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Rio de Janeiro – RJ
Maio / 2017
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INTRODUÇÃO:
É sobre este poder transfigurado, o que precede e o que sucede a revolução, que
Heiner Müller se debruça em teatralidade, desvelando de forma espetacular seus
bastidores, e expondo as agruras políticas dos constituídos que, sob a máscara da
revolução, disfarçam o sangue de suas mãos: “MORTE É A MÁSCARA DA
REVOLUÇÃO, A REVOLUÇÃO É A MÁSCARA DA MORTE”.
“Você tem visita. Eu vendi uma condecoração. Aquela de Vendéia, onde vocês
massacraram os camponeses pela república.” - MULHER
“A França não é mais uma república, nosso cônsul tornou-se imperador e conquista a
Rússia. De boca cheia é mais fácil falar sobre uma revolução perdida. Sangue,
coagulado em medalhas de metal. Os camponeses também não tinham uma solução
melhor, não é. E talvez tivessem razão, não é. O comércio floresce. Quanto aos do
Haiti, agora entregamos a eles terra para comer. Era a república dos negros. A
liberdade leva o povo às barricadas, e quando os mortos ressuscitam, veste
uniforme. Agora vou lhe confessar um segredo, ela também não passa de uma puta. E
já consigo rir disso tudo. Ahahah. Mas agora, aqui, há uma coisa vazia, que antes
vivia. Eu estava lá quando o povo assaltou a Bastilha. Eu estava lá quando a cabeça do
último Bourbon caiu na cesta. Nós colhemos a cabeça dos aristocratas. Nós colhemos a
cabeça dos traidores.” - ANTOINE
“Nossa missão uma revolta de escravos contra o domínio da coroa britânica em nome
da República da França. Que é a mãe-pátria da revolução, o terror dos tronos, a
esperança dos pobres. Onde todos os homens são iguais sob a arma da justiça. Que não
tem pão para aplacar a fome de seus subúrbios, mas tem mãos suficientes para levar a
tocha da liberdade igualdade fraternidade a todos os países. (...) Dissemos: isto é
Jamaica, vergonha das Antilhas, navio negreiro no mar do Caribe”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Jamaica
“ Onde todos os homens são iguais sob a arma da justiça. Que não tem pão para
aplacar a fome de seus subúrbios, mas tem mãos suficientes para levar a tocha da
liberdade igualdade fraternidade a todos os países.”
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(https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1tua_da
_Liberdade)
“Esse gemido é a
Marselhesa dos
corpos, sobre os quais
será construído um
mundo novo. “-
DEBUISSON
http://aulasonlinedehistoria.blogspot.com.br/2015/11/a-africa-e-o-trafico-de-
escravos.html
“Os nossos nomes não estarão nos livros escolares e o teu libertador do Haiti, onde
agora os nossos libertados investem contra os mulatos libertados, ou vice-versa, vai ter
que esperar muito para ter o seu lugar no livro da história.” - DEBUISSON
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“Cada pulsação da revolução fará renascer carne em seus ossos, sangue em suas veias,
vida em sua morte. A revolta dos mortos será a guerra da paisagem, nossas armas as
florestas, as montanhas, os mares, os desertos do mundo. Eu serei floresta, montanha,
mar, deserto. Eu, isto é, a África. Eu, isto é, a Ásia. As duas Américas sou eu.” –
SASPORTAS
“Há mil anos que riem das nossas três amadas. Rolaram em todas as sarjetas, jogaram
esgoto abaixo em todo mundo, arrastaram por todos os bordéis, nossa puta a liberdade,
nossa puta a igualdade, nossa puta a fraternidade. Agora eu quero estar sentado lá
onde há riso, livre para tudo que me aconteça, igual a mim mesmo, irmão de mim
mesmo e de mais ninguém. Tua pele continua preta, Sasportas. Você, Galloudec,
continua um camponês. Riem de vocês. Meu lugar é lá, onde riem de vocês. Eu rio de
vocês. Rio do negro. Rio do camponês. Rio do negro que quer ficar branco com a
liberdade. Rio do camponês que anda com a máscara da igualdade. Rio da
imbecilidade da fraternidade que me deixou cego, a mim, Debuisson, senhor de
quatrocentos escravos, que só tenho que dizer sim, sim e sim, à ordem sagrada da
escravatura; cego, Sasportas, à tua pele suja de escravo, à tua rotina quadrúpede de
camponês, Galloudec, tendo no pescoço o jugo com o qual os bois caminham sobre os
sulcos dó teu campo, que não te pertence. Quero a minha fatia do bolo do mundo. Vou
cortar da fome do mundo, a minha fatia do bolo. Vocês, vocês não têm faca.” –
DEBUISSON
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CONCLUSÃO:
Por trás destas “conquistas”, Heiner Müler nos alerta sobre as diversas faces dos
massacres e suas consequências, bem assim, questiona os verdadeiros beneficiados com
os “ideais revolucionários” (vencedores), sempre ancorados pela justiça e lei que
legitimam as ações (ex. Guilhotina).
BIBLIOGRAFIA: