
tência cumulativa"13)j
(iii) Artigo 12, que contempla a tributação dos "Royalties", preven-
do a possibilidade de tributação em ambos os Estados ("competência
cumulativa")14, apesar de o Modelo OCDE prever a competência exclu-
siva do Estado de residência para tributação dos royaltiesj e
(iv) Artigo 14, que trata dos "Rendimentos de Profissões Indepen-
dentes" (suprimido do Modelo OCDE atual) e prescreve uma com-
petência cumulativa quando as remunerações de profissões liberais
(médicos, advogados, engenheiros, dentistas e contadores) forem pa-
gas por fonte brasileira.15
12 "1. Os lucros de uma empresa de um Estado Contratante só podem ser tributados nesse Estado,
a não ser que a empresa exerça a sua atividade no outro Estado Contratante por meio de um
estabelecimento estável aí situado. Se a empresa exercer a sua atividade deste modo, os seus lucros
podem ser tributados no outro Estado, mas unicamente na medida em que forem imputáveis a esse
estabelecimento estável".
13 A competência cumulativa é atribuída nas versões brasileiras, já que no Modelo OCDE a competência
é exclusiva do Estado da residência. Veja-se, por exemplo, a redação do artigo 21 no Tratado celebrado
com a Argentina: "Os rendimentos de um residente de um Estado Contratante não tratados nos
artigos anteriores e provenientes do outro Estado Contratante são tributáveis nesse outro Estado".
14 Como exemplo, citamos o artigo 12 do Tratado celebrado com o Equador: "Os royalties provenientes
de um Estado Contratante e pagos a um residente do outro Estado Contratante são tributáveis nesse
outro Estado".
15 A título exemplificativo, citamos o artigo 14 do Tratado celebrado com Portugal: "Os rendimentos que
um residente de um Estado Contratante obtenha pelo exercício de uma profissão liberal ou de outras
atividades de caráter independente só são tributáveis nesse Estado, a não ser que tais remunerações
288
A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
sejam pagas por um residente do outro Estado Contratante ou caibam a um estabelecimento estável aí
situado. Nesse caso, os rendimentos podem ser tributados nesse outro Estado."
16 Na redação original: As regards the application of the Convention at any time by a Contracting State,
any term not defined therein shall, unless the context otherwise requires, have the meaning that it
has at that time under the law of that State for the purposes of the taxes to which the Convention
applies, any meaning under the applicable tax laws of that State prevailing over a meaning given to
the term under other laws of that State.
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Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
3.1.1. Contexto
17 ROCHA, Sérgio André. Interpretação dos Tratados para Evitar a Bitributação da Renda. 2ª ed. São
Paulo: Quartier Latin, 2013, p. 195.
18 XAVIER, Op. Cit., p. 159.
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A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
19 TORRES, Heleno Taveira. Pluritributaçao Internacional sobre as Rendas das Empresas. 2ª ed. Rev.
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 649.
20 Idem Ibidem, p. 158.
21 Idem Ibidem, p. 650.
291
Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
ser obtida a partir das leis fiscais e, dentro destas, das leis especificamente
reguladoras do imposto sobre a renda e o capital. 22 (grifos nossos)
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A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
26 "Artigo 84: "A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia que se seguir à data do depósito
do trigésimo quinto instrumento de ratificação ou adesão."
27 Cfr. Preâmbulo da Convenção.
28 Artigo 26: "Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa fé."
29 Artigo 27: "Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
inadimplemento de um tratado. Esta regra não prejudica o artigo 46."
30 Artigo 31:"1. Um tratado deve ser interpretado de boa fé segundo o sentido comum atribuível aos
termos do tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade."
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Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
Artigo 32: "Pode-se recorrer a meios suplementares de interpretação, inclusive aos trabalhos
preparatórios do tratado e às circunstâncias de sua conclusão, a fim de confirmar o sentido
resultante da aplicação do artigo 31 ou de determinar o sentido quando a interpretação, de
conformidade com o artigo 31:
a)deixa o sentido ambíguo ou obscuro; ou
b)conduz a um resultado que é manifestamente absurdo ou desarrazoado."
