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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DEPARTAMENTO DE DIREITO


JUR 1441 - Turma 2HB – G1 DIREITOS HUMANOS 2021.2
Prof. Ilie Antonio Pele
Aluna: Ana Clara Benevenuto Mattos de Andrade
Matrícula nº 1621055

‘Mulheres e Direitos Humanos’ e “Mulheres e Caça às Bruxas”

Para início das convalidações desta análise, passa-se, sobretudo, por uma visão
quanto ao título “Mulheres e Direitos Humanos”, de Elizabeth Jelin, a fim de realizar sua
composição crítica em face da mídia acessória “Mulheres e caça às bruxas feat. Silvia
Federici | Papo & Pesquisa 003” da Tese Onze, no Youtube. Suas observações são encon-
tradas a seguir, discutindo as temáticas que competem a entrevista observada.
Pois bem, no título “Mulheres e Direitos Humanos”, de início há uma grande po-
larização da questão do feminismo com a sociedade atual, repassando a dualística de que
há duas histórias paralelas a serem contadas dentro do movimento. Neste sentido, entra-
se em discussões duas vertentes que foram nas expressões “Mulheres e os Direitos Hu-
manos” ou “Direitos Humanos das Mulheres”. O texto todo trata desta dualidade e as suas
diferenças em face das dimensões socias, políticas e, até mesmo, socioeconômicas do
movimento feminista.
Inicialmente, a autora traz que, historicamente, o tema de Direitos Humanos foi
diversamente retratado nos fundamentos iluministas e modernos da Europa, especial-
mente a partir das projeções de Locke e o direito à liberdade e propriedade. Estas princi-
pais movimentações foram formadas a partir de um sistema político que cria no indivíduo
o sendo de cidadania e, automaticamente, a garantia de direitos. Neste prospecto, a autora
apresenta que se deve observar duas questões em face da formação dos direitos humanos:
(a) quais são estes direitos e (b) estes direitos são (foram/serão) iguais para todos ou de-
vem ser fomentados a partir de um relativismo cultural?
Jelin atende que, em relação a primeira problemática, apresenta exatamente a
composição de direito constitucional, dividido em três grandes dimensões que são, res-
pectivamente, baseadas em direitos civis, políticos e, finalmente, sociais (basicamente o
que se pretendeu observar pelas gerações da constituição brasileira). Em seguida, a autora
também relata que, em nível histórico, os tipos de direitos foram surgindo de acordo com
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o desenvolvimento das sociedades, criando uma espécie de boicote ao próprio desenvol-


vimento do sentido pleno do conceito de cidade, isto porque o bem-estar chegou a subs-
tituir o ideal de cidadão responsável e trouxe novas problemáticas para o Estado. O que
a autora aqui apresenta é que o perigo está em reificar o conceito de direitos humanos aos
direitos de cidadania com um conjunto de práticas concretas, pois este não está direta-
mente ligado com estes (embora sejam seus resultados), mas sim no processo de constru-
ção e formação da sociedade.
Em frente, Jelin assume que a perspectiva de assumir cidadania como um conceito
flutuante está baseada na ideia de “direito a ter direitos”. Sobre este fundamento, então, a
autora assume que uma perspectiva referencial (de direito a ter direito) “das noções de
direitos e de cidadania apresenta consequências importantes para a pratica da luta contra
a discriminação e a opressão. O conteúdo das reivindicações, as prioridades políticas e os
âmbitos de luta podem variar desde que se reafirme o direito de ter direitos e o direito ao
debate público do conteúdo de normas e leis”. Ou seja, em suma, é exatamente a garantia
de ter direitos que resume o direito de exigir um determinado direito, considerando a
evolução dos direitos humanos e as suas várias gerações ao longo das épocas.
Aqui vê-se uma ligação direta com o movimento feminista que é avaliado sobre a
perspectiva da entrevista observada. Federici afirma que “Penso que, antes de tudo o pri-
meiro impulso do neoliberalismo é individualizar as relações humanas e quebrar a relação
comunitária que as pessoas construíram”. Aqui se pode entrar exatamente dentro da pri-
meira visão de Jelin ao passo que a autora assume que a segurança de direitos humanos
está atrelada aos movimentos sociais e aos seus desenvolvimentos com o tempo. Assim,
com uma privatização das relações pelo neoliberalismo, é comum que se perca potenciais
evolutivos em face dos direitos humanos, especialmente quando se fala nas mulheres,
haja vista que o histórico milenar procurar reduzir seus direitos. A mesma perspectiva é
vista na fala seguinte, quando se afirma que:
“Por exemplo, o trabalho reprodutivo. Por muito, muito tempo foi realizado cole-
tivamente antes da ascensão do capitalismo e tem tido um isolamento progressivo do
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trabalho reprodutivo, principalmente nos últimos 30, 40 anos. Imagine muitas, muitas
comunidades da classe trabalhadora foram desmanteladas. Claro, aconteceu de maneiras
diferentes em cada país, mas de modo geral, comunidades foram destruídas. Pessoas fo-
ram retiradas de suas terras ancestrais e fábricas foram fechadas, então muito das redes,
das redes de apoio que as mulheres construíram, tão importantes para o trabalho reprodu-
tivo e de cuidado foram desmanteladas. Há, agora, uma tentativa de reconstruí-las sabe,
em muitas periferias urbanas assim como nas áreas rurais de países subdesenvolvidos. As
pessoas estão as reconstruindo agora. Mas este desmantelamento tem sido um dos produ-
tos das novas mudanças liberais que basicamente criam uma isolação e separação que
acentuam a dificuldade que vem da falta de recursos causada pela precarização da vida e
da existência”.
Esta perspectiva, novamente, remonta o entendimento de Jelin sobre a necessidade
dos movimentos e do agrupamento para condicionamento dos direitos humanos, que são
formados a partir do “direito de ter direitos” que, quando é sobreposto pela individualista,
perde força dentro das relações do Estado.
Em frente, Jelin, em seu título, afirma que “um outro tema geral vinculado a noção
de igualdade se encontra se conflito entre a universalidade dos direitos e o pluralismo
cultural de gênero ou de classe, que gera diversidade. Neste caso, como conciliar este
relativismo cultural com a defesa dos direitos humanos universais? Como se pode colocar
em discussão o que se vê na ciência com princípios históricos de formação da sociedade
como, por exemplo, a utilização de roupas específicas para mulheres no oriente médio e
o desconforto que é apresentado pela ciência ao usá-la? O que entra em pauta? A ciência,
a religião, ou os princípios de uma sociedade? O que deve ser mais discutido? A autora
traz que a Declaração Universal de Direitos Humanos foi criticada pela sua posição uni-
versal, onde não se observava o pluralismo cultura de uma sociedade, fator este que foi
utilizado para desenvolver diversos crimes contra os direitos humanos ao longo do tempo,
especialmente sobre mulheres e outras classes menos privilegiadas.
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Aqui se abre uma questão pela autora: igualdade universal ou direito a diferenças?
Os direitos humanos entram, até mesmo, em contrariedade, se assim avaliar. Este funda-
mento também é visto na entrevista observada quando se fala em uma diferenciação entre
a cidadania feminina e masculina para realização das mesmas tarefas. Há, de certa forma,
uma romantização da figura feminina, que reduz seu papel social, como se pode observar
logo a seguir:
“– É uma cegueira, é uma cegueira que talvez tenha sido gerada pelo interesse.
Porque eles não querem admitir que as mulheres de sua própria comunidade, de suas
próprias famílias e assim por diante, estão sendo de fato exploradas e que eles deveriam
fazer algo a respeito.
– E que elas deveriam ter uma voz sobre isso.
– Sim, elas deveriam ter uma voz, elas deveriam organizar, educar outros homens
e deveriam fazer disso um problema deles em suas próprias políticas e não apenas dizer
que eles têm solidariedade. Que eles são anti-patriarcais, isto é bem legal, mas... É um
discurso muito vazio”.
O que se entende aqui é que a mulher deveria apresentar um papel de voz dentro
das sociedades que, inclusive, seguem os direitos humanos propriamente ditos e não se
visam pela política de “pluralismo cultural”, vedando atos que diminuem os direitos de
liberdade, cultura e propriedade da mulher. No transcrito, percebe-se que, mesmo embora
uma sociedade esteja alinhada com a declaração, é possível que não se reconheça ou se
observe – pela sociedade – nesta direitos básicos como a vida, trabalho digno e sem con-
dições de exploração, dentre outros, como visto.
O texto de Jelin entra também na lógica das diferenças entre os direitos e os deve-
res, que são amplamente discutidos quando se fala em cidade – as gerações de direito – e
o surgimento das comunidades modernas. Nesta vertente, Elizabeth assume que “o direito
não consegue resolver o significado da igualdade para aqueles definidos como diferentes
pela sociedade”; logo, é necessário que haja, ao mesmo em teoria de direito, um alinha-
mento entre os direitos dos diferentes, como, por exemplo, entre homens e mulheres,
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casais héteros e homoafetivos, e demais classes. É nesta perspectiva que a autora apre-
senta que, dentro de três perspectivas de encarar as diferenças, a classe distinção entre
mulher e homem se deve as chamadas diferenças sociais ao passo que:
“A demanda social oriunda das diferentes(inferiores) no caso as mulheres apre-
senta uma primeira modalidade de expressão na reivindicação por igualdade manifestada
ao longo das últimas décadas através das demandas por acesso a lugares e posições antes
vedados as mulheres (desde clubes exclusivos até ocupações tradicionalmente masculi-
nas) de denúncias de discriminação (dificuldades de acesso a posições hierárquicas no
mundo do trabalho e da política, por exemplo) e de desigualdade (para o mesmo trabalho
o mesmo salário)”.
Jelin afirma, assim, que falta ainda um longo caminho a ser percorrido em prol da
igualdade perante a lei, pois as leis, embora ainda definidas dentro de um pé de igualdade,
são amplamente observadas a partir da perspectiva do homem, colocando a mulher como
um objeto de resultado dos direitos, para o qual o residual destes existe e não para o qual
é formado (que seria a figura masculina, as suas relações e, até mesmo, o modo de escrita).
Como saída para o problema sociocultural que é formado pelas questões sociais
do direito, a autora afirma que, a partir de uma perspectiva teórica e de considerações
estratégicas, dever-se-ia combinar a crítica às suposições do discurso pelos direitos com
uma permanente contextualização dos direitos nos sistemas de relações sociais especial-
mente de gênero, isto é, perceber, impreterivelmente, como estão sendo aplicados os di-
reitos dentro da sociedade (e aqui se entra na quantidade de mulheres no mercado de
trabalho, nas relações de assédio, no sistema político, e em vários outros pequenos fun-
damentos de direito constitucional que, muitas das vezes – na perspectiva brasileira –
passam despercebidos).
Federici assume que:
“– Eu acho que tem a ver com a forma com que as mulheres tendem a ser excluídas
dos espaços organizadores também.
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– Sim, e também pelo fato de que ao não classificar isto (trabalho reprodutivo)
como trabalho, uma grande quantidade de riqueza está sendo economizada. As empresas
estão acumulando milhões ao não reconhecer e não remunerar esses trabalhos porque elas
são as verdadeiras beneficiárias. Eles não poderiam administrar nenhum local de trabalho,
não poderia existir nenhum local de trabalho funcionando se tal trabalho não fosse feito”.
Analisando os dois pensamentos, ao passo que Jelin afirma que parte do grande
caminho a ser observado pela igualdade de lei é atrelado às divergências sociais, durante
a entrevista se assume o neoliberalismo como uma política de não reconhecimento, prin-
cipalmente, das atividades femininas no trabalho. Aqui não se liga tão somente ao fato de
que as mulheres têm menos direitos, mas pela questão econômica, que busca romantizar
as atividades “do lar” e colocar o papel da mulher sem remuneração, implicando, assim,
no entendimento de que, de fato, as relações sociais tendem a reduzir o papel cidadão que
é encontrado para a mulher na sociedade.
Seguindo, na mesma perspectiva do ambiente doméstico, Jelin entra nas relações
do público e privado estabelecendo um vínculo sobre os direitos (e/ou a perda destes) da
mulher quando se fala no famoso: “briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, ou
seja, no ambiente dentro de casa. Aqui a autora traz que as formas de dominação dos
homens sobre as mulheres são efetivadas social e economicamente antes da operaciona-
lidade da lei sem atitudes estatais explicitas com frequência em contextos distintos defi-
nida como vida cotidiana. Isto é: impõe-se às mulheres poucas condições de autonomia.
