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4t g0 4téI-U e 41eto e nn-o. Tradução
$otic t4 e i.p iênc i4 COI-UO ESTELA DO SANTOS ABHEU
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ó io po COI-Ute n , COI-U 1997
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oi publico o gin t ente e
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Co iglit © Édiliol1s du euil.
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cês co o titulo

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tins ontes Edito
uto, 1997. para li prcscn«: l di
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/996 Sumário I
I
l' edição
gosto de 1997

Tradução
E DO EU

Consultoria técnica
DI . Edson J. io - ncu oci gi Int u 7
DI e o ge! - especi li e e úbli
DI b ll - ginecolog e obstet
Revisão gráfica Primeiro mês 13
Cecíl d s Segundo mês 15
Prorl ução gráfica
Ge o es
Terceiro mês 27
Paginação/Fotolitos Quarto mês 41
tudio 3 Dese ol ento Edito i l
Capa
Quinto mês 49
II l Laub Sexto mês 57
Sétimo mês 95
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIr)
(Câmara Brasileira do Livro, SI', Brasil)
Oitavo mês 107
Bertherat. Marie ano mês 117
Quando o corpo consente I Marie Berthcrar. Thérêse
Bcrthcrat c Paulc Brung : tradução Esteja dos Santos
Trê s m s depois ... 131
Abreu. - São Paulo: Martins Fontes, 1997. Movimentos 135
Tüulo original: A corps consenrant.
Bibliografia.
ISBN 85-336-0652-4
Referências bibliog 161
I. Bebês - Desenvolvimento 2. Cuidados pré-narais
3. Gravidez 4. Miie e bebê I. Bcnhcrat. Thércsc. 11.
Brung. Paule. 111.Título.

97-2601 COI)-618,24

Índices para cal:íloJ.!() :-;i",tcllllilicn:


I. Cuidados ri é-natni-, : Obstctrícin I>18,24
2. Grnvidc/ : Pl'cpmnÇno 1111\'11(I nascimento :
Oh,tCll'fcin () 18,24
3, Pr pnruçüo ru,."
(l puno: OlhlclI íclll (,18,2-1

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Introdução

Este é o diário de minha filha Marie. Com palavras


simples, cheias de bom-senso e sinceridade, ela conta o
que experimentou em seu corpo e percebeu na própria
carne. Durante nove meses. Para lhe transmitir isso, ela
prosseguiu sua pesquisa com inteligência e rigor. Sempre
de forma generosa e com a doçura obstinada que é o
seu jeito de ser.
Mas, que não haja equívoco. Esses nove meses de in-'
certeza, de alegria, de ansiedade, de triunfo que a tor-
naram mãe não devem ser vistos como convite à cami-
nhada fácil; nem estímulo para o comportamento con-
descendente e a atitude submissa. Com a força de sua
experiência e de sua busca, Marie lhe diz:" ão se deixe
tapear." Dar à luz é uma aventura pessoal. Diante das
normas consensuais da medicina, não renuncie à sua au-
tonomia; se sua gravid z não apre enta sinai de pato-
logia, não se deixe irnpr ssionar .orn o aparato do "pro-
gresso", sem I r pronto a int .rf rir ..Telas de ultra-sono-
grafia, uniforrn 'S bran 'OS, luvas de látex, perfusões, se-
ringas ...
E I ;ISSiSI i :1 :t1gll ns I artos. Difícil de esquec r. A erno-
<::10, ;1 illlvl1Sitl;1 I· 10 mom nto. O suor, o sangue. Além
til' umn ('(li,,,; I .1 111;lis. Na sala toda branca, sob a luz fos-
1()lI'SI'I'IIII', () 'nrrl' algo que vem da noite dos tempos.
P()I ('11111' I), npurclhos niquelados, laqueados, crema-
d()'" 11.1 11111.1t'SIK' .ic de magia. E isso costuma aconte-

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----------~~ ..---------------------------•
QUANDO O COlU'O CONSENTE INTRODUÇÃO ••
cer sempr no mesmo momento: no momento em que
as contrações ão mais fortes, um pouco antes de apa-
sos s entidos, passivas e submissas, optamos por deitar,
desistir, d ixar-nos adormecer e ane tesiar. ••
recer a cabeça da criança e seu rosto coberto de secre-
ções, como o de uma minúscula estátua velada. É aí que
surge a magia. Chamo isso de magia, por não achar outra
E, no ntanto, a natureza fez tanta coisa para transmi-
tir a vida! Não m de esforços para produzir milhões de
esperrnatozóid s cheios de audácia para se propulsarem . •
palavra melhor. Uma energia que não tem forma nem cor e uma incansável seqüência de óvulos. Com prodigiosa
perpassa a sala. Vinda de onde? De dentro da mulher que força de atração, ela lança machos e fêmeas uns ao en-
lá está dando à luz? Energia que, por um breve instante, contro dos outros. Prepara o corpo da mulher do modo
é palpável. Um instante muito rápido. Algo de selvagem, mais engenhoso, a fim de facilitar o contato. Sua solicitu-
grandioso, violento como a vida e a morte. de chega até a mergulhar o embrião num líquido salga-
Mesmo quem tem o couro duro não fica insensível. a do, muito parecido com as águas do oceano primitivo.
opinião das parteiras mais calejadas que conheço, a roti- Como para propiciar a vida, cujo despontar se deu nesse
na não consegue apagar de todo essa impressão de estra- elemento. Depois dis o e de tantas outras façanhas desti-
nheza. Não é surpreendente que se procure amordaçar e nadas a preservar nossa reprodução, como imaginar que,
cercear essa força que brota de um corpo de mulher; tal na última etapa, ela vá sabotar todo esse seu projeto? Co-
força é quase intolerável para quem não estiver ali intima- mo imaginar que o corpo dos mamíferos humanos não
mente envolvido. Subjugar uma mulher grávida não é difí- seja capaz de dar passagem ao fruto admiravelmente cul-
cil. im, eis o paradoxo. Nesses momentos, ao lado de tan- tivado durante meses? Como imaginar que a natureza te-
ta força virtual, há muitos temores secretos. Muitas dCIVi- nha justamente esquecido de prever a saída?
Ias perguntas que ficaram sem respo ta. As mudanças "Todos nós somos belos e bem feitos" é o que reite-
[u 'S P r b m no corpo e as outras, mais profundas, que ro em meus livros. E o corpo da mulher é adequado
o Ih não ê. O embrião, oculto ao olhar, está tão pre- para dar passagem ao feto que ele formou e carregou.
s .nt i quã ausente. O hábito de confiar em nossos olhos, Paule, uma parteira muito entendida no assunto, com
e ap 'na n I s, nos deixa desconcertadas, preocupadas quar nta anos de ofício, explicou a Marie como é feito
om aqui! qu é chamado o Mistério da Vida e que se o seu corpo e como preparar-s . Como deixar a criança
passa dentro, na escuridão de nosso orpo. passar pela via estreita. Facilitar a passagem, dar à luz
Torna-se então muito fácil sujeitar-s ,entregar-se às au- com um corpo que consente, eis o segredo de Paule.
toridades. É muito fácil confiar tod s os poder s a quem Também a você, ela vai contar seu segredo. Escute
supostamente abe, mai do qu nós, o qu stá acon- essa mulher muito especial, profissional até a ponta dos
tecendo conos o. Um médi o, um spccialista, um apare- longos dedos, que nem por isso deixa de ser calorosa e
lho de ultra-sonografia, um exame de sangu , um exa- que fala com a ousadia de tantos anos de sucesso.
m ' de urina, qualqu r oisa nos inspira mais confiança Se acaso você estiver preocupada e sentir necessida-
10 que nós m esmas. de - posso imaginar - de uma palavra encorajadora, de
Enquanto isso, d ixamos scapar o essencial... Não uma explicação prática, deixe-se levar por Marie e Paule.
r len 10 nos fiar em nossos sentidos, privadas de nos- Ela sabem do que estão falan 10. Vão ajudá-Ia a desco-
8 9
QUAl DO O COlU'O CONSENTE INTRODUÇÃO

brir as potencialidade que há em você. Ajudá-Ia a ser de e ficar menos vulnerável, é preciso que você concen-
você mesma, a compreender como facilitar o parto. Per- tre todo o seu ser. Para tornar-se disponível à viela desse
mitir o nascimento é o oposto da submissão cega. outro ente pequenino, você precisa estar disponível a
Também eu vou lhe falar do trabalho que você pode suas próprias ensações. Quando engravida, a mulher
efetuar em seu corpo e seus sentidos. tem mais do que nunca o sexto sentido que lhe dá aces-
"Foi minha boca que me ajudou de fato a ter um parto so ao próprio corpo. Ela pressente que precisa se con-
feliz. E também todo o trabalho com o corpo, qu você centrar para, depois, se separar.
m havia ensinado." O menino que acabava de nascer Não é indispensável estar grávida para ter a sensação
quando ouvi essas palavras pela primeira vez deve ter de conter em si dois estranhos. A cabeça ignora o cor-
hoj vinte e cinco anos. Sua mãe, uma linda jovem de pe- po, e a cabeça contém dois cérebros, dois hemisférios,
I muito clara, fez questão ele dar-lhe o nome de "Eugênio", que muitas vezes se contradizem. A musculatura do corpo
isto é, o bem-nascido. Fiquei emocionada, um pouco sur- é feita de duas partes conflitantes. Os próprios sentidos
presa, mas ainda não compreendia. estão subjugados por um deles, a visão, que bloqueia a
Desde então, ouvi essas palavras várias vezes. E to- passagem de todos os outros.
das as jovens mulheres que haviam sido minhas alunas O milagre é que as mulheres são capazes de reunir
acabaram me ensinando por que, sem jamais ter pensa- corpo e espírito, o físico e o psíquico, a força e a fra-
do em prepará-Ias para o parto, eu as ajudara a dar à queza. Durante nove meses, a natureza lhes oferece este
luz eI modo natural. Meu trabalho era de fato uma pre- presente: apagar a dualidade de seu ser e tomar cons-
para ão para o nascimento, mas não apenas para aque- ciência de sua unidade.
I em questão. Essas mulheres nasceram para si mesmas
na hora em que lhes nascia o filho. é êse tbe
"Ser é nunca parar de nascer", e1isse-m certa vez uma
delas. Para muita gente, ser é apenas uma fachaela. Por
trás da fachada, existem as sensações e emo õ s enter-
radas dentro do corpo, do qual as pessoas nada sab m;
e a organização dos músculos, dos quais sab m muito
pouco. Para a mulher grávida, a fachada, moldada d
eI ntro, muda e se transforma. Como ignorar o interior
qu se impõe a cada momento? É impossível adiar para
outro momento. O momento é já.
Não é fácil sentir no próprio corpo a presença de um
corpo estranho. Desejado, amado, sonhado mas, apesar
de tudo, estranho. Para coabitar com outro ser num mes-
mo corpo, é preciso tomar consciência da profundidade
que existe atrás da fachada. Para sentir mais estabilida-
10 11
"'-
PRIMEIRO MES

• I~ de novembro

Esta manhã o céu está todo azul. um azul de inverno, muito


luminoso, quase ofuscante. Estendida na cama, pouso as mãos em
minha barriga, traço leves círculos em torno do umbigo enquan-
to olho o teto. Estou grávida. Frase banal, mas de tanto impacto
que torno a me levantar para conferir a fita do teste de gravidez.
Leio a bula de novo: ece u lin no q da
t s nte, ocê est g . Então, estou grávida. Eu já co-
nhecia 'você está grávida', 'ela está grávida'. Nunca eu havia pro-
,nunciado ou escrito "estou grávida". G mais do que em "es-
tado de gravidez", sinto-me em estado de secreta defesa". In-
vestida, como se houvesse recebido uma missão. Mas, investida do
quê, não sei. Nem consigo imaginar. Olho o sol que faz desenhos
no teto. A palavra "mãe" soa para mim estranhamente abstrata.
"Filha" me é bem mais próxima. Seja como for; não consigo pen-
sar. Só quero continuar deitada com esta revelação no meu ven-
tre e saborear sua presença. Olhos fechados, olhos abertos. De
costas, de bruços. Pés encostados na parede, a cabeça mais baixa,
estou eufórica. Penso na audácia deste bebê, na incrível temerida-
de dos bebês que decidem crescer num ventre de mulher. Fran-

• No original, há um jogo de palavras com o vocábulo enceinte, cujo


primeiro sentido, segundo o dicionário Petit Rob rt, é "re imo": "o que deli-
mita um espaço, como se fosse uma cerca, e impede o acesso a e e espa-
ço", Além disso, por homofonia, a autora faz aproximações com inte (. an-
ta) i sein (seio). (N. da T)
()
()
() QUAl'<DO o CORPO CO SENTE

j)
(
çoise Dolto dizia que os bebês escolhem seus pais. Gosto de ser
a mãe escolhida por meu bebê, a mulher eleita.
SEGUNDO MÊS
(

() • 27 de novembro
()
Quanto mais os dias passam, mais sinto meu bebê decidido ..
()
Tenho a impressão de que o pequeno ser que habita em mim
tem uma vontade de ferro. Fico pensando no dia de sua concep-
ção, na incrível batalha que um espermatozóide e um óvulo tra-
• 28 de novembro
varam para se implantar no meu útero. Que determinação! Ao
mesmo tempo, não consigo deixar de ter dúvidas. Não a respei- Esta presença invisível me inebria. No entanto, sua realidade
J to dele, mas de mim. De minha capacidade de ser mãe, não em ainda me escapa. O pequeno ser que ocupa meu corpo e minha
) geral, mas particularmente agora. A ansiedade me aperta o cora- mente nem chega a constituir uma imagem. Fecho os olhos e
ção. E me vira o estômago ... Náusea de mulher grávida, náusea não veJo nada. Nem o nenê bochechudo que ele ainda não é, nem
de mãe ansiosa. o preocupante embrião que deve ser. Esse bebê não passa de
Há horas em que me digo que não vou conseguir nunca, que uma euforizante obsessão. Eu poderia consultar um manual. cal-
ainda não estou preparada. Hoje readquiri confiança. Disse a mim cular sua altura e seu peso, conhecer-lhe a forma, mas não estou
mesma que, se ele está aqui na minha barriga, é porque acha que com vontade.
eu sou capaz, e isso me dá coragem. A ansiedade continua presen-
te, atocaiada num canto, mas eu a mantenho à distância enquanto
) olho as nuvens que correm pelo céu.
• I~ de dezembro

) A medicina moderna não gosta do imaginário das mães. Ela


prefere oferecer-Ihes imagens "reais". Esta manhã acabou-se a
imaterialidade de minha obsessão: tenho hora marcada para a
primeira ultra-sonografia. O consultório é imenso, sento-me em
) uma das salas de espera.
.J "Senhora Bertherat!"

)
A voz é neutra, profissional, mas, apesar de minhas tentativas,
não sei de onde ela vem. Dirijo-me mesmo assim para uma por-
ta entreaberta, de onde parece vir o som. "Doutora M:' indica a
) placa no alto da porta. Entro. A sala está às escuras. Um grande
aparelho munido de tela oferece um halo luminoso. Levo alguns
segundos para perceber uma pequena senhora, cinzenta como

14 15

)
SEGUNDO MÊS
QUANDO O CORJ)O CO SENTI'.

um ratinho, sentada à mesa. Está absort na sua papelada. Não "Pode se vestir:"
A ratinha volta a sentar-se à sua mesa e me pergunta a data
me enganei de porta.
"Tire as meias e deite-se aí!" diz ela mostrando-me com um de minha última menstruação. Arrisco 30 de setembro. Não sou
dada a me lembrar desse tipo de data. Em compensação, tenho
gesto do queixo a mesa de exames.
A Ora. M. levanta-se - em pé, parece mesmo um ratinho. Em quase certeza do dia em que fizemos esse bebê. Foi em I I de
geral, gosto muito deles, por causa do focinho pontudo. Com outubro! Tenho certeza, porque ...tenho.
um rápido movimento circular. ela besunta minha barriga com "H um! - diz a ratinha. - Isso não combina com o tamanho do
um creme frio, pega uma espécie de caneta de ponta achatada embrião." No relatório da ultra-sonografia, a Ora. M. registra:
e passa-a pela minha pele. A tela defronte fica cheia de pontos id in u in cujo l ento nõo de à doto su-
luminosos. É absolutamente impossível decodificar a imagem, nece ui o de oito di Meu bebê, ou me-
que lembra depressões anticiclônicas: por mais que eu arregale lhor;meu embrião não é normal. Está muito pequeno. Pai"que não
os olhos, não vejo nada que se pareça com um bebê ou com está crescendo direito? O que eu fiz de errado? A ratinha não tem
um pedaço de bebê. A ratinha observa a tela, mas não diz nada. piedade. Compreendo que ela não quer me tranqüilizar: Só me
Seu silêncio é uma tortura. Por que ela não fala? O que há de resta voltar para casa e disfarçar os olhos cheios de lágrimas. Eu já
errado? gosto tanto deste meu embrião.
Para completar o suspense, ela liga o som: bam, bam, bam. A
cavalgada desenfreada ressoa por toda a sala.
"Esses batimentos, é o coração dele." o que é a ultra-sonografía?
Ufa! a ratinha falou, é bom sinal.Aliviada, pergunto como uma
tola: A ultra-sonografia é um exame baseado no princípio dos
"Tão pequeno e já tem coração?" ultra-sons. Muito agudos, esses sons não são percebidos pe-
A ratinha não se digna a responder: lo ouvido humano, mas por certos animais como os cães,
O coração deve ser o que aparece em primeiro lugar: Sem os morcegos ou o golfinhos. Estes usam os ultra-sons para
coração não há vida. Logo, se há coração, há vida. Bem, meu bebê se situar dentro da água. Emitem vibrações sonoras que, ao
tem coração, é uma coisa que me tranqüiliza, mas esse coração encontrar um obstáculo, nele e refletem e retomam, sina-
lizando assim aos golfinhos a presença de um banco de
deve ter um corpo, não é?
peixes ou d um rochedo. A ultra-sonografía obstétrica uti-
"Por favor. mostre-me o bebê na tela.
liza o mesmo princípio. Passa-se sobre a barriga da mãe um
_ Bebê, não; embrião", corrige ela secamente e, ao mesmo
emissor-receptor de ultra-sons, chamado sonda. Esta en-
tempo, me comunica que há "descolamento das membranas com via ultra-sons em dir ção ao útero e dele receb um eco.
hematoma no pólo inferior do ovo". Um o quê? Um machuca- Os ultra-sons recebidos são imediatamente traduzidos em
do? Será que eu esbarrei nele sem querer? Que mãe desastrada. imagens na tela e mostram, desse modo, o que se passa no
"O que devo fazer?", pergunto procurando controlar o tremor útero.
de minha voz.
"Não se pode fazer nada. É só esper I~"
Mas esperar o quê? Minha língua está tão (,1 que grudou no
céu da boca.
16 17
)

)
QUANDO O COlU'O CONSENTE SEGUNDO MÊS
)
Ela me dizia "sopra", e u sopra :1 \11.111 nao tem ouvidos para escutar e só pensa numa coisa:
TI-TÉRESE
do ela se machucava. orno 'li gO.1.11i:1 faz 'r a triagem dos embriões, considerá-los dentro das
de poder soprar e aconchegá-Ia no 010, '01110:ll1ti,,\ cat gorias estatísticas, ou excluí-los, se forem grandes ou
mente. Vejo seus olhos que de r pente S' tomaram (;tO pequenos demais, em desacordo com a norma.
j fundos, a boca que mais parece um'] 'slr 'il:\ linh:1 :11'1'0- Tratei tanta gente, tantas mulheres desesperadas, há
) xeada. Eu gostaria de soprar minha t irnura, gostaria d tantos anos. Nunca tratei minha filha. Iunca com as téc-
soprar e transmitir, do meu para o orpo I 'Ia, ti s .guran- nicas do meu ofício. Entretanto, meu ofício - acabo de
ça, a sabedoria, a humildade e a paciên ia d tantas gera- compreender agora - consiste apenas em ajudar as pes-
ções de mulheres ant s d Ia ant s d mim. Go taria de soas a desfazerem seus monstros, levando-as a tocar a
) soprar esse conhecimento vindo do corpo, do coração.
I realidade mais tranqüilizadora: a do próprio corpo. Per-
"Os primeiros tempos do embrião de bebê não são ceber diretamente as informações da musculatura con-
I nada fáceis. Quando se diz 'um ovo', pensa-se em algo fere à pessoa uma confiança em si tão profunda que nada
I inerte dentro de uma casca que quebra. Mas não é isso. mais poderá usurpá-Ia. Pela pele, pelos olhos, lábios,
I Os ovos humanos são irrequietos, flexíveis e muito re- ouvidos e olfato, você está em contato permanente m
\) sistentes. O teu bebê acaba de viver umas semanas agi- o interior e o exterior; s us n rvo são mensageiros atra-
tadas, em meio a restos de células e de serosidades san- vés do labirint I corpo, - justamente porqu . sãc os
I
guinolentas, batalhando, junto com sua placenta gêmea, seus - não há nada de mais onfiávcl do qu a rapid 'Z
I~
para alimentar-se, para agarrar-se no interior de t u úte- a pr cisão d bilhões de 'lulas para garantir sua se-
I ro, cujas mucosas e tão todas congestionadas. Eles batem gurança bem-estar.
I e apanham. ão é de admirar que fiquem machucados. Gerar uma criança torna o corpo muito alerta - um uni-
Um hematoma é coisa corriqueira, fica bom sozinho, verso fechado em i mesmo, mas que não perde a no-
I
como qualquer mancha roxa." ção do mundo exterior. Em nenhum outro momento é
Ela aperta os lábios, quer sorrir, mas o queixo come- tão necessário habitá-I o com conforto: maxilares relaxa-
ça a tremer. dos, respiração fluida, coração sereno, músculos flexí-
Antigamente, quando ela tinha um pesadelo, eu con- veis da cabeça até a ponta dos pés.
seguia, na realidade calma de seu quarto e de nossas vo- "Vamos tentar 'trabalhar'?"
zes na penumbra, desfazer os monstros. Agora, os mons- Ela não responde, só faz um gesto com a cabeça; dei-
tros são muito mais terríveis, sob um aspecto tão banal ta-se de costas, e vejo seu queixo espetado para o alto, a
que ninguém desconfia da carga de angústia que eles nuca tensa como e estivesse lutando para manter a cabe-
podem provocar. Um exame, um aparelho, um profis- ça fora da água. Resolvo trabalhar os músculos dos maxi-
sional..Mas o exame, que supostamente deve dar segu- lares.
rança, na realidade causa pânico; o aparelho, feito para
mostrar, só deixa entrever sinais cabalísticos, o técnico,
grudado no aparelho, tem uma tela no lugar dos olhos,
18 19
SEGUNDO MÊS
QUANDO O CORPO CONSENTE

Mouimento' lima r .spiração. Nem uma palavra. O corpo está a toda,


o oração dispara no peito, os punhos se apertam. E
Este i sico sol os los dos l mais nada. Sair correndo não se faz, bater no próximo
e fazê-tos te eocu- não se faz. Formular palavras em pensamento é possí-
ou pouco . , podes no vel, dizer palavras com a boca também - propor per-
ch que é lh , sent , ou guntas, pedir contas, expressar dor e cólera. Mas, como
pé, é to. fazer isso? Muitas vezes, não encontramos as palavras.
j que os il os, -os is Não no momento exato. Os olhos ficam marejados, a
ol co molar, p t nto do garganta apertada, as palavras gaguejadas não são per-
eito do esque en no . tinentes, atropelam-se umas às outras. Mais tarde, fica-
de e c po uns segundos. se horas e horas ruminando tudo o que se queria ter dito.
g , boc , e o e Por fim, acaba-se esquecendo. Nosso corpo, porém, nun-
cheg l bios. De língu l g -se, que el ca esquece nada.
ocupe todo o ço e e e , é c su- Detido em seu movimento, nosso corpo freiou com
dos l , e que e edeç , se ecis en- todos os músculos. Frear é tudo o que ele pode fazer.
-se, o l o e o e o o supe . e e os Desse modo, os músculos se contraem e, para poder
os, e c língu be g . relaxar-se, ficam à espera de uma ordem que não chega.
e ece s lguns segundos, tent ndo sol Nosso cérebro, que deveria dar essa ordem, não conse-
es pel s in g . Só líng gue fazê-Ia porque não sabe o que aconteceu com o
ic sec , d lt p u n boc . corpo. Coração disparado, mãos úmidas, agitação não
Refaz o ento ou d s s. Obse co o dependem dele. Dependem de uma r de de nervos pa-
t pi se n c ep nd ral Ia, chamada sistema neurovegetativo. Ele fica atento
dia e noite para pres rvar em nó a vida, trabalho este
Por que a boca? Por causa de todas a palavras que que nosso cérebro consciente tem muita dificuldade de
ficaram presas em tua língua, entre os dentes. analisar e compreender. Neste exato momento, o teu co-
Emitir palavras é o nosso modo de defesa como ani- ração está batendo, o sangue circula, os pulmões respi-
mal humano. Atacar se forem fortes, fugir se forem fra- ram, e não precisas querer, nem mesmo ter conhecimen-
cos sempre foi a forma de reagir dos seres vivos. Ou to disso, para que tudo aconteça perfeitamente dentro /

estacar, cerrar os dentes, bloquear a respiração, toldar o de teu corpo. O embrião do teu bebê aninhou-se em
olhar. Não deixar nada passar para fora, nada que seja teu ventre graças a ele. Ele dispõe os hormônios n ces-
vivo. Os·animais se fing m de mortos quando acuados. sários, dosa-os e os distribui. Depois, na hora do nas i-
O homem também. N m um rito, nem um olhar, nem mento, é ele que contrai o útero; determina amam nto,
o ritmo e a duração das contrações. É o responsáv 1pelo
1. Todos os outros movimentos propost S stão reunidos no fim do livro.
teu bebê, que representa sua obra pr ciosa.

20 21
)
QUANDO O COJU'O CONSENTE SEGUNDO MÊs

) Ele faz um trabalho vital e magnífico. Embora, 'IS vc- o fundo, não te dás conta do que fazes com os lábios;
zes, exagere um pouco. Reage com d rnasiada força. In - língua e maxilares; fala , comes, beijas, sorris, e os mús-
pulsos demais, emoções demais e, por ons 'guintc, con- culos de tua boca fazem uma porção de movimentos dos
) trações exageradas dos músculos. Para que I' se acalme, quais não tens consciência. E em suas fibras eles guar-
.J não deve ser deixado ozinho, pr ruo para o exagero; dam, bem apertadas, inúmeras tensões qu nem chegas
temos de harmonizar nosso cérebro consciente com o sis- a perceber.
)
tema nervoso involuntário. Como? Apr ndendo a conhe- Antes de poder expressar a própria dor, antes de en-
.J
cer os músculos que, sem teu conhecimento, se contraem;' contrar as palavras adequadas, é preciso conseguir sol-
aprender a situá-los e a senti-los. Aprender a soltá-Ios. tar os dentes, literalmente. Devolver à musculatura da
Não precisas fazer um curso de anatomia. Começa, boca a amplidão fi iológica de seus movimentos, a sua
por exemplo, pela boca. Ela detém a chave do equilí- liberdade. Não estou sugerindo que a pessoa desloque
)
brio neuromuscular do corpo todo. Se os maxilares se os maxilares; aliás, obs rvo que quem teme e tipo de
trancarem, a musculatura do pescoço, das costas ou das acidente costuma t r os maxilares atarraxa tos por ten-
pernas será vítima dessas contrações e terá grande difi- sões, e, com isso, as articulaçõ s fora (I' prumo; nssim
culdade para soltar-se. que os mús ulos cons .gu '11'1 r .laxar-sc, os I robkmns
A boca pode condenar todas as portas de teu corpo, elo, 111'1 ilar 's I .saparc . '111. Sugiro movim 'nlos minus
ou escancará-las a seu bel-prazer. É uma porta, a primei- .ulos, muito exatos ' I ,li '"cios, ;1 ser '111 r 'pl'lith ;11 ' :1
ra, a que está mais no alto. Se a boca não relaxar, a mus- total Iluid '7.. Sal 'r lislinguir Cl1t r ' os 111l1SCIII()s lu, l.i
culatura também não relaxa. bio , os ela língua 'os los ma ilar 'S, conseguindo III '.
A boca é forte, musculosa, muito sensível. S mpre à X r uns c outros s para lament .
frente desde o primeiro instante de nossa vinda ao ;nun- Após tais movimentos, costuma ocorrer que um fluxo
do, ela prende, suga, come, beija, profere palavras. E vio- de palavras se liber , e, como uma abertura não se mexe
lenta, é muito suave, é tudo ao mesmo tempo. sem a outra, tanto a visão como a audição também me-
Os músculos dos maxilares são, em proporção a seu lhoram. ão é surpreendente, porque os maxilares e os
tamanho, os mais fortes do corpo. Quando contraídos, os ouvidos têm nervos em comum, e o ato ele apertar os ma-
maxilares se fecham com uma pressão de oitenta quilos. xilares enfraquec nossa capacidade de escuta: nada con-
Cada vez que engolimos saliva, eles exercem nos dentes segue air e nada consegue entrar.
um peso médio de dois quilos. E,como deglutimos com O corpo é um todo, uma vasta rede nervosa, senso-
freqüência mesmo durante o sono, eles exercem nos den- rial, sensual. Tudo se completa, a parte superior com a
tes - e em todo o nosso corpo - um peso de quatro tone- inferior, a interior com a exterior. Um oríficio lembra o
ladas no espaço de vinte e quatro horas'. outro, uma sensação num orifício da cabeça provoca
Fronteira entre o ext: rior e o interior, nossa boca é sensações no orifício genital. A tomada de consciência
J também fronteira entr o con ciente e o inconsciente. de uma cavidade desperta a consciência de outra cavi-
dade. O conhecimento da boca solicita o conhecimento
2. Dr. Soly Bensabat. Le st ess, c'est Ia Paris: Fixot, 1989, p. 44. da vagina, e o da vagina solicita o do útero, com sua
QUANDO O COHPO CO SENTE SEGUNDO MÊS

boca oferecida. Na hora certa, essa boca se abrirá para Uma bioquímica extraordinária se estabelece em tor-
deixar passar com naturalidade a cabeça do bebê. Os no do embrião de teu bebê. Teu corpo inteiro está vol-
lábios da boca lembram os lábios do sexo. A língua tão tado para a vida; ele tomará conta do bebê com todas
musculosa - contém nada menos que dezessete múscu- as fibras de seus músculos, vasos e nervos.
los - com suas perturbadoras contrações e retrações po- Porque paira uma dúvida sobre o fato de teu bebê
de con eguir, através de movimentos precisos, liberar a estar de acordo com as normas estatísticas, talvez pen-
respiração, os músculos da nuca e os das costas. ses que teu corpo te traiu, mentiu ou errou. Então, até
há pouco, estavam presentes as forças de vida pujantes,
enios boc n 1, 2 e 3, pp. 139 143. invencíveis, e agora só restaria ruptura, incapacidade e
incoerência?
Durante séculos, a concepção evocou os ritos mági-
• 6 de dezembro cos e o temor daquilo que é incontrolável, omo a água
dos céus o fogo dos vulcões. Agora, tudo - ou quase
Afinal, foi preciso chegar a minha vez de preparar-me a ser tudo - o que se refere à gravidez pode ser traduzi 10 m
mãe para que eu pedisse à minha mãe algo mais que seus bra- números estatísticos. O ventre da mulher tornou-s trans-
ços aconchegantes e carinhosos. Hoje, seu amor materno já não parente. A ansiedade, porém, continua 1 re ente. A das
basta para me consolar; e aceito sua ajuda como terapeuta, a que mulheres, como também a do pessoal médico.
ela oferece há muitos anos a seus pacientes. Fiquei tão desorien- O útero é inquietante. Desde qu foi descoberto,
tada com a ultra-sonografia feita sem delicadeza! Movimentar causa preocupação: houve quem pensasse que ele via-
meus maxilares ajudou-me a pôr para fora minha raiva: consigo java pelo corpo da mulher e, caso chegasse à cabeça,
respirar melhor; o coração já não bate disparado. Volto a confiar provocaria um desastre, crises, convulsões. Histeria. É de
no meu bebê corajoso. Talvez eu tenha me enganado na data ... útero, em grego, que se usou o termo no século passa-
Depois de ter lutado tanto para existir; meu bebê vai conseguir do. Os conhecimentos em neurologia já estavam bem
se agarrar; com ou sem descolamento, com ou sem hematoma. adiantados, mas por mais que se e tudassem os trajetos
Há dias em que eu acredito nisso, em outros não. nervosos, o mistério das crises permanecia inexplicável,
e feminino.
Hoje, o útero está sob controle. Pelo menos, sob con-
Ele vai conseguir. Os h 'I ês S:IO r('sisl '11 trole óptico. Mas isso não impede que ele continue sus-
TI-IÉRESE
tes e as mã s têm n"SS'1 OC:ISitlClrt', 'IV:1. 1 ito, mude d volume e de forma, se intumesça de vida
de energia incalculáveis. Conta-s' qu na (I '(':\ 1.1dI' KO , s -ja irrc jui to. Por mais que se perscrute com precí-
os treinadores soviéticos, para aumentar o ICSl'lIlpl'ltllll ,',10 l\li TOl11ilil11 "tri a o que cresce dentro dele, sabe-se
de suas atletas, pediam que elas ngravi lasscm: <11110111 <111\'11.1, ..<lI :1rc-clon 1 'Z 'a suavi lad xterna, nove me-
te um tempo desenvolviam-se nelas os horrnónios V:-'pl' ,(", (1(, 11111.1 irn:..i..IIVl'1:IIT;IIlC'lcla I, força. Como querer
cíficos da gravidez que aumentavam sua força muscular. (pie' I','() II.\() IlIO ()C]IIt'xc-ntimcntos ambíguos? Mesmo
Depois, elas abortavam. ('ltlIIIIIII,\(1.11'111I ),II.I~,(wllllI'it':I, , :1 .mxi '(\:1<1' .onunua a
24 I )
QUANDO O COIU'O CONSENTE
)

