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Livro de Salmos

Salmos ou Tehilim( do hebraico ‫תהילים‬, Louvores) é um livro do Tanakh (fazendo parte dos
escritos ou Ketuvim) e da Bíblia Cristã, vem depois do Livro de Jó e antes do Livro dos Provérbios.
[1][2]
Constitui-se de 150 (ou 151 segundo a Igreja Ortodoxa) cânticos e poemas que são o coração do
Antigo Testamento, é a grande síntese que reúne todos os temas e estilos dessa parte da Bíblia[3],
utilizados pelo antigo Israel como hinário no Templo de Jerusalém, e hoje são utilizados como
orações ou louvores, no Judaísmo, no Cristianismo e também no Islamismo (o Corão refere os
salmos como "um bálsamo"). Tal fato, comum aos três monoteísmos semitas, não tem paralelo,
dado que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam nos Salmos que foram escritos em hebraico,
depois traduzidos para o grego e latim.

Origens
A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao rei Davi, o qual teria escrito pelo menos 73 poemas.
Asafe é considerado o autor de 12 salmos. Os filhos de Corá escreveram uns nove e o rei Salomão
ao menos dois. Hemã, com os filhos de Corá, bem como Etã e Moisés, escreveram no mínimo um
cada. Todavia, 51 salmos seriam tidos de autoria anônima.

O período em que os salmos foram compostos varia muito, representando um lapso temporal de
aproximadamente um milênio, desde a data aproximada de 1440 a.C., quando houve o êxodo dos
Israelitas do Egito até o cativeiro babilônico, sendo que muitas vezes esses poemas permitem traçar
um paralelo com os acontecimentos históricos, principalmente com a vida de Davi, quando, por
exemplo, havia fugido da perseguição promovida pelo rei Saul ou quanto ao arrependimento pelo
seu pecado com Bate-Seba.

Poemas de louvor, os salmos foram inicialmente transmitidos através da tradição oral e a fixação
por escrito teve lugar, sobretudo através do movimento de recolha das tradições israelitas, iniciado
no exílio babilônico pelo profeta Ezequiel (séculos VII-VI a.C.). Como tal, muitos destes textos são
muito anteriores, sendo bastante difícil a sua crítica do ponto de vista literário estritos. Ainda assim,
tendo em conta a comparação com a literatura poética coeva do Egito, da Assíria e da Babilônia,
pode-se afirmar que estes poemas de Israel são um dos expoentes da poesia universal.

Os salmos, em termos de conteúdo, possuem estrutura coerente, o que também pode ser observado
em passagens do Antigo Testamento e em obras literárias do Oriente Médio da Antiguidade.[4] Tal
como em outras tradições culturais, também a poesia hebraica andava estreitamente associada à
música. Assim, embora não seja de se excluir para os salmos a possível recitação em forma de
leitura, "todavia, dado o seu gênero literário, com razão são designados em hebraico pelo termo
Tehillim, isto é, «cânticos de louvor», e, em grego psalmói, ou seja, «cânticos acompanhados ao
som do saltério», ou ainda: oração cantada e acompanhada com instrumentos musicais[3].

De fato, todos os salmos possuem um certo caráter musical, que determina o modo como devem ser
executados. E assim, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou até individualmente ou em
silêncio, a sua recitação terá de conservar este caráter musical[5]
Os salmos acabaram por constituir um hinário litúrgico para uso no templo de Jerusalém, do qual
transitaram quer para a sinagoga judaica, quer para as liturgias cristãs.

Os salmos são também poesia, que é a forma mais apropriada para expressar os sentimentos diante
da realidade da vida permeada pelo mistério de Deus, o aliado que se compromete com o homem
para com ele construir a história. É Deus participando da luta pela vida e liberdade. Dessa forma, os
salmos convidam para que também nós nos voltemos com atenção para a vida e a história. Nelas
descobrimos o Deus sempre presente e disposto a se aliar, para caminhar na luta pela construção do
mundo novo[3].

