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Revista Brasileira de Futsal e Futebol


ISSN 1984-4956 versão eletrônica
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MOTIVAÇÃO DOS PRATICANTES DE FUTSAL UNIVERSITÁRIO: UM ESTUDO DESCRITIVO

Rogério da Cunha Voser1


José Augusto Evangelho Hernandez2
Patricia Eloi Gomes Voser3
Thaísa Arêdes Rodrigues1

RESUMO ABSTRACT

Esta pesquisa objetivou identificar os motivos Motivation of university futsal practitioners: a


que levam os estudantes universitários, descriptive study
participantes da 35ª edição dos Jogos
Universitários Gaúchos (JUGs), à prática do This research aims to identify the reasons why
futsal. Participaram 185 estudantes de ambos college students, participating in the 35th
os sexos, com idades entre 17 e 35 anos. edition of The Gauchos University Games
Utilizou-se o Participation Motivation (JUGs), were interested in the practice of
Questionnaire de Gill, Gross e Huddleston futsal. The sample consisted of 185 students,
(1983), na versão Escala de Motivos para aged between 17 and 35 years old. The
Prática Esportiva (EMPE), adaptação brasileira instrument used was the "Scale Motives for
feita por Barroso (2007). Os resultados Sport Practice" (EMPE), consisted of 33
indicaram que, para os homens, saúde e a questions and validated by Barroso (2007) for
afiliação são os motivos mais importantes e the Brazilian population. The data showed that
para as mulheres, saúde e o aperfeiçoamento for men the health and affiliation factors are the
técnico. Além disso, não foi revelada nenhuma most important ones to the practice of futsal,
relação estatística significativa entre os while for women, health and technical
motivos para a prática do esporte e o sexo e a enhancement factors occupy such position.
idade dos praticantes. The comparison of the mean scores of the
reasons for the practice of sport among sexes
Palavras-chave: Motivação. Esporte and age of practitioners revealed no
Universitário. Futsal. statistically significant difference.

Key words: Motivation. University Sport.


Futsal.

E-mail dos autores:


rogerio.voser@ufrgs.br
hernandez.uerj@gmail.com
patriciavoser@gmail.com
tata.aredes88@gmail.com

Endereço para correspondência


1-ESEFID/UFRGS, Brasil. Rogério da Cunha Voser.
2-UERJ, Brasil. Av. Túlio de Rose, 260 ap. 801 Torre A.
3-Faculdades Integradas São Judas Tadeu, Bairro Passo D’ Areia.
Brasil. Porto Alegre - Rio Grande do Sul.
CEP: 91340-110.

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INTRODUÇÃO técnica no desenvolvimento do seu