31 XAVIER. Op. Cit., p. 154.
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A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
Ora, é ponto pacífico que o artigo 22 dos tratados é uma cláusula de aplica-
ção residual, abrangendo rendimentos atípicos e inusuais, que não estão previs-
tos nos demais artigos dos tratados, como, por exemplo, os rendimentos decor-
rentes de prêmios de jogos e loteria32 •
O objetivo do fisco brasileiro com essa interpretação esdrúxula era clara-
mente o de assegurar uma competência tributária inexistente. Com efeito, mui-
to embora o artigo correspondente do Modelo OCDE atribua competência tri-
butária exclusiva para tributar "rendimentos não expressamente mencionados"
ao Estado de residência, os tratados firmados pelo Brasil sempre estabelecem
competência cumulativa para referida tributação residual, dos também chama-
dos "outros rendimentos".
Assim, aplicando-se o regime do artigo 22, o fisco brasileiro, na verdade,
buscava escapar da regra de competência exclusiva do Estado de residência pre-
32 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 569.
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Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
33 "Art. 685. Os rendimentos, ganhos de capital e demais proventos pagos, creditados, entregues,
empregados ou remetidos, por fonte situada no País, a pessoa física ou jurídica residente no exterior,
estão sujeitos à incidência na fonte (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 100, Lei nº 3.470, de 1958, art.
77, Lei nº 9.249, de 1995, art. 23, e Lei nº 9.779, de 1999, arts. 7º e 8º):
II - à alíquota de vinte e cinco por cento:
a) os rendimentos do trabalho, com ou sem vínculo empregatício, e os da prestação de serviços; (...)".
Registre-se que, a partir de 2001, com a criação da CIDE, a alíquota foi reduzida para 15%, conforme
art. 3º da MP 2.159/01.
34 Merece destaque o seguinte trecho da decisão do STJ: "A tributação do rendimento somente no
Estado de destino permite que lá sejam realizados os ajustes necessários à apuração do lucro
efetivamente tributável. Caso se admita a retenção antecipada - e, portanto, definitiva - do tributo
na fonte pagadora, como pretende a Fazenda Nacional, serão inviáveis os referidos ajustes, afastando-
se a possibilidade de compensação se apurado lucro real negativo no final do exercício financeiro".
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A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
Finlândia35 que foi decisiva para que o fisco revisse sua orientação. Com
efeito, foi em razão dessa reclamação que a Coordenação do Sistema de
Tributação (COSIT) emitiu a Nota Técnica Cosit nº 23, de 30 de agosto de
201336 , que reconheceu expressamente o equívoco da orientação adotada
pelo ADN nº 01/2000:
Dessa forma, concluiu a referida Nota Técnica que. "conforme regra geral
dos acordos internacionais para evitar a dupla tributação, aplica-se às remessas
decorrentes da prestação de serviços técnicos e de assistência técnica o trata-
mento tributário previsto no Artigo 7º (Lucros das Empresas)".
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Roberto Duque Estrada
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Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
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Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
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Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
regime dos royalties, deve ser interpretada como se referindo tão somente àque-
les serviços que tenham alguma conexão com o conceito de royalty constante
do parágrafo 3º do Artigo 12 acima citado.
Ou seja, os serviços técnicos e de assistência técnica devem estar vinculados
ao "uso ou pela concessão do uso de um equipamento industrial, comercial ou
científico e por informações correspondentes à experiência adquirida no setor
industrial, comercial ou científico" para que sua remuneração seja assimilada a
um royalty. Sendo assim, necessariamente aquele serviço técnico ou de assistên-
cia técnica deve resultar em uma transferência dos conhecimentos tecnológicos
relacionados ao serviço prestado.
Logo, a equiparação entre royalties e a remuneração derivada dos serviços
técnicos e de assistência técnica deve ser entendida de maneira restritiva, pois
somente o serviço técnico e de assistência técnica de natureza subsidiária ao
objeto principal do contrato e intimamente ligado à transmissão de know-how é
que deve ser entendido como remunerado por meio de royalties.
Tenha-se presente que o revogado ADN nº 1/2000 entendia que não se
poderiam equiparar aos royalties as remunerações decorrentes de serviços de as-
sistência técnica e serviços técnicos sem transferência de tecnologia e, por isso,
classificava-os como "Rendimentos Não Expressamente Mencionados".
No mesmo sentido, foi o entendimento exarado na Solução de Consulta
Cosit nº 153/201542 ;
302
A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
Frise-se que o artigo 14 sempre foi aplicado, pela OCDE, em caráter subsidiá-
rio aos demais artigos da convenção, tanto que foi suprimido do Modelo OCDE
em 2000, sob a justificativa de que não haveria diferenças práticas em relação ao
artigo 7º, de modo que o atual Modelo OCDE entende pela aplicação do artigo 7º
também nos casos de rendimentos auferidos por profissionais liberais.
303
Roberto Duque Estrada
Luna SaIam e Pantoja Schioser
No entanto, como atrás se viu o ADI n.º 5/2014 deu apenas uma solução ilu-
sória à problemática, já que, a generalização dos conceitos de serviços técnicos
e assistência técnica para abarcar serviços que não envolvem transferência de
tecnologia confirma uma renitente tentativa de esvaziar o âmbito de aplicação
do Artigo 7º ("Lucro das Empresas") dos Tratados.
Essa declaração interpretativa da administração fiscal merece reparos.
Conforme as próprias regras de interpretação do Tratado, em primeiro lugar,
se consideram as definições constantes da própria convenção. Em segundo lugar,
deve-se interpretar a norma de acordo a intensão das partes, levando-se em
conta a conjuntura em que está inserido o Tratado (contexto). E, em terceiro
lugar e em caráter subsidiário, somente na hipótese de não haver previsão no
texto do Tratado é que se socorre do direito interno.
O fisco brasileiro, no entanto, ignorou as disposições e o contexto do trata-
do, criou um "novo" direito interno sem base legal para recorrer aos conceitos
ali previstos com a finalidade de descumprir regras dos Tratados.
Ao assim proceder, o Estado brasileiro acabou não só por descumprir as
disposições dos Tratados que celebrou, como também por violar as normas de
Direito Internacional, em especial os princípios do pacta sunt servanda e da
boa-fé, inerentes a qualquer relação jurídica. Ao assinar um acordo, as partes se
comprometem a cumprir suas disposições integralmente, devendo adotar todas
as posturas necessárias para sempre honrar suas obrigações.
A inobservância dessas regras de interpretação poderá acarretar o descum-
primento voluntário das disposições da convenção, transgressão essa denomi-
nada treaty override.
Nas palavras de HELENO TORRES, o treaty override é caracterizado pela "trans-
gressão explícita ou implícita às cláusulas de uma convenção sobre a renda e
o capital- override of tax treaties - promovida por um (ou ambos) os Estados
contratantes, consiste na voluntária inaplicabilidade das normas convencionais
derivada seja da aplicação deliberada do direito interno, sem observância das
normas convencionais, seja da edição de regras tributárias conflitantes com o
disposto na convenção, que, expressamente, limitem a aplicação desta"44.
Verifica-se, pois, que o treaty overrride não é um problema de interpretação,
mas sim de espontâneo descumprimento das normas convencionais em virtude
304
A Indevida Ampliação do Conceito de "Serviço Técnico" por Atos
Administrativos e a Violação das Normas de Competência Exclusiva
Fixadas nos Tratados Contra Dupla Tributação
6. Conclusões
o Modelo de Convenção OCDE prevê no parágrafo 2 Q
do artigo 3Q uma
cláusula geral de interpretação das disposições da convenção, segundo a qual se
deve, em primeiro lugar, considerar as acepções constantes do texto do Tratado
e, subsidiariamente, não havendo previsão textual, aplica-se o contexto. Somen-
te no caso de não ser possível extrair o significado de seu contexto é que se parte
para aferir o conceito conforme o direito interno.