A autora salienta que o discurso tradicional dos direitos apresenta importantes li-
mitações ao basear se na distinção entre público e o privado classificando as mulheres em
um status frequentemente injusto e prejudicial, ou seja, onde o homem, como provedor –
e aqui se fala de muitas sociedades – é proprietário da mulher, de suas ações e vestimentas
bem como de seus atos. Não apenas este é um fator vinculativo social, mas fundamental-
mente religioso em boa parte das nações. Aqui inclusive se colocam todas as relações do
homem com a mulher (filha, amigas, trabalhos escravos e afins).
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Como bem afirmou-se na entrevista consultada, “a forma com que a situação das
mulheres tem sido estruturada sempre as forçou a colocarem seus corpos a venda, a ven-
derem seus corpos como trabalho intermediário ou a estarem em posições inferiores sem
ao menos perceberam que assim estão fazendo”. O que se percebe é que o ambiente pú-
blico protege ao passo que não protege a mulher publicamente no privado, pensando a
partir das perspectivas das relações sociais que foram apresentadas. Aqui há uma grande
referência de poder na mão dos homens – e especialmente, quando se fala no Brasil, fala-
se em poder econômico, que impede com que as mulheres possam se desenvolver fora do
ambiente domiciliar, focando no trabalho reprodutivo, não remunerado e sem nenhum
prospecto de evolução.
Entrando dentro da questão de trabalho reprodutivo, Jelin também realiza algumas
considerações sobre a temática, que se alinham com os pensamentos de Federici na en-
trevista observada. Primeiramente, a autora salienta traz uma abordagem histórica afir-
mando que o vínculo de análise sobre o trabalho reprodutivo começou, através do movi-
mento feminista, a partir de 1950 (com a preocupação com os modelos de desenvolvi-
mento), fortalecendo-se nos anos 1990 quando os discursos da ECO92, que trouxeram as
grandes reclamações das mulheres em prol dos desenvolvimentos sustentáveis. Sobretudo
a autora afirmou que nos últimos 20 anos (o que se equivaleria aos anos 2000), grandes
observações tomaram conta do movimento feminista em prol do trabalho reprodutivo.
Todavia, como consequência, antigas políticas sociais de comportamento também foram
ganhando força com o advento de tecnológicas de abordagem sexual e também de comu-
nicação, como pode ser visto no trecho a seguir:
“A industrialização e a modernidade trouxeram mudanças substanciais na apro-
priação (do corpo feminino). As novas técnicas para evitar gravidez e combater a esteri-
lidade criaram um novo ideal de família com poucos filhos (inclusive com terminologias
tais como qualidade e não quantidade, altruísmo em vez de egoísmo), mas os meios de
comunicação de massa transformam o corpo da mulher (jovem e bonita) num objeto de
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consumo. Em todas essas mudanças apenas muito recentemente as mulheres começaram


a reivindicar poder e direito sobre o seu próprio corpo”.
Aqui duas observações são notáveis: (a) mesmo com a evolução dos fundamentos
sociais, há sempre brechas que acabam por importunar os direitos fundamentais e huma-
nos das mulheres e (b) nas últimas décadas o movimento feminista potencializou maiores
discussões dentro desta perspectiva, o que resultou em grandes conjuntos de mulheres em
busca de seus direitos. Aqui é importante lembrar que o fundamento de se garantir o “di-
reito de ter direito” é exatamente a coletividade, que se é buscada reduzir no neolibera-
lismo, mas que é melhorada quando se fala num feminismo construtivista.
O feminismo construtivista busca exatamente eximir as competências observadas
durante o vídeo apresentado, no qual se percebe a seguinte percepção: “A mulher boa e a
mulher má, a mulher boa e a mulher má. E isso sempre foi uma ameaça como: "Não faça
isso" ou como "Não vá lá". "Não vista este vestido porque podem pensar que você é uma
prostituta". Penso que o movimento das mulheres começou a quebrar isso, a lidar com
esse tipo de chantagem, mas está voltando e acho bem perturbador e temos que superar
estas divisões”.
Aqui se nota, claramente, que o movimento está tentando reconstruir e unificar a
visão feminina em face dos direitos humanos, e aqui se fala nos anos 2000s, especial-
mente sobre os direitos reprodutivos e também sexuais, que foram retirados e deixados
de lados nas pautas ocorridas deste de 1940. Todavia, como pode se perceber, ainda é de
grande peso as informações que se falam sobre as mulheres que buscam a lutam pelos
direitos humanos coletivos, o que prejudica o coletivismo associado ao feminismo, que é
a base para o desenvolvimento de cidadania e dos direitos humanos apresentadas por Jelin
no início do título lido. Aliás, é aqui que mora, de fato, “a expressão: direitos reprodu-
tivos defendida enquanto reivindicação do movimento das mulheres e que faz alusão a
uma aparente contradição entre a demanda por autonomia e a demanda por igualdade
entre os sexos”, que é fomentada pela sexualização e domesticação da mulher dentro da
figura do patriarcado observado nas sociedades que fundamentaram o ocidente e o oriente
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ao longo dos anos. Os direitos reprodutivos encontram-se diretamente conectados com o


trabalho reprodutivo, pois aumentam a autonomia da mulher no seu desenvolvimento.
Pois bem, isto posto, findando as análises, cabe adentrar nos tópicos de luta pela
igualdade em direção a eliminação de todas as formas de discriminação, pois o feminismo
está diretamente relacionado com outros movimentos sociais bem como, e também, ana-
lisar os direitos globais em face do neoliberalismo que se encontra solidificado nas rela-
ções socioeconômicas atuais. Em face disto, cabe afirmar que, nos últimos anos, segundo
Jelin, as condições de trabalho diferenciadas têm apresentado grande discussão dentro do
âmbito político social das sociedades, especialmente no ocidente e, mais especialmente,
na América Latina.
Para a autora, grandes debates acerca das diferenças salariais e das situações pre-
cárias de trabalhos bem como da legalização de outros trabalhos a mulher – como na
política, por exemplo, tem ganhado bastante destaque nas mídias, o que, diretamente, faz-
se por influências das discussões em direitos humanos, igualdade e cidadania, que assu-
mem homem e mulher no mesmo parâmetro. Todavia, ainda existem inegáveis tarefas
que são ligadas ao masculino (como exército ou cargos de gerência) e passam longe da
percepção do feminino tão quanto, por exemplo, secretariado e tarefas domésticas ainda
estão diretamente ligados com o perfil feminino. Aqui, vê-se, novamente, uma divisão
socioeconômica entre homens e mulheres, baseada no sexismo, que promove redução de
direitos – embora subjetivamente – a figura feminina. Um trecho da entrevista analisada,
focada na visão da questão de trabalho reprodutivo, cabe também dentro desta perspectiva
de Jelin, como se pode ver a seguir:
– Todo trabalho de reprodução não é considerado trabalho, é identificado como
serviço pessoal, "feito por amor ou com amor", eles chamam isso de "trabalho de mulher"
como se fosse... devidamente.... Algo separado, lá do outro lado.
– Isso, separado, algo instintivo, que é do interesse exclusivo das mulheres.
– E isso tem a ver com.... Eu acho, com a forma com que as mulheres tendem a
ser excluídas dos espaços organizadores também.
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É nesta mesma frente que se nota, por exemplo, o chamado nurturing sense que é
bastante desenvolvido no ambiente empresarial e busca não remunerar as mulheres pelos
trabalhos que estas fazem além do que se é prescrito em suas funções. Este mesmo fator,
que tem muita influência no ambiente corporativo, objetiva reduzir a figura feminina as
atividades de assessoria, o que acaba por fortalecimento uma clara diferença entre os di-
reitos da mulher.
Cabe aqui estender ainda que Elizabeth Jelin fomenta que “existem tarefas que
são socialmente definidas como femininas e masculinas; o que gera uma segregação ocu-
pacional que tende a uma desvalorização (monetária, de prestigio, de condições de esta-
bilidade trabalhista e de inserção em profissões). É a mesma visão mencionada do nurtu-
ring sense que foi explorada, subjetivamente, pelos entendimentos do título “Mulheres e
Caça às Bruxas”, que reduz ao questionamento inicial apresentado por Jelin: direitos hu-
manos e as mulheres ou direitos humanos das mulheres? Deixa-se o questionamento em
amplitude em sua produção.