treinamento.
O esporte universitário no Brasil, O estudo da motivação tem sido um dos
assim como outras manifestações do esporte temas mais abordados pelas teorias
na sociedade já era praticado em suas psicológicas. Sem dúvida, isso decorre da
instituições muito antes do poder público vir a importância que este aspecto tem para a
regulamentá-lo (Mezzadri, 2000). identificação e desvelamento das razões ou
Borges e Buonicore (2007) trazem que motivos do comportamento dos indivíduos.
o marco inicial da história do esporte Para La Rosa (2002, p.170), “a
educacional no Brasil remete ao ano de 1916, motivação é um processo através do qual os
período em que são realizadas disputas motivos surgem, desenvolvem-se e mobilizam
envolvendo universitários de Rio de Janeiro e comportamentos”. Pelo menos, quatro grandes
São Paulo. Em 1935 ocorre a primeira sistemas psicológicos abordaram a motivação
competição envolvendo outros estados: Minas humana de formas diversas: associacionismo,
Gerais, Paraná, Bahia, o antigo Distrito cognitivismo, psicanálise e humanismo. Ainda,
Federal (Guanabara), além de Rio de Janeiro Weinberg e Gould (2008) afirmam que cada
e São Paulo. um de nós desenvolve uma perspectiva
Os mesmos autores ainda relatam que pessoal de como funciona a motivação, uma
no período compreendido entre 1935 e os dias teoria sobre o que motiva as pessoas, portanto
de hoje, ocorreram várias alterações nas leis é provável que façamos isso partindo de uma
que regem os desportos e na própria aprendizagem do que motiva a nós mesmos e
Constituição, tendo sido criado, inclusive, um da observação do que motiva as outras
ministério que trata exclusivamente de pessoas.
questões ligadas aos esportes (Ministério dos No âmbito da Psicologia do Esporte, as
Esportes). A partir disso, mudanças marcantes primeiras investidas no estudo da motivação
passam a ocorrer no esporte educacional coincidem com a extensa derrota sofrida pelos
brasileiro, como a formação de um consórcio EUA para os países da chamada “cortina de
de gestão dos jogos, que passa a ser ferro” na Olimpíada de 1976, em Montreal.
responsável pela realização dos Jogos Este resultado, representado pelo elevado
Universitários Brasileiros (JUBs) em uma número de medalhas de ouro conquistadas, foi
parceria entre Ministério do Esporte, Comitê em parte explicado pelo evoluído
Olímpico Brasileiro (COB), Organizações conhecimento teórico e técnico de preparação
Globo de Comunicação e Confederação psicológica que estes países possuíam.
Brasileira de Desporto Universitário (CBDU). O episódio teria sido a principal fonte da
Nas etapas estaduais, a responsabilidade é motivação que levou os psicólogos do mundo
das federações esportivas em cada estado. ocidental a investir fortemente na pesquisa e
O esporte universitário tem evoluído na intervenção em Psicologia do Esporte nos
nos últimos anos, sendo que nas anos seguintes. Nesse movimento, situam-se
universidades públicas federais é oferecido as primeiras iniciativas no estudo da
como projeto de extensão para a comunidade motivação para a prática desportiva (Williams,
interna de estudantes dos mais variados Straub, 1991).
cursos e praticado de forma mais amadora Já Gill, Gross e Huddleston (1983)
as universidades privadas, têm utilizado o exploraram a motivação para a participação
esporte como ferramenta de marketing, onde, dos jovens no esporte e marcaram presença
muitas vezes, atletas são contratados e nessa história com o desenvolvimento de um
ganham bolsa de estudos para a graduação e instrumento de medida chamado Participation
pós-graduação, ou ainda fazem parceria com Motivation Questionnaire (PMQ).
clubes federados. O instrumento foi desenvolvido em três
Neste sentido, conhecer as etapas. Na primeira, foi solicitado a 750 jovens
motivações dos atletas universitários nestes e 750 adultos que indicassem os motivos para
diferentes cenários poderá auxiliar em ações participação em programas esportivos. Com
estratégicas e pedagógicas no sentido de base nas respostas destes foi gerado um
aproximar os interesses das instituições aos questionário de 37 itens.
interesses dos atletas e ainda contribuir com Na segunda, 51 jovens, de ambos os
informações que possam nortear a comissão sexos, praticantes de esportes responderam

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ao instrumento. Os itens ambíguos ou acima e de pesquisas realizadas sobre o tema,


inadequados foram excluídos e restaram 30 este estudo procura responder a seguinte
itens. Na etapa final, 720 meninos e 418 questão: quais os motivos que levam os
meninas com idade entre 8 e 18 anos que estudantes universitários participantes da 35ª
cursavam uma escola de esportes edição dos JUGs à prática do futsal?
responderam novamente ao instrumento. Os Para tanto, tem-se como objetivo geral
dados foram submetidos à Análise Fatorial que identificar os motivos que levam os estudantes
extraiu oito fatores motivacionais para a universitários participantes da 35ª edição dos
prática esportiva de jovens: Realização/Status, JUGs à prática do futsal.
Espírito de Equipe, Fitness, Gasto de Energia, A pesquisa também buscou relacionar
Fatores Situacionais, Desenvolvimento de os motivos para a prática do esporte com o
Habilidades, Amizade e Diversão. Os sexo e a idade dos participantes.
pesquisadores não colocaram esses motivos
em ordem de importância devido às muitas MATERIAIS E MÉTODOS
diferenças individuais encontradas.
O PMQ tem sido bastante utilizado por A presente pesquisa de corte
pesquisadores brasileiros nas últimas décadas transversal, quantitativa e descritiva (GAYA, et
por meio de uma adaptação feita por Serpa al, 2008), investigou 185 atletas das equipes
(1992) em Portugal. Nos resultados dessas de Futsal das 10 instituições que disputaram a
pesquisas tem sido encontrados resultados, 35ª edição dos Jogos Universitários Gaúchos
tais como, diferenças sexuais nos motivos ocorridos em 2014.
para a prática do Futsal (Alves e Destes participantes 112 atletas
colaboradores, 2007; Barroso e colaboradores, (60,5%) são do sexo masculino e 73 atletas
2007; Voser e colaboradores, 2004), a (39,5%) do sexo feminino e suas idades
comparação entre futebol e futsal feminino variaram entre 17 e 35 anos.
federados não revelou diferenças nos motivos Para aquisição dos dados
para a prática (Cunha, Hernandez, Voser, relacionados aos motivos para a prática
2004), diferenças nos motivos para a prática esportiva foi utilizada a Participation Motivation
entre as categorias de base do futebol e futsal Questionnaire (PMQ) de Gill, Gross e
(Hernandez, Voser, Lykawka, 2004), excitação Huddleston (1983), na versão Escala de
e desafio o motivo mais relevante para a Motivos para Prática Esportiva (EMPE),
prática de adolescentes no voleibol (Paim, adaptação brasileira feita por Barroso (2007).
2003). A EMPE é composta por 33 itens que
Barroso (2007) produziu evidências de são distribuídos em sete fatores ou dimensões
validade de construto para uma adaptação motivacionais: status, condicionamento físico,
brasileira do PMQ que foi denominada Escala energia, contexto, técnica, afiliação e saúde.
de Motivos para a Prática Esportiva (EMPE). Para obter a medida foi usada uma escala que
Campos, Vigário e Lüdof (2011) variou conforme os seguintes critérios: “nada
utilizando a EMPE encontraram que os fatores importante” (para o nível 0), “pouco
que mais motivaram meninas e meninos das importante” (para os níveis 1, 2 e 3),
categorias de base para a prática do vôlei “importante” (para os níveis 4, 5 e 6), “muito
foram na ordem: aperfeiçoamento técnico, importante” (para os níveis 7, 8 e 9), e
saúde e afiliação. As atletas apresentaram “totalmente importante” (para o nível 10).
maiores níveis de motivação do que os atletas, Para a coleta dos dados foi feito
excetuando para os fatores saúde e status. contato com o chefe de cada delegação
Apenas no motivo afiliação apareceram presente na competição, aos quais foram
diferenças significativas entre as categorias, entregues cópias da carta de apresentação.
atletas mirins apresentaram níveis maiores do Antes da coleta de dados foi entregue
que as outras. um Termo de Consentimento Livre e
Nazário e colaboradores (2011) Esclarecido para que fosse lido e assinado
investigando os motivos para a prática do pelos atletas, ficando uma cópia com cada
triatlo com a EMPE encontraram como fatores participante. Cada atleta foi convidado a
principais a saúde, condicionamento físico e preencher o questionário e orientado a fazê-lo
técnico. individualmente, estando a pesquisadora
Baseado no cenário apresentado presente para esclarecer possíveis dúvidas. A

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aplicação dos questionários teve duração de Já as mulheres, a Saúde e o


dois finais de semana e foi realizada no Aperfeiçoamento Técnico obtiveram o mesmo
Ginásio de Esporte do Rincão, em Novo nível, seguido de Afiliação e Condicionamento
Hamburgo/RS nos intervalos dos jogos. Físico e, por último a Liberação de Energia,
Esta pesquisa foi aprovada pelo Status e Contexto, na mesma ordem que os
comitê de ética – CAAE homens (Tabela 1).
46264415.6.0000.5347 e parecer 1.338.584. O Teste t de Student para amostras
Os dados foram digitados e analisados independentes comparou as médias de
no SPSS, versão 20.0, com estatísticas homens e mulheres nos fatores da EMPE. Não
descritivas, Coeficiente de Correlação de foram encontradas diferenças estatísticas
Pearson e Teste t de Student para amostras significativas entre os grupos e todos os
independentes. tamanhos dos efeitos (d) são considerados
muito pequenos (Cohen, 1988), como podem
RESULTADOS E DISCUSSÃO ser observados na Tabela 1.
O tamanho do efeito baseado nos
Os resultados das estatísticas dados atuais estima a probabilidade de que se
descritivas revelaram que, tanto para os possam encontrar diferenças significativas
homens quanto para as mulheres o motivo entre as comparações destas populações
para a prática esportiva com o escore médio pesquisadas. Neste caso, as probabilidades
mais elevado foi a Saúde. Para os homens a são pequenas e que não estimulam uma nova
Saúde a Afiliação obtiveram o mesmo escore investida com aumento do tamanho da
seguido do Condicionamento Físico, do amostra.
Aperfeiçoamento Técnico, da Liberação de
Energia, do Status e do Contexto.

Tabela 1 - Teste t de Student, médias, desvios padrão e tamanhos dos efeitos.