Os salmos supõem o contexto maior de uma fé que nasce da história e constrói história. Seu ponto
de partida é o Deus libertador que ouve o clamor do povo e se torna presente, dando eficácia à sua
luta pela liberdade e vida (Ex 3,7-8). Por isso, os salmos são as orações que manifestam a fé que os
pobres e oprimidos têm no Deus aliado. Como esse Deus não aprova a situação dos desfavorecidos,
o povo tem a ousadia de reivindicar seus direitos, denunciar a injustiça, resistir aos poderosos e até
mesmo questionar o próprio Deus. São orações que nos conscientizam e engajam na luta dentro dos
conflitos, sem dar espaço para o pieguismo, o individualismo ou a alienação[3].

O livro dos Salmos é um dos mais citados pelos escritores do Novo Testamento. O próprio Jesus
orava os salmos, e sua vida e ação trouxeram significado pleno para o sentido que essas orações já
possuíam. Depois dele, os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, comprometido com
Jesus Cristo para a transformação do mundo, em vista da construção do Reino[3].

Vários salmos são considerados pelos teólogos como proféticos ou messiânicos, pois referem-se à
vinda do Cristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas no Novo Testamento
com o propósito de provar o cumprimento das profecias na pessoa de Jesus.[6]

O Salmo 150 constituiria uma doxologia, ou arremate de louvor do livro. [7]

Variações entre as traduções


O livro dos Salmos chegou até nós em sua versão grega (Septuaginta) e hebraica. A versão grega
deste livro, como de toda a bíblia, foi utilizada pelos cristãos convertidos e por São Jerônimo na
confecção de sua edição "Vulgata", tradução latina dos livros inspirados. Na Reforma Protestante é
que se buscaram os manuscritos originais hebraicos para fazer novas traduções e foi constatada a
diferença que havia entre as duas traduções: as versões, apesar de terem o texto completo, diferem
na numeração de capítulos e versículos.

Versículos

A versão grega costuma apresentar, na maioria dos salmos, um versículo de introdução, em que são
atribuídas autorias e apontados instrumentos que deveriam ser utilizados ao se cantar os textos. Este
versículo faz com que a versão hebraica tenha, nesses casos, um versículo a menos, uma vez que
essas informações não são consideradas inspiradas por essa versão.

Capítulos
Em suma, pode-se dizer que entre os Salmos 10 e 148, a numeração da Bíblia Hebraica está uma
unidade à frente da numeração seguida na Septuaginta e na Vulgata, que juntam: os Salmos 9 e 10
no Salmo 9 (da Septuaginta/Vulgata), e, os Salmos 114 e 115 no Salmo 113 (da
Septuaginta/Vulgata); e dividem: o Salmo 116 nos Salmos 114 e 115 (da Septuaginta/Vulgata), e, o
o Salmo 147 nos Salmos 146 e 147 (da Septuaginta/Vulgata)[8].

Salmos Proféticos
Alguns salmos são considerados proféticos ou messiânicos pela Teologia cristã, pois apontam para
a vinda do Messias, sendo com freqüência citados no Novo Testamento da Bíblia com o objetivo de
identificar Jesus Cristo como o cumpridor da promessa.

No Salmo 2, que fala do reinado do Ungido de Deus, verificam-se algumas citações no livro de
Atos e na Epístola aos Hebreus.

Já o Salmo 8 que fala da glória divina e da dignidade do Filho do Homem é citado no Evangelho de
Mateus, bem como em algumas epístolas de Paulo.

Por sua vez, o Salmo 16 é uma referência à ressurreição de Cristo em seu verso 10, quando Davi
assim profetiza:

"Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."

Por sua vez, o Salmo 22 fala do sofrimento e da vitória do Messias que se entende cumprido na
crucificação de Jesus, principalmente devido aos versos 7 e 18 que, respectivamente, coincidem
com a zombaria experimentada durante o martírio e a repartição das vestes pelos soldados.

Todos esses salmos foram proferidos pelo rei Davi, que teria governado Israel um milênio antes do
ministério de Jesus.

Importante destacar que tais salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser
observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo é o mesmo.

[editar] Os Salmos e a história de Davi


Vários salmos relacionam-se com os acontecimentos que marcaram a vida do rei Davi.

O Salmo 59 tem a ver com a ocasião em que Saul teria enviado homens à casa de Davi para prendê-
lo. Já os Salmos 34 e 56 referem-se à sua fuga de Saul. Por sua vez, o Salmo 142 foi composto
quando Davi encontrava-se escondido na caverna de Adulão, na região do mar Morto.

Ao terminar a perseguição de Saul, Davi compõe o Salmo 18, ressaltando a fidelidade de Deus.

Quando é confrontado pelo profeta Natã sobre o seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias,
Davi compõe o Salmo 51, demonstrando o seu verdadeiro arrependimento.
Novamente ao ser perseguido, agora por seu filho Absalão, Davi ainda escreve os Salmos 3 e 7, o
que revela sua confiança no livramento de Deus.

Além destes citados acima, outros Salmos que se relacionam com passagens da vida de Davi seriam
o 52 (depois que Doengue assassinou os 85 sacerdotes e suas famílias), o 54 (quando os zifeus
tentaram traí-lo), o 57 (enquanto se escondia em uma caverna) e o 63 (enquanto escondia-se no
deserto de En-Gedi).

Importante alertar novamente que tais Salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que
deve ser observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo permanece o mesmo.

[editar] O tratamento musical dos Salmos na liturgia cristã


A história do canto do salmo na liturgia cristã corre paralela à história da liturgia, da música e das
Igrejas cristãs. Após o desenvolvimento do salmo responsorial no século IV, a função do salmista
acaba por se transformar num ministério próprio, mais tarde incluído até no clero local. No entanto,
este ministério acaba por cair em desuso com a especialização crescente dos cantores e com a
instituição das scholae, ao mesmo tempo em que a participação do povo se reduz.

Na missa, o salmo vê-se limitado a um único versículo, nas versões extraordinariamente elaboradas
do gradual gregoriano, assim chamado por ser cantado dos degraus do altar. No Ofício Divino, o
canto dos salmos recebe também o desvelo de gerações de compositores, que expressamente
compõem algumas das obras-primas da música ocidental, em particular para o solene canto de
Vésperas, como, por exemplo, Vespro della Beata Vergine Maria, de 1610, de Claudio Monteverdi,
ou as Vesperae Solennes de Confessore, KV 339, de Wolfgang Amadeus Mozart), mas onde muitas
vezes, na prática, a oração cede lugar ao concerto.

Na Igreja Católica, o motu proprio Tra le Solecitudine de 1903, do Papa Pio X, exclui da liturgia os
salmos "de concerto". Após o Concílio Vaticano II, é restaurado o salmo responsorial na missa,
através da Instrução Geral do Missal Romano de 1969.

