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Vida, Conceitos e Obra de

Pierre Bourdieu

Sociologia
Ano letivo 2021/2022
Bianca Duarte nº1 12ºB
Professor José Manuel Martins
Índice
Introdução............................................................................................................................... 3
Vida de Pierre Bourdieu.......................................................................................................... 4
Conceitos de Bourdieu............................................................................................................ 5
1. Habitus…………………………………………………………………………………………………………………… 5
2. Capital……………………………………………………………………………………………………………….….... 7
2.1 Capital económico……………………………………………………………………….……………………………..… 8
2.2 Capital social…………………………………………………………………………………………………………………. 9
2.3 Capital cultural……………………………………………………………………………………………………………... 9
2.4 Capital simbólico………………………………………………………………………………………………………….. 10

3. Campo……………………………………………………………………………………………………………..…….. 10
Obras de Bourdieu…………………………………………………………………………………………………...………. 12
Conclusão…………………………………………………………………………………………………………………..………14
Webgrafia……………………………………………………………………………………………………………..….………..15
Introdução

O presente trabalho aborda a biografia, conceitos relevantes à Sociologia e obras de


Pierre Félix Bourdieu. A escolha deste sociólogo deveu-se ao facto de se mostrar contrário a
uma sociedade caracterizada por desigualdades socias tão acentuadas, que provocam o
acesso desigual a informação, aprendizagem, cultura, bens, entre outros recursos.

Esta pesquisa tem como objetivo explicitar alguns dos conceitos desenvolvidos por
Bourdieu que contribuem para a Sociologia, na medida em que nos permitem compreender
a relação entre sociedade e o indivíduo. O trabalho é constituído por “Vida de Pierre
Bourdieu”, na página 3, “

Visto que a metodologia utilizada foi através da internet, encontra-se na última


página deste trabalho a respetiva webgrafia.
Vida de Pierre Bourdieu
Considerado um dos maiores nomes da sociologia das últimas décadas, Pierre Félix
Bourdieu, nasceu a 1 de agosto de 1930, na comuna de Denguin, no sudoeste de França. A
sua família de origem camponesa, utilizava o dialeto típico da sua região, o dialeto gascão1.
Era também vista como uma aliança desastrosa entre Noëmie Duhau, mãe de Pierre
Bourdieu, e o seu pai, Albert Bourdieu, devido ao pouco estatuto
social que este detinha. A sua situação familiar terá inspirado
Pierre Bourdieu na luta contra as desigualdades sociais, o que
marca a sua obra.

Bourdieu, completou o ensino básico numa cidade vizinha


antes de se mudar para Paris, onde estudou no Liceu Louis-le-
Grand. O seu destaque entre os colegas, fez com que pertencesse
ao grupo de filósofos da célebre Escola Normal Superior de Paris,
Fig.1- Pierre Bourdieu
onde iniciou a sua licenciatura em Filosofia, em 1950. Depois de (1930-2002)

lecionar filosofia em Moulin, foi recrutado para servir no exército em Versalhes, em 1955.
Devido ao seu comportamento rebelde, foi punido através da convocação para servir
(
militarmente na Argélia.

Nesse período foi professor-assistente na Universidade de Argel, entre 1958 e 1960,


aproximando-se da antropologia através do interesse em estudar a sociedade da Argélia, mais
especificamente, o choque entre o capitalismo colonial e o desejo de independência dos
povos Cabila2, consolidando as bases de sua teoria antropológica. O resultado foi seu primeiro
livro Sociologia na Árgélia, em 1958.

Em 1960, quando retornou a Paris, Bourdieu trabalhou na Universidade de Lille. Em


Sorbonne, passou a ler sistematicamente e preparar seminários sobre os autores da
sociologia clássica, nomeadamente, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Dois anos

1
Dialeto gascão é uma das variedades da língua occitana falada em Gasconha e Béarns, no sudoeste de França.

2Cabila é um povo são um povo bárbaro que habita. Tradicionalmente, na região montanhosa da Cabília, no
nordeste da Argélia.
depois, fundou o Centro Europeu de Sociologia e tornou-se diretor de estudos da Escola de
Estudos Superiores em Ciências Sociais.