Fatores n M DP t gl p d
masculino 112 8,5 1,67
Saúde 443 183 0,658 0,06
feminino 73 8,4 1,77
masculino 112 8,5 1,33
Afiliação 1.371 183 0,173 0,2
feminino 73 8,2 1,67
Condicionamento masculino 112 8,2 1,53
809 183 0,419 0,12
Físico feminino 73 8,0 1,65
masculino 112 8,0 1,79
Técnica -1.649 183 0,101 0,25
feminino 73 8,4 1,42
masculino 112 7,6 1,64
Energia -318 183 0,751 0,06
feminino 73 7,7 1,70
masculino 112 7,2 1,90
Status 420 183 0,675 0,05
feminino 73 7,1 1,98
masculino 112 6,6 2,05
Contexto 1.063 183 0,290 0,13
feminino 73 6,3 2,44

Iniciando as discussões relativas aos importância do exercício físico para suas


praticantes universitários do sexo masculino vidas. Em sua pesquisa ainda, apareceu fator
do estudo hora realizado, cabe destacar a Status como sendo menos importante, pois,
pesquisa de Medeiros (2012) que também acredita o mesmo, que a grande maioria dos
identificou a Saúde como o fator mais entrevistados possivelmente não almeja a
importante para os homens de seu estudo, e carreira esportiva e centram seus interesses
concluí a partir disto que, de um modo geral, nos estudos, complemento da graduação e a
os universitários praticantes de futsal prática do esporte como lazer.
atribuíram maior importância ao fator Em se tratando da afiliação como fator
motivacional Saúde, provavelmente por serem importante, Dias e colaboradores (2012)
indivíduos mais esclarecidos e saberem da também encontraram em seu estudo este fator

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como um dos mais importantes para os status, equipe e amigos, e justificam as


homens, afirmam que os atletas da sua diferenças encontradas em virtude da equipe
amostra estão envolvidos na prática do Futsal feminina ser mais nova e ter necessidade de
pelo desejo de fazer novas amizades e ganhar espaço na sociedade, e estas terem
pertencerem a um grupo. mais afeto à equipe.
Em relação às praticantes do sexo Para Soares e colaboradores (2010),
feminino, outros estudos têm resultados apesar da existência de numerosos trabalhos
diferentes, pois nesta abordagem motivacional que afirmam a inexistência de diferenças
existem inúmeros instrumentos de coleta de comportamentais entre os sexos, grande
dados, dificultando uma análise mais número de pessoas continua a acreditar em
aprofundada. distintos de posicionamento de homens e
Silva e Machinski (2010), Reis e Scotá mulheres face à vida, atitudes relacionadas
(2008) e Voser e colaboradores (2014), por com o trabalho ou com a família, motivações,
exemplo, utilizaram o PMQ e Cardoso (2012) comportamentos e traços de personalidade.
utilizou o Inventário de Motivação para a Independência, agressividade e dominância
Prática Desportiva (Gaya, Cardoso, 1998). ainda são associadas aos homens, e a
Voser e colaboradores (2014) sensibilidade, emocionalidade e gentileza às
encontraram valores significativamente mais mulheres.
elevados apenas nos fatores Status, Forma Em nossa sociedade, os garotos são
Física e Diversão para os atletas do sexo elogiados por sua competitividade e
masculino. agressividade e as meninas por sua
Ainda nesta pesquisa, os autores submissão e charme. Em competições e
relatam outra questão importante que foi eventos esportivos as diferenças entre
levantada que é o fato de os atletas do sexo homens e mulheres são dissipadas pelo
masculino serem mais recompensados desempenho e quebra de recordes
financeiramente e, que em função disto, reconfigurando a identidade feminina. A
devem estar mais bem preparados fisicamente prática esportiva oferece um espaço para que
e preocupados com sua imagem e status. as mulheres adquiram respeitabilidade e
Acredita, ainda, que se tivessem um número reconhecimento social, destruindo falsos
maior de participantes, a tendência seria de estereótipos femininos associados à fraqueza
que em todas as dimensões aparecessem física e psicológica (Alonso, 2003).
diferenças estatísticas significativas entre os Por outro lado, Alves e colaboradores
sexos. (2007), encontram diferenças significativas
Nesta mesma direção, Silva e entre homens e mulheres em quase todos os
Machinski (2010), observaram que as atletas fatores analisados, e concluem cogitando a
do seu estudo obtiveram nível de motivação possibilidade da personalidade da mulher
significativamente mais elevado que os envolvida com o desporto apresentar alguma
homens apenas no fator habilidades, porém diferença do padrão convencional, sendo,
também demonstraram maior motivação, contudo, sugeridas novas investigações para
ainda que não tão significativa, nos fatores comprovar esta hipótese.

Tabela 2 - Coeficiente de Correlação de Pearson entre os Motivos para a Prática do


Esporte e a Idade dos Atletas.
Status Cond. Físico Energia Contexto Técnica Afiliação Saúde
Idade -0,05 0,03 0,05 -0,02 -0,06 0,04 0,08
Legenda: Todas as correlações foram a nível > 0,05.