) ser ansiedade. Não tão racional quanto qu 'f .m fazê-Ia


) parecer.
TERCEIRO MÊS
"Qualquer perturbação da capa idade de sentir plena-
)
mente o próprio corpo preju lica a onfiança em si e a
) unidade do sentimento corporal; cria, alé m disso, a neces-
sidade de compensação." O fato de descartar o sentido
.J do tato e da audição, de confinar a visão ao contorno de
uma tela, prejudica decerto a confiança em si, mas encon-
tra uma compensação nas pró teses mágicas da aparelha- • 15 de dezembro
gem tecnológíca. Exceto para as mulheres. Elas não estão
conectadas a esses aparelhos. Ver não as tranqüiliza, por- Fiz minha inscrição no serviço de pré-natal Já não havia vaga
que não é pelo olhar que elas estão ligadas ao filho. Seu no hospital V, cuja fama atrai todas as gestantes do bairro. Dirigi-
conhecimento é infinitamente mais rico e mais profundo. me à maternidade R.,que é conhecida pelo atendimento caloro-
so e atento. Preenchidas as formalidades administrativas, encami-
ento n9 4 desco os sculos lo - nharam-me para uma saleta onde uma moça de uniforme bran-
) es, pp. 143 e 144. co me explicou o funcionamento da casa, as consultas médi as
obrigatórias e os exames a fazer. Em certo momento, perguntou-
me o que eu esperava da mater-nidade R. Sua pergunta me pe-
• 1 O de dezembro gou desprevenida, eu nunca pensara nisso. Respondi que deseja-
va que meu parto fosse feliz.Pelo jeito, minha resposta não satis-
Segunda ultra-sonografia. Cheguei com a bexiga cheia - "to- fez, mas eu não sabia o que acrescentar. Nunca tive um bebê, não
me um litro de água antes de vir", dissera-me a secretária quan- sei o que se pode esper-ar de uma maternidade.
do telefonei para marcar hora. A bexiga cheia achata as circun-
voluções do intestino e ajuda a destacar o útero na ultra-sono-
grafia. Já havia seis pessoas na sala de espera quando cheguei! • 17 de dezembro
Uma hora de espera com a bexiga prestes a estourar, mas valeu
a pena. O veredito dos ultra-sons foi muito apaziguador: o de- Somos treze: seis casais e uma mulher sozinha, sentados num
)
senvolvimento do bebê é perfeito, o descolamento tornou-se um tapete no chão, de nariz espetado, olho fixo na televisão ao alto
"minidescolamento" e o hematoma um "rnini-hematorna". Ou da parede. As mulheres estão grávidas e seguram a mão do mari-
) seja, tudo entrou nos eixos. Uma semana inteira de aflição à toa. do, a que está sozinha senta-se bem er-eta.Assistimos a um filme
Po,- que a Dra. M. não soube, ou não quis, escolher melhor suas sobre o parto numa sala da maternidade R."É facultativo, expli-
palavras ao interpretar a primeira ultra-sonografia? cou a senhora das fichas.Você não é obrigada a vir, mas o filme
é tão bonito ..."Na tela, três mulheres dão à luz, uma após a outra.
Três mulheres inacessíveis, nem seus suspiros nem seus sorrisos
-t 3. Wilhelm Reich. Afuuçáo rio O!'/!,ClSJ?/O. São Paulo: Brasiliense, 1995. são para nós. O que estarão pensando? Sentindo? Jamais sabere-
I
26 27
QUANDO O CORPO CONSENTE TERCEIRO MÊS

mos. Nenhuma fala, antes ou depois do parto. Elas acabam de gãos, barriga e costas. Quando assistem a um filme
viver algo que não podemos compreender. Filme mudo, que nos sobre o parto, os futuros pais ficam com lágrimas nos
deixa perplexas. Então, é isso. O quê? Não sei. Será o que me es- olhos: pela grande sinceridade e pela intensidade do
pera? Talvez... mistério, as imagens conseguem atravessar a tela e to-
car-lhes o coração. É como se recebessem mizalhas
I:>
res-
sequidas.
Por que as mulheres na tela não falavam,
THÉRESE
ou por que ficaste apenas olhando? De-
sejar um filho, acolhê-lo dentro de si, fazê-lo na cer, tu- • 24 de dezembro
do isso não pode ser percebido pelo olhar. A realidade
se passa fora do campo visual, em zonas do ser inaces- É noite de Natal, a estação de Lyon está cheia de gente e o
síveis ao olhar. trem, repleto. Não sei como vou conseguir viajar de pé até Va-
As mulheres não criam problema, colaboram, concor- lence. Martin não hesita. "Minha mulher está grávida", explica ele
dam. Deixam que lhes sondem a barriga, que filmem o a um rapaz sorridente, que sem perder o sorriso cede-me o lugar
nascimento, que o visor da câmera fique entre suas per- Diante de tanta boa-vontade, o pai revelado faz questão de ex-
nas, e há mulheres que concordam em ver o filme. Mas, plicar que não "está blefando". Quem precisa ser convencido da
dentro delas, algo não se afina com o espetáculo. O que, autenticidade de nosso bebê? O rapaz sorridente ou nós, os
em tempos comuns, elas aceitam sem problema, agora pais? Fico vermelha e sem graça até a partida do trem. Sem jeito
as incomoda. Por causa da intrusão em sua intimidade e, e com vontade de rir. Usurpação de título: minha barriga não apa-
também, pela necessidade de unidade de seu corpo. rece, serei de fato uma gestante? E terei de revelar um segredo
Em tempos comun , é verdade que o corpo é mos- tão íntimo a um desconhecido? Desejo que minha barriga come-
trado, exibido, filmado, fotografado. Mas deve subme- ce a crescer e fique logo evidente!
ter-se às leis da imagem. Ele será forçosamente achatado,
recortado, enquadrado. E classificado de acordo com cer-
• 3 de janeiro
tas categorias. Ninguém vai se dar ao trabalho de olhar
para um corpo em si. Ele tem de caber numa rubrica -
As férias já vão longe. O ar puro do campo deixou definitiva-
esporte, sexo, arte, moda. O que leva ao estereótipo. Para
mente meus pulmões. Os do bebê ainda não funcionam, mas o
prender o olhar do espectador, as imagens precisam ser
oxigênio parisiense que estou respirando é o mesmo que circu-
cada vez mais espetacular s. O espectador recebe cho-
la em seu corpo e lhe irriga os órgãos. Do mesmo modo, o ali-
ques visuais, seguidos de aneste ias pelas quais tudo lhe
mento que como é que lhe permite desenvolver-se. Mas a co-
parece uma mistura uniforme. municação entre nós não é direta.
Mas a mulher não onscgue s 'r -spc ta lora quando A leitura dos manuais para gestantes me revelou a presença
espera um filho. Nem do pré prio parto, n '111 10 das ou- de um espantoso intermediário entre meu bebê e mim: a pla-
tras mulheres. Ocorre algo pr fun 10 que te irn .rg nas centa, que supervisiona e organiza todos os nossos contatos.
raízes da humanidade. Dás à luz orn lll;' pele, l 'lIS 'r-

28 29
)
)
QUANDO O CORPO CO SE TE TERCEIRO MÊS

--------- -
Qual -, a fun 'ao da placenta?
)
Sem a placenta, o bebê não poderia d .scnvolv 'r se no ull' tímetros de diâmetro e dois ou três centímetros de espessura. A
ro da mãe. É o intermediário indisp nsáv 'I qu 'se .ncarr 'ga placenta assemelha-se a uma árvore cheia de sangue ou, me-
de todos os vaivéns entre o feto e a mãe. A I lac .nta recolhe 1110r, a um punhado de árvores frondosas cujos troncos se divi-
J no sangue materno as moléculas nutri rucs (glicose para a dem em inúmeros galhos, hastes, vergônteas e milhares de ra-
.J energia, feITOpara os glóbulo verm lhos, cálcio para os os- minhos chamados vilosidades. As raízes dessas árvores estão si-
sos ...) e o oxigênio de que o bebê n ces ita; depoi. , ela o pu- tuadas do lado do cordão umbilical, e as copas cheias de vilo-
.J rifica do gás carbônico dos resíduos. A placenta também é sidades voltarn-s para a parede do útero. As vilosidades estão
produtora, fabrica uns vime hormônios indispensáveis ao feto, ~mersas em pequenos lagos cheios de sangue materno, o qual
e protetora: serve de filtro para a maioria das bactérias presen- e renovado uunterruptamente E assim que o bebê se abastece:
) tes no sangue materno, deixando judiciosamente passar seus cada vilosidade contém uma artél!a para transportar o sangue
anticorpos, graças aos quais o bebê fica imunizado contra r~ovo e uma v~la par~ livrar o bebe do sangue carregado de re-
doenças, no seu primeiro ano de vida. Em geral, a placenta é síduos e de gas ca1'.bonlco. O sangue do bebê nunca está, por-
J comparada a um grande bolo. Aliás, o vocábulo placenta, em tanto, m contato du-eto com o da mãe: a troca anguínea se dá
) latim, quer dizer bolo. o fim da gravidez, ela atinge vinte cen- s mpr através das pare les das vilosidades.
.J
Sem ela, o bebê não pode viver. Ora, não foi meu organismo
)
que fabricou essa placenta; suas células, como aliás as do cordão
fundo uterino ----
.J umbilical, provêm do ovo. Isto é, metade do pai, metade da mãe .
)
O mais espantoso é que, sem placenta, nossos dois organismos
nem se tolerariam. É a placenta que permite ao ovo - corpo estra-
nho - incrustar-se na mucosa uterina. Eis o que ocorre: o organis-
mo da mãe identifica a presença do corpo estranho e desencadeia cordão umbilical - .
) o conhecido processo de autodefesa, isto é, produz células assas-
placenta ----
sinas e anticorpos. Mas estes ficam completamente ineficazes. O
uma veia ---,
rebento não é rejeitado. Por quê? Porque a placenta identifica os
assassinos e faz com que trabalhem para ela. Se, por determinado
duas artérias
motivo, a placenta não desempenhar seu papel de defensora do
ovo, ocorre um aborto chamado "de origem imunológica".
líquido arnniótico
O conhecimento desse fabuloso mecanismo e da função da
placenta me traz uma incrível serenidade. É a prova de que meu
bebê não é um pedaço de mim, uma espécie de excrescência ven-
tral, mas é um ser em si, diferente de mim. A placenta é um exce-
colo cio útero -----4--4 . 1(
lente antídoto para o clichê que designa o bebê como "carne de
minha carne, sangue de meu sangue". vagina __ -\-_

30 31
QUANDO O COIU'O CONSENTE TERCEIRO MÊS

, aI orear doce o fundo, ainda se conh ce muito


membrana ---.-----:T'-:?"'-- pouco a respeito do saber do poder dos bebês. Antes
de nascer, eles mesmos preparam o leite da mãe, a par-
tir da placenta. Dessa forma, toda mulher -produz um
leit que não lhe pertence e que, de filho para filho, tem
uma composição diferente'. a criação de animais - tam-
bém somos animais - foi constatado que, e um bezer-
ro for levado a mamar numa vaca que acabou de parir
uma novilha , ess bezerro macho nunca será um bom
artérias - ~-- / t reprodutor; e uma novilha mamando o leite destinado a
um jovem touro nunca será uma boa vaca leiteira. E
com a raça humana? Seria interessante saber, por exem-
plo, como o leite de uma ama, feito para o filho que ela
carregou no ventre e dado a outra criança para a qual não
era destinado, pode influir nesta criança. "Antigamente, ra
engraçado, disse-me certa vez uma encantadora e in-
consciente senhora, as crianças ficavam parecidas com sua
Superfície fetal da placenta. ama-de-leite. Não se pareciam com a empregada, mas
com a ama, em certos casos pela vida afora."
I ão ' fácil explicar como se dá a passagem dos hor-
, , A placenta, que não deixa passar as bac- mônio , porque não se sab ao certo qual do três habi-
THERESE térias, deixa passar a adrenalina. Essa subs- tant s - a mãe, o f to ou a placenta - os pr cluz. Sab -
tância, que se espalha no sangue sob o golpe da emo- s , c ntudo, qu o f to t .rn uma grande autonomia em
ção boa ou má, atravessa com facil~dade a ?lacer:ta. os rela ão à mãe: lc mesmo regula a produ. ão dos hor-
dois sentidos. Desse modo, o bebe e a mae estao con- mônios vitais a s u desenvolvimento.
tinuamente imersos no mesmo sumo emocional. Sabe-se também que os horrnónios maternos são pro-
Qual dos dois começou? Nada prova que o fet~ nã? duzidos sob o controle do cérebro. Não de nosso cére-
seja capaz de comunicar ele mesmo suas emo~oe~ a bro consciente, mas do mais arcaico e mais animal, que
mãe e indicar-lhe quais são seus desejos e preferenClas, se chama hipotálamo. O que ele faz escapa quase total-
influenciar de dentro os zostos e comportamentos mater- mente ao controle do córtex, o cérebro moderno, que
nos durante a gestação.oAssim, bem antes de nascer, já está empoleirado por cima dele. Aliás, sua ação oculta
preferias o salgado ~ adoravas viajar. ~omo é. que eu sei? é conhecida há relativamente pouco tempo p Ia pesqui-
Durante a gravid z, pass 'i a gostar, o de coisas com sal
e a querer viajar; ora, d .pois <lu ' nasc ste, voltei a meus
1. Madeleine Chapsal, Ce que /se Doi/o. Paris: Fayard,
gostos pessoais: fi ar sonhando s .mpr n mesmo lugar
1994, p. 247.

33
)
)
TERCElRO MÊS
QUANDO O COlU'O CONSENTE
)
mento pensar que ele cai no sono na hora da vinda ao
) sa científica. O hipotálamo é o granel' manda huva da
mundo. Contanto que não o adormeçam artificialmente,
) vida. E também do bem-estar, do prazer. T '!TI às suas or-
dens dois sistemas que dispõem d a õcs diferente e à força de anestésico , ' ele que comanda os movimen-
) tos do útero. Podes contar com a competência de teu sis-
complexas. Digamos que um empurra e o outro freia. Às
) vezes, um se antecipa ao outro, e nosso organismo se tema nervoso. Há mulheres que contam mais com o an s-
) desregula. O que é chamado de "simpático" stimu- tesista, que sabe tanta coisa. E sabe mesmo, mas nunca
Ia nas situações de estresse, é ele que acelera as contra- tanto quanto os neurônios funcionando num corpo sau-
)
ções do coração e do vasos, que palha a adrenalina dável.
j
no sangue. O outro, o "parassimpático", procura acalmar
e refazer nos a energia ameaçada. Um está de plantão Mouimentos n":' 5 e 6 espi cost ,
de preferência à noite, o outro, de dia. pp. 145 147.
)
Para o bem-estar teu e do bebê, é indispensável o
bom entendimento desses dois sistemas. Podes ajudá-los
)
a se porem de acordo. Como? O hipotálamo está em li- • 12 de janeiro
~ gação constante com a boca, os olhos, os ouvidos, as na-
) rinas, a pele, todo os receptores dos sentidos que ficam Cansaço e moleza. Ao me levantar; só tenho vontade de uma
na fronteira do interior com o exterior de teu corpo. Quan- coisa: deitar de novo. Assim que me deito, fecho os olhos e dur-
do trabalhas a boca, teu sistema nervoso torn.a-se mais mo. Não é como o esgotamento do atleta depois da prova: mais
estável e confiante. Já vou explicar como trabalhar os parece o torpor intermitente da adolescência. Aqueles dias glau-
olhos. cos em que tudo parecia inútil, exceto dormir e continuar a dor-
Ao longo da coluna vertebral, encontram-se as cone- mir; o sono parecendo a grande escapatória. Os meus dias de
)
xões da rede de células nervosas. Por meio de leves mulher grávida têm a mesma indolência. Li que é um dos efeitos
J da progesterona, horrnônio produzido em grande quantidade
pressões, com pequenas bolas de cortiça que costumo
) usar, podes enviar através da musculatura rnensag ns para durante a gravidez. O sono, qual teia de aranha que impede as
serenar os gânglios simpáticos, isto é, as conexões neu- mães de se agitar-em.
rais. Estas conexõ s ão qual bebê que preci a ele carinho Aqui estou eu, como na adolescência, sujeita à for-ça hormo-
para acalmar o choro: têm necessidade de contato. ão nal De novo, o corpo foge ao meu controle e faz o que bem
J percas tempo buscando sua localização exata, pois as entende. Aos treze anos, um pouco assustada, vi meus seios cres-
. cerem, os quadris se alargarem e o nariz indeciso se achatar no
mensagens circulam com facilidad ao longo das costas.
meu rosto. Sentia-me uma estranha. Agora começa tudo de novo.
)
Meus seios aumentam, a barriga cresce, já o nar-iz fica no mesmo
O hipotálamo, que comanda a vida, é o senhor da fo-
lugar; mas palpita sem parar; sensível ao mínimo eflúvio. Torno a
me, da sede e do s xo. É também o S nhor por exce-
) sentir-me uma estranha.
lência do na cirn "'n10. T CI ois ele 1 'r atraído irresistivel-
Adolescente ou mãe em botão, a prova a enfr-entar- é do
mente dois ser" ele 1'r fundido :1 ('('lula !TIélS ulina com
mesmo calibre: sair de um estado para tornar-se outrem. Ontem,
a feminina, le l r amadurrci 10 () fruto não tem cabi-
35

)
QUANDO O CORl'O CO SENTE TERCEIRO MÊS

era deixar a infância pela incerteza da adolescência; hoje, é dei- Ninguém gosta de sentir náusea, vertigem, a boca eca
xar a liberdade de adolescente pela responsabilidade materna. ou repleta de saliva. É desse modo que nos habituamos
Transição por águas turvas. Acho que tudo vai acabar bem. No a recalcar nas profundezas do corpo todas as emoções,
mais tardar, em julho ... Além disso, os distúrbios da gestante - para não sentir as descargas vegetativas que-as acompa-
náusea, vômitos, salivação e outras mazelas de mãe - estão devi- nham.
damente consignados nos manuais de gravidez, o que de certa A mulher grávida, não. Ela está no seu corpo, ela é o
maneira tranqüiliza. Infelizmente, os livros não explicam direito as próprio corpo. Seu sistema nervoso se expressa, e ela
causas fisiológicas de minhas alterações internas. Gosto mesmo não consegue reprimir essas manifestações. O que é óti-
é da explicação popular: o que a mulher prenhe vomita é a sua
mo. Seria bom que não houvesse conflito, ma , já que ele
ansiedade. Já não gosto muito da análise culpabilizante segundo
existe, o fato de bloquear as manifestações corporais sig-
a qual só as mulheres que rejeitam a gravidez sentem mal-estar.
nifica bloqu ar o corpo todo.
Há também quem diga que os distúrbios aparecem apenas em
Reprimir as manifestações do corpo é enrij c r os mús-
mulheres divididas, as que oscilam entre o desejo e a rejeição da
culos, é formar barreiras. A energia, ao animar ada um
gravidez. Mas nem todas as mulheres são assim! Esperar um filho,
carregá-Io dentro de si,fabricá-I o, imaginar sua criação, pode haver
de nossos órgãos - também eles em movimento -, é o
reviravolta maior? Será então de estranhar que, em dado mo- fator de nossa unidade e circula em nosso corpo dcsd
mento, a futura mãe se pergunte se estava certa ao lançar-se em o instante da concepção até o da morte. Nosso organis-
tal aventura? mo nunca esquece seus primórdios, quando era uma
bolinha minúscula, uma espécie de amora microscópi-
ca, a 'mórula', feita de células muito parecidas que já pul-
Teu bebê não esperou que lhe desses o savam e respiravam. Pulsar e respirar é típico da vida.
THÉREsE Hoje, em teu corpo, há centenas de bilhões de células que
consentimento de tua razão, foi ele quem
decidiu. Lá estavas, em total inconsciência - isto é, em estão pulsando e respirando com ritmo. O ritmo de tuas
total verdade - e aconteceu. O teu sistema nervoso po- células é que dá energia a teu corpo. Como o ritmo das
deria ter impedido o encontro. Às vezes, ele não deixa ondas faz a força do oceano.
os espermatozóides amadurecerem e os óvulos se forma- Por nquanto, o ritmo do bebê é o mesmo que o teu.
rem, caso a situação seja de estresse, ou então não deixa Dentro em breve, no seu quarto mês de embrião, ele vai
que as duas células reunidas consigam se implantar. Mas, escolher um ritmo próprio, distinto do teu.
no teu caso, a vida está a caminho. Para a célula, respirar é inchar-se e contrair-se, aspi-
O teu sistema nervoso tateia, é verdade. Procura ajus- rar os líquidos do corpo e expulsá-los. Juntas, as células
tar-s e adaptar-se da melhor maneira. A linguagem do dos músculos as do órgãos fazem um ince sante mo-
corpo é isso também. As pessoas fazem de tudo para vimento vibratório e rítmico. Assim, teu orpo e o do
barrar a intrusão d 'L as s nsacões "vegetativas" isto é bebê vibram m movimentos ínfimos e fortes que não
" "
que pertencem ao sist .ma n urov getativo, quando as percebes, e que são mais importantes para ambos que
moções - e também os .onflitos - são muito fortes. os movimentos da respiração ou da circulação cio san-
gu , porque estão na base da própria vida.
37
)
) TERCEmo MÊS
QUANDO O CORPO CO SENTE
)
Pensas que estou fugindo do assunto, minha filha? Já
J A pulsação de todas as nossas élulas harmonizadas
me conheces e sabes como antigam nte meu trabalho
) produz em nós uma incrível força en rgélica. Essa força
era minha preocu pação constante. E eu não te deixava
não se traduz pela nece sidade de agitação: ficamos de
,) em paz. À mesa, na cozinha, em qualquer lugar da casa,
acordo com todo o nosso ser, sereno e muito alerta .
..J eu continuava falando daquilo que era a minha paixão ...
Às vezes, porém, sentimo-nos esgotados, com o rit-
Mas, estás certa, meu girassol, vamos voltar ao único
) mo interrompido. "Não há contato", costuma-se dizer,
assunto que te interessa.
entre duas pessoas. o nosso caso, não há literalmente
) Gerar e dar à luz ão atos intensos. A mulher grávida
contato dentro de nós mesmos. Aliás, nem fora, pois
) não pode desp rdiçar com bloqueios nem uma migalha
pessoas. e coisas nos parecem hostis e em interesse .
..J de sua energia. Há uma perda considerável de energia
Nossa cabeça está em desacordo com nosso corpo, e
quando se mantêm os músculos contraídos. É claro que
) nossos braços, costas, pernas estão em desacordo entre
ninguém tem consciência ele estar fazendo força. Mas a
si, e todo o nosso corpo está em desacordo com o
pessoa se sente esgotada; ao longo de dias e anos o or-
mundo que o cerca. Todos os seres humanos, todos os
ganismo vai armazenando cansaço no músculos. N5 ,
animais, todas as plantas, todos os seres vivos têm uma
porém, em todos os músculos. Os mús ulos post 'rim 'S
vibração universal que os une. No instante em que ocor-
elo rpo têm um. forrnidáv I pod r de contração. T~'l11,
re um golpe físico ou psíquico, na hora de um conflito,
aliás, uma for a in rível, ror motivos anatômi 'os -Tisio-
nossos músculos se contraem. Se não encontra m um jei-
làgicos bem precisos, dos quais pretendo logo I ' Ialar,
to de se relaxar, a energia, que era fluida, se cristaliza.
porque e tão r 'Ia .ioria los à man 'ira '01110 CSL:l S' for-
E sempre em determinados lugares do corpo. Concreta-
mando o eml rião d t u b bê. Vou explicar omo a po-
mente é possível ver e tocar nos lugares em que a ener-
tência de nossos mús ulo posterior s, da nuca ao cal-
gia se acumula, como solidificada. Durante meu traba-
canhar s, r pre enta ao mesmo tempo nossa força e
.J
lho, muitas vezes senti ao toque dos d dos essas zonas,
nossa fraqueza.
que chamo de zonas mortas. A pele, mais spessa, pren-
) Costumamos empregar a força de nossas costas con-
de-se às camadas musculares subjacentes. As fibras mus-
tra nós mesmos. Em vez de fazermos os músculos fun-
culares imobilizadas estão rígidas e contraídas. Apare-
cionarem para nosso bem-estar, invertemos suas poten-
cem edemas e celulit , quase sempre, os órgãos das
cialidades e os destinamos à impotência.
zonas correspond nt e, tão congestionados.
Invertemos em sentido próprio. Com a região lombar
Dessa forma, a cul t nada mais é que o indício ex-
arqueada, o púbis contraído, em atitude de recusa, cer-
terno do bloqueio dos músculos ias coxas, da pélvis e
tas mulheres - e homens também - quando peço que
da parte inferior Ia ostas. Não há reme emagrece dor
projetem o púbis, não entendem e qua e sempre proje-
que dê jeito. No lado d cI .ntro, na profundeza da ba-
tam o umbigo. Acentuam ainda mais o arqueamento da
cia, o ovário, o út rc, os é)rg;los ) .nita is estã sofridos,
região lombar e comprimem o sexo entre as pernas. Um
I e as mulheres, depois (\ , onuru .rnr s .us tormento su-
organismo sadio deveria conseguir aproximar sem difi-
perficiais, quase mpr ' 1;11l1\)VII1 1":11;1111 (I()s iorm mtos pro-
I fundos. Falam de Irigid . ':llv dl' v, I 'I ilitl:ldv.
culdade os dois pólos originais: a boca e o sexo.
I 39
iH
I
I)
I
QUA DO O COlUJO CO SENTE

A mulher que dá à luz sem se violentar aproxima es-


sas duas aberturas, a inferior escancarando-se como uma QUARTO MÊS
"cornucópia", diria Françoise Dolto.
Segundo Reich-, "durante o orgasmo, o corpo aproxi-
ma dois órgãos particularmente importantes do ponto de
vista embriológico, a boca e o ânus". Por que falar aqui
de orgasmo? Porque o orgasmo e o parto são parentes
próximos e inquietantes. Há alguns anos, uma aluna dis-
se-me ter tido na hora do nascimento de seu primeiro
filho uma sensação de gozo parecida com a do orgasmo. • 19 de janeiro
Durante o orgasmo e durante o parto, o corpo é inva-
dido pela mesma substância hormonal , a ocitocina , que A vida de grávida tem códigos e itens considerados obrigató-
se libera em grande quantidade pelo sistema nervoso. rios, No terceiro mês, há ainda uma ultra-sonografia: "É a is
As pulsações do orgasmo vaginal prenunciam as pulsa- i po que e ntu is do
ções - gigantescas - do útero na hora do parto. , informou-me o médico do pré-natal Qual mãe teria a co-
No orgasmo, o prazer ocorre por uma excitação das ragem de evitá-Ia? Isso nem me passou pela cabeça, Dócil, mas
faces laterais do hipotálamo. E no parto? Onde está ins- em falta: o Dr. B. reclama do meu creme "antiestrias'' - provavel-
crita a memória do medo? o corpo todo, e é por ele que mente o inofensivo hidratante que eu tive a infeliz idéia de pas-
pode ser dissolvida, arrastada pelo fluxo de uma pulsa- sar. i os nõo isso!
ção serena, bem antes da hora de dar à luz. de tudo, nõo . O sermão fica registrado. O es-
quecimento de meus preciosos óculos deixa-me entregue, de
ventre e coração atados, ao veredicto do médico.
ento de nQ 7, pp. 148 e 149.
"Veja o pé direito!"
Espero, impaciente, pelo aparecimento do esquerdo.
"Ah! Esse tal de creme! Não consigo enxergar o outro.

- Aí está ele!"
Solto, afinal, a respiração involuntariamente bloqueada em
meus pulmões.
O Dr. B. mede tudo o que vê: os ossos, o diâmetro do crânio,
o umbigo ...Tudo parece normal. Meus ombros começam a des-
prender-se das minhas orelhas.
"O bacinete direito é duas vezes maior que o esquerdo,"
A chamada à ordem é como um soco no meu estômago, e
os ombros sobem de novo até perto das orelhas.
2. Wilhelm R i h. A cnrálisc do . . ão Paulo: Martins Fontes, 1989. "É mesmo???
()
41
)
)
QUANDO O CORJ'O CONSENTE QUAKfOMÊS
)
) um b bê irreconhecível - um pé, o sexo, um rim - não
) - O que é o bacinete? é capaz de estabelecer uma ligação entre essas repre-
- É o rim. sentações de pedaços de feto em preto-e-branco vagan-
)
I - É grave? do por uma tela e o teu bebê bem vivo.· Então o conso-
- Hum ... lo de teus olhos é um pedaço de papel, uma abstração
- É grave?? de bebê. Os olhos das jovens mães, seu coração e seu cé-
- ...pode voltar ao normal sozinho", resmunga o Dr. B. rebro são na certa superdotados. Conseguem dar corpo
Odeio essas frases curtas, essas palavras que não dizem nada a traçados, sinais, números. O trabalho do técnico é o
ou dizem demais. inverso. Nada de corpo. Ele desencarna os corpos. Esme-
Ainda tenho direito a uma última proposta, lugar-comum da
ra-se para colocar direitinho uma cruz nos quadrados
ultra-sonografia do terceiro mês:
previstos. A organogenesia, isto é, o período de forma-
"A senhora quer saber o sexo da criança?"
ção do embrião, nada mais é para ele do que um mo-
Troco um olhar com o pai, que veio comigo. Sim, é sempre
mento de potencial má-formação. O seu negócio é a má-
sim.
"Menina, uma meninona", solta ele enquanto redige o relató- formação: vive em busca de uma, e imagino como fica
rio. "Há um excesso de líquido amniótico. A senhora deve estar cheio de si quando descobre na tela uma inédita, uma
comendo muito açúcar", diz em tom de censura. "pra valer", que nenhum de seus colegas encontrou ain-
Tenho a impressão de ser uma mãe horrível, irresponsável. E da. Para alguns técnicos, o jogo de busca é uma espé-
no entanto não gosto de açúcar. cie de ideog e, um jogo só deles e do qual as mulh -
"Ah! É? Então deve ser o metabolismo do açúcar." res - que não conhecem as regras e não estão a fim de
Decididamente, não tem jeito. A ultra-sonografia não foi in- jogar - estão excluídas. Os enganos? ão são raros e às
ventada para dar tranqüilidade à futura mãe. É melhor não dar vezes podem chegar a enormidades, mas, como no jogo,
importância. Articulo um "até a próxima, doutor" só para dizer não têm conseqüências. Exceto para as mulheres, que pas-
alguma coisa e saio depressa. O elevador está com defeito. Que sam pelas lágrimas, pelas noites em claro e pela angús-
sorte: assim não preciso ver meu rosto no espelho: nariz verme- tia, capazes de destrambelhar o corpo e a mente. Uma
lho, boca retorcida, lágrimas caindo. Enterro tudo isso no ombro aluna escreve-me da Itália:
do futuro pai, que faz um esforço para parecer forte. Chegando
em casa, meu consolo é olhar o retrato colorido de nossa filho- E 10 de ei o, u cujo
ultra-sonografia l-
na. Narizinho arrebitado, cabeça bem r donda. É uma graça. Eu l eu esent ltu nuc
gosto muito de você, minha qu rida. espess cut de e did dos
fêrnures e inferior à no . eu ginecologis disse- e
te t l ente éss o ognóstico, po que é u -
Como amor', :11('1'1:1.. , '1'11:1 VLo.;:IO, sCI ;1- l c o ssô ic co g d ence licos, e o di -
THÉRESE rada dos utros SCI11i(I().', ,'V ('(lI11'1111(lill, • nóstico é de tiuo C o! e dos c sos. Cinco di
os olhos só te serviram para -honu . '1'11:1 L"I.I, ol u i ';1(1:1 depois, bi o esul dos t tei-
a ficar sozinha e a tomar a di;1111VÍl,I, rll) 1('111.11 tlL',lill \1111' que est perfeitamente oi detect -

43
QUANDO O COIU)O CONSENTE QUARTO MÊS

do tipo de o arnnios íntese ne se pertrofia do cérebro numerador e classificador em detri-


- ç mento do outro, o intuitivo e sensível. Além disso, o cé-
e defazer síntese e espe rebro numerador também é falante. De tal modo que
e dois e domina com facilidade. Domina e nos retira metade do
. Eu conseg os , ei nosso ser. O centro da linguagem encontra-se no cére-
. e dois de indesc el. ,
bro esquerdo. Talvez seja esse o motivo por que a maio-
no 16 de ço, eu e
ria das pessoas atingidas por violenta emoção não en-
o tudo , indício de
contra palavras: não ocorre a ligação entre os dois he-
l ô , é -sonog
nesse ô - misférios - um sofr , e o outro, alheio ao sofrimento de
do t se ne l de seu gêmeo, não cons gue ajudá-lo a descarregar em pa-
esp lavras coerentes o excesso de dor.
Agora, minha cara, vou te contar o que talv z ainda
e que milagre? acrescenta ela. Ou e do não saibas e que recentemente agitou uma part da
p elh Porque está cheia de ternura e não pode admi- munidade científica: as mulheres têm a particularida I
tir um dano causado por pessoas, mesmo incompetentes. de falar tanto com o cérebro direito quanto com o s-
Como é que as mulheres conseguem, com a barriga querdo. É, na mulher, o centro da linguagem encontra-
cheia de medo, levar a termo corajosamente a gravidez? se nos dois hemisférios'. Por muito tempo pensou-se que
Porque têm uma vantagem imensa: a cabeça no lugar. É o cérebro esquerdo tinha a exclusividade da palavra e
verdade, pode alguém ser especialista em números, em que o direito era silencioso. Agora, de fonte oficial, sa-
códigos, em transposições, pode ser. um "crânio", mas be-se que na mulher ele fala. Que diferença faz? O cére-
só com meio cérebro. Apenas o hemisfério esquerdo se bro direito está em contato com o corpo; sem ele, não há
desenvolveu, aquele que analisa com frieza, segmenta, consciência do corpo e são poucas as percepções cor-
converte a realidade em abstração. Refiro-me ao córtex, porais. Se a palavra da mulher é diferente, é porque vem
nosso cérebro especificamente humano - situado na ca- de outro lugar. Passa por seu corpo e coração. Aliás, quem
beça acima do arcaico, o hipotálamo - que comporta dois presta atenção percebe: essa palavra é mais concreta,
hemisférios, o direito e o esquerdo. mais sensível.
A visão global dos seres e das situações, as emoções, É preciso que as mulheres saibam disso, sobretudo as
a imaginação, a mú ica, o calor humano competem ao submissas, as que pensam que não sabem nada, que não
outro, o hemi fé ri dir it . Este existe em todo ser hu- entendem de nada. Saibam que podem sentir, pensar e
mano, é claro; d sd o ini io Já estava ele com todas as falar com toda a cabeça, porque seus dois hemisférios
suas possibilida I, , mas I r' .isava que o deixassem de- cerebrais estão em ligação direta com o corpo. O con-
senvolver-s . T c 1,.1(.10, ("li rim: I ), privado de alimento, o tato com o corpo e a consciência desse contato lhes dão
cérebro direito fí a .mbotudo, lcfinha. corre uma defor-
mação bem conh 'i 1;1, ;1 p.utir \;J '.'1 .ola primária: a hi- 1. Nature, v. 373, 16 de fevereiro de 1995.

45
)

)
) QUANDO O CORPO CO SENTE QUARTO MÊS

) estabilidade e resistência. abedoria, realismo e amor de suas funções", como ouvi mais tarde, quando cheguei à idade
J
) pela vida, elas já têm d nascen a. das expressões burocráticas. Na hora, não chorei. Nem nos dias
seguintes. Mas, depois, chorei. Muitas e muitas vezes. Até hoje. As
lágrimas brotam e não consigo segurar. Quando estou só, pro-
I
dos olhos ri? 8, pp. 149 e 150.
,) nuncio "papai" baixinho, porque também me fez falta poder dizer
I

) essa palavra. Hoje, espero meu primeiro filho, e ele foi "produzi-
do" num 15 de outubro. Afinal, acho que não foi acaso. Também
• 25 de janeiro
não foi premeditação: meu filho pertence à categoria dos bebês
desejados mas inesperados. Meu inconsciente, já que não consi-
Falar com o cérebro direito é formidável. mas não deixa de
go descobrir outro responsável, decidiu fazer brotar a vida no
ser cansativo! A palavra que passa pelo corpo e pelo coração é
lugar da morte. Mas a angústia da morte não se apaga com um
a porta aberta a todas as perguntas sem resposta. Elas se atro-
ímpeto de vida, por mais forte que ele seja. A inquietação per-
pelam, algumas explícitas, outras nebulosas. Quem é essa mulher?
siste. A minha talvez esteja ligada a esse sofrimento da infância.
Serei eu? Mais do que eu? Eu que não me conhecia? Liberada do
Todos nós temos nossos fantasma .qu ;io por v I i1l1j()', ri,)
jugo do mundo, centrada, concentrada. Ou será menos que eu?
gu rda. Dar ri viela ,1 Im1 <;( I (1)1 igd iIH'viLIV<'111)('111I' 01 voll.u .11)
Uma mulher girassol, cujo sol é o ventre ocupado por outro ser?
pc ado. I' m0111.1I ,I', 1)11~1,('11'"MIIIII)', 11.1',11IIII'IIICl', ',,111111.111.Idll"
) Mulher em trânsito, ou vou continuar assim, outra, diferente? Mes
P 1,1 11I',IClIid ('ltlC)(IOI1,tI lleJo, 11'11'., )11.11111111111'111)(,111 1.11,11, 1I
mo quando o bebê tiver nascido ...A metamorfose apenas com
cllI I "p.ip.u". (' 1'11 Ile ,lIt'l 1111111C1
II I1 1111111",1 I
çou. De perfil, só se vê uma barriguinha, como se eu tiv s
comido demais. Por dentro, são dois corações que batem m I
voroço. Há horas em que me pergunto se isso é normal. Por que
'l'llhl~ESF N:le) v 1,Iv 1I1,lIe)f ~()IIIII\('l1le) cio (IIIV 11.1() po
não consigo me livrar desta ansiedade desde o dia em que apa-
dvr c: it.rr () xohin: '1110
de quem ,....' ama;
receu a linha azul no quadradinho do teste? Por que não sou
como a gorduchona Mathilde, grávida de seis meses, toda cora- senti i s inúmeras v 'Z .s, E ag ira lu vai' cons .guir. Mai
da e feliz? Ou como Clara, que espera-o terceiro filho com os que uma proteção, será uma cura. O que m é imp s-
9utros dois agarrados à barra da saia, mas sem perder o ânimo? sível fazer por ti, vais fazê-lo sozinha.
E verdade que também existe a Antoinette, grávida de três me-
ses, que tem pesadelos toda noite. os sõo elos, e você é ,
me diz Martin carinhoso, para me acalmar. E que othilde
Ir
contou tud .. Sei lá. Às vezes, tenho a impressão de que a gra-
videz é uma tempestade que faz subir à tona pedaços de vida.
Ameaçadores icebergs flutuando para cá, para lá. Um desses ice-
bergs parece uma coincidência: será de fato coincidência? É a
data de 15 de outubro. O dia que a ultra-sonografia assinalou como
presumível data da concepção do bebê. Para mim, 15 de outu-
bro é um domingo em que eu tinha quatro anos. O dia em que
perdi meu pai. Morto com uma bala no coração, "no exercício

46 47
QUINTO MÊS

• 27 de fevereiro

Casamento.

• 28 de fevereiro

Pois é, nós nos casamos.Casamento com chuva, casamento


de ventura. Chegou a nevar! Para não sentir frio na igreja, eu
estava com um bolero branco de pele sintética, comprado na
véspera por minha mãe naTati. Posso imaginar como ela correu
de um lado para outro até encontrar um agasalhoque servisse.
Pensando bem, foi mesmo um casamento atabalhoado! Como-
vente, mas confuso. Nada a ver com o que se imagina numa
redação do tipo "Conte o dia de seu casamento".
Tínhamos escolhido uma igrejinha oriental com cheiro de in-
censo.O coro era levantino: enormes tenores barbudos que can-
tavam em árabe e em latim, mas o padre era belga,tio de Martin.
Ao entrar na igreja, segurando com uma mão o véu meio frou-
xo e com a outra o buquê de noiva, minhas pernas se puseram
a tremer e meus olhos ficaram embaçados. Não sei como che-
guei ao altar Nem como voltei p Ia nave no fim da cerimônia.
Foi o ar gelado da rua que me recompôs as idéi s.Aliás, uma ta-
refa e tanto me aguardava:responder aos apertos de mão, bci
jar muita gente e segurar o meu coque, que ia perel nelo o grarn-
pos um a um. Foi mesmo um casam nto muito ngl acadoí

49
)

)
QUANDO O CORVO CONSENTE QUINTO MÊS
)
) Quando, há um mês, Martin me disse "Vamos nos casar", dei barriga vazia, foi "ele", tenho certeza. Tanta certeza como se ele
um grito. O prédio todo deve ter ouvido. Até eu me ouvia e tinha tivesse me cochichado ao ouvido. Seria a mão, o joelho, a cabe-
)
a impressão de estar louca. Por que fiquei tão furiosa diante de um ça dele? Não sei. Mas era ele. Pela primeira vez. Ele e não eu. Seu
projeto afinal muito gentil e quase banal, embora as estatísticas primeiro sinal. Somos dois, disso estou certa. Como um sinal de
) digam que os franceses se casam cada vez menos? Eu não queria reconhecimento, coloquei minhas mãos sobre esse corpinho en-
me casar. Não naquele momento. Não entendia porque o fato de cafuado na minha carne. Sei que é o início de um maravilhoso
esperar uma criança tinha de levar ao casamento. Mas Martin diálogo.
entendia com clareza. Ele é homem, e os homens não carregam o
) bebê na barriga, não o fazem crescer. De fato, não fazem muita
coisa, pelo menos até o bebê nascer Como é então que vão assu- _, Ao completar dezoito semanas, teu bebê
mir o papel de pai? Aos próprios olhos e aos olhos dos outros? THERESE tem rosto de gente, as mãos e os pés es-
) Quando se tratava apenas de amar a dois, bastava que nos dissés- tão perfeitos ... Isso quer dizer que, antes, ele não tinha
) semos nosso amor e estávamos em condições de igualdade amo- rosto de gente? Antes, ele passou por todas as figuras
) rosa. Agora, o bebê existe, mas só está em mim. Embora seja de dos antepassados de nossa humanidade, e por todas as
ambos. Compreendo o desassossego de Martin. Para ele, o casa- suas formas. As duas primeiras células do ser humano tra-
mento era o único meio de apropriar-se de nosso bebê. zem em si a memória de inúmeros antepas ados de a -
) Há um mês, seu "pedido" de casamento me perturbou. Achei pecto cambiant . Em nov meses, a natur za r faz I
) que ele passava da conta: não tinha o direito de me propor casa- modo compa to SU'l obra d quinh nt milhõ s dano
mento a pretexto de eu estar grávida. Eu estava negando sua d transformação. v ntre da rnulh r ' um plan ta qu
)
participação no caso. Para mim, bebês e filhos eram negócio de r constrói ind finidarncnt o mundo m seu secr to
mulher. Minha mãe criou sozinha meu irmão e eu desde a morte
mini-oceano. T u lindo b bê tornou-se peixe; ao com-
) de meu pai, e nenhum outro homem interferiu na minha educa-
pletar quatro s manas d vida, com o aco vitelinico nu-
,) ção. Por que iria eu achar legítima a pretensão de um homem -
triz sobre a barriga, parecia um jovem alevino. Com uns
embora amado e pai de meu filho - de partilhar a responsabili-
arremedos de membros, ficou semelhante às criaturas
dade por esse bebê? Levei tempo para dizer sim, sem gritar não
semi-aquáticas e serniterrestres provenientes do oceano
por dentro.
primitivo; neste momento é mamífero, com uma espé-
Não lamento o casamento às pressas. Feições pálidas, casacas
cie de pelúcia recobrindo todo o corpo, a lanugem ... Tal-
cinzentas e vestido branco feito para barriga meio volumosa. O
) vez seja por causa dessas metamorfoses inquietantes que,
que ficou de melhor recordação foi quando, à noite, sozinhos e
. rindo, fizemos tilintar nossas alianças, uma contra a outra .
durante séculos, houve hesitação em se reconhecer o
feto como membro da família humana - era tido como
um ser híbrido, meio animal, meio criatura sem alma.
• I? de março Por que estou te contando uma coisa que diverge das
historinhas infantis, próprias para berçários? Porque, em
Ele se mexeu. Eu estava sentada, quieta, quando de repente todas as formas cambiantes desses corpos desde a noite
eu o senti. Fugidio, quase imp IC ptív I. Ni10 foi um gorgulho de dos tempos, há uma peça mestra de sua estrutura que
-,
'i0 51
QUANDO O CORPO CO SENTE QUI TO MÊS

permaneceu praticamente intacta. a coluna vertebral e nas e continuam seu percurso por todo o corpo, da a-
seus músculos. Tens de contar com esse par para deixar beça aos pés. Parecem desconhecer que temos p ma'
nascer teu bebê: é um par mais antigo que o cérebro, continuam num bloco único de uma extremida I 'à u-
mais antigo que os membros, mais antigo que o sexo. tra, como se fôssemos peixes ou répt i . Esses rnús 'u-
O primeiro a se formar em nossa história de vertebra- Ias primeiros, acostumados ao pod r, não o largam nun-
dos, e o primeiro de nossa história individual. ca. Dominam constant m nt , d 'l rm inam a forma d
A coluna e seus músculos foram delineados priorita- nosso corpo, o equilíbrio, o bem-estar, a qualidade e a
riamente no corpo do embrião de teu bebê. Ele estava força de no sos movim int s. A ór lula, estás lembrada,
com três semanas, era uma bolinha de células iguaizi- det rmina o ixo do mbrião da cabeça à cauda. Deter-
nhas, não dava para perceber quais se transformariam mina também o ix ânt r -posterior, isto é, instala uma
em cabeça, pele ou órgãos, e a córdula se formou. A linha divisória ntr as part s diant ira e traseira do cor-
córdula é um minúsculo cordão de células que se dife- po. Somos feitos de dua metades, e essas metades, por
renciaram das outras, e que mudou tudo. Pode-se dizer se desconhecerem, lutam abertamente. Somo' né qu
que a córdula tomou o poder e modificou profunda- permitimos isso, porque não sabemos o que temos nas
mente toda a organização do pequeno corpo. Ela lhe costas. Pergunta a qualquer pessoa que sente dor nas cos-
forneceu um eixo, o da futura coluna vertebral, e inci- tas o motivo dessa dor, e ela responde: "Por que tenho
tou as outras células a se "diferenciarem". Algumas se as costas fracas." Ninguém tem costas fracas, nenhum
alinharam ao longo do eixo na forma de um minúsculo vertebrado, nenhum mamífero, mesmo humano. Nas cos-
tubo: era o esboço do sistema nervoso. Outras células se tas, da nuca aos calcanhares, temos uma herança, uma
alinharam, em pequenos blocos simétricos, de cada lado força bruta, primitiva, força sobre-humana, por assim
do eixo vertebral: eram as futuras vértebras e seus futu- dizer, vinda dos primeiros vertebrados. Todos nós, sem
ros músculos. exceção, a temos; os de aparência frágil têm de fato uma
Insisto nessa particularidade da formação de teu bebê resistência surpreendente, como já pude constatar mui-
porque ela ajuda a compreender tua própria organização tas vezes com meus dedos durante o trabalho corporal.
muscular: como és constituída e como te mexes, e como Então, por que dói? Justamente porque é forte demais.
consegues trazer em ti um bebê, fazê-Ia nascer, com na- Forte demais em relação ao resto da musculatura. O que
turalidade. A natureza é muito coerente, basta relacionar é o resto? Nossa parte anterior, a dianteira do corpo, nos-
entre si as informações que ela nos oferece. sa metade mais recente, mais mole e vulnerável, a que
Dessa maneira, desde nossa origem como embrião e expomos à nossa frente desde que ela deixou de estar
por toda a vida, estamos sob o comando de músculos protegida entre as quatro patas quando nos erguemos
específicos que, no ntanto, a maioria das pessoas nem nos dois pés: a garganta, o peito, a barriga, a face ante-
sabe situar. De cada lado d nossa coluna, feixes de mús- rior das pernas. A parte anterior tem músculos diferen-
culos bem apertados pr nd .m- da cabeça à cauda. É tes, menos numerosos que os primitivos de que já falei.
verdade que p rd rn s nossa auda de embrião, mas Os primitivos, numerosos, fibrosos, apertados, organiza-
isso não quer diz r na h, os m(15 .u] s pa sam pelas per- dos num só bloco de uma até a outra ponta do corpo,
'i2 53
)
)
QUANDO O CORPO CONSE TE QUINTO MÊS

J estão sempre se contraindo. Tud Ih s s rvc d ' I ret x- Que falta de respeito para com a própria estrutura mus-
)
to para a contração, o mínimo rnovim ruo, a mínima cular, para com a inteligência do corpo!
emoção de nossa parte. Eles contra !TI até o can aço, Só uma coisa deve ser feita: permitir que os múscu-
-.J
até o esgotamento. As pes oa imaginam que os rnú eu- los dominantes se alonguem. Se eles se alongarem, as
) los das costas são fracos: se pudes em ver os nós que leis da fisiologia estarão a teu favor. Se eles se alonga-
) têm na nuca, entre os ombros, na parte inferior das cos- rem, não podem mais se contrair, está certo? Ficam ini-
tas, a intensidade das contraturasl ... Mas ver é justamen- bidos. No mesmo instante, seus antagonistas se contraem.
j
te o que não podem fazer: os olhos estão voltados para E assim, sem transpíração, sem esfalfamento, sem em-
) brutecimento, podes tonificar os músculos da barriga.
a frente, e, se abaixam o nariz, só vêm a barriga
..J e a frente das pernas, que lhes parecem moles . Ainda não entendeste? Se a região lombar estiver contraí-
) Por isso concluem que todos os músculos do da, a barriga nada pode fazer. Se os músculos lombares
.J corpo são moles. Entendes o equívoco? Paté- estiverem inibidos, os músculos da barriga podem tra-
tico. balhar. É um jogo sutil de todos os músculos do corpo
Se a barriga é mole, é porque do outro lado que ob decem à intemporais I i fisiológi as da nat 1I-
a região lombar é dura. As leis da fisiologia proí- r za. E não às futili Ia I. Ia mo Ia Iuga».
) bem qualquer ação a um músculo enquanto eu orno p rrnitir qu ' os músculos Ia regiílo lombar, dos
"antagonista" estiver contraído. Os antagoni tas ml ros, Ia nuca, iodos os lominanu-x 1:1 (';I<ll'in P()...,t(·
)
dos abdominais são os músculos lombar s. As- rior 5' alongu '111? I )csll'rtan 10 111.. :1 inl(·ligt'I\(·iíl. (:()II\()
) sim, os músculos da barriga não pod m traba- de uma a outra ' t r 'midílcl . to 10,' ,':I() soli 1:11iox, h,I,'I:1
) lhar enquanto os lombares estiverem contraídos. trabalhar um 1(111) prc -iso pílra que os outros 1'(,;lj:lI\1.
)
E, se os músculos lombares se contraem, suas fi- Podes .onvcncê los ,I S' alongar '111 (111"15 das coxas, I or
bras se encurtam, comprimem as vértebras e de- exempl ,ou na nu 'ti, ou 'lI" 11,1 I larua <.105pós. infor-
)
formam o corpo. A região lombar é cava,' e a bar- mações circulam bem d pr ssa ,p los músculo dos
) riga, na frente, boceja (cf. desenho). pés, podes alongar os músculos da nuca; pela face pos-
) Para pôr uma criança no mundo, para carregá-Ia no terior das pernas, podes alongar a região lombar. Pode
ventre, é preciso o acordo das duas partes, a arcaica e oferecer um contato firme e tranqüilizador a teus mús-
a moderna, a posterior e a anterior. É preciso reconciliar culos com uma dessas bolinhas qu costumo utilizar no
a força e a fraqueza. ão, não é nada complicado. A gra- meu trabalho. Começa com o lado direito do corpo; des-
videz torna a musculatura mais flexível e as idéias me- se modo, teu cérebro esquerdo - que comanda o lado
nos rígidas. Os horm ~ni p cíficos, destinados a ama- direito - se acostuma também a perceber as sensações
ciar o corpo, também ama iam o spírito. de teu corpo.
Fico desolada guan 10 v 'jo o qu certas mulheres grá- Não estarás fazendo trabalhar apenas os músculos da
vidas fazem p n an 10 lU lh '5 faz bem: respiração, barriga. O trabalho é bem mais amplo: leva à união de
braços estendido para o tI r, perna. agitadas, afastadas, todas as fibras de tua musculatura, para que ela traba-
joelhos dobrado, posíruo til' c xoras, I pé, inclinada. lhe para ti e não contra ti. Liberas a respiração, porque
) 55
QUANDO O 010'0 CONSENTE

o diafragma está intimamente ligado aos rnús .ulo: c.la


costas. Logo adiante vou explicar isso. Ch ga à gra a SEXTO MÊS
natural de todos os teus gestos, à forma perfeita de teu
corpo.

ento nQ 9, pp. 150 e 151.

• 2S de março

Hoje é o dia de meu aniv-rsário, faço trinta anos. Mas podia


estar fazendo cinco ou seis, ou menos ainda. Minha percepção
das coisas voltou à infância, ao tempo em que eu era bebê.
Quando um cheiro agradável e calmante, como o odor de minha
mãe, me dilatava as narinas de prazer. Quando o calor me fazia
engasgar. quando um golpe de ar deixava meu corpo gelado e o
barulho me fazia estremecer. Meus sentidos de bebê, tenros, ti-
nham uma acuidade que perdi bem depressa. Conforme fui cres-
cendo, eles ficaram embotados, contidos, educados. O convívio
social me ensinou que pegar com a mão era sujo, que fungar era
falta de educação. Coisa primitiva. Aprendi a olhar. A visão, senti-
do racional, tornou-se meu sentido predominante.
Mas, agora, meu estado de mulher grávida apaga trinta anos
de aprendizagem do uso correto dos sentidos. Eu me flagro aspi-
rando, farejando. Numa mistura de prazer-desprazer. alguns chei-
ros me extasiam, outros me enjoam. O olfato passou a ser meu
guia: é ele, em vez da visão, que me informa, me consola ou deso-
rienta. Quando olho, não chego a ver; aliás, a vista fraqueja, como
se os olhos não quisessem ir além da minha barriga. Meus ouvi-
dos tornaram-se exigentes. Já não agüentam os sons muito for-
tes. Será que é porque sei que não estou sozinha nessa escuta?
Meu bebê já tem o ouvido aguçado, reage aos sons violentos
dando uns bons pinotes. Meu paladar também ficou estranha-
mente seletivo. Adoro certos alimentos, sobretudo frutas; outros
me dão ânsias. Quando como, lembro-me de meu hóspede. O

57
)
)
) QUANDO O CORl'O CONSENTE SEXTO MÊS

) sabor de minha comida passa para o líquido amniótico que cl dur ça com serenidade. Decerto isso deve vir de muito
) suga, engole e inspira. O paladar dele está se formando, aprcnd longe, dos primórdios da humanidade. Era preciso de-
a conhecer e a gostar do que eu gosto. fender-se, ter o instinto de sobrevivência, todos os sen-
)
tidos a postos. O ruído de folhas pisadas podia ser indí-
)
cio de um predador, era preciso ter o ouvido alerta; e o
É costume dizer que a mulh r grávida re- nariz também, para ninguém se envenenar com uma
THÉRESE
.J gríde, nada mau se, para Ia, r gredir sig- planta da floresta e, assim, aniquilar toda a futura des-
nifica voltar no tempo e reencontrar a vivacidade de cendência; o tato das patas rugosas precisava ser mais
)
seus sentidos. O nascimento da criança é um novo nas- delicado, para abraçar o filhote quando ele viesse se
) cimento para a mãe, um co-nascimento". Já se registra- aninhar. Se tua visão ficou mais fraca, deve ser uma pro-
) ram casos de mães deprimidas, doentes, que, de olhar teção arcaica que te obriga a limitar os passos. Já não
)
fixo nos olhos de seu recém-nascido, voltaram a viver. precisas percorrer a floresta em busca de caça e de ali-
De fato, todo recém-nascido é capaz de despertar na mento e, por isso, não precisas limitar o olhar para limi-
mãe reziões
I::>
até então adormecidas, às quais ela nunca nuir as andanças. As representantes d zên r humano
tivera acesso. já não precisam parir no fun I l urna 'IV rna, l' S 'lIS
) Reencontrar sentidos mais despertos e aguçados é, recém-nascidos não orr 111o risco lc ser '111dt'vm:)(los
para a mulher, uma preparação ao nascimento que vem () q 1Il' vl;ls ('()Ill [11.1111
por animais carnív ros, () ;11i111l'l1t IICl
)
de dentro, ensinada pelo próprio corpo, ditada por seu supermercado " 111I rinrr] io, 11:lolnxi('(): 1),1.(;1(Pll'
) sistema nervoso. De todas, é a preparação mais natural, leiam as etiquetas 'I miem disj xusnr () ()ILII(), 1':I1IIl'LlllI0,
) mas tão discreta que, às vezes, nem dá para perceber fi a-nos no fun I ) do corpo l'.">S 'impulso los S -ntidos,
) seus sinais miúdos e frágeis. ão vem descrita em ne- mais ág is à me li Ia qu ' diminui no ssa mobilidade.
nhum manual de obstetrícia. Quando os percebem, cer- Arcaísmo qu na Ia tem d Iam ntável. Se a visão é
tas mulheres ficam atrapalhadas e consideram um con- menos penetrante, o olhar torna-se mais carinhoso. Me-
tra-senso as mensagens exatas de seus sentidos. nos totalitária, a visão cede sua esmagadora preponde-
A natureza que faz tanta coisa para dar a vida, que rância (oitenta por cento de nossas percepções senso-
orzaniza
o
tão bem a fusão das duas primeiras células ma- riais são habitualmente percepções visuais) aos outros
cho e fêmea, a secr ção d todas as sub tâncias vitais sentidos. À audição, por exemplo. Mais aguçado, o ouvi-
para o embrião, uas tran: f rrnações, sua maturidade, e do torna a voz mais calorosa. As vibrações das vozes, da
tudo isso com grand m >ti ulo: idade, quer fazer ainda música, chegam a ti na íntegra, e não amputadas de al-
mais. Coloca no corpo Ia mulher uma segurança suple- gumas de suas modulações, como acontece com a maio-
mentar , uma prot cão. , Mo lifica-lb ' ;1Spercepções sen- ria das pessoas. Essas vibrações estimulam teu sistema
soriais e emocionais, I ara IlI':1 Ti;II1<;;Iem projeto ama- nervoso, fornecem-te energia. As modulações que teu
ouvido percebe podem ser reproduzidas com facilidade
• No original, co- nce, qut' 11\'1111111'" III~\"til' '('111111" 11>1111) () 11( mófono COI2-
por tua voz. A voz muda nesse período, e teu bebê, atra-
s , cujo significado é "conh 'UII\I'lll"" (N d.1 1 ) vés do líquido amniótico, pode ouvi-Ia calorosa e sere-
H 59

)
SEXTO MÊS
QUANDO O CORPO CONSE TE

na, ela o acalenta e lhe faz bem. Quase s rn] r a mu- calcanhares, eles reagem como um único e grand mús-
lher grávida fica com voz mais potente, e certa canto- culo. Quando ficas grávida, a região lombar se arqueia,
ras atingem, na gestação, desempenhos mai esplendo- e a barriga se projeta irresistivelmente. Os músculos de
rosas do que nunca. É uma questão de ouvido mais ati- tuas costas e da região lombar são praticamente o úni-
lado e de porte de cabeça mais elegante. cos a promover o beb ~; om ou m gravidez, faz parte
O sentido do tato está em todo o nosso corpo, e não da natureza deles s mpre qu r r int rf rir em todos os
apenas na ponta dos dedos, como se imagina. O órgão nossos movimentos. D· s m do, les s contraem mais
do tato nos envolve completamente, em todas as partes ainda na região lombar. Tal contração na bas das cos-
em que nossa pele vive e respira. A gestante tem, em tas t m a vantag 111 de Iib rar a nuca el suas costumei-
geral, a pele brilhante, sinal externo da saúde de eu sen- ras c ntraç Õ '5. S a nu a não tiver contraída, pode
tido do tato. Teu invólucro de pele torna-se sedoso para alongar-s . E, d '5S • modo, que rt para a tua voz! A
acalmar as saudades do recém-nascido, arrancado à te- laringe, qu cJ ixa d s r mpurrada para a frent ,p I
pidez de seu universo líquido. Ela se torna mais recep- achegar-se à coluna cervical, o som das cordas vo ais
tiva às vibrações sonoras que te cercam. Tua pele escuta faz vibrar tuas vértebras e todo o teu corpo, até nde a
e ouve. flexibilidade elos músculos o permitir.
Nossa voz não é apenas a emissão das cordas vocais, Com toda a sua pele e seus ouvidos, o bebê está à
mas é a emissão de todo o nosso corpo. Costumam di- escuta das vibrações benfazejas de tua voz; ela nutre seu
zer que os olhos são o espelho da alma. assa voz nos sistema nervoso, seu cérebro, seus sentidos e sua me-
traduz e nos trai, corpo e alma. Ela deixa ouvir nossos mória tanto quanto as substâncias da placenta.
estados de alma - não apenas as emoções momentâ-
neas, mas as profundas, que formam nosso caráter - e ento i 10, e pp. 151 153.
o estado de nosso corpo. Se certas zonas do corpo esti-
verem rígidas e bloqueadas, não conseguem vibrar ao
som de nossa voz. Certas pessoas só conseguem falar • 2 de abril
entredentes, e outras só falam com a garganta; o som de
suas vozes pára aí, nenhuma outra parte do corpo lhe É domingo. Sentada à sombra de uma cerejeira, ergo a cabe-
faz eco. Mas, se os rnú culos de tuas costas - os domi- ça, o céu está azul, o vento balança devagar os galhos da árvore.
nantes - estão flexív i , tua voz vibra ao longo da colu- Faz um pouco de frio. Minha barriga dura e redonda empina a mi-
na vertebral e faz cantar orpo inteiro. Costas, barriga, nha camiseta. De uns dias para cá, tudo mudou. Eu vivia com os
pescoço, diafragma, r SlO, ra ão, sexo: cada uma das olhos e o nariz colados na vigia do meu ventre, o olhar sempre
partes de nosso corpo pode .antar como cantam juntos esbarrando neste meu recinto fechado, minha fortificação mater-
todos os instrum nt si' um" or [u stra. Por que a voz na. Agora, estou largando as amarras. Sinto-me como passagem,
da mulher grávida fi "I (lirt rCI1Il'?Porque a posição de trilha cheia de vegetação, riacho piscoso, oceano amniótico. Ele vai
sua coluna vertebral se modilk». Os mÚ5 ulos posterio- sair; isso é uma certeza prazerosa. Levanto-me, e minha cabeça
res do corpo são olidários, l'Slns kll1hra Ia. Da nuca aos roça nos galhos mais baixos. É uma expedição incrível.

(10 61
)

QUANDO O CO!U'O CONSENTE SEXTO MÊS


)
• 4 de abril artificial que traria, subjacente, a angústia silenciosa e cada
.J vez mais profunda .
Parto. Em sentido figurado, o dicionário Petit Robert o define Algo muda em ti, em mim, entre nós. Lembro-me do
como "elaboração árdua, difícil".Em sentido próprio, o que é? Leio dia em que, pela primeira vez, bem equilibrada nas tuas
as páginas sobre "preparação para o parto" dos manuais de gra- perninhas de bebê, largaste minha mão. ão sei ao cer-
.J videz. Meus olhos pulam de um para outro método: sofrologia, to se estavas com um ano ou um ano e três meses, mas
ioga, haptonomia, piscina, canto, parto sem dor: Há para todos os me lembro bem de teus gritos de triunfo, C de meu es-
gostos. Cabe perguntar se é um método ou uma mulher que dá panto. Tenho a impressão de que uma força irresistível
à luzi
leva a ti e à criança. Largas minha mão, algo acontece co-
Talvez valha a pena ir além dessas linhas lidas sem muita con-
nosco, continuamos próximas, mas o que eu podia te
vicção? Inscrevi-me no curso de preparação para o parto, orga-
dar, já tens contigo agora e para sempre. Tua unidade está
nizado pelo pré-natal. Hoje é a primeira aula.Tento os exercícios
se constituindo e, junto com ela, tua autonomia. E a
de "relaxamento"; aperte-soltei aperte-soltei O cheiro de suor e
autonomia nã onsistírá ai nas m int ra r O pr' pri
de mofo que os tapetes do chão exalam me lembra as aulas de
ginástica no colégio. Depois temos uma aula teórica sobre o par-
r? Harrn nizar I assa I), <lu' n , I LlX8 I ara Ir;Ís, COI11
to. É uma médica que dá a aula. Sentamo-nos em cadeiras dis-
pr nt, <1 fim til' ('OIlS 'gllir ri ';\1' ri 1'111, I, pv. l ln rmu
postas em círculo. Faço força para prestar atenção, mas não con- nizar as luas 111 lati 'S (i;} I J'(l!l'i:1 1I11f.'(·III.IIIIf'.I' ,I ,1I<.t1

) sigo. Será o bebê-manequim desmontável, que a médica empur- ca, qu fi 'a 'ITI nossas 'OSI:I,', c: ;1 <!tIlI.I, <lI\(' li<,\ 11,1 11<'11
ra numa velha bacia, a causa da minha fraca compreensão? Ou te, qu não I arccc ('.'01;11 IVllllil1.1 1.1. 111.1.0.,<l'I(' < ,III<',~,I
serão as outras mulheres? Algumas já estão com um barrigão enor- nos a pr iosas ,ilX'rlllr:ls Jl.\I,1 () 1I111tHI!) (>, ()IIHl, , "
) me, dá para perceber que elas têm muita dificuldade em ficar boca, as narinas, que sao ';IP,I/.('S dl' 1()11I;11' '(.!tIl', Ic
) sentadas naquelas cadeiras escolares. Não param quietas um ins- emitir reccl r, c os ouvi 10.'0, <lu ' 'li cnas r' .eb m,
tante. Algumas levantam o dedo para fazer perguntas. "Como se mas que são capazes I' se r .har, lc não mais querer
pode de que o ouvir. E se a autonomia .onsisuss também m poder emi-
o O que se se o bolso tir e receper sem ter me 10 do que se carrega dentro de
o solo de Fico aliviada ao perceber que si, e sem ter medo de ferir-se?
não sou a única em dúvida. Quando a aula termina, bem que eu Dar à luz é também emitir, pôr no mundo um ser vivo,
gostaria de prosear com minhas "colegas", mas todo mundo vai tirá-Ia do fundo do próprio corpo. ão se dá à luz apenas
embora depressa. É pena. com o útero e o sexo; dá-se à luz com os olhos. As pulsa-
) ções de nossa energia provêm do alto do corpo. Os olhos,
ouvidos, nariz, boca, pescoço, diafragma, barriga, pélvis
É uma mulher ou é um método que dá à são outros tantos níveis pelos quais a energia consegue
Tr-rÉR.ESE luz? Uma mulher, é claro, mulher que nes- passar; e essas pulsações suaves e contínuas imprimem a
te momento está v tida de vermelho. Mulher suave e teu corpo o ritmo natural da contração e descontração.
flamejante, de p rt . ob rb . Mulher com perguntas e Mas, por vezes, os níveis são ciladas para a energia que
dúvidas, mai autê nti 'as e er nas do que um otimismo aí se esgota; a primeira armadilha está nos olhos. Os
62 63
SEXTO MÊS
QUANDO O COJU'O CONSE TE

se movimentam com liberdade, os níveis abaixo lei '5


músculos, os nervos, o tecido dos olho stão rígi I "
fi~am privados de energia: a barriga e a pé Ivi L m os mo-
A

incapazes de aceitar as vibrações de n sa própria ner-


vimentos presos.
gia. É uma velha história que começa quase sempr no
Em sentido inverso, se a part inf ri r .do or] o per-
momento de nossa chegada a este mundo. O que chega
der brus~amente ua n rgia, a part SLI pcrior com iça a
primeiro é nossa cabeça, ou melhor, é o mundo que nos
sofrer. Há anos, um amigo psiquiatra orn ntava qu o
cai na cara, após nove meses de imersão num claro-es-
estado de depres ão pé s-parto ra mai fr qüent nas
curo tranqüilo. Ficamos meio cegos, surdos e mesmo
mulheres que haviam r it a p ridural. O relaxamento ar-
assim conseguimos. Há pessoas que parecem nunca se
ti~i~ial bru o ela p quena bacia altera o equilíbrio ener-
acostumar, e continuam a sentir medo de todas as pas-
geuco. A n rgia s b subitamente para o alto do corpo
sagens, de todos os encontros, como se estiv~ssem sem-
que, atrapalhado, já não consegue superar a desordem. A
pre do outro lado, à espera durante toda a vida de que
depressão que atinge o psiquismo atinge o corpo, e bem
algo lhes aconteça, de que alguém as liberte.. '
Um feto com vinte e oito semanas já pode abnr as pál- concretamente, já que a superfície da cabeça fica dolori-
~a; quem fica deprimido tem o contorno dos olhos e das
pebras; mais tarde, na hora do parto, o recém-~ascido as
temporas congestionado, endurecido.
fecha com força para proteger-se. Durante rnuito tempo
"Estou vendo, estou vendo", dizemos a toda hora e a
acreditou-se que os bebês nasciam cegos; eles ficam
respeito de tudo. Ver! Um terço de nossas vias nervosas
ofuscados pelas luzes das salas de parto, mas não cegos.
Há pessoas que têm, agora, os olhos ':.bert,?s para o são mesmo de.s~inadas aos olhos, mas, talvez por sua
mundo, mas o rejeitam; elas olham, mas nao veem. Ape- e~~rema sensibilidade, eles estão quase sempre sem mo-
bilidade. Os movimentos que proponho são muito sim-
nas uma imperceptível rigidez da testa, das têmporas,
ples, não podem fazer mal a ninguém. Se sentimos os
das pálpebras indica uma inibição dos músculo~ e um
sofrimento tão secreto que nunca chegou ao nível da olh?s úridos, devem ser lágrimas antigas, paradas há
muito te;upo na borda das pálpebras, obsoletas e sem
consciência. Que sofrimento? Não apenas o do ofusca-
motivo. E melhor deixá-Ias cair e, por meio delas, escoar
mento dos olhos do primeiro instante, mas também o mo-
serenamente o fluxo de energia que carrega a rigidez e
do como elas foram recebidas, como foram olhadas e
a dor que temos atravessadas no corpo.
amamentadas. Seus olhos estão pregados num passado
Na hora do parto, teus olhos estarão bem abertos' teu
que poderia machucar se fosse feito algum movimento.
corpo será como um arco cuja corda corresponde ao
Movimentar os olhos pode mexer com todos os upos de
olhar estendido de teus olhos à pélvis.
sofrimento da primeira infância. Nem é preciso ter cons-
ciência disso: nossO sistema nervoSO está atento e man-
da que os mantenhamos fixos para evitar o sofrimento. i ento dos olhos nQ 11) pp. 153 e 154.
Mas ao m S111 t mpo, ssa rigidez nos impede de fazer
os ~rimeir s movim .nt s qu poderiam nos ~ev_ar~ cura.
Para a g stantc, () trabalho c m os olhos e tao lmpc:r-
tante quanto os movim '1'1105 Ia bacia. Se os olhos nao
(li! 65
QUANDO O CORPO CONSENTE SEXTO MÊS

• 5 de abril to. Começamos a refazer juntas o que Thérese nos en-


sinara.
As ri1ulheres que acabam de dar à luz sempre falam de seu Do nosso gru pinho de parteiras, talvez eu fosse a
médico obstetra, e quase nunca da parteira. A tradição popular mais reticente, até o dia em que, durante uma sessão,
as considera muito ligadas ao parto, mas a realidade atual pare- Thérese nos pediu que, deitadas no chão, encostásse-
ce bem diferente. Durante os cursos de preparação para o mos bem a coluna, vértebra por vértebra, da nuca até o
parto, tive contato com algumas que nunca se referiram à sua cóccix ... Ela chamava a atenção para a bacia, para o que
função e, por isso, "parteira" era para mim apenas uma palavra. podia ser o movimento da bacia, como o percebíamos;
Até conhecer Paule Brung, hoje de manhã. Esta mulher, na casa foi então que compreendi que aquele tipo de trabalho
dos sessenta, viva e simpática, logo me cativou. podia ajudar muito as mulheres que eu preparava e
.acompanhava até o parto. a maternidade, comecei a
fazer um trabalho paralelo e deixei de lado alguns cur-
MEU ENCONTRO COM A ANTIGINÁSTICA sos tradicionais de preparação para o parto, que já não
PAULE Eu não sabia que Thérese tinha uma filha. me agradavam tanto. 0111 i a trabalhar o r laxarn -n-
Quando conheci Marie, fiquei espantada COl-r: ~ sem~- to dos olhos, da língua, d qu iix , 18 .ab ';t, l:tI '0f)10
lhança. Ambas têm o mesmo olhar, o mesmo jeito ama- Thérese nos ensinara, S nti que as mull vrt's n ';IV,llll
vel e decidido. O relacionamento mãe e filha me toca bem mais à vontad . Na 61 () '(I, 'ra I rinr-ipnlnu-nt ' i.', ()
muitíssimo. Meu ofício é sempre uma história de mãe e o que eu buscava: r .laxar suprimir () nu-do. I kp()is,
filha. Dar a vida a uma criança é tornar-se mãe, e é tam- percebi qu a antiginásti 'a I () li:1 ir nkn: d;1 supr 'SS;IO
) bém voltar a ser a filha de sua mãe. Todas as mulheres do medo: facilitar parto. COIllCC 'i a P .nsar no trajctc
) dão à luz pensando na própria mãe. Por vezes, é uma do bebê que e tã para nas 'r, no istrcit aminho que
força; por vezes, um entrave. Tudo depen,d: do :elaC1~- o traz ao mundo. Compr endi qu a obstetrícia tradicio-
namento entre a mãe e a filha. Marie e Therese sao mui- nal havia descrito minu io arncnt t dos os aspectos do
to chegadas, mas também muito pudicas, uma respeita percurso, os obstáculo mus ular s ósseos a transpor,
a outra. mas que ela nunca os havia observado junto nem havia
Conheci Thérese no início da década de 80. Uma par- percebido como interag m uns com os outros. Foi o
teira da maternidade onde eu trabalhava havia desco- que fiz à luz do ensino de Thé r' se, e compreendi que
berto O t su o seu primeiro livro. ~ssa havia um jeito de favorecer o bebê com um trajeto mai
parteira fez com que toda a nossa equipe lesse o livro. direto, menos tortuoso. Comecei a dar indicações nesse
Ficamos com vontade de conhecer Thérêse, de falar com sentido a minhas pacientes. Logo os partos ficaram mais
ela. Do entusiasmo à iniciativa, onseguimos encontrá- rápidos, o que me entusiasmou e incentivou. Examinei
ia e participamos de seus grupos. o co~eç?, ,~ra P~ra as mulheres e constatei que os bebês estavam bem imer-
nosso bem-estar pes oal, mas I go n v 1 a íd Ia de 111- sos na bacia. Eu estava na pista certa. A seguir, trabalhei
tegrar alguns de seus conhc irn nios nos ur o d~ pre- a respiração, abandonando todos os exercícios clássicos.
paração para o parto as irn 01110 na hora I nas irnen- Os partos tornaram-se deveras fáceis e muito bonitos ...
67
SEXTO MÊS
QUANDO O CORPO CO SE TE

o chefe da seção intere sou-se. Tom i-rn a part ira d s so de cirurgia. Paule verificava o ritmo cardíaco do bebê pelo es-
tetoscópio - não existia aparelho de monitorização - e contro-
partos sem complicação. As episiotomias ficaram rara ,
lava com a mão e o relógio a intensidade e a duração das con-
os fórce~s viraram exceção. ão ocorria mais cesariana
trações. Os po tos longos, dois ou
por anomalia de encaixe ou de dilatação. De vez em
contou-me Paule, os o util
quando, quem passava pelo corredor dava uma olhade-
co o o oci os e os
la pela porta, intrigado com a calma reinante na sala, e
l o nós as
saía murmurando: "É formidável!" Aos poucos, os estu- e as os de e
dantes de medicina já sabiam pelos colegas: os plantões Em alguns hospitais, como aquele onde Paule trabalhava, as
com Paule não têm graça. Não dá para aprender nada, parteiras tinham de fazer tudo: os partos e os cuidados pós-par-
nenhuma episiotomia a costurar, nenhum fórceps para to; as mães se levantavam no oitavo dia e, no décimo, deixavam
puxar, nenhuma complicação que sirva de treino para a o hospital. Paule era também encarregada da higiene dos bebês
gente! Havia quem dissesse: "Paule é uma artista!" Dava e das mamadas; chegava até a servir as refeições às parturientes.
para perceber uma ponta de admiração, mas acima de Pouco a pouco, as maternidades melhoraram, explica Paule: pes-
tudo muita incompreensão. soal da puericultura, atendentes e enfermeiras vieram juntar-se
às parteiras, de acordo com as proporções do atendimento.
E um dia, no fim da década de 50, falaram do método psico-
• 6 de abril profilático, logo rebatizado de "parto sem dor". Em 1952, o Dr.
Lamaze, diretor da maternidade da Casa de Saúde dos Metalúr-
Por que Paule escolheu ser parteira? Seria por causa de sua gicos onde Paule trabalhava, fora à União Soviética onde havia
velha vizinha e amiga que, segurando-lhe as mãos, afirmou: "Você assistido ao parto silencioso de mulheres soviéticas, que não gri-
tem mãos de parteira"? Paule tinha então cinco anos! Isso foi há tavam e aparentemente não sentiam dor. Para a época, era um
mais de meio século. Nessa época, as crianças ainda eram trazi- fato revolucionário. Aliás, é a palavra adequada: esse método, ins-
das pela cegonha. Quando Paule perguntou o que era uma par- pirado na teoria do reflexo condicionado descrita por Ivan Pavlov,
teira, sua mãe adiou a explicação para depois: "Quando você renegava todo o passado. Na União Soviética, começava uma
crescer, vai ficar sabendo ...!" A pergunta sem resposta a intrigou nova vida muito promissora. As mulheres tinham o direito ao
por muito tempo. Aos dezoito anos, atraída pela medicina, fez aborto e o dever de dar à luz sem gritar. Dizia-se que as "bea-
um estágio num pequeno hospital de província. Queria refletir tas" que pariam aos gritos deviam ser descartadas. As dores do
bem, antes de escolher um ramo da medicina ou da paramedi- parto eram uma invenção ancestral para manter a mulher sob
cina. Foi lá que Paule assistiu ao primeiro parto. Não havia sala opressão.
reservada para isso nem parteira: o médico interno dava plantão O Dr. Lamaze ficou fascinado: de retorno a Paris, ensinou o
em todas as seções e fazia os partos sozinho. E foi então que método do parto psicoprofilático. Consistia antes de tudo, e era
Paule se decidiu: ia s r parteira Aos dezenove anos, entrou na a primeira vez que isso era feito, em contar às mulheres o que
escola de parteiras d Bord aux. Ao terminar os estudos, foi tra- ocorria durante a gravidez e o parto. No decurso do trabalho,
balhar num hospital parti ular m Paris. Naquela época as par- era-Ihes explicado o apagamento do colo, a dilatação, o encaixe
teiras faziam todos os pc11 to . O m dico só era chamado em ca- do bebê. Era um bom recurso para diminuir o medo que elas

()H 69
)
SEXTO MÊS
QUANDO O COlU'O CONSENTE

)
ui otenç o às condições de ecepç o do bebê, e ó hospitois
sentiam. Aprendiam a respirar de determinada forma, rápida e
i o mesmo."
.J superficial. feito "cachorrinho".Também Ihes era .mostrado. como
Paule também estudou muito a questão da dor. Familiarizou-
eram constituídos seus órgãos genltals - o que Irritou murtos gi-
) se com a acupuntura e a utilizou durante os partos, Segundo ela,
necologistas. As mulheres deviam preparar-se bem: "O parto s~m
) isso aliviava muito as parturientes. Também aprendeu a massa-
dor tem de 'ser merecido!" era o que se ouvia. Chegou-se ate a
gear os pés. Mas ela pressentia que podia avançar ainda mais no
..J alguns exageros. Em certas clínicas, foram atribuídas notas: ótimo,
trabalho sobre a dor, sem saber como, até o dia em que encon-
bom, regular. .. io uma pressão t explica ,Paule. Ao mesmo
trou minha mãe.
eram s s os . dos ont
e do ocitocino, eram receitados rernécíos po o .
)
• 9 de abril
Para que serve a ocitocina?
) Paule voltou a minha casa hoje cedo e conversamos durante
A ocitocina é um hormônio secretado pela hipófise, o horas. Meus lábios formul vam por quês e comos s m I rar r li
qual provoca as contrações. Pode ocorrer que. a Farturiente queria saber e enL nd I~Desta v 7, PauI 111 f,ll li 10 pdl 10: ('li
receba sob a forma de perfusão, oCltocma sinteuca, a fim tinha a impressão d Lir OLIVill 10 um I om.u« t' pCJli,i,lI eI(' ',li',
) de reforçar as contrações. É mesmo sistemático, quando a pense, cheio de pcrit (iels.lltl c!(".(ltVt'11 ,\" PI1l111'11.\', ((lIlll.\
mulher recebe a peridural Contudo, certos médicos C?nSl- ções, sua função, o d s IlV IV1l1H'111llcio II,tlJ,IIIl() t', IHlI 11111,.\
deram que a contração reforçada artificialmente atraves da pequena cabeça qu d p0l11.1t' ( ((lI!," 'I1Il' Vt'111I ',ll/oIllt!O. ( )
) ocitocina intética pode ser prejudicial ao bebê. que Paule me contou, com p,lIdVI 01', dtl 'qlldcld'. '')('1 '11,1'Jd cl o
) tumadas às pergun as d 5COll 'XII Ias rnulh t s gr ávidas, pala
) vras que desatam os medos estabelecem a confiança, é de fato
Mas, um belo dia, como o muro de Berlim, tudo ruiu. Houve bem diferente do que pud ouvir ou ler sobre o nascimento. Eu
mulheres que ousaram dizer que não tinham gostado daquele havia lido e ouvido: "provação a ultrapassar", "você passa por isso
J parto chamado "sem dor". Falou-se de amestramento, de domi- e depois esquece"; Paule falou-me de meu corpo, feito para dar
nação da mulher. Enfim, era o inverso do que havia Sido procla- à luz. Dar a vida a um ser tornou-se um magnífico percurso ini-
mado. Seja como for, o fato é que, graças ao parto sem dor, mUI- ciático. Ela me explicou como acompanhar meu bebê na hora do
nascimento. Mostrou como movimentar-me para lhe tornar o ca-
tos tabus foram derrubados.
) minho mais fácil, mais direto. Como relaxar meus músculos para
Depois, em 1973, Frédéric Leboyer publicou seu livro Po~r
une noissonce sons iolence. Deixou-se um pouco de lado a mae deixar aberta a porta de minha bacia. "O seu o consen-
e passou-se a olhar para o nascituro.Também ele sofre a violên- tir, disse,-me ela. Se suo i , o bebê s com i-
)
cia do nascimento, escrevia Leboycr: luz forte demais nas salas lidode. E o i notu /. Pôr uma criança no mundo voltou a ser o
J de parto, barulho dos instrumentos d s vozes, agitação, cordão ato simples e natural para o qual o corpo da mulher foi natural-
J umbilical cortado muito depr ssa O livro do Dr. Leboyer teve mente feito.
grande impacto, explicou-m p, ul . mo( (lde po~isiense
do rua dos esses onde (((//)(/111<'1 (/ p(// Iir c/c 1972, s
71
70
QUANDO O COlU'O CO SENTE SEXTO MÊS

líquido amniótico ~~ ••• ,


barriga de repente endurece e depois volta ao seu jeito
macio. O cansaço, o automóvel, as emoções violentas
podem desencadear as contrações, que não costumam
placenta ---f--l,:i:l-fd---l- útero ser dolorosas. Pode ocorrer que a mamãe confunda uma
contração com um movimento do bebê. Para não haver
engano, é simples: a contração endurece toda a barriga,
promontório ao passo que um alto do bebê é muito mais localizado.
bexiga
Durante a gravidez, a alternância contração-descon-
tração é anárquica e apar ce em ritmo espaçado. No fim
reto ---\-~'\-t-
da gravidez, as ontraçõ s podem durar hora e repetir-
cóccix púbis
se nos dias seguint 5, dand s rnpr a irnpr 'SS2 I qu
o parto é irnin nt . D poi , elas d sparc .m ... I ri ra r 'a-
ânus meato urinário parecer no dia guinte. E sas contraçõ s pr 'IXlr;1I11 o
vulva colo do útero para o nascimento. Um dia, talvez ,A,

períneo orifício vaginal

] OGO DE MÚSCULOS
PAUL E Dar à luz é apenas acompanhar o nasci-
mento de seu bebê. É adaptar o corpo ao ritmo do nas-
cimento, a fim de viver um momento único que prepa-
ra para a vida, a nossa vida. E se pensarmos que talvez
seja o feto quem detona o sinal e ordena o nascimento!
O ritmo do parto é dado por um músculo: o útero. Esse
músculo cavo, no qual se encontra o bebê, se contrai e
descontrai. A alternância não é comandada pela vontade
da mãe: mesmo que ela quisesse, não o conseguiria. A
musculatura lisa não recebe ordens, ao contrário da es-
triada, como os músculos abdominais ou os do períneo.
O útero se contrai pela ação de duas substâncias hor-
A contração uterina se dirige do fundo uterino
monais: a ocitocina, retada no fim da gravidez pela para o colo (flechas internas).
hipófise da mã do f to, a prostaglandina produzi-
As flechas externas indicam a tração do colo em direção
da pelo próprio út ro. ao fundo uterino para seu apagamento e dilatação.
No decur Ia gr'lvi I .~, ( Llt 1"0 se preparou cuida-
A flecha do alto mostra a contração em seu ponto máximo,
dosamente para ssc j )go I' .oruração-descontração: a a qual assim permanece por alguns segundos.

72 73
)

SEXTO MÊS
QUANDO O CORPO CO SENTE
)
A entrada na dança ocorre com maior ou menor rapi-
) perceba que está perdendo uns líquido viscosos e san-
dez de acordo com a mulher e com o tipo de útero. Há
guinolentos. Impressionada, telefona para a maternida-
de e diz: estou sangrando! A parteira vai explicar que tal- duas fases: o trabalho preparatório chamado "pré-traba-
) vez seja a perda do tampão mucoso e pedirá que você lho" e o verdadeiro trabalho. O pré-trabalho caracteriza-
vá fazer um exame. A perda desse tampão mucoso que se por contrações irregulares, às vezes indolor s, mais
obstrui o colo é o primeiro indício do processo de par- ou menos longas, mais ou menos espaçadas e de inten-
)
to. As contrações começam e não param mais. Vão abrir sidade variável. Sob o feito dessas contrações, o útero se
progressivamente o colo que fecha o útero e empurrar recolhe, o fundo do útero é empurrado para baixo, ao
o bebê para o túnel formado pela bacia, períneo e vulva. passo que o colo, situado no fundo da vagina, ' puxa-
do para cima. Esse colo, que tem de três a quatro cen-
tímetros de comprimento nas mulheres que estão no pri-
J
meiro parto, vai portanto se encurtar lentamente até d -
1 em saparecer; diz-s qu 1 s apaga, fi 'anel mais LI me-
r---l
nos fechado ao orif il interno.
Mas tem mais. Empurra 1;1 I cl;ls ('()t1II':I~·()l'.·, :1 (·.tI \' '.1
) do bebê vai ap lar-se IlO col() . t'1111:11' \'111 \'UIII.IIII ('11111
3em
.J

4 em
)
~ 5 em
)

6em
inicio da dilatação

7 em
)

8em

9 em

J 10 em

Progressão da dilatação do '01 lura: 1(' () 11,t11;t1llCl


til' j)<1rIO. Descida do bebê pelo canal pélvieo.
I
75
I
)
QUANDO O COUPO CONSENTE SEXTO MÊS

a bacia. A cada contração, a cab a avança, r' .ua as- a abeça para a direita ou para a esquerda e a inclina para
sim que passa a contração, até amam nto m qu Ia baixo. Por que faz tanta coisa? Porque é mais fácil! A bacia
fica parada, pronta para o encaixe. é feita de tal jeito que é mais fácil transpor sua entrada
Somente quando o colo está completamente apaga- numa linha oblíqua, o espaço fica maior. D pai de entrar
do e a cabeça do bebê afunda, embora ainda possa vol-
na bacia da mãe, a criança prossegue seu caminho. O
tar atrás, é que começa o verdadeiro trabalho, isto é, a
avanço é lento: a bacia é forrada de rnú culos muito fe-
dilatação do colo. Tas mulheres que já tiveram um par-
chados: os músculos do períneo. Se estes estiverem con-
to, o colo quase sempre desaparece ao mesmo tempo
em que se abre, processo que redunda num nascimen- traídos, o caminho rá longo. E, depois de percorrer esse
to mais rápido. túnel, o bebê 1 r ci a sair. Para isso, tem de terminar a
O verdadeiro trabalho é uma fase muito int nsa. As
contrações tornam-se regulares, às vezes ainda espaçadas,
às vezes muito próximas, depende de cada mulher. Em o que é o períneo?
geral, as contrações começam com intervalos de quinze
minutos, depois dez, cinco, três e, por fim, aparecem a o períneo é um músculo importante. É com I lU
bebê se defrontará quando for empurrado pejo útero, que
cada minuto. O intervalo entre duas contrações vai portan-
o quer expulsar. O períneo é formado por um conjunto de
to diminuindo. As contrações tornam-se também cada vez músculos que constituem o assoalho da bacia e estende-se
mais prolongadas - vinte, trinta, quarenta segundos - e do ânus às partes genitais. Apresenta, portanto, três orifí-
chegam a sessenta e a oitenta segundos no fim do traba- cios: uretra, vagina e ânus. Sofre fortes pressões no mo-
lho. A cada contração, o colo se abre. A dilatação se pro- mento do nascimento por causa da passagem da cabeça do
cessa de um a dez centímetros. Quando o colo está com- bebê. É por isso que é tão importante aprender a relaxá-
pletamente dilatado, sua abertura tem dez centímetros. 10: quando flexível, ele participa de modo positivo da pas-

As contrações uterinas também provocam o aumento sagem do bebê, que procura descer e sair das vias genitais.
da pressão do líquido amniótico no qual o bebê ainda
está imerso. Se as membranas que cercam e protegem o
bebê ainda não s romperam, forma-se-um pequeno ba- ~ ;-- c1itóris
lão que se insinua no colo: é a bolsa de água. Essa bolsa meato urinário
funciona como dilatador, sua pressão ajuda o colo a se
.--- orifício vaginal
abrir. Serve também para proteger o bebê contra as infec-
ções microbiana. ua ruptura provoca um aumento d~
contrações, mais fort s, mais s guidas. A cabeça do bebe
substitui então a bolsa I' água, m rgulha na bacia e se
encaixa para parti ipar 1<1 dilatacã completa do colo. O ~~~~7,{- ânus

parto chega à ter ira Ias ':;t -xpulsão. O bebê, enc~ixa-


do na bacia, vai air. I ara tal, 'k I 'v' transpor os museu-
los do períneo, da v'lgin;\ . d:t vulva. El começa virando
7() 77
) QUANDO O COlU'O CONSENTE SEXTO MÊs

de seu coração. Às vezes, ele esboça uns movim 1111)S de


reptação e há bebês que procuram o seio.
Chega a hora do delivramento. Como o út ro l' r _
trai após a saída do bebê, ele está na altura cI ) I" uhigo.
Se o bebê suga, a placenta s descola mais dl'1 >11 , a e
com muito rneno risco d hemorragia. O rn 'dicll ou a
parteira podem tirá-Ia, trazê-Ia para fora da VUIV,I, com
uma mão apoiada no fundo do útero a outra S(Wlran-
do o cordão.
~
.J
) • 10 de abril

Ou 1"01 il o] i' (tI',( 111.1111(', I 11 ,,,ti li.! r/ll!' ri 11.!',r 11111111111 I I r.lll
) s.uiv ptl I'tI ,] l11d(', 111.!', lI.!o ,,,ti li.! Ijlll' I1 111,111 1.1I1t111 111 111111,1 11111

) 1I,1.btllh,lO p.u.: ',,111, I 111r!111'.'.ll '1'111111',,1111 ( 11111111 111111 \'111

)
l "U ,Ich" Cjll<' O'. IH'11I " ',,111 11.1 :1'1,.11 LI'! J I I" 11111111:',1',
tência pC! (V 'ldll~rI It rllll·I.!1
)

)
rotação da cabeça. Ele a havia inclinado para transpo;- a
) lJM U\MINII() I (li!" li )~()
entrada da bacia; agora ele a ergue para transpor a salda PAUl E
'1'0(\ () mun ti () c: 1I11<l n i111
' ares pei t desse
) do estreito inferior, articulando a nuca com o púbis. roteiro tradicional do nas .irn 'nLO. Mas o trabalho que fiz
Começa então a surgir a cabeça, uma pequena bo~a com Thérêse e tantos ano de prática e observação me
de cabelos, o occipício na frente. De~a-se que ela sala levaram a "ver" muitas outras coisas no desenrolar dos
..J suavemente, com ternura. Aparece o rosto, a cabeça um acontecimentos. Para sair do útero, o bebê deve trans-
pouco virada. Um ombro se liberta, depois o o~tro. A por a bacia materna. Os obstáculos são inúmeros , che-
mãe pode estender as mãos para pegar o bebe, que guei a fazer um levantam nto. Mas a principal dificulda-
) vem naturalmente e desliza devagar para fora. A partei- de é evidente. É incrível, mas infelizmente as evidências
) ra ajuda-o um pouco, p ga-o por baixo
todo do corpo da mãe. Tudo
= braços, tira-o
a alma. E comovente e
nem sempre são vistas! É como quando se quer ocultar
um tesouro: o melhor esconderijo é sempre o lugar mais
muito simples. A mã 10 "I b bê sobre a barriga, à vista, em cima da mesa da sala, por exemplo I Quando
pele junto à pel . EJ está m '1<:1 10, molhado~ la o a~a- percebi essa evidência, todas as outras dificuldades tor-
) naram-se menores e superáveis. A principal dificuldade
ricia, olha para ele I h ' Iala. EI ' scgu ra ~I ma peja Cin-
tura, escuta o batim nto tão -onh 'Ciclo 'tranqüilizador para o bebê a caminho cio mundo externo é fato de o
)
7H 79
)
)
QUANDO O CORPO CONSENTE SEXTO MÊS

trajeto não ser retilíneo. O bebê deve d cer e depoi u-


bir. Por quê? Porque ele segue o arqueamento lombar da
mãe. Esse arqueamento materno é um nó. Qual é a cau-
sa? Muitas mulheres (e homens também) têm a parte in-
ferior das costas arqueada, e as mulheres grávidas mais
ainda, porque o peso do bebê empurra a barriga para a
frente. O fato de se arquear - ou empinar, como fazem
os cavalos - também é uma forma conhecida de reação
à dor. Na hora das contrações, vi mães que se arqueavam
ainda mais. A imagem tradicional da mulher que sente
dor: punhos cerrados, olhos fechados, costas cavadas, o
peso do corpo dividido entre as nádegas e os ombros.
Essa lordose obriga o bebê a seguir um caminho muito
tortuoso: ele não está no eixo da descida.
O pior de tudo é que a passagem não é apenas angu-
losa, mas torna-se mais estreita. O que acontece? O "pro-
montório", que é a parte da coluna vertebral situada na
junção do sacro com as últimas vértebras lombares, se
aproxima do osso do púbis. O resultado é imediato: a en-
trada do canal pélvico diminui. A cabeça do bebê pode

~~-------------------
;Il(' -sharrar ncs promontório e, por isso, ter dificuldade
k: -ntrar na ba ia. O trabalho torna-se longo e doloro-
. () p:ll'a ;1 1115 'para o bebê.
C()l1slal( i, I 01" 111, que basta suprimir o arqueamento
\1,11.1 ('\H' ':11' ;'1 linha r ta p rmitir que o bebê mergulhe
c111<\1() Il:II:1 :1 S;II \;\. 1\1 roxirnando-se o púbi do umbigo,
,I I I,H 1.1 I' 11)1 ':1< líI :1 (ornar-s acolhedora e ir ao encon-
1111 c1111H'IH' () I'Sp:1 '() :I\) lominal no qual se situa o úte-
o promontório se aproxima o púbis, ao se aproximar do 1II11higl),
1II c1I1I1IIIIII, I' ,111 I>l'!l(' ,.() I' sta um lugar: a saída. Por con-
do púbis e diminui a entrada aumenta a entrada do canal p 'Ivic(),
do canal pélvico. afasta o promontório e fa ilit;l, 111"1111 LI, I P,IIIII do il1sl;lnl 111 qu a bacia vem para
assim, o encaixe da cabeça. I I" 1111 , I I I li I 11 'I I II '111 q li • 111 rg III ha r.

80 HI

---I
)

)
QUANDO O CORl)O CONSENTE SEXTO MÊS
)
) Mas não é nada fácil desfazer uma lordose. ão basta respiração é uma função natural como a circulação do
) sentar a pessoa ou pô-la em posição semideitada. Às ve- sangue ou o crescimento dos cabelos, não é um ato
zes, quando peço à mulher que movimente a bacia para voluntário. Se a respiração se bloqueia - r conheço que
)
diminuir o arqueamento, ela levanta as nádegas. o hos- ela costuma se bloquear por vários motivos de ord rn
) pital, alguns médicos acham que basta pôr a mulher sen- íntima -, é por meio dos músculos das costa , dos maxi-
) tada ou de cócoras para que a lordose desapareça. Por is- lares e da nuca que ela pode ser restabelecida. O lia-
so, fazem o parto em posição semi-sentada. Mas de que fragma prende-se transversalmente ao corpo, separando
J
adianta, se elas continuam arqueadas? Peço às mulheres e unindo a parte superior e a inferior. Ele se prende, en-
que, em casa, façam o exercício de mexer com a bacia, tre outros, à coluna vertebral, da décima segunda à ter-
para que estejam preparadas no dia do parto. É muito im- ceira vértebra dorsal, e muitas vezes à quarta vértebra
) portante que esse movimento se torne fácil e natural. lombar. Isto é, da cintura ao fundo das costa . É aí que,
Que se torne um reflexo, como o ato de afivelar o cinto misturando suas fibras às dos músculos traseiros da co-
de segurança no carro! luna v rtebral, o diafragma torna vassalo I I s. Sua
posição central ngana: t m- 'a irn] r SS;\O 1<.: que vi .
tem plenos pod r S c, I fato, 'I' ~st:í sol C()I1SI:tlllvill
Tu dás à luz com a pele, com toelos os ór- fluência. Não' a I qu I 'vemos nos diril'ir diWl.lIlll'll
THÉlU~sE te para tornar a r spira 'ao muls livn-. 1)11\:1 jl;IIIV til' ."'t·ll~,
) gãos e músculos; quero, no entanto, falar
de três parceiros que têm um papel determinante nesse nervos vem de nosso SiSIl'I1l;1ncr ()S() ximp.u uo, () . i.
momento. inguém dá atenção a eles, porque a grande tema involuntári . AI"Ill clisxo, l'lv l'SI:1sol) ;1 inllu '\lci:1
preocupação é com as contrações do útero; mas o útero, da nuca porqu foi ,lÍ que 'OIl1l''ou sua xis: ~'ncia, c
como sabes, não está isolado no meio do corpo, depen- alguns de seus n rvos nasc '111 ntr as vértebra c rvi-
de estreitamente dos vizinhos. Esses vizinhos estão man- cais; no momento 111 qu nos f rmamos como embrião,
comunados com a musculatura posterior do corpo, o o esboço do diafragma s ncontra no pescoço; só de-
que não é de admirar, já que esta prevalece e impõe sua pois é que ele migra para baixo, levando consigo seus
marca em todas as circunstâncias. O parto, esse longo e nervos e vasos.
forte movimento de toelo o corpo, não escapa a sua auto- Quando o diafragma se bloqu ia, é sempre na inspi-
ridade. ração; a expiração seguinte fica sempre incompleta e o
Sem o acorelo dos músculos dominantes, nada pode pulmões cheios de ar, ao passo que as costas arqueadas
ser feito com facilidad . Felizm nt , s u consentimento impedem qualquer movimento do diafragma. É desagra-
não é difícil de ser obtido. Tud o qu eles querem é dável em qualquer momento da vida e insuportável para
ser reconhecidos como mestres ab lutos I todos os nos- quem está dando à luz. É exatamente o que impede a
sos movimentos. saída natural do recém-nascido. Por isso é preciso com-
O diafragma, vital na h ra 10 pa no, "UIll I seus binar o trabalho da região lombar, que alonga os mús-
parceiros. Também el I! in I' (!;I musculatura po te- culos e libera os movimentos do diafragma, com, é cla-
rior. "Não sei' respirar", o 'tu 111
a 111 Ii/.l'1' tIS P .ssoas. A ro, o trabalho dos maxilares, que libera a abertura da

H2 83

)
QUANDO O CORPO CO SE TE SEXTO MÊS

vagina. Aliás, o diafragma r m um homé I g no orpo, lombar tornar flexíveis os músculos da face interna das
um irrnãozinho, também transversal ao .orpo+é peri- coxa . Mas isso não significa forçar o afastamento das co-
neo. Um não se mexe sem o outro. A mobilidad do dia- xa , no intuito de alongar os músculos adutores. Sua lin-
fragma permite a mobilidade do períneo. A mobilidade da guagem é mais sutil.
musculatura das costas permite a mobilidade do diafrag- Os problemas de "ciática" estão ligados à posição das
ma. Uma sociedade com leis e costumes firmados desde coxas afastadas. O nervo ciático, que é grosso como um
a noite dos tempos, na qual não se entra ilegalmente. polegar, encontra-se comprimido pela pressão dos mús-
A face interna das coxas com seus músculos fortes é culos contraídos da região lombar. É claro que, quanto
um outro parceiro. Músculos fortes num lugar que dá a mais as coxas estão afastadas, mais a região lombar fica
impressão de fraqueza. Eles são revestidos de tecidos comprimida. A posição sentada no chão como Buda, as
delicados, e a pele é bem fina entre as coxas, mas é qual pernas em X, não tem nenhuma da virtudes que lhe
mão de ferro em luva de veludo. Presos aos ossos do são atribuídas.
púbis, cercando o sexo, eles são espessos, fibrosos, se
enrolam em volta das coxas e acabam se prendendo ento n 12p long os úsculos
atrás, nos ossos do fêmur. e e lo pp. 154 156
São chamados de "adutores", porque têm a função de
cerrar as coxas para dentro, uma junto à outra. Outrora, Há mulheres que chegam a falar de parto "pelos rins",
eram chamados músculos da virgindade. Naturalmente, porque sentem na região lombar dores mais fortes do
formam um time com a musculatura posterior. Se eles que em qualquer outro ponto do corpo. A região lom-
se alongam, os músculos lombares se contraem. Se afas- bar é o território dos músculos dominantes: é o lugar
tas as coxas, os músculos do interior das coxas se alon- onde eles são mais potentes, porque fibras que vêm da
gam, mas a parte inferior das costas se arqueia. Se a nuca e que vêm das costas aí se cruzam, se recobrem e
parte inferior das costas se arqueia, o "promontório" se se reforçam. Têm tanta força que querem mandar no par-
projeta. O promontório - a borda superior do sacro - é to. Tomam conta de movimentos do corpo com os quais
o obstáculo a ser vitado pelo bebê., que navega com a não têm nada a ver. Sua função deveria ser a de alon-
cabeça à frente, em direção à saída. Mas, como dar à luz gar-se, de estirar-se docilmente para deixar o útero agir.
sem afastar as coxas? Poderia ocorrer a idéia de que Mas, nada disso ... Fazer o quê? Antes do parto, prepará-Ios
nesse ponto a natur za é mal feita e que, depois de ter para ficarem quietos, ensinar-lhes a serenidade, o alon-
preparado tudo, la d para no fim om um obstáculo gamento.
imprevisto. Os urros mamíf .ros não afa tam as patas
para parir. Talv z eja um r squício lc nossa animalida-
de que não teve tempo I' s' :1jllsl:lr :1 11()V:I con li .,à d • II de abril
bípede. Logo, é pr isc "Ir fi luz ('()Ill ().•.•atril L11)s lc
nossa espécie, isto é, com a int 'li!'('IH'1.1 <lI!\' Il()S :ljU(\;\ "Respire com a vulva", disse-me Paule hoje cedo. Fiquei meio
a observar e compreend r. Ü I r '('i. t) ,tI()Ili'.,1I .1 rtTi:!o espantada. Não sabia que se pode respirar por esse lugar... "É

84 85
)
SEXTO MÊS
) QUANDO O COlU'O CONSE TE

J uma comparação, explicou Paule rindo, mas correspondc uma Não é preciso pressa para retomar a respiração Só
) sensação real:' De fato, é um recurso fantástico para r laxar os inspire de novo quando o corpo reclamar. Em geral, são
músculos da bacia. cinco respirações para uma contração de sessenta se-
)
gundos, mas isso depende da capacidade respiratória de
J cada mulher. No fim do parto, quando as contrações tor-
.J o RELAXAME TO DA BACIA nam-se fortes, respire com mais força. No momento em
PAUlE
.J Mesmo que o bebê esteja com o caminho que você mexe a bacia, pode sentir uma ligeira contra-
livre, para descer ele precisa encontrar descontraídos os ção dos abdominais: não é mau sinal, pois isso reforça
)
músculos da bacia pela qual tem de passar. Distender a eficácia das contrações.
J os músculos do períneo, que nem se sabe bem onde fi- A respiração pela vulva não tem nada a ver com a de
) cam, não é brincadeira. Consegui ótimos resultados por tipo "cachorrinho", cujo objetivo era desviar a atenção
meio do trabalho com a língua e os maxilares, tal como das mulheres. Não é o que pretendo. Ao inverso, acho
J
Thérese indicou. Observei também que uma respiração que a mulher precisa estar muito concentrada no qu
apropriada ajuda muito a relaxar. Peço às gestantes que faz no mom nto lo parto. L mbro-m I urna pa i ente
respirem com a vulval A expressão já provocou riso em que era trapezista. Ela não s distraiu um só it sl;II1IC I'
mais de um médico, houve até quem pensasse que eu seu proce so d parto, qu r i h '111 r:í, ido.
estava zombando deles! Minhas pacientes, porém, sem- Costumo p nsar n s , 'I ês cnlal:tc!os -ntrc- (llIns I'()!'
pre confiaram em mim: é uma coisa que precisa ser sen- ças contraditória: d-' um Ia 1o, () ur 'ro que: se -ontrai
tida! Fique em pé ou deite-se com a cabeça e os ombros feito um doid para abrir '010; 10 outro, os músculos
) recostados em travesseiros. A nuca deve ficar bem alon- da bacia que se r tra m om a d r. R .uliad : cmpat '.
) gada, e a coluna também. Se você estiver semi-sentada, As contrações não serviram para nada, e o trabalho dura
conserve a coluna bem apoiada na cama. Ao inspirar, horas porque o útero deve redobrar o esforço. É exaus-
)
imagine que o ar entra pelos seus pés, sobe pelas per- tivo e doloroso. Para que a contração tenha eficácia, o
) nas e pela coluna vertebral. Na expiração, relaxe a nuca colo precisa estar relaxado. Todas as mulheres a quem
e solte o ar pela vulva, mas sem fazer força. No momen- ensinei a respirar com a vulva obtiveram esse precioso
to em que o ar sai, o púbi avança naturalmente para o relaxamento. Muitas vezes fiz minhas pacientes tentarem
umbigo, como se a vulva olhasse para o teto. essa experiência quando vinham à consulta. Há quem
)
No início da contração, r pir com suavidade, ape- não suporte os exames vaginais e os espéculos, tenha me-
nas um fio de ar, para não s ansar; aliá , não adianta do e reaja contraindo-se. É normal. ão se deve ter pres-
) soprar com força, isso não aju Ia na Ia. ão encha as bo- sa quando se examina uma mulher. No hospital, os mé-
) chechas como Louis Amstrong! 1\.0 c intrário, r spire com dicos se habituaram a me mandar as pacientes que eles
a boca aberta e os maxilar s r 'I<lx" los. 1\ r .spiração não conseguiam examinar. Eu as ensinava a respirar com
deve ser uma resposta à int 'nsi(I:ldc c!n -ontra 8.0: du- a vulva ou a alargar a língua na boca, de acordo com as
rante uma pequena c ntra 'ao, r 'spil(' <Iv I{' v; duraru explicações de Thérese, a fim de que elas conseguissem
uma contração mais fort , r .splr . protund.uucntr-. relaxar a vulva e o períneo.
87
).
)
QUANDO O COHPO CONSENTE
SEXTO MÊS

latação do colo, não avançava - e, junto com elas con-


o que pode fazer o pai durante o parto?
segui fazer com que o parto fosse normal! Enquanto era
Houve uma época em que os pais eram proibidos de en- preparada a sala .de operação, eu ia perguntar-lhes se
trar na sala de parto; em compensação, hoje, talvez estejam desejavam evitar a cesariana. A maioria ficava contentís-
sendo obrigados a assistir a um acontecimento no qual não s~ma de ter uma última chance de escapar à cirurgia. En-
passam de espectador forçado. Mesmo assim, se isso não lhes sinava-as a respirar com a vulva, elas relaxavam e da-
causar angústia, sua presença pode ser positiva e estimulan- va~ à luz ~almamente. Todas as que eu atendi por ano-
te. Paule costuma pedir que o pai fique por trás da cabeça malia de dilatação ou de encaixe evitaram a cesariana.
da mãe e coloque as mãos de leve sobre os ombro dela.
Cada vez que ela retoma a respiração antes de uma contra-
ção, o pai, com uma pressão das mãos no momento em que
• 12 de abril
ela solta o ar, pode ajudá-Ia a entrar de novo no ritmo do
parto. A mãe terá assim um estímulo para se concentrar na
contração. Algumas mulheres, porém, não gostam de ser ta- Odile tem duas meninas. Nos dois partos, Paule cstev I rc
cadas nesse momento, mesmo que seja com amor. O pai sente. Esses nascrnentos estão entre as mais belas lembranças
eleve estar atento a isso e afastar-se discretamente ... de Paule. Ela pediu a Odile que escrevesse umas notas sobre o
nascimento das filhas. Constatei com surpresa que, embora os
dOISpartos tenham sido rápidos e sem complicações, Odile con-
ta duas histórias muito diferentes. Nenhum nascimento é igual a
Durante o parto, todas as mulheres a quem pedi que outro. A mãe pode ser a mesma, mas em cada parto ela pode
respirassem com a vulva e alargassem a língua chega- estar com uma disposição diferente e sobretudo ... não é o mes-
ram à dilatação completa do colo em menos de seis ho- mo bebê, e é isto que conta.
ras, às vezes três ou quatro, ao invés das doze horas ha-
bituais nas primíparas. Como os músculos estão relaxa- Odile conta o nascimento das filhas:
dos, cada contração tem efeito. Deixa de haver força
contrária para se opor ao trabalho do útero. Há quem As que me à ç qu penso no
diga às parturientes em processo de parto: leia um livro, de hilde, il s .
tome um banho, dê uma v Ita. Não acho que seja uma ento que se ent e ... do 23
ho , espécie de me o ogo pen-
boa idéia. Prefiro pedir-Ih s qu r spírern com a vulva, o
sei que, en i , o t b lho de to i e l
que as leva a embalar b h ~ P r m io do movimento de ule e do que eu lido, con nci de que o início
da bacia, que faz o púl is se aproximar d vagar da bar- de um longo, e b longo, cesso Eu i
riga. As contrações sã mais 'fie;I/. 'S ',além disso, é um de ç o, te te po ... Ent o to um o, l ei
excelente modo de ir habituando ílS c-ont ra 'Õ s finais b , ei coi sei eu do de que l
que são bem mais fort s doloridas. endo, que podí ir dei e que no seguinte gente
.
Já tive casos de mulh r s rI' ll1(ílS p:1101 ,('1('111 .'>11\)111 '-
l u nh , - que isso, i
tidas a uma cesariana porqu o Irílh:t1llo, IlClI I.dl.l C!(' di-
s - Eu ntin gu-
88
89
)

)
QUANDO O CORPO CONSENTE SEXTO MÊS
)
como me ensi e o Para ise, o . O de
j
nos semanas. , ou má. Embora esse o termo que me vem
) Para , estava que o l ate n gosto dele estou dos
.J o tarde do seguinte. - com todo o no sofá, com l- sem de do do
sob os eo . A contração, eu do exterior à mãe e 00 bebê. Eu estou me indo à que
J un nte e sol o ar de nascer o O de horas e vinte
) que, dos c o encostavam-se o no assento tos. Eu que que elo l eu engordara uito, i
do sofá. Concentrado nesse nto, eu solt os - o do Uns cinco e no
va o b . ou três vezes, senti dores p os com os que se do . pelo n eu sentira contrações, ou e
te em caso de di ... e io me depois do almoço. pelos seis do tarde,
ss hora, o posi sentado ou de cócoras - eu e ito con- hilde de ter mãe à de que
centrado no i ento de ul do b i - me lí io. De vez n inho e pouco disposto o com elo. o caso de u
) go, o que me dei sossegado. Eu estava com medo de que le
em , eu coc . A único cois em que eu n o dei de pen-
sar era no ç , mos isso sem nem e. sse embora ch ndo que o po i p o di seguinte. Qu l
Às cinco do como o intensidade e o i dos con ções desses ele entos o deton O é que cont gu-
)
e acordei e juntos cronometramos o rante ob igou- e o deit .
l so de o entre os contrações e o d de d . O int - Eu senti ço s p ecndcn( ,seguido c/ c/Ol 1(/11 1/1(1/]((' 1/0 1'/(' o,
era de cinco minutos, mos eu n q ser ecipit ...Vamos E stiu d nte todo o i to, em que e(l SO(l/J(IS~(, ~(' lcl c/
)
espe ! Às seis horas, eu ido esol eu avisar , que veio logo corrente do oto de o bebê uito g Ito prsoc]o ou c/ (
e me e inou. Elo disse u coisa muito do vamos os pés em do Ou i l nte lC lie os con(l(/
ch o bulón n o dá t o. uns nutos, eu ções eram di entes dos que senti nte o po to.
estava sentindo um ço, có nos pe e epios. O nascimento de ise um ento , no sentido eu-
eu um pouco de o que me ocou v6mito; o do l fora do que me era o , de todo o meu
bebi um copo de uo e saímos. Eu tinh vontade de p e, o de conheci
do, me se eu sentindo o se rnov- Durante t inutos, um gulho em mesmo.
mentar no i ora, se trator de pn o po to, eu A ponto de um certo com os que me cer-
n tinh o idéio de como i essa sensação. No hospi l, eu . E i que e o fora, era
quis de maca nem de el que só de olh me ciso que eu nel que eu o domasse
i o pé até o ndo . do sp ç o po isso, os sugestões e os no solo de po to
Às 7h20 eu estava no solo de às 7h40 ilde t n scido. me eci distração i nte. E , esse arranco - deve-
Os s de minutos do noscmento. no do pul , du- se ch de do o é o te que me ocorre à , mesmo
s c so dessa ço Inc l que C/c cio no meu n p causo se no ho eu ti dito - tornava di cil o té do
des o que ist em , inh() cl l1hccic o! As pessoas em eu n o consegui b o b ci do do como eu durante "os
t de mim me encorajavam, di i Icí ((I Ull1vendo o be-
(I
ios . A es de le me uito. No o ento do
ça, que elo inho . os eu ti CJ /ll1/l/ /O c/( qll(1 (/quilo n o cont is intenso e 00 n do e , elo p ion com o
ia nunc e que eu n o i consegu/I "h'l/(o /)(/1(/ c 01/(1/1(1(1/ CI r - mão to o meu osso pu o, ient de ce to o o -
pi undo, bem intenso. ento de scul do bacia e li ndo o ar que me restava nos pul-
E aí, de ente, qu l trulO nu co// /C I/CI, C/uc ctc/clc/(' V('I/(O mões. ss , o c podi "descer" bem i mesmo tão
o de seda. bou, tudo i COITH'Ç c 1/, (/ c IIc1/ te. c I I 1II'}'ClII ido que ise qu n no ed a solo de t lho e o

) 90 91

)
QUANDO O CORPO CON ENTE SEXTO MÊS

de . l me gesto ergui- que eu desses hoje como


me nos o bebê que de ... um ms- começo com
Eis dois dois -
tos , que ti em i
e um de curto. Isso me que o • 13 de abril
em Se o
e , o segundo contou com , o
Maud, minha vizinha ruiva, aquela que eu encontrava na esca-
e de l
de Use. É que que só conheço um todo
da subindo com dificuldade seu barrigão até o quinto andar, deu
de que esse com con- à luz ontem. Quando lhe perguntei se tudo tinha corrido bem
nh escol no de Use, o lho respondeu com voz fraquinha: "Ótimo!" Depois disse que foi
eu de curto que o ego p i- preciso usar fórceps. Mas logo acrescentou que não sentira nada
l nõo sido p l. De to, cho que esco é ntes porque lhe deram a peridural e haviam feito uma episiotomia. Eu
de tudo só co um o no undo, in is n épo em me pergunto que palavra Maud teria empregado para descrever
que isso é qu e u op o, o é um to nódino. É seu parto se não tivesse sido necessário o uso de fórceps ..."Su-
o to i l e raro e Eu n tinh o íni- per-ótimo?"
mo desejo de consi - b l, de u i- o u mero dico. el Não é a primeira vez que ouço mães que passaram pelo trio
p iênci de inh , gu ei i el de peridural-episiotornia-fórceps empregarem palavras no superla-
que se ho à dente e que
trvo, mas evasivas. Como se o encadeamento fosse tão banal que
nestesi pe idu l em espec do i
não houvesse motivo para queixas ou para reclamações, nem ao
ci cunst6nci s u que com que me
se do de i t
menos para lamentar. Entretanto, não consigo entender como os
de ser i nos dois obstetras inteligentes e fórceps ou a episiotomia podem ser vividos de coração alegre,
que, junto equipe, que u o de corpo alegre. Mesmo que Maud não tenha sentido nada, cabe-
d i desco- lhe o direito de estar aborrecida ou triste. Mas são sentimentos
que o e é l. E que uma jovem mãe não se permite. Já que o bebê está são e
nu em que os elo salvo, ela não ousa expressar sentimentos negativos. Não ia ficar
à lu em que, de l , do to é ou bem, seria chocante. A jovem mãe esquece tudo, perdoa tudo
l p i l pode, quando tem seu bebê nos braç~s. Aliás, em geral ela já nem sabe
nto, t e t li - nte que l - bem o que aconteceu com ela. E a amnésia pós-parto. Tanto me-
vra de ulhe , independente do do édico. Du- lhor, ou tanto pior? Em todo caso, é pena que todo mundo se con-
nte noss s sessões de t lho, ule se i o
tente com disfarçar ou adormecer a dor aparente e deixe de lado
co e, de e lico e epet ui v / S o processo que cul i
a outra, mais profunda e difícil de levar em conta: a dor da alma
co o ento de eu bebé. Elo COIl/ClVO o exl iênci que
is h i codo su i como p / !li, (' Inr: judou i magoada, do corpo cuja integridade foi espezinhada. A carga do
n i do sci ento e conscrwn (I ((/11110. não-dito pesa muito no coração e no corpo das mães. É duro
oi, t nto, com se enid que u i SS('S 1l1()1I1('/l/()~, I, /)(i ,nQ viver com uma dor que nem se ousa enunciar.
ho do p to, esse étodo de concent c/c (/(()/11f>CI/1/1CI/1H'I1/0 do
c n em seu pe do co/po c/I( (//111/1'( ('I,IH'I

92 93
)
)
QU/\NDO o CORPO CONSENTE
)
)
PAULE
É
Com
POSSÍV1:L
o meu
EV1TAR OS FÓRCEPS
m 'todo, quas • IlUIlC;1 I/,' 'isei
ÉTKMO MÊS
)
usar fórceps. Em geral, quando ão usados fór ' 'I s e por-
) que os músculos da bacia estão tão ontraídos que o bebê
) não consegue virar a cabeça para transpor () -su 'ilO inf '-
) rior da bacia e sair. egura-se ntão com duas '0111 'r s a
cabeça cio bebê para faz r 0111 que '1~1 fique no 'i 'o da
saída, depois retiram-se as colh r s 'o h .bê sai natural-
) mente. Acho qu , se for riLO um trabalho 01'1" lO a>

tempo, pode-se ajudar a mulh 'r a r .laxar a bacia 'o h -bê • I 7 dr ahr I
)
desce, sem necessidade d ir bus .á-lo, rn .smo que 'I' s ja
) )11',(I ( ()Il',( I( 1111II'" 1111I1111(I', I 111',o', Orl'l (Ido pelo prr grama
grande ou esteja em posição senta Ia. J I{I lOUCO I '11110,
) ajudei uma moça romena a clar à luz. S iu I '1 ê, .ra o pri- do PI(' 11011,11 I II I I I .I 11111111.1 111<111.i\I<I,Id(, c\('ll(),j <111111r1:
11.10' ('
.. meiro filho, ficou em posição s sntada cn: r ' '1 'til ima con- falt.l d ,11i\,IIII'I!C 'IJIII 111\111111'011'lllll1llldl Jldl,l (xplll"dl o 1)('ll(':
sulta e o parto. Quando a jovem mã ' ch 'gou ;1 I1WI .rni 1,,- "In IlI/(', I'lcllll/I/I, 1/1/1'////1" I 1III001ItlII I 1111/'',I' ',(111,1() rll! ( deld
) urna IJIII'I 1'111111111,1111111 111111'11.I (11111.11/\"~:( ',1,1111(",(1'1(' (H,I.IO
de, o colo já estava com s t ccruím -tros I' libt;1 :;10 e '1
bolsa de água bem distendida. Ela mantinha UII1 \)0111 ritmo no 011,\VI I 111111111111 1111 1111,11111111)111',,111.1',111111<,1',1 ,,,11)(,1)('11'

) de respiração e os rnovirncnt , da bacia, ) l1lúli '() dt> P 1111'(I 1111111" 11 ,Ir 11111111 IIIIIIIVIIIU 1111I 11111l1lll,11 1'111(",
plantão e o anest si ta já estavam 1<'1,pois eram sisl -m.ui- mOIIlI1,1t1,1 11'1111 h 11111111,1111111111 l"II,IIIII11()(IIIl'111,1,
cam nte chamados para os partos 'ujo heh~' l'sli t""SV vm o 11/11/111 ,11/1/1/11/ 11//11I I 1/11/11, 11/111/1/1
I" til I 11u'dl( (I (1I1 doi
posição sentada. O estojo dos íórc .ps, ab 'rl(), v:-.I:IV:1 pnlll pélll('II,I,1I111 11 11111li 1111111111"' 111111111111,1~I(I() do 1('('111
to para ser usado, mas a mãe d iu a luz SVIlI dilkllld,ldv, nas: 1(11I,
)
como se a cabeça do bebê arar' . -ss ' pl im 'it()! t 1',111111111111111'111/1('IIIIl/II/IIIIII/II( 1I('«'~)(III()!"rstcí
aílll,1I',11I11,11111 111"1,111111111111,111.11111 IIIIIH,IIHc!('p,lIr1('mpUr
rat c!11I11I1I 11 11II1 I , Iljlllll 1111I111( 111/11111(JlI<' ,I CoIh('ld cio b bê
• 15 de abril ardl('(II'1I 111111111I1111 111111111111111 c1(I/I',I,I<1()(OIPO,

Não tenho espelho grande em Cc Sc1, I nho que' ',111>11 11()V.l',()


sanitário para me enxergar inteira no esp Ih 'lu' Ilr.l .Ie 1111.1 rI.I
N 11 I 11'111111
banheira. O que vejo: uma barriga que está fOI ,1 do 111lI I ,tI( .111 PAIII I
NIIIII 11"\1111'1<' l'IIIjIIIIlI'1I1 c1111,III1V;1 "
ce. Garbosa e inexorável. Continuo a obSCI'VélÇ3 l' c 1I',( 111li () (111('
PU!.',I(I 1'(1111'11 11,\11 I 11<'(1",',,111<1 1':llllll.llll() () I)t'\)(' !1;LO
todo o meu corpo é solidário com essa nova b 1II'ig,\, I 1<'I I', nru
S;li,\IHI 111111111111,11111', 1IIII'(I,',().'"t1H'I,lprov'il;Ir'l)ci-
bros, braços e coxas se arredondaram por amli'rlcll' .I ( I,\, /\1 ('
xv () 1111'1111,1/1 I 11 II ti 1,11111
1 (11/(' ('1(, (I\' (' i':IZ 'I'. As cont ra-
meus quadris se inibiram para deixá-Ia espalhar-s ,
Meu umbigo está saltado, ponto de junção de 111 \1.1 111
ti 101V('I <:(H",IIIIIIIIII,III" 111111,11.11' 1!l11:.,11 () 1H'lit'. Alii<>, acho
tical escura recérn-surgida. Corte seguindo o pontilh.rdo.I LI( I, II,I( I !10111\('1 ,I IltI,l 11 I 11l1J...1I" 1'1,11.1,,(' dt' cll'i :1-10 sair
corte, não, eu estava brincando! Humor negro de mulh: 'I ~',I,1VI(J, \. ('()III '011,1 I" 1111 I 11,1(1(li ,1111.11\1 11.11,11(l1:1 ('()1I10 IIIll in-

1)1
94
SÉTIMO MÊS
QUANDO O oro-o CONSENTE

desejável! Costumam diz r às parturientes que empur- • 22 de abril


rem como "se fossem evacuar". Que estranha associação
de idéias!
o Guio dos maternidades' acaba de sair: "154 maternidades
VISitadas, comparadas, comentadas", anuncia a capa. Compro um
Empurrar por imposição também pode ser traurnati-
(' folheio, Encontro índices assustadores de episiotornias: em cer-
zante, algumas mulheres se entem culpadas porque não
tos estabelecimentos, são sistemáticas para os primeiros partos;
conseguem fazer isso. Ademais, observei que há mulhe-
-m outros, chegam a 85%, 65%, 40% dos casos. Hoje, 60% das
res que, ao empurrar, contraem o períneo, ora, esse mús-
p.u tunentes na França fazem episiotomia, declara o Guio dos
culo precisa estar absolutamente flexível para deixar sair IIlolcrnidades e, no espaço de dez anos, o número total de epi-
o bebê. Ao empurrar, a xpulsão torna-se mais longa, o ',Iolomlas aumentou de mais de um terço. Puxa! Mas, continuan-
que aumenta o risco da necessidade de fórceps. Foi cons- 10 ,\ folhear o guia, acho uma maternidade onde o índice é de
tatado, de fato, que o empurrar pode provocar o rom- IO'Yo.Como se explica tal variação? A episiotomia deve ser uma
pimento do períneo. Aliás, quando dizem à mãe para 11I,llica bem arbitrária, Já que sua freqüência varia não em função
empurrar, é costum colocarem a mão sobre a cabeça rk s casos mas em função das maternidades e dos hospitais! Não
do bebê para evitar que ele saia depressa demais e haja I" -t ndo entregar meu sexo a essa arbitrariedade. Não tenho a
rompimento do períneo. 1I11111ma vontade de deixar que me cortem a vagina para eu fazer
Então, se não houver jeito de escapar às injunções do I''/1 I da estatística de uma maternidade. Como esse costume
médico ou da parteira, procure empurrar erguendo a 1)( 11 ' isso que parece, pode ser aceito de modo tão passivo pelas
vulva para o alto. Se for possível encontrar gente com- lill ilhcrcs? Sei que Ihes é dito ser indispensável para evitar o rorn-
preensiva, que não atormente a parturiente, deve-se com 1)1111 nto do períneo. Será a verdadeira razão? Por que então algu-
antecedência procurar um entendimento às claras. Eis o 111.15 maternidades quase não a praticam? E nem por isso nessas
que você pode fazer na hora da expulsão. Há duas si- ur.uunções ocorrem mais rompimentos do que nas outras ... É
tuações quando a cabeça do bebê esbarra no períneo: 1110 também que a episiotomia apressa a saída do bebê. Mas POI-
ou você sente uma vontade irrefreável de empurrar o Illl', se o parto transcorre normalmente, querer apressar tanto a
bebê, ou não tem vontade de empurrar. Se você sentir .,lId,\ do bebê? Qual a necessidade, após nove meses de pacien-
vontade de empurrar, pode responder a essa necessida- I,' g stação, de precipitar o curso natural dos acontecimentos?
de, mas não empurrando e sim respirando, sempre com Certa parteira de uma grande maternidade parisiense con-
a vulva, como durante o trabalho, mas com mais força. I, <sou-me, lamentando visivelmente, que a escolha da episioto-
Se não sentir vontade de empurrar, respire também com I' 11.1era uma questão de cronograma hospitalar. A regra. nos gran-
a vulva no momento em que a contração aparece. Em am- I Ii", hospitais modernos, é tudo ser rápido. O tempo é precioso,
I li -m mais precioso que a integridade do corpo da mulher. .. En-
bos os casos, a expulsão será feita com serenidade. A
1.10, não é surpreendente que as parturientes contraiam os mús-
criança escorregará progressivamente para fora de você.
I I dos, com uma tal espada de Dâmocles sobre o sexo!
Constatei que as crianças que nascem desse jeito, sem
violência, são calmas e muito espertas.

I. Cuide des te és. Paris: Enfanrs magazine, 1994-1995.

96 97
)

QUANDO O COIU'O CO ENTE


) SÉTIMO MÊS

) Todo o trabalho de parto, aliás, leva o períneo a se


)
o que é a episiotomia? descontrair: o vaivé m da cabeça do beb ma sageía e se A

J É uma incisão feita na parte inferior da vulva para au- músculo. Constatei também que a alimentação vegetaria-
mentar-lhe o diâmetro e deixar passar a cabeça da criança na em fim de gravidez ajuda a tornar eis tecidos ma is fl -
)
no momento da expulsão. É efetuada pelo médico ou pela xíveis. Se a mãe gosta de legumes, por qu não tentar?
.J
parteira, quase sempre com a ajuda de uma tesoura. Corta-se A episiotornia não é um ato s m conseqüências, so-
) ao mesmo tempo a parede vaginal e o músculo. A incisão bretudo se a incisão for grande. Primeiro, há a cicatriza-
pode ser mediana, entre a vulva e o ânus ou médio-lateral ção que pode ser dolorosa e demorada, levar até meses.
J em direção à nádega. A episiotomia é realizada no momen~
Cheguei a encontrar mulheres que sofreram a vida toda
to de uma investida, quando a pressão da cabeça da crian-
ça provoca uma espécie de aneste ia fisiológica, o que tor- por causa de uma episiotomia mal costurada. E nin-
na a intervenção quase indolor. Quando se efetua antes da guém costuma falar das dificuldades sexuais provocada
fase de expulsão, pode ser dada a anestesia local. A epi io- pelo perineo seccionado e costurado, o qu o faz p 'r-
tomia é costurada após o delivramento (a expulsão da pla- eler a clasti .ida I'.
centa). A costura é feita em três planos separados: vaginal, P '10 r~ll() (1(' sug 'rir :IS I anuri '1111'S<1111'I ','I)ill'lll 1'(1111
muscular e cutâneo. a vulva, ;(';d)() rl':lIiz:IIHlo l)(llIIIIIIS,1111:1~, 1'I)i~IIIIIIlIII.I~"
nem pr '('iso I ()I' :1 111:11)sol lI' ,I (',dH' ,I (1.1 I II.II\( ,I P,II,I
.vitar rom] in: -nios. I)i,'() ,I. 111.1<" qu.in li) ,1.'-,,ljllllll ',('
gur<: () seu lx-l x-!" 1':1.1. () I 1',',1111 t' 1'()IIlI ,1111,(lI li!' ,I 1),11

COMO EV1TAR A EPISIOTOMIA? riga. r' "111 nascid() 1'l'SI ii.: C;1I1l10 l' qu.is ' im« li.II.1
PA LE
Para prevenir os rompimentos durante a mcnt S' poc a sugar () s .io, ainda pr '50 a plac .nta. Esta,
expulsão, muitos médicos praticam a episiotomia, uma aliás, se cI scola com mais facilidade, porque a sucção
incisão na vulva que alarga o orifício vaginal. Tornou-se dos mamilos ativa a expulsão. Evitam-se assim a mano-
uma prática rotineira, até para mulheres cujos músculos bras de pressão, essa humilhante brutalidade que con-
estão bem relaxados. É pena, porque são bem raros os siste em apertar a barriga da mulher para retirar-lhe a
rompimentos completos. placenta. É muitíssimo melhor, tanto para o bebê quan-
De fato, só há quatro indicações reais para a episio- to para a mãe.
tomia: quando é preciso diminuir o sofrimento do feto,
impedir o rebaixamento do assoalho pélvico, a inconti-
nência urinária ou o rompimento do esfíncter ana1. Senão, • 23 de abril
é de todo inútil.
Tanto mais que o períneo é feito para deixar passar o "Somos as guardiãs do tempo", disse-me a parteira de uma
bebê e que a vulva tem perfeita elasticidaele. Mas, para pequena maternidade. O tempo das mães. O tempo dos bebês
isso, é preciso que lhe dê em uma chance, um pouco de que vão nascer. Tempo em geral tão maltratado. Até o precioso
tempo ... tempo do nascimento. Jeanne, uma bela mulher de trinta e oito
anos, não quis correr o risco do tempo escamoteado. Preferiu ao
98 99
)

I
)
SÉTIMO MÊS
QUANDO O couro CO SE TE

A po me de que e
hospital universitário onde seu pai é um grande professor uma
te o de que eu
pequena maternidade do interior; lá ela sabia que lhe dariam o
desse A o o , que ele
tempo de que ela e o bebê necessitavam. Será a sua profissão de
bl o A e em pé, de
arqueóloga que lhe incutiu esse respeito pelo passar do tempo?
suspen 00 pescoço de e: de
Sua filhinha Luna nasceu, aliás, bem devagar. Jeanne me escreveu lodo, n , . Eu
uma bela carta de mãe. vel de . como que do
neo e, su eso, soube depois que ele peque-
ie ido, no . u no 25 de às 4-h32, de com
seu . lhe de o . Elo
te o que estou lhe escrever; ti uitos pos- todo o do, chegou o cho . Estou de que, em out o
sibilid des nestes i os meses de o do . un lug elo te p pelos ceps e me ido u
do todo di com isos esc n os e chi eio como p ocesso de po to o longo. Os entos idos com h
o. De noite, do e como u njo, s d nte o d tem t - me e i o episioto i e po sibilit ido ecu
lid que, se n o tiro cochilo nos o entos em que elo i no dos sculos do pe eo.
sono, eu n güento! i inei que u pudesse i tontos Depois, dei que nós três os inhos um tempo,
po tos em i e me t nto e doç . .. u c ento o te de conhece e ecebe com o nosso i que elo
ito bonito. un n ceu no seu it As cont ções co eç icou sob i bo go, p oc ou o seio e c eçou o sug . O pedi
no noite do - 23 de ço. elo io-noite, decid os i p só veio no seguinte po o in com idode.
o e ni . Eu tin escolhido bem pequeno E ndo, posso di o que me p l. o, o
po que b que ni op os n gente p so viver o g em e sossego. Eu i nte.
iço - no io i l - i todos os de é com o o
to o lho do A po tei disse que eu colo com dil e o . Depois, é te o onde o gente
de qu cen os, depois oluiu 6 do h . se sinto bem e encon 00 que se desejo. E conhece
Elo p opôs que coso. enho de que, o t e o que t lho. E é p eciso que o
h 00 do bolso de e e
me dei inte à noite, o à ni o l, sinto que todo o ho de ntigin que du o
t lho tinh . A o centí e me udo o à o I em suo
A po que eu me b nquinho e me de- pe l i como no odo de to e de - . Com
uç sse o A dil ntou, o bolso de uo se rom- del ...E o você dent o em Um beijo,
peu, e continuei o o n nhe de quente. O que s
me i o to de sol o o cont o e de e o nne
líng con o l in io como é ese me ensin os eu n o
consegui cont ol i . As co e uito o tes, nun-
pensei que pudesse ter tont.o o ço. A judo do po ei com
• 25 de abril
que eu i e o pe idu l. Viver d cont u o necessi-
de n o beM ojuclou- () sup t tudo. do eu
No pré-natal, os médicos se revezam e se parecem, mas
sol o p onunci o l "be/J{\" é 11m ento do
nenhum me conhece nem conheço nenhum. Sou uma ficha que
logi
100
101
)

QUANDO O CORPO CONSENTE SÉTIMO MÊS


) ---------
..J transita de mão em mão e que leio de cabeça para baixo, quan-
do ela está pousada na mesa do médico. Um dia, vi um sinal O que é a monitorização? l
parecido com IVG +. Perguntei o que queria dizer. Responderam
que se tratava do meu IVG. Qual IVG???Ah! Então a senhora
O rnonitor é um aparelho que capta os batimentos do I
coração do feto e os retransmite. Em certas clínicas, é uti-
nunca teve? Sem a mínima hesitação, as letras foram riscadas. Es- lizado de modo quase si temático durante os partos. Con-
sa trapalhada me deixou preocupada: haveria algum outro erro siderada como a panacéia do controle, a monitorização não
na minha ficha? deixa, porém, de ter inconvenientes. O aparelho pode ser
. Na consulta do sétimo mês, é uma moça baixa, de olhos ela- mais uma fonte de estresse para a mãe. Pouco confortáv I,
ros e voz suave, que me atende. Faz o exame ginecológico e me ele a obriga a ficar amarrada na cama; barulh nto e pertur-
anuncia que o colo está perfeito. Estendo o braço direito para ela I ador, impede-a d concentrar-se.
medir a pressão. O aparelho me aperta o bíceps. Sinto o sangue Outras técnicas, menos pesadas e menos coercitivas, po-
) bater nas veias. Espero. A médica torce a boca. Parece espantada. dem ajudar a detectar o estado do feto. O estetoscópio de Pi-
nard, por exemplo, ' um pequeno aparelho de alumínio que
"Vou medir de novo, a pressão está muito alta.
a ! arteira ou o médico 010 a obre a barriga da mil '. Ba:;la
1'1 ostar o ouvid ao .st lOSC(l! io 1 ;1 r;J vcrifirar os IJ:1I i1111
'11
- É, é isso mesmo. A senhora está com 15 de pressão. É tos ardíacos do r '[o. () LISO tio t'slt'los('(lpio tI(' Ilil1.1I'<1 11.1<l
muito. causa d sconforio ;1 I1l<1l' 'I '111 ;1 VoIlll.lgl'lll til' 1l.1() l'll 1,11
- É perigoso? uhra- on para () 1 'he', () <llll' (' () (,IMI d,1 1IICIIIil()lil',1 ,lI)
) - Não é bom para o bebê.
- Por quê?
- Isso mostra que ele não está muito bem no lugar onde
• 26 de abril
está."
Não consigo pensar onde ele poderia estar a não ser no lugar
onde está. A voz suave me pede que volte no dia seguinte para O controle feito na Iarmá ia nao me dispensou das sessões
uma sessão de monitorização. Desta vez, não choro. Nem na de monitorização. Por prudência, a médica quis mantê-Ias. Desta
frente da médica, nem ao sair do consultório, nem na rua. A bem vez, foi uma parteira que me atendeu e amarrou na minha barri-
da verdade, começo a ter minhas dúvidas. Antes de voltar para ga um cinto equipado com receptores que iriam "escutar" os bati-
casa, passo pela farmacêutica que conheço há muito tempo e mentos do coração do bebê.
peço-lhe que verifique a minha pressão. Sento-me na saleta re- "Pronto, vou sair um pouco. Volto daqui a dez minutos."
servada da farmácia para colocar o aparelho: 13-8.A pressão vol- Lá estou eu sozinha. O bam-bam do coraçãozinho ressoa na
tou ao normal. Chegando em casa, telefono para a médica e lhe sala. Um coração de bebê bate muito depressa: 120, I30, às ve-
comunico a boa notícia. Ela me responde que já sabia. Percebeu zes 140 pulsações por minuto. O nosso palpita de 60 a 75. Não
que o seu tensiómetro não estava funcionando: todas as gestan- me mexo, com medo de tirar do lugar os receptores colocados
tes que passaram depois de mim pela consulta estavam com 15 à altura do ombro do bebê. Entorto o pescoço e a cabeça para
de pressão ...Coitadas. Se não tiveram a idéia de verificar a pres- seguir pelo gráfico os movimentos oscilatórios dos batimentos.
são num outro lugar. a esta hora devem estar se amofinando. O O bam-bam fica mais acelerado, prendo a respiração, ele retoma
que, com certeza, vai fazer subir a pressão. o ritmo de costume. Os dez minutos me parecem muito longos.