Do mesmo modo, a Convenção de Viena de 1969 reconhece que deve haver
a prevalência da força normativa dos Tratados, já que o texto do tratado repre-
senta a expressão da vontade máxima dos Estados signatários.
Verifica-se, pois, que sistemática a ser adotada na interpretação das
convenções deve seguir em primeiro lugar a intenção das partes na cele-
bração do tratado.
Por esta razão, é que as relações entre os Estados devem pautar-se nos
princípios da boa-fé e do pacta sunt servanda, não podendo os Estado con-
tratantes alterar as n'ormas de seu direito interno com a finalidade de não
cumprimento do trat~do.
I
Nesse sentido, por: força do disposto no artigo 7Q dos Tratados para evitar
a dupla tributação, n~o deve haver a incidência do imposto sobre as remessas
efetuadas a título de remuneração da prestação de serviços e assistência técnica
sem transferência de t~cnologia.
No entanto, o fisco. brasileiro ao editar Ato Declaratório Interpretativo RFB
n Q 5/2014 ("ADI n Q 5/2014"), assim como o revogado Ato Declaratório Norma-
tivo COSIT n Q 01/2000 ("ADN n Q 01/2000"), pretendeu arrogar-se o poder de
tributar as remessas para pagamento de serviços prestados por residentes em
países que celebraram tratado para evitar a dupla tributação.
Com efeito, após o entendimento da ADN n Q 01/2000 ser rechaçado pela ju-
risprudência, em especial, pelo STJ ao julgar o Caso Copesul, a Administração
Tributária buscou novo fundamento para continuar a tributar as remessas em
questão pelo imposto de renda.
305
Roberto Duque Estrada
Luna Salame Pantoja Schioser
306
Tributação sobre Serviços e Royalties
1. Introdução
o presente artigo tem por escopo analisar a tributação das remessas ao ex-
terior decorrentes dos direitos de propriedade industrial e da remuneração de
serviços e de royalties, bem como as normas e os conceitos envolvendo os con-
tratos de prestação de serviços técnicos e de assistência técnica.
A despeito do gradual progresso nos setores científico e tecnológico, o
Brasil ainda é, essencialmente, um país importador dos produtos a estes rela-
cionados. Tal circunstância tem incentivado o governo brasileiro - de forma
oportunista - a impor significativa carga tributária sobre os contratos de pres-
tação de serviços técnicos e de assistência técnica firmados com residentes ou
domiciliados no exterior.
Adicionalmente, a legislação do imposto de renda impõe uma série de li-
mitações à dedutibilidade das despesas relativas a contratos desta natureza.
Porém, tendo em vista que a complexidade do tema demandaria um estudo
em apartado, esclarecemos, desde já, que a questão da dedutibilidade não será
objeto de análise neste trabalho.
Dessa forma, identificaremos conceitos preliminares acerca da propriedade
industrial e sua forma de comercialização para abordarmos a questão atinente
aos royalties e a consequente tributação que lhe incide na remessa ao exterior.
Faremos uma efetiva análise da tributação da remessa de royalties referentes a
contrato de propriedade industrial, especificamente pelo Imposto sobre a Ren-
Ana Luiza Martins é sócia da prática de Direito Tributário do Tauil & Chequer Advogados no
escritório de São Paulo. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-R]). Possui LLM em Tributação Internacional pela Universidade de Nova Iorque.
2 Maria Carolina Grecco Bazzanelli é associada da prática de tributário do Tauil & Chequer Advogados
no escritório de São Paulo. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP). Pós-graduada em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).
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Ana Luiza Martins
Maria Carolina Grecco
2. Conceitos preliminares