A partir da década de 80, Bourdieu inseriu-se na esfera pública, defendendo os direitos


dos desempregados, dos sem-abrigo e dos imigrantes ilegais. Exprimiu-se acerca da situação
política do país e revelou-se contra a globalização e o neoliberalismo. Em 2001, foi lançado o
documentário A sociologia é um desporto de combate sobre Bourdieu, no qual este foi
acompanhado durante três anos em palestras, viagens, encontros com estudantes ou
colaboradores de pesquisa e atos políticos. O documentário demonstra o compromisso
político de Pierre Bourdieu, e coloca-o ao lado de grandes nomes da vida intelectual francesa
como Émile Zola e Jean-Paul Sartre, que também se depararam com lutas políticas. Pierre
Bourdieu faleceu em 2002.

Conceitos de Bourdieu
A intensa produção intelectual de Pierre Bourdieu, teve um profundo impacto na
sociologia, na medida em que defendeu a interdisciplinaridade em Humanidades, a constante
procura pela independência intelectual e também, pelo desenvolvimento de conceitos
relevantes à sociologia, como o campo, habitus e capital social. Estes foram desenvolvidos
nas suas pesquisas durante as décadas de 1960 e 1970 acerca da vida cultural da sociedade
francesa. Estes três conceitos, conforme enfatizado pelo próprio autor, devem ser estudados
na sua conexão e interdependência, e não como ideias separadas. Passo a explicitar cada
conceito explorado por Bourdieu.

1. Habitus
O conceito habitus tem uma longa história nas Humanidades. Esta palavra latina utilizada
pela tradição escolástica, traduz a noção grega hexis utilizada por Aristóteles, para designar
as características do corpo e da alma adquiridas num processo de aprendizagem. Foi também
usada por Émile Durkheim, no livro A evolução pedagógica, em 1995, na qual adquiriu um
sentido semelhante, mas mais explícito. A partir do habitus invocou o propósito de duas
hipóteses singulares, como sociedades tradicionais e os internatos. No primeiro caso, o grupo
realiza de maneira regular uma uniformidade intelectual e moral, em que tudo seria comum
a todos. No segundo caso, emprega o conceito a propósito da noção cristã como uma forma
de educação que englobaria a criança integralmente, como influência única e constante. O
habitus, em Durkheim, correspondia perfeitamente à situação internato, uma instituição
social total no sentido de Goffman, ou seja, a educação seria organizada de maneira que
produzisse um efeito profundo e duradouro. Assim, seria possível afirmar que a coerência das
disposições sociais que cada ser social interioriza dependeria da coerência dos princípios de
socialização, aos quais os possíveis são desrespeitados.
O habitus, desenvolvido por Pierre Bourdieu, é um sistema de repertórios de modos de
pensar, gostos, comportamentos, estilos de vida, herdado da família e reforçado na escola.
Emergiu na obra de Bourdieu no contexto da sua reflexão crítica sobre o papel da escola na
reprodução social. Até 1960, a escola era vista como uma instituição de socialização, na qual
contribuiria, de forma direta, para a democratização da sociedade, ao promover igualdade de
oportunidades, acreditando-se na sua neutralidade na forma de tratamento de todos os
alunos, independente do grupo social de origem. Supondo garantir as mesmas oportunidades
a todos, considerava que os que se destacavam obtinham êxito pelo seu exclusivo mérito e
esforço.
Habitus é a articulação dos capitais económico, cultural, social e simbólico que confere a
determinados grupos a alta posição na hierarquia social. O habitus é, simultaneamente,
individual e social. Bourdieu considerou-o como um mecanismo de mediação entre a
sociedade e o indivíduo, sendo que pertence ao domínio coletivo de um grupo ou classe, mas
também é interiorizado subjetivamente pelos indivíduos que compõem essa classe, em que
lhes é conferido uma gama de ações entre as quais escolherão e exercerão as que
considerarem mais adequadas nas suas relações sociais. Ainda é considerado um capital
incorporado, um conhecimento adquirido que se alia à capacidade criativa e volitiva do
agente social. Posto isto, é percetível de que Bourdieu deixou de se inclinar para a rigidez do
estruturalismo3 preponderante sobre a ação individual, tal como, a filosofia individualista que
delegasse exclusivamente ao indivíduo o monopólio da ação.
Paradoxalmente, se o habitus foi concebido como o princípio mediador e de
correspondência entre as práticas individuais e as condições sociais de existência, foi no seu
desajustamento que este se tornava explícito. Nas pesquisas empreendidas na Argélia, nos