102 103
QUANDO O CORl'O CONSENTE
SÉTIMO MÊS

Escuto, enfim, os passos da parteira no corredor. Fico conten- nas para compensar suas lacunas. Infelizmente, as pequenas insti-
te de vê-Ia de volta. Ela dá uma olhada rápida no gráfico. luições já são raras e vão tornar-se cada dia mais raras.
"Está tudo bem. Volte daqui a três dias para outra sessão."
Acho que é a gota d'água que faz o vaso transbordar. Não me
sinto protegida, sinto-me espionada e torturada. Mesmo assim, calo- • 2 de maio
me mais uma vez. Sei que a parteira só está cumprindo ordens.
Se eu lhe perguntar o motivo de um novo exame, ela vai me sair
Mas quem é este bichinho que cresce na minha barriga? Dá
com um rol enorme de argumentos peremptórios. De fato, entrei
pulos de gafanhoto ou de carpa. Em meus pesadelos, chego a ver
num círculo vicioso. Cada exame exige outro. Mesmo quando
um tatu cavando, cavando ... Uma coisa é certa, minha barriga é
tudo está normal, repete-se o exame. Minha barriga tornou-se
seu campo de esportes. Mergulho para trás, salto duplo .para a
uma zona de risco, região de alta segurança. Querem me mostrar
frente, queda em parafuso, equilíbrio com duas mãos e, para
que gerar um filho é assunto sério, que não se entrega a qualquer
concluir a sessão, um longo bocejo de leãozinho. Fascinada, acom-
um, sobretudo à pobre mãe inexperiente. Mas, afinal, o estresse
panho com os olhos e com as mãos o acrobata pela superfície
nunca foi o melhor método de prevenção, principalmente para a
da minha barriga: pequena saliência à esquerda, grande saliência
gestante.
à direita ...Tem preferência por certas horas, de noite, principal-
Sou o exemplo perfeito do que descreve Marsden Wagner, res-
mente. Na hora em que estou deitada e que Martin e eu pode-
ponsável pelo setor de saúde mãe/filho na Organização Mundial
mos observá-Io e acariciá-Io à vontade, com uma só mão, com
de Saúde: "Internar as gestantes em hospitais hiperequipados de
as duas, com um sorriso. Mas, com respeito, sem insistir.Tanto
material tecnológico acarreta o risco de que, em quase todos ~s ! I
mais agora, que ele tem menos lugar para se esconder, caso 'I
casos, essa tecnologia seja usada, mesmo que a parturiente nao I
deseje ficar quieto. Para ele, meu útero parece ter encolhido nes-
tenha necessidade de tanto. Tal utilização pode levar a um diag-
tes últimos tempos. No começo, o bebê era tão pequeno que
nóstico inoportuno e, em conseqüência, a um tratamento .inade~
devia custar muito a percorrer todo o seu espaço. Seu oceano
quado. O número de exames praticados durante a gravidez e
amniótico devia parecer-lhe infinito. Sua percepção dos lugares
cada dia maior, embora a ciência médica demonstre que nem
foi-se aguçando aos poucos. Ao tocar nas paredes do seu antro
todos eles são de necessidade absoluta. [...] O risco é a pressão
ovóide, deve ter percebido que o mundo tinha um limite e era
exercida para assustar as mulheres e os responsáveis po!íticos ~a
fechado. Depois, veio o dia em que ele sentiu o afago de minha
saúde. Segundo essa maneira de ver, todo nascimento e patoló-
mão, ou então a barriga do pai que me enlaçava. Compreendeu
gico ou comporta um risco patológico." ..
que existia algo do lado externo, fora de seu mundo. Ouviu vo-
Que solução adotar? Abster-se de todo controle seria pueril
e provavelmente perigoso. Talvez eu devesse ter escolhido uma zes ou música, talvez até tenha percebido a luz. Sua teoria ficou
pequena maternidade, na qual fosse atendida sempre pela mes- confirmada. Vai chegar o dia em que ele vai ter vontade de ex-
ma pessoa, de preferência POI" uma parteira experlen:e, cl~nte plorar esse mundo ainda invisível,mas não desconhecido de todo.
O que será que ele vai achar. ..
de seu diagnóstico e que não precisaria recorrer tanto as rnaqur-

2. oles de sages-fenuues. !, d().\.\ir'I~ t la iss uce. Paris: Stock-


Laurence Pernoud, 1992.

105
)
)
QUANDO O COlU'O CONSENTE
)
) • 3 de maio
.J
Convidei para vir aqui em casa Maud, a minha vizinha cheia de
J olheiras por causa de seu recém-nascido. costuma
) o explicou-me ela com um sorriso cansado. Para não
desmentir a mãe, ficou quietinho no cesto, de mãozinhas cerra-
) das em torno de seus sonhos. Meu bebê estava impossível, dava
) pulos para todos os lados. Seus movimentos chegavam a mexer-
) com meu vestido. Muito séria, Maud me predisse marcas indelé-
veis: "O bebê toma conto de você, você dentro e isso
acaba do de . Olhe a h continuou
) ela levantando o pulôver, o rosto de um ch de ,
) cheio de rugas e escarificações!" Por enquanto, minha ditosa here-
ditariedade ainda me poupa das marcas brancas das estrias. Maud
)
me lastima, ela tem muito orgulho de seus estigmas.
)
)

)
.J
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\
) 106
)
)

• 17 de lU •• o

111/ , '1I1V1H .ld.l 11.1101.I 11111.1',()II()i~1 dnd 10 oit IVO III 'S. S u obje-
tivo,' 11,'1, /111111.11.I 1111'01'
•.111 dCl I)(·!>(\ '11'I,í 11('( 'S ,írio? Paule me
disse- '1111' 11 dI0l1:1111',1111I 1"lIh· ',li flllll 1)('1.1 p,i/pdçiio da barriga
melll'/I"I ;\11111 rlll 111011',111/1):1/111\1:011,1/111''1111' () I) bô não mude
de iel(·I.! 111111111/1\111111/1111111 1/1 1111.1""1111 /1.11.! tl5i1(c!c. Mesmo
assim, 11 VI 111 I 1.1', d, ,1.1 I ,d, I 111 c/11 li 11 I'.! dlclIlO particular e
dasIH·I.!',IIJ/ll',I,dlllllll, 111111111111111111 11.!I.i/clllnpt' a mes-
ma/UIH •.!Cl ti • ,1/111 I I1111I111, 111,111/111' I).!III>~.! c/v (lld,Og I
bem "1(1,.1 ,111111.1I I 11 11 I .1 1.1 ( I 1111( 11If) "!>',( 'I v.: (' anota em
silênCl(l IIr I' r'll 1,1,11,,"11 I' 11111 ,,111',1,Ilu
";\d1'II'., 11111111
1 111, 11 I
;\d"II"I/lIIII'II"

I l(ll", r " /lI I' 111di 1111111, I) I'" I c/III I '. c/o hospital estão de-
sert " 'li 1111I 1111 1111/11I /I" li 01I' ," 111I 11111
11I.! jld l,l clínica na qual
o <lI< I I I 111/1111I 11 I' 111, I 11I I 1i li' 111111
I'. VoIO c/ um linha para
a oul: ,I "VII 1///1/,,'/ /1'11/ /1/11//11'f 111/ IIIIIII/C// ()/ N I VClÇÕO icul
/íqUIr/o C//ll/lltlllI/f1 11/11 1'1 I11 (."!lI/II!.IIII( ',lIblinhddo),
pouc () '/r I. \ 11/111 ./, /o /'" 1/ f I1 ., 'II/r 11'C/ ."

V()III/ c/'/lI'I/ /111 1111.111111/( lI.1110ulllc1-sonograflasaindanão


bast.unr l .1 li' 11111111'11111111I'III'(OllllnU,I'pouco cheio daqui
a [1(", ',1'1110111
I, I 11"1 .111 /111 I I (ljlOI? Ullld sessão de superali-
1
m 111.11,'//1 11111 I/ I 1",11111.1' ,dllllllh"c/cl ou nervosa. Meu bar-
rig,l() 111 "I 11111111'I I 11111'11,1/ c/I) I/()',pilrll continua deserto. Nin-
gUl-III 1111 '1'/1/11 111 1"1.',,1 111'01,11/1'.1',11 minha angústia e minha
raiv.i

107
QUANDO O CORPO CONSENTE OITAVO MÊs

• 18 de maio ela se generalizou de tal modo que se tornou a resposta para to-
das as perguntas. Os ginecologistas a utilizam cada vez mais, até
Noite agitada mas boa conselheira. para confirmar o diagnóstico de gravidez. "É o típico abuso gera-
"Alô, doutor, por favor, será que a quinta ultra-sonografia é do pela tecnologia médica: o aparelho inventado pai-a responder
mesmo necessária? Como o senhor escreveu que o líquido é 'abun- <Inecessidades reais (o diagnóstico precoce de certas más-for-
dante sem exagero' ..." mações) é empregado para outros fins, às vezes para suprir a in-
Silêncio estupefato ao telefone. O avental branco se refaz e competência clínica de seus utilizadores", afirma o diretor do de-
decide dar uma grande estocada. É preciso matar a revolta no 11.11Lamento de medicina neonatal do hospital Port -Royal, profes-
ovo. ',01 [can-Pierre Relier".
"Minha senhora, não é a senhora que decide!"
Eu seguro um "e por que não?" e refiro-me ao desconforto e
estresse causados ao bebê. • 22 de maio
"Que idéia! Se houvesse algum inconveniente, não usaríamos
o procedimento." !\,\:IICS me telefonou para avisar que está grávida. Espera o
Agora a voz está fora de si. Desligo e desisto de falar do bebê 111 1111 '11'0filho para daqui a um mês. Agnés casou-se com um car-
de Maud, que mostrava o traseiro em todas as ultra-sonografias 1l11)11'111) e mora há dois anos num vilarejo perdido na montanha.
"dando as costas, decidido, ao pincel dos ultra-sons que o amo- I'cor~:IIIII(~i onde ela vai dar à luz; respondeu que irá para a peque-
lava", segundo as palavras da mãe. Sei muito bem que não me 11.111I.111'lnidadeda região, a vinte e cinco quilômetros da casa
I
levariam a sério. Obstetras australianos resolveram avaliar os efeitos dd, I \1 I cscentou que está preocupada porque não vai receber
de ultra-sonografias sistemáticas e freqüentes durante a gravidez. .I "lli".II'"ia peridural. a o I.

Compararam dois grupos de recém-nascidos: no primeiro, 1.415 11111" I' 1<,1(>


I que o e,
mães tinham feito uma série de cinco exames completos com 1Ili ",IIIÚ, "cí em di l . Conta que ouviu falar muito dessa
ultra-sons (imagem por ultra-sonografia e fluxornetria Doppler); ""I",II'fol" e que lamenta não "ter direito" a ela: "É injusto que
no segundo, 1.419 mães só tinham feito um, na 18~ semana de , 'I, ~;(Iri gente pode . É verdade que há muita coisa escri-
gravidez, destinado a determinar o termo da gravidez. A hipóte- 1.1'.11111 I' rl anestesia peridural; revistas e médicos a propõem
se inicial dos obstetras era que o controle intensivo devia ser be- r I'1.1','-'',"ll1pre como uma panacéia. As mulheres apresentadas
néfico. Ficaram muito surpresos ao constatar que, ao inverso de (11111(1 ""'mplo nos jornais costumam usar esta expressão entu-
toda expectativa, o grupo dos "muito acompanhados" tinha em ,1c1',1ri: 'I IOt nõo se sente
média um peso inferior de vinte e cinco gramas em relação ao ou- I I'TH li', do parto sem dor, o pai-to sob anestesia peridural é
tro grupo de recém-nascidos. Alguns gramas a menos que, para " 1111111101 novidade do kit-gravidez. É incrível como a moda é ins-
os médicos, pesaram muito' ... I I " ,I :'1 li)', atrás, as gestantes que pediam essa anestesia ainda
Parece comprovado que esta "escotilha" mágica tenha seus 1I1ri I, 1111 tli/lculdade para consegui-Ia. Eram chamadas de molengas
limites e que o seguro total contenha efeitos perversos. Mas dis- I "111.\11<1'>
1 a agüentar o sofrimento, se possível em silêncio.
so ninguém fala. A ultra-sonografia deveria detectar anomalias; I Ir111'r- 1I uwcrso. Em Paris, oito entre dez mulheres são subrne-

1. Artigo publicado na revista cicnulicn The cei, 9 de outubro de 1993. " '11 1'11'1'"
IlL'licr. L e nt qu 'il n isse. Paris: Robert Laffont, 1993.

IOH 109

/"
QUAl'\jDO o COlU'O CO SENTE OITAVO MÊS

tidas a essa anestesia. Nas outras regiões, a percentagem é bem número de abril de 1994 o uso de pressões especialmente con-
menor por falta de equipamento ou de pessoal competente. vln centes para levar a parturiente a aceitar o pai-to sob peridu-
3
Brigitte faz parte dessas mulheres, cada dia mais numerosas, ral . Primeiro, tentam a arma fatal: a culpabilização - "Se for
que "tiveram direito" à peridural. Brigitte é documentalista. Seja 00 pelo Quando a mulher resiste
para sair de férias ou para dar à luz, ela nunca faz nada que não aumentam a dos: de ocitocina na perfusão, o que acelera de I-e~
esteja programado. Antes do parto, leu inúmeros artigos sobre pente as contrações e as dores. Então, dizem à parturiente:
essa anestesia e conversou com o ginecologista. Ele lhe deu esta e preciso o
Acho , porém
. q
' "ue -" e, so por motivos
na~, . organizacionais que
curiosa resposta: você um corro -quil e
todo o co , é? D hi ulico, air-bag e as maternidades Incitam a anestesia. Um nascimento descon-
eios A5S. Com o é o coiso. E tudo Surpresa, ela certa, ~reocupa. A força emocional, a fusão da dor com a alegria
fez a mesma pergunta à parteira da maternidade que respondeu, o mrsténo mexem com nossos parâmetros. Como a morte. O I
I'
I
rindo: lhe, é ito s você qu sent dor ou q a nes- nasornento e a morte têm, aliás,em comum o silêncio e o não-dito
tesio idu l Brigitte fez "hum, hurn", meio em dúvida, mas que o: cercam. Os rituais modernos do início e do término da
percebeu que não tinha escolha. O consenso a respeito da últi- Vida sao,lncnv:lmente parecidos: muito medicalizados. Os moti
ma técnica em destaque era geral. Brigitte, que mora em Paris, ~os expllclt~s sa~ os mesmos: segurança, higiene. Os moi ivos omi
teve o parto sob anestesia. Quando seu filho nasceu, fui visitá-Ia dos tambem sao os mesmos: cn obrir a desordem 1.1( moc.io
e da dor.
na maternidade e perguntei o que havia sentido durante o nas-
cimento. Lembro-me ainda de suas palavras desiludidas: "Paro o , Afinal' a mãe e' d espos III'cJ" CIo ptll 10 (O!l10 o !l1OItlHlllclo (1
ed ,.
segundo o, . Depois, falou-me de sua frustração: teve e sua ~ro~na mOI L .Ambo IC'1nck 'c' tllllq:rll ('Irl '>Ij{'!leio
ao ntual técnico. Por C]lI l II,ml du cuo ,\ ("Id, I que pOI um
a impressão de haver sido completamente alijada do nascimen-
to do filho. "É como se eu o , O momento ou para scrnpi 1),10sao mais nada? Ao dar entrada
na maternidade, a mãe ntrcga sua identidade como o agonizan-
eo nte o ones-
te ab~lca. d~ sua ao sei hosprtalíz do. Pouco importa quem são
tésico e o os contrações. eu -
ou fOIam, so Interessa a parur de então o ato para o qual se pre-
se sob o e no deles, no no do bebê.
param. dar ou perder a Vida. Nascer. propiciar o nascimento, ou
"É que tudo se nos acrescentou ela.
morrer ~eve ser um mero parêntese na "verdadeira" vida. A
De fato, esse tipo de parto disciplinado é muito tranqüilizador:
Jovem mae deve esquecer a provação do nascimento, voltar a ser
Não há irritação, gritos, agitação: o corpo não sofre. Mas será essa
depressa, bem depressa, a moça que ela era. Os sobreviventes do
a verdadeira expectativa da mulher? Para Brigitte, como para mui-
mor~o: os parentes e amigos também devem atingir a mesma
tas outras, estou certa de que o resultado não satisfaz.Talvez tam-
amnesra. Mudar logo de casa, refazer a vida, voltar ao trabalho.
bém seja o caso de Agnes que lamenta, porém, desde já o fato
Esquecer. apagar tudo. A vida é dada do mesmo modo como se
de não "poder recebê-Ia". Infelizmente a engrenagem médica
morre: se~ ousa~ sentir nada, sem palavras, sem lágrimas.
não perde tempo com conversa inútil.A maioria das grandes ma-
~ Na mae, o silêncio perdura. Fico surpresa com o pouco que
ternidades já está preparada para fazer partos sob anestesia pe-
tem a contar sobre o fato as mães que deram à luz sob aneste-
ridural. As parturientes que a desdenham complicam a rotina
hospitalar. Aliás,é feito o impossível para trazê-Ias de volta ao bom 3. Prcfession sage-femme, n. de abril de 1994. Artigo de Philippc Thomine: Péridu-
caminho. A revista mensal ion indica em seu rale, Ia nouvclle donne,

l10 111
QUANDO O CORPO ONSE TE OJTAVOMÊS

sia. Entretanto, houve com certeza emoção. Encafuada em algum do p óp o . o inicio do lho de , ejo os lh
lugar da memória do corpo, e sem nunca se manifestar ~tondo consigo . Elos se debote com o . Só quon-
o ,consegue en em com o que em
SI e que elos se en g e o di . Só se
• 23 de maio ~ue o sO de nós, que ele es em nós tudo lto
os ode
Agnes me telefonou ontem à noite - ela que só costumava Deixara própri~ dor manifestar-se pode ser indispensável, por-
escrever uma vez por ano! O fato de estarmos na mesma situa- que ISS?ajuda a mae a se conhecer melhor, inclusive a conhecer
ção nos aproxima. seu propno nascimento. Nascer outra vez ao dar a vida.
"E você não está com medo de sentir dor?, perguntou-me.
- Você está?
- Estou, claro! E você?" Tr'[ÉRESE Como tu I~ se selar ! Ü a dor qu traz-
Não, não estou com medo. Não é para bancar a corajosa que mos m nos que surg , lan .in.mtc 11'1 IlC)-
digo não sentir medo de algo que está em mim. Seja qual for a ra Id.o parto . A_dor
01 . 1.iada no corpo, nos órgãos,
ntran ' , na
forma, por enquanto toda misteriosa, que vai ter a minha dor, ela pe e, no coraçao, nos braços, nas pernas, cntr as p 'mas
será minha, e já é minha. A dor do parto não será uma dOI-impos- p~r to~o o corpo que está moldado p Ia nossa história'
ta. Não tem nada a ver com a dor do corpo machucado ou feri- a sorvId~ gota a gota, dia após dia, ano após ano. '
do. Esta, sim, enfraquece, avilta, destrói. Esta merece ser anestesia-
Sacudido por uma tempestade inédita, o corpo se re-
da. Não a do nascimento. Não quero. Ouvi muitas mulheres fala-
vela em sua nudez integral. O teste da verdade é fulmí-
rem das dores do parto como de um sofrimento imposto. Para
dosr» A dor desenfreada galopa através dos músculos e
elas, a sensação dolorosa das contrações é intolerável, é uma mal-
os nervos. Para fugir?
dição herdada de mãe para filha, uma passagem compulsória e
Com certeza para fugir, para sair do corpo e da alma
inaceitável na era em que a farmacopéia permite sua isenção.
enquanto o recém-nascido avança irresistivelmente '
Calar essa dor parece-Ihes vital. Eu as entendo. Entendo sobretu-
do porque elas estão se preparando para dar à luz em lugares d Os tremores, o susto do corpo todo são muito pareci-
frios e impessoais, nos quais todo mundo só fala de dor a supor- dos com? que observo às vezes no meu trabalho, quan-
tar ou de anestésicos milagrosos que podem dar alívio. o os músculos repletos de emoções acabam cedendo
Mas não será um engodo? Por trás da fala anti-dor das mulhe- ~ quando a memória, re?r~sada por muito tempo, sobe
res não haverá outra coisa? O medo do desconhecido, o medo o fund.o ~o corpo. O mistério do nascimento, uma par-
da emoção, o medo de sei- mãe, o medo de ser responsável por te do nusterío, talvez seja isso: uma energia violenta que
um outro ser Sel-á que a anestesia consegue aliviar esses medos? atravessa o corpo de alto a baixo.
Não há muito tempo, uma parteira formidável me contou o
que sua experiência lhe ensinou a respeito da dor do parto. Nun-
ca ouvi nada parecido, mas, intuitivamente, acho que está muito
certo. Segundo ela, o é o contração que dói. É o do que -
mos dent o de nós, oculto. O que o co lo é o s ento
"\

112 113
)

QUANDO O CORPO CONSENTE OITAVO MÊS

A esse propósito, lembro-me da Sra. D. Quando che-


o que é a anestesia peridural? gou à maternidade, estava sorridente e tranqüila. O tra-
)
balho caminhava rapidamente, ela controlava muito bem
) A anestesia peridural consiste em injetar, por meio de uma
agulha de ponta côncava, inserida entre duas vértebras, um
as contrações até que a enfermeira, ao levá-Ia para a
.J sala de parto e achando que fazia uma piada, disse que
produto que insensibiliza os nervos da cintura para baixo e
) alivia assim a dor física. A parturiente deixa de sentir a bar- iam para a "sala de torturas". A Sra. D. deixou de con-
..J riga, a bacia, o sexo e as pernas, mas continua consciente . trolar as contrações, ficou subjugada pela dor e tivemos
Não fica totalmente desacordada, ao contrário da anestesia muita dificuldade para fazê-Ia retomar o trabalho corre-
geral, que já não é quase utilizada; mesmo em casos de ce- to. Era a única frase que não poderia ter sido dita.
sariana usa-se a periclural. A dor também não é estranha à história emocional da
) mulher. Ela deseja ou tem. receio de soltar o filho, de
pô-Ia no mundo? Tem medo da separação? Todo parto
remete ao próprio nascimento. Ao dar à luz, a mãe revi-
A RESPEITO DA DOR ve o trauma de SU;I chegada ao mundo. Se nasccu com
PAOLE As mulheres não reagem da mesma ma- a ajuda de fórceps, va: ter medo cios r{lrccj)s. Sv 11.I."(,l' \ I
) neira à dor do parto. Algumas se contorcem de dor, ou- por cesariana, terá medo de cesariana. Orn , c: <j1l;ISl' M'Il1
tras não sentem nada ou quase nada. Por diversas razões pre o medo e a angústia que provocam ;1 dOI. I': 11111:1\('(]
)
fisiológicas e psicológicas. Nosso corpo não está inerte ria antiga, que verifico a cada nascimento. A mulher COI1l
diante da dor, ele tem suas defesas próprias. No mo- medo tem contrações exageradas elos músculos, princi-
) mento do nascimento, o organismo materno secreta um palmente na região lombar e na bacia. O bebê se encai-
.J horrnônio chamado endorfina. É um analgésico seme- xa mal, o útero precisa redobrar esforços para superar
lhante à morfina. A endorfina adormece a dor e propor- o obstáculo muscular, as contrações serão mais fortes,
.J
ciona bem-estar. Se o relacionamento do pessoal da ma- mais longas e mais dolorosas. Cai-se num círculo vicio-
ternidade com a mãe for calmo e apaziguador, a secre- so. Como enfrentar as contrações, como torná-las supor-
ção de endorfina aumenta. O ambiente, o meio no qual táveis e como dominar a dor? Como conservar a calma
a mulher dá à luz, a confiança que ela tem, ou não, em e viver intensamente, mas sem experimentar as sensa-
si mesma, na parteira e no médico influem muito no mo- ções tão fortes e poderosas da vinda ao mundo? Todo o
do como ela vai sentir dor. Um estudo feito na Inglaterra trabalho de antiginástica com a língua, os lábios, os ma-
) e citado por jeannette Bessonard em oles de s ges- xilares, os olhos, os tornozelos, os pés e os dedos dos
femmes' mostra que, quando as mulheres conhecem a pés podem ajudar. Thérese já explicou a ligação entr
parteira que as assiste, o número de anestesias durante I. essas partes do corpo e os músculos da bacia. Ao respi-
o trabalho de parto diminui ao mesmo tempo em que rar com a vulva durante as contrações, você estará rela-
cresce a proporção de partos normais e naturais. xando esses músculos-chave, e o bebê será naturalmen-
te levado pela contração uterina em direção ao canal
I 4. oles de sages-fentmcs, op. cito que ele deve transpor para nascer. As contrações não
I
114 115
I.
I
k
-'.

QUANDO O CORPO CO SENTE

duram para sempre porque todas elas são efi~az~s: A dor


existe mas dá para suportar, porque o bebe sairá logo.
NONO MÊS
Se você ainda não optou pela anestesia peridural e a
deixou de lado como um coringa a ser usado caso a dor
se torne insuportável, é provável que nem venha a pre-
cisar dela. Não sentirá vontade nem necessidade de ser
anestesiada. Vai viver o parto em toda a sua plenitude.
As parteiras costumam dizer e a ~n~stesia peridt.~-
ral as releza o
a um papel técnico. E o médico .quem deci- • 21 de junho
de tudo. Outras, porém, gostam da anestesIa. porque_ a
função delas fica mais fácil, já que as patunentes / r:ao A história de Francine é um sinal. Sinal de alarme. Mulheres
dão trabalho. Isso revela um novo estado de esptrl~o. reclamam. Dizem que estão fartas de ser levadas de qualquer
Acaba-se esquecendo que quem dá à luz é a mãe, e n~o jeito, de não ser escutadas nem respeitadas, de ser cortadas, ancs-
o médico ou a parteira! A anestesia cria uma separaçao tesiadas, amarradas. Querem mudar. Dizem que a hipermcdicali-
entre a mulher e seu corpo no momento em que ela mais zação é a era glacial. Não a era da maternidade, da vida. Francine
tem necessidade de saber, e sobretudo de sentir, o que acaba de ter um menino. Nasceu em casa. É seu segundo filho: a
está acontecendo. A mãe fica imobilizada, pregada nu- primeira, uma menina, nasceu na maternidade. Preocupados, fa-
ma cama durante todo o trabalho, sem a possibilidade mr1iae amigos fizeram de tudo para que ela desistisse da idéia.Aliás,
de fiar-se em suas sensações - que praticamente deixam de ela nem chegou a contar aos pais, pois sabia que a tachariam de
existir. Ela só obedece à ordens do médico e sujeita-se doida. Na Holanda, quase 50% das mulheres escolhem dar à luz
a suas intervenções. A parte superior do corpo assiste, im- em casa. Dez por cento dessas mulheres têm de ir para o hos-
potente e submissa, à interve~ção médica efet~ada na pital durante o trabalho de parto, mas 37% conseguem ter o filho
parte inferior. Incapaz de partIClP:-r, a mulher !Ica ~on- em casa. i
de nada a suportar; quanto ao bebe, tem de enfre?tar so-
zinho as contrações. A mãe é forçada a abandona-Io em
plena tormenta, não seguem juntos o mesmo percurso.
Que , I
U/ sse n u! oi nto de l e. O p to
i e, este me t ! tes, po é . de cont como
on ento de Ul sse, qu li po que decidi o bebê em
. isso ou cont o n sci ento de oé ie. oi cinco nos.
Vivi p e g d cli de edo e soli o. O hospit l era
ho l ente . Eu n que ia o eu p to podi
se qu lque quel tei . Os c sos do p é- t l nun me
t nqüil , ulos. e e i do em que
nos t a de o chegou a 120 i
tos uto.