Referências
1. ↑ Echegary, J. González et ali. A Bíblia e seu contexto (em português). 2 ed. São Paulo: Edições Ave
Maria, 2000. 1133 p. 2 vol. ISBN 978-85-276-0347-8
2. ↑ Pearlman, Myer. Através da Bíblia: Livro por Livro (em português). 23 ed. São Paulo: Editora
Vida, 2006. 439 p. ISBN 978-85-7367-134-6
3. ↑ a b c d e Salmos, Edição Pastoral da Bíblia, acessado em 08 de agosto de 2010
4. ↑ Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulinas, 1983, p.829.
5. ↑ Liturgia das Horas - Ofício Divino (em português). liturgiadashoras.org. Página visitada em 4 de
julho de 2009.
6. ↑ Salmos Bíblicos (em português). www.salmosbiblicos.com.br. Página visitada em 4 de julho de
2009.
7. ↑ Salmos (em português). www.salmododia.com.br. Página visitada em 6 de abril de 2010.
8. ↑ Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed.
Paulus, São Paulo, p 858
9. ↑ Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1983, p.827
Tesouros da Bíblia - O Livro de Salmos
De acordo com Paul R. House, em seu livro introdutório ao Antigo Testamento,
“Nenhum outro livro do AT possui o escopo histórico e teológico que se vê em
Salmos. Como documento teológico, o livro abrange toda uma gama de confissões
bíblicas sobre o caráter, a atividade e os interesses do Senhor [...] Os principais
acontecimentos da história israelita – a criação, a vida de Abraão, o Êxodo, a
conquista, a monarquia, o exílio, a volta à terra – são mencionados para dar
sustentação às declarações do livro acerca do dia-a-dia”
Cada salmo é uma oração a Deus e a respeito Dele, abordando o seu caráter e
sua obra e aplicando tudo isso ao cotidiano israelita. Por essa razão, existem
salmos que mudam o tom repentinamente, dando uma impressão de bipolaridade
do autor, que lamenta a sua situação e depois louva o Senhor que pode livrá-lo
das terríveis circunstâncias.
Como brasileiros (bastante influenciados pelo modelo europeu de arte), estamos
acostumados a um tipo de poesia recheados de rima e forma de escrita definida,
como um soneto, que é um poema composto por dois quartetos e dois tercetos.
Mas o poema hebraico é constituído de uma forma diferente, como bem nos
lembra o Dr. Russel Shedd:
“A poesia hebraica não consiste em rima, mas principalmente na repetição da idéia
numa sentença paralela, como por exemplo: “Não nos trata segundo os nossos
pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades”. A atenção a esse
paralelismo pode de vez em quando ajudar-nos a interpretar palavras obscuras por
meio da forma paralela mais clara.”
Parece que o hebreu tinha uma grande preocupação em deixar claro o seu
pensamento, fazendo isso por repetição, o que gera na leitura dos salmos uma
sensação de redundância. Porém, não podemos negar que essa forma torna a
idéia mais bela, além de atingir o objetivo de ensino.
Ainda segundo Shedd, os salmos também são escritos de outra forma:
“Outro artifício frequentemente encontrado é a dramatização. Davi não escrevia
apenas para si mesmo, também escrevia para os outros [...] Os salmistas
escreveram por todos nós, e podemos considerar os seus louvores e orações
como nossos próprios louvores e orações.”
O livro de Salmos não apresenta somente um autor, e sim vários, dentre eles o rei
Davi, responsável por 73 salmos, Asafe que escreveu doze , os filhos de Corá com
11, o rei Salomão contribui com 2, enquanto Moisés e Etã participaram da
construção do livro com um salmo cada um. De acordo com Russel Shedd, a
Septuaginta acrescenta os profetas Ageu e Zacarias como escritores de 5 salmos.
Para este estudo, tomaremos a divisão proposta por Paul R. House, seguindo o
texto hebraico que divide o livro em cinco partes.

I – O Deus que instrui, elege e livra – Sl 1 a 41


Nesta parte do livro, 37 salmos são atribuídos ao rei Davi, abrangendo mais da
metade de todos que escreveu. Por esta razão, é um trecho da Bíblia que tem
muita conexão com os escritos de Samuel, mostrando praticamente o diário
espiritual do ascendente do Messias. Por esta razão a vida de Davi está em
destaque nestes salmos.
Muitos autores consideram o primeiro salmo como sendo a introdução para todo o
resto, por buscar inculcar nos leitores a importância da meditação na Palavra de
Deus, contrastando a vida daquele que é obediente a ela com a do ímpio, que não
prosperará. Com isso em mente aquele que é levado a adorar por meio deste livro
compreende a postura correta diante da Palavra.
Os Salmos 2 e 3 concluem a introdução, ensinando quem é feliz ou bem
aventurado (sl 2) como também mostrando que a situação de alguém escolhido
por Deus não confere uma vida agradável, pois passará por sofrimentos e
oposição, mas Deus será a segurança do rei e da sua descendência (sl 3).
Outros dois que podem ser destacados são o 18 e o 22, que, assim, como o
terceiro são de lamento, demonstrando alguma circunstância difícil, onde Deus
intervém poderosamente. O primeiro citado refere-se ao livramento nas mãos de
Saul, sendo muito parecido com o texto de 2 Samuel 22, enquanto o outro
manifesta um sentimento de abandono por parte de Deus, pois permitiu que o rei
sofresse uma forte oposição, acarretando até em dores físicas.
Vale a pena ressaltar que o início do Salmo 22 é usado por Jesus quando o
mesmo estava na Cruz e as características do seu sofrimento são usadas em
todos os evangelhos, como a zombaria e a distribuição das vestes.
O último Salmo desta seção (Sl 41) apresenta os principais temas abordados nos
anteriores: o que é ser feliz, o sofrimento e o livramento dado por Deus e o louvor a
Ele. Desta forma esta primeira parte é encerrada, dando alguns sinais da
espiritualidade davídica, expondo os seus temores, suas esperanças e sua fé no
Deus de Israel.