Em frente, a autora também traz que o direito reprodutivo tem sido uma questão
central dentro das vertentes trabalhistas do direito, especialmente porque existe ainda uma
dualidade grande entre a moral familiar (o papel da mulher na família – e por papel se
coloca a visão religiosa de formação das sociedades modernas) e as possíveis infringên-
cias que esta pode “exercer” sobre uma empresa, simplesmente por sua condição de pro-
genitora. O que se tem como resultado é uma redução na possibilidade de ascensão em
trabalhos e, como consequência, tudo que já foi mencionado: menos autonomia financeira
e, por tal, menos possibilidade de ascensão, mais trabalhos e violência domésticos e, até
mesmo, aceite em trabalhos sem condições mínimas de subsistência. É um ciclo vicioso
que começa desde o início (e aqui se fala em geração de direitos) da constitucionalidade
até a formação dos direitos sociais e que tem, ainda, muito o que evoluir dentro do requi-
sito de igualdade e cidade – premissa básica dos direitos humanos.
Por fim, cabe mencionar ainda o ecofeminismo – que é trabalho dentro dos dois
projetos aqui avaliados. No caso de Felin, esta apresenta que a ecofeminismo está dentro
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das três principais esferas levantados ao longo do tempo dentro das principais conven-
ções, que são, respectivamente: paz, desenvolvimento e meio ambiente. É muito comum
que se pense somente dentro da perspectiva biológica quando se fala nestes três assuntos,
mas o que se deve avaliar, sobretudo, é que, de fato, o ecofeminismo busca, através destes
pilares, conectar o desenvolvimento da mulher com o desenvolvimento do meio ambiente
respeitando as suas condições biológicas, os direitos a reprodução, a cidadania e, princi-
palmente, a equidade e igualdade entre homens e mulheres. É uma busca não apenas por
um caráter igualitário, mas por condições práticas que coloque a mulher dentro dos mer-
cados onde está não está incluída como, por exemplo, grandes cargos em empresas e/ou
na política, ainda bastante defasada.

Um trecho da entrevista é importante para finalizar esta análise e emitir uma con-
clusão sobre as temáticas. Este é visto a seguir:
“– Para mim isso me faz pensar no ecofeminismo, que é algo que... quando fize-
mos aquele evento juntas, o Ponto Zero. Ecofeminismo realmente apareceu.
– Ah sim, aparece porque a reprodução inclui todo o processo e trabalho de repro-
dução e preocupação, inclui o relacionamento com a natureza e seu relacionamento com
a água, com a terra e com a floresta. Quer dizer, para todo o processo de preparar comida
você precisa saber em que tipo de solo ela foi cultivada e muitas vezes as mulheres estão,
na verdade, cultivando a comida que elas preparam para suas famílias, por isso o ecofe-
minismo é realmente parte da luta. É realmente parte. É uma expressão das lutas das mu-
lheres pela reprodução”.
Assim sendo, o Ecofeminismo vem a representar todas as contradições que cerca-
ram o papel da mulher ao longo da formação da sociedade humana, passando desde a
ausência de sua autonomia (como representado por Jelin), pelos movimentos de sexuali-
dade e trabalhista e, sem sombra de dúvida, pela sua relação com a natureza que implica
em uma condição específica para esta dentro dos papéis sociais. O que se percebe é que
se busca unir a biologia com os fundamentos do direito e da cidadania embora, como
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ainda se pode ver nos inúmeros casos de feminicídio pelo Brasil, a luta está muito longe
de acabar e só começou.
Pois bem, como conclusão final, percebeu-se que ambos os títulos trazem uma
visão holística do que se trata o ecofeminismo, mas, principalmente, do trabalho de re-
produção, que ainda é bastante atrelado às raízes formativo-religiosas das sociedades do
ocidente, especialmente na América Latina. O que se percebeu também é que o movi-
mento feminista vem, desde a década de 40, ganhando força para reproduzir necessidades
em direitos adquiridos, mas muito ainda se faz necessário fazer. Recomenda-se a leitura
do artigo e o título acessório.

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