117

(
)
)
) QUAl'lOO o CORPO CONSE TE NONO MÊS

) n vai ter solo. era que os coi- sei foi que o de o em De fato,
) iam .. de tudo que ~ ones- no começo, eu era contra. que à em
. Eu sentir - o endereço de em , de
) mim. - diriam os che- que esse tipo de ui a ,
) guei à à disseram-me que era tarde H seis . iquei todos
o i O colo ito Insistido u a do o obs-
)
comigo p eu n vir cedo ... . uei - o um de l
.J . eu me e In l o moru- que o se no dos po te ,
) Em de me concen nos cont iquei ndo o e- n l que po tos no ndo intei , licou "O
lho junto com todo undo. O acontecimento n est no inh em lto do pescoço n é bl , o gente ti Se
) , os no tel . ei ndo à lu .. Qu o senti . do es, t -se os du se o t ês, os
..J dor ne do. Fiquei contente ter esc do o eplsloto ~ . Eu I- os un espondidos pelos po com si plici .
s que n qu e ei n o oe p o beb~ me odos os c ic que lê nos os tinh solu .
)
i ess quel incisão' elo jeito, lei e e consegUi l- OU I que elos h i enco o. unc de c o espost
) Qu ndo o bebê iu, coloc -no, em Cl de l/~n, os eCi ~ue te l elho, est hospit supe equip , nõo
era só po que todo undo diz que e po o bebe em ~ do e ... . E s de 1 es 00 o p 00. lo prim 1m . o
e dep es l no e . gué cortou o co o e dei edo e escUl Gostei. o i/ COll n l u uic Con,
) o bebê no solo 00 lodo. , puse -lhe uns tubos no n . prei istos, li un l
Meio jeito, untei se eu podi um pouco com o bebe, e ~- Eu i 110 nlllh() ongustlos. )(/! ,CIr IlI () !)/() 1I/ I cIJ
b po me t ê-to. co que ele su e, os n O gosto pelo gl(I / c u ( t icu/d( el c/ ( I cJI I/ o ( ( II l.
)
foi t o ples qu eu pen .. .,. ieti ito nisso c o(ho que u, Io úituno II/ ,/( (/o,!)OI
Fiquei se no e I l soli- que eu !)OIlCO110 ut l (/ po t 110' co endou pou
)
contin o eu cont com o bebe. e b o- so. El me IIol1qOlildoc/c nun usou de te ll o
me de u pe que e sem espost era ele . era I ci v /. eu de ito le t . Eu
) comigo d nte o noite, ou Eu tin coragem de nd ne me un o que oconrec n e o beb~ ch ntes do oo -
) mim . Eu com qu COI- . Elo nun me espondeu I 50 o licou o que
,e o ... olh ndo. . ço isto . O co to entre nós e ito o.
Eu consegui desc n vivia de o com o do hospi l. A elo co todo o sco p o ion l, nos gestos que te de
verificação do t dos ndentes, t do glnec~- os n o o sco que be à e. osso el ion ento o
logi co p em to o dele. bei tendo tinh n do o com o c/i istenc do e d e. todo o
)
no ginecologist Ele nunca se deu conta do eu des lento, e eu. t l p que inh g e e o to se p be .
. bé n o consegui co o que sentindo o eu ondo. que é o elho p e enç o pos l, el em que o nunc é des-
.J l ê n acredite, s iquei g do segundo, c - espons bili .
cei tudo do s jeito. Encontrei o ginecologis is qu pos- ntes do te sto o po to, c ecei o ten nos
s el e fui me inscrever em outro p é- , que era Igu l inho 00 . cont ções. U noite, elos ito os. Às sete do nhõ,
ei o. , . . . I c o p te . Elo disse que se e suge que eu to s-
Qu ndo cheguei l , est todos ocu dlssl Ui bld pe o se um . ei ç pens que, depois, eu nõo te te
ine . Elo oi uito b e me mostrou o coso, que era lug e. en- A te chegou. Eu com e. guntei se eu podi co
sei é i el. el disse eu como quisesse. Ind uei cho que pode do
)
118 119
)
)
QUANDO O COlU'O CONSENTE
NONO MÊS

de Elo o que é que . é o do Elo disse sob e


só i que dei o o ho um
i- pe guntei o n ilho se elo i po o o coso do ento , sem e .
i inho. Elo disse que não. oi o qu to del . A po tei me - que ocê i à em coso, desejo de todo o co
ou. eitei o co o com l pode io sen- que o de seu bebê de e .
A po tei u . O de igênio, o sangue eijo do
i i l etc. eu senti dor. con nho, eu
tin como
ncine
o do bebê o . -
eu me eu ciso o bebê . Eu só pen-
nisso. A me i O bebê . • 22 de junho
do disse é um , com A me o
bebê e deu um posso - sou-lhe g -
esse gesto. o com o Garance, a amiga de sempre, e Etienne, o eleito de seu cora-
cheio de Depois elo chegou to o bebê,
ção, dois fanáticos pela 7~Arte, casam-se hoje ... num cinema. Há
I cou-se de que ele e nos o sós. dois dias, vasculho meu armário à procura de uma roupa que me
sirva. Experimento, viro de frente para trás, espicho para baixo,
o todo nós, nos e -
I' so. um pouco o mó não adianta. Tudo está apertado, curto demais. Acabo achando
I o lust oso que o e ch um vestido tubinho de malha preta ... Consigo enfiá-Ia como um
ie. os juntos. ie olhou o bebê, que tomara-que-caia. Os ombros arredondados de mulher grávida
ele se . o de que pude os i são bonitos. Visto um camisão de seda de flores rubras e verdes,
no te . sei q te po i os . A p tei n o ponho uma echarpe verde-escura, um pouco de batom.
.,1
disse , ne nos tou l que s em to no Ia esquecendo. Estou descalça. A cerimônia começa daqui a
de um ecé -n ido. Elo n o se eteu. i muito sse meia hora. Com ou sem meias, o resultado é sempre o mesmo:
c eçou o su . Depois, o p c tou o c o. É eio d o de co
r· mos consegui s. A pl iu logo em seguido. in be
não há sapato raso nem sandália que caiba nos meus pés incha-
dos. O que ainda me serve são os sapatos de pano chineses. São
os o de todos os lodos. o de no i l-
chinelos. Cinderela de pés inchados. Mas estes chinelos são pre-
n o nos l . os com Elo me dis- tos, combinam muito bem!
se que ti me escutou i . E liquei
po eu g e i que tudo jó
que o seu susto tenho sido um ito do em
que nõo. ou os têm o TI-IÉRESE Todo mundo vive preocupado com as más-
do c de no , os formações no embrião do tamanho de
bebês cobertos de Isso os muito. que uma semente. Existem páginas e páginas nos manuais
o de l sob e o e de um sobre as anomalias do feto. Nem uma linha sobre a per-
do Eu o ca- feição dos recém-nascidos. Entretanto, a natureza repe-
e que, ele i no
te seu prodígio milhões e milhões de vezes, com a mes-
A ltou no seguinte e só elo os
e lou do bebê. E o b dos hi s, que se u-
ma segurança com que o Sol desponta no planeta; seres

120 121
)

)
) QUANDO O CORPO CONSENTE NONO MÊS

) Se aforma dos calçados femininos não se parece com


cujo corpo é organizado de acordo com um planc: I 'r-
) feito vêm ao mundo. Será que isso nã vai na Ia? ao a ,do pe hurr:ano, talvez seja para tentar abafar o que os
) vale a pena ser compreendido? pes tem a dizer, impondo-lhe um limite arbitrário evi-
Será cabível imaginar um bebê, por xcrnplo, om tamos ver a expressão torturada de sua forma autêntica.
)
pés pontudos, dedinhos entortados e hcios le calos? Durante a gravidez, a musculatura fica fi xível rnaleá-
) Por que, então, existem estes horrívei pilões cuja forma vel, e assim permanece alguns meses após o parto. O cor-
.J nem de longe lembra os pés que há algumas d' cadas nas- po não é feito só de músculos, mas só os músculos dão
j
ceram perfeitos? "É a vida, dizem, não há nada a fazer." f~rma a_nosso corpo. Um trabalho sobre os pés ajuda a
Sei, é a vida, as repressões e compressões de todo tlP?· circulação sanguínea e linfática, traz estabilidade e bem-
Mas é possível fazer algo, algo que não seja enfiar os pes estar. E, como tudo se articula no corpo, podes muito
nos sapatos e tentar esquecê-Ios, escondê-los, . bem, pela base, soltar teu diafragma, soltar os ombros.
Como esquecê-Ias, aliás, quando começam a inchar :
já não entram no lugar onde, há poucas semanas, se ar:l- ento dos pés nQ 73, pp. J 56 e 757.
nhavam tão bem? Não, não estou dizendo que teus pes ento dos to no elos 11. Q 74, . 157 J ) I.
estão deformados. Sei que não estão. Mas, como neste
momento precisas ficar bem firme no chão, vou te lem-
brar que a arquitetura de nossos pés é um milag~"ede • 29 de junho
perfeição, com arcadas, abóbada, pilares e s~us vinte e
seis ossinhos interdependentes. A forma que tem na hora A noite foi longa. Virar para a esquerda, virar para a direita. A
do nascimento, mais estreitos no calcanhar que nos dedos, meia-volta há meses não é praticada. Dormir de preferência para
e suas bordas retilíneas, nunca deveriam mudar; apenas o lado esquerdo, a fim de não comprimir com o peso do bebê
deve surgir a arcada, quando se começa a ensaiar os pri- a vela cava, que fica do outro lado. Virar só para a esquerda e
meiros passos. pronto. Com dois travesseiros, de bruços, não consigo respirar.
De fato, eles suportam todas as tensões e dores de
nosso corpo. Vindas de cima, do pescoço, da barriga, das
pernas, as tensões pros eguem muito devagar durante • 7 de julho
meses e anos, ao longo da musculatura; quando chegam
ao fim da cadeia muscular, isto é, aos pés, elas erguem A expressão "vou ter um filho" assume sua dimensão total. Ele
os dedos, comprimem e deformam as articulações. A for- está aqui e não está. Tenho vontade de pegar nos braços meu
ma de nossos pés não consegue mentir, confessa tudo filho, de _dar-lhe um beijo. O tempo me parece suspenso. Meus
sobre nossas mazelas ocultas: a respiração bloqueada, gestos sao cada vez mais lentos, os movimentos como que par-
as cicatrizes de intervenções cirúrgicas no abdome, os celados. Eu me adapto a seu ritmo. Uma semana é um tempo
partos difíceis, as dores do ciático, a ansiedade, a vida Infinito para a criança, um dia deve parecer uma eternidade para
difícil. O hallux valgus, ou joanete, é um exemplo carac- o feto. Sonhei com um relógio perdido. Penso no rosto do bebê,
terístico do bloqueio do diafragma. no seu corpo, no seu sorriso imerso no líquido amniótico. Os

122 123
QUANDO O COlU'O CONSENTE
NONO MÊS

cientistas procuram saber o que desencadeia o nascimento. Co- ramoAs contrações continuaram muito fi . .
nhecem a substância hormonal que provoca o trabalho de parto, uma cesariana ...Sonia não teve a cora racas: FOI preCiso fazer
a prostaglandina, mas não têm certeza quanto aos mecanismos va de acordo com a ind - A gem de dizer, mas não esta-
que induzem sua síntese. Alguns pesquisadores acham que tudo corpo não Ele fioI' . fi uçao... cabeça tinha resolvido, mas o
, . mais orte que a quí' O .
se passa no âmbito da placenta, outros pensam que é a mãe que e exceção. Uma e ui . mlca. caso de Sonia não
toma a iniciativa, no dia em que já não tolera em seu organismo duzentas e quare~t:~~~hPartelras belgas fez um estudo I sobre
eres cura graVidez foi rfi .
a presença do feto. Uma terceira tese, mais recente, considera a normal e com bebês se h I pe eltamente
responsabilidade do bebê. O rim do feto secretaria uma substân- estudo mostram que a~ ~en _ uma anomalia. As conclusões do
cia que intervém na produção das prostaglandinas. Na realidade, mais longo, maior uso dne auçaol,artifiCial acarreta um trabalho
. na geslcos maior p
o mistério permanece, e é melhor assim. Talvez haja acordo táci- cesarianas e um Apgar dos' '. ercentagem de
to entre mãe e filho? Após nove meses de uma ligação fusional, também o caso de Natacha re~em-nasCldo~ men~s favorável. Há
q
a decisão de separar-se só pode ser tomada quando ambos se março. No dia I? de abril o 'b beAdevdlada! a luzia pelo dia 23 de
' e e am a nao se t h 'fi
sentirem maduros para enfrentá-Ia. Entretanto, o parto pré-pro- O termo estava atrasado de m a rnaru estado.
. uma semana A parte d N
gramado é cada vez mais freqüente. É uma "vantagem" que vá- que Ia fazer o parto a dom' rt: . Ira e atacha,
. ICIIIO, resolveu espera h d
rias maternidades oferecem agora à clientela apressada. Boa pro- d evra haver. alguma co, Isa nesse atraso Po h r; ac.. an o que .
vidência, se for pela necessidade de tirar o feto de uma situação procedido assim. Na noite de 10 d '. ucos osprtais teriam
crever. consigo +'01 . e abril, Natacha resolveu es-
desfavorável: o bebê não consegue avançar, sofre, ou já expirou ar, u us este me' p
o termo previsto (e, ainda assim, é preciso verificar se não houve Duas folhas com uma letr d 10 ora me co c .
" ona re onda para" I
engano na previsão). Mas, na maioria das vezes, é por pura con- vras , explicou-me ela . co ocar as pala-
. eu 11 o nto
veniência que se induzem os partos. Antes das férias e feriados, Qu entend p que eu nõo o. " eu nõo.
edo edo d deI sair. otei no pel o
por exemplo, para garantir que o médico escolhido vai estar pre- . e me dele edo d d h
nõo sei do o espeito de h . o escon ecido. O
sente. Mais uma vez, o ritmo natural do nascimento é desprezado. ln
conteceu no in nci Del o ige e esqueci tudo o que m~
Uma parteira me explicou que isso significa se dois seres . rn o u ilh 'Ç.

que nõo t o te po que tin p juntos . Segun- cont to com esse bu n de inh I o slgnlll
queio tot l, ho depois d I o Id .Isso me um blo-
do ela, isso traz conseqüências: es o que o bebê onto
t . E. ós s seis ho en~ o caneta, os con-
isic ente, e e ilho i nõo têm est s ciente p s ceu o n em coso. e
alcançar o de Aliás, ela ainda constatou que, quando esse
prazo não é respeitado, a mãe se mostra quase sempre hiper-
possessiva depois do parto. Às vezes, o corpo das mães resiste
à intrusão do ritmo médico. O processo de indução fracassa. So-
nia devia dar à luz no dia 10 de abril, mas o médico saía de férias
no dia 5. De comum acordo, marcaram o parto para o dia I~.
Sonia chegou à matcrnid d ;, 9 horas, fizeram-lhe uma perfu-
são de ocitócitos para provocar s contrações. O útero quase
não reagiu. O bebê não av ncou I il Iarn nova perfusão. Espera- 1. Cf oles de - es, op. cit.

125
'"
)

)
) QUANDO O CORPO CONSENTE NONO MÊS

)
Sigo na maca e de elevador até as salas de parto. O relógio do
) o que é o escore de Apgar?
corredor indica meia-noite. A parteira de plantão que eu nunca
) . a Virzinia Apgar validou há tinha visto me recebe distraída e me deita na mesa estreita de
A anestesista norte-amencadn " scDorede Apgar" a fim de exames.
) quarenta anos um teste chama o e .
. ,
- do recem-nasClC . 10 a' vidac extra-uterma um "O colo está com dilatação de dois centímetros. Quer tomar
) medir a adaptação . tapo' s o nascimento. Esse um banho para relaxar?"
. .-' o e dez rrunu os d O
minuto, tres, cinc itéri S q' te recebem notas e A maternidade acaba de reformar as salas de parto. Tudo
J ta cinco CriellO, c .
teste leva em COI1. _ 1 . ção o tônus e os batírnen-
. 'esplraçao a co ma , novo. A grande banheira decorada com mosaicos é o orgulho
J a 2: o grito, a I '.' b adaptada chega a um Apgar
tos cardíacos. Uma cnança em das parteiras: foi uma delas que desenhou os motivos coloridos.
.J
de entre 9 e 10 pontos . Os intervalos de minhas contrações ficam mais curtos.
) "Não dá tempo de tomar banho", conclui a parteira.
) Acho ótimo. Com a impressão de estar sendo levada por uma
torrente, não sinto falta de mergulhos. Algo pal"ecido Com um
)
animal de patas musculosas está agarrado à minha barriga É o
) • 13 de julho
útero que se contrai. Logo eu, que achava que as primeiras con-
) trações deveriam ser calmas. As minhas não são. O que estou
. " L' ~ ra Paris está em festa. Mesmo com
Começa a anortecei .. a o 'b Ih abafado dos fogos e a sentindo não se compara com nada imaginável, nem com nada
as janelas fechadas, ouvimos ~, ar~m~çou o baile. Já chegaram que eu possa ter imaginado. Que força é esta que toma conta
de minha barriga?
música. Na minha b~rnga tam oarto iminente, e chegaram para
as contrações que Indicam ~ .
lo
da igreja vizinha. Está na hora. Eu inspiro, o ar vai subindo pelos pés, ao longo das pernas, até
valer: Soam onze horas no re ogd a cidade deve estar cheia o peito; solto o ar; ele desce pela coluna vertebral e sai pela vagi-
. d e se ouvem a rua,
Pelas buzina as qu ,. te muito tempo para atra- na. Fico de olhos abertos, para não afundar na dor. Apóio bem as
de engarrafamentos. T~lve~a~i~~=1 eg~~egar à maternidade .varnos costas na cama e mexo a bacia seguindo o ritmo da contração,
) vessar o Sena, subir ate a_ . M' tos depois, bate à porta uma para diminuir o arqueamento da coluna vertebral. Os movimen-
ter que chamar a ambulância. .Inu . h tos ensaiados em casa são como balizas na tempestade. A reben-
.
equipe" de seis profissionais vestidos de azul-marin
. o.
tação por fim se acalma, o animal de patas musculosas está doma-
)
"Dá para andar? A I . tória da ambulância clareia a escuri- do, a dor diminui aos poucos. Mas não por muito tempo: uma nova
) Dá, mas devagar. uz g~ra irdia do 14 de julho. Entramos contração me apanha. Pega-me a barriga e o peito, sobe quase até
.J dão da ruela que escapa a balbu. nós os pais. Deitada na a nuca. Procuro me concentrar; faço de novo os movimentos. Sou
. t· os seis da equipe e , .
todos na carruone e. I' Nunca eu havia uma atleta em plena competição. Cada movimento, cada respira-
'd mortecer os saco eJos. ção me aproxima do objetivo. Martin me encoraja com o olhar e
maca, ergo as na egas pa~a Ia dos das ruas de Paris. Foguetes,
r

percebido tanto os para e epipe _ . em ouço nada: estou a voz. E mais uma vez as coisas se acalmam. Meu útero descansa.
t d engarrafamento nao vejo n Mas a trégua é curta. Tudo recomeça com mais força
gente can an o, . incontroláveis de minha barriga.
) concentrada nos movimentos b I' 'a pára na frente da rnater- Durante três horas, o vaivém das contrações toma conta de
. . t s depois a am u anCl . meu corpo; obriga-me a uma concentração e a um esforço enor-
) Vinte rnmu o , . -ne manda ficar quieta,
nidade. Vou me levantar; mas a equipe I mes, como eu nunca fizera na vida. Estou centrada e concentra-
.J
126 127
.J

)
-'.

QUANDO O CORPO CONSENTE


ONOMÊS

da em mim mesma. Nem me reconheço. De onde vêm essa dentro


. de rni1m.Essas horas de caos e . I A • -

força, essa resistência, essa convicção? A parteira não fica presen- oonantes, as mais fantást' . VIO encia sao as mais em 0-
Olho . icas, que Jamais vivi.
te o tempo todo. Acho que ela tem coisa melhor a fazer na sala , . para mim, nua e suada' sou - .
de plantão. Imagino que está festejando com os 'colegas, como se avo, minha bisavó. Sou todas es~ a mae. '!,nha mãe, minha
deve, a queda da Bastilha. Suas rápidas visitas servem sobretudo Sou a mulher arcaica. Sou a m lhas fimulheres forjadas pela vida.
u er orte. Transmiti a vida.
para que ela examine o colo e me informe a progressão: quatro
centímetros de dilatação.Tudo vai bem. O trabalho caminha. Sin-
to sede. Martin pulveriza umas gotas de água em minha língua.
Não se deve beber durante o parto, disseram-me. É uma medi-
da preventiva, caso seja necessário receber anestesia. Dilatação
de seis: a parteira segura o altímetro. Dilatação de oito. O bebê
prossegue seu caminho. Agora faz três horas que ele avança,
empurrado por meu útero batalhador. Dilatação de dez. O colo
está perfeitamente aberto.
"Estou vendo a cabeça", diz a parteira.
Eu sinto a cabeça. E a estou sentindo para valer.
"O senhor venha ver."
O senhor pai mal tem coragem de ver. Dá uma olhada rápi-
da e faz uma volta estratégica para junto do rosto concentrado
da mãe.
"É agora, empurre."
Eu já contava com a ordem. Agora não dá para explicar que,
por sugestão de Paule, não vou empurrar. Aguardo a contração
e solto o ar com força, bastante força. Dá certo. "A cabeça, aqui
está a cabeça", diz a parteira que, é evidente, passa a confiar em
mim. Solto o ar mais uma vez. Vão saindo os ombros, o tronco,
as nádegas, as pernas e os pés. O corpo viscoso do bebê escor-
rega de meu sexo. O último gesto de um longo corpo a corpo.
A última simbiose. Um deslizar progressivo para o mundo.
"É uma menina!", exclama a parteira.
Minha filha. Nossa filha. Bom-dia, Julie! Ela está em cima de
minha barriga, encostada em meu coração. Olho mas não acre-
dito. Esta cabecinha, os olhos inchados, os punhos fechados, é ela
mesmo. Nove meses, ela precisou de nove meses para tornar-se
este pequeno ser independente. E de algumas horas para sair de

128
)

• Três meses depois...

Julie está com três meses. Ela é literalmente borbulhante. Quan-


do me lembro de seu nascimento, violento, forte, rápido, acho
que é parecida com ele. Será que as crianças nascem como são,
como vivem? Penso muitas vezes nesse parto, na intensa felicidade
de ter acompanhado meu bebê em direção à vida. Seu nascimen-
to me fez nascer. É como se uma reserva de força, arraigada nas
profundezas do meu ser; se tivesse revelado. Aumentou muito
Ilr minha autoconfiança. E a confiança em minha filha, na força vital
de nós duas. Aquelas horas de violento corpo a corpo nos apro-
ximaram mais do que os nove meses de íntima coabitação. Como
se o ato de deixar que minha filha siga em fi-ente, de separar-me
dela para lhe dar a vida, fosse prova de amor maior que o fato de
carregá-Ia em mim durante nove meses.
Sei agora, passados três meses, que aconteceu durante aque-
las horas uma coisa muito perturbadora e decerto vital. Falei no
meu diário daquela parteira que explicava que a dor sentida du-
rante o parto é a dor que trazemos dentro de nós. Ela estava cer-
ta. Já contei como foi a dor das contrações fulgurantes, inimagi-
náveis, impronunciáveis. Além do caráter petulante de minha filha,
expressava-se a história de outra menina. Menina que um dia
perde o pai para sempre. Sua dor é brutal e muda, porque inca-
paz de se comunicar. Foi essa dor que senti de novo, vinte e seis
anos depois, na hora do nascimento de minha filha. Entendo essa
selvagem chegada ao mundo. Não poderia ser de outro jeito.
Havia uma menina ferida. Agora uma mulher dá a vida. A emo-

131
f
QUANDO O COJU'O CONSE TE TRÊS MESES DEPOIS ...

ção do nascimento arrancou a tampa cuidadosamente apertada que esperamos, Paule, minha mãe e eu. Ao descobrir a mais
sobre a minha dor infantil.Talvez melhor do que qualquer trata- segura realidade - a de seu corpo -, você vai adquirir confiança
mento psicanalítico. Porque meu corpo não podia tapear; fugir; em si, como eu mesma consegui durante nove meses. Vai desco-
defender-se. Ele tinha de participar para pôr meu bebê no mun- brir que seu corpo foi feito para dar a vida. Faça isso por você e
do. O parto estimulou zonas de minha memória até então ina- seu bebê. É um nascimento a dois, um co-nascimento*: seu rela-
cessíveis. Reviver a emoção da morte na hora de dar a vida torna cionamento futuro será melhor e mais confiante.
a dor bem mais suportável. Acho que não teria sido a mesma
mãe para minha filha se eu não tivesse refeito esse percurso e
tratado minha dor.
Seria por causa dos festejos do 14 de julho? Seria o meu jeito
confiante e decidido? Seria porque tudo se passou bem e de-
pressa? Ninguém, em todo caso, interferiu nessa hora de chega-
da ao mundo. Nenhum anestésico, nenhum gesto médico, ne-
nhumrecurso tecnológico me foi imposto. A parteira era total-
mente "discreta"; eu a vi pouco, ela quase não me falou. Decerto
percebeu que eu preferia assim, e não me propôs, nem impôs,
nada. E ninguém veio dar uma olhadela - que eu teria achado
indiscreta - na sala. Gostei muito disso; sei que não é o costume,
nem nesse hospital nem em outras maternidades parisienses.
Penso muito nas mulheres que a química consegue calar; que
a técnica amordaça, das quais ela apaga a memória, a própria his-
tória. Que pena perder uma terapia tão formidável como a do
parto! ... Que pena não aproveitar essa fantástica oportunidade
de renascer; de redirnir-sel
Mas é uma via que não está traçada de antemão. Cada vez
mais, mulheres que foram sobretudo feridas ou frustradas pelos
partos sem respeito começam a procurar outra coisa. Algumas
preferem ter o filho em casa, pensando que é o melhor"alhures"
possível. Outras procuram pequenas maternidades onde existe
calor humano. Mas todas sabem que esse caminho para um nas-
cimento mais livre, mais 'responsável, precisa ser descoberto pela
própria interessada. Não com um machado, mas com confiança.
Confiança em si, no bebê, no meio que a cerca. Discretamente,
parteiras atentas desejam ouvi-Ias e ajudá-Ias. É preciso ir atrás
delas. O saber e a experiência dessas profissionais são insubsti-
tuíveis. Este livro também pode ajudar você. É o que espero. O • Cf. nora à p. 58. (N. da T.)

132 133
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MOVIMENTOS
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Eis a descrição dos catorze movimentos já anunciados
e mais outros dois, que você pode fazer com o pai de
seu filho. Quantas vezes por dia ou por semana é para
fazer? Só o seu corpo pode saber. ão se trata c1. um
"programa" que é preciso cumprir e vencer a todo ust .
Mais do que "exercícios", são qual água benfazeja que,
a cada dia, é absorvida em pequenas porções por suas
células, até o momento em que o corpo, sati feito, não
sinta mais necessidac1. . Só você pode perceber como
esses movimentos vão modificando aos poucos o seu
modo de relaxar os maxilares, mexer os olhos, respirar
e despertar a inteligência profunda de seu corpo.
Se sentir necessidade, faça diariamente os que mais lhe
agradam. São rápidos e não exigem grande preparação.
São "movimentos imóveis", por assim dizer. Com um pou-
co de concentração, você consegue fazer alguns deles
numa sala de espera, no ônibus, à revelia de todo mun-
do. Seu ponto alto é a extrema precisão e os surpreen-
dentes resultados obtidos. Surpreendentes porqu , se de-
pois de trabalhar o pé direito ou a perna, por exemplo,
e peta-se que eles se tornem mais flexíveis e alongados,
ninguém imagina que também o olho direito fique mais
aberto e a face direita mais relaxada. Entretanto, é isso
que você vai constatar e assim, fisicamente, sentir como
tudo está ligado dentro de seu corpo: a parte de baixo
está sob a dependência da de cima, a da frente responde
à de atrás, uma cavidade reage à outra.
137
QUANDO O CORPO CO SENTE MOVIMEN'roS

Você pode até melhorar a velocidad a precisão das Para mim, são como elementos de um alfabeto indis-
ordens nervosas entre seu cér bro mC1 ulos. Pode agu- pensável para discernir os movimentos, a percepções
çar as percepções dos mú culos que não são comanda- do corpo, de dentro e de fora. inguém vai pensar em
dos voluntariamente como, por exemplo, os do útero. soletrar letra por letra as palavras' de uma arrebatada
Percepções preciosas para que você permaneça em con- declaração de amor na hora em que está sendo feita. Mas
tato e harmonia com seu beb durante toda a gravidez,
A sua língua e respiração vão tornar- e suaves, os múscu-
assim como para reconhecer e aceitar sem medo, quan- los flexíveis e dóceis, e sua vontade de dar à luz será
do chegar a hora, os movimentos de todo o seu corpo poderosa.
prestes a se abrir para o nascimento.
Seus olhos, boca e respectivos movimentos represen-
tam um papel muito importante: embora por sua situa- 1. po do céu bo os l os
ção fiquem longe, são parentes próximos do útero e do
sexo. Estão fortemente ligados ao seu sistema nervoso Este movimento da boca pode ser feito com você sen-
involuntário'. Sabemos muito pouco a respeito dos mo- tada numa cadeira, d preferência descalça e com os pés
vimentos ínfimos, contínuos e profundos dos nossos ór- bem apoiados no hã . E preciso que a cadeira tenha a
gãos dos sentidos. Esses movimentos não dependem da altura ad quada às suas p rnas. As mãos b m soltas de
vontade, mas decorrem estreitamente das emoções. O palma para cima, pod '111 les .ansar s )hr'" as r rnas.
medo e o estresse podem contrair as pupilas de seus olhos Com ce faz n I. p .qu 'nos "sim" om a cab 'a.
tanto quanto contraem os músculos de seu útero. Um Solte os maxilar '5, mas ti 'i c os lábios fc .hados, en o -
recente estudo norte-americano mostrou que, de cem par- tando=s . d I V" 0111os rnús ulos r .laxa 10.':>.Imagin que
turientes cujos bebês estavam em posição sentada, oiten- seus lábios se alargam, arnudos macios, m contudo se
ta e um se viraram espontaneamente após as mães serem separarem um do outro.
submetidas a sessões de hipnose destinadas ao relaxa- Com a ponta da língua, siga d .licadarn nte, pelo lado
mento; desse modo, elas descontraíram a parte inferior de dentro, o ntorno d )$ lábios 'n 'o 'lados. D scubra
do útero, que estava impedindo a criança de encaixar- as comissura à dír ita ,;) .squ rda. Pas i a língua,
se normalmente. No grupo-controle, cujas mães não fi- sempre com suavidad , I> um Ia 10 para o outro, t ntan-
zeram hipnose, somente vinte e seis bebês consegui- do descobrir com a ponta da língua a forma qu tem sua
ram, sozinhos, virar de cabeça para baixo", boca de lábios f chados. T nte um Jev 'sorri e descu-
bra, sempre de dentro, qual a forma de s u s rriso.
"Os movimentos devem ser feitos na hora do parto?";
costumam perguntar minhas alunas. Se lhe vierem à ca-
beça, isto é, à boca, aos olhos ou aos dedos do pé, sim.
2. o ç língu
1. o sistema neurovegetativo. (
2. jou o edi n (jAMA), citado em ho- Este movimento ajuda a distinguir os músculos da bo-
logie, abril de 1995. ca que têm o costume de fazer juntos uma porção de
138 139
QUANDO O CORPO CONSENTE MOVIMENTOS

movimentos automáticos. Distinguir os movimentos que Coloque com suavidade a palma de sua mão direita
vêm dos maxilares, os que vêm da língua e os que vêm sobre a boca, sem tapar as narinas. Entreabra os maxila-
dos lábios, saber difer nciá-los e comandá-I os pode aju- r s e, com a ponta da língua, tateie a palma da mão.
dar a relaxar as fortíssimas tensões musculares da boca Deixe a língua voltar ao seu lugar na boca e recomece.
e, em conseqüência, as do corpo todo. Agora, no momento de soltar o ar, procure apoiar a ponta
Na primeira vez, é melhor fazer este movimento estan- da língua na palma da mão. Relaxe a pressão ao inspirar.
do deitada no chão'. Depois, quando estiver habituada, Faça isso por um minuto.
pode ficar sentada. Deite-se de costas, pernas flexiona- Enrijeça a língua e procure empurrar a palma da mão
das, pés encostados e pousados no chão. As coxas e tão - sempre na hora de soltar o ar - cada vez com mais
juntas. A região lombar, o quanto possível, encostada no força. A língua deve estar pontuda, rígida, em forma de
chão. Observe como você respira e, quando sente qu cone. Tente perceber como ela, sozinha, tem força para
vai soltar o ar, encoste bem uma coxa na outra. Relaxe na afastar a palma de sua mão.
hora da inspiração. Faça isso duas ou três vezes. Procure não contrair nem afundar a nuca. Não con-
Pois é, esse é um movimento da boca. Que será ain- traia os lábios nem feche os maxilares após cada pres-
da mais eficaz.se, antes de começar, você já tiver alon- são. Faça com que este trabalho seja um puro movimen-
gado os músculos da face interna das coxas. Contrair to da língua, executado de modo preciso na hora da
esses músculos conscientemente é a melhor maneira de expulsão do ar.
conseguir que eles se alonguem e relaxem.
Relaxe agora a face interna das coxas. Abra e feche a
boca como um peixinho de aquário, devagar, com calma. 3. O u go do céu
Faça isso durante um ou dois minutos, tentando deixar a
língua muito grande, pousada dentro da boca, no assoa- Como é o interior de sua boca? Quase ninguém sabe,
lho da boca. Passiva. Os músculos dos lábios também embora o conhecimento tátil e sensorial da própria boca
devem ficar passivos. ó estã trabalhando os masseteres, pos a ajudar você a ocupar seu espaço interior, a livrar-
os músculos do maxilar. se das tensõe nos maxilares e a facilitar o vaivém do ar
Observe, sem pro urar alt rá-lo, o ritmo de sua res- aos pulmões.
piração. Agora, deix a l o 'a Ie .hada, os maxilares en- Sente-se ou deite-se de costas no chão, como já foi
costados, mas não c rra los. 'I' int ' contrair a língua den- explicado no movimento nº 2. Sempre com a nuca bem
tro da boca. Bem forte, ,1<1 possui só I ara 'Ia dezess te alongada. Com a ponta da língua bem à vontade, encos-
músculos. te-a no céu da boca. Percorra em todos os sentidos a par-
te rígida da abóbada palatina. Vá com calma, não deixe
um milímetro sem ser examinado.
2. Ao terminar os movimentos rt"ito~ dl'HI, VIII' ',,' <lt"v:lgrlr
110 :-.\'1111)1('
Agora, leve a língua para a direita, sobre a gengiva dos
e ainda deitada, para o lado. Ap6i '-IiC no ('otOVl't<l 1>,11.1 "II\'\('I ~," ,111.' I ou
cos, sem fazer nenhum movimento hru:ic<l ("<lII 1 ,I 11'/:1.111 111111\1,11 11.1 IU»).I
molares superiores e volte lentamente para o meio, para
de sentar-se. a gengiva dos incisivos centrais. Só se atenha ao maxilar
140 141
v,

)
)
QUANDO O COlU>O CONSE 'TE MOVIMENTOS
)
) superior. Faça esse percurso interno vária vezes, paran- brônquios e aos .pulmões. Compare o lado direito com o
) do um instante sobre a raiz de cada dente. Tente, depois, esquerdo. Depois, encoste de novo o polegar direito à
ir além dos molares, em dir ção à gengiva do dente do direita do céu da boca, e o polegar esquerdo à esquerda
)
siso superior direito, mesmo que esse dente já tenha sido do céu da boca. Faça pressão, firme mas sem violência,
) extraído ou nunca tenha apontado. Faça o mesmo percur- durante umas dez respirações serenas.
) so para o lado esquerdo, lentamente.
.J Agora, leve a ponta da língua para cima, para o véu
palatino, a parte flexível do céu da boca. Percorra essa 4. Como um berço
)
região em todos os sentidos.
Volte para a parte rígida e para a gengiva. Tente sen- Para este movimento, você precisa de uma bola bem
) tir com a ponta da língua a diferença de relevo, a dife- mole, do tamanho de um pequeno melão. Ajuda os mús-
rença de temperatura dentro de sua boca. culos lombares a se descontraírem, a se alongarem. O sa-
Coloque a ponta da língua sobre a gengiva dos inci- cro, você stá 1 rnbra ta, é um o so de forma triangular
i)
sivos centrais, os dois dentes da frente. E suba lentamen- no fim da aluna; a ponta inf .rior arti 1.IIa-s' .om (; 'óc~
te a arcada do céu da boca, pelo meio, até o véu. Ao to- .ix. Em .ima, o sacr a n i .ula-sc '0111 os ossos Ia h:lci:1 '
que da língua, você vai encontrar como que uma linha orn '1 úluma vórt hra lombar. SlI;1forma ;1/):llIl;ltl;1 '('01)
divisória, que separa dois céus da boca, um dir ito e um v xa do lado Ias .ostas ' 'ônc;l V;I 10 lado 1;1 h;1rri ';1. Por
esquerdo. Siga delicadamente essa crista que separa seus isso, quando vo ê 'SlÚ I .nada, forma lima 'SI "'i' I
dois palatos. VacA vai encontrar com a língua uma espé- berço onde ficam aninhado o útero c a barriga.
cie de pequeno "umbigo", situado nessa crista, quase no Vá apalpando eu sacro, tente seguir-lh o contorno.
alto da arcada. Pare nesse miniumbígo. Apóie nele a língua Com os dedos, procure o cóccix bem no fim da coluna ,
no momento em que você solta o ar. Relaxe a pressão no rego das nádegas. Ele está situado bem mais abaixo
quando você inspira. do que se costuma imaginar. Vá apalpando o contorno
Encoste a polpa digital do polegar direito no lado dos ossos da bacia, os ossos dos "quadris" como se diz
direito do céu da boca. Preste atenção na respiração e, usualmente. As "cristas ilíacas" , como dizem os livros de
quando sentir vontade de soltar o ar, pressione o céu da anatomia. Sempre com a maior precisão e leveza da
boca com o polegar. Cuidado para não contrair o ombro mão.
ou o braço ... Pressione, desse modo, umas dez vezes. Deite-se no chão de costas, pernas flexionadas. Os
Ou mais ainda, se você se s ntir à vontade nesse movi- pés devem ficar um junto ao outro e bem encostados no
mento. É claro que suas unha d vem estar curtas; mas chão. Afaste ligeiramente as pernas e coloque a palma
elas precisam mesmo estar ~paradas I ara a chegada do da mão direita entre as pernas, sobre o púbis e o sexo;
bebê. coloque a palma da mão esquerda sobre a mão direita.
Retire o polegar. D scans '. ornpare o espaço interno Não precisa apertar. Na época em que o tamanho do úte-
do céu da boca direito om o squ .rdo. ornpare suas ro dificultar esse movimento, não insista; o movimento
sensações quanto ao s i s n;ls;1is, aos maxilares, aos pode ser feito com os braços estendidos ao longo do
1!j2 143
QUANDO O COlU'O CONSENTE MOVIMENTOS

corpo. Preste atenção à respiração, e quando sentir von- ser de até, no máximo, três centímetros se você suportar
tade de soltar o ar, aperte uma coxa contra a outra. Pro- b m. Costumo usar bolinhas de cortiça porque é um ma-
cure observar contra suas mãos a força dos músculos (os terial suave e agradável ao tato.
adutores) que ficam na face interna das coxas. Repita Deite-se de costas, p rnas flexionadas, pés encostados
isso durante umas trê ou quatro respirações tranqüilas. um no outro, e contraia o interior das coxas, como no
Repouse os braços ao longo do corpo. Conserve en- movimento nº 4. Depois, descanse as mãos ao longo do
costadas as pernas e também os pés, mas sem forçar, e corpo, e tente relaxar os músculos "adutores" do interior
coloque a bola sob o sacro e o cóccix. Depoi , não faça das coxas.
nada: isso é o mais difícil. Con entre a at nção no sacro. Tente perceber sua for-
Deixe a região lombar apoiar-se no chão com suavi- ma seu entorno a partir do contato com o chão. Ob-
dade. Todas as partes ósseas, densas fort s da face s rve Olll rr isão o lugar on Ic I começa a erguer-
posterior do corpo - coluna vertebral, sacro, ossos da s (em lir '. ão 'I ponta inferior perto 10 Ó' .ix) c já não
bacia - se encostam no chão, se afundam como um nc sta no chão.
berço, ficam prontas para receber sua barriga, seu útero,
seus líquidos; sua placenta e seu querido bebê. Desde
que você perceba os movimentos do bebê, vai sentir
também suas reações no exato momento em que você
conseguir alongar as costas. É provável que ele se ponha
aos pinotes, feliz por ficar à vontade nesse espaço que
você lhe oferece.
À medida que a parte inferior das costas se alonga,
talvez você sinta a nuca se arquear e encurtar, por um
jogo de compensações, como se os músculos concor-
dassem de um lado para recusar do outro. Tente man-
ter a nuca calma e alongada, e os ombros bem encosta-
dos no chão.
Tire a bola. Descanse de leve as mãos na barriga e
saboreie o conforto e a segurança do sacro encostado
no chão.