II – O Deus que estabelece e protege – Sl 42 a 72


Esses textos continuam enfatizando a proteção divina de Deus a Davi, de acordo
com a aliança davídica e seus efeitos benéficos a todos. Uma parte foi escrita por
Davi, outra pelos filhos de Corá e por Asafe, sendo que os de autoria destes dois
últimos falam sobre o estabelecimento do culto. Também lemos nesta seção
salmos anônimos como o 66, 67 e 71.
Os salmos 42 a 50 expressam um desejo de conhecer a Deus. Essa busca
continua nos seguintes: 51 a 65, que são parecidos no seu tipo de busca,
começando com o belíssimo salmo davídico de arrependimento pelo pecado com
Bate-Seba. Essa estrutura continua nos subsequentes.
Os salmos 54 a 64 podem ser situados em uma situação de crise e perseguição na
vida de Davi, visto que não é raro aqui a sua angústia pelo livramento dos cruéis
inimigos.
O Salmo 65 é um louvor pelo livramento de Deus. Vale a pena ressaltar que os
salmos 42 a 65 são um conjunto de ocasiões diferentes em que o salmista busca o
favor de Iavé e o louva por ter a sua angustiada oração respondida, o que nos
conforta no fato de que o Senhor responde em toda e qualquer situação, seja em
meio a uma perseguição ou mesmo num pedido sincero de perdão pelo pecado.
Os próximos salmos, de 66 a 68, contam a história do povo israelita e como o
Senhor os livrou. Contemplar a história sob a ótica da soberania de Deus deve
levar o adorador a enxergar na prática as obras santas Dele, que nunca deixou de
cumprir as suas promessas, e louvá-Lo consciente de que a Sua atuação não se
limita a eventos do passado, pois está tão vivo como esteve quando fez o mar se
abrir.
O salmo 72 finaliza a seção intercedendo pelo novo rei, pedindo que o mesmo
tenha o coração voltado aos juízos de Deus. A promessa dada a Abraão é
confirmada no rei que segue os caminhos de Iavé, pois Este multiplica o Seu
domínio sobre as nações, abençoando-as e fazendo a nação escolhida prosperar
sobre a terra.

III – O Deus que repreende e rejeita – Sl 73 a 89


Depois de dois livros ( como os salmos são divididos ) de exaltação da aliança
davídica e de experimentar o livramento após a perseguição ou o perdão após o
pecado, este terceiro trata sobre as consequências da quebra da aliança pelos
israelitas, que redundaram nos dois exílios (722 a.C. e 587 a.C.).
Esse tema é encontrado nos profetas grandes e pequenos, que pregaram a
respeito do pecado do povo e por isso, a possibilidade concreta da maldição
deuteronomista (Dt 28) de perder a terra para um povo estrangeiro e ser exilado.
Esses salmos também mostram a luta dos remanescentes para permanecerem
fiéis a aliança, apesar de tantas catástrofes.
Os salmos de 73 a 79 relembram o povo da época de desvio do deserto e do
Egito, sendo chamado por House de um “reavivamento às avessas”, pois os
israelitas demonstraram um declínio espiritual muito grande e não seguem mais o
Deus que os livrou dos inimigos e lhes deu a terra. Os deuses pagãos já ocuparam
um espaço no coração deles.
Apesar de se tratar de um livro que aponta para o período pós-davídico, o salmo
86 é de autoria do filho de Jessé, e é uma oração de socorro, pedindo auxílio
divino e mostrando que os deuses das nações não têm poder diante de Iavé, cujas
obras são incomparáveis. Este salmo parece ter sido colocado com o objetivo de
contrastar a fé de Davi com a do povo idólatra.
O salmista do Salmo 89 compreende a importância da aliança davídica e a
fidelidade de Deus em cumpri-la, bem como o Seu poder para humilhar as nações
e exaltar Israel. Porém, diante das circunstâncias de exílio e vitória das nações,
quando e como Deus cumprirá a aliança prometida?
Aqui, o autor desse salmo parece estar diante de uma crise, ao ver um cenário de
destruição ao mesmo tempo em que conhece a fidelidade de Deus. Como vai
acontecer o cumprimento da aliança davídica neste caso? Ainda não há respostas,
mas certamente o Senhor irá perdoar os seus escolhidos e a ira passará.

IV – O Deus que se recorda e sustém – Salmos 90 a 106


Estes capítulos apresentam uma referência ao passado de Israel como forma de
consolo para a catástrofe do exílio. É um sumário histórico que abrange as
principais obras do Senhor pelo povo, fazendo o salmista ter esperança Nele. Se
Deus salvou a nação um dia, perdoando-os do pecado, provavelmente agirá
novamente com misericórdia.
Por esta razão, a busca ao passado já se encontra no primeiro salmo deste livro, o
90, de autoria de Moisés. Outros dois desta seção são atribuídos a Davi,
ratificando essa busca ao passado para ter esperança.
Mais uma vez vemos a maneira que os israelitas tinham de enxergar os fatos
passados, com a visão da soberania de Iavé sobre todas as coisas, sendo isso um
consolo para os crentes.
O estudo atual da História, por ter excluído Deus como autor da mesma, acaba
perdendo o principal motivo de olhar para o passado, ou seja, o de entender o
caráter do Senhor como uma forma de discernir o presente e ter esperança no
futuro.
O Salmo 91 é famoso por ser muito usado como forma de consolo em momentos
difíceis e exalta as características do Deus que age em favor daqueles que
confiam Nele e buscam descansar no aconchego de Suas asas.
É costume de muitas pessoas, inclusive não-cristãos, deixarem este salmo aberto
em casa como forma de “proteção”. Mas a melhor maneira de usá-lo é sem dúvida
alguma, entendendo cada palavra que o salmista nos ensina ali.
A partir do salmo 93 novamente o salmista aplica verdades antigas em situações já
ilustradas no salmo 89. Existem afirmações de Seu domínio, de Seu caráter criador
e a famosa confissão monoteísta.
Os salmos 104 a 106 entram em outro sumário histórico, mais abrangente
teologicamente, comemorando a criação de Deus e o cuidado com a terra
prometida. O salmo 106 refere-se aos livramentos passados experimentados pelos
israelitas.
A busca na história não deve ser somente um exercício para conhecer os fatos
antigos e sim para ter uma compreensão acerca do caráter do Senhor e Sua
influência sobre nossas vidas. Deve ser uma imersão em seu poder Soberano,
buscando refletir os fatos de acordo com a cosmovisão bíblica, com o fim de
buscar a resposta correta para os fatos presentes.