Conforme pode ser observado na principalmente em relação à faixa etária


Tabela 2, não houve correlação estatística abordada neste estudo.
significativa entre os escores médios dos Lorenzi, Voser e Hernandez (2011) em
motivos para a prática do esporte e a idade sua amostra de praticantes de futebol com
dos praticantes. Não foram encontradas idade entre 9 e 12 anos e Sá (2009)
muitas referências sobre o assunto, estudando crianças praticantes de futsal com

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idade de 11 a 14anos, não encontraram obtiveram o mesmo escore. O estudo mostra


correlações significativas entre as variáveis os também que a comparação dos escores
motivos para a prática do esporte e a idade médios dos motivos para a prática do esporte
dos atletas. entre os sexos e a idade dos praticantes não
Por outro lado, os resultados de Terra, revelaram nenhuma diferença estatística
Hernandez e Voser (2009), encontraram significativa. Os resultados desta pesquisa
correlações negativas entre fatores podem contribuir com os profissionais que
motivacionais medidos pelo Inventário de trabalham nos esportes universitários, dando
Motivação para a Prática Desportiva (Gaya; informações para qualificar as suas práticas
Cardoso, 1998) e a idade dos participantes. pedagógicas de modo a potencializar o grau
Os resultados sugeriram que à medida de motivação desses indivíduos quanto à sua
que vão avançando na idade, os atletas vão se participação em programas esportivos.
distanciando dos motivos vinculados à É interessante que outros estudos
competição e ao alto rendimento. Contudo, sobre motivação no esporte sejam
deve se levar em consideração que as desenvolvidos utilizando este mesmo
crianças e adolescentes desta pesquisa, com instrumento.
idades entre sete e 15 anos, eram alunos de Como continuidade desta pesquisa,
uma escolinha privada de futsal. indica-se a aplicação em outros ambientes,
Hernandez, Voser e Lykawka (2004) como o da escola, escolinhas e em clubes de
comparando atletas de futsal e futebol de alto rendimento.
diversos clubes desportivos federados Sugere-se também adotar abordagens
mediante quatro faixas etárias (9-14, 15-16, qualitativas, que possam permitir penetrar
17-19 e >19 anos idade) encontraram mais profundamente nas estruturas
diferenças significativas na motivação entre as motivacionais destes praticantes.
mesmas. Os autores atribuíram às diferenças
motivacionais encontradas entre as faixas REFERÊNCIAS
etárias ao fato de que em maior ou menor grau
os atletas participantes estavam sofrendo os 1-Alonso, L. Mulher, corpo e mitos no esporte.
efeitos de uma fase crucial do In: Simões, A.C. (Org.). A mulher e esporte:
desenvolvimento humano: a adolescência. mitos e verdades. São Paulo: Manole, 2003.
p.35-47.
CONCLUSÃO
2-Alves, C. F.; e colaboradores. A comparação
Ao finalizar, cabe inicialmente da motivação para o esporte entre atletas
apresentar algumas limitações que ocorreram universitários de futsal masculino e feminino.
ao longo do desenvolvimento desta pesquisa. Salão de Iniciação Científica. Livro de
A primeira delas reside no fato de ainda Resumos. Porto Alegre: UFRGS, 2007.
haverem poucos estudos sobre motivação de Disponível em:
praticantes de esportes universitários. Outro <http://lume.ufrgs.br/handle/10183/58595>
ponto a destacar é que estes estudos Acesso em: 18 set. 2015.
variavam os locais, sujeitos, objetivos e
principalmente os instrumentos de coleta de 3-Barroso, M. L. C. Validação do Participation
dados, dificultando as discussões deste Motivation Questionnaire Adaptado para
estudo. Determinar Motivos de Prática Esportiva de
Como pontos positivos, destaco a Adultos Jovens Brasileiros. 2007. 130 f.
utilização nesta pesquisa de um instrumento Dissertação (Mestrado em Ciências do
que foi validado no Brasil e também o número Movimento Humano)-Centro de Ciências da
de atletas universitários de Futsal que Saúde e do Esporte, Universidade do Estado
participaram dos Jogos Universitários de Santa Catarina, Florianópolis, 2007,
Gaúchos e que se dispusera a participar da Disponível em:
amostra. <http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.p
Os dados demonstraram que, para os hp?codArquivo=1711>. Acesso em: 20 ago.
homens, os fatores saúde e afiliação e são os 2015.
mais importantes e para as mulheres, os
fatores saúde e aperfeiçoamento técnico

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ISSN 1984-4956 versão eletrônica
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