5. do c s e ...

Para ste movim.ento, é pr iso qu - v ~ t nha duas


Os pontos correspondcm aos lugares onde devem ser colocadas
ou três bolinhas de dois c ntímetros de liâm tro. Pod m as bolinhas, à altura do sacro e da cintura.

144 145
)
)
QUANDO O COlU)O CO SENTE MOVIMENTOS
)

) Pegue uma das bolinhas de cortiça loqu '-,1 ,[ dir 'i- xando escorregar os calcanhares no chão, sem erguê-los
) ta do sacro. Não no osso do acro, mas p .rto d ' sua I or- nem mexer com as costas. Deixe os pés caír m à von-
da, no lugar onde você sente que ele com :a as' ara - tade e saboreie o apoio confortável da barriga das per-
)
tar do chão, isto é, perto do cóccix. S u orpo fica pousa- nas, das coxas encostadas no chão.
)
do na bola, você sente o contato, ma que não S eja mu ito
) dolorido. Se for, é preciso mudar a bola d lugar. j onha-a
mais afastada do sacro, isto é, mais para a direita, ou para 6. co t espi de ...
baixo. É claro que o corpo ainda deve ficar em contato
)
com ela. Quando você tiver dominado bem esses movimen-
) tos, poderá num outro dia passar para o seguinte. Tente
Em seguida, não faça nada. Observe esse contato, as
) eventuais reações de suas costas, da barriga, dos ombros, descobrir na linha da cintura o espaço entre o osso da
) da nuca. Tente soltar a. tensões da região lombar; encos- bacia (crista ilíaca) e as costelas. Atrás, ficam as vérte-
te a cintura no chão. Mesmo que o contato seja leve, já bras lombares, mas dos lados você não sente nenhum
)
está bem. Não acredite que, quanto mais dói, melhor. osso nesse espaço.
) Assim que o lado direito entende esse contato com Deite-se de costas, deixe os pés encostados um no
) um corpo estranho, coloque outra bolinha à esquerda, outro e bem apoiados no chão, coxas juntas. Depois,
.J na mesma altura, simetricamente. Assim, ficam as duas coloque a bolinha à direita da cintura, bem para o lado
bolas de cada lado do sacro. Com calma, encoste a cin- de fora, isto é, bem à direita para qu o contato fique
tura no chão, relaxe as costas. mais perceptível e sem doer. Abra a boca, preste aten-
..J ção na respiração. Quando se sentir à vontade, coloque
Abra a boca e deixe a língua alargar-se lá dentro. Fi-
) que atenta ao ritmo da respiração. Quando sentir von- a outra bolinha à esquerda, imetricamente. Respire com
tade de soltar o ar, procure fazer uma leve pressão com calma em direção às bolinhas, como se os pulmões se
j
o corpo sobre as bolinhas. Cuidado, não erga as costas alongassem até a cintura, fazendo uma ligeira massagem
) no útero quando o ar pa sar.
para fazer isso. O movimento é interno e muito leve.
Depois, quando sentir vontade de inspirar, faça também Ao retirar as bolinhas, fique descansando um pouco,
..J uma leve pressão sobre as bolas. Faça como se, de cada com as pernas ainda flexionadas, e observe com cuida-
lado do sacro, você tivesse dois minúsculos pulmões do como se encostam no chão a cintura, as costas, os
.J
anexos que também quis s m respirar. Encher, esva- ombros, e como você percebe sua re piração.
)
ziar, dentro de um ritmo r no.
) Ao fim de um minuto - ou mais, . você se sentir
) bem -, tire as bolinhas c m um g .sto simples, sem fazer 7. Co o pequeno pul o ent e seus ou idos ...
nenhuma contorção. Encost 0111 I elica I za as mãos
)
na barriga, e apr ci a'hrgu ':t.a ele suas .ostas, desde os Pegue a bola macia, do tamanho de um melãozinho .
ombros até o sacro. D 's ans ' o ( 'I11j)O qu ' pu ler, de- Deite-se de costas, os pés encostados e bem apoiados no
pois estique as p ma I V'lg~1r, UI1l:1 ;IJ os a ou tra, cl i- chão, os calcanhares na mesma linha cios joelhos para
j 147
)
)
QUANDO O COIU'O CONSENTE
MOVIMENTOS

que a cintura encoste bem no chão. Coloqu as mãos zcr barulho com a boca, apenas aberta e relaxada, nem
entre as pernas e aperte uma coxa na outra, por dua ou barulho com a garganta, que se oferece à pas agem do ar.
três vezes, no momento em que solta o ar; relaxe ssa Retire a bola, encoste a cabeça no chão. Descanse as
pressão na hora de inspirar. ão precipite o ritmo da res- pernas ainda flexíonadas. Sinta como a cabeça e os ombros
piração.
se apóiam no chão. Estique devagar as pernas, deixando os
Descanse os braços ao longo do corpo. Concentre a calcanhares escorregarem um depois cio outro.
atenção na nuca e nos ombros. Abra a boca e relaxe a
língua. Procure fazer pequenos "sim" com a cabeça, sem
erguê-Ia do chão. Repita umas dez vezes. Tente fazer pe- 8. os olhos i ...
quenos "não" com a cabeça. Procure localizar com cuida-
do onde a sua cabeça e apóia no chão. Abra bem o olho Nas prirn iras 2 s, faça est movimento leitada no
e olhe para o teto na direção de seu rosto. E olha um chão. É possível, atravé s <.1 st trabalho, tornar O' movi-
ponto do teto. Coloque a bola grande e ma ia sob a ca- m .ntos dos olhos mais livr '5, de faz r a rigi lei': "IS ini-
beça, como se fosse um travesseiro. Cuidado, não embai- I i ..~e' que voA nem perc Dia c qu fazem part da sua
xo da nuca, mas para o alto da cabeça, entre as orelhas. hi tória quase desde o seu prim iro clia ele vicia.
Espere que a cabeça, a nuca e o pescoço se habituem e Deitada, com os pé s encostados um no ou tro e bem
consigam largar seu peso em cima da bola. apoiados no chão, coxas juntas. Coloque as duas boli-
Deixe a língua alargar-se na boca entreaberta. Agora, nha no chão, d cada lado do seu rosto, à altura dos
procure de novo o seu ponto de referência no teto. Para olho bem abertos, a uma distância que corresponda ao
isso, não empurre a cabeça para trás, mas abra bem os comprimento de s us braços. Descanse os braços ao lon-
olhos. Respire devagar, sem fechar a boca. A cabeça conti- go do corpo. Abra a boca, deixe a língua bem alargada,
nua bem encostada na bola, e o pescoço, descansado. Não como uma folha de nenúfar. Bata os cílios umas dez ve-
é ele que deve se esforçar para ver o teto, são os olhos. zes. Procure alongar a nuca.
Agora, quando você sentir vontade de soltar o ar, Agora, sem mexer a cabeça, dirija o olhar para a boli-
tente fazer uma leve pressão na bola. Relaxe a pressão nha qu está à sua dir ita, e volte para o centro. Refaça
quando inspirar. Se con eguir, tente não tirar os olhos o movimento várias vezes. Apenas com os olhos. Talvez
do ponto de referência no teto. De acordo com a respi- você sinta o maxilar, ou a Iíngua, querer também ir para
ração, o rosto se afa ta u se aproxima ligeiramente dele. a direita. Procure acalmá-lo e mexa só os olhos.
Tente não erguer a cintura nem mexer com a nuca, mas Depois, tente voltar o olhar para a bolinha à esquer-
só com a parte diant ira 10]1 scoço quando você aper- da. Várias vezes. Talvez você sinta uma grande diferen-
ta a bola com a cab ça, S'I TO a' ostas são como uma ça de movimentos entre um lado e o outro.
base firme, pr gada no hão, na 1 ral ele cansam o peito Agora, faça os olhos irem de uma bolinha para a ou-
e a barriga. A bola g~~111(1' .mbai o Ia cab ça é uma tra, sem parar m nenhum dos lados nem no meio. Se a
espécie de pulmão an .xo qu ' S' nchc 'se svazia nuca quiser se contrair, procure desfazer a crispação. Os
levemente ao ritm de SU;I r('sl ira ',10. N(lO é pre iso fa- maxilares continuam soltos, a língua bem larga e à von-
I H
149
I )

)
QUANDO O COIU)O CONSE TE MOVIMENTOS

tade, a respiração livr . Se não for desagradável, conti- que sentir vontad de soltar o ar. Volt para o centro na
nue o movimento durante dois ou três minutos. hora de in pirar. em precipitar a respiração; esse movi-
Depois, bata os cílios bem depressa. Descanse as per- mento não deve ser rápido. Continue assim durante dois
nas flexionadas e, devagar, estenda as pernas. ou três minutos, se puder.
Se, nos dias seguintes, você fizer este movimento sen- Depois, volte ao centro, estenda lentamente as per-
tada, que seja por menos tempo. Sente-se numa cadei- nas, deixando os calcanhares escorregar m no chão. Com
ra na qual os pés toquem bem o chão, paralelos e ligei- vagar, perceba as sensações de s u rosto, do lado direi-
ramente afastados. As coxas ligeiramente afastadas e bem to, do lado esquerdo, bem como a respiração, as costas,
na direção dos quadris. Escolha pontos de referência de as pernas. A perna direita talvez esteja agora mais com-
cada lado do rosto, à altura dos olhos, e sobretudo não prida que a outra, provisoriamente. Role a cab ça para a
vir a cabeça para eles. Apenas os olhos. direita e para a esquerda; tente sentir qual dos dois lados
parece mais leve, mais alerta e mais flexível...
Depois, flexione le novo as pernas e repita tudo com
9. o l c beç c u ecé ido ... o lado esquerdo.

Virar a cabeça para um lado e para o outro é um dos


primeiros movimentos dos recém-nascidos; eles procu- 10. o col ue teb l ...
ram com o nariz, pelo olfato, o seio nu triz da mãe.
Esse movimento arcaico, que também você já fez se Aqui, tudo orncça na nu a. s vibrações c!' suas cor-
lhe deram tempo para tanto, eu o recomendo agora pa- das vocais podem faz r a coluna vert bral .antar " des-
ra melhorar a flexibilidade de sua nuca. Deite-se de cos- se modo, e propagam até a bacia, na qual, lcsd o s x-
tas, pernas flexionadas, pés e pernas encostados. Faça to mês, o bebê escuta com os ouvidos e, c m toda a
com a cabeça alguns "sim" tentando olhar para o peito pele, provavelmente bem antes. A voz materna, livre e
e para a barriga. cheia de harmonia, o enche de bem-estar.
Agora, toque com os dedos a orelha direita, siga deli- Alongar a nuca não é nada fácil, porque ela é revestida
cadamente o contorno do pavilhão auditivo (antes você de músculos curtos, apertados, fibrosos, que estão s m-
deve ter tirado os brincos, é claro) e aperte de leve, en- pre se contraindo. São encurtados por natureza e p Ia
tre os dedos, o lóbulo da orelha. Depois, descanse os bra- acontecimentos da vida. À mínima emoção, a nuca se
ços ao longo do corpo, as mãos soltas e estendidas com retrai e se esconde entre os ombros.
as palmas para cima; procurando manter a cabeça no Sente- e num banquinho, os pés paralelos, um pouco
centro, role-a para a direita - sem erguê-Ia - como para afastados e bem apoiados no chão. Toque com o dedo
pousar a orelha no chão; volte o rosto para a frente e sua fontanela posterior. É uma ligeira depressão no alto
recomece. Preste atençã no ritm da re piração, agora, da caixa craniana, no lugar onde os ossos se juntam. É
com os maxilares relaxados a máximo, procure rolar a uma lembrança de seu nascimento: se você nasceu na-
cabeça para a dir ira p usar a orelha, no momento em turalmente, foi a fontanela que viu a luz em primeiro

l'iO 151
QUANDO O COlU'O CONSENTE MOVIMENTOS

lugar. Não confunda com a fontan Ia ant rior, que fica /1. De pe to e de longe ou qu o
em cima da cabeça. os olhos j de n ...
Acaricie a nuca de leve, com a mão desc ndo, i to -,
da cabeça para os ombro . Com a mão esquerda, acari- Deite-se de costas, pernas flexionadas, pés encosta-
cie o ombro direito, acompanhe seu arredondado com a dos e bem apoiados no chão. Afaste um pouco as coxas
palma da mão. Com a mão direita, acaricie o ombro es- e coloque a mão direita entre as pernas, sobre o púbis e
querdo. Sem roupa para atrapalhar, é melhor. Depois, o sexo; coloque a mão esquerda obre a direita. Abra a
estenda sobre as pernas suas mãos soltas, com a palmas boca; cada vez que soltar o ar, aperte uma coxa na outra
voltadas para cima. com os músculo "adutores", que ficam na face interna
I: Agora, concentre a atenção na fontanela posterior; fe- das coxas; basta fazer isso quatro ou cinco vezes. Se o
che os olhos; imagine que ela tem um olho, incline um tamanho da barriga lificultar ssa 010 ação da mão en-
pouco a cabeça para que ela possa "ver" o que se pas a tre as pernas, não insi ta, deix os I raços s [tos ao longo
diante de você. Tente abaixar só a nuca, não as costas. 10 orpo e pro .ur 'lJ errar as coxas lima na outra, r '1,1-
Erga a cabeça e repita várias vezes. xando a pr ssão quand vo A inspira.
Sempre de olhos fechados, tente manter a fontanela Depois, deixe as pernas ap nas juntas, s '111 a p .rtar.
para cima e avance um pouco os lábios como e Os braco estendidos ao longo do corpo, d prefcrê n-
fosse dar um beijo. Várias vezes. Procure n- ia om a palmas voltadas para o alto. Procure encos-
til' o volume, a parte carnuda e a suavidade le t.ar b m no chão..' a costas resistirem, retome o movi-
seus lábios. Depois, devagar, deixe passar um m nto n? 4, no qual e coloca uma bola mole sob o sacro
som por entre os lábios estendidos: "Mmma, durante alguns minutos. Depois, retire a bola e deixe as
mmma, l11lTIJua ..." Procure perceber a ressonân- co ta bem pousadas no chão. unca faça o movimen-
cia desse som no seu corpo, nos lábios, no to seguinte sem antes retirar a bola.
nariz, na nuca, no peito. Deixe a boca entreaberta, a língua bem alargada dentro
Continue assim por um ou dois minu- da boca e os lábios sem se mexer. Depois, com os olhos
tos, se não lhe custar esforço, tentando bem abertos, comece a olhar no teto um ponto real ou
perceber as vibrações de sua voz cada . inventado. Fixe-o durante alguns segundos, respirando na-
vez mais para baixo, dos lábios ao perí- turalmente, sem bloquear o ar. Depois, traga bruscamente
neo, mudando às vezes de tom, o olhar para a barriga, em erguer a cabeça. Em seguida,
mas com um som sempre sutil. erga os olhos para o teto, sempre em busca do mesmo
Que seja apenas uma vibração ponto, e olhe d novo para o umbigo. Continue esse vai-
interna, íntima. vém várias vezes. Se sentir que dá para continuar, repita o
Depois, descans um momento movimento por dois ou três minutos. Procure fazer com
deitada de costas. " que a boca continue passiva e a respiração livre.
Em seguida, feche os olhos e, sob as pálpebras abai-
xadas, movimente os olhos rapidamente em todos os
152 153
)
QUANDO O COHPO CONSENTE MOVIMENTOS
)
) sentidos, como você faz quando está dorrnin 10 'sonha. procure olhar o peito e a barriga, sem erguer a cabeça.
) Durante um minuto, se possível. Várias vezes.
Depois, estenda devagar a p mas ' cI 's ans . Depois, concentre sua atenção nas pernas que estão
)
estendidas, que não devem erguer-se, e bem devagar ten-
) te aproximar os tornoz los. ão é tão fácil as im ... Con-
) 12. Ouando aface interna das coxa ... vém logo esclar er qu , para ex cutar bem ess movi-
.J mento, todos os músculos posteriores do corpo precisa-
Deite-se de costas, perna f1exionadas, pés bem apoia- riam estar flexíveis e soltos, da nuca aos calcanhares. Por
)
dos; p gue a bola grande e macia, coloque-a sob o sa- isso, se você não conseguir encostar de todo os tornoze-
..J los as bordas internas dos pés, não desanime. O pouco
cro, como no movimento nº 4. Espere que a região lom-
bar, as costas e a nuca se acalmem e fiquem bem encos- que você fizer já ajuda a alongar a musculatura.
Por enquanto, talvez você esteja sentindo que preci-
..J tadas no chão; depois, retire a bola e descanse .
sa fazer muita força entre as coxas, perto do s xo; o que
) Em seguida, sem erguê-Ias do chão, estique as pernas
pode lhe parecer quase impossível. Talvez você tenha a
com cuidado, escorregue os calcanhares para não abau-
impressão de que os joelhos são "muito grandes", mas
lar as costas. Se mesmo assim as costas se arquearem,
) não se trata disso: são os músculos das pernas que estão
não se preocupe. Fique com as pernas estendidas e faça
encurtados e repuxam as articulações dos joelhos. De
alguns "sim" com a cabeça, tentando olhar para o peito
modo algum lhe parece que você esteja alongando algo
e a barriga. Enfie os dedos indicador e médio da mão
em sua musculatura. Saiba, pois, que seus músculos "adu-
direita na boca e pressione a base do maxilar inferior, sem tores", entre as coxas, estão contraídos na maioria das
contrair o ombro nem o braço. Faça isso com delicade- pessoas, homens e mulheres, por razões anatômicas e
za, coloque os dedos no osso da mandíbula, na altura fisiológicas específicas, bem como por razões ligadas à
da raiz dos dentes, e não em cima dos dentes. Mantenha história pessoal. Ao tentar aproximar os tornozelos sem
assim o maxilar aberto, ligeiramente puxado para o pes- erguer os joelhos, sem deixá-los "envesgar" para dentro,
coço. Sem forçar a abertura, é claro. Alargue a língua. sem torcer os pés, sem dobrar a nuca para trás, sem er-
Continue a in pirar pelo nariz, mas solte o ar devagar guer as costas nem compensar de qualquer outra manei-
pela boca; procur p rceb r a t mperatura de seu sopro ra, você está pedindo a eus músculos "adutor s" qu
que pas a sobre a língua a ada r spiração. Continue as- façam aquilo para que foram feitos: aproximar as coxas;
sim por um ou dois minutos, depois st nda o braço ao mas eles estão tão acostumados a permanec r contraí-
longo do corpo. Preste at nção em sua 110 a, t nte p r- dos que se tornam impotentes. As fibras contraídas não
ceber se os maxilares estão mais soltos, !TI in S rrados, têm mais capacidade para desempenhar sua função na-
e a respiração mais s rena. tural. Entretanto, na hora do nascimento elo b bê, você
Depois desse movimento q I ' (, h '111 curto, ri .xione vai precisar da absoluta flexibilidade desses músculos.
as pernas, vire-se d lad para (I 'SCIIlS;lr um I oucx . [) 'i- Sentar-se em posição de Buda, afastar as coxas à for-
te-se de novo de costas, I .rnas l'st{'nditl:ls. Out 1';1 vez, ça, a fim de alongar os músculos adutores, como já vi
l'ilÍ 155
'.

QUANDO O COlU'O CONSENTE MOVIMENTOS

fazerem com gestantes. é um logro e pod r p rigoso do com bastante calma; imagine que você respira pela
para a região lombar. As leis da fisiologia muscular não planta elo pé tanto quanto pelos pulmões ...
aceitam isso. e forçar os músculos só pode provocar um Depois. fique de pé; feche os olho; com par os apoios
reflexo inconsciente que leva a contrair a região lombar. do pé direito com os do esquerdo; procure sentir em
o que não é desejado. qual dos pés você se sente mais segura.
O melhor modo de alongar a face interna das coxas Sente-se e faça a mesma coisa com o pé esquerdo ...
e a parte inferior das costas é tentar aproximar seus tor-
nozelos com suavidade e firmeza durante alguns segun-
dos. esforço esse que deve ser feito no momento de sol- 14. Dos pés à beç ou qu ndo s cost
tar o ar. de boca aberta e língua alargada ... se on pelos t n los ...
Refaça esse movimento diariamente por alguns s -
gundos, depois de bem deitada no chão. como está ex- Dite-se de costa, • p ma estendidas. En ost ao má-
plicado nos movimentos anteriores. Você se surpreende- ximo no chão a nu a. as ostas e os jo 'lhos. Não aper-
rá com a rapidez e a qualidade dos resultados obtidos. t s maxilares. Tente aproximar d vagar s tornozelos;
vo ê já conhece esse movimento. Depois. flcxione a I er-
na esquerda. para que o pé esquerdo encoste no chão.
13. ndo pl nt dos pés espi ... b m ao lado do joelho direito; concentre toda a atenção
na perna direita que continua estendida. Erga o pé direi-
Este movimento é um entre muitos que você pode fa- to para que todos os dedos do pé olhem para o teto.
zer para aliviar os pés. descansá-los e alongar a muscula- mas deixe a perna bem pousada e no eixo; procure em-
tura. Prepare as bolinhas de cortiça; sente-se numa cadei- purrar o calcanhar para longe de você. sem erguer o joe-
ra. pés descalços um pouco afastados e bem paralelos; lho. a cintura ou a nuca. Esse pequeno movimento. que
alongue a nuca e leve bem ao alto sua fontanela poste- vem do tornozelo e repuxa a face posterior da perna e
rior. Deixe as mãos pousadas nas coxas. com as palmas da coxa. pode ser difícil. Porque. se a face posterior da
viradas para cima. Concentre a atenção no pé direito; coxa está se alongando. você sente a contração na face
apoiando bem todo o dedos no chão. procure afastar anterior da coxa. É normal: quando um grupo de mús-
o dedinho mínimo para fora. ão precisa olhar para ele. culos se alonga. os antagonistas se contra m. Você pre-
tente percebê-lo por um rn - io diferente do olhar. Repita cisa mesmo é alongar a face posterior da coxa e. para
várias vezes. mant n 10 o I ' no seu eixo • isto é • sem isso. necessita da força dos músculos ant riorcs da coxa.
desviar para o lado. .oloquc Lima ela. bolinhas sob o os "quadríceps", porque eles fraquejarn. Ademais. você
pé. no meio. no lugar on I ' fi '~Iritl'l .intura, s o pé ti- não consegue ver seu pé se mexendo. o que é excelen-
vesse cintura. Abra a I () ',I 'n p(,i ' d ' I .vc o P " na boli- te para desenvolver percepções outras que a visão. Evite
nha no. momento m qu ' vo('~' v:li soltar o ar; relaxe a retorcer os dedos do pé. procure deixá-los alongados.
pressão ao inspirar. Pro .urc m.mu-r (l,' <!('<!o,' 'stvl1di los Agora. aponte de novo os dedos do pé para o teto e.
mas sem contraí-los. Fa a isso uu mx (Io/,v 'Zl'S, nspir.m sem erguer o joelho nem torcer a perna. tente abaixar o
157
QUANDO O COlU'O CONSENTE MOVIMENTOS

pé direito para o chão; imagine qu vo ~ vai pousar o Continue durante um ou dois minutos se pud r, depois
dedão em primeiro lugar; não se pode n .ostar os de- deixe cair os pés à vontad e descanse. Observ o ritmo
dos no chão se as pernas ficam estendida ,ma continu da respiração, os pontos de apoio do corpo no hão.
nessa direção, tentando deixar estendidos todos os dedos Para sentar-se, não se esqueça de virar b m d vagar
do pé. Em seguida, suba o pé em ângulo reto, e recome- para o lado, com ternura e respeito por você mesma. De-
ce. Repita isso umas dez vezes. pois, dê alguns pa sos pela sala e perceba como se apóiam
() Depois descanse, estenda devagar a perna esquerda seus pés, e como as coxas, os quadris, as costas e a nuca
e compare ... se colocam e se movimentam ao andar.
Agora, com as duas pernas estendidas, tente enco tar O pai também pode, com todo o corpo, viver a seu
..J os tornozelos. Não se espante se houver uma liferença modo a gestação do bebê. O menino que ele foi, como
) entre os tornozelos, porque a perna direita aumentou e a menina que você foi, sofreu por não poder abrir livre-
os tornozelos não se encontram ... Não se preocupe, a mente os olhos, a boca e os ouvidos para o seu ambien-
perna esquerda vai logo imitar a direita. te. Juntos, vocês podem preparar-se para ver com mais
)
Deixe os tornozelos juntos, ou o mais próximo possí- liberdade, para escutar, tocar ... Para conceber.
vel um do outro, mantenha as pernas estendidas, e erga
) os dois pés encostados, com os dedos apontados para o
teto. Empurre os calcanhares para longe de você, sem- Cost de ulhe cont cost de h e udo con ...
pre sem erguer os joelhos, nem a cintura, nem os om-
bros, nem a nuca. Imagine que você vai esticar os mús- Este movimento se faz a dois: seu companheiro e você.
culos da cabeça aos calcanhares, da fontanela posterior Ou, se preferirem, a três: você, o bebê e o pai do bebê.
aos calcanhares. Depois - sempre com os tornozelos jun- É um movimento de contato dos corpos reunidos, que
tos - abaixe lentamente os dois pés, com os dedos alon- funde suas sensibilidades, forças e calor.
gados o máximo possível. Recomece lentamente esses Para que a respiração do pai se torne mais viva e
dois movimentos: uma vez empurre os calcanhares, ou- mais solta, também ele pode fazer os movimentos com
tra vez estenda os dedos, e sempre mantendo os torno- a boca e com os olhos, explicados anteriormente.
zelos encostados. Sente-se no chão, com os joelhos flexionados, as co-
Abra a boca e tente dar a esses movimentos um ritmo xas um pouco afastadas e os pés bem pousados no solo.
que se harmonize bem com sua respiração. Tente des- Seu companheiro também se senta com os joelhos fle-
cobrir se, ao empurrar os calcanhares, você prefere sol- xionados, pés apoiados no chão, de costas para você.
tar o ar ou inspirar. Faça várias tentativas diferentes. Ele aproxima as costas das suas e, bem devagar, vai se
Tente perceber as regíõe do corpo que se mexem e encostando. O máximo possível. Um momento delicado
se alongam de acordo com o m virnento dos tornozelos; em que, curiosamente, um pode achar que o outro vai
tente perceber a continuida I' I S1.1'l mus ulatura. Pode pesar nele, invadir seu território. Momento precioso quan-
sentir esse movim nto na parte I ost .rior dos j elhos? do, afinal, ambos começam a perceber que as costas se
das coxas? da cintura? .ntrc ;IS 0111°1 lal;ls? .. entendem e se ajudam. Deixem que o contato seja com-
I "i H 159
QUANDO O CORPO CONSENTE

pleto: cintura, região lombar, entre os ombros e, se pos-


sível, os ombros, a cabeça, o sacro.
Coloque de leve as mãos embaixo da barriga, perto REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do púbis, como se fosse segurar o bebê nas mãos.
Seu companheiro também coloca a palma das mãos
embaixo da barriga dele. Abram a boca. Fiquem atentos
ao ritmo da própria respiração e ao ritmo da respiração
do outro. Vocês constatarão que suas costas respiram e
se transmitem mutuamente uma rara sensação de segu-
rança calorosa, e de vida. Bensabat, Soly. e st , c est Paris: Fixot, 1989.
Chapsal, Madeleine. Ce que is çoise Dolto.
Paris: Fayard, 1994.
Co de peito de co ...
Dolto, Françoise. est l g ge. Paris: Gallimard, 1995.
)
Seu companheiro senta-se com joelhos flexionados e Israel, Lucien. Ce u oit, Ce uche. Paris: Plon,
afastados. Sente-se nesse espaço, com as costas perto do 1995.
peito dele. Procure, com as costas, os ombros e o sacro, Morin, Françoise-Edmonde. etit nuel de gué
entrar no máximo contato possível com o peito e a barri-
l ge desfemmes enceintes. Paris: Seuil, 1985.
ga dele. Abram ambos a boca e, costas contra o peito,
procurem com calma acertar o ritmo de suas respirações. Reich, Wilhelm. lise do c t São Paulo: Martins
Você pode oscilar ligeiramente da frente para trás. Um Fontes, 1989.
ligeiro, ligeiríssimo balanço. Quase imperceptível. ____ o do . São Paulo: Brasiliense,
Depois, coloque as palmas das mãos embaixo da bar- 1995.
riga, como para segurar o bebê. Bem de leve, sem fazer
peso com as mãos. Seu companheiro estende os braços Tomatis, Alfred. ois dis. Histo es de uie
e também coloca as mãos sobre as suas. én t le. Paris: Ergo Press, 1989.
Sem forçar, procure diminuir o arqueamento da cin- Coletivo. oles de sages-femmes. es dossie s de s- r)
tura para que sua região lombar fique bem em contato s nce. Paris: Stock-Laurence Pernoud, 1992. (

com a barriga dele. (


Esse movimento é benéfico porque ajuda você a alon-
I
gar os músculos das costas. Também é maravilhoso para -'
que entre vocês três circule o calor, a ternura e o sopro ,
./

da vida. )

)
160 161 (

J 'í
)
Endereços no Brasil das terapeutas de antiginástica for-
madas por Thérese Bertherat.
- Andréa Cardoso
Rua Laerte Assunção, 467
Jardim Paulistano
01444-040 São Paulo SP
Tel.: (011) 985-5425
853-2340

- Réjane Benaduce
Rua Visconde de Pirajá, 303-406
22410-001 Rio de Janeiro RJ
Tel.: (021) 247-6728

)
)

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to 0 eé4- e .ê.
ocê esti e, 1 isso,
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e t..1 c4- iio c4-, oU 4- o
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- - e eci4-t - u - 4-
~tissiio e 4- c~nti4-n 4- ,te si se
4- e COIúe t.. iincl4- ue
t e 4-1ú Ulú c40 td -, -s
4-05 ês encont 4-lú, 4- seu l , os
~estos e 4-051 4-t4 -s s.
esc Í. 4- 4-05 ~tenci4- 4- ue I)
es stes« en« ocê. 4-uto 4
e t..1 tic4-1úCOIúOé túto o seu 1
COIúO e 4 4- -se, COIUO ~ci
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