V – O Deus que renova e restaura – Salmos 107 a 150


Até aqui percebemos que as cinco partes tratam de um resumo da ânsia espiritual
do povo escolhido. Desde a introdução, apontando a importância da Palavra, a
exaltação do reino davídico e a sua queda.
Os últimos salmos falam da esperança da restauração e do louvor a Deus por
essas obras. É como se fosse uma orquestra alternando som de lamento e tensão
e terminando com um alarido de alegria.
Os Salmos 107 a 109 tratam sobre a não rejeição de Iavé aos fiéis, pois Ele
sempre os resgata, enfatizando a importância do povo Israel, apesar de uma geral
apostasia. Por esta fidelidade vinda do Alto, os exilados retornarão à terra
prometida.
O salmo 110 volta a falar sobre a aliança davídica, enfatizando as promessas que
Deus fez a este rei sobre uma descendência eterna. Este salmo, assim como
outros desta seção são atribuídos a esse monarca, mesmo se tratando de um
período pós-exílio, pois as promessas ali contidas podem ser facilmente aplicadas
ao contexto da necessidade de restauração do “bichinho de Jacó”.
Desta forma as promessas davídicas começam a ganhar um entorno mais denso,
pois mostra que Deus está disposto a ser fiel à aliança mesmo com o povo longe
do espaço geográfico da terra prometida. As Escrituras mostram, neste ponto, que
algo além dos olhos do povo começa a ser construído.
Os salmos 111 a 118 são parecidos com a quarta parte por exaltar a obra de Deus
e o caráter único, em contrapartida aos deuses dos povos pagãos pelos quais os
israelitas se deixaram seduzir. As obras Dele são tão maravilhosas que esses
falsos deuses se reduzem a nada, pois não são vivos e ativos como o Senhor.
O Salmo 119, o maior “capítulo” da Bíblia (pois tecnicamente um salmo não é um
capítulo) se refere a maravilha da própria Escritura e da Lei de Deus. Para
reescrever a sua história, os filhos de Abraão precisavam se curvar ao poder da
Santa Palavra e conhecer as suas maravilhas. Não foi à toa que este salmo foi
escrito e compilado extensamente com dedicações de amor a Lei e seu poder de
purificar.
Por mais que fosse importante e necessário uma reconstrução social, estrutural e
política, a redenção não viria se o povo não voltasse a se curvar ao poder das
Escrituras, e para isso precisavam entender que ela não é um peso, mas
maravilhosa para aqueles que procuram o seu prazer nela.
Os Salmos 120 a 134 se referem à renovação da cidade como centro de adoração
ao Deus de Israel. Os salmos 135 a 150 encerram os livros com temas como:
eleição de Israel, Deus como criador, a unicidade do Senhor, a obra de Deus na
história, o amor de Deus, a ira Dele e também o Seu governo. Os salmos 146 a
150 são louvores incontidos daqueles que foram resgatados.

Conclusão:
1. Assim como qualquer livro da Bíblia, a compilação dos Salmos não foi feita de
forma desordenada e sem um objetivo particular, mas buscando fortalecer e
instruir o povo acerca da fidelidade e das promessas do Senhor
2. O jornalista Philip Yancey admitiu a sua dificuldade em ler salmos em razão de
passagens difíceis como os chamados “salmos imprecatórios”, que pedem para
Deus se vingar dos inimigos do povo. Alguns escritores interpretam-no como obra
de judeus nacionalistas e que não vem da parte de Deus. Porém Yancey busca a
seguinte alternativa para entender esse tipo de salmo:
“Os 150 salmos apresentam um mosaico de terapia espiritual em processo.
Dúvida, paranóia, instabilidade, maldade, prazer, ódio, alegria, louvor, desejo por
vingança, traição – você pode encontrar tudo isso em Salmos. Esse leque tão
amplo de sentimentos que antigamente eu via como um desalinho sem esperança,
agora vejo como um sinal de saúde. Nos salmos eu aprendi que tenho o direito de
levar a Deus qualquer tipo de sentimento que eu nutra em relação a ele. Não
preciso disfarçar meus fracassos nem tentar limpar a minha podridão, é bem
melhor levar essas fraquezas a Deus, pois somente ele tem o poder curá-las.”
Por mais técnico que seja o estudo do livro de Salmos, é importante entendermos
que esses textos são fruto de uma espécie de diário espiritual. Portanto, como o
próprio Yancey diz, os salmos são escritos para Deus, sendo resultado de alguma
experiência pessoal com o Senhor e assim como alternamos os nossos
sentimentos devocionais, esses livros também alternam o seu tom.

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