3
Estruturalismo é uma corrente teórica das Humanidades, em que o seu auge deu-se entre 1950 e 1960. Na
teoria de Bourdieu, os sujeitos são controlados pelas estruturas dominantes.
anos de 1950 e 1960, Bourdieu observou uma situação de desamparo na procura de um
universo rural num ambiente urbano e capitalista. Sem os instrumentos e/ou categorias de
perceção que os ajudassem nesta situação de desamparo, como compreender o
comportamento e as práticas que pertencem às pessoas? Formulada num contexto
específico, uma noção de habitus adquire um alcance universal, tornando-se num
instrumento conceitual, ao permitir examinar a coerência das características mais diversas de
determinadas às mesmas condições de existência.
A importância deste conceito deve-se ao facto de procurar responder à questão recorrente
da sociologia sobre a relação sujeito e sociedade, sem excluir a Racionalidade, a Ciência e de
dever da sociologia como instrumento de explicação dos mecanismos sociais.

2. Capital

Críticos dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, Bourdieu e


Coleman, introduziram o conceito de capital na análise social para referir-se não apenas à sua
forma económica, mas também à sua forma cultural e social. O termo da área económica
“capital” foi utilizado por estes sociólogos no estudo das desigualdades escolares, como
metáfora para designar as vantagens culturais e sociais que os indivíduos ou famílias possuem
e, via de regra, os conduzem a um nível socioeconómico mais elevado. A problemática que
leva Bourdieu e Coleman a uma concepção ampliada do conceito de capital repousa,
fundamentalmente, sobre evidências empíricas que apontam as limitações do conceito de
capital económico para explicar plenamente a ligação entre nível socioeconómico e bons
resultados educacionais, o que os faz considerar que outras formas de capital, tais como o
capital social e cultural, contribuem diretamente e interagem com o capital económico para
fortalecer esta relação. A estrutura social é apresentada por Bourdieu como um sistema
hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/ou
económicas, relações simbólicas e culturais entre os indivíduos. Dessa forma, a diferente
localização dos grupos nessa estrutura social deriva da desigual distribuição de recursos e
poderes de cada um de nós. O conjunto desses capitais (social, económico, cultural e
simbólico) seria compreendido a partir de um sistema de disposições de cultura denominado
por ele habitus. Passo a explicitar cada tipo de capital segundo a teoria de Pierre Bouerdieu.
2.1 Capital económico

Bourdieu vê o espaço social como um campo de lutas no qual os atores (indivíduos e


grupos) elaboram estratégias que permitem manter ou melhorar a sua posição social. Estas
estratégias estão relacionadas com os diferentes tipos de capital. O capital económico, sob a
forma dos diferentes fatores de produção (terras, fábricas, trabalho) e do conjunto de bens
económicos (dinheiro, património, bens materiais), é acumulado, reproduzido e ampliado por
meio de estratégias específicas de investimento e, à obtenção ou manutenção de relações
sociais que podem possibilitar o estabelecimento de vínculos, economicamente úteis, a curto
e longo prazo. Para este sociólogo, a educação escolar, uma das formas do capital cultural, é
um recurso tão útil como o capital económico na determinação e reprodução das posições
sociais. A distribuição desigual das diferentes formas de capital justifica as diferenças de
estratégias adotadas por cada indivíduo, no sentido de explicar como os diferentes agentes
apreendem, por exemplo, as situações escolares e se acomodam a elas, ou como eles são
excluídos do sistema educacional. Bourdieu, principalmente nas pesquisas conduzidas em
conjunto com Passeron, entre 1964 e 1970, desvenda a seleção escolar que elimina e
marginaliza os alunos oriundos das classes populares, enquanto privilegia os alunos mais
dotados de capital cultural e social, contribuindo, assim, para a reprodução, de geração em
geração, dos capitais económico, cultural e social acumulados. Esta teoria contraria a
convicção, até então amplamente aceite, de que existe igualdade de chances no sistema
educacional. Por sua vez, Coleman define o capital económico tanto como renda e riqueza
material como em termos dos bens e serviços a que ele dá acesso. Este autor vê o capital
económico como uma parte importante da relação que une a situação familiar às diferentes
posições socioeconómicas. Portanto, considera este tipo de capital como um dos fatores
relacionados ao contexto familiar que influencia o desenvolvimento da criança. Neste
sentido, é plausível esperar que famílias que têm capital económico elevado proporcionem
aos seus filhos acesso a excelentes instituições de ensino, a aparatos variados e de alta
qualidade e a viagens de estudo; além de cuidados quotidianos como a presença permanente
de um dos pais durante os anos de formação/escolarização básica e média dos filhos e a
garantia de um local apropriado para estudar. Em síntese, a definição de capital económico,
utilizada por Bourdieu, é idêntica àquela utilizada por Coleman, ainda que o sociólogo francês
enfatize os conflitos, competição dos indivíduos e grupos por posições nos diferentes campos
sociais.

2.2 Capital social

Em 1980, o sociólogo francês, iniciou o seu trabalho sobre o capital social a partir do
estudo da teoria da ação. O autor inaugura a chamada teoria do senso prático, onde o Homem
não faz escolhas refletidas, agindo de acordo com as exigências da vida prática, que
demandam por ações urgentes, e segundo o seu habitus, isto é, estruturas de ação que são
assimiladas em parte à estrutura social e são respostas pessoais dos próprios sujeitos a
situações ocorridas ao longo de sua vida. Desta forma, o autor mostra uma posição contrária
à teoria da ação racional, onde os atores sociais agem racionalmente para atingir os seus fins,
realizando um cálculo de maximização da utilidade. Bourdieu define o capital social como
“[...] um conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão vinculados a um grupo, por sua
vez constituído por um conjunto de agentes que não só são dotados de propriedades comuns,
mas também são unidos por relações permanentes e úteis [...]” (BOURDIEU, Pierre em 1980).
O volume de capital social que um agente individual possui, depende da extensão da rede de
relações que ele pode efetivamente mobilizar e, do volume de capital (económico, cultural
ou simbólico) que é posse exclusiva de cada membro desse grupo. Bourdieu afirma, portanto,
que, mesmo o considerando totalmente distinto, o capital social não é completamente
independente do capital económico e cultural possuído por um indivíduo ou pelo grupo a
quem está ligado, uma vez que, as trocas que instituem a confiança mútua exigem a pré-
existência de um mínimo de homogeneidade entre os que o possuem com exclusividade,
exercendo um efeito multiplicador sobre esse capital possuído.

2.3 Capital cultural

Para Bourdieu, desde de 1979, a noção de capital cultural surgiu da necessidade de se


compreender as desigualdades de desempenho escolar dos indivíduos oriundos de diferentes
grupos sociais. A sua sociologia da educação caracteriza-se, como já referido, pela diminuição
do peso do fator económico, em comparação ao peso do fator cultural, na explicação das
desigualdades escolares. No seu entendimento, o capital cultural pode existir sob três formas:
no estado incorporado, no estado objetivado e no estado institucionalizado.
No estado incorporado, dá-se sob a forma de disposições duráveis do organismo, tendo
como principais elementos constitutivos os gostos, o domínio maior ou menor da língua culta
e as informações sobre o mundo escolar. A acumulação desta forma de capital cultural,
demanda que a sua incorporação seja feita mediante um trabalho de inculcação e
assimilação. Este trabalho exige tempo e deve ser realizado, pessoalmente, pelo agente. O
capital cultural no seu estado incorporado constitui assim, o componente do background
familiar que atua de forma mais marcante na definição do futuro escolar dos descendentes,
uma vez que as referências culturais, os conhecimentos considerados apropriados e legítimos
e o domínio maior ou menor da língua culta por herança familiar facilitam a aprendizagem
dos conteúdos, funcionando como uma ponte de ligação entre o mundo da família e o da
escola.
No estado objetivado, o capital cultural existe sob a forma de bens culturais, tais como,
esculturas, pinturas, livros, etc. Para possuir os bens económicos na sua materialidade é
necessário ter simplesmente capital económico, o que se evidencia na compra de livros, por
exemplo. Todavia, para apropriar-se simbolicamente destes bens é necessário possuir os
instrumentos desta apropriação, ou seja, é preciso possuir capital cultural, no estado
incorporado. Por último, no estado institucionalizado, o capital cultural materializa-se por
meio dos diplomas escolares.

2.4 Capital simbólico

O capital simbólico é o que confere estatuto, honra e prestígio, tratamento diferenciado


e privilégios sociais. A soma ou a ausência desses recursos de poder, herdados ou adquiridos,
determinará o lugar ocupado por grupos e indivíduos na estrutura hierárquica das sociedades,
condicionando o seu estilo de vida e as suas oportunidades de ascensão.

3. Campo
O campo, por sua vez, é o espaço comum de concorrência entre os agentes sociais que
possuem interesses diferentes. Estes estão situados em lugares pré-fixados, em função da
hierárquica e desigual distribuição dos recursos, que gera diferentes posições na estrutura
social. O conceito de campo refere-se a todos os espaços onde se desenvolvem relações de
poder. É aplicável a todos os domínios da vida social, nomeadamente, na política, na
economia, na literatura, na jurídica, na ciência etc.
Cada campo configura-se por meio da distribuição desigual do poder naquele nicho de
interesse, portanto é constituído pelas hierarquias resultantes dessa disputa em que os que
possuem maior soma de capital social naquele nicho alcançam as melhores posições. O
campo estrutura-se, reproduz-se ou modifica-se conforme modela-se o confronto entre
dominantes e dominados. O polo dominante pretende manter a configuração do campo
como está, portanto, tem ação conservadora e ortodoxa; já o polo dominado, que pretende
mudar de posição na correlação de forças, tem comportamento reformista ou revolucionário
e heterodoxo, tendendo a desacreditar a legitimidade dos atuais detentores do capital social
daquele campo. Para melhor compreender o conceito, idealizemos a seguinte situação-
exemplo: imagine uma empresa que detém certa tecnologia que só ela é capaz de reproduzir,
isso confere-lhe uma posição específica que muda o leque de opções de ações da empresa
em relação às concorrentes e, ao mesmo tempo, indica certos comportamentos para o campo
como um todo; a empresa deve conseguir vender mais produtos, por ter uma tecnologia
diferente, inclusive por preços mais altos em relação a produtos com tecnologia semelhante,
porém inferiores; da mesma forma, essa mesma empresa pode estar sujeita a alguma
regulação do Estado, que detém outro tipo de capital.
Assim, é percetível de que a estrutura de um campo depende da concentração de capitais e
de cada tipo de capital em cada um dos agentes envolvidos. Essa observação propõe uma
superação das teorias económicas clássicas, baseadas em Adam Smith, na lei da oferta e da
procura e na mão invisível do mercado.
Bourdieu propõe ainda que a diferenciação dos tipos de capital também seria uma
superação em relação à verdade dos preços, ideia esta referente à auto regulação dos preços
pelo mercado, pois considera que a racionalidade da teoria económica só seria capaz de
operar com cálculos objetivos, ignorando aspectos subjetivos na conduta dos agentes, que
seria considerada ao pesar capitais de diferentes naturezas. Nesse ponto é interessante notar
a distinção que o autor pontua entre conduta racional e conduta razoável: “Não se pode fazer
sociologia sem aceitar o que os filósofos clássicos chamam de “princípio da razão suficiente”
e sem supor, entre outras coisas, que os agentes sociais não agem de maneira disparatada,
que eles não são loucos, que eles não fazem coisas sem sentido. O que não significa supor
que eles sejam racionais, que têm razão em agir como agem ou mesmo, de maneira mais
simples, que eles tenham razão em agir, que as suas ações sejam dirigidas, guiadas ou
orientadas por essas razões. Eles podem ter condutas razoáveis, sem serem racionais; podem
ter conduta às quais podemos dar razão, como querem os clássicos, a partir da hipótese da
racionalidade, sem que essas condutas tenham tido a razão como princípio. Eles podem se
conduzir de tal maneira que, numa avaliação racional das probabilidades de sucesso, pareça
que eles tinham razão em fazer o que fizeram, sem que tenhamos razão ao dizer que o cálculo
racional das probabilidades tenha sido o princípio das escolhas que fizeram.” (BOURDIEU).
Desta forma, o sociólogo ainda acredita que uma conduta razoável seria aquela com base em
algo que se possa compreender a partir de um princípio único ou conjunto de coerente de
princípios. Pode-se concluir que, neste raciocínio, faz sentido o conceito de habitus, uma
espécie de sentido do jogo que não tem necessidade de raciocinar para se orientar e se situar
de maneira racional no espaço, um funcionamento sistemático do corpo estruturado.
Bourdieu considera que os agentes não calculam racionalmente o tempo todo, mas sofrem
pressões dos diferentes tipos de capitais e agentes.

Obras de Bourdieu
A obra de Pierre Bourdieu é extremamente densa contudo, entre todas as suas publicações,
a que mais se destaca é a obra A Distinção: crítica social do julgamento,
em 1979. Nela Bourdieu argumentou que aqueles com alto capital social
e cultural são os árbitros do gosto e que o gosto particular de cada um
provém do meio e da classe social em que vive, ou seja, seu campo social.
Uma das preocupações centrais evidentes do autor é a reflexão sobre as
formas de justificação e naturalização da dominação social injusta. Todo
Fig.2- A Distinção:
o esforço empreendido pelo autor na sua teoria prática, que orienta
crítica social do
julgamento, em 1979. teoricamente a sua pesquisa empírica sobre a estrutura de classes da
sociedade contemporânea francesa levada a cabo no livro, tem como foco o desmazelamento
do padrão de dominação simbólica típico das sociedades centrais do capitalismo tardio que
legitima a ideologia da igualdade de oportunidades. Em 2002, foi publicada a obra Esboço de
Uma Teoria da Prática, em que nas primeiras linhas do texto de Bourdieu
são muito claras quanto aos seus propósitos: o de desenvolver uma
crítica ao modo como se produz a ciência social, denunciando os limites
explicativos das teorias sociais estruturalistas, principalmente, as
etnológico‑antropológicas, e da posição do teórico-intelectual. Assim, a
ideia base de que Bourdieu parte é a de que a teoria social que serve
Fig.3- Esboço de
para explicar as práticas de outros também deve servir para explicar o Uma Teoria da
ato de construção da ciência social. A ciência, ao ser também uma Prática, em 2002.

prática, não poderá escapar à teoria explicativa de toda a prática social proposta pelo autor.
Só a aparente ingenuidade do cientista social poderá fazer esquecer que a sua qualidade de
estrangeiro, numa cultura em estudo, supõe uma relação erudita com o objeto em estudo
que ilusoriamente estabelece uma oposição entre a teoria, de que seria o especialista, e a
prática dos autóctones. Mas, realmente, aquilo que é estranho para o observador externo
acaba por se revelar bem familiar, porque se trata de explicar práticas sociais quando a
atividade do cientista social é também uma prática. Em consequência, Bourdieu vai
caracterizar as modalidades de conhecimento teórico existentes para saber qual delas é que
está em condições de, no mesmo ato, ser capaz de conhecer os outros e de dar a conhecer a
Ciência Social ao cientista.
Conclusão

Conclusivamente, é percetível que Pierre Félix Bourdieu construiu uma obra teórica
densa, independentemente da sua origem tradicional camponesa. Facto este que considera
fulcral, uma vez que, a herança familiar impossibilita o acesso a alguns recursos,
nomeadamente, a uma formação escolar superior. A educação, reproduz as desigualdades
sociais, insere-se nesse processo, na medida em que produz um tipo específico de
mercadoria: o indivíduo. A formação escolar determina quais serão aqueles que ocuparão as
melhores posições na estrutura social. Contudo, esta encobre o facto de que essas posições
já estão determinadas a priori, serão ocupadas por aqueles provenientes das famílias mais
privilegiadas, com um nível maior de capital económico e cultural. A educação encobre esse
facto pela ideologia do dom e do esforço individual, em que os mais destacados serão
recompensados, na escola e profissionalmente.

Através das noções de campo e habitus, Pierre Bourdieu, dá à sua metodologia de


pesquisa um aparato conceitual que a torna ainda mais densa. O autor aponta que a noção
de campo é uma construção que vai comandar ou orientar todas as opções práticas da
pesquisa. Já o conceito habitus é um sistema de disposições sociais duradouras, incorporadas
pelos indivíduos sob influência familiar/social, reproduzem características de um grupo nas
suas formas objetivas e subjetivas. Não devendo ser analisados separadamente.

Quanto à noção de capital, permite-nos compreender que a sua distribuição desigual


específica do campo, resulta numa separação entre os agentes ortodoxos, aqueles que
possuem mais capital, e os heterodoxos, os que possuem menos capital, que se traduz em
lutas entre os que querem manter a sua posição e os que lutam para desacreditar essas
posições, imprimindo uma nova concepção de legitimidade. O campo, portanto, não é um
espaço homogéneo.
Webgrafia

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4952205/mod_resource/content/1/Claudia%20La
go%20Bourdieu.pdf

https://filosofonet.wordpress.com/2016/01/02/pierre-bourdieu-educacao-trabalho-e-a-
manutencao-da-ordem-social/

https://ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/revistalapip/Volume8%20n2/PPP%208_2%20Art_%209.pdf

https://www.livrariavozes.com.br/pierrebourdieu-conceitosfundamentais8532656870/p

https://www.researchgate.net/publication/250988171_A_obra_do_sociologo_Pierre_Bourd
ieu_uma_irradiacao_incontestavel

https://journals.openedition.org/mulemba/2195

https://www.todoestudo.com.br/sociologia/pierre-bourdieu

https://www.circulobellasartes.com/biografia/pierre-bourdieu/

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